A INFLUÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL DAS CRIANÇAS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15543347


Yasmin Greca Maçulo1
Catarina Fernandes Fischer2
Matheus Greca Lázaro dos Santos3
Atila Barros4


RESUMO
A presente investigação, de natureza qualitativa, descritiva e bibliográfica, examina a função dos contos de fadas no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, evidenciando sua relevância no campo educacional e na formação integral do sujeito. Fundamentada nas contribuições de Bettelheim, Piaget e Vygotsky, a análise ressalta que essas narrativas, além de encantadoras, operam como dispositivos simbólicos que favorecem a linguagem, a imaginação, a criatividade e a constituição da identidade infantil. Por meio de sua estrutura narrativa e linguagem metafórica, os contos possibilitam à criança a elaboração de medos, desejos e conflitos de forma segura, contribuindo para o amadurecimento afetivo. No âmbito cognitivo, promovem o desenvolvimento de competências como atenção, memória, abstração e interpretação textual. No contexto escolar, sua aplicação estimula práticas pedagógicas interdisciplinares e lúdicas, como dramatizações e, que ampliam a aprendizagem e a socialização. Defende-se, por fim, que os contos de fadas são recursos educativos potentes, capazes de humanizar a prática pedagógica, fomentar a sensibilidade ética e consolidar a transmissão de saberes culturais, tornando-se, assim, vetores fundamentais para o desenvolvimento integral da criança.
Palavras-chave: contos de fadas, desenvolvimento cognitivo, amadurecimento emocional, práticas educativas.

ABSTRACT
This qualitative, descriptive, and bibliographic investigation examines the role of fairy tales in the cognitive and emotional development of children, highlighting their relevance within the educational sphere and in the comprehensive formation of the subject. Grounded in the theoretical contributions of Bettelheim, Piaget, and Vygotsky, the analysis emphasizes that such narratives, beyond their enchanting nature, function as symbolic devices that foster language, imagination, creativity, and the construction of childhood identity. Through their narrative structure and metaphorical language, fairy tales allow children to process fears, desires, and internal conflicts in a safe and meaningful manner, thereby contributing to emotional maturation. On the cognitive level, they promote the development of skills such as attention, memory, abstract thinking, and textual comprehension. Within the school context, their application stimulates interdisciplinary and playful pedagogical practices—such as dramatizations and retellings—that enhance both learning and socialization. Ultimately, this study argues that fairy tales are powerful educational tools, capable of humanizing pedagogical practices, fostering ethical sensitivity, and consolidating the transmission of cultural knowledge, thereby serving as fundamental vectors for the integral development of children.
Keywords: fairy tales, cognitive development, emotional maturation, educational practices.

INTRODUÇÃO

A presente investigação, de cunho qualitativo, descritivo e bibliográfico, propõe-se a examinar, com rigor teórico e densidade analítica, o papel estruturante das atividades lúdicas no processo de desenvolvimento integral da criança no contexto da educação infantil. À luz das contribuições de Jean Piaget e Lev Vygotsky, bem como das diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), compreende-se que o brincar transcende a mera dimensão do entretenimento, assumindo-se como prática pedagógica essencial que fomenta o desenvolvimento cognitivo, motor, emocional e social das crianças desde seus primeiros anos de vida. Segundo Piaget (1976), a atividade lúdica constitui um espaço privilegiado para a assimilação e acomodação de estruturas cognitivas, permitindo que a criança organize a realidade segundo seus próprios esquemas mentais. Ao brincar, a criança reconstrói simbolicamente o mundo que a cerca, exercita a imaginação, elabora hipóteses e experimenta soluções para problemas concretos. Essa perspectiva é elucidada em sua obra "A equilibração das estruturas cognitivas" (1976), na qual o autor afirma: "o jogo simbólico favorece a interiorização de condutas e a reversibilidade do pensamento".

Por sua vez, Vygotsky (2007) enfatiza que o brincar permite à criança ultrapassar seu comportamento cotidiano e operar em um "nível de desenvolvimento potencial", expressão que remete à sua célebre formulação da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Em "A formação social da mente" (2007), o autor afirma: "na brincadeira, a criança é sempre, por assim dizer, uma cabeça acima de si mesma". Essa transposição simbólica possibilita a internalização de papéis sociais, normas culturais e significados compartilhados, constituindo-se como momento de intensa mediação simbólica.

Sob essa ótica, o educador deve assumir o papel de mediador do processo de aprendizagem, planejando situações pedagógicas lúdicas que dialoguem com o estágio de desenvolvimento de cada criança. A BNCC, nesse sentido, consolida o brincar como um dos direitos de aprendizagem da criança, orientando que a educação infantil deve assegurar experiências que envolvam "brincar, conviver, explorar, participar, expressar e conhecer-se" (BRASIL, 2017). O professor, ao considerar as dimensões afetivas, cognitivas e sociais da criança, transforma o espaço escolar em um ambiente acolhedor, dialógico e criativo, onde a ludicidade é incorporada de forma intencional e significativa. As práticas lúdicas, quando integradas ao currículo com intencionalidade pedagógica, promovem a aprendizagem de forma prazerosa, fortalecem vínculos afetivos, estimulam a curiosidade epistemológica e incentivam a autonomia. Kishimoto (1994), ao abordar as teorias do brincar, afirma que este não é apenas um fim em si mesmo, mas um meio de expressão e de construção de sentido para a criança: "a brincadeira, ao mesmo tempo em que diverte, comunica, ensina e forma".

A literatura infantil, os contos de fadas e as atividades simbólicas, como apontam Bettelheim (1996) e Zilberman (2001), ampliam o repertório imaginativo das crianças, favorecendo a construção de valores éticos, culturais e estéticos. Silva e Camargo (2021), por exemplo, argumentam que a inserção de narrativas ficcionais no cotidiano da educação infantil estimula não apenas a linguagem e a criatividade, mas também o senso crítico e a empatia. Importa destacar que as práticas educativas lúdicas devem respeitar a diversidade sociocultural e os diferentes modos de ser e aprender das crianças. Como salientam Rosemberg e Silva (2008), políticas públicas eficazes para a primeira infância devem garantir condições materiais e simbólicas para o exercício do direito de brincar, em um ambiente que valorize a pluralidade e a escuta sensível.

Em síntese, o investimento em práticas lúdicas na educação infantil constitui uma estratégia pedagógica de alta relevância, que contribui não apenas para a eficácia do processo de ensino-aprendizagem, mas também para a construção de uma escola democrática, inclusiva e humanizadora. Incorporar o brincar como eixo estruturante do currículo é reconhecer que a infância é um tempo de formação integral, no qual o conhecimento é tecido em meio à emoção, ao jogo e à fantasia. Repensar o lugar do brincar na educação infantil exige mais do que reconhecer sua importância: requer uma ruptura com modelos pedagógicos conteudistas e tecnicistas que ainda persistem no cotidiano escolar. O brincar, quando compreendido em sua complexidade epistemológica e antropológica, torna-se uma linguagem privilegiada da infância e uma ferramenta de resistência à desumanização da escola. Como afirma Paulo Freire (1996), "ensinar exige alegria e esperança", valores que o brincar materializa cotidianamente. Promover o lúdico é, assim, um ato político e ético que defende o direito da criança a ser plenamente sujeito de sua história, desde os primeiros anos de vida.

CRIANÇA COMO SUJEITO PLENO DE SUA HISTÓRIA

A concepção da criança como sujeito pleno de sua história, desde os primeiros anos de vida, representa uma ruptura epistemológica com visões tradicionais que a concebiam como ser incompleto, passivo ou carente de racionalidade. Tal perspectiva, que encontra respaldo nas proposições de Paulo Freire e Lev Vygotsky, exige o reconhecimento da infância como etapa fundante do processo formativo, dotada de sentido próprio e de potência transformadora. Trata-se de compreender que a criança não apenas participa da história, mas a produz, a interpreta e a ressignifica, ainda que em dimensões simbólicas e afetivas. Paulo Freire (1996), ao defender a autonomia como fundamento da prática educativa, assevera que "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção" (p. 47). Nesse sentido, reconhecer a criança como sujeito de sua história implica respeitar seus saberes de origem, suas experiências culturais e seu direito à expressão plena. Na "Pedagogia do oprimido" (2003), Freire reforça que “a opressão desumaniza”, e ao não reconhecermos a criança como agente de transformação, incorremos em um modelo de educação que perpetua a condição de opressão simbólica e epistemológica. Sob o prisma vygotskyano, o desenvolvimento infantil é compreendido como um processo cultural e socialmente mediado. A criança, ao interagir com o mundo e com os outros, constrói significados e transforma suas funções psicológicas superiores (Vygotsky, 2007). Ao afirmar que "o homem se torna humano por meio do outro" (Vygotsky, 1998), o autor desloca o centro da aprendizagem para o processo de mediação simbólica e afetiva, situando a criança como coautora de sua trajetória formativa.

O direito da criança a ser sujeito de sua história implica, portanto, garantir espaços educativos que valorizem sua voz, seus desejos, seus modos de ser e estar no mundo. A infância não pode ser concebida como fase de "preparação" para a vida adulta, mas como experiência plena em si mesma, carregada de sentido e de historicidade. Tal compreensão também dialoga com as proposições de Jean Piaget (1976), para quem o conhecimento se constrói pela ação do sujeito sobre o objeto, mediada por equilíbrio entre assimilação e acomodação. No caso da criança, esse processo é profundamente vinculado à brincadeira, à experimentação e à interação com o meio social. Ao promover uma educação bancária, na qual o educando é mero receptor passivo, o sistema nega à criança a possibilidade de ser autora de seu percurso. Freire (2003) alerta que "o conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em relação ao mundo" (p. 43), e é precisamente essa curiosidade epistemológica que deve ser preservada e incentivada desde os primeiros anos.

A articulação entre o pensamento freiriano e vygotskyano revela que a escuta ativa, a mediação pedagógica sensível e o reconhecimento das potencialidades infantis são condições imprescindíveis para que a criança exerça, efetivamente, seu direito de ser sujeito de sua história. Esse direito se materializa em práticas educativas que valorizam o lúdico, o imaginário, a criatividade e a interação social como instrumentos de construção de sentido. Em resumo, pensar a criança como sujeito pleno é reconhecer-lhe a competência cognitiva, a inteligência sensível e a capacidade de transformação do mundo a partir de sua própria perspectiva. Não se trata apenas de incluir a infância na história, mas de compreendê-la como agente ativo na produção de cultura, de saber e de afetividade. Como conclui Freire (1996), "é preciso respeitar a autonomia e a dignidade de cada um" (p. 68), pois educar é, sobretudo, um ato de reconhecimento da humanidade do outro.

O reconhecimento da criança como sujeito de sua história implica a construção de uma pedagogia contra-hegemônica, que desafie os modelos normativos, adultocêntricos e excludentes que ainda prevalecem em muitas práticas escolares. Ao incorporar a voz da criança, a escola se torna um espaço de escuta, de acolhimento e de promoção do direito à existência plena. Essa postura exige um compromisso ético, estético e político com a formação de sujeitos conscientes, críticos e autônomos desde os seus primeiros anos de vida.

MÉTODO

Este estudo adota uma abordagem metodológica qualitativa, descritiva e bibliográfica, com o intuito de compreender as sutis variáveis que permeiam o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, mediado pelos contos de fadas. O método qualitativo se configura como o mais apropriado, pois possibilita a análise profunda de aspectos subjetivos da experiência infantil, tais como emoções, imaginação e percepções, que não podem ser quantificados ou reduzidos a dados numéricos (Gil, 2008). Esta abordagem busca, assim, captar a totalidade das experiências subjetivas das crianças ao interagirem com as narrativas, ampliando a compreensão acerca da influência dessas histórias na formação psicológica e social dos pequenos.

A metodologia descritiva, conforme exposta por Lakatos e Marconi (2010), visa apresentar de maneira detalhada as características do fenômeno investigado, sem interferir ou manipular as variáveis. Nesse sentido, ela se adapta perfeitamente ao estudo da influência dos contos de fadas, permitindo a observação e a descrição precisa dos elementos presentes nas narrativas e suas respectivas funções no desenvolvimento cognitivo e emocional infantil. Ao utilizar-se deste método, pretende-se identificar os aspectos que estimulam a criatividade, a capacidade de resolução de conflitos internos e a construção de valores, fundamentais para o amadurecimento das crianças.

A pesquisa bibliográfica constitui um pilar essencial nesta investigação, pois fundamenta teoricamente o estudo por meio da análise crítica de obras já publicadas, como livros, artigos científicos, teses e dissertações. Este referencial bibliográfico é imprescindível para embasar as discussões e teorizações que sustentam o trabalho, permitindo uma revisão crítica da literatura existente, a qual traz à tona as principais teorias e descobertas relativas ao papel dos contos de fadas no desenvolvimento infantil (Cervo & Bervian, 2002). Autores consagrados, como Bruner (1996), Bettelheim (1976) e Vygotsky (1998), são fundamentais para sustentar a discussão sobre o impacto da narrativa na cognição e na emocionalidade das crianças, sendo referências obrigatórias para o aprofundamento das temáticas aqui tratadas.

Ao final, a metodologia escolhida proporciona um caminho robusto para a construção do conhecimento sobre a temática em questão, permitindo uma análise aprofundada das múltiplas dimensões do desenvolvimento infantil, especialmente no que se refere à influência dos contos de fadas. A combinação da análise qualitativa, descritiva e bibliográfica constitui uma base sólida para a reflexão sobre a relevância das histórias no contexto educacional e psicológico, ressaltando a importância do imaginário como elemento central para o amadurecimento emocional e cognitivo das crianças.

A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DOS CONTOS DE FADAS

Os contos de fadas, enquanto expressão literária, têm suas origens em narrativas orais ancestrais, que foram sendo passadas de geração em geração, inicialmente de forma totalmente verbal e, posteriormente, registradas e difundidas por meio de diversas mídias ao longo dos séculos. Estas histórias, embora inicialmente simples e curtas, funcionam como veículos de aprendizado e reflexão, e são marcadas por uma sequência de incidentes interligados, com um enredo essencial, sem grandes variações de tempo e espaço, e culminando em um desfecho, muitas vezes inesperado, mas de natureza apropriada e natural. Essa estrutura, segundo Bettelheim (1996), exerce um papel fundamental no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças, pois estimula sua imaginação e desperta sua curiosidade, proporcionando um campo simbólico seguro no qual elas podem enfrentar medos e desejar vitórias.

A origem dos contos de fadas remonta a tradições orais de diversas culturas, sendo posteriormente sistematizados e registrados em formato escrito. Inicialmente, os textos estavam ligados a estruturas rudimentares, como madeiras ou materiais naturais, e protegidos por formas rudimentares de encadernação, como o uso de chifres. Somente mais tarde, o uso do pergaminho e, eventualmente, do papel, permitiu a disseminação mais ampla da literatura escrita. Esse fenômeno se consolidou à medida que a literatura infantil ganhou terreno, principalmente no século XIX, quando autores como os Irmãos Grimm desempenharam papel crucial na coleta e publicação dessas histórias.

Os Irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, foram responsáveis por um dos maiores legados culturais no que diz respeito aos contos de fadas, ao reunirem e publicarem as histórias populares da tradição oral alemã. Suas coleções, como Cinderela, Branca de Neve, João e Maria e Chapeuzinho Vermelho, são marcas registradas na literatura mundial. Para os Grimm, essas narrativas tinham um valor cultural, moral e educativo, representando, além disso, uma tentativa de preservar o folclore europeu, particularmente em uma época de crescente urbanização e modernização, quando as tradições orais corriam o risco de se perder. Através de sua publicação, esses contos não apenas mantiveram vivas as tradições populares, mas também desempenharam um papel pedagógico fundamental, oferecendo à infância uma forma de reflexão sobre questões como moralidade, coragem, e o enfrentamento de adversidades.

Contudo, é importante destacar que, inicialmente, os contos de fadas não eram pensados exclusivamente para o público infantil. Sua adaptação para a literatura infantil se deu de maneira gradual, sendo decisiva a atuação de figuras como Edgar Taylor, que traduziu e adaptou os contos para o inglês, tornando-os acessíveis e mais apropriados para a juventude a partir de 1823. Em consonância com isso, Henry Cole, sob o pseudônimo de Felix Summerly, foi responsável por dar um direcionamento mais didático e moralizante a esses textos ao editar uma série de livros infantis no início do século XIX. Seu objetivo era fortalecer a ideia de que os contos de fadas poderiam ser instrumentos educativos poderosos, capazes de nutrir a imaginação das crianças e, ao mesmo tempo, neutralizar as críticas a essas histórias, muitas vezes associadas a elementos fantásticos e sobrenaturais, que eram rejeitados por escritores como Trimmer e Sherwood, que consideravam tais histórias inadequadas para o público infantil. Além disso, a contribuição de Charles Perrault para a formação da literatura infantil não pode ser subestimada. Em 1697, Perrault publicou sua famosa coleção de Contes de ma mère l'Oye (Contos da Mamãe Gansa), que mais tarde seria traduzida como Histórias ou contos de tempos passados (1729), por Robert Samber. Seus contos, como Cinderela e A Bela Adormecida, trouxeram uma linguagem mais refinada e uma moralização explícita, que visavam não apenas entreter, mas também instruir as crianças nas virtudes da sociedade. A publicação desses contos, em conjunto com as obras dos Irmãos Grimm, consolidou a literatura de contos de fadas como um pilar da literatura infantil mundial. No entanto, com o tempo, os contos de fadas começaram a ser vistos de maneira mais crítica. Bettelheim (1996), ao introduzir uma abordagem psicanalítica ao estudar esses contos, apresentou uma nova perspectiva sobre sua relevância no desenvolvimento psicológico infantil. Ele argumenta que esses contos funcionam como um espelho simbólico da psique da criança, oferecendo-lhe uma maneira segura de lidar com seus medos, inseguranças e desejos, uma vez que, nas narrativas, conflitos internos e externos são representados de forma que a criança possa entender e, muitas vezes, superar. Para Bettelheim, os contos de fadas não são meros veículos de entretenimento, mas sim ferramentas fundamentais para o entendimento e processamento das emoções infantis, além de fornecerem modelos de superação e crescimento pessoal.

A evolução dos contos de fadas, portanto, não se deu apenas em termos de narrativa ou conteúdo, mas também na forma como eles são vistos dentro da sociedade e como refletem os valores e as necessidades culturais de diferentes épocas. Henry Cole, ao abordar essa transformação, sublinhou a adaptabilidade dos contos de fadas, que, longe de serem estáticos, se moldam conforme as mudanças sociais, culturais e educacionais de cada período. Assim, como Randini (2003) observou, a literatura infantil não é uma criação essencialmente natural, mas uma construção cultural que se altera ao longo do tempo, refletindo as novas concepções de infância, educação e socialização.

Em breve síntese, os contos de fadas possuem uma história fascinante que atravessa séculos, refletindo e se adaptando às mudanças culturais e psicológicas de cada sociedade. Desde suas origens orais até sua reinterpretação literária por figuras como os Irmãos Grimm, Charles Perrault, e Bettelheim, essas narrativas não só preservaram elementos fundamentais do folclore e da moralidade, mas também se consolidaram como um veículo de desenvolvimento emocional e cognitivo para as crianças. Ao serem apropriadas e reinterpretadas de diferentes maneiras ao longo do tempo, as histórias tradicionais continuam a exercer um impacto duradouro na literatura infantil, tornando-se um campo fértil para reflexão pedagógica e psicológica.

A importância dos contos de fadas na formação da criança transcende o simples entretenimento, revelando-se uma ferramenta complexa que abrange dimensões psicológicas, culturais e educativas. Ao longo da história, esses contos foram adaptados e reinterpretados, assumindo diferentes formas conforme as necessidades e contextos sociais. No entanto, sua essência permanece a mesma: a função de mediadores das emoções e conflitos infantis. A relevância do estudo dos contos de fadas na educação infantil está diretamente ligada ao seu potencial em oferecer espaços simbólicos nos quais as crianças podem explorar suas questões existenciais, psicológicas e sociais de maneira segura. Em um cenário educacional que busca fomentar a criatividade, a empatia e a inteligência emocional das novas gerações, os contos de fadas continuam a ser um recurso imprescindível para a formação do sujeito e do cidadão.

Em um mundo contemporâneo, em que as crianças estão expostas a uma quantidade cada vez maior de estímulos tecnológicos e midiáticos, o papel dos contos de fadas torna-se ainda mais relevante. Estes contos, apesar de suas origens tradicionais e frequentemente arcaicas, possuem uma capacidade única de proporcionar experiências simbólicas que permitem às crianças construir significados profundos sobre o mundo ao seu redor, suas emoções e suas relações interpessoais. O enredo simples e direto, aliado a elementos fantásticos e arquetípicos, cria uma linguagem acessível que possibilita que a criança se identifique com personagens e situações que, embora fictícias, refletem a realidade em sua complexidade. Além disso, os contos de fadas oferecem um modelo de aprendizagem simbólica, essencial para o desenvolvimento do pensamento abstrato e da resolução de problemas. Conforme Piaget (1976), o pensamento infantil se caracteriza por uma assimilação do mundo que, inicialmente, ocorre de maneira concreta, mas gradualmente se torna mais abstrata à medida que a criança amadurece. Os contos de fadas, com suas metáforas e simbolismos, permitem que a criança explore essas transições cognitivas de forma lúdica e segura. Cada conto, com suas lições de moral e desafios que os protagonistas enfrentam, torna-se um reflexo das dificuldades cotidianas que as crianças podem não compreender completamente em sua realidade, mas que começam a entender em um plano simbólico.

A função dos contos de fadas vai além da simples instrução moral. Como afirmam Bettelheim (1996) e Zilberman (2001), essas narrativas também têm o poder de ensinar às crianças sobre a natureza da sociedade e as relações de poder que a estruturam. Ao apresentar personagens como o herói, a princesa, o vilão e o sábio, os contos de fadas revelam, de maneira acessível e muitas vezes disfarçada, os desafios morais e éticos que as crianças eventualmente terão que enfrentar em suas vidas. As vitórias e derrotas de seus protagonistas, muitas vezes imbuídas de elementos mágicos e transformadores, possibilitam que as crianças aprendam não apenas sobre as dificuldades da vida, mas também sobre as formas de superação, estratégia e solidariedade. Assim, essas histórias preparam a criança para um entendimento mais amplo do mundo social, com suas complexidades e contradições, ao mesmo tempo que promovem um espaço seguro de reflexão e expressão emocional.

Por outro lado, a modernidade tem imposto um novo olhar sobre o que significa ser criança e qual deve ser o papel da literatura na formação infantil. A literatura infantil não é mais apenas uma ferramenta de transmissão de valores ou entretenimento. Ela também é, conforme salienta Kishimoto (1994), um campo em que a criança pode vivenciar sua identidade e lidar com a diversidade de experiências humanas. As narrativas clássicas dos contos de fadas oferecem um terreno fértil para isso, mas sua adaptação e reinterpretação nas diversas culturas contemporâneas mostram como esses contos continuam a ser um espaço de transformação. Henry Cole e Randini (2003) alertam para a necessidade de uma literatura infantil que, ao mesmo tempo que preserva as raízes culturais, abraça novas narrativas que reflitam a pluralidade de identidades, histórias e experiências presentes na sociedade atual. É importante destacar que os contos de fadas, ao longo da história, passaram por uma gradual transformação, à medida que as percepções sobre o papel da infância e a literatura infantil evoluíram. O próprio conceito de infância é algo construído culturalmente, e a literatura infantil reflete essas mudanças. Assim, como apontado por Zilberman (2001), o estudo dos contos de fadas deve ser visto não apenas como uma análise das narrativas tradicionais, mas também como uma reflexão crítica sobre as mudanças nas concepções de infância, de educação e de cultura. A literatura infantil, ao ser moldada pelas necessidades sociais e educacionais de cada época, revela a dinâmica de poder, educação e transformação da sociedade. Além disso, a relevância dos contos de fadas no desenvolvimento emocional das crianças, conforme destacam Lima e Weingartner (2024), vai além da função pedagógica. Esses contos proporcionam um espaço para o exercício da empatia, permitindo que as crianças se identifiquem com os diferentes personagens e suas trajetórias. Por meio dos desafios enfrentados pelos protagonistas e suas respostas às adversidades, as crianças começam a compreender suas próprias emoções, aprendendo a lidar com sentimentos como medo, insegurança, raiva e alegria. Isso contribui para a formação de um entendimento mais complexo das próprias emoções e das emoções dos outros, promovendo o desenvolvimento de competências emocionais e sociais essenciais.

OS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Os contos de fadas, enquanto narrativas que permeiam o imaginário infantil, desempenham um papel de extrema relevância no desenvolvimento emocional, cognitivo e moral das crianças. Longe de se restringirem a simples histórias fantásticas, essas narrativas estruturadas atuam como instrumentos pedagógicos complexos, cujas potencialidades educativas se manifestam de diversas formas, estimulando a linguagem, o pensamento crítico, a imaginação, além de contribuir para a construção de valores éticos fundamentais. Essa compreensão da importância dos contos de fadas no processo de formação infantil é sustentada por diversas teorias psicológicas e educacionais que reconhecem o potencial dessas histórias para a formação integral do ser humano.

O professor Paulo Freire (1996) enfatiza a importância de conceber a leitura não apenas como uma atividade de lazer passivo, mas como um processo de conscientização e participação ativa. No contexto dos contos de fadas, a leitura assume um papel ativo no desenvolvimento das capacidades cognitivas da criança, desafiando-a a refletir sobre os temas abordados e a estabelecer relações entre a realidade e o universo simbólico das histórias. Cunha (1995, p. 47) sustenta que "a leitura é uma forma altamente ativa de lazer", sugerindo que, ao contrário de outras formas de entretenimento, que muitas vezes promovem a alienação, a leitura de contos de fadas exige uma participação consciente do receptor. Essa participação ativa é essencial para o desenvolvimento da criança, pois permite que ela não apenas decifre o texto, mas também construa significados, reflita sobre as situações e os personagens, e projete suas próprias emoções na história.

Ao longo da sua evolução, os contos de fadas serviram como instrumentos para a construção de valores universais que são fundamentais para a formação ética da criança. Essas histórias são construídas de maneira simbólica, representando os conflitos morais e sociais de uma forma que permite à criança compreender os dilemas humanos sem ser confrontada diretamente com as complexidades do mundo real. Dessa forma, a criança se vê inserida em uma trama onde pode refletir sobre conceitos como coragem, justiça, resiliência, e até mesmo as virtudes do perdão e da generosidade.

Os contos de fadas, especialmente as versões adaptadas pelos Irmãos Grimm, revelam universos onde os personagens enfrentam e superam grandes desafios, uma vez que o final feliz se torna uma metáfora poderosa para a superação das dificuldades. O entendimento de que a luta contra adversidades pode ter um fim positivo reforça a ideia de que é possível alcançar a felicidade, mesmo diante de adversidades, o que tem um impacto direto na formação da autoestima infantil. Através dessa estrutura narrativa, os contos de fadas estimulam o fortalecimento da resiliência e da confiança nas próprias capacidades. O psicanalista Bruno Bettelheim, em sua obra A Psicanálise dos Contos de Fadas (1996), oferece uma leitura profunda sobre o impacto psicológico dessas narrativas no desenvolvimento infantil. Bettelheim argumenta que os contos de fadas funcionam como um espaço simbólico essencial para que a criança possa elaborar seus próprios conflitos internos. De acordo com a psicanálise, esses conflitos muitas vezes se manifestam de maneira simbólica nos personagens e nas situações das histórias. Quando a criança se identifica com o herói ou com a heroína de um conto, ela projeta suas próprias angústias e desejos nos personagens, acompanhando suas jornadas e, por fim, internalizando as soluções que eles encontram. Este processo simbólico permite que a criança resolva, de maneira indireta, seus conflitos internos, fortalecendo sua capacidade de lidar com suas próprias emoções de maneira saudável. Ao enfrentar situações difíceis, como perdas, injustiças e desafios, os personagens dos contos de fadas proporcionam modelos de comportamento que a criança pode imitar ou adaptar para sua própria realidade. Isso ajuda no desenvolvimento da autoestima e da resiliência, pois a criança percebe que, apesar das adversidades, é possível superar obstáculos e alcançar a paz interior.

Além de sua função psicológica, os contos de fadas também desempenham um papel fundamental na transmissão de códigos culturais e sociais. De acordo com Ruth B. Tatar (2009), os contos de fadas são uma forma eficaz de ensinar às crianças normas sociais, papéis culturais e valores morais, de maneira indireta. As lições que essas histórias transmitem não são didáticas ou expositivas, mas imersas nas próprias tramas, o que permite que a criança aprenda os valores e as estruturas sociais sem sentir-se sobrecarregada ou ameaçada. Tatar argumenta que, ao apresentar uma visão simbólica do mundo, os contos de fadas ajudam a criança a compreender melhor suas próprias emoções, ao mesmo tempo em que a prepara para os desafios da vida social. Por meio da abordagem indireta, os contos de fadas permitem que as crianças reflitam sobre temas como o bem e o mal, a bondade e a maldade, sem a necessidade de um sermão ou de uma instrução explícita. Essa aprendizagem simbólica é mais eficaz porque acontece dentro de um contexto lúdico e imaginativo, onde as crianças podem explorar os limites da realidade e da fantasia.

A CONTRIBUIÇÃO DE PIAGET E VYGOTSKY PARA O ENTENDIMENTO DO BRINCAR E DA IMAGINAÇÃO

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget (1976) oferece uma base importante para a compreensão de como as crianças se relacionam com os contos de fadas. Piaget destaca que a imaginação e o brincar são elementos fundamentais para o desenvolvimento da criança, pois permitem que ela construa e organize seu pensamento. O brincar, como atividade simbólica, permite que a criança experimente e recrie situações que, em um contexto mais amplo, favorecem o desenvolvimento da sua capacidade de abstração e de resolução de problemas. Lev Vygotsky (1998) complementa essa visão ao afirmar que o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, pois é por meio da interação com o outro e da mediação do adulto que a criança constrói seu conhecimento. Vygotsky também destaca que, através do brincar e das narrativas, a criança internaliza conceitos que, mais tarde, serão fundamentais para a sua vida social e intelectual.

A leitura de contos de fadas e a interação com as histórias oferecidas pela literatura infantil não são atividades secundárias no desenvolvimento infantil; pelo contrário, elas devem ser reconhecidas como parte essencial do processo educativo. No entanto, é importante ressaltar que, ao se trabalhar com contos de fadas, é necessário que o educador esteja atento às implicações pedagógicas e psicológicas desses textos. O uso indiscriminado de histórias que reforçam estereótipos ou que não promovem valores de igualdade e respeito pode contribuir para a formação de uma visão de mundo distorcida, perpetuando preconceitos e desigualdades. Deste modo, o educador deve, ao escolher os contos, estar atento à diversidade cultural e à riqueza simbólica das narrativas, garantindo que a literatura infantil sirva como uma ferramenta inclusiva e formadora de cidadãos críticos, empáticos e conscientes de seu papel social. Em última instância, os contos de fadas, enquanto arte literária e pedagógica, têm o poder de moldar o imaginário infantil e, por meio dele, formar uma nova geração capaz de superar desafios, promover a justiça e buscar a harmonia social.

O PAPEL DOS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA

Os contos de fadas têm sido, ao longo da história, uma das formas mais potentes de transmitir conhecimento, valores e emoções às crianças. Estas narrativas não apenas entretêm, mas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, emocional e moral dos pequenos. Essa função educativa dos contos de fadas pode ser analisada sob diversas perspectivas, como a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, a psicanálise de Bruno Bettelheim e os estudos pedagógicos mais amplos sobre a literatura infantil. O uso desses contos nas práticas educativas não se resume apenas à leitura passiva de um texto, mas envolve uma interação ativa da criança com o conteúdo narrativo, que permite a construção de novos saberes e a internalização de conceitos emocionais complexos.

Piaget (2001) afirma que a criança constrói sua capacidade cognitiva e seus conhecimentos a partir das experiências vividas no ambiente e da organização desses conhecimentos em estruturas mentais. O processo de desenvolvimento ocorre por meio da adaptação e da assimilação, ou seja, ao entrar em contato com novas informações, a criança utiliza seus conceitos e experiências anteriores para integrar e compreender o novo conhecimento. Quando uma criança escuta um conto de fadas que aborda temas desconhecidos, ela utiliza seus esquemas mentais previamente adquiridos para assimilar a nova informação e, posteriormente, expandir ou modificar esses esquemas para acomodar o novo aprendizado. Esse processo de adaptação cognitiva é essencial para o desenvolvimento das funções intelectuais superiores, como a memória, a atenção e o raciocínio abstrato.

Ao ouvir histórias, a criança não se limita a receber informações passivas, mas interage ativamente com o conteúdo, realizando uma série de processos cognitivos, como a identificação com os personagens, a busca por significados nas situações apresentadas e a reflexão sobre os dilemas morais abordados nas narrativas. Piaget enfatiza que o aprendizado da criança se dá em um contexto de interação com o mundo, sendo as histórias uma forma poderosa de estimular a reorganização de seus esquemas de conhecimento, agregando novas informações de maneira significativa. No entanto, deve-se destacar que a mera leitura de um conto não é suficiente para desencadear esse processo de assimilação e adaptação. Piaget (2001) sugere que a criança precisa ser capaz de refletir sobre o que está ouvindo e estabelecer conexões entre sua experiência vivida e a narrativa, o que torna o contar histórias uma prática interativa. Bettelheim (1996) vai ainda mais longe ao afirmar que o contar histórias deve envolver um uso expressivo, que incentive a criança a explorar seus próprios sentimentos, a projetar suas experiências no enredo da história e a desenvolver sua própria interpretação dos eventos narrados.

Bruno Bettelheim (1996), em sua obra A Psicanálise dos Contos de Fadas, discute amplamente a importância emocional dos contos de fadas, considerando-os como instrumentos terapêuticos profundos no processo de desenvolvimento psicológico da criança. Segundo Bettelheim, esses contos oferecem um espaço simbólico essencial para que a criança possa lidar com suas emoções e conflitos internos de maneira indireta, ou seja, sem a necessidade de confrontá-los diretamente. Ao se identificar com os personagens, especialmente os heróis e heroínas que enfrentam grandes desafios e adversidades, a criança tem a oportunidade de projetar seus próprios medos, frustrações e ansiedades nas situações narradas, experimentando um processo simbólico de resolução desses sentimentos. A leitura de um conto de fadas permite que a criança, mesmo sem uma compreensão consciente dos seus próprios conflitos, possa vivenciar de maneira simbólica o processo de superação desses dilemas. Como afirma Bettelheim, "Através da identificação com os heróis, a criança sente que pode superar seus próprios medos e ansiedades, porque no conto, o herói sempre vence, mesmo que depois de grandes dificuldades". Esse tipo de narrativa não apenas oferece consolo e identificação, mas também fornece modelos de comportamento resilientes, nos quais a criança aprende que, apesar das dificuldades, a superação é possível e que há sempre a possibilidade de renovação e mudança.

O exemplo de Cinderela ilustra perfeitamente esse conceito. A protagonista enfrenta rejeição, exploração e perdas dolorosas, mas, ao final, é recompensada com uma transformação de sua vida. Para a criança ouvinte, essa história transmite um modelo de resiliência emocional, no qual as adversidades são superadas por meio da paciência, da coragem e da esperança. Além de apresentar uma lição moral, o conto fornece um recurso simbólico para lidar com frustrações e sentimento de impotência, ajudando a criança a desenvolver sua capacidade de enfrentar desafios da vida real.

Além de suas implicações psicológicas, os contos de fadas têm um papel importante na construção de valores morais nas crianças. Como observa Coelho (1987, p. 3), "os estudos de literatura estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do Eu em relação ao Outro". Os contos de fadas são construídos sobre temas universais e atemporais, como o bem contra o mal, a justiça, a lealdade, o medo e a esperança. Esses temas são apresentados de forma simbólica, permitindo que a criança internalize esses conceitos sem a necessidade de uma instrução direta sobre moralidade. Bettelheim (1996) argumenta que os contos de fadas não oferecem respostas fáceis, mas, em vez disso, mostram como lidar com as questões difíceis da vida. A simplicidade das narrativas, aliada à profundidade simbólica de seus significados, torna esses contos poderosos instrumentos de ensino moral. Ao enfrentar dilemas como a luta entre o bem e o mal, a criança aprende a distinguir as virtudes das falhas humanas e a entender os fundamentos da moralidade de uma maneira intuitiva e emocional. Essa aprendizagem ocorre de forma indireta, mas profunda, pois a criança não é apenas instruída sobre o que é certo ou errado, mas vivência, por meio dos personagens, as consequências de suas ações e decisões.

OS CONTOS DE FADAS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, LINGUÍSTICO E EMOCIONAL INFANTIL

Os contos de fadas são elementos fundamentais no processo de desenvolvimento infantil, funcionando como poderosos instrumentos pedagógicos e psicológicos. Essas narrativas, ao mesmo tempo que encantam e entretêm, têm um impacto profundo no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Sua eficácia decorre da maneira como elas estimulam a imaginação, promovem a aprendizagem da linguagem, facilitam a organização do pensamento e ajudam a lidar com questões emocionais complexas, muitas vezes por meio de soluções simbólicas. A complexidade desses contos reside em sua capacidade de integrar aprendizagem e emoção, promovendo o crescimento integral das crianças.

Os contos de fadas são instrumentos poderosos no desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças. Desde os primeiros anos de vida, essas narrativas desempenham um papel crucial ao estimular a linguagem e a construção do pensamento. A exposição das crianças a esse tipo de história favorece a aquisição de vocabulário, o desenvolvimento da memória, da atenção e da capacidade de raciocínio lógico. Ao serem apresentadas à estrutura narrativa típica dos contos, que segue uma sequência com início, meio, clímax e desfecho, as crianças passam a entender conceitos de causalidade, temporalidade e encadeamento lógico. Esses aspectos são essenciais para a formação de habilidades cognitivas e para a compreensão de como os eventos se conectam no mundo real.

A estrutura narrativa dos contos de fadas, com seu conflito central e resolução, permite que as crianças compreendam o conceito de causalidade e como as ações podem resultar em consequências. Esse aprendizado é, segundo Piaget (1976), um reflexo da interação ativa entre a criança e o seu ambiente, permitindo-lhe construir e reorganizar seu pensamento ao incorporar novas experiências e informações às estruturas mentais existentes. A assimilação de novos conceitos não ocorre de forma passiva; é um processo ativo que envolve a interpretação das histórias à luz das experiências anteriores da criança, ajustando e ampliando seus esquemas cognitivos para acomodar o novo conhecimento. Além disso, ao interagir com os contos, as crianças exercitam a escuta ativa, desenvolvendo habilidades de atenção e memória, o que favorece a internalização da informação e o desenvolvimento da compreensão textual. Nicolopoulou e Trapp (2018) indicam que crianças envolvidas em práticas regulares de narração apresentam um maior domínio da linguagem, desenvolvendo também habilidades de resolução de conflitos e cooperação social, uma vez que esses contos permitem que as crianças reflitam sobre as ações dos personagens e as consequências de suas escolhas. Dessa maneira, os contos não apenas ampliam o vocabulário, mas também fortalecem o entendimento da linguagem enquanto veículo de pensamento e de expressão.

Do ponto de vista psicológico, os contos de fadas possuem um valor terapêutico inegável, como bem argumenta Bruno Bettelheim (1996) em A Psicanálise dos Contos de Fadas. Ele propõe que essas histórias fornecem um espaço simbólico crucial para que a criança possa lidar com questões emocionais, como medos, inseguranças e frustrações, sem ter que confrontá-las diretamente. Ao se identificar com os heróis e heroínas das histórias, que frequentemente enfrentam grandes desafios, perdas e conflitos, as crianças aprendem a lidar com seus próprios sentimentos e emoções, projetando suas próprias ansiedades nos personagens e vendo essas questões sendo resolvidas, muitas vezes de forma simbólica. Bettelheim sugere que o final feliz dos contos de fadas oferece uma visão de esperança e superação, fundamentais para o fortalecimento da autoestima infantil.

Através da identificação com os personagens, a criança internaliza valores como a perseverança, a coragem e a resiliência. Como exemplo, no conto de "Cinderela", a protagonista lida com rejeição e exploração, mas, ao final, sua vida é transformada positivamente, fornecendo à criança um modelo de resiliência emocional. O elemento simbólico presente nessas histórias permite que a criança vivencie, de forma segura e controlada, situações emocionais difíceis, desenvolvendo mecanismos de enfrentamento e capacidade de resiliência diante dos desafios da vida real. Essa experiência simbólica é fundamental para a formação emocional da criança, pois oferece não apenas uma solução para seus dilemas, mas também uma ferramenta para lidar com suas próprias emoções de maneira construtiva.

Além dos aspectos cognitivos e emocionais, os contos de fadas têm um papel essencial no desenvolvimento da empatia e do pensamento crítico nas crianças. Ao se colocar no lugar dos personagens e compreender suas ações e motivações, a criança é estimulada a desenvolver uma perspectiva empática, sendo capaz de compreender as emoções e os pontos de vista dos outros. Zilberman (2001) destaca que a fantasia presente nos contos de fadas ativa diferentes formas de linguagem, como a verbal, visual e simbólica, criando uma experiência estética rica que envolve tanto o aspecto emocional quanto o pensamento crítico da criança. A exposição constante a histórias que envolvem dilemas morais, desafios e conflitos permite que a criança reflita sobre o comportamento humano, as consequências de suas ações e os diferentes pontos de vista sobre uma mesma situação. Isso favorece o desenvolvimento do pensamento crítico, pois as crianças não apenas absorvem informações, mas também questionam e analisam as situações apresentadas, desenvolvendo sua capacidade de reflexão e análise. Silva e Camargo (2021) afirmam que, ao serem expostas a histórias complexas, as crianças são incentivadas a questionar as atitudes dos personagens e a refletir sobre questões éticas e sociais, habilidades fundamentais para sua formação como cidadãos conscientes e responsáveis.

A LINGUAGEM E A FANTASIA COMO PILARES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A integração da linguagem e da fantasia nos contos de fadas desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da criança, pois facilita tanto o aprimoramento da linguagem verbal e não verbal quanto a construção do pensamento simbólico. A linguagem utilizada nos contos de fadas é adaptada ao universo infantil, utilizando estruturas simples, mas poderosas, que facilitam a compreensão e estimulam o aprendizado do vocabulário. A repetição de expressões, rimas e frases características dessas histórias também contribui para a memorização e o desenvolvimento da linguagem oral, além de fortalecer o pensamento simbólico e a capacidade de abstração. A fantasia, por sua vez, permite que as crianças explorem mundos imaginários, desenvolvendo a criatividade e a capacidade de pensamento abstrato. Através desses mundos fantásticos, as crianças aprendem a lidar com situações hipotéticas e a explorar possibilidades além da realidade imediata, o que contribui para o desenvolvimento da imaginação e da capacidade de resolver problemas. A fantasia ativa não apenas a linguagem verbal, mas também a sensibilidade e a emoção, criando uma experiência rica que envolve múltiplos níveis de aprendizagem.

Os contos de fadas, como ferramentas pedagógicas, continuam sendo indispensáveis no contexto educacional contemporâneo. Ao promoverem a integração entre cognição, linguagem e emoção, essas narrativas oferecem um modelo único de aprendizado, no qual as crianças não apenas adquirem conhecimento, mas também desenvolvem habilidades emocionais, sociais e cognitivas essenciais para sua formação. O valor desses contos reside em sua capacidade de oferecer lições morais profundas, de promover o pensamento crítico e de fortalecer a empatia, habilidades que são fundamentais para a construção de um indivíduo ético, criativo e socialmente responsável. Entretanto, é importante que os educadores selecionem as narrativas de forma cuidadosa, garantindo que elas não apenas atendam às necessidades linguísticas e cognitivas das crianças, mas também respeitem a diversidade cultural e social das crianças contemporâneas. A modernização de algumas dessas histórias e a inclusão de novos temas podem ampliar ainda mais o impacto educativo dos contos de fadas, tornando-os ainda mais relevantes no contexto atual. O desenvolvimento das capacidades cognitivas e emocionais da criança, por meio de narrativas simbólicas, continua a ser um pilar fundamental da educação infantil.

O VALOR EDUCATIVO DOS CONTOS DE FADA

Os contos de fadas, enquanto ferramentas pedagógicas e psicológicas, desempenham um papel significativo no desenvolvimento integral da criança, abrangendo aspectos cognitivos, emocionais, sociais e culturais. Mais do que simples histórias de encantamento e fantasia, essas narrativas simbólicas oferecem oportunidades ricas para o autoconhecimento, o fortalecimento emocional e a formação de habilidades cognitivas fundamentais. Ao projetar seus próprios medos, desejos e angústias nos personagens e nos enredos dos contos, as crianças não apenas se veem refletidas no universo das histórias, mas também têm a chance de organizar suas experiências internas de maneira estruturada e segura. Assim, o ato de ouvir, interpretar e recontar histórias contribui de forma substancial para o desenvolvimento da linguagem, da criatividade e da imaginação, competências essenciais para a formação de indivíduos críticos e emocionalmente equilibrados.

A importância dos contos de fadas no desenvolvimento cognitivo da criança é amplamente reconhecida na literatura educacional. Como destaca Piaget (1971), o jogo simbólico, que está presente nas narrativas dos contos de fadas, é fundamental para o desenvolvimento da função simbólica e da capacidade de representação. Ao se envolver com os elementos simbólicos dessas histórias, a criança desenvolve habilidades cognitivas como a abstração, o raciocínio lógico e a capacidade de compreender e organizar conceitos complexos. A sequência narrativa típica dos contos, com começo, meio, clímax e desfecho, também é um importante estímulo para a compreensão de causalidade, temporalidade e encadeamento lógico, aspectos essenciais para a construção do pensamento lógico e a formação do discurso. Conforme Martins (2006) observa, a linguagem simbólica presente nos contos de fadas expande o vocabulário da criança e a conecta a um repertório cultural mais amplo, permitindo que ela compreenda e interprete o mundo à sua volta de forma mais complexa. Além disso, o uso repetido de metáforas, rimas e padrões estruturais nos contos favorece a memorização e a internalização de estruturas linguísticas, o que é crucial para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. A escuta ativa, o envolvimento com a história e a capacidade de refletir sobre ela também são promovidos pela prática de contar e recontar histórias. Ao reinterpretar as narrativas, a criança amplia sua capacidade de análise e compreensão, ao mesmo tempo em que organiza seu próprio pensamento e o expressa de maneira cada vez mais refinada. Além de seu impacto cognitivo, os contos de fadas possuem uma profunda dimensão emocional que ajuda as crianças a lidarem com conflitos internos, emoções e experiências difíceis. Como argumenta Bettelheim (2004), os contos de fadas oferecem um espaço simbólico no qual a criança pode projetar suas próprias ansiedades e sentimentos. Ao se identificar com os heróis das histórias e acompanhar seus desafios, a criança tem a oportunidade de explorar seus medos, inseguranças e desejos, vivenciando esses aspectos de forma segura e controlada.

Através da identificação com os personagens, como os heróis e heroínas que enfrentam grandes adversidades, a criança é levada a refletir sobre sua própria capacidade de superação e resiliência. O conceito de "faz de conta", como bem destaca Piaget (1971), é uma ferramenta importante nesse processo, pois permite que a criança explore a realidade e a fantasia de maneira flexível, criando soluções simbólicas para problemas emocionais reais. A personagem de Cinderela, por exemplo, lida com a dor da rejeição, da exploração e da perda, mas ao final é recompensada, oferecendo um modelo simbólico de superação e resiliência emocional. Os contos de fadas também funcionam como veículos para o desenvolvimento da empatia, pois as crianças são convidadas a se colocar no lugar dos personagens e a compreender as emoções e motivações dos outros. Esse processo de identificação emocional é fundamental para a construção de uma consciência emocional saudável, que permite à criança lidar com suas próprias emoções e com os sentimentos dos outros de maneira construtiva.

O BRINCAR E A MEDIAÇÃO CULTURAL NO PROCESSO DE APRENDIZADO

O brincar, enquanto prática essencial para o desenvolvimento infantil, é amplamente reconhecido nas teorias de Vygotsky (1998) e Winnicott (1995). Para Vygotsky, o brincar é uma forma de mediação cultural que permite à criança internalizar conhecimentos de maneira ativa. As atividades lúdicas, quando bem planejadas, proporcionam à criança a oportunidade de vivenciar os contos de fadas de maneira participativa, seja por meio de dramatizações, jogos simbólicos, construção de cenários ou recontos orais. Essas práticas de mediação lúdica não apenas favorecem o desenvolvimento da linguagem e da comunicação, mas também estimulam a criatividade, o pensamento abstrato e a resolução de problemas. Winnicott (1995) argumenta que o brincar é o espaço onde a criança constrói seu "self", ou seja, a sua identidade. O brincar permite à criança integrar partes de sua experiência emocional que antes estavam dissociadas, promovendo uma maior compreensão de si mesma e de suas emoções. Quando o ambiente favorece o brincar, a criança pode experimentar diferentes papéis e cenários, permitindo-lhe explorar possibilidades e encontrar soluções simbólicas para conflitos internos. Em suma, o brincar é uma atividade essencial para o desenvolvimento da personalidade e do autoconhecimento.

Além de suas implicações cognitivas e emocionais, os contos de fadas desempenham um papel crucial no desenvolvimento social das crianças. Como enfatiza Moyles (2006), atividades lúdicas bem estruturadas e que envolvem a narração de contos contribuem para a cooperação, o respeito às regras e a vivência de valores como solidariedade, justiça e amizade. Por meio de recontos, dramatizações e jogos simbólicos, as crianças aprendem a colaborar, a ouvir os outros e a resolver conflitos de maneira construtiva. Essas experiências sociais são fundamentais para a formação da cidadania e da capacidade de trabalhar em grupo. Além disso, os contos de fadas, como manifestações culturais, carregam consigo valores, crenças e normas sociais de uma determinada cultura. Barthes (1981) afirma que "todo sistema simbólico é um sistema cultural", e, nesse sentido, os contos de fadas servem como um veículo de transmissão cultural, permitindo às crianças o contato com diferentes aspectos da história e dos valores de suas comunidades. Propp (1984), ao analisar a estrutura dos contos de fadas russos, revela como certos padrões narrativos refletem funções sociais e simbólicas que são universais, indo além da fantasia para representar questões sociais e culturais significativas. Além disso, Zipes (2006) argumenta que os contos de fadas, embora muitas vezes sejam usados para reforçar certos ideais e normas de comportamento, também podem ser espaços de resistência e subversão. Esses contos não apenas perpetuam a cultura dominante, mas também oferecem um campo de questionamento e transformação social, permitindo que as crianças reflitam sobre o status quo e, eventualmente, desafiem as normas estabelecidas.

No contexto educacional, a integração dos contos de fadas com atividades lúdicas e pedagógicas pode promover o desenvolvimento integral da criança, estimulando tanto suas habilidades cognitivas quanto emocionais, sociais e criativas. Algumas práticas eficazes incluem:

  • Teatro de fantoches: Utilizar contos como "Os Três Porquinhos" para trabalhar as emoções e a resolução de conflitos. A dramatização dessas histórias permite que as crianças explorem sentimentos complexos de maneira segura e divertida.

  • Recontos ilustrados: Trabalhar com histórias como "Chapeuzinho Vermelho" para desenvolver habilidades narrativas e de compreensão textual, estimulando a expressão oral e a capacidade de organizar ideias de forma coerente.

  • Jogos de tabuleiro temáticos: Criar jogos com base em histórias como "João e Maria" para explorar sequências, memorização e a importância da cooperação, enquanto as crianças praticam habilidades cognitivas e sociais.

  • Oficinas de criação de finais alternativos: Estimular a criatividade e o pensamento crítico ao permitir que as crianças inventem finais alternativos para os contos, desafiando-as a pensar de maneira criativa e a refletir sobre as possibilidades de mudança e transformação nas histórias.

Os contos de fadas, enquanto ferramentas pedagógicas, têm um impacto profundo e duradouro no desenvolvimento das crianças, não apenas em termos de habilidades cognitivas, mas também em sua formação emocional, social e cultural. Ao integrar a fantasia e a linguagem de forma simbólica, esses contos oferecem um espaço rico para a construção do conhecimento, o autoconhecimento e a resolução de conflitos internos. Além disso, as atividades lúdicas, quando bem planejadas, ampliam ainda mais as possibilidades de aprendizado, permitindo que as crianças explorem, criem e se conectem com o mundo de maneira significativa. Entretanto, é elementar que os educadores, ao trabalhar com contos de fadas, estejam atentos às dinâmicas culturais e contextuais de suas audiências. As narrativas devem ser cuidadosamente escolhidas para refletir a diversidade cultural e para proporcionar uma aprendizagem que vá além da simples reprodução de valores convencionais, abrindo espaço para o questionamento, a reflexão crítica e a transformação social.

A LITERATURA INFANTIL COMO EXPRESSÃO CULTURAL

A literatura infantil, como destacam importantes estudiosos do campo, desempenha um papel fundamental no processo de socialização e desenvolvimento infantil, funcionando não apenas como fonte de entretenimento, mas também como um instrumento cultural e pedagógico. Como uma forma de expressão cultural, os contos infantis refletem, por meio de suas estruturas simbólicas, os valores e ideologias dominantes de uma sociedade, permitindo que as crianças não apenas sejam introduzidas a essas normas, mas também se tornem participantes ativas na construção de seu entendimento do mundo e da sua realidade. De acordo com Coelho (2000), a literatura infantil é "um dos primeiros contatos da criança com o imaginário social e com os modelos culturais que norteiam a vida em sociedade". Este contato inicial com o mundo literário, segundo o autor, oferece à criança uma oportunidade ímpar de reflexão sobre o mundo que a cerca, estabelecendo pontes entre o imaginário e a realidade. Nesse sentido, a literatura infantil não se limita a ser uma forma de entretenimento, mas torna-se, de fato, uma ferramenta de formação social e cultural, que contribui para a construção do indivíduo enquanto membro ativo da sociedade.

A literatura infantil, conforme Coelho (2000), "é, antes de tudo, uma forma de expressão cultural, porque traduz, por meio de suas estruturas simbólicas, os valores e ideologias de uma sociedade". Esta tradução simbólica não se limita a um mero espelhamento da cultura, mas desempenha um papel ativo na formação de novos sujeitos, possibilitando que as crianças compreendam e absorvam aspectos culturais que moldam sua vivência cotidiana, suas interações sociais e suas próprias identidades. Ao expor as crianças a uma gama diversificada de situações, dilemas e personagens, a literatura infantil promove uma ampliação da percepção de mundo, construindo uma base de conhecimentos que será fundamental para a sua formação crítica.

Zilberman e Magalhães (1982) apontam que a literatura infantil é produto do contexto histórico e social em que é produzida. Dessa forma, os contos e narrativas voltados para as crianças não são apenas reflexos de uma cultura, mas também fatores que influenciam ativamente o imaginário coletivo e as transformações sociais. Essa característica da literatura infantil a torna uma ferramenta pedagógica essencial, pois ela não apenas propaga valores culturais, mas também os questiona, os ressignifica e os ajusta às necessidades pedagógicas e sociais de sua época. A literatura infantil, portanto, não é apenas um veículo para a transmissão de valores sociais já consolidados, mas também um espaço de resistência, reflexão e transformação. Ao apresentar diferentes pontos de vista, dilemas sociais e representações de mundos possíveis, os contos infantis estimulam as crianças a questionarem as normas estabelecidas, a refletirem sobre questões de justiça, igualdade e humanidade, tornando-se agentes críticos e conscientes de seu papel na sociedade.

Segundo Colomer (2003), a literatura infantil possui um papel fundamental na formação de leitores críticos, uma vez que oferece narrativas que representam uma pluralidade de pontos de vista, situações sociais e dilemas humanos. Isso não se restringe a uma simples forma de entreter a criança, mas se configura como uma ferramenta poderosa de formação social, ao apresentar as crianças a diferentes perspectivas sobre o mundo. Nesse processo, as crianças não apenas aprendem sobre o mundo dos adultos, mas também sobre suas próprias capacidades de entendimento, análise e julgamento. Ao se depararem com personagens que enfrentam dilemas morais, sociais e emocionais, as crianças têm a oportunidade de refletir sobre questões fundamentais da vida humana, como o conceito de justiça, a importância da empatia e da solidariedade, e a necessidade de tomar decisões responsáveis. Esse processo de identificação e reflexão, promovido pela literatura infantil, é essencial para o desenvolvimento do pensamento crítico, permitindo que as crianças desenvolvam uma visão mais profunda e matizada do mundo que as cerca.

A literatura infantil também pode ser vista como um reflexo cultural que perpetua não apenas os valores dominantes, mas também os transforma. Ao considerar as obras clássicas da literatura infantil, como os contos dos Irmãos Grimm ou os trabalhos de autores contemporâneos, nota-se como a literatura infantil se adapta às mudanças sociais e culturais ao longo do tempo, refletindo as transformações nas ideologias, nos costumes e nas visões de mundo da sociedade. Barthes (1981) enfatiza que "todo sistema simbólico é um sistema cultural", e os contos infantis são uma forma de sistema simbólico que reflete e, muitas vezes, questiona as normas culturais. Os contos, ao apresentarem mundos fantásticos e personagens que vivenciam situações limites, tornam-se um espaço simbólico para que as crianças possam refletir sobre suas próprias experiências e sobre as normas que as cercam. Nesse sentido, os contos de fadas podem ser não apenas uma representação passiva da cultura, mas também um veículo de crítica e transformação social. Além disso, como observou Propp (1984), a análise da estrutura narrativa dos contos de fadas revela um conjunto de elementos fixos que se repetem em diversas culturas, refletindo padrões sociais e normas simbólicas que vão além da simples fantasia. Esses elementos podem ser compreendidos como formas de comunicação social que perpetuam, ao mesmo tempo, ideais culturais, comportamentais e éticos, formando as bases do comportamento social das gerações seguintes.

A literatura infantil, especialmente nas suas formas mais populares e tradicionais, também serve como um importante meio de construção e afirmação de identidade cultural. Segundo Cândido (2004), "a literatura, mesmo quando de cunho popular, tem o poder de humanizar o homem, ao lhe permitir o contato com o outro e com sua própria história". Os contos de fadas, ao retratar valores, símbolos e experiências compartilhadas por uma comunidade, permitem que as crianças se conectem com sua herança cultural, compreendendo sua história e suas raízes de uma forma significativa e emocionalmente envolvente. Nesse sentido, a literatura infantil serve como um espaço coletivo de troca e reflexão, onde as crianças não apenas aprendem sobre a cultura em que estão inseridas, mas também se tornam participantes ativas na construção de sua própria identidade cultural. O ato de ler, contar e recontar histórias torna-se, assim, um processo de afirmação cultural e de formação de uma identidade coletiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura infantil, especialmente na forma de contos de fadas, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças, ultrapassando sua função primária de entretenimento para se consolidar como um veículo essencial de formação cognitiva, emocional e social. Esses relatos, permeados de simbolismos universais e estruturados em narrativas arquetípicas, desempenham um papel crucial no amadurecimento psíquico das crianças, permitindo que estas explorem e reconfigurem suas próprias emoções, vivenciem complexos conflitos internos e, ao mesmo tempo, desenvolvam suas capacidades cognitivas e linguísticas. A partir das teorias de autores como Bettelheim, Piaget e Vygotsky, é possível compreender que os contos de fadas são muito mais do que meras histórias de encantamento. Estes textos funcionam como espaços simbólicos que permitem à criança projetar e resolver medos, inseguranças e angústias. Ademais, esses contos oferecem uma oportunidade única para o desenvolvimento da empatia, da criatividade e do raciocínio lógico, ao mesmo tempo em que favorecem a construção do pensamento abstrato e a ampliação do vocabulário.

Os contos de fadas possuem uma função indiscutível no desenvolvimento cognitivo das crianças. De acordo com Piaget (1976), a infância é caracterizada pela construção de estruturas cognitivas, e a literatura infantil, particularmente os contos de fadas, desempenha um papel essencial nesse processo, ao estimular a criança a organizar sua compreensão do mundo, a entender a causalidade e a temporalidade e a desenvolver suas capacidades de pensamento lógico. As narrativas que seguem a estrutura clássica de início, meio, clímax e desfecho, proporcionam à criança uma base para compreender a organização de eventos e a causa e efeito, habilidades cognitivas fundamentais para o raciocínio lógico e a resolução de problemas.

Bettelheim (2004) vai além ao afirmar que os contos de fadas são espaços seguros onde a criança pode, simbolicamente, enfrentar os desafios do mundo real. Através dos conflitos enfrentados pelos personagens, as crianças podem projetar suas próprias angústias e medos, promovendo um processo de elaboração simbólica e resolução interna desses conflitos. Isso é particularmente significativo no contexto educacional, pois permite à criança lidar com emoções complexas e desenvolvê-las de forma construtiva. A interação com essas narrativas não é passiva, mas ativa, exigindo da criança uma reflexão sobre as ações dos personagens, suas motivações e as consequências de suas escolhas.

Além de sua função cognitiva, os contos de fadas desempenham um papel central no desenvolvimento emocional das crianças. A proposta terapêutica subjacente a essas narrativas pode ser entendida com base nas contribuições de Bettelheim (2004), que afirma que os contos oferecem à criança uma oportunidade de resolver seus conflitos emocionais por meio da projeção simbólica. O processo de identificação com os personagens e suas dificuldades permite à criança acessar uma gama de emoções e, ao mesmo tempo, fornece modelos para o enfrentamento dessas emoções de forma saudável. Ao se identificar com o herói ou heroína da história, a criança não apenas compreende a resolução de um dilema, mas internaliza estratégias de superação e resiliência.

A personagem de "Cinderela", por exemplo, ao lidar com a rejeição e a perda, encontra a possibilidade de transformação e superação, um modelo simbólico que reflete o processo de enfrentamento da dor e da frustração. Para a criança, essa narrativa funciona como uma metáfora poderosa de como as adversidades podem ser superadas, ajudando-a a construir uma autoestima mais forte e a desenvolver uma percepção mais positiva de si mesma. Vygotsky (1998), em suas discussões sobre o desenvolvimento infantil, introduz o conceito de mediação cultural, argumentando que o brincar é uma ferramenta essencial nesse processo. A literatura infantil, em particular os contos de fadas, se configura como uma extensão dessa mediação cultural, permitindo à criança interagir com o mundo simbólico de maneira criativa e exploratória. O brincar, especialmente quando associado à dramatização de contos, oferece à criança a possibilidade de externalizar suas vivências e emoções, vivenciando-as de maneira simbólica e transformadora.

Piaget (1971), por sua vez, ressalta a importância do jogo simbólico no desenvolvimento cognitivo. Ao se engajar em atividades de "faz de conta", como dramatizações de contos de fadas, a criança desenvolve a capacidade de representar mentalmente situações e criar soluções para problemas, habilidades fundamentais para o pensamento abstrato e a resolução criativa de problemas. Dessa forma, o brincar com contos de fadas não só facilita a compreensão do mundo emocional, mas também estimula a criatividade e o desenvolvimento do pensamento lógico. No contexto educacional, os contos de fadas oferecem uma plataforma poderosa para a integração de diversos saberes: linguísticos, éticos, culturais e emocionais. Como apontado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, a utilização de narrativas simbólicas, como os contos de fadas, pode enriquecer a prática pedagógica, proporcionando uma abordagem interdisciplinar que conecta o desenvolvimento cognitivo com o emocional e o social. Dessa forma, o uso intencional de contos no ensino diário pode potencializar o aprendizado, oferecendo à criança uma compreensão mais holística de si mesma e do mundo ao seu redor.

O resgate e a valorização desses contos dentro da educação não apenas fortalecem as tradições literárias e orais, mas também contribuem para a formação de sujeitos mais sensíveis, criativos e críticos, preparados para enfrentar os desafios emocionais e intelectuais que surgem ao longo da vida. O ambiente escolar, ao incorporar os contos de fadas em sua prática pedagógica, proporciona aos alunos uma rica experiência simbólica que vai além do conteúdo acadêmico, favorecendo o crescimento humano integral.

O papel dos contos de fadas na formação de sujeitos críticos, criativos e emocionalmente preparados não se limita ao desenvolvimento cognitivo e afetivo imediato, mas também se estende à formação de valores éticos e sociais fundamentais. Por meio da identificação com os personagens e suas jornadas, as crianças são convidadas a refletir sobre questões universais como justiça, amizade, coragem e perseverança. Esses valores, que são transmitidos de maneira simbólica, não apenas ampliam a compreensão da criança sobre o mundo, mas também a incentivam a agir de maneira mais consciente e ética em sua vida cotidiana. Assim, os contos de fadas representam uma ponte essencial entre o mundo interior da criança e as complexidades do mundo exterior. Ao proporcionar às crianças um espaço seguro e criativo para explorar suas emoções, seus medos e seus desejos, essas histórias formam a base de uma educação que não é apenas acadêmica, mas profundamente humana, simbólica e transformadora. Logo, os contos de fadas desempenham um papel vital no desenvolvimento integral da criança, não apenas no contexto educacional, mas também na formação emocional e social. Ao proporcionar um meio seguro e simbólico para a projeção e resolução de conflitos internos, essas narrativas tornam-se ferramentas essenciais na construção de uma criança mais criativa, reflexiva e emocionalmente preparada para enfrentar os desafios da vida. Em última instância, é através desses contos que a criança tem a oportunidade de elaborar e transformar suas vivências, consolidando um processo de amadurecimento que vai além do cognitivo, integrando os aspectos emocionais e culturais da formação humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 Discente do Curso de Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá (Campus Teresópolis). E-mail: [email protected]

2 Discente do Curso de Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá (Campus Teresópolis). E-mail: [email protected]

3 Discente do Curso de Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá (Campus Teresópolis). E-mail: [email protected]

4 Docente dos Cursos de Pedagogia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Ciências da Computação (UNESA-RJ). Doutorando em Educação pela Universidade Nacional de Rosário (UNR-ARG). Mestrado em Educação (UNESA-RJ). MBA em Data Warehouse e Business Intelligence (FI - PR). Pós-Graduado em Engenharia de Software, Antropologia, Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Educação no Campo, Filosofia e Ciência da Religião (FAVENI-MG). Historiador pela Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP). E-mail: [email protected]