POVOS SEM TERRITÓRIO E AS POLÍTICAS SUPRANACIONAIS: UMA ANÁLISE DA DESTERRITORIALIZAÇÃO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13583792


Hugo Kfouri de Paula1
Atila Barros2


RESUMO
Este artigo analisa o fenômeno da desterritorialização, focando em como políticas supranacionais e interesses econômicos reconfiguram comunidades ao redor do mundo, gerando desigualdades e crises territoriais. O estudo aborda os casos dos curdos e dos palestinos, grupos étnicos sem Estado que enfrentam desafios significativos em suas lutas por autonomia e reconhecimento. O artigo utiliza uma abordagem multidisciplinar para compreender como esses grupos resistem às adversidades e buscam promover suas agendas políticas, oferecendo percepções valiosos para a formulação de políticas públicas e intervenções internacionais.
Palavras-chaves: Desterritorialização. Curdos. Palestinos. Políticas supranacionais.

ABSTRACT
This article analyzes the phenomenon of deterritorialization, focusing on how supranational policies and economic interests reshape communities around the world, generating inequalities and territorial crises. The study examines the cases of the Kurds and Palestinians, stateless ethnic groups that face significant challenges in their struggles for autonomy and recognition. The article employs a multidisciplinary approach to understand how these groups resist adversity and seek to promote their political agendas, offering valuable insights for the formulation of public policies and international interventions.
Keywords: Deterritorialization. Kurds. Palestinians. Supranational policies.

INTRODUÇÃO

A desterritorialização, um fenômeno cada vez mais presente em diversas partes do mundo, resulta de um conjunto complexo de políticas supranacionais e interesses econômicos que reconfiguram espaços e comunidades. Este estudo se propõe a analisar como processos como a gentrificação, aliados às intervenções de instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), exacerbam as desigualdades sociais. Esses processos mobilizam grandes contingentes populacionais, gerando crises territoriais e deslocamentos em massa, o que evidencia a necessidade de uma análise crítica mais aprofundada dessas dinâmicas.

Um exemplo emblemático de desterritorialização pode ser observado na trajetória histórica dos curdos, o maior grupo étnico sem Estado, que luta há décadas por autonomia e reconhecimento. No Iraque, o Governo Regional do Curdistão (KRG) desempenha um papel central na administração de seu território, com uma economia fortemente dependente da exploração petrolífera. Essa dependência não só sustenta a administração local, mas também influencia as estratégias de desenvolvimento econômico da região. Além disso, o apoio internacional, tanto militar quanto humanitário, tem sido crucial para a resistência curda contra o Estado Islâmico e outras ameaças regionais (Gunter, 2008; Romano, 2006).

No contexto da Síria, os curdos representam cerca de 15% da população total, aproximadamente 1,9 milhão de pessoas, o que faz deles a maior minoria étnica no país. Concentram-se principalmente no nordeste e norte do território, mas também possuem comunidades significativas em cidades como Alepo e Damasco. Essas populações enfrentam desafios adicionais devido à instabilidade política e à guerra civil, o que intensifica sua luta por reconhecimento e autonomia. O estudo explora como essas fontes de financiamento internacional afetam a capacidade do KRG de manter a governança local e fomentar o desenvolvimento, ao mesmo tempo em que refletem as complexas interações entre economia, política e poder em um contexto global.

Em um cenário paralelo, os palestinos enfrentam desafios semelhantes, mas em um contexto marcado por um histórico prolongado de deslocamento e ocupação. A assistência internacional, fornecida principalmente pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), desempenha um papel constitucional ao oferecer suporte em áreas essenciais como saúde, educação e assistência humanitária (Said, 1992). Entretanto, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) enfrenta dificuldades significativas na administração dos territórios sob seu controle, dependendo de um fluxo contínuo de ajuda externa para manter sua governança (Khalidi, 2006). O estudo investiga como o financiamento internacional e a assistência humanitária não apenas garantem a sobrevivência dos palestinos, mas também influenciam suas aspirações políticas e a eficácia das instituições palestinas na implementação de políticas públicas.

Ao analisar os casos dos curdos e palestinos, é possível traçar um panorama mais amplo sobre os mecanismos pelos quais grupos sem pátria buscam sustentar sua sobrevivência e promover suas agendas políticas, mesmo em face de adversidades significativas. A pesquisa adota uma abordagem multidisciplinar, combinando métodos qualitativos e quantitativos para oferecer uma visão abrangente e detalhada sobre as complexidades desses processos de desterritorialização. Essa análise não apenas enriquece o debate acadêmico, mas também fornece percepções valiosas para a formulação de políticas públicas e intervenções internacionais que busquem mitigar os impactos negativos da desterritorialização em comunidades vulneráveis.

CONTEXTOS HISTÓRICOS E GEOPOLÍTICOS

O processo de formação dos Estados nacionais na Europa Ocidental, iniciado no século XII, foi moldado por intensos conflitos armados e transformações socioeconômicas profundas. A definição de fronteiras, frequentemente marcada por disputas violentas, levou à formação de Estados que, em muitos casos, englobam uma diversidade de povos. A coexistência dessas diferentes comunidades nem sempre é pacífica: enquanto alguns países conseguiram integrar e reconhecer essa pluralidade dentro de suas instituições políticas, outros enfrentam conflitos contínuos entre suas nações internas, refletindo-se nas estruturas governamentais. Esse contexto frequentemente resulta em fenômenos graves, como genocídios, guerras civis e regimes que subjugam etnias específicas (Spohr et al., 2011).

Os curdos são amplamente reconhecidos como a maior nação sem um Estado próprio. No entanto, a definição dos curdos como uma etnia uniforme é frequentemente questionada devido às significativas diferenças entre os indivíduos, como idioma, religião e formas de organização social (Bruinessen, 1992). Além disso, há casos em que a noção de um movimento unificado entre os curdos dos diversos países onde estão presentes é rejeitada por alguns indivíduos.

A posição geográfica dos curdos, situada em uma região historicamente marcada por intensos conflitos e elevadas taxas de mortalidade, bem como sua localização estratégica como um corredor entre três continentes, intensifica a importância da questão curda. A presença de vastas reservas de petróleo e das nascentes dos importantes rios Tigre e Eufrates adiciona uma camada adicional de complexidade, exacerbando as tensões entre as diferentes forças políticas regionais.

Em um cenário marcado por lutas históricas, diversidade étnica e religiosa, e conflitos territoriais, muitos grupos minoritários enfrentam perseguições e até extermínios (Harvey, 2004). Ao abordar tais questões em uma pesquisa, é categórico manter a objetividade, sem tomar partido, mas com um foco nas questões humanitárias e nos ideais de um mundo onde todos possam coexistir (Lévi-Strauss, 2015). As agendas globais, especialmente aquelas promovidas pelas Nações Unidas, refletem uma crescente polarização no mundo contemporâneo (Julião, 2016).

Os curdos, um povo sem Estado, têm recebido apoio significativo dos Estados Unidos, o que poderia, em teoria, facilitar a concretização de um Estado curdo, que transcenderia as barreiras ideológicas e culturais, adquirindo uma base territorial (Harvey, 2006). Esse apoio se insere em um contexto geopolítico onde, à semelhança de antigos conflitos entre potências como Inglaterra e França, o mundo hoje vê uma disputa entre o capitalismo ocidental e as influências da China e da Rússia (Harvey, 2013).

Os curdos são conhecidos por sua resistência, incluindo a participação destacada das mulheres nas forças armadas (Oliveira Et Al., 2014). No entanto, sua luta se dá em meio a tensões com países vizinhos como a Síria e o Iraque, onde o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) é influente, além da Turquia e do Irã (Harvey, 2005). A figura histórica de Saladino, herói curdo do século XII, continua a simbolizar a resistência e o orgulho deste povo (Lévi-Strauss,1998).

Sob a perspectiva de Lévi-Strauss, ao analisarmos o conflito envolvendo os curdos, podemos identificar a distinção que ele faz entre modelos mecânicos e modelos estatísticos, possivelmente inspirada pela diferenciação proposta por Durkheim (1898) em Divisão do Trabalho Social (1877) e O Suicídio (1897). Os modelos mecânicos operam na mesma escala dos fenômenos observados, enquanto os modelos estatísticos se aplicam em uma escala diferente. No entanto, para este trabalho, a distinção mais significativa é entre modelos conscientes e inconscientes.

As estruturas sociais são objetos independentes da consciência que deles têm os homens (cuja existência elas, no entanto, regulam) e tão capazes de serem diferentes da imagem que eles têm delas como a realidade física difere da representação sensível que dela temos (...) (Lévi-Strauss, 1952: 302).

A luta curda pode ser comparada à dos palestinos, outro povo que luta pela sobrevivência e por um reconhecimento que os diferencie dos árabes, não apenas no campo religioso, mas também cultural (Harvey, 2004). Embora muitos palestinos sejam muçulmanos, a sua identidade é sustentada por uma complexa rede de organizações islâmicas, desde a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que outrora buscava um projeto político de Estado, até grupos paramilitares como o Hamas e o Hezbollah, frequentemente associados ao terrorismo (Harvey, 2013).

A análise se baseia em conceitos de geografia crítica, conforme explorado por David Harvey, e integra reflexões de entrevistas e artigos, como os encontrados no site "Outras Palavras", onde Saadi Youssef, traduzido por Pedro Lucas Dulci, relata suas experiências de campo (Harvey, 2013). Harvey descreve a beleza da paisagem da região curda, mas também enfatiza a gravidade dos conflitos, que violam diretamente os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) (Harvey, 2006). Em Kobane, uma cidade icônica na luta curda, cerca de 80% de sua infraestrutura foi destruída, algo que, segundo Harvey, não recebe a devida atenção na mídia internacional, ao contrário do que ocorre na questão palestina, onde o marketing religioso desempenha um papel mais evidente (Harvey, 2013).

A destruição significativa de Kobane ocorreu durante o cerco de Kobane, que aconteceu entre setembro de 2014 e janeiro de 2015 (Harvey, 2006). Neste período, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) tentou capturar a cidade, que é um símbolo importante para os curdos na Síria. As forças curdas, principalmente as Unidades de Proteção Popular (YPG), resistiram ao ataque com o apoio de bombardeios aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos (Oliveira et al., 2014).

David Harvey, ao tentar entrar em Kobane, não apenas destaca a importância de estudar a luta curda como um episódio histórico, mas também sublinha a necessidade de utilizar essa compreensão para a reconstrução educacional e a implementação de políticas sociais que possam promover a democracia e a estabilidade na região (Harvey, 2006). A resistência curda em Kobane simboliza a luta por autodeterminação em meio a um cenário de devastação e opressão, e a análise de Harvey sugere que o estudo aprofundado desses eventos é essencial para a criação de estratégias que possam transformar a realidade local (Harvey, 2013). A aplicação dessas medidas não se limita à reconstrução física, mas inclui também a restauração de estruturas sociais e políticas que possibilitem o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e democrática, evidenciando que o conhecimento acadêmico pode e deve ser uma ferramenta para a transformação social em regiões de conflito (Harvey, 2004).

As violações dos direitos internacionais, particularmente o direito à propriedade, são comuns tanto em territórios palestinos quanto em regiões curdas, onde casas, hospitais e escolas são frequentemente alvos de ataques, sob o pretexto de abrigarem combatentes ou de servirem como bases de operações (Harvey, 2013). Harvey defende a criação de um governo autônomo para os curdos, similar ao que foi proposto para os palestinos (Harvey, 2005). No entanto, enquanto os curdos recebem apoio principalmente dos EUA, os palestinos se opõem à influência americana, sendo apoiados por estados árabes e por forças políticas alinhadas ao socialismo (Lévi-Strauss,1998).

COLONIALISMO, MIGRAÇÕES E NOMADISMO

A região do Oriente Médio, historicamente marcada por colonialismo, migrações e nomadismo, hoje é palco de complexas interações entre tratados internacionais e as ações das potências como China, Rússia, Estados Unidos e a União Europeia (Harvey, 2013). A famosa frase do filme Lawrence da Arábia (1962), produzido pela Columbia Pictures, "Que tanto interesse em terras só de areia?", revela-se irônica, pois essas terras abrigam riquezas minerais e um potencial estratégico que transcende a sua aparente aridez (Harvey, 2004). Além disso, a luta contra o Estado Islâmico, um dos grupos terroristas mais brutais do século XXI, trouxe à tona a resiliência desses povos, comparável aos tempos bárbaros (Harvey, 2013).

Durante as décadas de 1950 e 1960, a percepção do Oriente Médio no mundo ocidental foi amplamente moldada por uma série de fatores políticos, econômicos e estratégicos que refletiam as complexas dinâmicas da Guerra Fria. A região tornou-se um palco crucial na disputa global entre o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos e seus aliados da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e o bloco soviético. Os interesses estratégicos das potências ocidentais estavam voltados para a contenção da influência soviética, e o Oriente Médio foi visto como um terreno vital para a prevenção da expansão do comunismo (Gaddis, 2005).

A descoberta de extensas reservas de petróleo na região elevou sua importância econômica para o ocidente. O petróleo, um recurso estratégico essencial, provocou uma intensa competição por controle e proteção das rotas de exploração e das concessões. As potências ocidentais investiram pesadamente na infraestrutura da região e estabeleceram acordos econômicos com os países produtores de petróleo para assegurar o fornecimento contínuo desse recurso vital (Yergin, 1991).

O surgimento do Estado de Israel em 1948 adicionou uma nova camada de complexidade à percepção ocidental do Oriente Médio. O apoio significativo dos Estados Unidos a Israel, tanto política quanto militarmente, contribuiu para uma percepção de alinhamento ocidental com o Estado israelense em contraste com os países árabes circundantes. As guerras de 1956 e 1967, especialmente a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias, foram vistas como evidências do poder militar ocidental e influenciaram profundamente a política e a percepção da região no ocidente (Kissinger, 2011).

Além dos aspectos políticos e econômicos, a percepção ocidental do Oriente Médio na época foi fortemente influenciada por estereótipos e representações orientalistas. Essas representações frequentemente retratavam a região como exótica, atrasada e turbulenta, refletindo uma visão eurocêntrica que minimizava a complexidade social e política do Oriente Médio e o reduzía a um cenário de instabilidade e conflito (Said, 1978).

Os movimentos de nacionalismo árabe e descolonização, liderados por figuras como Gamal Abdel Nasser, também desempenharam um papel significativo na forma como o Oriente Médio era percebido no ocidente. Nasser e outros líderes árabes promoveram uma agenda pan-arabista que desafiava a influência ocidental e buscava maior autonomia econômica e política. A resposta ocidental a esses movimentos variou, incluindo esforços para apoiar regimes aliados e tentativas de desacreditar movimentos que se opunham à influência ocidental (Cleveland & Bunton, 2009).

A criação da agenda pan-arabista é um movimento político e ideológico que busca a unificação dos países árabes em uma única entidade política, cultural ou econômica. Surgida no início do século XX, a ideia central do pan-arabismo é promover a integração dos estados árabes, baseando-se na língua árabe, na cultura e na história compartilhada. Este movimento pretende criar uma nação árabe unificada ou uma federação de estados árabes que transcenda as fronteiras nacionais estabelecidas pelo colonialismo europeu e pelos tratados internacionais.

O pan-arabismo tem como um de seus principais objetivos a unidade política entre os países árabes, promovendo uma identidade comum que une diversas nações sob uma mesma bandeira. Além disso, o movimento busca fortalecer a solidariedade econômica e social entre os países árabes, visando uma cooperação mais robusta e a melhoria das condições de vida através de iniciativas regionais conjuntas (Hisham, 2010).

Durante o início do século XX, o pan-arabismo ganhou força principalmente no contexto da descolonização. Intelectuais e líderes políticos, que buscavam a independência dos territórios árabes sob domínio europeu, promoveram a ideia de unificação. Essa visão foi particularmente destacada durante os anos 1950 e 1960, quando o pan-arabismo atingiu seu auge com líderes como Gamal Abdel Nasser do Egito. Nasser tentou implementar a unificação árabe através da criação da República Árabe Unida (RAU) em 1958, uma tentativa de unificação entre o Egito e a Síria. No entanto, a RAU se dissolveu em 1961, ilustrando as dificuldades práticas em realizar a agenda pan-arabista (Zahlan, 1991).

A partir dos anos 1970, o pan-arabismo começou a declinar, enfrentando diversos desafios, como conflitos internos entre países árabes, interesses nacionais divergentes e o surgimento de outros movimentos políticos e islamistas. A competição entre regimes nacionais e o fracasso de projetos de unificação enfraqueceram a causa pan-arabista (Khalidi, 2009). Embora a unificação política plena não tenha sido alcançada, os princípios do pan-arabismo continuam a influenciar a política e a cultura no mundo árabe, servindo como referência para movimentos que buscam promover a cooperação e a solidariedade entre os estados árabes. A realidade política contemporânea, marcada por divisões internas e conflitos regionais, apresenta desafios significativos à realização completa da agenda pan-arabista (Hisham, 2010).

Assim, a percepção ocidental do Oriente Médio durante as décadas de 1950 e 1960 foi moldada por uma confluência de interesses estratégicos e econômicos, tensões geopolíticas e representações culturais influenciadas pela Guerra Fria. Esses fatores interagiram para definir a política e a diplomacia ocidentais na região e continuariam a moldar as relações internacionais nos anos subsequentes.

Durante as décadas de 1950 e 1960, os curdos no Oriente Médio enfrentaram uma complexa teia de desafios políticos e sociais em sua busca por autodeterminação e reconhecimento. A região curda, que se estende por partes da Turquia, Irã, Iraque e Síria, viu um aumento significativo nas tensões e movimentos políticos durante esse período.

Na Turquia, a situação dos curdos foi marcada por um crescente sentimento separatista. O governo turco, sob a liderança de Adnan Menderes e, posteriormente, de regimes militares, lidava com uma crescente pressão por autonomia curda. O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que emergiria no final da década de 1970, tinha suas origens em movimentos políticos e culturais que buscavam maior autonomia para a região curda. Nos anos 1950 e 1960, as tensões entre o governo turco e a população curda se intensificaram, refletindo um ambiente de repressão e conflitos persistentes (McDowall, 2004).

No Irã, a situação dos curdos era igualmente tumultuada. Sob o regime do xá Reza Pahlavi, os curdos iranianos buscavam maior autonomia e reconhecimento cultural. O Curdistão iraniano, como era conhecido, viu uma mobilização política significativa em torno da demanda por autonomia. O governo iraniano respondeu com uma combinação de repressão e tentativas de integração forçada, exacerbando ainda mais as tensões na região (Keddie, 2003).

A situação no Iraque durante essas décadas também foi marcada por uma crescente demanda por autonomia curda. O Movimento Nacional Curdo, liderado por Mustafa Barzani, procurava uma maior autonomia dentro do Iraque. Este período testemunhou uma série de rebeliões e negociações entre o governo iraquiano e líderes curdos, refletindo a complexa dinâmica política e a luta contínua por um equilíbrio entre a unidade nacional e os direitos curdos (Gunter, 1990).

Na Síria, os curdos enfrentavam uma marginalização e exclusão significativas sob o regime de Hafez al-Assad. A falta de reconhecimento oficial e a restrição dos direitos culturais curdos eram questões centrais nas relações entre os curdos e o governo sírio durante esse período. O regime sírio não reconhecia formalmente os direitos curdos, e a exclusão dos curdos das esferas políticas e administrativas do país foi uma característica constante da relação entre o governo e a população curda (Haddad, 2016).

Além das questões internas, a luta dos curdos foi influenciada pelo contexto global da Guerra Fria. As potências ocidentais e a União Soviética tinham interesses estratégicos na região devido à sua localização e às reservas de petróleo. O apoio internacional aos movimentos curdos era variável e frequentemente condicionado por considerações geopolíticas, com as potências internacionais alinhando-se com diferentes governos e grupos na região conforme suas estratégias políticas e econômicas (Cleveland & Bunton, 2009).

Assim, as décadas de 1950 e 1960 foram um período de intensa luta para os curdos, caracterizado por uma combinação de políticas repressivas internas e manobras geopolíticas externas. A busca dos curdos por autodeterminação e maior autonomia continuava a ser uma questão central, estabelecendo as bases para os conflitos e movimentos subsequentes e influenciando a política regional e internacional nos anos seguintes.

OS DESAFIOS DA COEXISTÊNCIA E DA AUTODETERMINAÇÃO CURDA

Além das variações nos sistemas políticos de cada país, a dinâmica internacional exerce um papel crucial na atual situação dos curdos. A invasão do Iraque pelos Estados Unidos, Reino Unido e seus aliados em 2003 provocou uma transformação significativa na posição política da minoria curda no Iraque. Apesar de já gozarem de um governo autônomo no Norte, a Guerra do Iraque possibilitou a ampliação da influência curda no processo de tomada de decisões em Bagdá.

Simultaneamente, na Turquia, a única alternativa para a obtenção de direitos curdos estava vinculada à adaptação do país aos critérios necessários para a adesão à União Europeia, que se tornou um dos principais objetivos da política externa turca. Esta mudança nas dinâmicas de poder internacional e interna reflete a complexidade da situação curda.

A influência internacional demonstra uma faceta adicional da realidade curda. Os principais avanços em direção à autonomia curda nos dois países não foram frutos diretos das mobilizações curdas, mas sim resultantes de mudanças repentinas nas estruturas políticas, frequentemente impulsionadas por eventos fora do controle dos partidos e lideranças curdas.

Nas últimas décadas, os objetivos da luta curda sofreram consideráveis transformações. A diminuição das exigências é uma característica comum a ambos os movimentos curdos, uma vez que a repressão governamental dificultou a realização dos objetivos iniciais. Atualmente, a busca por um Curdistão independente e unificado não figura mais nos discursos dos principais movimentos curdos, que agora se concentram na autonomia de suas regiões dentro dos respectivos países.

O processo de formação da consciência étnica curda esteve interligado ao processo de formação dos Estados nacionais dos países em que vivem, baseado na diferenciação dos curdos em relação às etnias dominantes locais. Hoje, a consciência étnica “pancurda[3]” não se reflete adequadamente nas ações dos diferentes grupos curdos, que frequentemente entram em conflito ou se aliam aos Estados nacionais contra seus semelhantes.

As perspectivas para a situação curda nos dois países estão intimamente ligadas aos desdobramentos políticos relacionados à União Europeia e aos Estados Unidos. Mudanças abruptas na situação política do Iraque no passado tiveram um impacto significativo e inesperado sobre a paisagem política curda. Embora tais mudanças sejam imprevisíveis, não podem ser descartadas. No caso da Turquia, uma reavaliação substancial dos pilares do Estado turco, que poderia melhorar a situação curda, não parece iminente no futuro próximo.

A QUESTÃO CURDA E A AUSÊNCIA DE UM ESTADO NACIONAL

Os curdos, uma população estimada entre 25 e 35 milhões de pessoas, ocupam uma vasta região montanhosa que se estende por cinco países: Turquia, Iraque, Síria, Irã e Armênia. Apesar de constituírem o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio, eles nunca conseguiram estabelecer um Estado nacional.

Durante a luta contra o Estado Islâmico (EI) na Síria, os curdos assumiram o controle de uma vasta área do país. No entanto, essa conquista agora está ameaçada pela ofensiva militar turca. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, justificou a operação como uma medida para criar uma "zona segura" e evitar a formação de um "corredor terrorista" ao longo da fronteira. Nos últimos dias, a ofensiva turca resultou na morte de dezenas de soldados de ambos os lados e 11 civis. Esse conflito representa apenas o mais recente capítulo de uma longa luta curda por independência, que remonta a várias décadas.

No início do século 20, os curdos começaram a vislumbrar a criação de um Estado independente, frequentemente referido como Curdistão. Após a Primeira Guerra Mundial e a derrota do Império Otomano, as potências ocidentais vitoriosas fizeram provisões para a criação desse Estado no Tratado de Sèvres em 1920. No entanto, esses planos foram frustrados três anos depois pelo Tratado de Lausanne, que estabeleceu as fronteiras da Turquia moderna sem qualquer menção a um Estado curdo, relegando os curdos à condição de minoria em seus respectivos países. Nos anos subsequentes, qualquer tentativa dos curdos de fundar um Estado independente foi brutalmente reprimida (Fujii, 2015).

Em meados de 2013, o grupo jihadista Estado Islâmico voltou seu foco para três enclaves curdos que faziam fronteira com o território controlado por eles no norte da Síria. Os ataques do EI foram combatidos pelas Unidades de Proteção do Povo (YPG), o braço armado do Partido da União Democrática Curda da Síria (PYD). O avanço do EI no norte do Iraque em junho de 2014 também envolveu os curdos do Iraque no conflito, com as forças Peshmerga sendo mobilizadas para proteger áreas abandonadas pelo exército iraquiano.

Em agosto de 2014, após uma ofensiva surpresa do EI, os Peshmerga foram forçados a recuar de várias áreas, incluindo a cidade de Sinjar, onde os jihadistas perpetraram atrocidades contra a minoria yazidi. Em resposta, uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos lançou ataques aéreos no norte do Iraque e forneceu assistência militar aos Peshmerga, com apoio adicional do YPG e do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que luta pela autonomia curda na Turquia.

Em janeiro de 2015, após uma intensa batalha em Kobane, na Síria, as forças curdas conseguiram recuperar o controle da cidade. As Forças Democráticas da Síria (SDF), uma aliança curdo-árabe, com apoio de ataques aéreos e armamentos fornecidos pela coalizão liderada pelos EUA, expulsaram o Estado Islâmico de vastas áreas no nordeste da Síria. Em outubro de 2017, a SDF capturou Raqqa, a "capital" do EI, e continuou avançando na província vizinha de Deir al-Zour, último bastião do grupo na Síria. Em março de 2019, o último reduto territorial do EI foi tomado pelas forças curdas, que declararam a "eliminação total" do califado, embora alertando sobre a persistência de células adormecidas.

Atualmente, os curdos enfrentam uma nova ameaça: uma ofensiva militar da Turquia, que pretende estabelecer uma "zona segura" que avança 32 km pelo território do nordeste da Síria, com o objetivo de "proteger sua fronteira" e reassentar até 2 milhões de refugiados sírios. Em resposta, as Forças Democráticas da Síria prometeram defender o território "a todo custo", alertando que os avanços obtidos na luta contra o Estado Islâmico estão em risco.

O governo sírio, liderado por Bashar al-Assad e apoiado pela Rússia, também expressa interesse em retomar o controle de todo o território sírio, rejeitando as demandas curdas por autonomia. O conflito curdo-turco é agravado pela hostilidade histórica entre o Estado turco e a população curda, que representa cerca de 15% a 20% dos 80 milhões de habitantes da Turquia. Ao longo de várias gerações, os curdos na Turquia enfrentaram repressão severa, com proibições ao uso de sua língua e cultura, além da negação de sua identidade étnica.

Desde 1978, o PKK, fundado por Abdullah Ocalan, lidera a luta armada pela autonomia curda na Turquia. Essa luta resultou em mais de 40 mil mortes e no deslocamento de centenas de milhares de pessoas. Um cessar-fogo acordado em 2013 colapsou em 2015, quando um atentado suicida atribuído ao EI em uma cidade curda na Turquia reacendeu o conflito. Desde então, confrontos no sudeste da Turquia resultaram na morte de milhares de pessoas, incluindo centenas de civis.

A REPRESSÃO E A RESILIÊNCIA CURDA NO IRAQUE E NA SÍRIA

Os curdos no Iraque, que representam entre 15% e 20% da população de 38,3 milhões, historicamente desfrutam de mais direitos do que os curdos de outros países, mas também sofreram repressão severa, especialmente sob o regime de Saddam Hussein. A região curda do Iraque conseguiu autonomia parcial após a Guerra do Golfo de 1991, e em 2005, o Governo Regional do Curdistão (KRG) foi formalmente estabelecido. No entanto, a tentativa de independência por meio de um referendo em 2017 levou à retomada do território curdo pelo governo central iraquiano, um duro golpe para as aspirações curdas.

Na Síria, os curdos enfrentaram décadas de repressão antes de assumir o controle de suas regiões após a retirada das forças governamentais em 2012. Em 2016, os curdos declararam um sistema federal em áreas sob seu controle, mas essa declaração foi rejeitada por vários atores internacionais e regionais. Hoje, os curdos da Síria continuam a administrar campos de refugiados e de detenção para pessoas associadas ao Estado Islâmico, enfrentando desafios significativos para manter sua autonomia e proteger seus avanços territoriais. A luta dos curdos por um Estado próprio permanece um dos conflitos mais complexos e duradouros do Oriente Médio, entrelaçado com interesses regionais e internacionais que dificultam a realização de suas aspirações nacionais.

A conclusão desse cenário ambíguo sugere que a questão curda permanece uma das mais intrincadas no Oriente Médio. A busca por um Estado curdo, que emergiu com força após a Primeira Guerra Mundial, foi repetidamente frustrada pelas realidades geopolíticas e pelos interesses das potências regionais e internacionais. O fracasso dos acordos iniciais, como o Tratado de Sèvres, e as subsequentes repressões nos diferentes países onde os curdos residem, configuram um histórico de marginalização e resistência.

Na Síria e no Iraque, apesar das vitórias táticas contra o Estado Islâmico e da criação de zonas autônomas, os curdos enfrentam desafios contínuos, incluindo a ofensiva militar turca e a falta de reconhecimento internacional de suas aspirações. A situação é ainda mais agravada pelas divisões internas e pelas respostas inadequadas da comunidade internacional, que muitas vezes prioriza interesses estratégicos sobre os direitos dos povos curdos.

Em síntese, o futuro dos curdos no Oriente Médio continua incerto. Sua luta por autodeterminação esbarra em forças maiores que têm moldado a política regional por décadas. No entanto, a tenacidade e o espírito de resistência dos curdos, aliados à crescente consciência global sobre sua causa, indicam que essa questão permanecerá central nos debates sobre o futuro da região. A solução duradoura para a questão curda exigirá um equilíbrio delicado entre os direitos humanos, a autodeterminação e a estabilidade regional, algo que ainda parece distante de ser alcançado.

TERRITÓRIO E PODER

M.J.L. Souza (1995) explora a relação intrínseca entre espaço e poder, destacando como os territórios são moldados por ações governamentais que refletem a dinâmica de soberania. O conceito de soberania, seja ela justa ou injusta, é central para compreender as práticas políticas que frequentemente resultam na marginalização de certos grupos sociais. A perspectiva de Souza fornece uma base teórica para entender as intervenções estatais no espaço e suas implicações sociais.

Complementando essa visão, David Harvey argumenta que o espaço é profundamente influenciado pelas dinâmicas de poder e pela economia capitalista, resultando em desigualdades espaciais que são tanto produtos quanto reprodutores dessas dinâmicas (Harvey, 2001). Em consonância, Milton Santos (2004) enxerga o território como uma construção social moldada por fatores políticos e econômicos. Para Santos, essas influências são fundamentais na formação do espaço geográfico e na perpetuação da marginalização de grupos específicos.

Romano (2019), em sua análise publicada na revista da Unicamp, aborda a luta contra as teocracias e o papel dos códigos de leis em contextos religiosos, como o cristianismo e o judaísmo. Ele argumenta que esses códigos não apenas serviram como base normativa para a elaboração de códigos de ética, mas também influenciaram a formação do estado laico. Segundo Romano, o surgimento do estado laico está enraizado em conflitos bélicos, marcados por lutas e pela ausência de diálogo equilibrado, o que refletiu nas bases frágeis da laicidade estatal.

Moraes (2005), ao discutir a perspectiva geográfica, enfatiza que o território é tanto uma fonte de poder quanto um meio social, regido por valores como o trabalho e a luta por poder. Na página 26 de sua obra, Moraes examina a importância do território na arena política, onde demandas sociais, capitalistas e socialistas se manifestam e são negociadas dentro de um espaço territorial específico. Esse enfoque revela como o território se torna um campo de batalha para diferentes ideologias e interesses.

Este estudo aborda três das quatro categorias de análise do espaço: função, estrutura e processo. Ao examinar a luta de povos com e sem pátria, destaca-se o processo contínuo de construção e reconstrução nacional. Um exemplo significativo é a China, que ao longo dos séculos passou por transformações territoriais e políticas até alcançar a configuração contemporânea. No entanto, é crucial distinguir entre os povos sem pátria contemporâneos e aqueles da revolução neolítica; os primeiros possuem culturas e identidades próprias que persistem mesmo sem um Estado-nação formal.

Essa análise interdisciplinar revela que o território, longe de ser apenas um espaço físico, é um campo de poder dinâmico, onde forças políticas, econômicas e sociais interagem de maneiras complexas, frequentemente resultando em desigualdades e marginalizações. Essas considerações são essenciais para entender a contínua luta de diversos grupos por reconhecimento e autonomia em um mundo globalizado e interconectado.

A CONFIGURAÇÃO MODERNA DA SÍRIA E DO IRAQUE

Os territórios que hoje compreendem a Síria e o Iraque faziam parte do Império Turco-Otomano desde o século XVI, período em que o império atingiu seu auge ao anexar vastas regiões no Levante e na Mesopotâmia. Com a derrota otomana na Primeira Guerra Mundial, as províncias árabes do império foram divididas e colocadas sob administração das potências europeias aliadas. A França assumiu o controle do Líbano e da Síria, enquanto a Grã-Bretanha ficou responsável pela Palestina, Transjordânia e pelas províncias de Bagdá, Basra e Mossul, que posteriormente formariam o Iraque. Essa ocupação franco-britânica foi legitimada pela Liga das Nações, que instituiu o sistema de mandatos, conferindo aos territórios ocupados um status legal através do qual se administrariam os antigos territórios otomanos na região. Dessa forma, surgiram de maneira artificial e como parte de uma política expansionista europeia, as fronteiras políticas modernas do Oriente Médio (Fujii, 2015).

Seguindo a lógica de "dividir para conquistar", as autoridades francesas segmentaram o território em seis entidades políticas, cinco na Síria e uma no Líbano, com base nas divisões étnico-religiosas das populações locais: Estado Alauíta (alauítas), Estado de Alepo (árabes sunitas), Estado de Damasco (árabes sunitas), Grande Líbano (cristãos maronitas e outras minorias), Jabal al-Druze (drusos) e Sandjak de Alexandretta (turcos sunitas). Em maioria e historicamente dominantes na região, os sunitas resistiram à estratégia de divisão dos franceses, oferecendo grande oposição à ocupação colonial e deflagrando revoltas armadas durante os anos 1920 e 1930 (Thomas, 2005, p.44).

Por outro lado, as populações minoritárias, como os drusos e os alauítas, enxergavam a administração francesa de forma mais favorável, devido ao tratamento positivo e à autonomia concedida (Nisan, 2002, p.118). Havia um ponto de convergência entre os franceses e as minorias muçulmanas heterodoxas no temor comum ao nacionalismo árabe, fomentado pelos próprios aliados durante a guerra contra os turcos e expressado especialmente nas comunidades sunitas. Para enfraquecer o nacionalismo árabe e evitar sua disseminação entre os alauítas e drusos, o Alto Comissariado Francês os manteve fora do Estado Sírio, fundado em 1925 como resultado da fusão dos Estados de Alepo e Damasco. Uma das consequências dessa divisão colonial foi a erosão da já frágil coesão entre as diversas comunidades étnico-religiosas sírias, levando ao aprofundamento do sectarismo entre sunitas e grupos minoritários.

Durante o mandato francês, os alauítas foram particularmente beneficiados. Além da autonomia recebida com a criação de um Estado autônomo separado da Síria, os alauítas foram favorecidos através de políticas públicas benéficas implementadas por uma administração colonial relativamente indulgente (Minahan, 2002, p.82). Isso levou a um alistamento em massa de alauítas nas forças coloniais francesas, tornando-os o grupo mais pró-francês do Mandato para a Síria e o Líbano. Contudo, como concessão aos nacionalistas árabes após anos de pressão, o Estado Alauíta e o Jabal al-Druze foram incorporados à República Síria, fundada em 1930. O Sandjak de Alexandretta tornou-se um Estado independente do Mandato Francês em 1937, sendo anexado pela Turquia dois anos depois. Ao final dos anos 1930, as autoridades francesas concordaram em conceder independência à Síria, embora isso só se concretizasse em 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Após a retirada das tropas francesas, a Síria permaneceu marcada por grande instabilidade, testemunhando uma série de incidentes e golpes de Estado até 1971, quando o militar e político alauíta Hafez al-Assad chegou ao poder. Assad beneficiou-se tanto da política francesa favorável aos alauítas quanto da extinção de todos os partidos sírios decretada em 1958, durante a formação da breve República Árabe Unida (RAU) entre Síria e Egito (1958-1961), liderada pelo egípcio Gamal Abdel Nasser. Essa união provou-se notoriamente desfavorável à Síria, que perdeu parte de sua autonomia e foi subordinada ao Egito (Tessler, 1994, p.359). Reagindo a essa situação, um grupo de oficiais sírios planejou secretamente o fim da união com o Egito, levando a um golpe de Estado que separou a Síria da RAU em 1961. A separação foi seguida por uma violenta disputa pelo poder entre diversas facções e grupos religiosos, na qual as minorias heterodoxas estavam em melhores condições de vencer, pois a comunidade sunita, além de sub-representada nas Forças Armadas, havia sido desorganizada durante o período de ocupação francesa e de união com o Egito.

Mais tarde, sob a liderança de Assad, os alauítas instalaram um regime autoritário na Síria, no qual o presidente não conseguiu conquistar a lealdade das lideranças sunitas ao longo das décadas seguintes. Apesar de constituírem menos de um quinto da população, os alauítas passaram a dominar a política e as Forças Armadas do país, marginalizando os sunitas, que representavam mais de 60% dos habitantes da Síria (Ayoob, 2013, p.42).

No Iraque, as autoridades britânicas enfrentaram resistência violenta da população árabe desde o início. Insatisfeitos com a ocupação britânica, clãs sunitas e xiitas iniciaram uma série de protestos que culminaram na Revolta Iraquiana de 1920, resultando em pesadas baixas para ambos os lados. Em resposta, as autoridades coloniais britânicas desistiram do mandato e cederam às demandas das lideranças locais, criando um reino árabe em 1921, com Faisal Ibn Hussein como rei. Faisal, membro da dinastia Hashemita, havia se refugiado em Londres após sua expulsão de Damasco pelos franceses no ano anterior e era visto por Londres como uma figura simpática aos interesses britânicos. A monarquia iraquiana seria derrubada em 1958, quando grupos militares lideraram um golpe contra o rei Hussein, fundando a República do Iraque no mesmo ano. Após uma onda de golpes de Estado, o sunita secular Saddam Hussein assumiu o poder em 1979, instaurando um regime ditatorial que perduraria até 2003.

ATUAL SITUAÇÃO DOS CURDOS EM MEIO AOS CONFLITOS ENTRE ISRAEL E PALESTINA

Os curdos, uma das maiores nações sem Estado, enfrentam desafios contínuos em um Oriente Médio marcado por conflitos geopolíticos, incluindo o prolongado embate entre Israel e Palestina. Apesar de não estarem diretamente envolvidos nesse conflito, a situação dos curdos é profundamente afetada pela instabilidade regional, especialmente em termos de alianças políticas e intervenções militares.

Os curdos, distribuídos principalmente entre Turquia, Irã, Iraque e Síria, têm lutado por autonomia e reconhecimento político há décadas. Na Síria e no Iraque, onde os curdos conseguiram estabelecer regiões semi-autônomas, como o Curdistão Iraquiano e Rojava, suas forças militares, como a Unidade de Proteção Popular (YPG), desempenham papéis essenciais na defesa de seus territórios. A guerra civil síria e a ascensão do Estado Islâmico (ISIS) representaram tanto uma ameaça quanto uma oportunidade para os curdos, que conseguiram consolidar algum nível de autonomia, embora ainda sob pressão constante. Embora o conflito Israel-Palestina pareça distante das questões curdas, ele impacta a situação regional de maneira significativa. A Turquia, que apoia fortemente a causa palestina, tem adotado uma postura agressiva contra as forças curdas, especialmente na Síria, onde considera as YPG uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), rotulado como terrorista por Ancara (Nisan, 2002). A escalada de tensões entre Israel e seus vizinhos serve como uma distração, permitindo que a Turquia intensifique suas operações contra os curdos com menos escrutínio internacional (Minahan, 2002).

A política de "dividir para conquistar" aplicada pelas potências coloniais europeias, especialmente a França e o Reino Unido, durante o período pós-Primeira Guerra Mundial, moldaram as fronteiras e relações atuais no Oriente Médio. A fragmentação e a criação de Estados sob administrações estrangeiras perpetuaram a marginalização dos curdos e outras minorias, dificultando sua busca por autonomia (Thomas, 2005).

O futuro dos curdos permanece incerto, especialmente em um Oriente Médio fragmentado por conflitos étnicos, religiosos e políticos. As regiões curdas enfrentam ameaças constantes de intervenção turca, que busca impedir a consolidação de qualquer forma de autonomia curda perto de suas fronteiras (Ayoob, 2013). A escalada do conflito Israel-Palestina pode resultar em uma maior marginalização das questões curdas na agenda internacional, com potências globais focando na resolução de outros conflitos regionais (Tessler, 1994). Ainda, o apoio internacional aos curdos é ambíguo e muitas vezes limitado por considerações geopolíticas. Enquanto algumas potências ocidentais veem os curdos como aliados valiosos na luta contra o terrorismo, seu apoio tende a flutuar de acordo com os interesses estratégicos mais amplos (Minahan, 2002).

Este cenário destaca a vulnerabilidade dos curdos em um Oriente Médio em constante mudança, onde suas aspirações nacionais muitas vezes colidem com os interesses das potências regionais e globais. A resiliência dos curdos e sua capacidade de navegar entre diferentes alianças continuarão a ser fatores determinantes para seu futuro na região.

ABORDAGENS METODOLÓGICAS PARA ANÁLISE DA DESTERRITORIALIZAÇÃO

Os métodos qualitativos e quantitativos oferecem perspectivas complementares e essenciais para uma análise abrangente e detalhada dos processos de desterritorialização enfrentados pelos curdos e palestinos. Cada abordagem proporciona percepções únicas que, quando combinados, permitem uma compreensão mais completa das complexidades envolvidas.

Os métodos qualitativos, como entrevistas, grupos focais e análises de documentos, são fundamentais para explorar as experiências pessoais, culturais e sociais das comunidades curda e palestina. Essas abordagens permitem captar as nuances das identidades e motivações dos indivíduos afetados pela desterritorialização. Por exemplo, entrevistas com líderes comunitários e membros dessas comunidades podem revelar como as políticas supranacionais e as intervenções militares impactam suas vidas diárias e suas percepções de identidade e pertencimento (Denzin & Lincoln, 2011). Além disso, a análise de documentos históricos e relatos pessoais ilumina as mudanças nas dinâmicas de poder e nas estratégias de resistência ao longo do tempo (Yin, 2014).

Os métodos qualitativos também ajudam a entender as práticas culturais e as dinâmicas sociais internas que influenciam a resposta dos curdos e palestinos à desterritorialização. Através da análise de narrativas e experiências subjetivas, é possível captar como a identidade é moldada e mantida em contextos de deslocamento e repressão, bem como os efeitos emocionais e psicológicos das políticas de deslocamento forçado (Denzin & Lincoln, 2011).

Por outro lado, os métodos quantitativos oferecem dados sistemáticos e generalizáveis sobre os processos de desterritorialização. Surveys, censos e análises estatísticas permitem quantificar a extensão dos deslocamentos forçados, as alterações nas populações e as consequências socioeconômicas das políticas de desterritorialização. Por exemplo, a análise de dados sobre deslocamento populacional pode revelar padrões de migração e os impactos econômicos associados, como a perda de renda e o acesso a serviços básicos (Cresswell, 2013). Além disso, métodos quantitativos podem avaliar a eficácia das intervenções internacionais e políticas públicas na mitigação dos impactos da desterritorialização, identificando áreas onde as políticas estão funcionando bem e onde são necessários ajustes (Babbie, 2015).

A integração dos métodos qualitativos e quantitativos proporciona uma análise mais rica e robusta dos processos de desterritorialização. Enquanto os métodos quantitativos oferecem uma visão geral sobre a magnitude dos deslocamentos e suas implicações econômicas, os métodos qualitativos exploram as experiências pessoais desses deslocamentos, revelando como essas mudanças são vividas e interpretadas pelos indivíduos afetados. Essa combinação metodológica é imprescindível para desenvolver políticas e intervenções que abordem efetivamente as necessidades e aspirações dos curdos e palestinos, garantindo uma resposta mais completa e sensível às suas realidades complexas (Silverman, 2016).

PROPOSTASAS MULTIDIMENSIONAIS PARA A DESTERRITORIALIZAÇÃO

Apoiado nos processos de desterritorialização enfrentados pelos curdos e palestinos, torna-se evidente que uma abordagem multidimensional é necessária para apropinquar-se de forma eficaz os desafios complexos enfrentados por esses grupos. Uma “possível” solução envolve a formulação de políticas que sejam inclusivas e sensíveis às realidades locais dessas comunidades. É imprescindível que essas políticas levem em consideração as especificidades culturais, sociais e políticas dos curdos e palestinos, reconhecendo suas identidades culturais e linguísticas, além de garantir direitos civis e políticos que possibilitem a autodeterminação e uma participação significativa nos processos de tomada de decisão.

Para desenvolver intervenções eficazes, a utilização de dados quantitativos sobre padrões de deslocamento e impactos socioeconômicos deve ser combinada com percepções qualitativos que considerem as experiências vividas por essas comunidades. Por exemplo, programas de reassentamento e reconstrução poderiam ser planejados para minimizar os impactos econômicos negativos e promover a integração social, respeitando as práticas culturais e comunitárias locais. É intrínseca que essas intervenções sejam monitoradas e ajustadas com base em evidências concretas, garantindo que atendam de forma eficaz às necessidades dos deslocados.

Ainda, promover o diálogo e a negociação entre curdos, palestinos e as autoridades estatais envolvidas, assim como com organizações internacionais, é categórico para buscar soluções negociadas que evitem novos deslocamentos e garantam a segurança e os direitos dessas comunidades. Facilitar a mediação e a construção de confiança entre as partes pode contribuir para resolver disputas territoriais de forma pacífica, promovendo acordos que reconheçam e respeitem os direitos dos grupos sem Estado.

Dada a importância de abordar os impactos emocionais e psicológicos da desterritorialização, é também básico implementar programas de apoio psicossocial que ajudem as comunidades curda e palestina a lidar com o trauma e a reconstruir suas vidas em novos contextos. Esses programas devem incluir serviços de saúde mental, atividades comunitárias que fortaleçam a coesão social e iniciativas que incentivem a preservação e o fortalecimento das identidades culturais.

Para suavizar os impactos econômicos da desterritorialização, é imprescindível promover o desenvolvimento econômico sustentável e a autossuficiência das comunidades curda e palestina. Isso pode ser alcançado através da criação de oportunidades de emprego, do apoio a pequenas empresas locais, da garantia de acesso a recursos naturais e da implementação de projetos de desenvolvimento sustentável que atendam às necessidades econômicas locais, ao mesmo tempo em que respeitam os direitos territoriais e culturais dessas comunidades.

Por fim, a comunidade internacional necessita desempenhar um papel mais ativo no reconhecimento dos direitos dos curdos e palestinos, promovendo a solidariedade global e apoiando suas reivindicações por autonomia e reconhecimento. Isso pode incluir o apoio a resoluções internacionais que reconheçam os direitos desses grupos, a ampliação do apoio humanitário e o fortalecimento das redes de solidariedade global. Abordar os desafios enfrentados pelos curdos e palestinos requer um esforço contínuo e colaborativo entre atores locais, nacionais e internacionais, com o objetivo de desenvolver soluções que sejam justas, equitativas e sensíveis às complexas realidades dessas comunidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desterritorialização surge como um fenômeno profundamente associado às dinâmicas de poder global e às estratégias de controle territorial, afetando intensamente comunidades marginalizadas, como os curdos e os palestinos. A análise desses grupos revela uma interseção complexa entre políticas supranacionais, interesses econômicos e intervenções militares, frequentemente resultando em deslocamentos forçados e crises identitárias (Harvey, 2004; Santos, 2008).

No contexto curdo, o sonho de um Estado-nação tem sido constantemente frustrado por um emaranhado de interesses regionais e internacionais, além de divisões internas e pressões militares externas, especialmente da Turquia. A luta curda, que inclui vitórias temporárias contra o Estado Islâmico, enfrenta constantes ameaças devido às intervenções de potências regionais e à ausência de um reconhecimento formal que assegure autonomia e segurança territorial (Harvey, 2013).

A situação dos palestinos, marcada por ocupação contínua e dependência de assistência internacional, ilustra como o apoio externo pode tanto sustentar a sobrevivência quanto restringir as aspirações políticas de uma população. A dependência da Autoridade Nacional Palestina de ajuda externa evidencia as limitações estruturais impostas por um contexto de ocupação prolongada e controle externo (Souza, 2010; Harvey, 2006).

Ambos os casos refletem uma realidade onde o território, longe de ser apenas um espaço físico, se transforma em um campo de disputa onde forças econômicas, políticas e militares moldam o destino das comunidades. Como argumentado por autores como Harvey e Santos, o território não é neutro; é um espaço dinâmico onde poder e economia se entrelaçam, perpetuando desigualdades e marginalizações (Santos, 2008; Harvey, 2005).

A análise interdisciplinar deste estudo destaca a importância de considerar as complexas interações entre soberania, economia e poder ao discutir os processos de desterritorialização. Ela também sublinha a necessidade urgente de políticas públicas e intervenções internacionais mais eficazes, que não apenas abordem as dinâmicas de poder, mas também respeitem os direitos humanos e as aspirações legítimas dos povos sem pátria (Souza, 2010).

Em breve síntese, as questões curda e palestina destacam as dificuldades enfrentadas por grupos que, sem um Estado-nação reconhecido, operam em um cenário global onde interesses geopolíticos frequentemente sobrepõem-se aos direitos fundamentais. A solução para esses desafios requer um reequilíbrio entre as demandas de autodeterminação e a estabilidade regional, um objetivo que, embora ainda distante, permanece central nas discussões sobre o futuro do Oriente Médio e de outras regiões afetadas por processos semelhantes de desterritorialização (Harvey, 2004; Santos, 2008).

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1 Graduado em Ciências Humanas (UNESA-RJ). Pós-graduado em Metodologia de Ensino Geografia e História (FAVENI-MG). Pós-graduado em Antropologia Teológica e Direitos Humanos, Antropologia Cultural e Ciências da Religião (FASUL-MG). Email: [email protected]

2 Docente do Curso em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (UNESA-RJ). Mestrado em Educação (UNESA-RJ). MBA em Data Warehouse e Business Intelligence (FI - PR). Pós-Graduado em Engenharia de Software, Antropologia, História, Filosofia e Ciência da Religião (FAVENI-MG). Historiador pela Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP). E-mail: [email protected]

3 A expressão "étnica pancurda" refere-se a uma identidade étnica abrangente que busca unir todos os curdos, independentemente das fronteiras nacionais que os dividem. Em outras palavras, trata-se de uma consciência ou identidade curda que transcende as divisões políticas e nacionais existentes, promovendo um sentido de unidade entre todos os curdos, independentemente de estarem na Turquia, Irã, Iraque ou Síria (Spohr, et al., 2011).