A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS COMO (RE) EXISITENCIA NAS PERIFERIAS CARIOCAS: UM ESTUDO INTERSECCIONAL ENTRE GÊNERO RAÇA E ESPAÇO GEOGRÁFICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10396157

Glaucio De Souza Adolfo Reduzino

RESUMO
O ensino de jovens e adultos é um assunto que causa muita polemica no que tange a alfabetização, com a massiva ideia de inserir jovens e adultos no ensino superior, a alfabetização devera das vezes cai no esquecimento das mídias, gerando um impacto social negativo na vida das pessoas analfabetas, excluindo as socialmente e desafortunado as de privilégios socioeconômicos, como o acesso à justiça, a empregabilidade no mercado formal e a até mesmo programas de transferência de renda, da qual deveriam de estar inclusas, porem devido à falta de conhecimento, vivem as margens da sociedade.
Tendo ainda o fator relevante que, pessoas analfabetas tem uma maior dificuldade de encontrar emprego, o que contribui para o alto índice de violência, pois não há grande oferta em balcões de emprego para aqueles que não possuem ao menos o domínio básico da leitura e escrita.
Em maioria os analfabetos são pessoas negras, moradores de periferias, onde o acesso a escola se torna muitas das vezes comprometido, seja pela falta de informação, quanto por problemas culturais, como a vergonha por ter passado da idade de alfabetizar quanto por problemas sociais relacionados a vida pessoal.
Palavras-chave: Alfabetização. Jovens e adultos. Emprego. Educação

ABSTRACT
The teaching of young people and adults is a subject that causes a lot of controversy when it comes to literacy, with the massive idea of ​​including young people and adults in higher education, literacy often falls into oblivion in the media, generating a negative social impact on life. of illiterate people, excluding socially and unluckily those with socioeconomic privileges, such as access to justice, employability in the formal market and even income transfer programs, of which they should be included, but due to lack of knowledge, they live the margins of society.
Furthermore, the relevant factor is that illiterate people have greater difficulty finding a job, which contributes to the high rate of violence, as there is not a large number of job opportunities available for those who do not have at least basic knowledge of reading and writing. .
The majority of illiterate people are black people, living on the outskirts, where access to school is often compromised, whether due to lack of information or cultural problems, such as shame for having passed the age of literacy or related social problems. personal life.
Keywords: Literacy. Young people and adults. Job. Education

2. Objeto

Sabendo se dá importância da educação para a transformação do homem e do meio do qual vive é de suma importância destacar a alfabetização como o pilar da educação.

Mas como a alfabetização especialmente de jovens e adultos pode ser o motor que irá mover uma sociedade em constante evolução?

Existe relações entre classes sociais e o analfabetismo?
Pode o EJA ser a porta de entrada para o ensino superior?

2.1 Objetivo geral

Oferecer fundamentos que evidenciem que o EJA pode influenciar o

processo de socialização de jovens e adultos não só no meio educacional, como também nas relações pessoais e trabalhistas

2.2. Objetivo específico

Descrever de forma clara e suscinta a relação entre a alfabetização de jovens

adultos através do EJA e o impactos sociais causados pelo analfabetismo, inclusive de pessoas negras, moradoras de comunidades carentes, onde o ensino básico é precário, observando as questões socioculturais que influenciam para um distanciamento dos bancos escolares.

3. Justificativa

A educação vem sendo cada vez mais divulgada nas mídias como sinônimo de ascensão profissional e social, no entanto quanto mais se fala em criar universidades e inserir jovens e adultos no meio acadêmico menos se fala em alfabetizar jovens e adultos que se quer sabem assinar os seus próprios nomes, com isso cria se um abismo dantesco em relação aos analfabetos que vivem as margens sociais, sem mesmo ter conhecimento dos seus direitos básicos, esses são os mesmos que tem menores chances de trabalho formal, estão mais expostos a violência e tem as menores expectativa de vida.

O presente trabalho tem como justificativa, demonstrar a importância do EJA especialmente em comunidades carentes onde a educação se torna uma forma de resistência.

3.1 Metodologia

Este projeto está em desenvolvimento, tendo utilizado de vários recursos metodológicos baseado na reflexão de leituras de textos, de autores diversos (livros, enciclopédias, pesquisas na internet) para alcançar os objetivos propostos. A metodologia empregada para a realização deste estudo valeu-se da combinação das pesquisas bibliográfica e da experiência nos estágios realizados na sala de aula do EJA. O levantamento bibliográfico tem como objetivo o embasamento teórico das discussões condicionadas à conceituação dos principais termos aplicados na pesquisa, compreendidos a partir da visão dos autores que se destacam nos estudos referentes ao EJA. Os resultados foram analisados com o objetivo de promover a reflexão teórica a respeito do tema estudado, que é a importância da alfabetização de jovens e adultos

4- Alfabetização no EJA

Quando fala se em alfabetização a primeira coisa que se vem a cabeça é o ensino de crianças a ler e escrever, porém esse modelo de pensamento foi remodelado a partir do patrono da educação Paulo Freire, que foi na contramão do que pregava o senso comum e se propôs a alfabetizar adultos, e mais do que alfabetizar Freyre queria apenas alfabetizar ele queria ir muito além disso como afirma Carlos Lyra.

“1. Dar ao adulto o domínio das habilidades fundamentais em linguagem, leitura e aritmética; 2. Promover o renascimento ou a criação de ideias e padrões elevados de vida; 3. Formar no homem a convicção da sua responsabilidade (e da responsabilidade do Estado) em dar educação aos seus filhos; 4. Habilitá-los ao exercício da cidadania, como eleitor, como membro de uma nação livre e como participante ativo do regime democrático; 5. Promover a elevação do seu nível de vida em casa, do ponto de vista de higiene, do conforto e da alimentação; 6. Habilitá-los à administração equilibrada dos seus recursos financeiros e da direção de sua própria vida; 7. Despertar nele a noção de que ele, sua mulher e seus filhos têm direito a uma vida melhor. (LYRA, 1996, p. 152)”

Assim pelas palavras de Lyra é possível interpretar que o educador, não queria apenas que as pessoas aprendessem a ler, mas que pudessem se tornar um cidadão, conhecedor dos seus direitos e deveres, e que pudessem discutir e criar novas ideias que pudessem ser aplicadas ao cotidiano, dando assim uma melhor expectativa de vida a si próprio e a comunidade da qual está inserida.

Reforçado nas palavras de Gomes:

“Não se trata mais de alfabetizar para um mundo no qual a leitura era privilégio de poucos ilustrados, mas sim, para contextos culturais aos quais a decodificação da informação escrita é importante para o lazer, o consumo e o trabalho” (GOMES, 2014)

Diferente das crianças que tem a necessidade de aprender a ler e escrever para que no futuro possam ter uma melhor qualidade de vida, os jovens e adultos quando adentram a sala de aula para se alfabetizarem, suas expectativas não são apenas futuras, eles veem uma forma de reparar o passado e assim terem uma chance a mais de adentrar no mercado de trabalho, para que possam desfrutar do lazer que lhe fora tomado pelo trabalho no passado, pela falta de conhecimento e instrução que leva a realizar trabalhos forçosos com baixa remuneração.

Como afirma o educador Freyre,

Que a partir da escrita e da leitura crítica, é possível resgatar valores que antes não eram desconhecidos por muitos possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social” (FREIRE, 1991, p. 72)

Neste diapasão pode se observar a importância da alfabetização para os jovens e adultos visto que são os que mais sofrem em relação a falta de conhecimentos da leitura e da escrita.

Muito além das salas de aulas, a alfabetização de jovens e adultos tem um papel ressocializador, pois devolve a autoestima daqueles que por algum motivo não tiveram a oportunidade de se alfabetizar nos anos iniciais, levando se em conta as mudanças sociais que ocorrem na sociedade como por exemplo o uso da internet, redes sociais e inteligência artificial, que requerem de seus usuários no mínimo o conhecimento da escrita e da leitura

4.1 Modelos de educação

Muito se fala em educar e educação, mas para discorrer sobre esse assunto de maneira sucinta é necessário entender que há 5 modelos de educação que são elas: Formal, informal, libertadora e bancária, sendo as ultimas duas difundidas pelo Educador Paulo Freire, mas para melhor explanação de cada uma e suas atribuições abaixo será exposto de forma clara e exemplificativa cada uma delas de forma separada e como todas elas se conectam ao EJA

Educação formal
Este tipo de educação se dá no ambiente escolar, um conhecimento regrado de acordo com os padrões pré-estabelecidos por órgãos competentes, como mec, capes entre outros que fiscalizam e regula as instituições de ensino

Educação informal
Neste modelo de educação, não há alunos e mestres propriamente dito, são conhecimentos que são repassados dos mais velhos para os mais novos, como em igrejas, centros comunitários e principalmente em ambientes de trabalhos braçais, onde todo conhecimento se dá através da oralidade.

Educação Bancária
De acordo com o educador Paulo freire em seu livro pedagogia do oprimido, a educação bancária é uma forma de alienar os educandos, apenas depositando conhecimentos e ideias que não podem ser refutadas, pois segundo ele seria o educador o dono da verdade enquanto os educados seriam apenas depósitos de conhecimento como ele mesmo afirma ao dizer que:

“O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabe” (FREIRE, 2019, p. 57)

Educação libertadora
Neste modelo de educação os educados e os educandos têm total liberdade de conversar e discutir ideias, a relação aluno -professor, passa a ser revista no que tange aos ensinamentos que não partem somente do educador, mas também do educando, criando assim uma rede de conhecimentos, como pontua o educar Paulo Freire.

“A visão da liberdade tem nesta pedagogia uma posição de relevo. É a matriz que atribui sentido a uma prática educativa que só pode alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre e crítica dos educandos”, (FREIRE, 1987, p. 4)

5. Educação e resistência

Mesmo que o cenário atual pareça favorável para a educação no Brasil, dados do ibge mostram que o número de jovens e adultos analfabetos é bem expressivo, estudos e pesquisas também demonstram que em sua maioria são negros e moradores de comunidades carentes, fato este que os torna ainda mais vulneráveis, como demostra o quadro abaixo

Neste quadro acima é possível observar que em sua maioria pessoas negras tem o menor grau de instrução sendo deste o estado do nordeste com o maior número de pessoas analfabetas ou semianalfabetas.

Neste gráfico é possível verificar que o número de pessoas analfabetas supera ainda mais o número de pessoas com o ensino médio incompleto o que gera uma insegurança do futuro em relação ao ensino superior, que está se tornado cada vez mais popularizado.

O gráfico acima demostra de forma clara, o número de pessoas com baixo nível de instrução, diversos fatores contribuem para a evasão escolar ou o não realizar a matrícula escolar.

Dentre alguns motivos pode se afirmar que o trabalho infantil realizado por filhos de mães solos, negras e periféricas é um fator crucial para a não realização da matrícula escolar, outros fatores como gravidez precoce e abandono dos responsáveis por causas naturais ou por mortes violentas também contribuem para que o número de jovens e adultos sem instrução escolar tendam a crescer, como afirma Bouzas

“O início da atividade sexual, cada vez mais precoce, associada à desinformação e à ausência de suporte psicológico e social, tem contribuído para situações de riscos em uma faixa etária ainda em desenvolvimento. Tais riscos podem ser evidenciados pela maior incidência de gestações em adolescentes, principalmente abaixo dos 15 anos, o que na atualidade tem sido um desafio para os pesquisadores (BOUZAS, 2005, p. 26)”

Ainda reforçado nas palavras de Rizzini

“[...] as crianças nascidas em situação de pobreza e/ou em famílias com dificuldades de criarem seus filhos tinham um destino quase certo quando buscavam apoio do Estado: o de serem encaminhadas para instituições como se fossem órfãs ou abandonadas.” (RIZZINI, 2004, p. 56)

O medo de se matricular em uma escola sem a presença dos pais, e serem questionados pela ausência dos mesmos e ao informar que foram abandonados ou perderam seus genitores, gera a insegurança de serem mandados para abrigos ou orfanatos.

No entanto, muitos jovens e adultos enxergam na educação uma forma de resistência, haja visto que aqueles que não possuem um grau de instrução, muitas das vezes não conseguem um emprego formal e quando isso acontece o salário que recebem é bem menor em relação aos que tem estudo, como afirma Corbucci

“O analfabetismo das pessoas que ganham até um quarto de salário-mínimo é 20 vezes maior do que entre aqueles que ganham acima de três salários-mínimos”

Como apresentado na tabela abaixo, é possível ver que o número de analfabetos desempregados ou em busca do primeiro emprego é um número crescente, visto que o mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais com um grau de instrução.

Tabela 1 – População por situação de trabalho e nível de alfabetismo (% por nível de alfabetismo)

Fonte Inaf 2001-2018
Nota (1) Vive de renda, recebe pensão, inválido etc.

Tabela 2 – População por situação de trabalho e nível de alfabetismo (% situação de trabalho)

Fonte: Inaf 2001-2018
Nota (1) Vive de renda, recebe pensão, inválido etc.

Com o avanço tecnológico e a popularização da internet, muitos jovens e adultos estão retornado as salas de aula, não tão somente para aprender a ler e escrever, mas com planos de realizar sonhos, como poder conquistar um emprego formal, adentar no ensino superior e posteriormente ajudar outras pessoas que por motivos inúmeros não tiveram a oportunidade de estudar como afirma

“Realização pessoal – A autônoma Zenaide Nogueira, de 56 anos, teve apoio do marido para continuar estudando e para trabalhar, quando se casou aos 16 anos. Porém, deixar os filhos com babá era preocupante demais e ela optou por interromper os estudos e se dedicar à família. Há 17 anos, com a prole independente, ela viu na EJA a oportunidade de concluir os estudos, como sempre sonhou.”

Observa se que o EJA faz muito mais do que simplesmente alfabetizar e instruir, ele devolve a autoestima as pessoas que enxergam na educação uma luz no fim do túnel.

6. Considerações finais

O presente trabalho pautou se em demonstrar a relevância da educação principalmente o EJA, tanto no campo social tanto quanto no psicológico, haja visto que a falta de instrução escolar afeta principalmente as minorias, negros e periféricos, que por não terem as um grau de escolaridade são jogados as margens da sociedade, sofrendo todo tipo de revés, no campo do trabalho são os mais explorados, com mão de obra braçal e baixos salários, muitas das vezes não tem assistência governamental por não conhecerem seus direitos, são excluídos da sociedade, visto que não tem acesso a benefícios que dependam da leitura e escrita como por exemplo o acesso a internet, outro ponto que se faz relevante no trabalho, é o número crescente de jovens e adultos que tem procurado as salas de aula, rompendo preconceitos e estereótipos sociais, visto que hoje a educação inclusive no EJA é uma educação libertadora, onde o aluno se faz protagonista junto com o professor e não mais uma educação bancaria e alienadora como era no passado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOUZAS, Ana T. C. D. M. E. I. C. D. S. A saude de adolescentes e jovens copetencias e habilidades. <http://189.28.128.100/portal/arquivos/multimedia/adolescente/textos_comp/tc_18.html>, 2005. Disponível em:. Acesso em: 10 out. 2023.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo : Paz e terra , 1987.

FREIRE, Paulo. Educação na cidade. Sãp Paulo: Cortez, 1991.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz & Terra, 2019.

GOMES, Leonardo T. Cidadania e Práticas escolares: as representações de um grupo de alunos do ensino médio de uma escola pública paulista., Araraquara, 2014.

INAF. Inaf. Disponível em: https://alfabetismofuncional.org.br/. Acesso em: 02 out. 2023.

LYRA, Carlos. As 40 horas de Angico: Uma experiencia pioneira da educação. São Paulo: Cortez, 1996.

RIZZINI, Irene. A institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. São Paulo: Loyola, 2004.