PARADOXO BRASILEIRO: ANÁLISE DA POUPANÇA NO CENÁRIO PANDÊMICO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10360218


Pedro Kevin Quintana Sequeira¹
Rodrigo Santos Mouzinho²
Vinicius de Sousa Machado³
Victor Hugo Dutra Silveira Peixoto de Lima⁴
Orientador: Ricardo Nascimento Ferreira⁵


RESUMO
A dissertação aborda a contradição aparente no comportamento financeiro dos brasileiros durante a pandemia da COVID-19. Embora a poupança tenha se mantido como o principal investimento da população, o retorno financeiro desses recursos tem diminuído. A prioridade das famílias brasileiras tem sido garantir a segurança financeira diante da crise econômica, levando a um aumento no número de investidores e uma maior conscientização sobre a importância de poupar. No entanto, a baixa taxa de juros e as incertezas no mercado financeiro têm limitado os ganhos obtidos com a poupança, não proporcionando retornos reais e se concentrando abaixo do nível da inflação.
Palavras-chave: Poupança; Investimentos; Pandemia; Rentabilidade; Renda Fixa
 
ABSTRACT
The dissertation addresses the apparent contradiction in the financial behavior of Brazilians during the COVID-19 pandemic. Although savings have remained the population's main investment, the financial return on these resources has decreased. The priority of Brazilian families has been to ensure financial security in the face of the economic crisis, leading to an increase in the number of investors and greater awareness of the importance of saving. However, low interest rates and uncertainties in the financial market have limited the gains obtained from savings, not providing real returns and concentrated below the level of inflation.
Keywords: Savings; Investments; Pandemic; Profitability; Fixed Income
 
Introdução
 
A pandemia da COVID-19 trouxe consigo uma série de desafios econômicos para o Brasil, colocando à prova a saúde financeira dos brasileiros em meio a um cenário de incertezas. Nesse contexto, um fenômeno intrigante emerge, apresentando uma contradição aparente no comportamento da população: enquanto a poupança se mantém como principal investimento do brasileiro, o retorno financeiro sobre esses recursos parece estar em declínio.
 
Durante o período da pandemia, a prioridade das famílias brasileiras se voltou em grande parte para a segurança financeira. Com o aumento do desemprego e a redução das atividades econômicas, muitos indivíduos optaram por economizar e constituir uma reserva financeira diante da instabilidade enfrentada. Esse comportamento, revela a preocupação em enfrentar possíveis adversidades futuras e se amparar diante da incerteza que ainda ronda a economia nacional.
 
Nesse sentido, dados apontam para a manutenção da poupança em primeiro lugar como investimento da população. De acordo com o “Raio X do Investidor”, pesquisa feita anualmente pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), houve um aumento substancial do número de investidores no país. Essa maior cautela na gestão financeira demonstra a conscientização da população em relação à importância de se poupar em meio a uma crise sem precedentes.
 
No entanto, paradoxalmente à posição relativa da poupança, o retorno financeiro efetivo sobre esses recursos não tem acompanhado o mesmo padrão. Em um contexto de alta inflação e incertezas crescentes no mercado financeiro, as opções tradicionais de investimento apresentam retornos relativamente modestos. Dessa forma, a poupança, apesar de ser uma alternativa segura e de fácil acesso para a maioria da população, não proporciona os ganhos que potencialmente poderiam ser obtidos em ambientes econômicos mais favoráveis. Com isso, não apresentando ganhos reais, ou seja, obtendo um rendimento abaixo do nível da inflação.
 
Assim, o paradoxo brasileiro se estabelece: a sociedade poupadora busca garantir sua estabilidade financeira, demonstrando uma mudança comportamental perante a crise, ao mesmo tempo em que enfrenta um contexto de retorno financeiro reduzido. Esse contraste revela a necessidade de promover maior educação financeira e investimentos mais diversificados, a fim de melhorar as oportunidades para aqueles que desejam fazer suas reservas crescerem efetivamente.
 
À medida que o país busca se recuperar dos estragos econômicos e sociais causados pela pandemia, é essencial analisar os fatores que contribuem para esse paradoxo e buscar soluções que viabilizem uma remuneração mais adequada aos recursos poupados. Somente assim a sociedade brasileira poderá superar esse desafio, tornando a poupança não apenas um ato de precaução, mas também um caminho para a prosperidade financeira em momentos de crise.
 
Procedimentos metodológicos
 
O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica  
 
Perfil do Investidor Brasileiro
 
No contexto brasileiro, é possível identificar três perfis de investidores mais comuns: conservador, moderado e agressivo. Cada um desses perfis apresenta características distintas em relação ao risco e às preferências de investimento.
 
Investidores conservadores são aqueles que optam por produtos de baixo risco, como poupança, títulos públicos, CDBs e fundos de renda fixa. Seu principal objetivo é preservar o capital e obter retornos consistentes ao longo do tempo. Eles preferem um investimento seguro e estável, evitando exposição a oscilações mais bruscas do mercado.
 
Já os investidores moderados demonstram maior disposição para correr riscos e buscam diversificar suas carteiras de investimento. Além dos produtos de renda fixa, eles também alocam recursos em ativos de renda variável, como ações, fundos multimercado e imobiliários. O objetivo desses investidores é obter retornos superiores à média do mercado, ainda que mantenham uma parcela considerável de seus investimentos em produtos de menor risco.
 
Por outro lado, os investidores agressivos são aqueles que assumem riscos significativos em busca de retornos expressivos. Esse perfil se expõe a um maior número de produtos de renda variável, como ações, opções e investimentos em startups. Os investidores agressivos estão dispostos a aceitar a volatilidade e as potenciais perdas associadas a esses investimentos, pois seu objetivo principal é aumentar seu patrimônio de forma mais acelerada.
 
Em relação aos motivos que levam os investidores brasileiros a investir, as variações são amplas. Alguns investidores buscam garantir uma aposentadoria confortável, enquanto outros têm o objetivo de adquirir um imóvel, financiar a educação dos filhos, proteger-se da inflação, aproveitar oportunidades de negócios ou simplesmente aumentar seu patrimônio.
 
Segundo dados do Raio X do Investidor 2020 (ANBIMA), 16,3% dos investidores possuem a segurança desse investimento como o principal ponto de escolha. Já 11% dos entrevistados prezam pela liquidez como fator decisivo e apenas 9,2% visam a quantidade de retorno sobre o investimento. Nessa mesma pesquisa foi apontado que 60,5% não sabem exatamente o que priorizar para investir o seu dinheiro. Com isso, podemos compreender que o brasileiro está mais alinhado com o perfil conservador. Os números abordados evidenciam o pouco conhecimento de grande parte da população no quesito educação financeira.

 
 
A Dinâmica da Poupança no Contexto Econômico Brasileiro
 
A poupança, tradicionalmente conhecida como a "caderneta de poupança", é uma forma de investimento consolidada no Brasil. Neste capítulo, exploraremos sua natureza, examinaremos o histórico recente da poupança, analisaremos seus rendimentos passados e atuais, além de destacar fatores que influenciam diretamente sua rentabilidade.
 
Em uma primeira instância, iremos abordar sobre a essência da poupança, que é uma modalidade de investimento de baixo risco, acessível a uma ampla gama de investidores. E sua mecânica é simples: o investidor deposita fundos em uma instituição financeira, geralmente um banco, e, em troca, recebe rendimentos com base em uma taxa de juros pré estabelecida, geralmente atrelada à taxa básica de juros, a Selic. Portanto, a poupança pode servir como uma porta de entrada para o universo dos investimentos, podendo ser uma opção popular entre investidores iniciantes e aqueles que buscam uma abordagem mais conservadora para a gestão de seu dinheiro.
 
A poupança, como forma de investimento, possui características que a destacam no cenário financeiro. Sua essência se baseia em princípios fundamentais, tais como a preservação do capital, a acessibilidade e a simplicidade. Neste artigo, discutiremos esses aspectos e abordaremos a importância de compreender as limitações da poupança em cenários de taxas de juros historicamente baixas.
 
A principal característica que atrai investidores para a poupança é a busca pela segurança do capital investido, minimizando os riscos de oscilações do mercado. A poupança é considerada uma opção conservadora, pois oferece uma salvaguarda contra perdas significativas. Isso a torna atrativa para aqueles que priorizam a preservação de seu patrimônio.
 
Outro aspecto relevante da poupança é a sua acessibilidade e inclusão financeira. Ela se apresenta como uma opção popular e aberta a investidores iniciantes, independentemente do seu conhecimento financeiro. A simplicidade na operação torna a poupança uma escolha fácil de entender e aplicar. Essa característica atrai muitas pessoas que desejam uma abordagem de investimento passiva, sem a necessidade de se envolverem em estratégias complexas.
 
Além disso, a liquidez é uma vantagem da poupança. Ela permite aos investidores resgatar seus recursos rapidamente, proporcionando flexibilidade financeira. Essa facilidade de acesso aos fundos investidos é um aspecto valorizado por aqueles que podem precisar de dinheiro imediato em situações de emergência.
 
A relação da poupança com a Taxa Básica de Juros (Selic) também deve ser levada em consideração. Os rendimentos da poupança estão diretamente atrelados à taxa básica de juros, tornandose sensíveis às mudanças nas políticas monetárias do país. Nesse sentido, é importante acompanhar as movimentações da economia e compreender como as alterações na Selic podem impactar os rendimentos da poupança.
 
Embora a poupança ofereça vantagens significativas, é essencial que os investidores compreendam suas limitações, especialmente em cenários de taxas de juros historicamente baixas. Em épocas de baixa rentabilidade, a poupança pode não ser a opção mais atrativa para obter retornos significativos. É importante que os investidores considerem outras alternativas que possam se mostrar mais lucrativas para alcançar seus objetivos financeiros.
 
Em suma, a poupança se destaca como uma forma de investimento centrada na preservação do capital, acessibilidade e simplicidade. Sua natureza conservadora atrai investidores em busca de segurança, enquanto a simplicidade na operação a torna acessível a todos os níveis de conhecimento financeiro. No entanto, compreender suas limitações e considerar outras opções é fundamental para maximizar os retornos financeiros em cenários desafiadores.
 
Uma análise sobre o histórico da poupança.
 
Nos últimos anos, a poupança no Brasil tem sofrido transformações significativas nas condições econômicas e na política. O cenário financeiro testemunhou uma reviravolta notável, impactando diretamente os rendimentos dessa tradicional forma de investimento. Em meados da última década, a taxa básica de juros, conhecida como Selic, atingiu mínimas históricas, desencadeando uma série de mudanças nos retornos da poupança. Como por exemplo:
 
Variações na Taxa Básica de Juros - a trajetória da poupança está intrinsecamente ligada à oscilação da Selic. Em 2012, a poupança rendia 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR). Entretanto, à medida que a Selic iniciou um declínio gradual nos anos seguintes, a dinâmica da poupança foi alterada. Com a nova fórmula de remuneração, que consiste em 70% da Selic mais a TR, os rendimentos da poupança tornaram-se mais sensíveis às flutuações da taxa básica de juros.
 
Impacto nos Rendimentos - a queda na Selic impactou diretamente a rentabilidade da poupança, levando a uma preocupação generalizada entre os investidores. Em um período de taxas de juros historicamente baixas, a poupança passou a oferecer retornos mais modestos, muitas vezes ficando aquém da inflação. Essa realidade motivou investidores a buscarem alternativas mais rentáveis para proteger seu poder de compra. Diante deste cenário de taxas de juros em declínio, instiga muitos investidores a explorarem outras opções, como por exemplo investimentos em renda fixa, renda variável e fundos de investimento. Essa busca por alternativas reflete a necessidade dos investidores em procurar estratégias de investimento para garantir ganhos mais substanciais em um ambiente econômico desafiador.
 
Adaptação dos Investidores - neste sentido, a dinâmica da poupança nos últimos anos destacou a importância da adaptabilidade por parte dos investidores. Aqueles que compreenderam as nuances do cenário econômico conseguiram ajustar suas carteiras de investimento de maneira mais eficaz, explorando oportunidades que oferecem retornos mais atrativos do que os proporcionados pela poupança.
 
A busca por alternativas e a compreensão das relações entre a poupança, a Selic e outros instrumentos financeiros tornam-se cruciais para tomar decisões de investimento informadas nos tempos atuais. Este cenário dinâmico coloca em destaque a necessidade contínua de uma abordagem estratégica e flexível para a gestão financeira pessoal.
 
Evolução dos rendimentos passados e atuais da poupança
 
Ao analisarmos o passado e o presente dos rendimentos da poupança, é essencial compreender a trajetória que essa modalidade de investimento percorreu ao longo dos anos. Os rendimentos passados, marcados por uma estabilidade parcial, contrastam significativamente com a realidade atual, onde atualmente impõe desafios de rentabilidade baixa da poupança.
 
Rendimentos Históricos e Estabilidade: há décadas, a poupança era reconhecida por oferecer rendimentos consistentes e, em muitos casos, superiores à inflação. O modelo de remuneração, vinculado a uma taxa fixa mais a TR, proporciona uma certa previsibilidade aos investidores. Esse cenário contribuiu para consolidar a poupança como uma escolha tradicional e segura para aqueles que priorizam a preservação do capital.
 
Mudanças na Remuneração e Sensibilidade à Selic:
 
Contudo, a virada do século trouxe consigo transformações nas políticas monetárias. A introdução da nova fórmula de remuneração, em que a poupança passou a render 70% da Selic mais a TR, marcou uma mudança significativa. A sensibilidade crescente aos movimentos da taxa básica de juros tornou os rendimentos da poupança mais voláteis e, em alguns períodos, menos competitivos em comparação com outras opções de investimento. Levando muitos investidores a adotarem outras formas de investimentos como mencionado anteriormente neste capítulo
 
Desafios atuais: nos últimos anos, a poupança enfrentou desafios adicionais devido à queda expressiva na Selic. Com a taxa básica atingindo patamares historicamente baixos, os rendimentos da poupança se viram limitados. Em alguns momentos, esses rendimentos chegaram a ficar abaixo da inflação, resultando em perdas reais para os investidores. A relação entre os rendimentos da poupança e a inflação tornou-se uma preocupação, pois, em determinados períodos, a poupança não conseguiu manter o poder de compra dos investidores. Esse cenário motivou uma busca crescente por alternativas de investimento, onde ativos de renda fixa, fundos de investimento e outras opções ganharam destaque pela capacidade de oferecer retornos mais expressivos.
 
Diante desse contexto, a perspectiva futura é a diversificação de investimentos. A dinâmica econômica e as mudanças nas políticas monetárias requerem uma abordagem mais flexível e adaptável, na qual os investidores busquem uma combinação equilibrada de ativos para otimizar seus ganhos financeiros.
 
Por fim, os rendimentos passados e atuais da poupança refletem não apenas a evolução dessa modalidade de investimento, mas também a necessidade contínua de os investidores se adaptarem a um ambiente financeiro em constante mudança. A compreensão das variáveis que afetam os rendimentos da poupança e a busca por alternativas adequadas tornam-se imperativas para quem deseja alcançar objetivos financeiros de maneira eficaz no cenário atual.
 
Cenário Pandêmico
 
A pandemia teve início no país nos primeiros meses do ano de 2020. Embora a situação se alastrasse cada vez mais por outros continentes, a falta de prevenção afetou drasticamente os resultados subsequentes no país como um todo, afetando as esferas políticas e econômicas. Com uma taxa de desemprego alarmante, muitos brasileiros viram a necessidade de utilizar suas economias para sobreviver. Por conta disso, entre outros fatores, a poupança perdeu 6% de seus investidores, caindo de 29% para 23%, segundo pesquisa da ANBIMA.
 
No ano de 2020, a Taxa Selic, o principal indexador da poupança, oscilou devido aos esforços do Banco Central em incentivar o crédito e os investimentos. No seu ponto mínimo, a taxa chegou a 1,90%. Como resultado dessa queda, os rendimentos atrelados a essa taxa despencaram. Com o funcionamento da poupança nesse cenário, os valores seriam equivalentes a 70% dessa taxa mais TR.
 
No ano seguinte, em 2021, o cenário era diferente. Devido ao aumento da inflação, o COPOM viu a necessidade de elevar gradualmente, mas rapidamente, a taxa de juros, atingindo 9,15% em dezembro. Devido à forma como a poupança opera, quando a Selic ultrapassou os 8,5%, a poupança utiliza o valor padrão de rendimento, que é 0,5% ao mês mais TR, que no momento estava zerada.
 
Com base nos dados apresentados, pode-se compreender que a poupança não obteve bons retornos durante esse período, sendo afetada inicialmente pela baixa da taxa de juros e posteriormente pelo aumento dela. No primeiro momento (2020), a inflação registrava 4,52% anual, já o rendimento da poupança foi de 2% no ano, dessa forma o indivíduo que optou por esse investimento nesse período perdeu poder de compra. Já no ano de 2021, a poupança foi afetada pela alta dos juros e da inflação, uma vez que seu rendimento estava aproximadamente em 6,5% anual e a inflação superando os 10%, criando ainda mais discrepância que no ano anterior. Com isso, é perceptível que os indivíduos que optaram por esse investimento não obtiveram retorno real.
 
Investimentos Conservadores
 
Embora a poupança seja uma opção de investimento segura e tradicional, existem alternativas que podem proporcionar retornos mais atrativos. Durante esse período em análise, alguns títulos conservadores têm se destacado. Um exemplo é o Tesouro SELIC. Este título público acompanha a taxa básica de juros da economia e apresentou rendimentos superiores à poupança nesses anos. Isso ocorre porque a rentabilidade da poupança está atrelada a uma taxa fixa e, em momentos de queda da taxa de juros como vimos recentemente, outros investimentos podem se beneficiar.
 
O Tesouro SELIC compõe uma das opções de investimentos mais buscadas de Renda Fixa: o Tesouro Direto, no qual o investidor compra títulos da Dívida Pública, ou seja, “empresta” recursos ao governo. Podendo ser feita em modalidades distintas: pré-fixada, a qual a rentabilidade já é conhecida no momento do investimento; pós-fixada, em que a rentabilidade consiste na remuneração anual fixa mais a Taxa Selic do período; e híbrida com a rentabilidade atribuída ao Índice IPCA+ e uma taxa de remuneração fixada no momento da compra.
 
Sua característica de liquidez diária, valor mínimo de aporte acessível e baixo risco se mostrou uma alternativa extremamente atraente. Segundo dados do próprio Tesouro Direto publicados pela Agência Brasil, o número de investidores apresentou um aumento de 23,3% entre agosto de 2022 e 2023. Sendo ainda este o mês com o maior aumento mensal da série histórica. Acréscimo de 80.923 para um total de 2.373.706 pessoas.
 
Além do Tesouro Selic, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) também é uma opção muito procurada. Os bancos ofertam esse tipo de investimento para captar fundos para a própria operação. Os rendimentos também podem ser pré-fixados ou pós, estes atrelados a índices de inflação, como o IPCA+, por exemplo, que por sua natureza de poder de compra da moeda representa um ganho real em comparação aos ganhos da poupança. Esses títulos podem ser uma opção atraente para quem busca proteção contra a inflação e um retorno mais significativo.
 
Uma alternativa são as Letras de Crédito. Trata-se também de títulos de dívidas, porém orientados a captar recursos que serão destinados aos setores imobiliário e do agronegócio. O banco faz a capitalização do dinheiro por meio desses títulos e, posteriormente, empresta os recursos para seus clientes. As Letras de crédito são isentas de Imposto de Renda e possuem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e oferta de juros maiores. Por se tratar de uma oferta de uma instituição privada, podem variar a oferta para maior atratividade de investidores. Em contrapartida, é um investimento de baixa liquidez, o que representa uma limitação de saques.
 
É necessário ressaltar, que é essencial avaliar as taxas de administração e outros custos associados a esses investimentos, pois eles podem afetar a rentabilidade. Além disso, é crucial realizar uma análise criteriosa das condições do mercado financeiro e consultar um especialista em investimentos para tomar decisões embasadas.
 
Análise com VPL entre poupança e títulos públicos
 
Agora iremos fazer uma análise aprofundada para orientar decisões de investimento entre a tradicional poupança e os títulos públicos, empregando a técnica do Valor Presente Líquido (VPL). A escolha de investimentos é uma decisão crítica para indivíduos e empresas, e compreender como utilizar o VPL com as taxas da poupança pode proporcionar visões que serão valiosas no futuro.
 
Para realizar tal comparação entre a poupança e os títulos públicos, iremos utilizar a fórmula do VPL, onde os fluxos de caixa futuros são trazidos para o valor presente, considerando as taxas da poupança. O estudo envolve a seguinte abordagem:
 
Identificação dos Fluxos de Caixa:
 
Para a poupança, os fluxos de caixa consistem nos depósitos mensais e na remuneração mensal. Para os títulos públicos, os fluxos incluem os pagamentos periódicos de juros e o valor nominal no vencimento
 
Determinação da Taxa de Desconto (r):
 
A taxa de remuneração da poupança é utilizada como a taxa de desconto (r) para os cálculos do VPL. Esta taxa reflete o custo de oportunidade do dinheiro investido na poupança.
 
Cálculo do VPL para Poupança:
 
Aplicação da fórmula do VPL utilizando a taxa de remuneração da poupança, considerando os fluxos de caixa identificados.
 
Cálculo do VPL para Títulos Públicos:
 
Para os títulos públicos, são utilizadas as taxas de juros específicas dos títulos escolhidos para o cálculo do VPL.
 
Comparação e Interpretação:
 
Com os valores de VPL obtidos, realiza-se uma comparação direta entre os dois investimentos. Um VPL positivo indica que o investimento é vantajoso, enquanto um VPL negativo sugere que o investimento pode não ser viável.
 
Segue abaixo um cenário na prática:
 
Vamos considerar um investidor, João, que tem a opção de investir R$ 10.000,00 mensalmente, durante 5 anos. Ele está indeciso entre a poupança, que oferece uma taxa de remuneração mensal de 0,5%, e um título público prefixado com taxa de juros de 8% ao ano.
 
Passos para a Análise com VPL:
 
1. Identificação dos Fluxos de Caixa:
 
Poupança:
 
João deposita R$ 10.000,00 por mês.
 
Remuneração mensal calculada com a taxa de 0,5%.
 
Títulos Públicos:
 
João recebe juros do título (8% ao ano) e, no final dos 5 anos, resgata o valor investido. 
 
 
2. Determinação da Taxa de Desconto (r):
 
Para a poupança, R=0,5%r=0,5% ao mês.
 
Para os títulos públicos, R=8%r=8% ao ano, convertido para uma taxa mensal de 8%/12.
 
3. Cálculo do VPL para Poupança:
 
∑VPLPoupança=∑(10.000/(1+0,5%)^t)−10.000
 
4. Cálculo do VPL para Títulos Públicos:
 
VPLTítulos Públicos=∑ (Juros Mensais/(1+8%/12)^t)+10.000/(1+8%/12)*60
 
5. Comparação e Interpretação:
 
Se VPLPoupança>VPLTítulos Públicos, a poupança é a opção preferível.
 
Resultados Hipotéticos:
 
Após os cálculos, suponhamos que:
 
VPLPoupança =R$150. e VPLTítulos Públicos =R$140.
 
Isso indicaria que, no contexto deste exemplo, a poupança seria a escolha mais vantajosa para João.
 
Nesse sentido, ao utilizar a técnica do Valor Presente Líquido com as taxas da poupança, este estudo fornece uma base sólida para a tomada de decisões de investimento. A comparação entre a poupança e os títulos públicos utilizando o VPL permite aos investidores avaliar de forma holística as oportunidades disponíveis, considerando não apenas os aspectos financeiros, mas também os objetivos individuais e o contexto econômico. A utilização do VPL emerge como uma ferramenta valiosa no arsenal do investidor, capacitando-o a tomar decisões fundamentadas em busca da maximização de retorno e gestão eficaz de recursos financeiros.
 
Considerações finais
 
Num panorama de investimentos em constante evolução, o conhecimento emerge como a principal ferramenta para investidores. A busca contínua por educação financeira, a compreensão das opções disponíveis e a aplicação de técnicas analíticas, como o VPL, capacitam os investidores a navegarem por um ambiente dinâmico com confiança.
 
Portanto, à medida que cada investidor traça sua jornada financeira, a consciência das nuances do mercado brasileiro, a adaptação a mudanças econômicas e a contínua busca por conhecimento são os pilares que sustentam uma abordagem sólida e rentável. Que esta análise sirva como um guia valioso para os investidores brasileiros, capacitando-os a tomar decisões informadas e alcançar seus objetivos financeiros de maneira consciente e sustentável.
 
Referências Bibliográficas
 
Tesouro Direto tem recorde de novos investidores ativos. 2023. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-09/tesouro-direto-tem-recorde-de-novos-investidores-ativos>
 
Raio X do Investidor Brasileiro – terceira edição. 2020. Disponível em: <https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2020.htm>
 
Bolsa Brasileira B3. 2023. Disponível em:<https://www.b3.com.br/pt_br/para-voce>

¹ Pedro Kevin Quintana Sequeira - CEFET-RJ - Campus Maracanã. Bacharelado em Administração, [email protected]
 
² Rodrigo Santos Mouzinho - CEFET RJ - Campus Maracanã. Bacharelado em Administração, [email protected]
 
³ Vinicius de Sousa Machado - CEFET RJ - Campus Maracanã. Bacharelado em Administração, [email protected]
 
⁴ Victor Hugo Dutra Silveira Peixoto de Lima - CEFET RJ - Campus Maracanã. Bacharelado em Administração, [email protected]
 
Professor orientador Ricardo Nascimento Ferreira - CEFET-RJ – Campus Maracanã. Núcleo de Investigação em Ensino, História da Ciência e Cultura (NIEHCC). [email protected]