OS REFLEXOS DA COVID-19 NA ÁREA DE VAREJO NO SETOR ALIMENTÍCIO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10463949


Gabriel Magno Moreira Marques de Carvalho1
Luiz Henrique da Silva Costa2
Ricardo Nascimento Ferreira3


INTRODUÇÃO

Atualmente o mundo precisa lidar com uma problemática que deixará rastros em aspectos ambientais, econômicos e socioculturais, todos provocados pela doença Covid-19, classificada como crise sanitária universal através da Organização Mundial de Saúde no início de março de 2020, que causou uma pandemia contendo aproximadamente três anos de duração, a OMS na sexta-feira, 5 de maio, alegou o fim da emergência de saúde pública no mundo. “É com grande esperança que declaramos que a Covid-19 não é mais uma emergência Global”, Tedros Adhanom, diretor da OMS.

Apesar desse novo ensejo em que o planeta trilha a partir dessa recente afirmação e o alívio da sociedade em ter suas vidas preservadas, ainda não é o significado de conclusão ou encerramento de mazelas. A enfermidade trouxe consigo e deixou como sequela para a população inúmeros impactos e reflexos que caminham diariamente com a massa.

Somente no Brasil, de acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), houve mais de 700.000 óbitos confirmados, sendo na região sudeste o maior índice de mortes com aproximadamente 330.000 pessoas, considerando que a localidade representa 89.012.240 em habitantes da nação brasileira, conforme o IBGE, (2020). Outrossim, foi divulgado quais os setores que mais foram afetados pela pandemia e estão entre eles: transporte aéreo, transporte público urbano, serviços de alojamento, serviços de alimentação, comércio de veículos, peças e motocicletas, entre outros anunciados por meio da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec/ME).

Um dos departamentos supracitados que mais crescem hoje no Brasil, é o serviço de alimentação, que mesmo com as implicações pandêmicas, elevou-se em meio à crise. Conforme a ABIA, é a maior do país, contribuindo como 10,8% do PIB nacional e acarreta 1,8 milhão de empregos formais e diretos, além do Brasil ser o segundo maior exportador, levando seus alimentos para 190 países. Ademais, 58% de tudo que é retirado do campo é processado pela indústria, contam com 38 mil empresas, R$ 23,6 BI em investimentos, correspondendo por 17,6% das exportações totais nacionais, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA, 2022).

Em consonância a Asserj, Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (2023), também registra que o setor é cujo qual mais gera emprego, cerca de 800 mil vagas, sendo diretas e indiretas, embora comparando os dados do ano anterior referente a taxa de empregabilidade, os cálculos negativos são menos intensos e expressivos.

Deste modo, em análise dos fatos, surge o problema desta pesquisa: diante desse quadro, entre os obstáculos causados ainda presentes na sociedade fluminense, quais são alguns dos principais reflexos da Covid-19 no setor alimentício varejista no Estado do Rio de Janeiro?

DESENVOLVIMENTO

A fundamentação teórica será segmentada em quatro partes, em que na primeira, serão abordados como alguns dos fatores do momento pandêmico, o desemprego e a inflação no Estado; em seguida, será discorrido como ambos os impactos estão presentes no setor alimentício varejista; na terceira parte será abordado como esses efeitos colaboram para a problemática de insegurança alimentar como contraste no cenário social; por fim, retratar-se-á como a indústria e/ou comércio e consequentemente os trabalhadores driblaram esses dois causadores investindo no serviço online e modalidade de delivery, reforçando algumas incongruências.

2.1. Inflação e Desemprego no Estado do Rio de Janeiro

Diversas empresas na área de alimentos sofreram com a crise financeira e por falta de recursos, um dos principais cortes de gastos em meio a conjuntura, é a alta taxa de demissões, gerando milhares de desempregados pelo Estado. De acordo com o levantamento feito, ao final do primeiro trimestre de 2022, o Rio de Janeiro incluía cerca de 1,323 milhão de trabalhadores e o índice de desemprego apresentou 14,9%, sendo a terceira maior, apenas atrás da Bahia (17,6%) e Pernambuco (17%). A analista Adriana, pesquisadora pelo IBGE, aponta: “No Rio, a atividade econômica é muito voltada para serviços e comércio, sendo essas as atividades mais afetadas nos últimos anos, sobretudo por causa da pandemia, e isso acaba atrapalhando a capacidade de geração de oportunidades de ocupação”. (BERINGUY, 2022).

Em contrapartida, no segundo trimestre do mesmo ano, 2022, as amostras destacaram que a cidade do Rio de Janeiro voltou a ter um dígito, sendo de 9,8%, feito que não acontecera desde o terceiro trimestre de 2016. Segundo a Pnad Contínua, do IBGE, o recuo foi de 5,8 pontos percentuais referente ao mesmo período de 2021, marcado por 15,6% de taxa de desemprego. Considerando que, de igual modo, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), aponta que os dados para Região Metropolitana, houve um índice de 12,9% e o IBGE registra no Estado Fluminense, uma taxa de 12,6%, um recuo de 1,4 pontos de percentual.

Por consequência da pandemia, causada pelo novo Coronavírus, a desocupação como exposta acima se tornou uma questão desenfreada e alarmante, salva em suas exceções através de políticas públicas criadas pelo governo, e juntamente com o desemprego vieram os efeitos da inflação. Entretanto, ora, se visto que a relação de causa e efeito entre inflação e desemprego são inversamente proporcionais, uma vez que menos oportunidades são geradas, declina-se a renda para a economia, a demanda por bens e serviços torna-se mais baixa, as empresas diminuem os preços, aumentando a competição para a conquista dos consumidores remanescentes e o incentivo para redução de custo para uma maior demanda dos produtos acorre (CAMARGO, 2018); fica a incógnita do porquê não ter acontecido tal façanha nesse período atravessado pela Covid-19.

Há uma explicação, segundo alguns jornalistas e pesquisadores:

a combinação do aumento da demanda e dos gastos públicos adicionado com a queda na oferta pela diminuição da produção industrial e pelo crescimento das exportações culminou na ampliação do índice inflacionário nacional, fazendo com que algumas frações de classes sejam mais atingidas do que outras, isto é, os assalariados e os produtores pertencentes à agricultura familiar. (CONCEIÇÃO, XAVIER, JORGE, 2022).

Elementos básicos como alimentação, habitação e transporte são os principais gastos da população mais vulnerável, por outro lado, a população geral possui outras despesas mais supérfluas. O governo federal, sob a autoridade do Ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, implementou o auxílio emergencial com intuito de gerar o aumento de renda, que induziu a procura por bens e serviços, aumentando a demanda (CONCEIÇÃO, XAVIER, JORGE, 2022).

Dessarte, em abril de 2020, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro atingiu a maior taxa de inflação registrada em momento histórico de deflação no País, durante a Covid-19, dados divulgados pelo IBGE. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aponta que de março para abril, o Estado Fluminense desacelerou em 0,46%.

Em virtude disso, passagens aéreas marcaram 15,83% de aumento médio, de igual modo com a tarifa de energia elétrica chegando a uma alta de 1,33%, devido a uma autorização determinada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), gerando um reajuste de 6,21% nas tarifas da Light, empresa que atende 32 municípios no Rio de Janeiro. Inclusive, de todas as regiões pesquisadas, diante de uma deflação nacional a que se refere ao preço na gasolina, a Grande Rio apresentou a menor queda, atingindo 5,13%.

Por efeito da inflação em todo território Fluminense, o setor alimentício não ficou de fora, no quarto mês, o acréscimo foi de 1,57%, ainda assim abaixo da média nacional, registrada por 1,79%, medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Considerando que IPCA abrange uma maior parte da população com grande diversidade de renda enquanto INPC se atém a medida de inflação aos gastos de famílias com rendas mais baixas, a média brasileira marcada por 0,22%, em comparação com a Metrópole do Rio, que acumula 0,68%, indica que a região está bem acima do desejado, já no período de um ano o IPCA concentra 2,43%, ante a 2,40% de INPC; todos os dados foram publicados pelo IBGE. (SILVEIRA, 2020).

Desse modo, é possível afirmar que durante o período pandêmico, a Covid-19 contribuiu numa escala latente em problemas que de antemão eram presentes e alarmantes no Estado. O que era um contratempo do governo referente a sociedade, tornou-se uma urgência, acarretando sérios obstáculos para o cidadão fluminense, que antes tentando se manter diante de desigualdades sociais, agora em situação de risco, perpassa por necessidades básicas e com precariedade, como poder se alimentar.

2.2. Como o Crescimento Excessivo dos Preços e a Desocupação impactaram o Setor Alimentício Varejista no Rio de Janeiro.

Como meio de marketing e propaganda, muitas empresas utilizam algumas maneiras de atrair o consumidor como elaborações de campanhas, promoções específicas e/ou aproveitam datas de aniversário, que prestigia sobretudo o cliente que ganha oportunidades em eventos elaborados como esses. O mais famoso caso no Rio de Janeiro, é o Aniversário Guanabara, promovido pela Rede de Supermercado Guanabara, que é uma companhia estritamente regional do Estado Fluminense, que abrange 26 unidades.

Em outubro de 2021, a companhia resolveu reabrir a promoção de aniversário, tendo em vista que por conta da pandemia teve de cancelar no ano anterior, entretanto com corredores vazios, segundo um consumidor que estava presente e foi entrevistado pelo jornal Estadão, Ronaldo da Conceição, de 45 anos relata: “não tinha muita gente”. Um outro cliente, Ailton dos Santos, de 67 anos, também questionado sobre a situação do supermercado, diz:

Eu já me programei, mas não para a quantidade que eu comprava antigamente, um pouco menos. Devido a essa situação que estamos vivendo, da Covid, muitos estão desempregados, aí não tem condição de comprar como antigamente. As coisas aumentaram muito mesmo, está muito difícil. (SANTOS, 2021)

O aumento de preços decorreu num momento desfavorável em que a taxa de desemprego demarcada no trimestre encerrado em julho do ano de 2021, era de 13,7%, com ocorrência de 14,1 milhões de pessoas procurando trabalho, com obtenção de uma queda sobre a renda média de 8,8% em um ano, de quem ainda continuava empregado.

O acréscimo excessivo e a desocupação impactaram diretamente o setor alimentício, modificando suas estratégias de vendas e tornando a vida do carioca um pouco mais difícil. Uma pesquisa foi realizada em 26 estabelecimentos nos municípios do Rio de Janeiro através do Procon Estadual, indicando que a variação de preços em alimentos básicos foi de até 46%. O arroz com uma modificação de 22%, a farinha de trigo de 24%, seguindo a análise em cada cidade, Nova Iguaçu registrou para o óleo de soja e o açúcar em torno de 15%, Nilópolis variou em 23% no feijão. Enquanto 500g de macarrão custava de R$4,29 a R$4,99 em Campos dos Goytacazes, o preço do Fubá apontou 14% e a farinha de mandioca 29% em Macaé. O Sal variou em 17% em Nova Friburgo. (MIRANDA, 2021)

Em 2021, no mês de setembro que antecedeu o Aniversário Guanabara, o açúcar, o óleo de soja e a carne, tiveram os índices mais altos de inflação, respectivamente de 44%, 32% e 25%, segundo o IBGE, obtendo 1,16% de acréscimo naquele período, a maior inflação registrada do mês desde 1994.

Numa pesquisa realizada pelos desenvolvedores desse trabalho, com moradores de diversos bairros do Estado do Rio, sendo eles: Campo Grande, Botafogo, Piedade, Rio Cumprido, São Cristóvão, Rocinha, Glória e Padre Miguel, em que quando perguntados sobre o alimento que mais obteve aumento durante a pandemia e se de alguma maneira deixaram de comprá-lo, 45% indicaram o “arroz e feijão”, 40% responderam “a carne”, 10% disseram “óleo de soja”, 3% apontam o “tomate” e outros 2% dividem entre o “ovo” e “peito de frango”. 97% dos entrevistados disseram que não abdicaram de comprar seus alimentos, 2% confessam que reduziram a proporção e 1% apenas aponta que deixou de adquiri-los. Essa análise foi feita com 50 pessoas, todas residentes cariocas.

Ainda sobre o exame, quando questionados sobre ficarem desempregados durante o momento de pandemia do Novo Coronavírus, 60% declararam que “sim”, 38% indicam que “não” e 2% apontam “parcialmente”, em condição de duas ou mais ocupações, na qual perderam uma.

Diante desse quadro, em que o aumento dos alimentos se reajusta de maneira desgovernada e o desemprego faz com que os trabalhadores tenham menos poder de compra para suprir suas urgências que são básicas, fomenta-se um declínio e preocupante caso de saúde pública, que nessa circunstância, trata-se de alimentação. De acordo com a PAAS, Promoção da Alimentação Adequada e Saudável, deve-se proteger a divulgação do desenvolvimento à saúde da sociedade, em seu pleno potencial de crescimento e ampliação de qualidade humana, conservando em direito a vida e a cidadania.

2.3. Insegurança Alimentar Causada pelo Desemprego e Inflação em Detrimento do Setor Alimentício no Rio de Janeiro.

Insegurança Alimentar é a condição da fome e a situação que a sociedade de um país ou de uma determinada região passa por não ter acesso social e econômico a recursos e alimentos nutritivos que possam atender as suas necessidades para uma vida saudável e ativa. Dessa maneira, como uma análise de causa e efeito, entende-se a relação entre desemprego e inflação com insegurança alimentar, já que para custear coisas básicas como comer de maneira sadia depende do poder de compra e para se ter dinheiro é preciso trabalhar, numa conjuntura que há um índice muito alto de desemprego, devido a condições desfavoráveis para se gerar ocupações, como a inflação, é praticamente impossível.

Segundo um estudo produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN), integrada pelo segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandeia da Covid-19, no Estado do Rio de Janeiro 2,7 milhões de pessoas passam fome, também levantando um contraste, 50% dos homens responsáveis “em colocar comida na mesa” possuem segurança alimentar, enquanto 38,58% das mulheres que estão em busca do sustento de suas famílias, passam por insegurança alimentar.

Fomentando o impacto do desemprego, quase 70% de pessoas em desocupação sofrem com essa insegurança moderada ou passam fome. Ao se tratar de nível moderada, quer dizer que um integrante da família precisa abrir mão da alimentação para que outra se alimente, ou que falte uma das principais refeições do dia e que se diminua a proporção de alimentos.

A diferença ocorre em um recorte de raças também, em que 37,61% dos chefes de família pretos ou pardos vivem em insegurança alimentar grave, em que passa fome ou faz apenas uma refeição diária, em contrapartida, 55,63% de chefes de família que se autodeclaram brancos não passam por nenhum tipo de restrição, resultados medidos pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) que também é utilizada pelo IBGE.

Algumas pesquisadoras apontam um direito estabelecido para todo e qualquer cidadão:

A atenção dada pela indústria à doença acontece porque, em situações de crise, a demanda por produtos estocáveis tende a aumentar, o que exige grande planejamento logístico. A população, como forma de se proteger de uma possível escassez, passa a adquirir mais alimentos processados e ultraprocessados, uma vez que estes têm menor perecibilidade, são práticos, de fácil acesso e, por vezes, com menor preço quando comparados aos alimentos frescos. Todavia, o acesso à alimentação equilibrada é imprescindível para o enfrentamento da doença. A segurança alimentar deve ser considerada para além do aspecto higiênico-sanitário (OLIVEIRA, ABRANCHES, LANA, 2020).

Numa pesquisa efetivada, pelos responsáveis deste trabalho acadêmico, os dialogados no momento em que indagados sobre as condições durante a pandemia a respeito dos diferentes níveis de insegurança alimentar ou em caso de segurança alimentar, 90% não passaram por nenhum tipo de insegurança, dentro dessa porcentagem, 55% se autodeclara “branco”, 40% como “pardo” e 10% “preto”. Os outros 8% apontam que passaram por insegurança alimentar moderada e 90% deles se autodeclaram como “pardo”, 7% como “branco” e 3% “preto”. Apenas de 2% passaram em nível grave e/ou fome e 100% se autodeclaram “pardos”. A pesquisa foi realizada com 50 pessoas, sendo todas habitantes de 5 bairros diferentes do Rio de Janeiro.

Ainda sobre a situação de escassez no Rio de Janeiro, a PENSSAN complementa, 48% vivem segurança alimentar, 25% passam insegurança alimentar leve, em que não se tem previsão sobre o acesso a alimentos com qualidade, 17,7% por insegurança alimentar moderada e em 15,9% dos lares, atravessam a insegurança alimentar grave. O Estado Fluminense supera a média nacional, medida por 15,5%. (LAURIANO, JACOMO, TORRES, 2022).

Em decorrência de uma grande inflação no Rio de Janeiro, comparada a outros Estados e até mesmo em situação de deflação histórica no país, mostrada em supracitada destaca-se a dificuldade em ocasionar ocupações, em que não se gerando meios de renda, as famílias mais pobres, vulneráveis e com baixo grau de escolaridade são mais impactadas.

A Organização das Nações Unidas (ONU), em outubro de 2022, realizou um solene evento no Rio de Janeiro, Dia Mundial da Alimentação, contando com autoridades de mais de 14 países, o representante do Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil, Daniel complementou:

O acesso a uma alimentação adequada e saudável é um

direito humano. Governos, sociedade civil e o setor privado desempenham um papel crucial no processo de desenvolvimento e transformação dos sistemas agroalimentares, especialmente em um contexto de crise climática, que ajuda a empurrar milhões de pessoas para a fome. (BALADAN).

Dito isso, A Pesquisa Nacional da Cesta Básica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), aponta que 63% do salário mínimo (1.100), é comprometido para itens de cesta básica, que corresponde a R$643,06. Com o aumento do dólar e da inflação desenfreada, caracterizada e marcada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a alta no preço de alimentos, dificulta o a introdução dessa massa assalariada a possibilidade de poder de compra, consequentemente a segurança alimentar, que é um direito básico que permeia a organização da sociedade e a vida.

Devido às consequências apresentadas causadas por desemprego e inflação no Estado do Rio de Janeiro, elas ocasionam numa procura maior pela sobrevivência e maneiras mais fáceis e imediatas de empregabilidade e ganhos para combater a fome. Por conseguinte se expandem numa escala em potencial, fazendo com que os desocupados e atingidos por tamanha desigualdade se coloquem a disposição em relações de serviço que não permeiam nenhum tipo de vínculo empregatício, que dilatam a cada vez mais em razão também do período pandêmico, um grande fator, que colabora e resulta em modalidades mais ágeis e repentinas como o delivery, sucedendo numa elevação exponencial de entregadores autônomos, sem visão ou comprometimento de uma relação entre patrão e funcionário.

Dessa maneira, os distribuidores expõem-se a riscos de saúde, insegurança alimentar, nenhum tipo de auxílio para o cuidado com o material de trabalho, nesse caso sendo motocicleta, bicicleta e com o valor da gasolina e/ou manutenções de uso.

2.4. O investimento em serviço online e modalidade de Delivery por meio das empresas e o crescimento exponencial de entregadores que são mal assistidos.

Em virtude do Novo Coronavírus, a população para se proteger da doença e o governo por meio de decretos, comunicou a necessidade de se fazer uma quarentena, que se estendeu nos primeiros três meses do ano de 2020. Em consequência disso, era de se esperar que os corredores dos supermercados ficassem vazios e que o fluxo de pessoas caísse consideravelmente.

De acordo com a Asserj, decaiu em 11% num período entre março e abril do mesmo ano supracitado, entretanto, a demanda por delivery aumentou e a expansão por pedidos online também foi registrada, sendo respectivamente em 56% em março e de 94% em abril. O WhatsApp, e-mail e telefone foram os meios em que mais facilitaram para esse crescimento. O presidente da Asserj, Fábio Queiróz declara: “Nós estamos muito mais preparados, as reclamações diminuíram muito em relação aos serviços. É um legado da pandemia aprender a trabalhar com esses serviços. É o melhor espaço para o momento.”, e ainda reforça sobre a volta do atendimento presencial, “A gente vai precisar melhorar o atendimento do serviço nas lojas físicas também”.

O e-commerce obteve um crescimento de 50% já em setembro do período em questão, e o delivery, em acumulado dos cinco meses registrou um aumento médio mensal de 48%, de acordo com os dados publicados no mesmo mês pela Asserj.

Em decorrência da expansão dessa recente modalidade de trabalho, em que dado num primeiro momento em que os funcionários eram destinados e desviados de suas funções para suprirem as tarefas relacionadas ao comércio eletrônico, houve a necessidade pela busca de pessoas mais especializadas para desenvolverem melhor uma questão de logística. Sendo assim, no Rio de Janeiro, o primeiro depósito a operar como loja foi o Pão de Açúcar, localizada na Avenida das Américas na qual para os pedidos de e-commerce, os produtos ficam em áreas mais fáceis para acelerar o processo de gestão.

O novo tipo de serviço transformou as diretrizes de administração do varejo, desassociando os paradigmas da estrutura do mercado e fazendo com que o cálculo de venda seja reconsiderado, concedendo a valorização do comércio de forma online. (QUEIRÓZ, 2020). Dito isso, deve-se destacar o fator do auxílio emergencial, concedido durante o governo de Jair Bolsonaro, que consideravelmente fez parte dessa conjuntura de planejamento e organização para a oferta delineada, sobretudo era destinado em sua essência para alimentação e produtos de higiene, o que faz acreditar que seria possível explicar a alta demanda do e-commerce, entendendo que durante esse período com poder de compra, outros setores econômicos poderiam retornar e equilibrar as coisas, ascendendo possibilidades de empregabilidade. (QUEIRÓZ, 2020).

Da mesma forma, um levantamento feito pelo programa de entregas Box Delivery, apresentou que no primeiro trimestre de 2021, verificou-se um crescimento de 375% no serviço, em referência ao segundo semestre de 2020, no Rio de Janeiro. Em conformidade, um estudo realizado pelo Especialista em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública (Ipsos), juntamente com o Datafolha, ressalta que 80% dos dialogados acima de 60 anos em todo país passaram a usar o delivery como forma pedir comida em casa. De acordo com um levantamento comportamental, averiguado pela Nielsen, uma empresa que faz a medição de dados e análises de audiência, mundialmente reconhecida, em parceria com a Toluna, companhia que investiga as atuações do consumidor, em colaboração apontaram que 50% dos compradores com acesso à internet, recorreram ao uso dos serviços de delivery durante a pandemia. (MERCANTIL, 2021).

Perante o exposto, a maneira como o negócio vem desempenhando a evolução da infraestrutura por conta do delivery e e-commerce, abriu espaço para que os consumidores também de forma cooperativa, estivessem elevando consideravelmente a quantidade de pedidos, até mesmo por uma questão de prioridade, alimentos, produtos de limpeza e medicações, que por resultado ocasiona a carência de trabalhadores cujos quais precisam suprir às necessidades que a dinâmica da modalidade propõe, rápido, fácil e simples, que embora seja o ideal para o cliente e ao patrão, na prática para o entregador o cenário não é o mesmo. Restaurantes e estabelecimentos do Rio de Janeiro sentem o aumento do fluxo por meio das entregas, chegando aproximadamente a um aumento de 400% na quantidade em volume. Calcula-se que é essencial a ampliação de contratações que busquem entregadores para a demanda, entretanto que traz consigo o dilema do peso do trabalho. (COOPERATIVO, 2020).

Em acessão, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que o número de motoboys e entregadores subiu em 3,5% durante o Covid, cerca de 950 mil em todo Brasil. Entretanto, apesar do aumento em pedidos e o crescimento de colaboradores, o rendimento, em contrapartida declinou. Conforme a uma pesquisa da Unicamp, do Ministério Público do Trabalho e da UFPR (Universidade Federal do Paraná), 58,9% da lucratividade dos empregados, decaiu mediante a pandemia.

Para fazer um recorte social, segundo o levantamento pelo Dieese, o salário médio para homens é de R$ 1.325, enquanto para mulheres é de R$ 1.280. O tempo de carga horária aumentou de 29 para 38 horas durante o período da pandemia e em média o ganho diminuiu em R$ 220, mesmo tendo uma alta demanda de serviço e alta carga de cansaço. Segundo um estudo, 95,7% são homens, sendo 61,6% negros. 44% têm até 30 anos. De acordo com o Quero Bolsa, uma plataforma, juntamente com o Pnad-Covid, 42 mil brasileiros com ensino superior, apontam trabalhar como entregadores. Em suma, conclui-se que o trabalho atinge a classe mais pobre e por necessidade, pessoas que ficaram desempregadas por falta de ocupações em suas áreas profissionais, além do fato de mulheres ganharem menos. A Análise Econômica Consultoria aponta que de todos os informais, 15% representam os trabalhadores de aplicativo e/ou transporte de passageiros.

Ao longo da pandemia houve uma grande oportunidade dos que se encontravam desocupados se inserirem no mercado de trabalho por meio da modalidade de delivery e comércio online, e mesmo assim atendendo uma grande demanda de pedidos, obtiveram um salário que a cada vez mais se dilui, intensificando condições precárias de saúde e trabalhadores mal assistidos pelas empresas que solicitam seus serviços.

Um Doutor em Direito do Trabalho e Seguridade Social pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), estabelece que as empresas se disponibilizam como intermediárias “entre o suposto empreendedor individual e o cliente”, mas que de fato, se encarregam de ditar as regras e complementa:

Começa com uma remuneração maior no início, isso empolga o trabalhador, que vai se dedicando, com longuíssimas jornadas de trabalho, e com isso o trabalhador consegue fazer uma renda mensal um pouco superior do que seria se ele fosse contratado por um salário mínimo. No entanto, o grau de exploração é altíssimo. (BERISON, 2020)

Numa entrevista feita pelo jornal Brasil de Fato, Duda, 24, moradora do Rio de Janeiro esclareceu ser mal assistida pelas empresas e seu posicionamento diante de uma greve ocorrida em 1º de julho de 2020, que inclusive ocorreu nacionalmente por melhores condição e remunerações de trabalho,

Enquanto entregadores produzimos muito dinheiro pra essas empresas e estamos vendo que não temos nem EPI (Equipamento de Proteção Individual) pra prestar esses serviços como o logo das empresas nas costas. Nesse momento que cresceu a demanda, é muito importante para mostrar a diferença que faz nossa paralisação. (DUDA, 2020)

Juntamente com o contexto de trabalho, vem a realidade de saúde das pessoas que prestam o serviço e com o alto período de produtividade, a exaustão. Num estudo feito pelas doutoras em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Letícia Pessoa Masson e Cirlene Chisto, foi investigado as condições físicas e mentais durante a rotina de entregadores, uma delas afirma:

A implicação direta que a gente percebe é o adoecimento físico. Uma entregadora ciclista chegou a perder 10 quilos em função da atividade. Existe a dificuldade de alimentação. A gente percebe também problemas posturais, em função da carga excessiva, problemas gastrointestinais e até renais. (CHRISTO, 2020)

A ansiedade em superar o tempo das entregas fazem com que o trabalhador aumente o desespero e o nível altíssimo de exaustão, provocando e desencadeando uma síndrome chamada Burn Out, considerada como um distúrbio provocado por um cansaço extremo. (MACHADO, 2020). Além do fato de considerar que unido a fadiga, como dito em supra, com problemas gástricos, devido a uma má alimentação, reforçando uma problemática como a insegurança alimentar, o trabalhador chega em seu ápice do esgotamento. Em um relato feito pelos desenvolvedores deste trabalho acadêmico, o entrevistado Luiz Felipe de 31 anos, morador do Rio Cumprido, destaca:

Durante a pandemia tinha muita entrega porque ninguém queria sair pra rua né e aí aumenta o trabalho, tinha muito mais pedidos, eu trabalhava umas 18 horas por dia e ainda continuo trabalhando. Eu me alimento na loja onde presto serviço, como 3 vezes ao dia, mas nem sempre consigo fazer todas as refeições. Fico muito preocupado em fazer entregas no Rio, porque o medo de ser roubado é muito grande, paro pra fazer uma entrega, aí quando subo no prédio, depois voltar, aí cadê a moto? A gente fica nessa tensão direto. (FELIPE, 2023)

Portanto, ademais dos fatores de trabalho, como falta de equipamento para melhor assistir os entregadores, segurança, alimentação, um vínculo que estabeleça premissas básicas nas condições de serviço, há também, as consequências disso, como problemas emocionais, psíquicos e físicos, além da preocupação em se ter dinheiro a qualquer custo, que os coloca nesse lugar de risco para driblar o desemprego, a inflação que os impede de ter o poder de compra, por conseguinte, maquiar e fugir da insegurança alimentar, cuja qual está presente em suas rotinas de trabalho, precária e insalubre.

3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

A classificação a seguir, tem por objetivo de manifestar a origem metodológica da pesquisa e ao desenvolvimento dos elementos, ao que se refere aos fins e fundamentos. Repartida em três seções, respectivamente: tipologia da pesquisa, coleta e seleção de dados.

3.1. Tipologia da Pesquisa

Esse trabalho acadêmico tem por natureza exploratória e descritiva, visto que ao que se refere à pandemia em um contraste com o setor alimentício, especificamente no Estado do Rio de Janeiro, ainda não se possui materiais que sejam suficientes para demarcação desse assunto, em respectivo, utilizando duas variáveis que seria de analisar a área de alimentação varejista no recorte da Covid-19, buscou-se a compreender os detalhes dessa relação. Foi realizado de maneira metodológica, uma pesquisa de campo e ao que se pelo tratamento dos dados, é denominado como qualitativo e quantitativo, em virtude do uso dos números estatísticos e os conceitos e ideias abordados como meio de estabelecer os preceitos dos impactos causados pela pandemia.

Fez-se necessário pesquisas bibliográficas, artigos científicos, dados por consultas de sites jornalísticos e sites oficiais do governo, examinando elementos que buscassem apontar alguns dos principais reflexos no setor alimentício varejista no período da pandemia no Estado do Rio de Janeiro. Uma vez que se investiu em apontar a relação de desemprego e inflação com a grande crise no setor de alimentação, salientando consequências como a insegurança alimentar, provocando a demanda por relações de trabalho mais rápido e “fácil” como delivery.

3.2. Coleta e Seleção de Dados

Para a coleta e escolha dos dados, será produzida duas entrevistas com microempresários, ambos empreendedores do setor alimentício varejista, que investiram no mercado de delivery no período da pandemia, com o consentimento de ambos e disponibilidade para a realização do diálogo, na condição em que o Entrevistado 1, sócio do estabelecimento Mãe Joana localizado no bairro de Botafogo, e o Entrevistado 2, também na conjuntura de sócio do comércio Mad Burguer, situado em Botafogo, ambos na região da Zona Sul do Rio. Em demonstração das microempresas a seguir, as imagens em respectivo:

Figura 1 Bar Mãe Joana

Figura 2 Hamburgueria Mad Burguer

Além disso, foi efetuado como parte da pesquisa para um recorte social que comprovasse as abordagens dentro das diretrizes sobre insegurança alimentar, inflação e desemprego, ademais, precisou-se abordar entregadores que trabalhassem com delivery, tendo em vista que todos foram solícitos e cederam informações por livre e espontânea vontade. No total, foram realizadas 53 entrevistas para a construção da pesquisa, todos moradores dos bairros de Campo Grande, Botafogo, Piedade, Rio Comprido, São Cristóvão, Rocinha, Glória e Padre Miguel, localizados no Estado do Rio de Janeiro.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

O Entrevistado 1, responsável pelo espaço do Bar Mãe Joana, quando perguntado sobre sua trajetória referente ao período da pandemia sobre como administrava sua empresa, deixou um breve depoimento.

Meu nome é José Oliveira, sou dono do estabelecimento do Bar Mãe Joana, localizado aqui em Botafogo na Rua Rodrigo de Brito, número 14, tenho 53 anos, sou um dos cofundadores da casa e bom, o período pandêmico foi bem complicado né, a fundação da casa aconteceu em 2018, então a pandemia chegou em 2020, em março de 2020 e até então o Mãe Joana tinha um formato totalmente diferente, pós pandêmico, mas vou falar um pouco durante a pandemia o que aconteceu. Uma das minhas sócias ela saiu exatamente no início da pandemia então isso afetou muito também a questão da sociedade, a questão de dividir não só o lucro, mas também um possível prejuízo na época, uma possível reserva, um capital extra, extraordinário e praticamente fiquei sozinho, único sócio. O período foi bem conturbado, a casa nunca teve uma vertente de delivery e todos os bares e estabelecimentos tinham delivery, então a gente teve que se reinventar, a gente arregaçou as mangas, conseguimos Ifood, conseguimos Rappi na época, também começamos a fazer delivery próprio, então assim, sustentou a casa, mas não sustentou. Eu acho que as casas que abriram pós 2017, eu acho que elas conseguiram sobreviver porque as dívidas eram pequenas ainda, então isso foi um fator primordial no meu caso. Você segurar, sustentar um bar e um restaurante é muito complicado a carga tributária, eu acho que a carga tributária é o maior custo que nós temos, então casas antigas não sobreviveram em virtude disso, os impostos estavam já com dívidas de impostos altíssimas e aí vem dívida com pessoas, dívida com fornecedores, então as casas não se sustentaram. No caso do Mãe Joana eu consegui através de um capital extra, eu também peguei um empréstimo do banco e eu consegui manter os funcionários, eu acho que isso foi um ponto forte, a gente conseguiu manter os funcionários, eu não demiti ninguém, fiz alguns acordos por algumas flexibilizações da época das regras do governo e a gente conseguiu, mas nós não demitimos ninguém. E quando veio o pós pandêmico, durante a pandemia a inflação... eu mudei um pouco o cardápio, mudei pouco os preços, mas quando logo pós pandemia quando começou a flexibilização aos poucos, já comecei uma rotatividade de cardápio grande, uma mudança de precificação grande e então não teve como a gente resetar. A carne por exemplo aumentou assim absurdamente, então a gente começou alterar cardápio trimestral mais ou menos de preço e hoje a gente tá numa base aí semestral, já diminuiu um pouco, então assim precificação, a gente tentou combater ao máximo a precificação contínua, acompanhando a inflação, foi o que mais a gente combateu, basicamente foi isso.

Em seguida, o Entrevistado 2, um dos administradores da Hamburgueria Mad Burguer, deixa seu relato sobre as vivências na pandemia com relação aos seus funcionários e seu gerenciamento.

Meu nome é Peterson de Melo Mendes, tenho 35 anos, sou sócio da Mad Burguer, localizada na Rua Rodrigo de Brito, número 8. Conforme a gente trabalhava com delivery e a gente tava num momento complicado da empresa onde a gente trabalhava no vermelho e teve que manter o salário dos funcionários e manter os funcionários trabalhando, a gente teve cortes e manteve algumas coisas e outras para suportar quem estava na empresa como colaborador, respeitamos o distanciamento imposto e procuramos fazer o melhor dentro da empresa pra que conseguisse trabalhar com segurança. A gente reduziu... cortou os custos começando pelo material que obviamente não conseguiria utilizar dentro de uma cozinha industrial porque é um ambiente que é inflamável, álcool é inacessível para cozinha, porque a gente trabalha com chama e materiais como máscara, que também pode pegar fogo com a temperatura da chapa e reduziu os custos em cima desses materiais para poder todo mundo continuar trabalhando. A alimentação... eles tinham direito a um sanduiche, dentro do horário do trabalho deles que era de seis horas e mais nada. Em relação aos motoboys eu não tinha muita convivência, o contato era restrito de motoboy e patrão, eles trabalhavam seis horas aqui e depois eu não sabia do resumo da vida deles, se eram empregados em outros lugares ou não.

Considerando os relatos acima, tem-se por análise dos dados que os impactos decorridos pela Covid-19 diretamente afetaram o setor alimentício varejista que por conseguinte teve que remanejar e reorganizar as questões de logística de acordo com o comportamento dos consumidores, lê-se que ambos os empreendedores dialogados, investiram na modalidade de delivery e tiveram que lidar com a questão do desemprego dos funcionários e a inflação de acordo com a precificação adequada para o mercado. O Entrevistado 2, cita que não obteve muito convívio com os entregadores de sua loja, mas que os assistia como podia na parte da alimentação e que mesmo assim não tinha controle sobre a carga horária extra de cada colaborador que prestava serviço a sua empresa. Em contrapartida o Entrevistado 1, não menciona ao menos o contato, diz que optou e inovou em ter entregadores, mas sem nenhum detalhe, porém menciona seus métodos, como pegar um empréstimo com o banco, no qual foi a forma que encontrou de suportar seu micro empreendimento e não ter de lidar com demissões, salvo àquelas que precisou fazer acordo de acordo com as leis trabalhistas em vigor.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que a narrativa sobre a relação entre inflação e desemprego, de acordo com os dados expostos neste trabalho, possui uma grande importância para possíveis momentos de debate, tenha-se em vista que o assunto gira em torno do momento pandêmico, responsável pelo recorte abordado na pesquisa, sobretudo, na área de varejo no setor alimentício no Estado do Rio de Janeiro, no qual os índices de excessividades de preços e desocupação foram mais expressivos do que em outros Estados do país.

Com o governo despreparado para crise, a inflação atenuou a taxa de demissões nas empresas, desempregando milhares de pessoas, efeitos dos quais impactaram diretamente o comércio de alimentação em decorrência do aumento dos alimentos básicos e retratos dos corredores vazios na ausência clientes; ao que se trata dos Fluminenses, por conseguinte, mostra-se os elementos que permeiam a base da afirmativa em que quase 3mi de pessoas passaram fome, resultado da falta do poder de compra, visto que no momento de instabilidade econômica não havia meios de criar oportunidades de emprego.

Dito isso, a população mais afetada, àquela que precisava driblar a fome e tentar sobreviver ao desemprego e a inflação, encontrou uma forma mais ágil e rápida de se colocar no mercado de trabalho, efeito que obviamente foi criado pelos empreendedores de acordo com o comportamento dos consumidores, que até então estavam em suas casas respeitando o distanciamento social, fazendo pedidos pelo delivery, quando se criou uma alta demanda e para atingir em oferta, a taxa de entregadores aumentou juntamente com essa dinâmica, tornando trabalhadores sem assistência e com uma vida não muito saudável tendo em vista a carga horária excessiva e a má alimentação.

Diante desse quadro, tem-se para discussão que a inflação junto com o despreparo governamental, em período da pandemia, tendo como norte o fato da elevação do dólar, causou a necessidade dos cortes de gasto, como as demissões, por sua vez, a população desalentada sem poder de compra, perpassa por situações de insegurança alimentar, que busca maneiras fáceis e rápidas de serem inseridas nas atividades trabalhistas, das quais no final não criam nenhum tipo de vínculo empregatício e por conseguinte, para se ter condições de se manter no mercado, sujeita-se a cargas excessivas de trabalho para suportar o estilo de vida e/ou o básico, mas que para isso, acaba-se com a própria saúde.

CONCLUSÃO 

Conclui-se que de acordo com a análise dos dados através do trabalho apresentado, o desemprego e a inflação que foram abordados sobre o tema, reflexos da Covid-19 na área de varejo do setor alimentício no Estado do Rio de Janeiro, destacaram-se como alguns dos impactos mais importantes que diretamente atingiram a sociedade e mudou o seu comportamento de consumação no ramo de alimentos, fazendo com que fomentasse a oferta para uma alta demanda referente a nova modalidade de serviço, como o delivery e o e-commerce, em decorrência da cultura adquirida pela população de comida em casa. 

Entende-se que com os corredores vazios em razão do distanciamento social decretado pelo governo, fez-se necessário alguns cortes por uma questão econômica, de igual modo os Fluminenses foram assolados com o desemprego e diariamente lembrados pela inflação, a alteração exacerbada dos preços, que os impedia também de manter o poder de compra, causando com isso na parte totalizada pelos reflexos algumas sequelas, como a insegurança alimentar que afetou milhões de pessoas apenas no Estado, sendo de diferentes níveis, impossibilitando essa massa de suportar uma vida saudável que é um direito básico, que faz parte do desenvolvimento e potencial humano, qualitativo e uma maneira de desempenhar a cidadania.

De acordo com o que a pesquisa propõe e aborda, para que o grupo social atingido se mantivesse no mercado de trabalho, tentando não passar por situações como a insegurança alimentar, a alta demanda no serviço de delivery e e-commerce fez com que se precisasse atender em oferta, criando milhares de oportunidades para os entregadores, que concomitantemente cresceu em maneira exponencial, gerando funcionários informais, dos quais não tinham nenhum vínculo empregatício com as empresas que solicitavam os seus serviços. Atendendo a gama de pedidos, buscando fazer uma média salarial para si como empreendedores autônomos, os entregadores se viam numa carga horário exausta e expressiva de trabalho, prejudicando sua saúde e modificando as condições para uma boa alimentação. 

O período da Covid-19 atingiu de forma relevante o setor de alimentação varejista no Estado do Rio de Janeiro, com isso pode ser observado que os maiores impactos ocorridos se tratavam do aumento muito elevado no número de desempregos, assim como também a alta da inflação. Devido à necessidade no corte de custos, os estabelecimentos realizaram diversas demissões, gerando redução na economia e consequentemente o aumento dos preços.

Analisando a relação entre o desemprego e a inflação, verificou-se que essa união desencadeou na insegurança alimentar, ou seja, na fome de milhares de brasileiros, principalmente na região Sudeste, pois a falta da renda do emprego e o crescimento dos valores dos alimentos, juntos estavam prejudicando principalmente as famílias pertencentes às classes mais pobres.

Os impactos desses dois fatores na sociedade foram extremamente significativos resultando em uma medida tomada pela Presidência da República com a intenção de aumentar as rendas familiares, crescendo assim a oferta e a procura por bens e serviços, inclusive no setor alimentício.

Outro fator importante que alavancou o setor alimentício foi o aumento da procura pela entrega delivery. A grande maioria dos estabelecimentos nesse setor precisou se organizar e estruturar novamente para que pudessem atender os consumidores que estavam cumprindo o isolamento social.

O aumento da oferta e procura foi determinante para que o setor alimentício voltasse a crescer através da expansão do delivery. Uma prática que se tornou comum tanto para os consumidores quanto para os estabelecimentos, mesmo após o período de pandemia.

A busca dos consumidores pela comodidade em receber seus pedidos em casa, faz com que a procura pelo delivery nunca mais volte a ser como antes da pandemia, tendendo sempre ao crescimento, além de gerar inúmeros empregos de entregador, em diversos estabelecimentos.

O presente estudo se limitou ao Estado do Rio de Janeiro, visto que as entrevistas foram realizadas apenas neste Estado, porém o tema também poderia abranger todo o Brasil, para que possam ser feitas as comparações entre os estados e regiões do país.

Outros temas relevantes a serem pesquisados para complementar este assunto poderiam ser a vantagem da tecnologia na área de varejo alimentício durante a pandemia e o custo benefício do delivery para os estabelecimentos antes e depois da pandemia.

Diante disso, com a taxa elevada da inflação, muitos comércios fecharam as portas em detrimento da situação econômica e o fato de não poderem mais sustentar seus funcionários e a estrutura da empresa, estabelecendo um índice alto de desemprego. Com a desocupação, causadora da falta de poder aquisitivo, se delimita socialmente o que se pode comprar ou não e com o efeito do aumento de preços dos alimentos, muitos não conseguiram escapar da insegurança alimentar, o que resultou numa maior procura por um emprego fácil e autônomo, contando com milhares de novos colaboradores mal assistidos e prejudicados com a saúde, na área de delivery e e-commerce, sem nenhum acordo trabalhista que pudessem assegurá-los. Diariamente lutaram e lutam por uma média salarial que pudesse manter o estilo de vida, sem deixar o período de trabalho exacerbado em falta.

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