DESAFIOS DOS PROFESSORES DIANTE DO USO DO INTERNETÊS NA COMUNICAÇÃO E NA ESCRITA DOS ALUNOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17635582
Aline Luciana de Souza1
RESUMO
O avanço das tecnologias digitais transformou as formas de comunicação, influenciando diretamente a linguagem utilizada pelos jovens e, consequentemente, o ambiente escolar. Nesse contexto, o internetês é linguagem característica da comunicação virtual que tem se tornado um desafio para os professores, especialmente no que diz respeito à escrita formal e ao ensino da norma padrão. O objetivo deste estudo foi analisar, por meio de uma revisão bibliográfica, os desafios enfrentados pelos professores diante do uso do internetês na comunicação e na escrita dos alunos, buscando compreender seus impactos no processo de ensino-aprendizagem e nas práticas pedagógicas escolares. Metodologicamente, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, apoiada em estudos relevantes sobre linguagem digital, letramento e práticas pedagógicas. Assim, as contribuições teóricas evidenciaram que o internetês não deve ser visto apenas como uma ameaça à norma culta, mas como uma manifestação legítima da linguagem em transformação, que pode ser trabalhada pedagogicamente de forma crítica e reflexiva. Conclui-se que cabe à escola e aos professores desenvolver estratégias didáticas que integrem o mundo digital ao ensino da escrita, promovendo um aprendizado mais significativo, contextualizado e coerente com as demandas da sociedade contemporânea.
Palavras-chave: Internetês; Linguagem Digital; Ensino da Escrita; Formação Docente; Práticas Pedagógicas.
ABSTRACT
The advancement of digital technologies has transformed forms of communication, directly influencing the language used by young people and, consequently, the school environment. In this context, "internetês"—language characteristic of virtual communication—has become a challenge for teachers, especially regarding formal writing and the teaching of standard language. The objective of this study was to analyze, through a literature review, the challenges faced by teachers regarding the use of "internetês" in students' communication and writing, seeking to understand its impacts on the teaching-learning process and on school pedagogical practices. Methodologically, bibliographic research was used, supported by relevant studies on digital language, literacy, and pedagogical practices. Thus, the theoretical contributions showed that internet slang should not be seen only as a threat to standard language, but as a legitimate manifestation of language in transformation, which can be worked on pedagogically in a critical and reflective way. It is concluded that it is up to the school and teachers to develop didactic strategies that integrate the digital world into the teaching of writing, promoting more meaningful, contextualized learning that is coherent with the demands of contemporary society.
Keywords: Internet slang; Digital language; Writing instruction; Teacher training; Pedagogical practices.
INTRODUÇÃO
A comunicação humana tem passado por profundas transformações com o avanço das tecnologias digitais e o surgimento das redes sociais. Nesse novo cenário, surge uma linguagem própria do ambiente virtual, conhecida como internetês, caracterizada pelo uso de abreviações, emoticons, neologismos e pela simplificação da escrita. Essa forma de expressão, amplamente utilizada pelos jovens, reflete a rapidez e a informalidade típicas das interações na internet, tornando-se um fenômeno linguístico marcante da contemporaneidade. Ao mesmo tempo em que facilita a comunicação, o internetês suscita discussões sobre seus impactos na escrita formal e no aprendizado escolar, despertando o interesse de pesquisadores e educadores para compreender seus efeitos na formação linguística dos estudantes.
No contexto escolar, o tema ganha relevância por estar diretamente relacionado ao processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa. A presença do internetês na escrita dos alunos desafia os professores a equilibrar o ensino da norma padrão com o reconhecimento das novas práticas comunicativas do mundo digital. A escola, enquanto espaço de construção do conhecimento e de formação cidadã, deve promover reflexões sobre a adequação linguística e o uso consciente das variedades da língua. Desse modo, compreender o internetês e suas implicações pedagógicas é essencial para que o ensino acompanhe as transformações sociais e tecnológicas, favorecendo uma aprendizagem significativa e contextualizada.
O objetivo geral foi analisar, por meio de uma revisão bibliográfica, os desafios enfrentados pelos professores diante do uso do internetês na comunicação e na escrita dos alunos, buscando compreender seus impactos no processo de ensino-aprendizagem e nas práticas pedagógicas escolares. A partir desse objetivo, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: identificar como o internetês tem influenciado a linguagem escrita dos alunos e suas implicações para o ensino da norma padrão; investigar as percepções e dificuldades relatadas por professores em relação ao uso do internetês no ambiente escolar; discutir estratégias pedagógicas propostas na literatura para lidar com o internetês de forma crítica e construtiva no processo educativo.
Metodologicamente, este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, com o intuito de reunir, analisar e discutir contribuições teóricas sobre o tema, a partir de obras que abordam a relação entre linguagem digital, ensino e práticas pedagógicas. O presente artigo foi estruturado em quatro partes distintas: a primeira apresenta a metodologia empregada para o desenvolvimento da escrita; a segunda concentra-se na fundamentação teórica, que aborda três eixos principais, o internetês e suas influências na linguagem escrita dos alunos, Percepções e desafios dos professores diante do uso do internetês na escola e Estratégias pedagógicas para o trabalho com o internetês no ensino da escrita; por fim, apresentam-se as considerações finais e as referências que sustentam o estudo.
1. METODOLOGIA
A metodologia empregada possui caráter teórico, fundamentando-se em produções já existentes de diferentes autores e pesquisadores que abordam a temática em questão, de modo a possibilitar uma reflexão crítica sobre as perspectivas apresentadas. Segundo Gil (2002);
O levantamento bibliográfico é realizado a partir de conteúdos já existentes, que compreendem principalmente livros e artigos acadêmicos. Embora seja comum que a maioria dos estudos exija algum formato de investigação dessa espécie, existem pesquisas que são realizadas unicamente com base em fontes bibliográficas. Muitos estudos exploratórios podem ser classificados como pesquisas desse tipo. Investigações sobre ideologias e aquelas que buscam analisar diferentes perspectivas sobre um determinado assunto também são frequentemente conduzidas quase que exclusivamente por meio de fontes bibliográficas (Gil, 2002, p. 44).
Nesse contexto, o desenvolvimento da pesquisa ocorreu em três etapas principais: (1) levantamento das obras utilizadas como referência teórica; (2) leitura crítica e análise dos textos selecionados; e (3) discussão da temática a partir da fundamentação teórica construída com base nos autores estudados.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. O Internetês e Suas Influências na Linguagem Escrita dos Alunos
Com o avanço das tecnologias digitais e o crescimento das redes sociais, novas formas de comunicação emergiram, entre elas o chamado internetês. Essa linguagem, caracterizada por abreviações, uso de emoticons, ausência de pontuação e grafias fonéticas, tornou-se comum entre os jovens, especialmente em ambientes virtuais. Segundo Marcuschi (2010), a linguagem utilizada na internet é uma manifestação legítima da língua em uso, pois reflete a dinamicidade e a adaptabilidade do português frente às novas demandas comunicativas.
Como fenômeno linguístico contemporâneo, o internetês manifesta-se por meio de abreviações, símbolos, emojis e simplificações que refletem a agilidade e a informalidade das interações digitais, conforme ilustrado na Figura 1. Essa forma de comunicação surgiu a partir da necessidade de tornar a escrita mais rápida e expressiva nos ambientes virtuais, principalmente em plataformas como redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas e fóruns online.
Figura 1 – Exemplo de expressões comumente utilizadas no internetês em ambientes digitais.
Assim, o internetês se manifesta nas interações cotidianas em ambientes digitais, evidenciando o uso de abreviações, símbolos e expressões que tornam a comunicação mais rápida e informal. Essa representação contribui para compreender a influência da linguagem virtual no modo como os estudantes se expressam, especialmente nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Assim, observa-se que o domínio dessas novas formas de comunicação é parte do contexto sociocultural atual, cabendo à escola promover reflexões sobre o uso adequado da linguagem em diferentes situações, valorizando tanto a escrita formal quanto a comunicação digital contemporânea.
O internetês não deve ser interpretado como uma ameaça à língua padrão, mas como um fenômeno sociolinguístico que expressa as transformações culturais e tecnológicas da sociedade. Bagno (2007) destaca que toda língua é viva e em constante mudança, e o erro está em considerar as variedades linguísticas como inferiores. Nesse sentido, a linguagem digital representa apenas mais uma variação linguística, adequada ao contexto informal da comunicação online.
Nesse contexto, é importante reconhecer que o internetês reflete não apenas uma simplificação linguística, mas também um processo de adaptação às novas formas de comunicação mediadas pela tecnologia. A rapidez das interações nas redes sociais e aplicativos de mensagens exige um tipo de linguagem mais dinâmica, abreviada e simbólica, o que evidencia a criatividade e a capacidade de adaptação dos falantes. Segundo Crystal (2011), a internet promoveu o surgimento de um novo espaço linguístico, no qual a escrita assume características da oralidade, criando um híbrido comunicativo que se molda às necessidades do interlocutor e do meio digital.
No entanto, o uso frequente dessa forma de escrita pelos estudantes tem levantado preocupações no âmbito escolar, principalmente quanto à interferência do internetês na escrita formal. Conforme Rojo (2012), a escola deve promover o desenvolvimento de diferentes letramentos, incluindo o digital, para que o aluno compreenda os diversos contextos de uso da língua e saiba transitar entre eles. Assim, mais do que condenar o internetês, cabe à escola orientar o aluno quanto à adequação linguística em cada situação comunicativa.
Portanto, compreender o internetês como parte integrante da evolução da linguagem é essencial para que educadores possam utilizá-lo como ponto de partida no ensino da norma culta. Ao invés de repreender o uso dessa linguagem, a escola pode transformá-la em uma ferramenta pedagógica, explorando suas diferenças e semelhanças com a escrita formal. Dessa forma, o estudante é levado a refletir sobre as funções sociais da língua e a desenvolver competências comunicativas que lhe permitam adequar seu discurso a diferentes contextos, tanto no ambiente digital quanto acadêmico.
2.2. Percepções e Desafios dos Professores Diante do Uso do Internetês na Escola
O surgimento do internetês no cotidiano dos estudantes trouxe novos desafios para a prática docente. Muitos professores relatam dificuldades em lidar com essa forma de escrita, especialmente por perceberem a presença de elementos da linguagem digital em textos escolares formais. Segundo Antunes (2003), o domínio da escrita formal exige reflexão, planejamento e consciência linguística, competências que precisam ser construídas e orientadas pela escola.
Essa realidade evidencia o confronto entre a visão da escola tradicional e a dos alunos nascidos em meio à tecnologia, fato que reflete diretamente no ambiente escolar. A chamada geração Z, composta por jovens que cresceram conectados ao mundo digital, tende a perceber o modelo escolar tradicional como desinteressante e pouco dinâmico, o que contribui para a atual crise educacional. Essa geração, acostumada à rapidez das informações e à constante interação virtual, demonstra dificuldade em se adaptar a práticas pedagógicas que não dialogam com seu cotidiano digital.
Atualmente ocupando as classes do Ensino Fundamental e Médio, a geração Z acabou com o reinado das aulas puramente expositivas. Já não basta intercalar conteúdos e exercícios: para atrair a atenção dos jovens, a tecnologia tornou-se a principal aliada dos professores (Cherubin, 2012, p. 1). Essa transformação impõe à escola o desafio de repensar suas metodologias, buscando estratégias que integrem os recursos tecnológicos e a linguagem digital ao processo de ensino-aprendizagem.
Conceituando historicamente, as gerações foram classificadas a partir do período pós-Segunda Guerra Mundial, não havendo registros de denominações anteriores. Surgiu então a chamada geração X, formada pelos filhos dos babies boomers — expressão utilizada para designar as crianças nascidas em decorrência da explosão populacional ocorrida após o conflito. Quando os soldados retornaram da guerra, reassumiram suas vidas familiares e, sentindo-se em segurança, contribuíram para um período de grande aumento no número de nascimentos (Oliveira, 2010).
As novas formas de comunicação digital, amplamente utilizadas pelos alunos, exigem que o professor compreenda os códigos e expressões próprios do ambiente virtual, como ilustrado na Figura 2. Essa compreensão é fundamental para que o docente possa estabelecer uma ponte entre a linguagem digital e a escrita formal, promovendo o desenvolvimento de competências linguísticas adequadas a diferentes contextos de uso. Nesse sentido, o papel do professor vai além de corrigir desvios linguísticos: ele deve atuar como mediador, auxiliando o estudante a reconhecer quando e como utilizar cada tipo de linguagem.
Figura 2 – Representação do uso do internetês por estudantes em interações digitais.
De acordo com Bortoni-Ricardo (2005), o preconceito linguístico ainda é um obstáculo nas práticas pedagógicas, uma vez que muitos docentes interpretam as variações linguísticas como desvios da norma culta. Essa visão tradicional acaba reforçando uma postura punitiva diante do uso do internetês, em vez de promover uma abordagem crítica e formativa. O professor precisa compreender que a linguagem digital faz parte da realidade comunicativa dos alunos e, portanto, pode ser um ponto de partida para o ensino da escrita formal.
Nesse sentido, é fundamental que a escola adote uma postura inclusiva e reflexiva em relação às novas formas de comunicação, reconhecendo que a linguagem é dinâmica e se transforma conforme as mudanças sociais e tecnológicas. Ao invés de reprimir o uso do internetês, é necessário compreender seus aspectos socioculturais e utilizá-lo como ferramenta pedagógica para aproximar o ensino da realidade dos estudantes. Essa valorização das múltiplas linguagens contribui para que o aluno desenvolva consciência linguística e perceba as diferenças entre o uso formal e o informal, sem que isso se torne motivo de exclusão ou julgamento.
Outro fator relevante é a necessidade de formação continuada. Conforme Moran (2018), o professor da era digital precisa reinventar suas práticas, compreendendo as novas linguagens e os modos de expressão emergentes no ambiente virtual. Quando a escola se mostra distante das transformações tecnológicas e culturais, o ensino tende a se tornar descontextualizado, afastando o aluno do aprendizado significativo.
Portanto, o desafio dos professores diante do internetês não está apenas em corrigi-lo, mas em entender seu papel no desenvolvimento linguístico e social dos estudantes. É fundamental que o docente reconheça essa linguagem como parte da cultura digital e busque estratégias pedagógicas que promovam uma convivência equilibrada entre o digital e o formal.
2.3. Estratégias Pedagógicas para o Trabalho com o Internetês no Ensino da Escrita
Com a chegada da internet em nosso cotidiano cresce a cada segundo o número de usuários que navegam na rede mundial de computadores, ocorrendo assim mudanças nos modos de pensar e agir nesse mundo globalizado e virtualizado (Levy, 1999), no qual as fronteiras geográficas se extinguem e novos saberes são amplamente divulgados nas diversas áreas do conhecimento. Neste sentido, o campo educativo pode explorar as tecnologias das redes on-line. Mas para tanto, as escolas devem estar preparadas e equipadas, com profissionais qualificados para transformar e inovar o espaço escolar, que devem transformar suas práticas pedagógicas.
Os docentes devem inserir de forma qualitativa o mundo virtual em suas práticas pedagógicas, já que a rede mundial de computadores é um meio de relevantes possibilidades pedagógicas (Mercado, 2006). Desta forma, alteram-se metodologias e técnicas de ensino e, para tanto, a formação docente deve permitir que adquira saberes sobre a informática educativa, entendendo motivos e maneiras de integrar as tecnologias digitais em seu cotidiano pedagógico, superando, inclusive, barreiras administrativas e pedagógicas (Valente, 1997).
A partir dessa perspectiva, o enfrentamento das dificuldades relacionadas ao uso do internetês deve partir de uma postura pedagógica reflexiva e inclusiva, em vez de proibir ou punir o uso dessa linguagem, o professor pode transformá-la em um objeto de estudo, explorando suas características, origens e funções comunicativas. Rojo (2013) propõe o conceito de multiletramentos, que reconhece a coexistência de múltiplas formas de leitura e escrita, inclusive as mediadas pelas tecnologias digitais.
Nesse sentido, a adoção de práticas que dialoguem com o universo digital contribui diretamente para o letramento crítico dos alunos, possibilitando que compreendam quando e como utilizar diferentes registros da língua. Kenski (2012) ressalta que a escola precisa integrar a tecnologia às práticas pedagógicas de maneira criativa e contextualizada, pois os estudantes já fazem uso dessas ferramentas em seu cotidiano. Assim, atividades que envolvam a comparação entre textos formais e informais, a reescrita de mensagens digitais e a análise de gêneros digitais podem tornar o processo de aprendizagem mais significativo.
O trabalho pedagógico com o internetês, portanto, pode incluir estratégias de reflexão e análise sobre a adequação linguística, levando o aluno a compreender as diferenças entre a linguagem formal e a informal conforme o contexto comunicativo. A Figura 3 ilustra esse processo ao representar exemplos práticos de como o professor pode utilizar mensagens digitais, posts ou conversas virtuais em sala de aula como instrumentos de aprendizagem. Essa abordagem visual demonstra que a presença das tecnologias e das linguagens digitais não precisa ser um obstáculo, mas sim uma ferramenta pedagógica poderosa, capaz de aproximar o conteúdo escolar da realidade dos estudantes e de promover uma aprendizagem mais interativa, crítica e contextualizada.
Figura 3 – Comparativo entre a escrita formal e o internetês: adequação linguística em diferentes contextos.
Fonte: Elaboração própria, 2025.
O comparativo entre a escrita formal e o internetês permite compreender a importância da adequação linguística em diferentes contextos comunicativos. Enquanto a escrita formal segue normas gramaticais e estruturais mais rígidas, exigindo clareza, coerência e precisão, especialmente em produções acadêmicas, profissionais e institucionais, o internetês caracteriza-se pela informalidade, pela brevidade e pelo uso de expressões que refletem a espontaneidade da linguagem oral. Essa comparação possibilita ao aluno reconhecer que ambas as formas de comunicação possuem função e valor dentro de seus respectivos contextos. Ao trabalhar essas diferenças em sala de aula, o professor contribui para o desenvolvimento da consciência linguística dos estudantes, levando-os a perceber que o domínio da norma culta não exclui o uso das linguagens digitais, mas exige discernimento para escolher a mais adequada a cada situação comunicativa
Além disso, o uso de metodologias ativas e práticas colaborativas pode facilitar a aproximação entre o mundo digital e o escolar. Pretto (2019) defende que o papel do professor, nesse cenário, é o de mediador do conhecimento, orientando os alunos a interpretarem criticamente as informações que circulam nas redes e a produzir textos adequados a diferentes contextos. A linguagem digital, portanto, pode ser usada como um recurso pedagógico que estimula a criatividade, a reflexão e a valorização da diversidade linguística.
Nesse contexto, é essencial que a escola se posicione como um espaço de diálogo entre as linguagens tradicionais e as novas formas de expressão digital. O professor deve reconhecer que os alunos já são produtores de textos em ambientes virtuais e, portanto, precisam ser orientados quanto ao uso crítico e consciente dessas linguagens. Ao incorporar o universo digital em suas práticas pedagógicas, o docente favorece a construção de um aprendizado mais participativo, em que o estudante se torna protagonista do processo, compreendendo que a escrita é uma ferramenta de interação social que ultrapassa os limites da sala de aula.
Para Lévy (1999), a cibercultura redefine as formas de comunicação e de aprendizagem, exigindo uma nova postura dos educadores diante das transformações tecnológicas. Com base nisso, é possível afirmar que o ensino da escrita na contemporaneidade deve considerar tanto a norma padrão quanto as linguagens emergentes, de modo a formar cidadãos críticos, autônomos e competentes na comunicação em diferentes esferas sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como tema os desafios enfrentados pelos professores diante do uso do internetês na comunicação e na escrita dos alunos, buscando compreender como essa linguagem digital, típica da era das tecnologias e das redes sociais, influencia o processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa, desenvolvida por meio de uma revisão bibliográfica, permitiu refletir sobre as transformações linguísticas que emergem no contexto escolar e sobre a necessidade de repensar o papel do professor diante das novas práticas comunicativas da geração conectada. Discutir o internetês no ambiente educacional é, portanto, reconhecer que a linguagem acompanha a evolução da sociedade e que o ensino precisa dialogar com essa realidade sem perder o compromisso com a norma culta e com a formação integral do aluno.
Os objetivos propostos na pesquisa mostraram-se satisfatórios, uma vez que possibilitaram compreender, sob uma perspectiva teórica e crítica, os principais desafios enfrentados pelos professores diante do uso do internetês na comunicação e na escrita dos alunos. A revisão bibliográfica revelou que o fenômeno, longe de representar apenas uma ameaça à norma culta, reflete as transformações linguísticas e culturais próprias da era digital. Assim, os objetivos foram alcançados ao evidenciar a necessidade de repensar as práticas pedagógicas e promover um ensino que dialogue com a realidade comunicativa dos estudantes.
Ao identificar as influências do internetês na escrita, as percepções dos docentes e as estratégias possíveis de trabalho, foi possível reafirmar a relevância de compreender essa linguagem como um produto social e não como um desvio. O estudo evidenciou que a dificuldade dos professores em lidar com o internetês está diretamente relacionada à falta de preparo para integrar as tecnologias e as novas formas de expressão às práticas escolares. Desse modo, torna-se urgente investir em formações continuadas que abordem o letramento digital e a diversidade linguística no contexto educacional.
Conclui-se, portanto, que o enfrentamento dos desafios impostos pelo internetês requer uma postura pedagógica aberta, reflexiva e contextualizada. O professor precisa reconhecer a coexistência entre a linguagem formal e a digital como parte do processo de aprendizagem, utilizando-as de maneira complementar. Ao adotar estratégias que aproximem a escola do universo digital, o docente contribui para o desenvolvimento de alunos mais críticos, criativos e capazes de se expressar adequadamente em diferentes contextos comunicativos, consolidando, assim, os propósitos formativos desta pesquisa.
Como toda pesquisa, este estudo apresenta algumas limitações que merecem ser consideradas. A principal refere-se ao recorte metodológico adotado, uma vez que, por se tratar de uma revisão bibliográfica, a investigação se baseou em estudos já publicados, o que restringe a análise a perspectivas teóricas e contextos previamente documentados. Dessa forma, os resultados aqui discutidos não podem ser generalizados para todas as realidades escolares, pois cada ambiente educacional possui especificidades socioculturais e tecnológicas que influenciam o modo como o internetês se manifesta na escrita dos alunos e nas práticas docentes.
Apesar dessas limitações, espera-se que este trabalho contribua para ampliar o debate sobre o papel da escola e dos professores diante das novas formas de linguagem digital. A compreensão crítica do internetês e de suas implicações na comunicação e na escrita pode favorecer a construção de estratégias pedagógicas mais contextualizadas e inclusivas, que reconheçam a diversidade linguística e valorizem o diálogo entre o mundo digital e o universo escolar.
Assim, incentiva-se a continuidade das investigações sobre o tema, tanto em estudos teóricos quanto em pesquisas de campo, que possam observar de forma mais direta as práticas pedagógicas e as percepções docentes em diferentes níveis de ensino. O aprofundamento desse debate é essencial para o fortalecimento da formação docente e para a construção de uma educação que integre as linguagens digitais ao processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais significativo, participativo e transformador.
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1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Fasa (2018-2021). Matemática pela Faculdade Rolim de Moura - FAROL (2017), e Administração de Empresas pela Faculdade de Educação de Colorado do Oeste - FAEC (2008-2012). Pós-graduação em Gestão Competitiva e Business Intelligence (bi) pela Faculdade do Vale Elvira Dayrell - FAVED (2021-2022). Neuropsicopedagogia Institucional e Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade do Vale Elvira Dayrell - FAVED (2022-2024). Educação Digital pela Faculdade de Tecnologia - SENAI (2023-2024). E-mail: [email protected]