PERFIL ESTUDANTIL E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS NO ENSINO DE QUÍMICA GERAL: UM ESTUDO DE CASO EM UM CENTRO DE ENSINO ESTADUAL NO INTERIOR DO MARANHÃO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12539267


Maria de Morais Lima


RESUMO
A motivação dos estudantes é um fator que deve ser estimulado nos centros de ensino, uma vez que contribui significativamente no processo de ensino e no processo de aprendizagem dos mesmos. Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de verificar o perfil dos estudantes de uma escola estadual localizada no interior do estado do Maranhão quanto a motivação e desmotivação. Tendo em vista, que desmotivação é um fator que influencia negativamente a construção do conhecimento de muitos estudantes de escolas públicas, precisamos investigar o que leva um estudante a estar desmotivado e o que poderia motivá-lo. Para o levantamento de dados foi utilizado um questionário. O questionário foi aplicado a todos os alunos do EJA ensino médio que concordaram em participar do estudo. A amostra foi composta de trinta e cinco estudantes da referida escola que concordaram em participar deste estudo. Após o preenchimento dos questionários, foi realizada a tabulação dos dados com ajuda do Microsoft Excel 2013. A partir dos resultados, verifica-se que a maioria dos alunos declararam que estudam química porque pretendem construir novos conhecimentos, concordam com o fato do professor passar atividades de química para casa, ainda que sem atribuição de nota; que gosta de fazer atividades de química com um grau de dificuldade maior.
Palavras-chave: motivação, aluno, ensino, aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A educação é essencial para a existência e desenvolvimento de qualquer sociedade. Segundo Libâneo (1994), não há sociedade sem educação e nem educação sem sociedade. A legislação brasileira, conforme estabelecido na Constituição Federal, nossa lei suprema, determina que a educação é um direito universal e sua promoção é uma obrigação tanto do Estado quanto da família. Dessa forma, cabe a eles promover e incentivar, com o apoio da sociedade, uma educação de qualidade, permitindo que todos possam se preparar adequadamente para o mercado de trabalho e o exercício da cidadania (BRASIL, 1988). Contudo, o apoio oferecido pelo Estado e pela família não é suficiente para enfrentar a falta de motivação dos alunos nas escolas públicas brasileiras.

A evolução da aprendizagem está intrinsicamente ligada à motivação contínua pela busca de conhecimento, destacando sua importância no processo educacional. Para que os alunos sintam a necessidade de aprender, é essencial que sejam instigados a despertar interesse pelo assunto (KUPFER, 1995). No entanto, estimular estudantes que mostram desinteresse é uma tarefa desafiadora, pois muitos carregam um histórico de desmotivação. Muitos alunos são promovidos para as séries seguintes não por mérito, mas pela intervenção do conselho de classe. Esse cenário é um dos principais fatores que contribuem para a falta de motivação e comprometimento dos alunos, refletindo na qualidade precária da educação no país. É comum encontrar alunos do ensino médio que não dominam as quatro operações matemáticas básicas, e menos ainda conceitos um pouco mais avançados, como regra de três e porcentagens.

Infelizmente, essa percepção errônea que muitos alunos têm sobre como são promovidos para séries mais avançadas continuará a se disseminar, pois eles sabem que a aprovação não exige grandes esforços, mas sim a intervenção do conselho de classe. Nesse contexto, as políticas educacionais implementadas pelo MEC também têm sua parcela de culpa, demonstrando que nem sempre contribuem para despertar o desejo de aprender nos alunos. Um exemplo disso é a Resolução nº 3794/04, que permite a aprovação de alunos pelo conselho de classe sem que eles possuam o conhecimento mínimo necessário, reforçando a mentalidade do mínimo esforço. Isso leva a uma valorização do professor que não se empenha em ensinar com o devido rigor, que não exige comprometimento e que prefere conversas informais durante as aulas, permitindo a aprovação sem que os alunos tenham realmente adquirido conhecimento.

A motivação é uma das causas mais determinantes para alcançar o sucesso ou o fracasso no ambiente escolar (WIGFIELD et al., 2015). Nesse contexto, motivar os estudantes a aprender não é uma tarefa fácil. Segundo Pancera et al. (2016), a motivação pode ser classificada como intrínseca ou extrínseca. A motivação intrínseca está ligada à realização de uma atividade pelo prazer que ela proporciona. Em contraste, a motivação extrínseca é guiada por fatores externos, onde o aluno se envolve na atividade devido a possíveis consequências, sejam elas perdas ou ganhos, e não pelo interesse genuíno na aprendizagem.

A falta de motivação no campo educacional das escolas públicas tem gerado grande preocupação entre os professores. Nesse contexto, observa-se que muitos alunos não demonstram vontade de aprender, não reconhecem a importância do conhecimento e frequentam as aulas como uma obrigação, não como uma atividade prazerosa que poderia impulsionar seu desenvolvimento intelectual, mostrando grande resistência às atividades didáticas.

Compreender os fatores relacionados à aprendizagem dos estudantes é essencial para a evolução do ensino, pois ao identificar esses fatores, novas metodologias podem ser implementadas para desenvolver a motivação intrínseca dos alunos, melhorando assim a qualidade do ensino. Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar o perfil dos estudantes quanto à motivação e desmotivação na aprendizagem de química em uma escola pública no interior do Estado do Maranhão.

2 METODOLOGIA

A partir de uma abordagem qualitativa, foi realizada uma pesquisa exploratória com o objetivo de obter um entendimento mais profundo sobre os fatores motivacionais dos alunos de uma escola pública estadual no interior do Estado do Maranhão. O questionário foi o instrumento usado para coletar dados. Este foi aplicado a todos os alunos do ensino médio da EJA. Apenas os alunos que aceitaram participar do estudo responderam ao questionário. A aplicação ocorreu entre os alunos que concordaram em participar. Assim, a coleta de dados abrangeu exclusivamente os participantes voluntários.

Os questionários foram compostos por duas partes. A primeira parte incluía quatro questões relacionadas aos dados individuais dos entrevistados, como idade, sexo, série, curso e trabalho, além de fatores relacionados à motivação dos alunos. A segunda parte consistia em dez questões fechadas. Para cada questão sobre um determinado fator, os alunos podiam escolher uma entre cinco alternativas: 1) Concordo totalmente; 2) Concordo parcialmente; 3) Nem concordo/nem discordo; 4) Discordo parcialmente; 5) Discordo totalmente.

A amostra foi composta por 35 estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) do ensino médio que concordaram em participar do estudo. Após a coleta dos questionários preenchidos, os dados foram tabulados, registrando todas as respostas de cada item/questão. Com o auxílio do Microsoft Excel 2013, foi construída uma tabela para apresentar de forma mais clara os resultados do estudo.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

3.1 Perfil dos estudantes

Foram entrevistados 35 estudantes de um centro de ensino estadual localizado no Estado do Maranhão. Esses alunos, responderam a questões relacionadas à motivação. A Tabela 1 apresenta a distribuição do perfil dos estudantes avaliados.

Tabela 1. Perfil dos estudantes do ensino médio EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Analisando a Tabela 1, observa-se que a maioria dos alunos avaliados tem até 30 anos de idade, representando 66,7%. Quanto ao sexo, a maioria dos estudantes identificou-se como feminino, também representando 66,7%. Em relação ao trabalho, foi constatado que a maioria dos alunos avaliados está empregada, também representando 66,7%. As frequências das questões sobre as motivações dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem estão detalhadas na Tabela 2.

Tabela 2. Distribuição de frequências dos “motivos” referentes aos estudantes avaliados.

De acordo com a questão sobre o motivo "Estudo química porque quero construir novos conhecimentos", observa-se que a resposta "concordo totalmente" foi a mais frequentemente escolhida pelos estudantes, representando 75% das respostas. Isso indica que uma grande parte dos estudantes está motivada para aprender. A motivação dos alunos no ambiente escolar é fundamental, pois influencia diretamente o nível de engajamento deles com o processo de ensino. Conforme Alcará e Guimarães (2007), estudantes motivados buscam ativamente novas oportunidades e conhecimentos, participam das atividades com entusiasmo e demonstram disposição para enfrentar novos desafios, o que favorece tanto o processo de ensino quanto o de aprendizagem.

Em relação à questão "Eu tenho muitas dificuldades em aprender química", 76,7% dos alunos concordaram, sendo que 50% concordaram totalmente e 16,7% concordaram parcialmente. Em contrapartida, para a questão "Só estudo química porque recebo recompensas como presentes e regalias", 83,3% dos estudantes discordaram totalmente, seguido de 16,7% que discordaram parcialmente. De acordo com Tapia (2003), alunos que estudam apenas visando recompensas demonstram menos interesse na escola e focam principalmente na obtenção de aprovação. Essa abordagem de estudo não é considerada adequada, pois afasta a aprendizagem intrínseca. Prfomm (1987) diferencia motivação intrínseca, que envolve a satisfação pessoal e gratificação, da motivação extrínseca, que é impulsionada por recompensas externas como prêmios, aprovação e elogios.

Analisando a questão "Não gosto de estudar química, só gosto de ir à escola", observa-se que 16,6% dos alunos concordaram, enquanto 25% não concordaram nem discordaram. Segundo Lima (2008), a aprendizagem é um processo pessoal, não ocorre de forma coletiva, mas sim através do esforço e da vontade própria do estudante.

Na questão "Gosto de realizar as tarefas de química, mesmo que não sejam para ganhar nota", aproximadamente 66,6% dos alunos concordaram em fazer atividades que não têm impacto na nota final. Brophy (1999) destaca que a afinidade pessoal do aluno com os conteúdos e tarefas propostas pelos professores é fundamental para sua aprendizagem, pois mesmo quando não há afinidade, os alunos devem pelo menos reconhecer a importância das propostas educacionais.

Quando os alunos responderam à questão "Gosto de fazer atividades de química com um grau de dificuldade que exijam mais de mim", constatou-se que 41,7% concordaram totalmente, 16,7% concordaram parcialmente e 16,7% não concordaram nem discordaram. Em relação à questão "Gosto quando o professor realiza avaliação sem consulta", verificou-se que 33,3% dos alunos discordaram totalmente e 41,7% não concordaram nem discordaram. Kilpatrick et al. (2002) recomendam atividades com nível de dificuldade intermediário, pois atividades muito fáceis podem se tornar monótonas e cansativas, enquanto atividades muito difíceis podem causar sentimentos de fracasso e frustração. Portanto, é importante orientar os estudantes a estabelecer metas alcançáveis, mesmo que exijam esforço significativo.

A análise das respostas à questão "Gosto de acessar as redes sociais quando não acho a aula de química interessante" revelou que 33,3% dos participantes concordaram totalmente, enquanto 8,3% concordaram parcialmente. Além disso, 33,3% dos respondentes não expressaram nem concordância nem discordância. De acordo com Garcia et al. (2012), o uso crescente das redes sociais entre os estudantes pode ser preocupante, pois pode resultar em um excesso de liberdade e uma redução do interesse nos estudos.

Para a questão "Na minha sala de aula, existe uma total integração entre alunos e professores que estimula a aprendizagem no ensino de química", foi observado que 41,7% dos alunos responderam "concordo totalmente" e 16,7% responderam "concordo parcialmente". Vygotsky (1991) enfatiza a importância das instituições concentrarem esforços para promover a motivação dos alunos, visando potencializar seus recursos cognitivos. A motivação desempenha um papel importante tanto no processo de ensino quanto no processo de aprendizagem.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados, observa-se que a maioria dos alunos é do sexo feminino. Em relação ao vínculo trabalhista, foi constatado que a maioria dos alunos trabalha, representando 66,7%. Além disso, a maioria dos alunos declarou que estuda química porque deseja construir novos conhecimentos, concorda com a realização de atividades de casa mesmo que não sejam avaliadas para nota, e percebe uma integração total entre alunos e professores que estimula a aprendizagem no ensino de química.

Diante desses achados, consideramos ter alcançado parcialmente os objetivos da presente pesquisa, uma vez que podemos concluir que apenas um pequeno número de alunos está desmotivado no caso estudado. No entanto, estudos futuros devem ser realizados com os estudantes avaliados para identificar as possíveis causas da desmotivação e explorar estratégias que possam promover o desenvolvimento da motivação intrínseca. Além disso, seria válido realizar estudos comparativos com grupos de estudantes de outros municípios do Estado e de diferentes regiões.

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