EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE ALIMENTAR: A REDUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS POR MEIO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA ESCOLA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13757066


Edilene Pimentel de Sousa1
Joanéia Oliveira Ribas2
Silvana Alves Queiroz3
Patrícia Macedo de Castro4
Sandra Kariny Saldanha Oliveira5


RESUMO
O objetivo deste artigo é contribuir para a diminuição dos resíduos sólidos no ambiente escolar por meio da alimentação saudável. Como parte dos procedimentos metodológicos, desenvolveu-se uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo descritiva, tendo como fico condutor uma sequência didática baseada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018) junto a uma turma de 2º ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Boa Vista/RR. O trabalho realizado permitiu, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza, explorar o objeto de conhecimento “Alimentação Saudável” como forma de promover a diminuição de resíduos sólidos no ambiente escolar. Deste modo, durante quatro aulas do componente curricular Ciências da Natureza, foram desenvolvidas atividades de problematização, organização e aplicação do conhecimento, cujo foco foi motivar os alunos a questionar sobre a forma pela qual os alimentos são produzidos, distribuídos e descartados. Os resultados obtidos mostraram que, apesar da escola ofertar uma alimentação saudável e rica em nutrientes, é alarmante a existência de uma quantidade grande de alimentos processados sendo consumida pelos alunos, gerando, por sua vez, um acúmulo de resíduos sólidos no ambiente escolar, e que se configuram em hábitos alimentares que em nada contribui para a adoção de uma vida mais saudável tão necessária para um desenvolvimento integral.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Sustentabilidade Alimentar. Ações Educativas.

ABSTRACT
The objective of this article is to contribute to the reduction of solid waste in the school environment through healthy eating. As part of the methodological procedures, a research with a qualitative approach, of the descriptive type, was carried out, having as a conductor a didactic sequence based on the three pedagogical moments of Delizoicov, Angotti and Pernambuco (2018) with a class of 2nd year of Elementary School from a municipal school in Boa Vista/RR. The work carried out allowed, using the knowledge of the Natural Sciences, to explore the object of knowledge “Healthy Eating” as a way to promote the reduction of solid waste in the school environment. Thus, during four classes of the Natural Sciences curricular component, activities of questioning, organization and application of knowledge were developed, whose focus was to motivate students to question the way in which food is produced, distributed and discarded. The results obtained showed that, despite the school offering healthy and nutrient-rich food, the existence of a large amount of processed foods being consumed by students is alarming, generating, in turn, an accumulation of solid waste in the school environment, and that are configured in eating habits that do not contribute to the adoption of a healthier life so necessary for an integral development.
Keywords: Environmental Education. Food Sustainability. Educational Actions.

Introdução

A sustentabilidade faz parte da história e da prática da Educação Ambiental. Pensando nisso, a alimentação humana tem sido apontada como um dos agravantes dos problemas ambientais atuais devido a forma como os alimentos são obtidos, consumidos e processados. Além disso, essa é uma prática que abrange desde a diversidade, qualidade, respeito e resgate de hábitos e culturas alimentares, até a diminuição de resíduos sólidos por meio da promoção de hábitos alimentares cada vez mais saudáveis.

Sabe-se, também, que para o desenvolvimento de uma alimentação saudável, o fator cultural é crucial, uma vez que os hábitos alimentares são transmitidos principalmente pela família e escola. Pensando nisso, faz-se importante despertar no aluno, sujeito em formação, a construção de pensamentos e atitudes que promovam uma alimentação cada vez mais saudável e consciente, pois é por meio de práticas dessa natureza que se torna possível diminuir, por exemplo, o acúmulo de resíduos sólidos.

É, portanto, diante deste cenário de promoção de práticas educativas que esta pesquisa tem relevância social, científica e acadêmica, na medida em que busca, entre outros aspectos, promover práticas educativas no ambiente escolar capazes promover a assimilação e a mudança de hábitos, tornando os alunos multiplicadores de conhecimentos e valores sobre a importância da alimentação saudável para a diminuição de resíduos sólidos na escola e para além deste espaço educativo.

Como problemática de investigação, buscou-se diagnosticar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca dos conceitos relacionados a alimentação saudável e resíduos sólidos, para problematizar, organizar e aplicar os conhecimentos necessários para a aquisição de hábitos alimentares mais saudáveis no ambiente escolar, consequentemente, contribuindo para a diminuição do consumo e alimentos processados e do acúmulo de resíduos sólidos.

Assim, com o objetivo principal de contribuir para a diminuição de resíduos sólidos por meio da alimentação saudável, foi desenvolvida uma sequência didática baseada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018) junto a uma turma de 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos em Boa Vista/RR.

Este artigo foi organizado em três capítulos. O primeiro, que trata diretamente do referencial teórico, vem apresentar a importância de uma alimentação saudável e sustentável para se reduzir a produção de resíduos sólidos no ambiente escolar. O segundo refere-se aos procedimentos metodológicos da pesquisa. E, o terceiro, aborda a análise dos dados e a sua discussão. Este estudo se encerra trazendo as contribuições a cerda dos resultados obtidos a partir de sua realização.

Alimentação saudável e sustentável: caminhos para a sustentabilidade alimentar na escola

Enquanto uma alimentação saudável é aquela que atende a todas as exigências do corpo, fonte de nutrientes para uma melhor qualidade de vida. Portanto, ela deve ser variada, equilibrada, suficiente, acessível, colorida e segura. Por conta disso, não é apenas a quantidade que deve ser considerada, mas acima de tudo a sua qualidade. Sendo assim, é “a escolha dos alimentos que irá determinar quais nutrientes serão fornecidos ao nosso corpo” (DUTRA et al., 2009, p. 21).

A alimentação sustentável é caracterizada por possuir um baixo impacto ambiental. Ou seja, é aquela que, segundo Pinto (2020, p. 09), tem o propósito principal de contribuir “para a segurança alimentar e nutricional da população, pensando quer no imediato quer a longo prazo”. Deve, portanto, estar baseada na utilização de produtos produzidos com menores impactos possíveis ao ambiente.

Considerando isso, a possibilidade de associar e relacionar a alimentação saudável com a sustentabilidade, ou seja, a ponto de torná-la uma alimentação sustentável, assenta essencialmente na necessidade que se tem de diminuir os impactos ambientais produzidos por conta da forma como os alimentos são obtidos, consumidos, processados e descartados no meio ambiente.

No entanto, não se pode esquecer que a alimentação saudável envolve aspectos culturais, financeiros e regionais, e, por causa disso, é comum se observar atualmente a prática de hábitos alimentares diversas, em sua maioria contribuindo para a incidência de doenças decorrentes de uma alimentação inadequada.

Entretanto, Jesus (2016) evidencia que essa alimentação saudável também precisa ser sustentável, pois não é apenas o modo de se alimentar que carece de atenção, principalmente quando se sabe que diversas modificações têm ocorrido no modo de produção, distribuição, comércio e descarte dos alimentos.

Nesse cenário, a alimentação saudável não assume apenas a função de garantir que o indivíduo tenha um bom desenvolvimento integral. Ela também tem o papel de contribuir para a sustentabilidade, na medida em que provoca a consciência da necessidade que se tem de adquirir hábitos que ajudem tanto na diminuição do consumo de alimentos processados, quanto no controle do acúmulo de resíduos sólidos no ambiente, promovendo também o seu correto descarte, tornando-se, portanto, uma alimentação sustentável (ZARO, 2018).

Pensando nisso, o Ministério da Saúde, em parceria com outros órgãos e programas, desde 2003, por meio da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), vem tentando “garantir o completo desenvolvimento humano com qualidade de vida, prevenir doenças, além de constituir a alimentação como direito humano indispensável à construção da cidadania” (MORAIS, 2017, p. 17), tentando, ao mesmo tempo, fazer a relação entre sustentabilidade e alimentação.

E, o caminho encontrado para isso, ou melhor dizendo, o instrumento de consolidação foi a escola, cujas ações educativas se mostram bastante positivas nesse sentido, visando a consolidação de atitudes por meio do desenvolvimento de estratégias, instrumentos e ações integradas, que não fiquem somente na escola, mas que alcancem os diferentes ambientes sociais, e se estabeleça uma rede de compromisso e corresponsabilidade em prol da sustentabilidade alimentar.

A sustentabilidade alimentar que se propõe na escola é pensando tanto em promover hábitos alimentares saudáveis quanto diminuir o consumo de alimentos processados e o consequente acúmulo de resíduos sólidos que tem se mostrado um problema recorrente e alarmante por conta da poluição causada com a intensificação de sua produção em grandes escalas por conta da procura na sociedade atual (ZARO, 2018).

Neste contexto, é imprescindível que ações voltadas para minimização da produção de resíduos sólidos sejam promovidas no ambiente escolar. E, uma das alternativas encontradas para isso é o trabalho da alimentação saudável, pois os padrões atuais de consumo da sociedade exigem atitudes positivas por parte de todos.

Logo, uma boa oportunidade para fazer isso é iniciando esse trabalho desde cedo na escola, para que se adquira a consciência de que “a geração de resíduos sólidos causa uma grande problemática ambiental, como a disposição inadequada em lixões que contaminam o solo e os recursos hídricos e a saturação dos aterros sanitários” (FARIAS, 2013, p. 01), e isso é uma situação que precisa ser combatida.

Isso é possível porque é constatado que a escola é a principal responsável na formação do sujeito crítico, reflexivo capaz de intervir nos problemas ambientais nos seus aspectos físicos, sociais, econômicos e políticos. Sendo assim, organizou-se uma sequência didática sobre alimentação saudável com foco na sustentabilidade alimentar, baseada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018), conforme será descrito a seguir.

Metodologia

A abordagem empregada neste estudo foi a qualitativa cujo conhecimento está “conectado por uma teoria explicativa, e, como tal, o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado” (GIL, 2010, p. 79).

Como ponto de partida, utilizou-se da pesquisa bibliográfica para a construção da revisão de literatura que foi realizada “a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites” (FURASTÉ, 2014, p. 34), permitindo conhecer o que já se estudou sobre o assunto foco da pesquisa, assim como construir novas reflexões teóricas que ajudaram a fundamentar os resultados obtidos.

Utilizou-se da pesquisa descritiva visando uma melhor compreensão do objeto de conhecimento abordado e explorado, mediante o emprego dos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018), cuja análise aconteceu considerando-se a organização e sistematização das ideias iniciais coletadas na problematização; da organização do conhecimento por meio de metodologias diferenciadas; e, do saber agregado pelos estudantes no decorrer das aulas abordadas que culminaram com a sua aplicação prática no ambiente escolar.

Para o trabalho do objeto de conhecimento “Alimentação Saudável”, foi elaborada uma sequência didática que foi desenvolvida junto aos alunos de uma turma de 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, durante quatro aulas de Ciências da Natureza, com duração de 2h cada uma, conforme plano de trabalho presente no Quadro 1.

Quadro 1: Sequência didática baseada nos três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov, Angotti, Pernambuco (2018) sobre Alimentação Saudável aplicada aos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, Boa Vista, RR.

Componente Curricular

Série

Carga horária prevista

Ciências da Natureza

2º ano do Ensino Fundamental

4 aulas ou 8h

Delimitação temática

Competência específica: 8. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico-tecnológicas e socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários.

Eixo temático: Vida e Evolução

Habilidade: (EF05CI08) Organizar um cardápio equilibrado com base nas características dos grupos alimentares (nutrientes e calorias) e nas necessidades individuais (atividades realizadas, idade, sexo etc.) para a manutenção da saúde do organismo.
(EF05CI09) Discutir a ocorrência de distúrbios nutricionais (como obesidade, subnutrição, etc.) entre crianças e jovens a partir da análise de seus hábitos (tipos e quantidade de alimento ingerido, prática de atividade física etc.).

Objeto de conhecimento: Alimentação Saudável.

Situações de Aprendizagens

Atividade 1: Problematização – Apresentação e diagnóstico dos conhecimentos dos alunos sobre o conteúdo alimentação saudável e resíduos sólidos.

1º Momento: Apresentação de um vídeo sobre o assunto para estimular os alunos a participar da atividade diagnóstica e produção de desenhos livre sobre a alimentação saudável e os resíduos sólidos dos alimentos no ambiente.

2º Momento: Realização de conversação, indagando os alunos sobre os tipos de alimentos, saudáveis ou não, as preferências alimentares, como são embaladas e como são descartadas no ambiente.

Objetivo da aprendizagem: Diagnosticar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca dos conceitos relacionados a alimentação saudável e resíduos sólidos.

Carga horária: 2h.

Atividade 2: Organização do conhecimento – Apresentação e exploração do conteúdo, utilizando-se de jogos pedagógicos, permitindo a compreensão e interação dos conceitos relacionados a hábitos alimentares e resíduos sólidos provenientes da alimentação.

1º momento: Com base no diagnóstico realizado, o conteúdo alimentação saudável e resíduos sólidos será explorado, utilizando-se dos jogos pedagógicos para promover a aprendizagem.

Objetivo da aprendizagem: Apresentar diferentes sugestões de alimentação saudável, evitando os alimentos processados e o acúmulo de resíduos sólidos no ambiente.

Carga horária: 2h

Atividade 3: Organização do conhecimento – Seleção de alimentos e exploração de receitas a partir da alimentação saudável permitindo a compreensão e interação dos conceitos relacionados aos hábitos alimentares e descarte de resíduos sólidos.

1º momento: Palestra com nutricionista sobre alimentação saudável e entrega de panfletos informativos.

2º momento: Confecção de cartazes sobre alimentação saudável e a melhor forma de descarte dos resíduos sólidos.

Objetivo da aprendizagem: Apresentar diferentes sugestões de alimentação saudáveis, evitando os alimentos processados e o acúmulo de resíduos sólidos.

Carga horária: 2h

Atividade 4: Aplicação do conhecimento – Exploração e aplicação prática do conteúdo pelo aluno, mostrando o que ele foi capaz de apreender.

1º momento: Tomando como base as aquisições de conceitos apreendidos, os alunos prepararam um alimento saudável concernente aos resíduos sólidos dos alimentos utilizados.

2º momento: Culminância com apreciação de um mural interativo contendo as produções e entrega de certificados aos participantes da sequência didática.

Objetivo da aprendizagem: Verificar a compreensão teórica e prática do aluno sobre o conteúdo trabalhado.

Carga horária: 2h

Atitudinal envolvido nas situações de aprendizagem

Instrumentos de avaliação

Recursos

  • Diagnosticar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca dos conceitos relacionados a alimentação saudável e resíduos sólidos;

  • Apresentar diferentes sugestões de alimentação saudável, evitando os alimentos processados e o acúmulo de resíduos sólidos;

  • Verificar a compreensão teórica e prática do aluno sobre o objeto de conhecimento trabalhado.

  • Observação;

  • Registro em diário de bordo do processo percorrido;

  • Participação e envolvimento nas atividades propostas;

  • Exposição oral e prática do aluno.

  • Lousa digital;

  • Jogos pedagógicos;

  • Papel A4;

  • Lápis de cor;

  • Impressora;

  • Utensílios de cozinha;

  • Embalagens diversas;

  • Alimentos processados;

  • Alimentos saudáveis;

  • Caixa de som;

  • Microfone.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

A aplicação prática da sequência didática sobre a Alimentação Saudável, baseada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018), culminou com a construção de um relato da experiência vivenciada, a qual se descreve a seguir, sendo enriquecida das contribuições científicas dos teóricos que tratam da temática abordada.

Análise e discussão dos resultados

É fato incontestável que o planeta tem sido bastante afetado por numerosos impactos ambientais. Grande parte advindo da ação do homem. Na busca de reverter tal situação, tem se observado uma acentuada discussão em torno dos conceitos de Educação Ambiental e de desenvolvimento sustentável nas últimas décadas. A proposta é promover ações educativas que viabilizem a adoção de atitudes e comportamentos menos prejudiciais para o ambiente a partir de um consumo consciente e responsável dos recursos naturais (PINTO, 2020).

Foi pensando na importância de se promover a adoção de hábitos cada vez mais saudáveis que se elaborou e aplicou uma sequência didática sobre Alimentação Saudável junto a turma de 2º ano do Ensino Fundamental I, em quatro aulas de Ciências da Natureza, baseada nos três momentos pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2018).

Trabalhar hábitos saudáveis, na perspectiva da alimentação saudável e sustentável, enquanto caminho para a sustentabilidade alimentar, é importante porque tem se observado que educar para o desenvolvimento sustentável, apesar de todas as ações existentes, de ser pauta de intensos debates governamentais e sociais, ainda se mostra o maior dos desafios da sociedade atual.

No entanto, acredita-se que são iniciativas como as promovidas por meio da sequência didática desenvolvida em uma escola municipal de Boa Vista/RR, que ajudam a difundir a adoção de atitudes mais conscientes por parte dos estudantes para com o meio ambiente a sua volta. Uma vez adotadas, essas práticas são internalizadas e vivenciadas fora da escola.

Deste modo, no primeiro momento pedagógico, denominado Problematização, a atividade 1 focava na apresentação e diagnóstico dos conhecimentos dos alunos sobre o conteúdo alimentação saudável e resíduos sólidos. Para tanto, inicialmente exibiu-se um vídeo sobre o assunto para estimular os alunos a participar da atividade diagnóstica, conforme Figura 1:

Figura 1: Apresentação do vídeo “alimentação saudável e descarte de lixo” aos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, Boa Vista, RR.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Após a exibição do vídeo, como ponto de partida para estimular as crianças a participarem da conversa em torno do assunto a ser explorado, foi indagado o que haviam compreendido. A grande maioria das crianças teve algo a comentar. Entre os principais aspectos destacados, evidenciou-se as seguintes falas: “era importante ter uma alimentação saudável”, “cada lixo tinha o lugar certo para ser destacado”, “nem sempre as coisas mais gostosas para eles era realmente saudável”.

Tais falas mostra que as crianças compreendem que “a alimentação saudável é fundamental para assegurar um bom desenvolvimento físico e mental, principalmente para garantir uma boa saúde” (MORAIS, 2017, p. 06), assim como percebem que o descarte do lixo produzido a partir do que consomem não pode acontecer de qualquer forma ou em qualquer lugar, mesmo porque “os resíduos sólidos são oriundos de diversas ações, podendo ser mais ou menos poluente e/ou contaminador, dependendo do que é descartado” (CAVALCANTE, 2016, p. 09).

Após observar quais eram os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto a ser explorado, indagando-se sobre os tipos de alimentos, saudáveis ou não, as preferências alimentares, como são embaladas e como são descartadas no ambiente, que se direcionou a produção de desenhos livre sobre o que haviam entendido, conforme Figura 2:

Figura 2: Produção de desenho livre pelos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, Boa Vista, RR.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Os desenhos produzidos pelas crianças foram bastante positivos e expressavam os seus conhecimentos iniciais sobre o assunto. Ficou evidenciado que possuem “saberes e competências que lhes permitem formar atitudes mais favoráveis à preservação do ambiente e seus efeitos positivos nas suas práticas alimentares” (PINTO, 2020, p. 03), pois conseguiram expressar por meio do desenho, por exemplo, que alimentos são saudáveis e quais não são, assim como sabem que o seu descarte correto deve acontecer.

Considerando isso, no segundo momento pedagógico, intitulado organização do conhecimento, a atividade 2 visou apresentar diferentes sugestões de alimentação saudável, evitando os alimentos processados e o acúmulo de resíduos sólidos no ambiente. Para tanto, os alunos brincaram com os seguintes jogos pedagógicos: separando os resíduos sólidos adequadamente; identificando alimentos in natura, processados e ultra processados; alimentando o monstrinho com uma alimentação saudável; dominó alimentação saudável; e, jogo da memória frutas, legumes e vegetais, conforme Figura 3:

Figura 3: Vivência do conhecimento por meio de jogos pedagógicos aplicados aos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, Boa Vista, RR.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

A experiência foi bastante prazerosa e revelou-se significativa na medida em que se evidenciou o jogo pedagógico como “uma das muitas ferramentas didáticas capazes de possibilitar uma aprendizagem significativa e a construção de saberes e posturas crítico-reflexivas” (CAVALCANTE, 2016, p. 09), principalmente quando a proposta é justamente fortalecer a aprendizagem sobre a Educação Ambiental e a sustentabilidade alimentar por meio da alimentação saudável visando a redução de resíduos sólidos.

Assim, ainda no segundo momento – Organização do Conhecimento – os alunos tiveram a oportunidade de selecionar alimentos e explorar receitas a partir da alimentação saudável permitindo a compreensão e interação dos conceitos relacionados aos hábitos alimentares e descarte de resíduos sólidos. Deste modo, participaram de uma palestra com a nutricionista e receberam panfletos informativos que ajudaram na construção e ampliação dos saberes produzidos (Figura 4).

Figura 4: Palestra com a nutricionista e entrega de panfleto informativo aos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Rujane Severino dos Santos, Boa Vista, RR.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Durante a palestra, a nutricionista foi mantendo uma fala dialogada com as crianças, indagando-as, sempre que necessário, sobre o que estava apresentando. Notou-se pela participação, quais práticas alimentares os alunos adotam, que conhecimentos tem sobre o descarte dos resíduos sólidos produzidos a partir desse consumo, assim como quais “valores sociais, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente possuem” (DUTRA et al., 2009, p. 21).

Para finalizar esse segundo momento, os alunos foram convidados a confeccionar cartazes sobre alimentação saudável, mostrando ainda a melhor forma de descarte dos resíduos sólidos (Figura 5).

Figura 5: Confecção de cartazes pelos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental sobre alimentação saudável e descarte de resíduos sólidos.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Os cartazes produzidos revelaram que as crianças “têm consciência de que as suas práticas alimentares têm impactos no ambiente e o quanto estão dispostas a adotar atitudes alimentares mais sustentáveis” (PINTO, 2020, p. 03), pois ficou evidente que sabem, por exemplo, diferenciar alimentos saudáveis e não saudáveis, sabem da importância de fazer o descarte correto dos resíduos sólidos, assim como entendem que a adoção de uma postura consciente vai de encontro com o que preconiza a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), instituída pela Lei 9.795/99, que pressupõe o papel da escola de formar cidadãos para uma reflexão crítica, em termos ambientais e sociais, capazes de promover transformações na sua maneira de pensar, de agir, de tomar decisões em prol do bem de todos (CAVALCANTE, 2016).

Considerando isso, no terceiro momento pedagógico, denominado Aplicação do Conhecimento, ocom o intuito de verificar a compreensão teórica e prática do aluno sobre o conteúdo trabalhado, foi oportunizada a possibilidade de preparação de um prato de uma alimentação saudável concernente aos resíduos sólidos dos alimentos, com direito a degustação (Figura 6).

Figura 6: Preparação de um alimento saudável pelos alunos com momento para degustação.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Durante a preparação do alimento saudável as crianças tiveram a oportunidade de pôr em prática os conhecimentos construídos, pois a cada passo da receita eram questionadas, por exemplo, que alimentos estavam utilizando, quais eram in natura, quais eram industrializados. Mostrou, também, a importância de se evitar estragos e desperdícios quando se segue corretamente o que é pedido, revelando que a opção por alimentos menos processados, é capaz de produzir uma consciência social e ambiental, aspecto este tão necessário na sociedade atual (FARIAS, 2013).

A culminância ocorreu mediada pela apreciação de um mural interativo contendo as produções e entrega de certificados aos participantes da sequência didática, para que observassem o que foram capazes de aprender (Figura 7).

Figura 7: Apresentação de mural interativo e momento de certificação dos alunos.

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

O mural interativo foi construído com o apoio das crianças a partir das produções realizadas e revelou-se, de acordo com Hamerschmidt e Oliveira (2014), num espaço de construção de saberes, ao mesmo tempo em que as tornou sujeitos do seu próprio aprendizado.

Fazendo uma análise de todo o processo percorrido, desde o primeiro contato na escola com os alunos, onde se identificou uma grande quantidade de alimentos processados, até a culminância das ações propostas na sequência didática Alimentação Saudável, é possível afirmar que os alunos apresentam consciência de que “uma alimentação variada, equilibrada, suficiente, acessível, colorida e segura, é fundamental para assegurar um bom desenvolvimento físico e mental, principalmente para garantir uma boa saúde” (MORAIS, 2017, p. 12).

No entanto, por diversos motivos e hábitos incentivados, principalmente em casa, esses mesmos alunos acabam consumindo uma quantidade grande de alimentos processados, mesmo a escola fazendo um contínuo trabalho educativo “de ações de educação alimentar e nutricional no cotidiano” (HAMERSCHMIDT; OLIVEIRA, 2014, p. 11) (Figura 8).

Figura 8: Evidências do consumo de alimentos processados pelos alunos no ambiente escolar

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Por outro lado, se incentivados a consumir alimentos mais saudáveis, uma mudança de hábito é possível ser visualizada. Mas, isso precisa ser uma oferta cotidiana, e não apenas na escola. A família também precisa mudar suas atitudes, pois como afirma Jesus (2016), é neste ambiente que as influências, a personalidade e o comportamento é moldado.

Como alternativa, a escola surge como um espaço social e educacional para que ações educativas sobre alimentação saudável e a sua importância na diminuição do consumo e do acúmulo de resíduos sólidos possam ser desenvolvidas enquanto estratégia também para a sustentabilidade alimentar (MORAIS, 2017).

Diante desse entendimento, fica evidente a necessidade contínua que se tem de desenvolver na escola um conjunto de ações formativas, dessa natureza, para que se tornem uma prática contínua e permanente, e, ao mesmo tempo, transdisciplinar, “com a finalidade de estimular a adoção voluntária de práticas e escolhas alimentares saudáveis que colaborem para a aprendizagem (...)” (HAMERSCHMIDT; OLIVEIRA, 2014, p. 20-21) e uma melhor qualidade de vida dos alunos. Contudo, essas estratégias precisam acontecer não apenas quando este conteúdo deve ser trabalhado para cumprir com a matriz curricular da série em que ele se encontre.

Conclusão

A literatura disponível evidenciada ao longo deste trabalho mostrou a extrema importância do desenvolvimento de ações educativas com foco na alimentação saudável para a adoção de hábitos e atitudes visando uma melhor qualidade de vida e a diminuição do consumo de alimentos processados e consequente acúmulo de resíduos sólidos e o seu descarte inadequado.

Os resultados obtidos por meio do desenvolvimento da sequência didática sobre alimentação saudável mostraram que a escola oferta uma alimentação variada, equilibrada, suficiente, acessível, colorida e segura, conforme previsto pelas diretrizes propostas pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).

Também ficou constatado que a escola tem desenvolvido um trabalho curricular sobre o assunto guiando-se pelo previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) sobre esse objeto de conhecimento em cada ano, etapa e nível de ensino. No entanto, falta uma continuidade das ações propostas para que os resultados sejam mais permanentes e ultrapassem os muros da escola e cheguem no ambiente familiar que é crucial para a adoção de hábitos saudáveis e a consequente diminuição de alimentos processados e o acúmulo de resíduos sólidos, assim como o descarte adequado.

Por fim, concluiu-se que pensar na Educação Ambiental na perspectiva do desenvolvimento sustentável pressupõe a necessidade de uma abordagem mais sistemática dessa temática e dos diferentes conteúdos que dela fazem parte na escola, pois se sabe que os alunos têm um papel muito relevante neste contexto, na medida em que começam a ser mais autónomos quando adquirem a consciência ambiental e se tornam promotores de atitudes e hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis.

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1 Mestre em Ensino de Ciências pela Universidade Estadual de Roraima (UERR), [email protected].

2 Mestre em Ensino de Ciências pela UERR, [email protected].

3 Mestre em Ensino de Ciências pela UERR, [email protected].

4 Professora DSc, Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC) da UERR, [email protected].

5 Professora DSc, Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC) da UERR, [email protected].