EDUCAÇÃO EM TRÂNSITO: DESAFIOS CURRICULARES E CULTURAS DIGITAIS DAS JUVENTUDES NO ENSINO MÉDIO
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17148401
Márcia Borges Machado Tonon1
Micael Campos da Silva2
Francisco Damião Bezerra3
RESUMO
O presente trabalho discute os desafios enfrentados pelo Ensino Médio brasileiro diante das transformações sociotecnológicas que impactam diretamente as vivências e expectativas das juventudes contemporâneas. Em um cenário marcado pela expansão das tecnologias digitais e pela emergência de novas formas de interação e aprendizagem, torna-se urgente repensar o papel do currículo escolar frente às demandas das chamadas juventudes conectadas. O objetivo da pesquisa foi analisar como os desafios curriculares do Ensino Médio se articulam às práticas juvenis mediadas pelas tecnologias digitais, bem como investigar o potencial da inovação digital como estratégia de engajamento no contexto da Educação Básica. Para isso, utilizou-se uma abordagem metodológica de caráter bibliográfico e de natureza qualitativa, fundamentada em autores contemporâneos que tratam das temáticas de juventude, currículo, inovação e cultura digital. As análises demonstraram que, embora persistam barreiras estruturais, como a rigidez curricular e a carência de formação docente, experiências pedagógicas inovadoras vêm se consolidando como caminhos viáveis para a valorização da identidade juvenil e para o fortalecimento de uma aprendizagem mais significativa, colaborativa e crítica. Conclui-se que integrar as tecnologias digitais ao cotidiano escolar, respeitando os saberes e as expressões dos jovens, é fundamental para tornar a escola um espaço de pertencimento, autoria e transformação social.
Palavras-chave: Currículo. Inovação Digital. Juventudes.
ABSTRACT
This study discusses the challenges faced by Brazilian high school education in light of the sociotechnological transformations that directly affect the experiences and expectations of contemporary youth. In a context marked by the expansion of digital technologies and the emergence of new forms of interaction and learning, it becomes urgent to rethink the role of the school curriculum in response to the demands of so-called connected youth. The objective of this research was to analyze how the curricular challenges of high school are articulated with youth practices mediated by digital technologies, as well as to investigate the potential of digital innovation as a strategy for engagement within the context of basic education. To this end, a bibliographic and qualitative methodological approach was adopted, grounded in contemporary authors who address themes related to youth, curriculum, innovation, and digital culture. The analyses revealed that although structural barriers persist—such as rigid curricula and the lack of teacher training—innovative pedagogical experiences have been emerging as viable pathways for valuing youth identity and fostering more meaningful, collaborative, and critical learning. It is concluded that integrating digital technologies into daily school life, while respecting the knowledge and expressions of young people, is essential to making school a space of belonging, authorship, and social transformation.
Keywords: Curriculum. Digital Innovation. Youth.
1 Introdução
Dessa forma, a temática “Educação em Trânsito” remete à ideia de uma educação em constante movimento, marcada pelas transformações sociais, tecnológicas e culturais que impactam o cotidiano escolar, especialmente no Ensino Médio. A origem dessa expressão pode ser associada às reflexões contemporâneas sobre o caráter dinâmico dos currículos e das juventudes, especialmente quando atravessadas por fluxos digitais, instabilidades identitárias e reconfigurações nos modos de aprender e ensinar. Nesse sentido, compreende-se que a educação não é mais um processo estático, mas algo que transita entre espaços físicos e virtuais, entre saberes acadêmicos e culturais, entre normas institucionais e experiências juvenis.
Além disso, no contexto atual das escolas brasileiras, observa-se que as juventudes estão imersas em culturas digitais que transformam suas formas de produzir conhecimento, comunicar-se e se posicionar no mundo. As salas de aula, antes marcadas por lógicas lineares e centralizadas, convivem agora com múltiplas telas, linguagens híbridas e práticas culturais que extrapolam os limites escolares. Essa realidade desafia os currículos formais, exigindo deles maior plasticidade e conexão com o tempo presente. A escola, nesse cenário, se vê convocada a compreender essas transformações para não se tornar um espaço obsoleto, desconectado das formas reais de aprendizagem dos estudantes.
Consoante a isso, práticas pedagógicas que incorporam memes, podcasts, vídeos curtos, redes sociais, linguagens de programação e jogos digitais têm emergido como estratégias potentes para aproximar o ensino da vida dos jovens. Por exemplo, projetos interdisciplinares que utilizam plataformas como TikTok ou Canva têm possibilitado releituras críticas de conteúdos escolares, promovendo maior engajamento e autoria. Assim, os próprios estudantes tornam-se protagonistas de produções que articulam currículo, afetos e linguagem digital, desafiando o papel do professor e da escola na mediação do conhecimento.
À vista disso, o presente trabalho parte da seguinte questão norteadora: Como o currículo escolar pode dialogar com as culturas digitais vivenciadas pelas juventudes do Ensino Médio, sem perder de vista os princípios da educação crítica, emancipatória e democrática?
Ademais, esta pesquisa se justifica pela urgência em repensar as práticas pedagógicas à luz das transformações digitais e culturais que moldam a experiência juvenil. Ignorar esses atravessamentos significa perpetuar um modelo de ensino descolado da realidade dos alunos, comprometendo não apenas sua aprendizagem, mas também sua permanência e participação na escola. A reflexão proposta visa, portanto, contribuir para a construção de um currículo em trânsito, capaz de articular saberes formais e experiências digitais em favor de uma educação significativa.
Outrossim, esta pesquisa é relevante por fomentar o debate sobre as relações entre juventudes, currículo e tecnologias digitais, contribuindo para uma compreensão mais ampla dos desafios pedagógicos na contemporaneidade. Ao abordar criticamente as tensões entre as estruturas escolares tradicionais e as culturas juvenis emergentes, o estudo oferece subsídios teóricos e práticos para gestores, professores e pesquisadores interessados em promover uma educação conectada com os sujeitos que a vivenciam.
Sendo assim, este trabalho objetiva analisar como as culturas digitais das juventudes impactam os currículos escolares do Ensino Médio, tensionando práticas e estruturas pedagógicas, e propondo caminhos para uma formação mais conectada com os modos contemporâneos de aprender e ensinar.
Com isso, a pesquisa será desenvolvida a partir de uma abordagem qualitativa, de caráter bibliográfico, utilizando produções científicas recentes sobre juventudes, currículo, culturas digitais e ensino médio. A escolha metodológica se justifica pelo interesse em aprofundar a análise conceitual e interpretativa das transformações educacionais em curso.
Exemplificando, o percurso teórico será orientado por autores clássicos, que discutem, respectivamente, as juventudes e suas culturas, o currículo em movimento, os desafios da escola contemporânea frente às mídias e os limites e potencialidades do design instrucional em tempos digitais. A articulação entre esses referenciais permitirá compreender as múltiplas dimensões da educação em trânsito no Ensino Médio.
Este estudo está organizado em quatro capítulos. O primeiro apresenta a introdução, com a problematização, justificativa, objetivos e percurso da pesquisa. O segundo capítulo, intitulado Currículo em Movimento, discute os tensionamentos entre a estrutura escolar e as experiências digitais juvenis. O terceiro capítulo, Juventudes Conectadas, analisa as práticas culturais digitais e suas reconfigurações no saber escolar. Por fim, o quarto capítulo traz as considerações finais, apontando os achados da pesquisa, reflexões e possibilidades futuras para uma educação em trânsito, aberta às transformações das juventudes e da cultura digital.
2 Currículo em Movimento: Tensionamentos entre a Estrutura Escolar e as Experiências Digitais das Juventudes
Dessa forma, a rigidez curricular pode ser compreendida como a manutenção de uma estrutura escolar tradicional, composta por tempos escolares fragmentados, disciplinas compartimentalizadas e conteúdos pouco articulados à realidade social dos estudantes. Tal estrutura tem origem em modelos educacionais do século XIX, voltados à padronização e ao controle da aprendizagem, distanciando-se das dinâmicas culturais contemporâneas. Segundo Freires et al. (2024), esse modelo linear dificulta a incorporação de competências do século XXI, como criatividade, pensamento crítico e fluência digital. Além disso, Abreu et al. (2025) ressaltam que essa rigidez é um dos principais entraves à implementação de propostas de ensino inovadoras e contextualizadas nas escolas públicas brasileiras.
Ademais, no atual cenário educacional, observa-se um descompasso entre o currículo formal e as práticas culturais vivenciadas pelas juventudes em ambientes digitais. Plataformas como TikTok, YouTube e Discord fazem parte do cotidiano informacional dos estudantes, promovendo trocas de saberes, criação de narrativas e práticas colaborativas. Entretanto, como destacam Anjos et al. (2024), a escola ainda opera sob uma lógica disciplinar que limita a inserção de linguagens digitais nos processos de ensino-aprendizagem. Conforme Barroso et al. (2025), essa desconexão tende a provocar desinteresse escolar e a sensação de irrelevância do conhecimento formal frente às demandas da vida contemporânea.
À vista disso, pode-se observar que em muitas escolas do Ensino Médio, os conteúdos curriculares são transmitidos por meio de aulas expositivas, com uso restrito de recursos digitais e pouca valorização das experiências culturais dos alunos. Como exemplo, há casos em que jovens dominam técnicas de edição de vídeo, criação de podcasts ou estratégias de marketing digital, mas não encontram espaço para aplicar esses conhecimentos nas disciplinas escolares. Freires (2023) aponta que o reconhecimento dessas competências digitais pode ser um ponto de partida para reformular a escola em diálogo com as juventudes. Bodelão et al. (2025) reforçam que a superação da rigidez curricular exige investimento em formação docente crítica e reflexiva, capaz de reconhecer os saberes juvenis como legítimos.
Dessa maneira, entende-se por disputas epistemológicas entre saberes escolares e saberes digitais o conflito entre o conhecimento sistematizado, legitimado pelas instituições escolares, e os saberes informais, colaborativos e múltiplos que emergem da cultura digital. A origem dessa tensão remonta à própria constituição do currículo moderno, que valoriza conteúdos enciclopédicos e abstratos em detrimento de aprendizagens situadas no cotidiano dos sujeitos. Conforme Freires et al. (2024), essa separação rígida entre saberes compromete o reconhecimento da pluralidade epistemológica que caracteriza a sociedade contemporânea. Abreu et al. (2025) também observam que os ambientes digitais potencializam a circulação de conhecimentos que desafiam a hierarquia do saber escolar tradicional.
Além do mais, com o avanço das tecnologias digitais, os estudantes passam a construir sentidos e aprender de forma ativa e horizontalizada, o que contrasta com o modelo vertical de ensino presente nas salas de aula. As redes sociais tornam-se espaços de aprendizagem sobre história, ciência, política e linguagens, com protagonismo juvenil e engajamento afetivo. Como afirmam Barroso et al. (2025), há um deslocamento do lugar do saber que exige da escola uma reconfiguração das práticas pedagógicas. Bodelão et al. (2025) destacam que essa reconfiguração implica reconhecer os estudantes como produtores de conhecimento, e não apenas como receptores.
Exemplificando, muitos jovens aprendem sobre racismo estrutural, feminismo ou sustentabilidade por meio de influenciadores digitais e coletivos online, desenvolvendo repertórios teóricos e argumentativos que muitas vezes não são contemplados no currículo formal. Segundo Freires (2024), esse movimento evidencia que a escola precisa atualizar seus conteúdos e metodologias para não perder relevância social. Anjos et al. (2024) acrescentam que ignorar os saberes juvenis é uma forma de silenciamento epistêmico que fragiliza a construção de uma educação emancipadora e democrática.
Diante do exposto, a ressignificação curricular pode ser compreendida como o processo de revisão, atualização e reconstrução do currículo escolar à luz das transformações sociotécnicas e culturais do século XXI. Essa proposta tem origem nos movimentos críticos de renovação pedagógica, que defendem uma escola aberta à diversidade de saberes e à integração entre teoria e prática. De acordo com Freires et al. (2024), é fundamental repensar o currículo não apenas como um documento normativo, mas como um campo dinâmico de negociações, experiências e construções coletivas. Abreu et al. (2025) apontam que as tecnologias digitais representam um catalisador para tais transformações, ao ampliarem as possibilidades de mediação didática, autoria e personalização da aprendizagem.
Com isso, a integração das tecnologias educacionais tem possibilitado práticas curriculares mais flexíveis, criativas e conectadas com as realidades dos estudantes. Plataformas digitais, jogos educativos, ambientes virtuais e redes de colaboração têm se mostrado eficazes para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares e competências socioemocionais. Como enfatiza Gama et al. (2024), o uso pedagógico das tecnologias deve estar associado a uma proposta intencional de ensino, pautada na construção de sentido e no engajamento crítico dos alunos. Freires (2023) complementa que a ressignificação curricular é um caminho para tornar a escola mais inclusiva, democrática e alinhada às demandas contemporâneas.
Sendo assim, diversas experiências pedagógicas no Brasil têm investido em projetos de “currículo em rede”, nos quais estudantes produzem vídeos, podcasts, infográficos e blogs como forma de aprender e compartilhar conhecimento. Um exemplo é o uso do Canva ou do Google Sites para a elaboração de portfólios digitais integrando Artes, História e Linguagens. Freires et al. (2024) relatam que essas práticas contribuem para o protagonismo juvenil e para a construção de uma aprendizagem significativa. Barroso et al. (2025) ressaltam que o desafio maior está na formação docente continuada, pois é necessário preparar professores para mediar essas experiências com intencionalidade pedagógica e sensibilidade cultural.
3 Juventudes Conectadas: Práticas Culturais Digitais e Reconfigurações do Saber Escolar no Ensino Médio
Dessa maneira, as redes sociais podem ser definidas como ambientes digitais interativos que possibilitam a criação, compartilhamento e disseminação de conteúdos em tempo real, moldando modos de ser, pensar e agir dos sujeitos, especialmente os jovens. Sua origem está atrelada ao desenvolvimento da Web 2.0, caracterizada pela ampliação da participação do usuário na produção de conteúdos. Segundo Freires (2024), tais espaços se constituem como territórios educativos informais que influenciam diretamente os processos de subjetivação e de aprendizagem. Para Abreu et al. (2025), as redes sociais são hoje importantes mediadoras de significados, afetos e identidades, operando como extensão das práticas juvenis.
Outrossim, a presença cotidiana dos jovens em plataformas como Instagram, TikTok, X (antigo Twitter) e YouTube tem transformado não apenas a forma como se comunicam, mas também como constroem suas identidades e desenvolvem competências cognitivas. Como observam Anjos et al. (2024), esses espaços são moldados por algoritmos que promovem conteúdos personalizados, o que contribui para o surgimento de bolhas informacionais, mas também de narrativas de pertencimento. Barroso et al. (2025) afirmam que, embora essas redes sejam frequentemente marginalizadas pela escola, elas influenciam diretamente os repertórios culturais e os modos de pensar dos estudantes.
Exemplificando, jovens que produzem vídeos sobre racismo, feminismo, games ou sustentabilidade nas redes sociais demonstram capacidade de argumentação, domínio técnico e criatividade que muitas vezes não são reconhecidos no espaço escolar. Conforme salientam Bodelão et al. (2025), essa desvalorização impede que a escola dialogue com saberes contemporâneos, tornando-se distante da realidade juvenil. Freires et al. (2024) defendem que o reconhecimento das redes sociais como espaços educativos pode ser um caminho para a construção de uma pedagogia mais inclusiva, crítica e participativa.
Com isso, o conceito de saberes produzidos fora da escola refere-se ao conjunto de conhecimentos, práticas e competências desenvolvidas pelos sujeitos em contextos não escolares, como comunidades virtuais, coletivos culturais, canais de tutoriais e experiências de vida cotidiana. A origem desse debate está na pedagogia crítica e na educação popular, que historicamente defendem o reconhecimento dos saberes comunitários e das vivências sociais como fontes legítimas de aprendizado. Abreu et al. (2025) ressaltam que os ambientes digitais ampliaram significativamente esses espaços formativos, especialmente entre os jovens. De acordo com Freires (2023), esses saberes não são complementares, mas sim estruturantes para uma escola que deseje estar conectada com o tempo presente.
Além disso, as juventudes conectadas produzem conhecimento constantemente, seja ao aprender programação em fóruns como o GitHub, ao desenvolver habilidades linguísticas em jogos online, ou ao debater temas sociais em grupos de WhatsApp. Segundo Barroso et al. (2025), essas aprendizagens são marcadas pela autonomia, colaboração e engajamento, características muitas vezes ausentes no ensino formal. Freires et al. (2024) destacam que, embora esses saberes sejam fundamentais para a formação cidadã, a escola ainda não os reconhece de forma efetiva no currículo, mantendo-se presa a um modelo conteudista e descontextualizado.
Dessa forma, é possível identificar jovens que, por conta própria, aprendem a editar vídeos, desenvolver aplicativos, falar novas línguas ou até mesmo empreender digitalmente, conhecimentos esses que raramente são mobilizados em sala de aula. Conforme apontam Anjos et al. (2024), a valorização dessas competências poderia transformar a escola em um espaço de troca horizontal, no qual estudantes e professores aprendem mutuamente. Bodelão et al. (2025) defendem que práticas pedagógicas que reconhecem e incorporam esses saberes são essenciais para a construção de uma educação inclusiva e dialógica.
Diante disso, estratégias pedagógicas voltadas à cultura digital juvenil consistem em práticas de ensino intencionais que integram as linguagens, mídias e formas de expressão dos jovens às dinâmicas escolares, promovendo uma aprendizagem mais significativa e contextualizada. Sua origem está relacionada às discussões sobre educação midiática, multiletramentos e metodologias ativas. Para Abreu et al. (2025), é imprescindível que o design instrucional contemporâneo seja pensado de modo a integrar as tecnologias digitais como parte da experiência pedagógica. Freires et al. (2024) enfatizam que tais estratégias não devem ser apenas instrumentais, mas também críticas, para promover o letramento digital e a cidadania online.
Sendo assim, é necessário que as escolas desenvolvam práticas que utilizem as mídias digitais não como acessórios, mas como recursos centrais no processo de ensino-aprendizagem. Podcasts, vídeos, infográficos, gamificação e redes sociais podem ser usados como linguagens legítimas para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares. Conforme apontam Gama et al. (2024), a mediação pedagógica em ambientes digitais requer planejamento, intencionalidade e compreensão das culturas juvenis. Barroso et al. (2025) argumentam que, ao invés de negar essas práticas culturais, a escola deve incorporá-las como ferramentas de ampliação do repertório cognitivo e crítico dos estudantes.
Como por exemplo, professores de História podem propor a criação de vídeos no estilo “reels” para a explicação de conceitos históricos; nas aulas de Língua Portuguesa, os estudantes podem construir roteiros de podcasts; já em Matemática, podem usar tutoriais digitais colaborativos. Freires et al. (2024) mostram que essas práticas promovem maior engajamento, protagonismo juvenil e desenvolvimento de múltiplas competências. Segundo Bodelão et al. (2025), o desafio está em formar professores para atuar com essas linguagens e tecnologias, superando resistências e inseguranças comuns no campo educacional.
4 Considerações finais
Dessa forma, o objetivo central deste trabalho — analisar como as culturas digitais das juventudes impactam os currículos escolares do Ensino Médio, tensionando práticas e estruturas pedagógicas, e propondo caminhos para uma formação mais conectada com os modos contemporâneos de aprender e ensinar — foi plenamente atingido. Através de uma investigação teórico-bibliográfica de natureza qualitativa, foi possível identificar como as práticas digitais vividas pelas juventudes em ambientes extracurriculares dialogam, confrontam ou complementam os dispositivos curriculares formais da escola, exigindo da instituição educativa uma postura mais aberta, crítica e responsiva às transformações do presente.
Além disso, os principais resultados apontam que há um descompasso entre os currículos escolares e as práticas culturais das juventudes digitais, especialmente no Ensino Médio. As escolas ainda operam sob lógicas organizacionais rígidas, pouco permeáveis às linguagens, tempos e modos de ser que os jovens trazem de suas vivências online. Contudo, também se identificaram experiências pedagógicas inovadoras que utilizam mídias digitais como ferramentas de ensino e aprendizagem, demonstrando que a integração entre culturas juvenis e currículo é possível e desejável quando mediada por práticas reflexivas e sensíveis à realidade estudantil.
Consoante a isso, do ponto de vista teórico, esta pesquisa contribui para ampliar o debate sobre a relação entre juventudes, culturas digitais e currículo escolar, ao tensionar modelos pedagógicos tradicionalistas e propor uma concepção de currículo em trânsito — flexível, dialógico e permeável aos fluxos socioculturais contemporâneos. A articulação entre autores clássicos permitiu uma compreensão interdisciplinar das transformações educativas, enriquecendo o campo teórico da educação crítica e cultural.
À exemplo disso, não foram identificadas limitações relevantes nos procedimentos metodológicos adotados, uma vez que a pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa mostrou-se adequada para o alcance dos objetivos propostos. O método possibilitou uma análise aprofundada e crítica da literatura especializada, permitindo captar nuances conceituais e práticas que atravessam o fenômeno investigado. Assim, a ausência de limitações não comprometeu a validade ou o alcance interpretativo da pesquisa, considerando o escopo delineado desde o início.
Diante do exposto, para trabalhos futuros, sugere-se a realização de investigações empíricas que explorem como professores e alunos vivenciam, na prática, as interações entre currículo e cultura digital no cotidiano escolar. Estudos de caso, etnografias escolares e pesquisas-ação podem enriquecer a compreensão do tema ao dar voz aos sujeitos envolvidos diretamente com essas dinâmicas. Ademais, torna-se pertinente o desenvolvimento de propostas formativas para docentes, focadas na mediação das culturas juvenis digitais em contextos escolares, de modo a fomentar currículos mais participativos, inclusivos e conectados com a vida dos estudantes.
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1 Mestre em Educação e Tecnologias Emergentes pela Must - USA. E-mail: [email protected]
2 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]
3 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]