DO EVANGELHO À PROSPERIDADE: A TRANSIÇÃO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO PARA O NEOPENTECOSTALISMO NO BRASIL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15226218


Ana Júlia Firmiano Soares1
Marco Antônio de Meneses Silva2


RESUMO
Este estudo analisa o desenvolvimento e a trajetória da Teologia da Libertação (TdL) na América Latina, com ênfase em sua influência histórica no Brasil, especialmente durante o período da ditadura militar. Inicialmente uma resposta da Igreja Católica aos contextos de opressão e injustiça social, a TdL promoveu uma visão de fé orientada para os pobres e oprimidos, levando a uma conscientização política e social profunda nas comunidades religiosas. Entretanto, seu declínio foi marcado por fatores como o enfraquecimento da esquerda, a oposição conservadora dentro da Igreja e o crescimento do neopentecostalismo, fortemente apoiado por potências estrangeiras. A pesquisa discute como essa nova onda religiosa moldou o cenário político e social brasileiro, evidenciando a contínua interação entre religião, poder e política na América Latina e as consequências dessas relações. Conclui-se que o declínio da Teologia da Libertação ocorreu devido ao enfraquecimento da esquerda política, do investimento estrangeiro nas novas vertentes evangélicas e do descuido por parte da Igreja Católica, não significando sua erradicação.
Palavras-chave: Teologia da Libertação, Neopentecostalismo, Ditadura, Religião, América Latina.

ABSTRACT
This study examines the development and trajectory of Liberation Theology (TdL) in Latin America, focusing on its historical influence in Brazil, particularly during the military dictatorship period. Initially conceived as the Catholic Church's response to contexts of oppression and social injustice, TdL promoted a faith-oriented approach toward the poor and marginalized, fostering profound political and social awareness within religious communities. However, its decline was marked by factors such as the weakening of leftist movements, conservative opposition within the Church, and the growth of Neo-Pentecostalism, heavily supported by foreign powers. The research discusses how this new religious wave shaped the Brazilian political and social landscape, highlighting the ongoing interplay between religion, power, and politics in Latin America and the consequences of these interactions. It can be concluded that the decline of Liberation Theology arose due to the weakening of the political left, foreign investment in new evangelical movements, and neglect on the part of the Catholic Church, though this did not lead to its eradication.
Keywords: Liberation Theology, Neo-Pentecostalism, Dictatorship, Religion, Latin America.

1. Introdução

O que se conhece hoje da Igreja Católica (IC), principalmente na América Latina, é fruto de uma série de mudanças ocorridas no cerne da comunidade católica, a partir dos anos de 1950. Em congruência com a insurgência das ditaduras militares na América Latina, iniciou-se um novo período da Igreja latino-americana, marcado pela presença de padres, bispos e fiéis revolucionários, que combateram de frente a repressão da época.

Em meio às mudanças que assolavam o mundo, o Concílio Vaticano II (1962), a Revolução Cubana e a insurgência de inúmeras frentes revolucionárias por toda a América Latina, em 1974, Gustavo Gutierrez publica o livro “Teologia da Libertação – Perspectivas” que tem como objetivo, reorganizar os evangelhos sob o olhar daqueles que sofrem, os oprimidos, especialmente os pobres. É assim que surge então, o movimento caracterizado pela Igreja dos Pobres.

O crescimento das Comunidades Eclesiais de Base3, de movimentos revolucionários ligados ou não à religião católica e de uma Igreja que se posiciona contrária às ditaduras da época, levou a um olhar mais atento diante da possível frente de atuação subversiva ao sistema, de diversos atores da política internacional. É quando o Vaticano, os militares e os Estados Unidos, juntos, começaram a tentar frear esse movimento.

Nesse instante, diante de diversos acontecimentos históricos e mudanças de direção política, surge a frente evangélica neopentecostal, apoiada pelos Estados Unidos, uma das principais responsáveis pelo declínio do pensamento Teológico da Libertação.

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo observar o crescimento da Teologia da Libertação na América Latina, seus ideais, antecedentes e consequências para a realidade latino-americana até os dias atuais. Além disso, espera explicar as razões de seu decrescimento e a maneira em que esse declínio se desdobra.

Para tal, suscita-se como hipótese, que as motivações para o declínio da Teologia da Libertação se encontram o enfraquecimento da esquerda em nível global no pós-Guerra Fria, as duras investidas da ala conservadora do Vaticano contrárias à frente revolucionária, o investimento estadunidense em igrejas pró Estados Unidos, embebidas da Teologia da Prosperidade e Domínio e, consequentemente, a crescente chegada de igrejas evangélicas neopentecostais nas comunidades brasileiras, até então, muito envolvidas nas Comunidades Eclesiais de Base.

2. A Estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana e o Concílio Vaticano II

2.1 A Organização Hierárquica da Igreja Católica: Tradição e Poder

Ao trazer o debate sobre a ascensão e o declínio da Teologia da Libertação na Igreja Católica, alguns dos principais envolvidos são as personagens do alto clero da Igreja, já que, durante a história e desenvolvimento da Teologia, uma infinidade de agentes culmina por apoiá-la ou condená-la. Entender a estrutura organizacional, a autuação de advertências, avisos ou punições de uma das instituições mais antigas do mundo, é necessário para compreender as atitudes aferidas no decorrer desse trabalho.

De acordo com Dermi Azevedo (2003), a Igreja Católica se situa em três diferentes tempos e espaços. Os tempos são divididos em: tempo cotidiano (vivenciado pela sociedade), tempo histórico (os dois mil anos de existência) e tempo mítico (o vivenciado pelas Sagradas Escrituras). Os diferentes espaços são: espaço restrito (diocese, locais dos bispos), a Igreja Universal e o espaço religioso.

Azevedo (2003), à luz de Weber, elabora os polos de poder eclesiásticos católicos (Pontifício, episcopal, burocrático, ordens e congregações religiosas, leigos e sociedade civil intra-eclesiástica), exemplificando suas instâncias. O polo pontifício, é o que atribui ao Papa a referência eclesiástica, consumado pelo dogma da infalibilidade papal4, seguido pelo polo episcopal5 que fala sobre a estrutura institucional dos bispos. Esses dois polos são responsáveis por anunciar a mensagem bíblica e fortalecer o entendimento universal em consonância com o expresso pelo emissor central, em Roma. Esse é o principal ponto de interesse para entender a influência e o modus operandi das declarações oficiais (Azevedo, 2003).

Representado pela Cúria Romana6, o polo burocrático é o que se assemelha ao poder jurídico, lidando com os aspectos materiais e disciplinares da Igreja. É por meio dele que se tramitam os processos de nomeação de bispos (Azevedo, 2003). Esse polo também abriga o chamado Direito Canônico, conjunto de leis e regras que regem a Igreja (Papa João Paulo II, 1983).

O polo das ordens e congregações são grupos voluntários, com pessoas voltadas a ideais comuns, não diretamente subordinadas à hierarquia clerical e nem totalmente autônomas (Azevedo, 2003).

Os leigos e a sociedade civil intra-eclesiástica7, citados a partir do Concílio Vaticano II8, “abrangem pessoas, ideias e propostas dos polos anteriores, e explicita a emergência de uma sociedade civil, nacional e internacional, dentro da própria Igreja”, simbolizam o compromisso do Concílio pela interação humana, simplificação e difusão do evangelho de maneira universal e pelo diálogo inter-religioso. Esses polos são também representados pelos movimentos dentro da Igreja9 (Azevedo, 2003).

Além dos poderes supracitados, a Igreja Católica Apostólica Romana clama para si o legado de Cristo e afirma ser a verdadeira Igreja fundada por Pedro a comando de Jesus, baseado nos evangelhos10. Assim, apesar de ser um Estado Soberano, organizado e semelhante a outros tipos de governo, não há uma constituição ou conselho específico na linguagem política – democracia, teocracia, oligarquia. A resposta oficial denota um caráter moral de atuação, “A Santa Sé – afirma documento da Secretaria de Estado do Vaticano – não constitui um poder temporal, com finalidades políticas, mas uma autoridade moral”, dessa forma, é por meio dessa autoridade moral – ou politicamente, desse soft power 11 - que ordens, conselhos e influências são disseminados.

2.2 O Concílio Vaticano II: Revolução Interna e o Despertar de Novas Teologias

Em 25 de janeiro de 1959, Papa João XXIII convoca o Concílio Vaticano II (CVII). Ocorrido em 1962, o Concílio exulta a importância da união com Cristo da Igreja, dialogando com a diversidade social e pela não condenação (Tapia, J. F. C., 2023). No CVII, foram aprovados novos documentos que guiariam o futuro da IC12 (Coutinho, 2022).

O caráter universal do evento permitiu à Igreja a passagem de um “catolicismo europeu” para um “catolicismo mundial”, visto que a representação dos bispos, nos Concílios do século XII até o Vaticano I, era quase exclusivamente europeia. Gonzaga, 2022.

O Concílio buscou, em uma das principais propostas, se aproximar do homem moderno, não somente os ligados à Igreja, abraçando a tradição e tornando a mensagem mais acessível (Gonzaga, 2022). Foi nesse momento em que a Igreja abraçou diversas mudanças que conversariam com sua transição para uma nova era, como a inter-religiosidade e o ecumenismo por exemplo, e, talvez, uma das mais importantes, a Missa passar a ser rezada de acordo com a língua de cada país13 (Coutinho, 2022).

Apesar das revoluções de alguns dogmas e tradições, a Igreja não deixou de abraçar outras pautas conservadoras e condenava o capitalismo assim como o comunismo (Coutinho, 2022). Importante lembrar, também, que esses debates aconteciam no contexto da Guerra Fria.

O período que se conhece como pós-concílio, despertou no setor conservador diversas dúvidas e receios. Preocupados com a diversidade teológica e abertura de interpretações errôneas da liturgia, os críticos ao CVII acusaram o evento de proclamar falsas ideologias, acusando de “protestante”, “modernista” e “pró-comunista”. A partir desse embate de ideias, a ala conservadora estremeceu os ideais do Concílio, resultando em um enfraquecimento das ideias, logo nos próximos anos. Dessa forma, liderada pelo futuro Papa Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, a Congregação para a Doutrina da Fé, retrocedeu nos assuntos anteriormente abordados no CVII (Coutinho, 2022).

3. A CNBB

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), instituição que congrega os bispos da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil, foi criada em 1952 por Dom Helder Câmara14 e aprovada pelo Papa Pio XII. Seus objetivos são, dentre outros, a comunhão entre os membros da Igreja, ajuda no ministério dos bispos do Brasil, estudo dos interesses comuns promovendo ações pastorais e a representação do Episcopado brasileiro em outras instâncias (CNBB, 2022).

Sua preocupação, nesse momento, era buscar uma reforma da Igreja no Brasil, reparando o tradicionalismo europeu, modificar o clero e realizar mudanças estruturais com o olhar voltado às bases e às questões sociais, evidenciando sua preferência pela Igreja dos Pobres15. Uma vez atuando, a CNBB recebeu diversas investidas das alas mais conservadoras da Igreja, tendo, inclusive, teólogos silenciados politicamente e pelo Vaticano16 (Araújo, 2022).

Tratando do período histórico da ditadura militar, período de intensa movimentação política no Brasil, a CNBB prestou condolências ao regime, quando, dois meses após o golpe, prestaram a declaração: “Ao mesmo tempo em que agradecemos a Deus, que respondeu às preces de milhões de brasileiros e nos libertou do perigo comunista, estamos gratos, também, aos militares que, com sério risco de vida, se ergueram em nome dos interesses supremos da nação.” (Löwy, 2016, p.148).

A partir da década de 1970, com a mudança de alguns líderes, a CNBB muda de posicionamento, objetivamente após à prisão de Madre Maurina e o assassinato do Padre Antônio Henrique, em 1969 (Araújo, 2018, p.16), amigos próximos a Dom Helder Câmara. Assim, ele começa a se opor, denunciando as posturas violentas do período. Além disso, existiam outras frentes católicas progressistas como a JUC17 e a JOC18, já contrárias ao regime (Löwy, 2016, p.148). Vale citar, ainda, que dentre as frentes progressistas, alguns padres dominicanos apoiaram as lutas armadas que envolviam membros do Partido Comunista, dentre eles Carlos Marighela (Löwy, 2016, p.149).

Através da voz dos bispos, a Igreja criticava, de uma maneira cada vez mais direta e explícita, as violações de direitos humanos e a ausência de democracia. Mas não era só isso: denunciava também o método de desenvolvimento imposto pelos militares, seu programa de “modernização” em sua totalidade, considerando-o desumano, injusto e baseado na opressão social e econômica dos pobres. (Löwy, 2016, p.15).

Dessa vez, a Igreja reorganiza a oposição nas bases por meio das Comunidades Eclesiais de Base. Surgiu, para os militares, portanto, uma nova forte oposição ao regime.

3.1 As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) Opositoras à Ditadura Militar

A essa altura, no auge da oposição da Igreja à Ditadura Militar, crescem as CEBs, fundamentais para o desenvolvimento da oposição organizada. Löwy expõe a popularidade das comunidades, majoritariamente religiosas - regadas dos ritos tradicionais, como vigílias, terços, adorações e peregrinações - apoiadas principalmente pelas mulheres e por uma comunidade clerical mais radical, que vivenciava realidades semelhantes, “(...) (a pobreza) e a esperança de salvação eram os componentes principais da cultura política/religiosa das comunidades de base brasileiras” (Löwy, 2016, p.152). Por meio delas, houve uma nova “democracia de bases”, evocando importantes combatentes da ditadura militar brasileira, essenciais para o período da redemocratização, sendo principalmente, o Partido dos Trabalhadores, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e a Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais e Populares, entre outras (Löwy, 2016).

Essas iniciativas, em determinado momento, se desvincularam da atuação religiosa, enquanto outras permaneceram, como a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC), que publica “Algumas diretrizes para um ideal histórico brasileiro”19, considerado o pioneiro documento do Cristianismo da Libertação no Brasil. Para Löwy, eles não somente aplicavam pensamentos marxistas, mas utilizavam de pontapé inicial para a realização de mudanças, por meio da radicalização (Löwy, 2016).

Em 1960, surgiu também, apoiados pela Igreja, o Movimento pela Educação Básica (MEB), inspirado na pedagogia de Paulo Freire, e, em 1962, a JUC e o MEB criam a Ação Popular (AP), com objetivo de intensificar a luta pelo socialismo e o método marxista (Löwy, 2016).

Apesar da perseguição política e religiosa dessa época, foi a partir dos estudos e dos desenvolvimentos dessas comunidades, que começou a ser difundida e aplicada no Brasil uma nova visão teológica, social e política (Löwy, 2016).

Por influência de estudiosos, teólogos e membros do clero, como Gustavo Gutierrez, Hugo Assmann, os irmãos Leonardo Boff20 e Clodovis Boff, que ofereceram direcionamento espiritual e político aos fiéis da Igreja, cultivando uma geração de agentes pastorais, líderes, seminaristas e pensadores católicos inspirados na análise marxista e surgida do contexto repressivo e ditatorial brasileiro e latino-americano, surge a Teologia da Libertação (Löwy, 2016, p.147).

4. O Cristianismo da Libertação

Para Löwy (2016), a fim de introduzir a Teologia da Libertação (TdL) é preciso, a priori, apresentar o Cristianismo da Libertação (CdL), fenômeno anterior a esse desenvolvimento teológico, sendo a etapa dos leigos. É nesse momento que a comunidade geral se une e as atividades se organizam, surgindo movimentos católicos, as CEBs e a interação entre os mais próximos dentro das igrejas. Aqui, os grupos de estudo, discussões sobre as dificuldades, pensamento progressista e a radicalização começam a se aflorar, guiados por estudiosos.

Ao questionar as razões para o desenvolvimento de uma onda progressista na IC e sua influência em um período histórico determinado da América Latina, Löwy traz o argumento de alguns estudiosos, de que a mudança do posicionamento da Igreja se dá pela tomada de consciência dos fiéis ao viés relacionado à esquerda política, resultando em um movimento de conversão nesse sentido, por meio das CEBs (Löwy, 2016, p. 82).

Löwy (2016) cita, ainda, uma terceira alternativa para a gênese do CdL, sendo uma convergência de mudanças internas da IC com uma série de mudanças ocorridas no mundo, principalmente na América Latina, que se desenvolveram da periferia para o centro.

[...] uma mudança social e política devastadora estava a caminho na América Latina: 1) a partir dos anos 1950 em diante, a industrialização do continente, sob a hegemonia do capital multinacional (...) 2) Com a Revolução Cubana em 1959, um novo período histórico abria-se na América Latina, caracterizado pela intensificação das lutas sociais, o aparecimento de movimentos guerrilheiros, uma sucessão de golpes militares e uma crise de legitimidade do sistema político. (Löwy, 2016, p.84)

Assim, Löwy argumenta que a convergência dos fatores, que antecedem até mesmo o CVII, podem ser os responsáveis pela mudança católica latino-americana. Além disso, acredita que a corrente cristã radical nasce quando “Fidel Castro, Che Guevara e seus camaradas entraram marchando em Havana, enquanto, em Roma, João XVIII publicava a primeira convocação para a reunião do Concílio.”21 (Löwy, 2016, p. 85)

Uma outra razão para o crescimento do CdL na América Latina é o sincretismo religioso, que, devido a colonização da América Latina, a população, dentro de suas particularidades, tende a uma grande mistura étnica, diversos povoados e uma colonização via catequese, que precisou se reduzir, muitas vezes, para continuar seus cultos, variedade refletida nas CEBs (Masini; Bernardes; Silva, 2023).

Embora existissem entes do clérigo, a maioria dos participantes desses movimentos eram os leigos, que, por meio das CEBs, “reinterpretaram os Evangelhos à luz de sua prática e, em alguns casos, foram atraídos pelo marxismo” (Löwy, 2016, p.86). Assim, é importante destacar que o CdL tem uma formação majoritariamente leiga, que permite a visualização das lutas e pautas do povo (Löwy, 2016).

Também, é possível trazer um outro grupo necessário para o surgimento do CdL, os padres estrangeiros. Löwy sugere que os padres vindos principalmente da Espanha, França e América do Norte, favoráveis à transição Chilena para o Socialismo em 1971, chegaram à América Latina para missões, convocados por outros padres já sensíveis à essa linha teológica,

O contraste entre as condições de vida em seu país de origem e a pobreza total que descobriram na América Latina levou muitos deles a uma verdadeira conversão moral e religiosa ao movimento de libertação dos pobres. (Löwy, 2016, p.88)

A nova realidade passou a estremecer a Igreja ainda mais no pós CVII, quando, em 1968, na Conferência de Mendelín, por parte de várias denominações religiosas22, houve as primeiras resoluções que afirmavam “a solidariedade da Igreja com a aspiração do povo à “libertação de toda a servidão”, firmando que, em determinados contextos, “a insurreição revolucionária era legítima” (Löwy, 2016, p.87).

Löwy afirma que tais posturas sucederam, principalmente na América Latina, por ser um “continente católico par excelence”, onde grande parcela da população está submetida ao contexto dogmático católico mas, ao mesmo tempo, devido à crescente pobreza e pelo contexto de dependência econômica, também seria local de “elo mais frágil”, uma vez que o contexto social traria uma onda de tentativas revolucionárias e lutas sociais, bem como seria terreno fértil para mais repressão, exploração e conflitos (Löwy, 2016, p.89).

5. A Teologia da Libertação

Foi a Nazaré, onde havia sido criado, e, segundo seu costume, no sábado entrou na sinagoga e se levantou para fazer a leitura. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e desenrolando-o encontrou o lugar onde está escrito:

“O Espírito do Senhor está sobre mim

Porque ele me ungiu.

Ele me enviou para anunciar

a Boa-Nova aos pobres:

para proclamar aos cativos a liberdade

e aos cegos a recuperação da vista,

para proclamar um ano favorável

da parte do Senhor”.

Tendo enrolado o livro, devolveu-o ao assistente e se sentou. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: “hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que acabastes de ouvir.”. Lucas, 4: 16 – 21.

Em 1974, Gustavo Gutiérrez, padre jesuíta peruano, publica o livro “Teologia da Libertação – Perspectivas”, que representa o surgimento dessa linha teológica como estudo, sendo a expressão de dez anos de discussões e compromisso social entre teólogos progressistas latino-americanos (Löwy, 2016).

Para Gutiérrez, a população latino-americana, afogada na ideologia do desenvolvimento e da dependência, deveria marchar pela sua própria emancipação. Nesse sentido, a salvação do povo não seria individualizada, e sim, coletiva, olhando também pela perspectiva da alma. Assim, os pobres, não mais objetos de caridade, seriam os responsáveis por sua própria emancipação (Löwy, 2016, p.92).

Só uma destruição radical da situação atual, uma transformação profunda do sistema de propriedade, a chegada ao poder das classes exploradas, uma revolução social, porão fim a essa dependência. Só essas coisas permitirão uma transição para uma sociedade socialista, ou pelo menos a farão possível. Gutierrez, 1974.

Essa perspectiva representa uma alternativa radical, ao contrário do que muitas esquerdas aspiravam na época, chamando atenção de outros envolvidos, levando a primeira reunião do movimento Cristãos para o Socialismo, em 1972. Esse movimento, contando também com protestantes, representou a forma mais radical da TdL, sendo, mais tarde, proibido pelo episcopado de Roma. Nessa reunião, apresentaram um documento que unia fé e religião nos seguintes termos (Löwy, 2016, p.93):

A presença real da fé no próprio coração da práxis revolucionária dá lugar a uma interação fecunda. A fé cristã torna-se um fenômeno essencial e dinâmico para a revolução. A fé intensifica a exigência de que a luta de classes avance com determinação em busca da libertação de todos os homens – especialmente aqueles que sofrem as formas mais intensas de opressão. [...]
O verdadeiro contexto para a fé viva nos dias de hoje, é a história da opressão e da luta pela libertação dessa opressão. Para nos situarmos nesse contexto, no entanto, precisamos realmente participar do processo de libertação, pertencendo aos partidos e organizações que sejam instrumentos autênticos da luta da classe trabalhadora.

O viés revolucionário levou à publicação por parte da IC, em 1984, de “uma Instrução sobre aspectos da “Teologia da libertação”, assinada pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (dirigida pelo Cardeal Ratzinger)” justificando a atuação por utilizarem conceitos marxistas. Porém, com a forte atuação de diversos setores da Igreja, principalmente brasileiros, o Vaticano retrocede e publica, em 1985, uma perspectiva mais branda, chamada “Liberdade e libertação cristã”, espiritualizando e relativizando o ideal revolucionário da TdL. Na mesma época, o Papa enviou uma carta à Igreja Brasileira, aprovando a legitimidade da TdL (Löwy, 2016, p.94).

Apesar disso, a Igreja de Roma tinha como objetivo marginalizar e controlar as correntes radicais que cresciam no cenário latino-americano, fazendo isso “através da nomeação sistemática de bispos conservadores”. Assim, um dos principais alvos do Vaticano viria a ser a CNBB (Löwy, 2016, p.94).

5.1 Sobre a Teologia da Libertação: Doutrina e Perspectivas

A preferência pelos pobres é talvez o princípio fundamental da TdL, já que, por meio deles, a organização da análise teológica se fundamenta. Mais tarde, com o aprimoramento das discussões, o pobre dará lugar, também, a outros oprimidos socialmente, porque o cerne do pensamento visa a libertação de toda opressão (Löwy, 2016, p.103). Para Gutierrez, Hugo Assman e Franz Hinkelamert, um dos diferenciais da TdL é o propósito de não apenas criticar o capitalismo, mas de incitar sua abolição, caracterizando o capitalismo como falsa religião (Assman; Gutierrez; Hinkelamert apud Löwy, 2016).

Consoante com a ideia da “Igreja dos Pobres”, a TdL formula sua análise com a perspectiva marxista e, criticando o sistema capitalista, suas contradições, procurando encontrar nele as raízes da pobreza e da opressão. Assim, o capitalismo é um “pecado estrutural”, responsável pelo aumento das desigualdades sociais (Löwy, 2016, p.77). Ademais, a TdL critica o cultivo ao dinheiro, a acumulação e a divinização do deus-mercado, sendo equivalente à divina providência (Löwy, 2016, p.108).

Além disso, enfatizando os princípios da Revolução Francesa, a TdL abraça a modernidade, no viés das lutas pelos direitos humanos, democracia e pela busca da emancipação23. Por meio dessas análises, propõe uma nova leitura bíblica, com a interpretação sob perspectiva da libertação dos oprimidos, sendo esse o êxodo a ser realizado nesse momento. Foca, ainda, na atuação das CEBs e acredita que o verdadeiro trabalho é feito a partir delas, promovendo a vivência comunitária.

No sentido religioso do pós-vida, a TdL acredita que a salvação acontece pelo processo comunitário e histórico, onde a verdadeira salvação é a salvação da opressão na vida terrena. Uma vez, assim, crê que a vivência do inferno é na própria Terra e que o paraíso está na liberdade dos povos oprimidos, inclusive dos opressores24.

5.2 Diálogos entre a Teologia da Libertação e o Marxismo

Denunciado pelo Papa Pio XII, o comunismo foi excomungado, caracterizado como um inimigo traiçoeiro da fé cristã. Apesar dessa condenação, a convergência de alguns princípios entre a Teologia da Libertação (TdL) e o Marxismo desempenhou papel fundamental na transformação social da América Latina nas décadas antecedentes à queda do Muro de Berlim. A TdL, ao engajar em questões de justiça social e luta contra a pobreza, capturou a atenção de movimentos revolucionários e governos, o que preocupou tanto a Igreja quanto os Estados Unidos.

Em meio às mudanças sociais e o avanço de movimentos revolucionários, a influência da TdL começou a preocupar o governo estadunidense que via, na doutrina, uma ameaça ao capitalismo. A partir de 1980, consultores republicanos do Presidente Ronald Regan (1989-1981), reunidos em Santa Fé, Califórnia, elaboraram um documento expressando tais receios. Nele, afirmaram: "a política externa norte-americana deve começar a enfrentar a Teologia da Libertação (e não simplesmente reagir a ela após o fato)...". Para os consultores, a Igreja estava sendo usada como arma política contra a propriedade privada e o sistema capitalista, infiltrada pelo pensamento comunista, não mais cristão (Comitê da Santa Fé, 1980).

Em 1988, outro relatório trouxe uma análise mais profunda, alegando que a TdL fazia uso de táticas gramscianas para garantir hegemonia cultural, utilizando a religião para mobilizar as massas, penetrar na mídia e nas escolas, promovendo, assim, uma doutrina "antipapal disfarçada de crença religiosa". Durante a Conferência Interamericana de Forças Armadas, a TdL foi interpretada como parte da "estratégia do movimento comunista internacional na América Latina" (Löwy, 2016, p.123).

No entanto, conforme Michael Löwy (2016), essas análises não capturavam a suposta essência da TdL. O Cardeal Ratzinger, criticamente argumentou que o sucesso da TdL na América Latina estava ligado às realidades de pobreza e desigualdade, que não obtinham resposta nos moldes tradicionais de fé europeus e norte-americanos. Afirmou, ainda, que a TdL, buscando respostas para essa realidade, foi influenciada por "modelos de esperança" vindos das filosofias marxistas. Assim, o perigo da TdL estava no "grão de verdade" contido em suas análises sociais e em como combinava o cristianismo com elementos marxistas.

A TdL encontrou solo fértil na América Latina por compartilhar com o marxismo valores essenciais: foco na comunidade, luta pela libertação dos oprimidos e crítica às estruturas de poder que perpetuam a injustiça. Löwy (2016), destaca que a força dessa teologia reside na maneira como uniu utopias socialistas e religiosas, responsabilizando o indivíduo e a sociedade na busca por justiça.

Por fim, um dos maiores resultados dessa convergência foi a transformação da “Igreja dos Pobres” da tradição cristã em uma igreja baseada em classes, consciente da necessidade de uma revolução. A TdL, ao colocar a libertação social no centro da liturgia, questionou a própria estrutura hierárquica e sacramental da Igreja, gerando tensões profundas no clero e na comunidade como um todo (Löwy, 2016, p.124).

6. O Início do Declínio da Teologia da Libertação

Em 1958, o vice-presidente estadunidense, Richard Nixon, visitou a América Latina e identificou aspectos culturais e sociais da região que o preocuparam25. Depois, ao assumir a presidência, Nixon solicitou ao amigo, Nelson Rockefeller, que realizasse uma nova visita para avaliar a situação da região (Santos, 2021).

Seguido dessa visita, foi elaborado o documento intitulado “A Qualidade de Vida nas Américas”, conhecido como “Relatório Rockefeller26” (1969). Esse relatório trazia análises sob uma perspectiva empresarial e política das relações entre os EUA e países latino-americanos, incluindo observações sobre cultura, economia, sociedade, população, etc. Rockefeller também destacou diferenças na atuação da IC na América Latina (Santos, 2021).

A partir dessa visão, o Comitê da Santa Fé, citado anteriormente, formado por intelectuais e renomados da Casa Branca, começou a lançar diferentes relatórios, a partir de 1980, concernentes à atuação da Igreja na América Latina. Em um deles, houve a nota: “As comunicações modernas da Igreja e a educação crescente têm causado uma agitação entre as pessoas que teve um impacto tremendo na Igreja, tornando-a uma força dedicada à mudança – mudança revolucionária se necessário.” (Nelson Rockfeller, apud Santos, 2021).

Ao analisar o relatório, Santos (2021) argumenta que sua estrutura se assemelhava a um “manual de instruções para governos neoconservadores estadunidenses, “alertando”, os perigos da infiltração do comunismo no ocidente” e aplicando as condições necessárias para o frear do avanço das Igrejas.

A preocupação era das alas conservadoras, inclusive a do Papa, visto como aliado, com objetivo de discutir o atraso da “Igreja Popular”. Com os Estados Unidos apoiando as ditaduras estabelecidas na AL, uma nova intervenção norte-americana começa. Assim, a propagação de novas igrejas evangélicas pró-estadunidenses se tornou intenção do governo estadunidense, para travar o avanço da Igreja Popular (Santos, 2021).

Cientes do avanço de movimentos contrários à Igreja dos Pobres, em 1983, a CNBB emite uma nota apontando a proliferação de igrejas apoiadas pelos Estados Unidos na América Latina, julgando-as como fortemente anti-católicas, especialmente pela oposição à opção preferencial da IC pelos pobres. Segundo a CNBB, esses grupos, sustentados por interesses estrangeiros, acusavam a Igreja de promover uma agenda comunista, equiparada ao "anticristo". Documentos, como o Relatório Rockefeller (1969) e o Documento de Santa Fé (1980), destacavam o uso dessas seitas para reforçar os interesses dos EUA na região (CNBB apud Santos, 2021).

6.1. O Evangelismo Pró-estadunidense

Então, a partir de 1980, uma nova onda religiosa cresce no Brasil, as chamadas Igrejas Neopentecostais. O sucesso dessas igrejas evangélicas acontece por uma combinação de fatores, como o enfraquecimento das CEBs, o aumento do investimento estadunidense nas novas frentes evangélicas e o abandono da Igreja Católica no interior de algumas comunidades (Pleyers, 2020).

O enfraquecimento das CEBs é resultado de uma intensa tentativa de enfraquecimento da TdL e a expansão dessas novas frentes religiosas, por meio das comunidades, entre os mais vulneráveis. A partir disso, e com a queda do Muro de Berlim, a esquerda política latino-americana entra em uma nova crise, desacreditando nos ideais marxistas (Löwy, 2016). Além disso, as comunidades apoiadas pela Igreja Católica vão se desvinculando, deixando vácuos sociais que virão a ser preenchidos pelas igrejas evangélicas (Lacerda, 2016).

Com apoio dos Estados Unidos, o neoliberalismo começa a crescer no pós-guerra. Dentre as medidas estabelecidas, há a exportação religiosa, via pastores e missionários, e das igrejas neopentecostais. Nesse momento, então, é que a ascensão neoliberal encontra o avanço das novas vertentes evangélicas27, as Teologias da Prosperidade e do Domínio, por meio dessas igrejas (Pleyers, 2020).

Os neopentecostais tomaram a tarefa da educação nas comunidades e impulsionaram o crescimento de “pequenos empreendedores e militantes conservadores”, objetivando defender a moralidade e clamarem para si o exemplo da santidade (Pleyers, 2020). Os discursos propagados por esses evangélicos permeiam diversas camadas da vida humana ligadas ao dinheiro, promessas divinas, profetização, conversão de fiéis, milagres, aspiração da melhoria de vida e, ainda, impulsionam a necessidade da participação política desse setor (Casarões, 2020).

A Teologia da Prosperidade28 perpetua que quanto mais próximo se está Deus, mais se receberá. Além disso, elenca que, para receber, é preciso dar, portanto quanto mais dinheiro for entregue para a igreja, maior será a recompensa divina. A exaltação do dinheiro, trabalho, mercado, a hipervalorização das coisas e bens são, agora, realidades nessa interpretação. Aqui, o acúmulo e a prosperidade, não é mais visto como pecado (Nunes, 2009).

Já a Teologia do Domínio29 enfatiza que o embate espiritual entre Deus e o diabo está, também, no plano terrestre, assim cabe às pessoas lutarem a todo momento. É aqui que a política evangélica e seu projeto de poder ganham mais forma. Os fiéis precisam estar preparados para a guerra contra os demônios que estão para enfrentar na família, na cultura, na política e na religião, “a visão profética (...) ensina que o Reino de Deus será erguido quando os cristãos ocuparem espaços em todas essas dimensões da sociedade.”. Essa visão fundamenta que todo aquele que representa o diferente ou que discorda desse pensamento, faz parte do combate espiritual e deve ser derrotado. Mais ainda, dominado (Casarões, 2020).

Os maiores expoentes dessas novas igrejas no Brasil são a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)30, liderada pelo Bispo Edir Macedo e a Igreja Internacional da Graça de Deus (IGD)31, liderada pelo Pastor R.R. Soares. Ambas se utilizam das duas vertentes teológicas. São um exemplo de sucesso da utilização da “televização da fé”, que, aqui, assume papel de divulgar e expandir as ideias, por meio de rádio, TVs, músicas e outros meios de comunicação (Arenari, 2015).

A junção dessas ideias teológicas, associadas ao neoliberalismo e às questões sociais, levaram ao que se tornou a frente política evangélica brasileira, crescente a cada dia. A televisão, as redes sociais e, principalmente, a política brasileira, se encontram embebidas nesse ideal neopentecostal, que cada vez mais tem atuado em favor próprio. É assim que o número de parlamentares da bancada evangélica aumenta e o discurso contrário, qualquer que seja, se torna marginalizado e impróprio para a população, cada vez mais, de fato, dominada (Dip, 2018).

Análise

A Teologia da Libertação foi, para a América Latina, sem dúvidas uma das principais aliadas do movimento progressista e revolucionário. A TdL atuou no Brasil como um agente de suma importância para o desenvolvimento da democratização. Sua bagagem de conteúdo, criticidade e impulso pela revolução marcaram todos aqueles que vivenciaram esse momento histórico mesmo que não se perceba, ou não observe.

A junção da fé e do pensamento crítico, que incomodou desde pequenos padres conservadores ao alto escalão do Vaticano, militares e o governo estadunidense, prova que, mesmo uma religião historicamente conectada a tantos massacres e uma catequização tão violenta, pode se aprimorar e repensar a si mesma, se transformando em algo, inclusive, antagônico àquilo que antes fosse. A TdL conseguiu fazer com que uma religião fixada a dogmas anteriores à idade moderna, abrisse os olhos para a injustiça instalada, conversasse com as classes mais baixas e tivesse uma nova visão para a comunidade e o campo político brasileiro.

Dessa forma, é desonesto até mesmo pensar em um fim da TdL, sendo esse um movimento tão crucial para a recente história latino-americana e brasileira. Mesmo aqueles que não se comprometem, possuem na vivência social um resquício dessa teologia e das consequências das lutas traçadas por ela.

No contexto pós-guerra fria, com a queda do muro, cabe-se pensar no discurso de “vencedor americano”, uma vez que, novamente, a intervenção americana ocorre com intuito de frear o suposto perdedor - o pensamento marxista revolucionário, aqui, sendo utilizado na teologia - e, ainda, as consequências da falta de soberania do país, impulsionado pelo interesse de outros, por diversas vezes, nesse recorte histórico.

Nesse contexto, o crescimento do pensamento conservador ameaça todas as batalhas vencidas por tais e estimula, mais uma vez, o capitalismo responsável por tamanha repressão e coerção, vivenciados não só no Brasil, mas no mundo todo. Assim como naquele momento, é fundamental que a oposição se organize e enfrente o que se apresenta como a nova frente reacionária.

Assim, a análise principal do artigo consiste na ideia de que a TdL ainda existe e é viva, tendo fecundado inúmeras mudanças no cenário político e religioso brasileiro. O principal ameaçado pelo avanço da TdL foi o próprio capitalismo, encarnado na figura dos EUA que, com as igrejas evangélicas, manteve seu plano de poder na América Latina por meio dessas novas igrejas, as quais assumiram as lacunas esquecidas pela Igreja de Roma e, ainda, pelo Estado, gerando o crescimento massivo dos fiéis e do seu projeto político.

Cabe destacar, também, que na Igreja Católica, expandiu na década de 1990, um novo carisma32, a Renovação Carismática Católica (RCC)33, que, segundo alguns autores, foi como uma resposta à perda de fiéis para o pentecostalismo. A RCC, bebendo das águas dos neopentecostais, tanto nos ideais mais conservadores, quanto na maneira de professar a fé, começou também a financiá-la, movimentando milhões de fiéis católicos que simpatizam com esse carisma. Conta, ainda, com grandes nomes da religião Católica que fizeram muito sucesso e dinheiro no Brasil, como o Padre Marcelo Rossi34, e nos meios de comunicação, como a Canção Nova35 e a Brasil Paralelo36.

Apesar de toda frente conservadora, a partir de 2013, com a chegada do Papa Francisco, a Igreja Católica pôde contar com um respiro em meio ao fundamentalismo. Por meio do Papa latino, há sempre a exaltação da caridade e da humildade, como também a crítica severa aos regimes de exploração e às situações de guerra, como Israel e Palestina, apontando para uma Igreja mais inclusiva com aqueles rejeitados. Muitos o acusam de comunista ou pertencente à Teologia da Libertação. Independente das críticas, em outubro de 2024 prestou solidariedades a Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da TdL, afirmando ser “um homem da Igreja (...) que soube levar adiante, muito fruto apostólico e muita rica teologia” (Papa Francisco, 2024).

Por fim, a TdL hoje é uma corrente que vive às margens da Igreja, julgada e anulada. Resiste fugazmente, entretanto, tanto na vivência de pensadores, clérigos e fiéis adeptos à ela, quanto na memória de tudo que por meio dela foi feito. Dessa forma, apesar das inúmeras tentativas de silenciamento e apagamento da história, é possível afirmar que a realidade católica e política de hoje, em toda a AL, especialmente no Brasil, deve muito à TdL por sua atuação e conquistas.

Considerações Finais

Dentro do recorte deste estudo, o trabalho se baseou no desenvolvimento da TdL para representar uma parte histórica da América Latina, principalmente o Brasil, no combate à ditadura. Nessa história, relatou seu ápice, atuação na educação, nas bases e na vida religiosa das comunidades brasileiras, e procurou explicar as razões para sua baixa, refletindo no crescimento de uma nova religião, apoiada por potências de poder.

A TdL significou, para o ambiente católico, revolução e atenção, ressignificando a religião na América Latina, despertando atenção dos chamados poderosos dentro dessa narrativa. Com o enfraquecimento da esquerda, e consequentemente da TdL, abriu-se espaço para o neopentecostalismo brasileiro, que proliferou novas igrejas pelos bairros brasileiros nos últimos anos.

A partir dessa análise, é possível que os debates acerca da religião, poder e política se estendam para além de uma manifestação religiosa específica, evidenciando a mistura cultural latino-americana, e da necessidade da abordagem ou bloqueio das religiões em meio a política e suas possíveis consequências. Igualmente, buscou explicar a maneira que uma frente religiosa ascende ou decresce, exemplificadas em duas frentes em períodos conectados, e, ainda, demonstrou que as religiões se adaptam ao discurso daquele que o manifesta.

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1 Graduanda do curso de Relações Internacionais pelo Centro Universitário IESB.

2 Orientador: Mestre em Relações Internacionais pela University of Kent at Canterbury (Reino Unido), professor e coordenador do curso de Relações Internacionais no Centro Universitário IESB.

3 Grupos ou organizações, normalmente pequenos, organizados em paróquias por padres ou bispos, com o objetivo de fortalecer a comunidade, o diálogo, a vida religiosa e discutir as realidades vividas por esses grupos.

4 Enquanto pessoa humana, o próprio Papa admite ser frágil e pecador. Mas quando o Papa fala definitivamente como Pastor Supremo da Igreja, ele não expressa uma opinião privada, mas age como Sucessor de Pedro, com a assistência divina prometida por Cristo, para evitar erros em matéria de fé e costumes. A infalibilidade papal é considerada uma graça divina e não um mérito pessoal. 

5 O ministério episcopal não é uma escolha individual, mas um chamado da Igreja. Entre os presbíteros, alguns são chamados para o episcopado e são designados para liderar uma diocese.

6 A Cúria Romana é a instituição usada pelo Papa para exercer seu serviço pastoral universal. Ela serve ao Papa e aos Bispos, que são sucessores dos Apóstolos. 

7 A Igreja compreende uma sociedade civil interna que abrange pessoas, ideias e propostas, revelando uma sociedade civil nacional e internacional dentro da própria estrutura eclesiástica. 

8 Concílios são reuniões de líderes eclesiásticos que discutem e definem questões de fé e dogmas. O Concílio de Trento (1545-1563), por exemplo, reafirmou dogmas contestados pelos protestantes e foi crucial para a modernização da Igreja. 

9 Movimentos como o Segue-me, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Juventude Operária Católica (JOC), não ligados diretamente a hierarquia da Igreja e formados por leigos, se expandiram, alguns se desvinculando da Igreja, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). 

10 “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” é uma passagem bíblica de Mateus 16:18, que fundamenta a autoridade papal na Igreja Católica. 

11 O conceito de "soft power" foi cunhado para descrever o poder de influência de uma nação sem o uso de força, através de valores culturais, ideais e políticas atrativas.

12 O Concílio Vaticano II trouxe quatro novas Constituições Litúrgicas, tratando da palavra de Deus, da Igreja, e da relação com a sociedade, além de decretos sobre ecumenismo e declarações sobre liberdade religiosa. 

13 Após o Concílio Vaticano II, a participação dos fiéis na missa se intensificou, pois o ritual deixou de ser conduzido apenas em latim e passou a ser celebrado no idioma local, com o padre voltado para a congregação. Antes do Concílio Vaticano II, as missas eram celebradas em latim, com o padre de costas para os fiéis. Com a reforma, os rituais passaram a ser na língua local, com o padre voltado para o povo, criando um ambiente mais participativo.

14 Dom Hélder Câmara foi um bispo brasileiro conhecido por sua defesa dos pobres e oposição à ditadura militar no Brasil, fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e foi um defensor incansável dos direitos humanos e da justiça social. Inicialmente, Dom Hélder Câmara participou do movimento integralista brasileiro, mas abandonou o grupo devido à violência e perseguição política. Continuou sua missão pastoral, sendo indicado ao Prêmio Nobel da Paz e organizando comunidades eclesiais de base. 

15 A expressão "Igreja dos Pobres" foi apresentada pelo Papa João XXIII, em 1962, como uma missão da Igreja focada na dignidade humana e vocação cristã, com especial atenção aos pobres. 

16 Leonardo Boff, então Frei, foi condenado pelo Vaticano ao "silêncio obsequioso," proibido de falar ou ensinar, após críticas à estrutura hierárquica da Igreja em sua obra "Igreja, Carisma e Poder."

17 A Juventude Universitária Católica é um movimento voltado para jovens universitários que busca promover valores católicos e engajamento social. 

18 A Juventude Operária Católica é um movimento que incentiva o engajamento de jovens trabalhadores no fortalecimento da fé e da justiça social.

19 O capitalismo, em sua forma histórica, é criticado, por alienar o trabalho humano, subordinar a propriedade privada às exigências do bem comum e permitir abusos econômicos, segundo diretrizes cristãs de um ideal histórico. 

20 Leonardo Boff, teólogo e expoente da Teologia da Libertação, criticou a hierarquia da Igreja e sua relação com o poder, comparando-a ao modelo imperial e feudal em "Igreja, Carisma e Poder."

21 É explicito que para o autor Michael Löwy, a origem do Cristianismo da Libertação está diretamente relacionada a dois eventos históricos: a eleição do Papa João XXIII e a Revolução Cubana de 1959, que abriram um novo período de lutas sociais e mudanças na América Latina. O primeiro, traduzido na existência do Concílio Vaticano II e o segundo denota que a partir da Revolução Cubana outras diversas revoluções surgiriam na América Latina, até mesmo guiadas por ela.

22 Ordens religiosas como Jesuítas, Dominicanos, Franciscanos, Maryknolls, Capuchinhos e várias ordens femininas têm certa autonomia na Igreja e estão frequentemente ligadas às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

23 A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt propõe que, através da agência humana, é possível guiar mudanças para a emancipação, congruente com a Teologia da Libertação, que busca dar voz aos oprimidos. 

24 A perspectiva de Gutiérrez para com os opressores inclui não odiá-los, mas libertá-los de sua própria alienação, ambição e egoísmo, escolhendo o lado dos oprimidos para lutar contra a opressão.

25 As reformas e revoluções na América Latina geravam preocupação para os EUA, especialmente devido ao impacto inúmeras frentes revolucionárias, contrárias as ditaduras locais, que poderiam afetar sua influência na região. 

26 Em um cenário de instabilidade, muitas nações americanas se tornaram suscetíveis à subversão comunista, gerando um ambiente de inquietação e controle sobre sistemas sociais.

27 Nesse momento, a com a junção do neoliberalismo com a espiritualidade o trabalho é transformado em um ato de devoção religiosa. Isso implica a internalização de uma ética de responsabilidade individual que se alinha com as normas do neoliberalismo, focando na transparência, produtividade e lucro.

28 Durante o século XIX, os Estados Unidos viram o surgimento de uma abordagem teológica que comercializava a fé cristã. Essa perspectiva, conhecida como Teologia da Prosperidade, enfatizava a acumulação de bens materiais como um objetivo desejável. 

29 A teologia do domínio, também conhecida como dominionismo, surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, dentro do contexto do reconstrucionismo cristão calvinista. Já no século 16, Calvino estabeleceu em Genebra um governo religioso extremamente rigoroso e violento, que incluía até a pena de morte, servindo como um modelo que se pretendia universal. O dominionismo agrega várias correntes do cristianismo fundamentalista, incluindo católicos integralistas, que defendem uma política baseada exclusivamente em princípios religiosos, buscando sua aplicação universal e excluindo outras crenças como inválidas. Essa visão é fundamental para a direita cristã em suas práticas políticas e morais. 

30 A ideia central é que Deus possui um grande plano para a nação, o qual deve ser implementado pelos fiéis. A narrativa bíblica de Gênesis é utilizada como exemplo de planejamento e execução, revelando a intenção de Deus de formar uma grande nação. 

31 Inicialmente, a Igreja da Graça distribuía folhetos e realizava vigílias, atraindo um grande público para seu culto inaugural. No entanto, enfrentou resistência do proprietário do local, que foi pressionado pela esposa a desalojá-los, mas, após alguns meses, a igreja conquistou seu primeiro templo.

32 O carisma, conforme descrito no catecismo da Igreja, é uma graça do Espírito Santo, presente em todos os fiéis, que possui uma utilidade eclesial. Esses dons são destinados a edificar a Igreja e atender às necessidades do mundo. O carisma pode ser entendido como a “linha de funcionamento da liturgia em determinada paróquia, envolvendo ou não músicas, instrumentos musicais e outros fatores. Nesse caso, também diz respeito a linha teológica que a paróquia decide se basear. 

33 A Renovação Carismática Católica surgiu como resposta ao crescimento do pentecostalismo, buscando reforçar a identidade católica através de práticas semelhantes, como a glossolalia. Com o tempo, promoveu uma maior proximidade entre católicos e pentecostais, enfatizando valores comuns e facilitando diálogos ecumênicos. 

34 Padre Marcelo Rossi destacou-se na Igreja Católica brasileira por sua popularidade e sucesso musical, tornando-se uma figura icônica da Renovação Carismática. Sua carreira inclui vendas expressivas de livros e discos, consolidando sua influência religiosa e financeira. 

35 A TV Canção Nova está intimamente relacionada à Renovação Carismática Católica, com o objetivo de evangelizar por meio de experiências religiosas midiáticas. A emissora se concentra em um público jovem, adaptando práticas religiosas à linguagem e ao alcance dos meios de comunicação. 

36 A Brasil Paralelo se autodenomina uma empresa educacional, mas é criticada por divulgar relativismos históricos, sendo ligada a figuras da extrema-direita, como Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho. É acusada de distorcer debates acadêmicos e apelar a instintos primitivos do público.