TERMOS USADOS NAS REDES SOCIAIS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE SUA INFLUÊNCIA NA ESCRITA DOS ALUNOS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17635596


Aline Luciana de Souza1


RESUMO
O objetivo do estudo foi investigar o uso de termos próprios das redes sociais (abreviações, emojis, hashtags e gírias digitais) influencia a escrita dos alunos, especialmente quanto à ortografia, escolha de registro, coesão e estrutura textual, em produções escolares formais e informais. Metodologicamente, trata de um estudo bibliográfico através da abordagem qualitativa. Os instrumentos de coletas dos dados foram estudos de publicações artigos científicos publicados no google acadêmico. Os resultados indicaram que: (i) há transferência ocasional de traços do registro digital para tarefas escolares; (ii) a influência não é uniformemente negativa: práticas digitais ampliam engajamento, repertório lexical e criatividade, e podem funcionar como ponto de partida para desenvolver coesão e argumentação quando didaticamente mediadas; (iii) estudantes tendem a alternar registros com maior precisão quando há ensino explícito de gênero textual, revisão e reescrita, reduzindo interferências informais em contextos formais; (iv) a mediação docente que combina letramento digital, estudo da norma-padrão e critérios de avaliação por gênero e finalidade é fator decisivo para transformar usos cotidianos em aprendizado formal. Em síntese, os achados reforçaram que integrar letramentos digitais ao ensino da norma-padrão, com mediação docente intencional e criterial, é caminho promissor para qualificar a escrita escolar sem desconsiderar a cultura das redes.
Palavras-chave: Redes Sociais. Termos utilizados. Influência. Escrita. Alunos.

ABSTRACT
The aim of this study was to investigate how the use of terms specific to social media (abbreviations, emojis, hashtags, and digital slang) influences students' writing, especially regarding spelling, register choice, cohesion, and textual structure, in formal and informal school productions. Methodologically, it is a bibliographic study using a qualitative approach. The data collection instruments were studies of scientific articles published on Google Scholar. The results indicated that: (i) there is occasional transfer of traits from digital register to school assignments; (ii) the influence is not uniformly negative: digital practices broaden engagement, lexical repertoire, and creativity, and can serve as a starting point for developing cohesion and argumentation when didactically mediated; (iii) students tend to alternate registers with greater precision when there is explicit instruction on text genre, revision, and rewriting, reducing informal interference in formal contexts. (iv) Teacher mediation that combines digital literacy, study of standard language and evaluation criteria by genre and purpose is a decisive factor in transforming everyday uses into formal learning. In summary, the findings reinforced that integrating digital literacies into the teaching of standard language, with intentional and criterion-based teacher mediation, is a promising path to improving school writing without disregarding the culture of the networks.
Keywords: Social Networks. Terms used. Influence. Writing. Students.

INTRODUÇÃO

As redes sociais consolidaram-se como espaços privilegiados de interação e produção de sentidos, nos quais a linguagem circula em formatos breves, multimodais e altamente contextuais. Nesse ambiente, termos característicos, abreviações, acrônimos, hashtags, emojis e gírias digitais, funcionam como recursos de economia expressiva, marcação de tom e construção de pertencimento a comunidades discursivas. Ao mesmo tempo, a escola continua sendo o espaço em que se exige o domínio de registros formais, especialmente na escrita acadêmica e institucional. Essa convivência de práticas coloca em evidência um desafio pedagógico: compreender como os usos linguísticos próprios do meio digital influenciam a escrita dos alunos e como transformá-los em oportunidade de aprendizagem.

Do ponto de vista linguístico, o fenômeno envolve a noção de variação e adequação de registro: diferentes contextos pedem diferentes escolhas lexicais, sintáticas e gráficas. O problema não está na existência de marcas digitais em si, mas na capacidade de alternar entre registros, identificar quando uma abreviação, um emoji ou uma hashtag é pertinente, e quando a situação demanda ortografia convencional, pontuação precisa e coesão argumentativa. Assim, o foco desloca-se de proibir traços da cultura digital para ensinar critérios de uso, fortalecendo a consciência metalinguística e a autoria.

No campo educacional, a questão ganha relevância porque práticas digitais podem tanto favorecer o engajamento e a criatividade quanto interferir em aspectos da escrita escolar (como acentuação, pontuação e organização textual) quando não há mediação. Isso convoca a escola a atuar como mediadora entre letramentos digitais e letramentos acadêmicos, planejando atividades que partam do repertório real dos estudantes (posts, comentários, threads, memes) e conduzam a reescritas orientadas em gêneros formais (resumos, relatórios, artigos, resenhas).

Nesta perspectiva, o estudo tem como objetivo geral é investigar o uso de termos próprios das redes sociais (abreviações, emojis, hashtags e gírias digitais) influencia a escrita dos alunos, especialmente quanto à ortografia, escolha de registro, coesão e estrutura textual em produções escolares formais e informais. Seguidos dos específicos que complementa o referencial teórico:

  • Analisar de que modo a mediação escolar promove a alternância consciente de registros e o uso pertinente da norma-padrão em gêneros formais;

  • Mapear as potencialidades e os riscos do uso de termos das redes sociais na leitura e na escrita dos alunos;

  • Identificar as estratégias de letramento digital integradas ao currículo.

A metodologia adotada, foi uma pesquisa qualitativa, fundamentada em revisão bibliográfica, e os dados foram coletados por meio de revisão de estudos disponíveis em plataformas Google Acadêmico. A investigação organiza-se em três eixos: (1.1) linguagem, norma-padrão e mediação escolar; (1.2) redes sociais, leitura e escrita, potencialidades e riscos; e (1.3) caminhos pedagógicos ancorados no letramento digital crítico e no currículo. Espera-se, com isso, oferecer subsídios teórico-metodológicos para planejar intervenções que transformem repertórios digitais em ganhos efetivos de clareza, coesão e adequação na escrita dos alunos.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. Linguagem, Norma-padrão e a Mediação Escolar

A linguagem é uma prática social, histórica e situada, ela se realiza nos diferentes usos que os sujeitos fazem para agir no mundo, construir identidades, negociar sentidos e participar de comunidades discursivas. Por isso, é inerentemente heterogênea: varia conforme região, grupo social, faixa etária, esfera de atividade, objetivos comunicativos e suportes de circulação (oralidade presencial, escrita escolar, mensagens instantâneas, redes sociais, gêneros acadêmicos etc.). Nessa perspectiva, não há uma língua homogênea, mas uma constelação de variedades e registros que se estabilizam em torno de expectativas de uso.

Dada a situação atual, é evidente que há cada vez mais pessoas a utilizar as redes sociais no nosso país, mas ao nível da comunicação escrita, a utilização destas redes sociais tem um impacto positivo no desenvolvimento da escrita destes utilizadores. A linguagem é dinâmica e heterogênea e se manifesta de diferentes maneiras, dependendo da situação comunicativa em que está inserida. Conforme Possenti (2002), acredita que o papel da escola é ensinar a língua padrão. Para ele, qualquer outra hipótese é um equívoco político e pedagógico; a norma padrão não desculturaliza e nem veicula uma única ideologia, pois, há uma preocupação com relação à maneira como os jovens e adolescentes escrevem, como afirma Petili e Busse (2014), vejamos:

Ler livros, jornais, revistas e textos científicos tornou-se confuso, tedioso e muitas vezes frustrante, tanto dentro quanto fora da sala de aula, em uma era de tecnologia onde os meios de comunicação são assustadores e a velocidade imparável do desenvolvimento, afetando o conhecimento e interferindo na construção da linguagem dos alunos, eles preferem passar a maioria do tempo na internet, nas redes sociais, realizando uma atividade que lhes proporcione uma efetiva ampliação do conhecimento: a leitura. Na verdade, "usuários/alunos" não sabem como tirar o máximo proveito do conteúdo de mídia social. Esse fato é muito preocupante, pois pode fazer com que eles tenham dificuldade para escrever com precisão e clareza, principalmente as correções ortográficas, como demonstrado a cada dia (Petile; Busse, 2014, p. 01)

A norma-padrão emerge como uma dessas expectativas: é um modelo convencionalizado que organiza usos considerados legítimos em contextos de maior formalidade, publicidade e preservação, documentos oficiais, textos acadêmicos, jornalísticos, jurídicos e escolares. Como toda convenção, ela é histórica e socialmente construída; não é superior às demais variedades, mas cumpre a função de padronizar práticas de escrita e fala em situações que demandam maior previsibilidade e inteligibilidade ampla. Deslocar a norma-padrão do lugar de única forma correta para o de registro adequado a certos propósitos é fundamental para reduzir o preconceito linguístico e favorecer a inclusão.

Na apresentação de Petili e Busse (2014), eles atribuíram sua própria desvantagem no domínio da escrita aos alunos, os alunos. Porque esses autores não atribuem a incompetência dos alunos no uso da escrita como ferramenta de comunicação para as redes sociais. Isso nos faz refletir sobre as atitudes dos usuários em relação às ferramentas de comunicação e interação das redes sociais. Por outro lado, podemos refletir mais sobre esta afirmação de Petili e Busse (2014), pois o comportamento de uso dos estilos de escrita pelos alunos nos recursos sociais, precisam buscar diligência em suas postagens e conversas para manter a qualidade de sua escrita. De acordo com esta reflexão, Manys (2019), diz que;

Ao perguntar aos professores sobre a importância da leitura para melhorar a escrita, ambas as partes concordaram que a leitura é importante para melhorar a escrita, e que a leitura é o foco da escrita. No entanto, os professores acreditam que a importância da leitura, reside apenas em seus conceitos, pois quando os alunos foram questionados se leem em sala de aula, a grande maioria acreditava ler muito pouco, com alguns afirmando que não liam em sala de aula. Portanto, se os professores acreditam que a leitura é importante para a escrita, devem criar mais momentos de leitura para os alunos em sua prática docente (Manys, 2010, p.11)

Nesse cenário, a escola ocupa papel estratégico como mediadora entre a pluralidade dos usos cotidianos e a cultura escrita valorizada institucionalmente. Mediar não é substituir uma variedade por outra, e sim ensinar o estudante a transitar entre registros, reconhecer quando um bilhete, uma postagem, um relatório, um artigo ou uma petição exigem escolhas linguísticas distintas. Trata-se de alfabetizar e letrar para múltiplos contextos, desenvolvendo consciência metalinguística (reflexão sobre o funcionamento da língua), competência discursiva (domínio de gêneros e situações de comunicação) e repertório estilístico (adequação de vocabulário, sintaxe e marcas de formalidade).

Assim, podemos entender a necessidade de educar as pessoas, os alunos, a importância dos hábitos de leitura e da prática da escrita. Sabemos que precisamos de exercício para obter bom tato em qualquer atividade que exija habilidades superiores, pois escrever é uma atividade que requer organização e ação sistemáticas. Para Paula (2016), a importância das escolas para o desenvolvimento da leitura e da escrita:

A leitura além de desenvolver a escrita, proporcione a ampliação do conhecimento, a aquisição de informações básicas para abrir novos horizontes e a sistematização de ideias. Nesse caso, a escola é um lugar único para esse tipo de prática de ensino da escrita por meio da leitura, e é a partir dela que os alunos ganham autonomia para voar por conta própria (Paula 2016, p. 11)

Do ponto de vista pedagógico, isso implica assumir a variação linguística como conteúdo de ensino, e não como erro a ser extirpado. Para Brasil (2018), reconhecer e valorizar as diversas práticas de linguagem e as variedades linguísticas, adequando o uso da norma-padrão às situações de comunicação. Ao analisar fenômenos como concordância, pronominalização, regência, morfossintaxe e usos lexicais, o professor pode evidenciar que existem diferentes normas de referência (cultas, populares, regionais), mostrar onde e por que a norma-padrão é demandada e propor reescritas orientadas por critérios de gênero, finalidade e público-alvo. Nessa lógica, a avaliação deixa de punir a variedade de origem do aluno e passa a observar progressos de adequação ao gênero e ao contexto, a precisão argumentativa, a coesão e a consistência normativa quando o texto o requer.

A presença das tecnologias digitais e das redes sociais intensificou a visibilidade da heterogeneidade linguística. Abreviações, emojis, hashtags, links, memes e recursos multimodais configuram práticas de linguagem que articulam texto, imagem e som, com ritmos e finalidades distintas das da escrita acadêmica (Marcuschi, 2008). A mediação escolar precisa reconhecer o valor comunicativo desses usos para, a partir deles, promover deslocamentos: da escrita instantânea para a revisão; do comentário breve para o parágrafo argumentativo; do thread para o artigo curto; do roteiro de vídeo para o resumo expandido. Em vez de antagonizar língua da internet e norma-padrão, a escola pode explorar pontes de transposição didática entre registros.

1.2. Redes Sociais, Leitura e Escrita: Potencialidades e Riscos

As redes sociais consolidaram-se como um dos principais ambientes de circulação de textos no cotidiano. Nelas, pessoas leem, escrevem, comentam, remixam e compartilham, atravessando gêneros variados: posts, threads, stories, memes, resenhas, microensaios, tutoriais, críticas, entre outros. Trata-se de um ecossistema que amplia práticas de linguagem e acelera a produção de sentidos, ao mesmo tempo em que tensiona normas, estilos e finalidades da escrita. A escola e a universidade, portanto, são desafiadas a reconhecer tais dinâmicas, potencializando-as sem perder de vista a formação para a leitura crítica e para o domínio da norma-padrão quando necessário (Possenti, 2002).

As redes sociais tornaram-se um dos principais espaços de circulação de textos e de construção de sentidos no cotidiano. Nelas, pessoas leem, escrevem, comentam e remixam conteúdos, interagindo com diferentes gêneros: posts, threads, resenhas, memes, vídeos curtos e tutoriais. Esse ecossistema amplia a participação e acelera processos de produção textual, mas também tensiona normas, valores e finalidades da escrita escolar e acadêmica. Para Santos e Archer (2016), lança um olhar crítica e extensivamente os benefícios das redes sociais para o desenvolvimento intelectual de seus usuários, vejamos:

Leitores de mídias cada vez mais perspicazes encontram novas formas de acessá-la, pois a velocidade do fluxo de informação atual tem diversidade textual e ultra escalável graças às novas tecnologias. Nas redes sociais, onde a leitura se torna rápida e cercada por diversos "hiperlinks", isso proporciona uma exposição da intertextualidade do leitor, obrigado a criticar, confrontando novos textos e autores de diferentes culturas, já que são poucos os virtuais e mundos geograficamente delimitados. Ao ler, os leitores apresentam automaticamente suas ideias, criam textos, analisam diferentes pontos de vista e servem como uma rede de aprendizado e troca de conhecimento (Santos; Archer, 2016, p. 5)

Entre as potencialidades, destaca-se o desenvolvimento de multiletramentos. Ao combinar linguagem verbal, imagem, som e hiperlinks, as redes ampliam repertórios expressivos e exigem novas habilidades de leitura: identificar propósito comunicativo, reconhecer recursos retóricos e estabelecer relações intertextuais. A audiência real e o feedback imediato também estimulam autoria, revisão e reescrita, favorecendo a percepção de que escrever é um processo.

Outro ganho está na diversidade de vozes e perspectivas. As redes sociais democratizam a publicação, permitem que grupos historicamente pouco representados circulem suas narrativas e ampliam o contato com diferentes registros linguísticos. Projetos colaborativos, clubes de leitura on-line, fóruns temáticos e grupos de estudo, fortalecem a aprendizagem entre pares e a construção coletiva de conhecimento, aproximando escola e cultura digital.

Diniz (2020) aponta que a maior parte dos leitores no Brasil pertence às classes A e B. As mulheres se destacam em relação aos homens no hábito da leitura, o grupo de jovens entre 11 e 13 anos é o que mais se dedica à leitura. Com o passar do tempo, o tempo dedicado à leitura tende a diminuir, e muitas pessoas alegam não ter tempo suficiente para se dedicar a livros. O Brasil realiza poucas iniciativas para incentivar a leitura, o que é preocupante, pois quanto menos se lê, menor é o conhecimento sobre o mundo ao redor e a capacidade de se tornar crítico e reflexivo. A chegada da internet facilitou o acesso à leitura para diversas classes sociais e idades, proporcionando um vasto universo literário. No entanto, essa leitura digital, que é tão acessível, frequentemente é utilizada apenas para atender a demandas educacionais.

Contudo, a lógica da velocidade e do scroll tende a favorecer leituras superficiais, pois a atenção fragmentada pode reduzir a capacidade de sustentar argumentos complexos e de realizar análises minuciosas de textos longos. Além disso, a busca por engajamento pode sobrepor emoção a evidência, incentivando conclusões apressadas e simplificações que empobrecem a argumentação. A desinformação é um risco significativo, conteúdos descontextualizados, boatos e manipulações visuais circulam com facilidade, exigindo do leitor estratégias de verificação: checar autoria, data, fonte primária, consistência interna e cruzamento com outras referências confiáveis. Sem esse cuidado, a escrita pode reproduzir informações falsas, comprometendo a credibilidade do autor e a qualidade do debate público.

A web promove uma evasão das normas convencionais da língua portuguesa em relação à escrita. Um dos principais desafios ocorre quando, ao redigir textos mais complexos, como uma redação, o estudante incorpora palavras truncadas ou abreviações do "internetês". De acordo com Couldry (2005), a presença desse tipo de linguagem em contextos que demandam mais formalidade pode prejudicar a integridade do idioma e seu aprendizado. Porém, esse estilo de linguagem deve ser compreendido e abordado em ambiente escolar, permitindo que os alunos o utilizem apenas em interações informais.

Para Melo e Santana (2017) enfatizam a importância de deixar claro para os estudantes que a linguagem utilizada no ambiente digital não deve ser aplicada à escrita formal. Embora essa linguagem consiga transmitir a mensagem desejada, ela viola diversas regras e normas da língua, as quais são essenciais para a sua estrutura. Para Carmo (2016), a internet apresenta tanto benefícios quanto desvantagens. Entre os benefícios, destaca-se a possibilidade de trocar mensagens de forma rápida, enquanto a desvantagem reside no fato de que essa forma de escrita digital pode impactar negativamente a rotina dos alunos, inclusive no contexto universitário. Essa realidade leva à reflexão de que a internet, que poderia ser um vasto recurso para expandir o conhecimento por meio de múltiplas leituras, muitas vezes resulta em um certo aprazamento na escrita, levando à omissão de palavras e ao esquecimento das normas que regem a língua portuguesa. Segundo Carmo (2016), é afirmado que:

É cobrado sempre ao universitário o ato da reflexão sobre o que escrever ou falar, não é aceito que ao longo de um curso o jovem não saiba escrever ou refletir sobre as suas palavras a serem transpassadas para a caligrafia convencional. Deve haver a consciência de que além de nós, fazermos entender, temos que pensar bem para sermos claros naquilo em que transpassamos, seja em qualquer sentido, falado ou escrito (Carmo, 2016, p. 04)

É fundamental que os participantes da conversa transmitam a informação de forma ágil, algo que poderia ser comprometido se fosse utilizado um estilo de escrita formal e rebuscado. Portanto, é responsabilidade do educador integrar essa linguagem digital e promover discussões sobre ela com seus estudantes. No final das contas, a utilização de abreviações e emojis representa apenas uma adaptação à velocidade exigida pela internet. Segundo Nascimento e Souza (2013) mostrou que a mensagem abreviou a palavra inteira, mas ainda resolveu o problema da pontuação. No entanto, isso deve ser visto com cautela, pois pode fazer com que os alunos esqueçam como é a grafia correta de certas palavras quando as abreviações são constantemente feitas na tela do computador. Mesmo no ensino mais tradicional, não se pode fechar os olhos para esse novo tipo de linguagem em ambiente digital.

Outro desafio é a transferência inadequada de estilos entre contextos, pois a informalidade própria das redes, abreviações, emojis, ironias, é legítima nesse ambiente, mas pode conflitar com exigências de gêneros acadêmicos e institucionais, que demandam coesão, citação adequada, padronização e maior densidade argumentativa. O ponto não é proibir variedades linguísticas, e sim ensinar a adequação do registro conforme a situação de uso. No campo pedagógico, integrações bem planejadas podem transformar riscos em oportunidades. Sequências didáticas que partem de textos de redes e conduzem à produção de gêneros formais ajudam a desenvolver análise crítica, curadoria de fontes e domínio da norma padrão quando pertinente. Rubricas claras, etapas de revisão e projetos com audiência real (boletins digitais, blogs, dossiês temáticos) fortalecem motivação e responsabilidade autoral.

1.3. Caminhos Pedagógicos: Letramento Digital Crítico e Currículo

O letramento digital crítico não se limita a saber usar tecnologias, ele envolve compreender como informações são produzidas, distribuídas e validadas, quem lucra com fluxos de atenção e dados, e de que modo algoritmos afetam o que vemos e escrevemos. Integrar essa perspectiva ao currículo significa articular conteúdos, competências e valores para formar leitores e autores capazes de analisar, criar e agir eticamente em ambientes digitais.

A educação, em suas diversas etapas e formas, continua sendo baseada em abordagens interpretativas convencionais. Isso resulta em descontinuidades no próprio conhecimento, que muitas vezes não estabelece conexões transdisciplinares com outras áreas do saber. Consequentemente, os estudantes acabam por absorver o que é ensinado sem compreender plenamente a relevância e aplicação desse conhecimento em seu contexto cotidiano (Monte Mór, 2012). Nesta mesma direção, Janks (2010) articula de forma muito clara que essa abordagem pedagógica focada em modelos tradicionais e mecânicos apenas exacerba as desigualdades sociais entre os alunos. Momentos trazidos pela globalização e inovação tecnológica exigem mudanças na própria estrutura de ensino. Isso porque acredita que as instituições de ensino ainda apresentam certa resistência ao novo ambiente que imerge na sociedade, que afeta como se comportam, se conectam, buscam o conhecimento e a alfabetização.

A integração efetiva ocorre quando o digital deixa de ser extra e passa a estruturar sequências didáticas. Em Língua Portuguesa, uma sequência pode partir de uma controvérsia pública: os estudantes mapeiam versões de um mesmo fato, analisam framing e evidências, redigem sínteses e produzem um dossiê multimídia, revisando linguagem conforme o gênero (post, reportagem escolar, resenha crítica). É importante que a escola repense seu ensino para dar espaço a um ensino letrado e crítico, moderno e relevante ao interesse social e tudo relacionado a ele, principalmente que deve deixar de lado o ensino apenas no papel para oportunizar outras oportunidades ensinar formas de letramento que possam vir do ambiente digital tal como existe na vida dos sujeitos que precisam aprender a lidar com esse novo tipo, buscando informação, formação e outros elementos correta e crítica, como observa Castells (2000).

Marcuschi (2008) enfatiza que, além de proporcionar aos estudantes a oportunidade de interagir com novos gêneros textuais essenciais para sua formação, as instituições de ensino devem superar métodos mecânicos e pouco eficazes, buscando integrar também o ensino digital. Embora essa abordagem já faça parte do cotidiano das pessoas, seu uso ainda é limitado nas instituições educativas. E ainda complementa que, vai além de expor os alunos a novos gêneros textuais críticos para a formação, é dever das instituições de ensino enraízem o ensino apenas de forma mecânica e ineficaz, que buscam digitalizar o ensino, que já está na vida das pessoas tão comum.

Segundo Freire (2009), quando uma escola fecha os olhos para o novo, ela mesma produz fracassos, que apontam que, separada da ação conjunta na construção de conceitos, ela forma alunos que muitas vezes se adequam àqueles que já dominam escrevendo código, mas não exercem autonomia sobre ela, ao contrário, encontram obstáculos quando colocados na prática mais crítica do uso efetivo da linguagem.

A curadoria torna-se conteúdo e método, pois o professor ensina a construir trilhas de leitura, combinando textos longos, podcasts, infográficos e bases de verificação, e a registrar critérios de qualidade: autoria identificada, datação, consistência entre título e corpo, vínculos e conflitos de interesse, presença de evidências Rojo e Barbosa (2015). Ao transformar a curadoria em rotina, a escola desenvolve hábitos de atenção profunda em meio à sobrecarga informacional.

A produção autoral precisa ser central, envolve projetos com audiência real, blogs, zines digitais, boletins escolares, exposições virtuais, elevam a responsabilidade com linguagem, dados e design. Rubricas de avaliação, compartilhadas desde o início, orientam planejamento, coesão, uso de fontes, ética de citação e adequação de registro Brookhart, (2013). Aa reescrita guiada, com comentários focados em tese, evidências e organização, consolida a passagem do “post rápido” para a argumentação sustentada.

A avaliação deve ser formativa e variada, portfólios digitais documentam processo e produto; autoavaliações e coavaliações convidam os estudantes a justificar escolhas, reconhecer limites e planejar avanços, como afirma Barrett (2007). Os instrumentos como mapas de verificação de fatos, checklists de acessibilidade e diários de pesquisa tornam visíveis habilidades geralmente invisíveis nas provas tradicionais, como a capacidade de rastrear fontes e de explicar por que uma informação é confiável na visão de Rose e Gordon (2014).

A formação docente é condição para a mudança, mais do que oficinas técnicas, é preciso estudo coletivo sobre cultura digital, ética de dados, direitos autorais, acessibilidade e desenho universal da aprendizagem Imbernón (2010). Planejamentos colaborativos entre áreas favorecem projetos interdisciplinares, enquanto momentos de observação de aula e devolutivas entre pares ajudam a alinhar critérios e expectativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo foi de grande relevância, pois contribuiu para compreender como abreviações, emojis, hashtags e gírias digitais migram para a escrita dos alunos e em que condições impactam ortografia, coesão e escolha de registro. Os dados reforçam que a norma-padrão é um registro funcional, requerido em contextos formais, e não uma hierarquia de formas corretas sobre a variação. A mediação escolar mostra-se decisiva para desenvolver a alternância consciente de registros: quando o ensino explicita critérios de adequação (gênero, finalidade, público e suporte), os alunos reduzem interferências do repertório digital em textos acadêmicos e ampliam precisão, coesão e argumentação.

As redes sociais oferecem potencial de engajamento, autoria e repertório lexical, mas também trazem riscos de simplificação ortográfica e fragmentação textual quando não há orientação. A revisão aponta que a transferência de traços digitais (abreviações, emojis, hashtags) para tarefas escolares é situada e mitigável: rotinas de leitura, estudo de gêneros e reescritas orientadas diminuem o vazamento de marcas informais, sem perder a motivação que nasce do cotidiano dos alunos.

Estratégias de letramento digital crítico integradas ao currículo, sequências didáticas que partem de posts/comentários e culminam em gêneros formais, rubricas de avaliação por adequação e atividades de curadoria/checagem, convertem repertórios das redes em ganhos mensuráveis de organização textual e escolha de registro. O papel do docente é articular intencionalidade pedagógica, critérios transparentes e conhecimento formativo para que a tecnologia seja meia, e não fim. A expectativa futura é que os resultados deste estudo possam contribuir para orientar práticas docentes, sequências de leitura e reescrita, critérios de adequação por gênero e rubricas claras, que convertam o repertório das redes em melhorias concretas na escrita formal.

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1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Fasa (2018-2021). Matemática pela Faculdade Rolim de Moura - FAROL (2017), e Administração de Empresas pela Faculdade de Educação de Colorado do Oeste - FAEC (2008-2012). Pós-graduação em Gestão Competitiva e Business Intelligence (bi) pela Faculdade do Vale Elvira Dayrell - FAVED (2021-2022). Neuropsicopedagogia Institucional e Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade do Vale Elvira Dayrell - FAVED (2022-2024). Educação Digital pela Faculdade de Tecnologia - SENAI (2023-2024). E-mail: [email protected]