POLÍTICAS MONETÁRIAS: UMA OBSERVAÇÃO CIENTÍFICA DAS ESTRATÉGIAS, IMPACTOS E DESAFIOS EM ANGOLA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17451261


Isaac Tchifica Eliote1


RESUMO
A política monetária assume um papel crucial na estabilidade macroeconómica e no desenvolvimento socioeconómico dos países, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento. A política monetária surgiu como uma resposta aos desafios de estabilização macroeconómica em economias modernas, inicializando-se de forma rudimentar com a emissão de moeda pelo Estado e evoluindo com o desenvolvimento dos bancos centrais e sistemas financeiros. A política monetária ganhou protagonismo a partir do século XX, quando se percebeu que o Estado poderia influenciar directamente o nível da demanda agregada por meio do controlo da moeda em circulação, com o objectivo de suavizar ciclos económicos. A política monetária pode ser definida como o conjunto de decisões e ações tomadas pelos bancos centrais para controlar a oferta monetária, as taxas de juros e, por consequência, influenciar variáveis macroeconómicas essenciais como inflação, câmbio, emprego e crescimento. A política monetária de Angola em 2023 e 2024 expôs diferenças claras na abordagem, reflectindo a resposta do BNA e demais órgãos à conjuntura macroeconómica do país. O principal instrumento utilizado pelo BNA é a Taxa Básica de Juros (Taxa BNA), que tem sido ajustada para influenciar o custo do crédito, por consequência, o nível de consumo e investimento na economia. Neste período, o Comité de Política Monetária (CPM) elevou progressivamente a Taxa BNA, que atingiu 19,5% no final de 2024, reflectindo o aumento dos custos de financiamento como mecanismo para conter a liquidez e reduzir a pressão inflacionária (Banco Nacional de Angola, 2023; BFA, 2024). As políticas monetárias assumem papel crucial na estabilidade macroeconómica e no desenvolvimento socioeconómico dos países, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento, como Angola. 
Palavras-chave: Política monetária, inflação, crescimento económico, Angola, e conjuntura macroeconómica

ABSTRACT
Monetary policy plays a crucial role in macroeconomic stability and socioeconomic development, especially in emerging and developing economies. Monetary policy emerged as a response to macroeconomic stabilization challenges in modern economies, initially in a rudimentary form with state currency issuance and evolving with the development of central banks and financial systems. Monetary policy gained prominence from the 20th century when it was understood that the state could directly influence aggregate demand through controlling the money supply, aiming to smooth economic cycles. Monetary policy can be defined as the set of decisions and actions taken by central banks to control the money supply, interest rates, and consequently influence essential macroeconomic variables such as inflation, exchange rates, employment, and growth. Angola's monetary policy in 2023 and 2024 exposed clear differences in approach, reflecting the response of the National Bank of Angola (BNA) and other bodies to the country's macroeconomic environment. The main instrument used by the BNA is the Basic Interest Rate (BNA Rate), which has been adjusted to influence the cost of credit and consequently the level of consumption and investment in the economy. During this period,the Monetary Policy Committee (MPC) progressively raised the BNA Rate, reaching 19.5% by the end of 2024, reflecting increased financing costs as a mechanism to contain liquidity and reduce inflationary pressure (National Bank of Angola, 2023; BFA, 2024). Monetary policies play a crucial role in macroeconomic stability and socioeconomic development, especially in emerging and developing economies, such as Angola.
Keywords: Monetary policy, inflation, economic growth, Angola, macroeconomic environment.

INTRODUÇÃO

Desde o fim da guerra civil em 2002, Angola tem buscado consolidar sua política económica e monetária em um contexto de forte dependência do sector petrolífero, vulnerabilidade externa e necessidade de diversificação económica. Este artigo científico apresenta uma análise detalhada das estratégias de política monetária adotadas em Angola no período entre 2020 e 2024, seus impactos económicos e sociais, os desafios enfrentados para garantir estabilidade e desenvolvimento económico sustentável. A presente pesquisa emprega uma metodologia descritiva com base em análise bibliográfica e documental. A política monetária é um conjunto de decisões e ações tomadas pelos bancos centrais para controlar a oferta monetária, as taxas de juros e por consequência, influenciar variáveis macroeconómicas essenciais como inflação, câmbio, emprego e crescimento. O controlo da inflação é o núcleo da política monetária moderna. A inflação elevada e volátil corrói o poder de compra, criando incertezas económicas e prejudica o investimento e o crescimento, influenciando o crescimento económico ao moldar o custo e a disponibilidade do crédito, afectando o consumo, o investimento e a capacidade produtiva das empresas. A principal ferramenta para o controlo inflacionário é a taxa de juros; sua elevação torna o crédito mais caro, desacelerando o consumo e a demanda agregada, pressionando para baixo os preços. A independência dos bancos centrais é um factor crítico para o sucesso da política monetária moderna, permitindo decisões técnicas focadas na estabilidade de preços e crescimento sustentável, a medida do sucesso da política monetária é associada à manutenção de uma inflação baixa e estável para não prejudicar o poder de compra e estimular investimentos.

METODOLOGIA

A presente pesquisa emprega uma metodologia descritiva com base em análise bibliográfica e documental, priorizando dados oficiais do Banco Nacional de Angola (BNA), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e estudos académicos recentes.

REVISÃO DA LITERATURA

A política monetária surgiu como uma resposta aos desafios de estabilização macroeconómica em economias modernas, inicializando-se de forma rudimentar com a emissão de moeda pelo Estado e evoluindo com o desenvolvimento dos bancos centrais e sistemas financeiros. Segundo Baldin (2021), o controle da oferta monetária foi instituído como ferramenta primordial para a manutenção da estabilidade económica, partindo da necessidade de controlar a inflação e a liquidez no mercado. A política monetária ganhou protagonismo a partir do século XX, quando se percebeu que o Estado poderia influenciar directamente o nível da demanda agregada por meio do controle da moeda em circulação, com o objectivo de suavizar ciclos económicos.

Levian (2021) define política monetária como "o conjunto de ações implementadas pelo banco central para regular a quantidade de moeda e crédito na economia, visando a estabilidade de preços, o crescimento económico e o emprego". Já Smith (2023) destaca que política monetária como a "gestão da oferta monetária e da taxa de juros" para influenciar o comportamento económico, ressaltando seu papel estabilizador frente a choques económicos.

A política monetária pode ser definida como o conjunto de decisões e ações tomadas pelos bancos centrais para controlar a oferta monetária, as taxas de juros e, por consequência, influenciar variáveis macroeconómicas essenciais como inflação, câmbio, emprego e crescimento (Baldin, 2021; Levian, 2021). Estas decisões são exercidas principalmente através do uso de instrumentos como a taxa básica de juros, operações de mercado aberto e controlo dos compulsórios bancários (Smith, 2023).

O objectivo primordial da política monetária, conforme Baldin (2021), é a estabilização económica, operando para evitar tanto o super aquecimento quanto a recessão do sistema económico. A essência da política monetária repousa no controlo da oferta da moeda dentro de um sistema nacional para garantir o equilíbrio entre crescimento económico e estabilidade inflacionária, conforme levantado nos estudos de Ricardo (2024).

A medida do sucesso da política monetária é, frequentemente, associada à manutenção de uma inflação baixa e estável, para não prejudicar o poder de compra e estimular investimentos. No entanto, a teoria económica reconhece duas grandes linhas de política monetária: a política monetarista, que enfatiza o controlo da quantidade de moeda para controlar a inflação; e a abordagem keynesiana que legitima a manipulação da taxa de juros para estimular ou desacelerar o consumo e o investimento (Ricardo, 2024).

A independência dos bancos centrais é considerada um factor crítico para o sucesso da política monetária moderna, permitindo decisões técnicas focadas na estabilidade de preços e crescimento sustentável (Levian, 2021). O controlo da inflação constitui o núcleo da política monetária moderna. A inflação elevada e volátil corrói o poder de compra e cria incertezas económicas prejudiciais ao investimento e ao crescimento (Smith, 2023). Policymakers adoptam regimes de metas de inflação, buscando fixar uma meta anual para o índice de preços, com tolerância limitada, permitindo flexibilidade para choques externos (Baldin, 2021).

A principal ferramenta para o controle inflacionário é a taxa de juros; sua elevação torna o crédito mais caro, desacelerando o consumo e a demanda agregada, pressionando para baixo os preços (Krugman, 2023). Estudos recentes indicam que apesar da eficiência, a política monetária pode enfrentar desafios frente a choques de oferta e a fatores não convencionais de inflação, demandando prudência e comunicação transparente do Banco Central (Krugman, 2023; Ricardo, 2024).

Estabilidade Cambial

A estabilidade cambial está intimamente ligada à eficácia da política monetária, pois volatilidades excessivas no câmbio podem desestruturar os preços internos, especialmente em economias dependentes de importações (Levian, 2021; Baldin, 2021). Uma moeda nacional volátil pode gerar inflação importada, afectando negativamente o poder de compra das famílias e o ambiente de negócios. Além disso, a estabilidade cambial facilita a gestão de riscos no sistema financeiro, promovendo maior confiança dos bancos e investidores. Em mercados financeiros limitados, esta estabilidade é crucial para que as instituições possam planejar de forma eficiente e garantir crédito em condições razoáveis (Smith, 2023; Ricardo, 2024). Portanto, intervenções temporárias ou políticas cambiais coordenadas complementam o arsenal da política monetária para assegurar este equilíbrio.

Crescimento Económico

A política monetária influencia o crescimento económico ao moldar o custo e a disponibilidade do crédito, que por sua vez afectam o consumo, o investimento e a capacidade produtiva das empresas (Baldin, 2021; Smith, 2023). Em momentos de recessão, a flexibilização monetária, caracterizada pela redução dos juros, estimula o gasto e as contratações, promovendo recuperação económica (Krugman, 2023).

No entanto, o crescimento sustentável depende de um equilíbrio delicado: juros muito baixos por longos períodos podem gerar bolhas de activos e desequilíbrios financeiros, enquanto juros elevados e prolongados podem tolher o dinamismo económico (Ricardo, 2024). Uma política monetária eficaz deve, portanto, preservar a estabilidade macroeconómica e criar um ambiente favorável para o investimento produtivo e inovação tecnológica.

A política monetária contemporânea encontra em Baldin (2021) uma sólida base conceitual ao defender que esta política é fundamentalmente uma ferramenta para o controlo da inflação e estabilização macroeconômica, utilizando regras explícitas como a regra de Taylor para guiar a actuação do banco central. Baldin enfatiza que os modelos modernos consideram a taxa de juros como um instrumento principal para influenciar a demanda agregada, a inflação e o produto, e que a credibilidade na meta de inflação é crucial para o êxito institucional das autoridades monetárias. A literatura comum divide a política monetária em dois tipos principais (Levian, 2021; Baldin, 2021):

  • Política Monetária Expansionista: Visa aumentar a oferta de moeda para estimular o consumo, investimento e crescimento económico. Caracteriza-se pela redução das taxas de juros e facilitação do crédito.

  • Política Monetária Restritiva (Contraccionista): Busca reduzir a quantidade de moeda para conter a inflação e evitar o super aquecimento económico. Envolve aumento da taxa de juros e controlo rígido da liquidez.

Krugman (2023) igualmente discute a noção de que a política monetária, embora geralmente focada na meta inflacionária, pode sofrer ajustes no grau de austeridade ou estímulo, dependendo da conjuntura económica, sobretudo em situações de crise ou recessão.

Conforme Baldin (2021) e Smith (2023), os elementos principais da política monetária são:

  • Instrumentos: Ferramentas usadas para implementar a política, como a taxa de juros básica, operações de mercado aberto (compra e venda de títulos públicos), depósito compulsório.

  • Objectivos: Atingir metas como controlo da inflação, estabilidade cambial, pleno emprego e crescimento económico sustentável.

  • Agente Executor: Banco Central, órgão autónomo que operacionaliza a política monetária.

  • Canal de Transmissão: Mecanismos através dos quais as decisões do Banco Central afectam a economia real, especialmente via custo do crédito, expectativas de mercado, variação do consumo e investimento.

As funções básicas da Política Monetária apontadas por Levian (2021) e Ricardo (2024) incluem:

  • Controlo da Inflação: Manutenção da estabilidade dos preços para preservar o poder de compra da moeda.

  • Regulação do Crescimento Económico: Apoiar o desenvolvimento alinhado a condições macroeconómicas saudáveis.

  • Estabilidade Financeira: Garantir condições estáveis de crédito e confiança no sistema financeiro.

  • Gestão da Liquidez: Ajustar a liquidez da economia para que não haja nem excesso nem escassez de moeda.

Smith (2023) enfatiza que, além destas, a política monetária tem papel redistributivo, influenciando sectores e agentes económicos de forma diferenciada. O principal propósito da política monetária, segundo Krugman (2023), é a promoção de um ambiente económico estável com inflação controlada que permita crescimento económico sustentado. Baldin (2021) complementa que a política monetária busca ainda a minimização dos ciclos económicos, evitando os impactos de recessões ou bolhas financeiras. Além disso, a política monetária visa mitigar choques económicos externos e internos, promovendo a confiança de consumidores e investidores para decisões económicas de longo prazo (Ricardo, 2024).

Funcionamento da Política Monetária

Na prática, o Banco Central executa a política monetária por meio da manipulação de instrumentos como a taxa de juros básica, que influencia directamente o custo do crédito e o consumo. A elevação da taxa de juros tende a esfriar a economia desacelerando gastos e investimentos, reduzindo pressões inflacionárias (Levian, 2021; Baldin, 2021).

Quando a inflação está abaixo da meta, o Banco Central pode baixar a taxa de juros para estimular o crédito e o consumo, impulsionando o crescimento económico. A expectativa dos agentes económicos frente às ações do Banco Central é igualmente fundamental, pois influencia decisões de preço, salário e investimento (Smith, 2023).

Krugman (2023) reforça que a política monetária deve ser conduzida com flexibilidade, considerando o cenário económico internacional e a dinâmica interna, usando o regime de metas de inflação como referência estratégica.

Caso de Angola (2023 – 2024)

A política monetária é um dos instrumentos centrais para o controle macroeconómico em qualquer economia, incluindo Angola. No contexto angolano, a política monetária é conduzida pelo Banco Nacional de Angola (BNA), com o objectivo de assegurar a estabilidade do nível geral dos preços, preservar o valor da moeda nacional, o Kwanza, e manter a estabilidade do sistema financeiro.

Contexto Macroeconómico de 2023 – 2024 e Desafios Recentes

Indicador / Item

2023

2024

Taxa básica de juro (Taxa BNA)

17% (mantida em várias reuniões até setembro)

19,5% (aumentada no 1º semestre, mantida até o final do ano)

Taxa de Juro da Facilidade Permanente Cedência

17%

20,5%

Taxa de Juro da Facilidade Permanente Absorção

13,5%

18,5%

Coeficiente de Reservas Obrigatórias (em moeda nacional)

18%

21% (redução a 20% iniciada em 2025)

Inflação anual (homóloga)

24,58% (exemplo médio no ano)

23,85% (março 2025)

Crescimento económico

3,0% (estimativa)

4,4%

Crescimento sector petrolífero

1,5%

2,8%

Crescimento sector não petrolífero

2,5%

5,0%

Variação do câmbio (depreciação do Kz frente ao USD)

39,23%

9,12%

Reservas internacionais (em bilhões USD)

14,7

15,77 (8,3 meses cobertura importações)

Crédito ao setor económico (variação

Crescimento baixo; índice não detalhado

+31,6%

Rácio de incumprimento bancário

Não especificado

19,2%

Estratégia principal de política monetária

Política expansionista (redução de juros)

Política restritiva (aumento taxas de juro, reserva)

Objectivo principal da política

Estabilizar inflação e estimular crescimento

Contenção da inflação e estabilização cambial

Impacto sobre o consumo e crédito

Estímulo à liquidez e consumo

Restrição da liquidez e controle da inflação

Desafios enfrentados

Pressões inflacionárias persistentes, câmbio volátil

Inflação alta, inadimplência bancária, riscos no sistema financeiro

Fonte: Ministério da Economia e Planeamento de Angola; BNA, 2023 e 2024

A política monetária de Angola nos anos de 2023 e 2024 apresentou diferenças claras na abordagem, que reflectem a resposta do Banco Nacional de Angola (BNA) e demais órgãos à conjuntura macroeconómica do país. O ano de 2023 caracteriza-se por uma política monetária expansionista, com objectivos de estimular o consumo e a liquidez, enquanto em 2024 houve uma mudança notável para um regime restritivo visando conter a inflação e estabilizar o câmbio, e reduzir riscos ao sistema financeiro. Em 2023, o Banco Nacional de Angola manteve taxas de juro relativamente baixas em relação ao contexto inflacionário elevado, com a taxa básica de juro (Taxa BNA) fixada em torno de 17% durante várias reuniões ao longo do ano. Esta política expansionista buscava estimular o consumo e facilitar o crédito da economia, alinhada com a necessidade de apoiar o crescimento económico especialmente nos sectores não petrolíferos. Contudo, como destacado por Baldin (2020), tais medidas tendem a aumentar a liquidez e podem pressionar ainda mais a inflação, a qual, apesar de pequena queda, permaneceu elevada durante o ano de 2023.

O coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional estava em 18%, o que permitia às instituições financeiras maior margem para conceder crédito. No entanto, o impacto da política expansionista não conseguiu reduzir significativamente as pressões inflacionárias, reflectindo uma dinâmica complexa no quadro macroeconómico angolano, com choques externos e internos, conforme enfatizado por Smith (2023). Angola tem enfrentado pressões inflacionárias crescentes, resultantes de múltiplos fatores estruturais e conjunturais, incluindo a oferta irregular de bens, desvalorização cambial expressiva, ajustes fiscais e eliminação gradual de subsídios nos preços dos combustíveis, transporte e comunicações (Banco Nacional de Angola, 2023; Ministério da Economia e Planeamento de Angola, 2023).

Em 2023, a inflação alcançou taxas superiores a 20%, com projecções para 2024 apontando para uma inflação em torno de 27% (Banco Nacional de Angola, 2023; Ministério das Finanças de Angola, 2024). Em meio a este cenário, o Banco Nacional de Angola adoptou uma política monetária restritiva, visando a redução da inflação e o controle da oferta monetária. O principal instrumento utilizado pelo BNA é a Taxa Básica de Juros (Taxa BNA), que tem sido ajustada para influenciar o custo do crédito e, por consequência, o nível de consumo e investimento na economia. Durante 2023 e 2024, o Comité de Política Monetária (CPM) elevou progressivamente a Taxa BNA, que atingiu 19,5% no final de 2024, reflectindo o aumento dos custos de financiamento como mecanismo para conter a liquidez e reduzir a pressão inflacionária (Banco Nacional de Angola, 2023; BFA, 2024).

Além disso, as taxas de facilidade permanente de cedência e absorção de liquidez foram ajustadas para controlar a quantidade de recurso disponível no sistema bancário.
Outra medida relevante tem sido o ajuste do coeficiente de reservas obrigatórias, que representa o percentual de depósitos que os bancos são obrigados a manter como reservas no banco central. Em resposta às pressões inflacionárias, o coeficiente foi elevado de 18% para 21% em 2024, restringindo a capacidade dos bancos de expandir o crédito (Banco bai, 2024). Este instrumento visa reduzir o excesso de liquidez no mercado financeiro, ajudando a estabilizar a moeda e controlar a inflação. Devido à elevada inflação, que superou 27% em 2024, consequência de choques externos como a crise dos preços das commodities e internos como a desvalorização do Kwanza, o Banco Nacional de Angola (BNA) aplicou a política monetária restritiva através do aumento das taxas de juros directoras e elevação do coeficiente de reservas obrigatórias (Banco Nacional de Angola, 2023; Levian, 2021). O objectivo declarado é conter a inflação, estabilizar a moeda e preservar a confiança no sistema financeiro, colocando a política monetária como prioridade diante do desafio da estabilidade macroeconómica.

Impactos e Resultados da Política Monetária

A política monetária restritiva tem tido efeitos mistos na economia angolana. Conforme relatado pelo Banco Nacional de Angola e outros órgãos oficiais, a inflação mantém-se elevada, ainda que com algum abrandamento no ritmo de aumento, devido à complexidade dos factores estruturais subjacentes (Banco Nacional de Angola, 2023; Ministério das Finanças, 2024). Em 2025, a inflação anual ainda foi reportada em níveis acima de 20%, o que indica a persistência das pressões inflacionárias e a necessidade de manutenção de políticas monetárias firmes (RTP, 2025).

A desvalorização do Kwanza, embora menos intensa que no passado recente, continua a influenciar negativamente o poder de compra da população. O BNA tem ampliado os esforços para estabilizar a moeda por meio do controlo monetário rigoroso, evitando inclusive oscilações bruscas que possam impactar a confiança no sistema financeiro (Banco Nacional de Angola, 2023; Levian, 2021).

Krugman (2023) argumenta que políticas monetárias altamente restritivas em economias emergentes, como Angola, podem sufocar o crescimento económico ao limitar o crédito disponível para investimentos produtivos, o que é preocupante em um país que busca diversificar sua economia para além do petróleo. Segundo Krugman, o aperto monetário prolongado pode reduzir a actividade económica, agravar o desemprego e comprometer o desenvolvimento sustentável. Johnson e Pickett reforçam que o impacto das taxas de juros elevadas se traduz em retração do consumo das famílias e investimentos empresariais, resultando em menor dinamismo económico.

Blanchard (2023), por seu turno, destaca que o equilíbrio entre contenção inflacionária e crescimento económico deve ser cuidadosamente calibrado, especialmente em países com sectores informais robustos e alta vulnerabilidade social, condições presentes em Angola. O economista chama a atenção para os efeitos colaterais da austeridade monetária, que podem incluir aumento da pobreza, elevação do desemprego jovem e ampliação das desigualdades socioeconómicas.

A Política Monetária num Contexto de Desenvolvimento de Angola

Ricardo (2024) traz uma visão crítica sobre a precariedade da política monetária como instrumento isolado no contexto africano, apontando que sua eficácia depende da coordenação com políticas fiscais, industriais e sociais, algo que em Angola ainda enfrenta restrições institucionais e estruturais. Para o autor, o desafio da diversificação económica e do aumento da produtividade não pode ser resolvido unicamente por medidas restritivas da política monetária. Smith (2023) corrobora esta linha ao salientar que a política monetária deve ser equilibrada com reformas estruturais que promovam a inclusão financeira e o desenvolvimento do mercado interno, enfatizando que a estabilidade macroeconómica não deve sacrificar o crescimento a longo prazo nem a coesão social.

A política monetária em Angola não pode ser dissociada do contexto mais amplo de desenvolvimento económico, das políticas fiscais e industriais do país. O Ministério da Indústria e do Planeamento, juntamente com o Ministério da Economia, enfatizam a necessidade de políticas integradas que considerem a diversificação da economia e o fortalecimento das cadeias produtivas locais (Ministério da Indústria, 2023; Ministério da Economia e Planeamento, 2023).

O alinhamento da política monetária com estas estratégias é essencial para a sustentabilidade económica e a estabilidade de longo prazo. Baldin (2021) destaca a importância da coordenação entre política monetária e fiscal para mitigar choques externos e internos que afectam economias emergentes, como Angola. Levian (2021) reforça o papel do Banco Central na implementação de políticas prudentes que garantam estabilidade macroeconómica sem embaraçar o crescimento económico. Smith (2023) e Krugman (2023) discutem, em suas obras, as nuances entre políticas monetárias restritivas e expansionistas, salientando os riscos de um aperto demasiado rigoroso sobre o desenvolvimento económico. Ricardo (2024) enfatiza a situação peculiar das economias africanas, onde factores como volatilidade cambial e dependência de commodities influenciam as estratégias monetárias. A política monetária restritiva tem tido efeitos mistos na economia angolana. Conforme relatado pelo Banco Nacional de Angola e outros órgãos oficiais, a inflação mantém-se elevada, ainda que com algum abrandamento no ritmo de aumento, devido à complexidade dos factores estruturais subjacentes (Banco Nacional de Angola, 2023; Ministério das Finanças, 2024).

Em 2025, a inflação anual ainda foi reportada em níveis acima de 20%, o que indica a persistência das pressões inflacionárias e a necessidade de manutenção de políticas monetárias firmes (RTP, 2025). A desvalorização do Kwanza, embora menos intensa que no passado recente, continua a influenciar negativamente o poder de compra da população. O BNA tem ampliado os esforços para estabilizar a moeda por meio do controle monetário rigoroso, evitando inclusive oscilações bruscas que possam impactar a confiança no sistema financeiro (Banco Nacional de Angola, 2023; Levian, 2021).

No caso angolano, conforme estudos situacionais recentes e documentos oficiais, a política monetária restritiva tem afectado directamente o poder de compra das famílias, sobretudo dos grupos mais vulneráveis, exacerbou a inflação de bens primários e alimentos, e dificultou a redução da pobreza (Banco Mundial, 2025; Ministério das Finanças de Angola, 2024). A deterioração do rendimento real da população tem provocado uma queda significativa no índice de confiança dos consumidores e aumentado a insegurança alimentar (Banco Nacional de Angola, 2023).

Baldin (2021) enfatiza que a rigidez monetária pode agravar os desafios sociais, sobretudo em países com elevada desigualdade e desemprego estrutural, como Angola. Ele destaca a necessidade de políticas compensatórias, como programas de transferências sociais (exemplo: programa monetário “Kwenda”) para mitigar os efeitos negativos da restrição de liquidez no mercado e proteger os segmentos mais vulneráveis da população.

A política monetária aplicada em Angola tem sido caracterizada por uma orientação restritiva nos últimos anos, em resposta ao cenário inflacionário complexo e desafiante. O Banco Nacional de Angola tem utilizado uma combinação de aumentos nas taxas de juros directoras e ajustes nos coeficientes de reservas obrigatórias para controlar a liquidez e conter a inflação. Apesar dos esforços, a inflação continua elevada, exigindo controlo permanente e políticas integradas que promovam a estabilidade macroeconómica e o desenvolvimento sustentável. A actuação coordenada entre o Banco Central, Ministério das Finanças, Ministério da Economia e Planeamento, e Ministério da Indústria é fundamental para o sucesso das estratégias de política monetária e para a consolidação económica de Angola.

CONCLUSÕES

A política monetária é um instrumento essencial da gestão macroeconómica, cujos efeitos repercutem para além do sistema financeiro, atingindo a estrutura social e económica do país. Em Angola, a política monetária aplicada nos últimos anos, marcada por um aperto progressivo dos instrumentos monetários em resposta à alta inflação, suscita um debate crítico sobre seus impactos sociais e económicos.

A política monetária é um instrumento indispensável para a estabilidade macroeconómica e para o desenvolvimento sustentável de qualquer país. As perspectivas críticas dos fundamentais economistas indicam que a política monetária restritiva aplicada em Angola, embora necessária para controlar a inflação, acarreta impactos negativos relevantes sobre o tecido social e económico, sobretudo ao restringir o acesso ao crédito, reduzir investimentos e diminuir o poder aquisitivo das famílias.

A política monetária de Angola em 2023 e 2024 reflecte as complexidades e os trade -offs clássicos da condução da política económica em ambientes de alta inflação e volatilidade cambial. O ajuste de 2024 evidencia uma resposta técnica mais rígida e cautelosa para domar a inflação e estabilizar a moeda, alinhada aos pareceres teóricos de Smith (2023) e Baldin (2020) sobre a utilidade de políticas monetárias prudentes em contextos emergentes. Ao mesmo tempo, os desafios no risco financeiro e a inadimplência alertam para a necessidade de políticas macroprudenciais complementares e gestão de riscos no sistema bancário para garantir a sustentabilidade.

Em Angola, o Banco Nacional de Angola (BNA) tem conduzido esforços para controlar a inflação, estabilizar a moeda e promover o crescimento económico, embora desafios persistam, como alta inflação, volatilidade cambial e limitações no acesso ao crédito (Banco Nacional de Angola, 2023; Ministério das Finanças de Angola, 2024).

Segundo Krugman (2023) e Blanchard, a eficácia da política monetária depende da capacidade de adaptação às condições específicas do país e da sinergia com políticas fiscais e sociais. O desafio reside em encontrar o equilíbrio entre estabilidade macroeconómica e estímulo ao crescimento económico inclusivo. Para Angola, isto significa que a política monetária deve ser acompanhada de medidas de protecção social e reformas estruturais integradas, para garantir que os impactos sociais negativos sejam mitigados e que o desenvolvimento económico sustentável seja alcançado.

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1 Analista económico e financeiro, consultor, contabilista, docente universitário, gestor de empresas e doutorando em direito económico e de empresas, universidade internacional Iberoamericana, Calle 15 No. Entre 10 y 12 - Colonia IMI III > Campeche - México - CP 24560, Tel. (+244) 923822760. E-mail: [email protected] / [email protected]