OS DESAFIOS PARA A PRÁTICA DO INTERCÂMBIO PELOS ALUNOS DO CEFET/RJ - MARACANÃ

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13362863


Ricardo Nascimento Ferreira1
Ana Beatriz Rodrigues Soares2
Bianka Souza Cruz Cavalcanti3
Frederico de Souza Ramos4
Gabriel Cordovil Cortez de Sousa Alves5
Geovanna Rosa Fernandes6


RESUMO
A presente pesquisa trata-se de um estudo sobre o programa de intercâmbio do CEFET/RJ Campus Maracanã, especialmente no que se refere aos desafios enfrentados pelos alunos da instituição de ensino para realizar o intercâmbio. O objetivo do estudo é identificar esses desafios, relacioná-los com a área de gestão de pessoas e oferecer sugestões de melhorias no processo de seleção de alunos participantes, de modo a ampliar as oportunidades de participação e garantir que um número maior de estudantes tenha acesso à experiência do intercâmbio. A pesquisa foi aplicada aos estudantes universitários do CEFET/RJ Campus Maracanã através da combinação de métodos exploratórios, explicativos e descritivos. Por fim, o estudo constatou que os maiores motivos que levam os alunos a não terem vontade de planejar um intercâmbio é a renda necessária para isso e a falta de conforto de viver em um país estrangeiro. Também foi observado que as pessoas consultadas possuem pouco conhecimento sobre o funcionamento do programa de intercâmbio do CEFET/RJ. Nesse sentido, essa experiência tão enriquecedora, como ir estudar por alguns meses em outro país, não é vivenciada por todos os alunos que possuem interesse.
Palavras-chave: Intercâmbio. Alunos. CEFET/RJ. Desafios. Experiência

ABSTRACT
This research is a study on the exchange program of CEFET/RJ Campus Maracanã, focusing particularly on the challenges faced by the institution's students in undertaking an exchange. The study aims to identify these challenges, relate them to the field of human resource management, and offer suggestions for improving the selection process for participating students, with the goal of expanding participation opportunities and ensuring that a larger number of students have access to the exchange experience. The research was conducted with university students from CEFET/RJ Campus Maracanã using a combination of exploratory, explanatory, and descriptive methods. Finally, the study found that the primary reasons students are reluctant to plan an exchange are the financial requirements and the lack of comfort in living in a foreign country. It was also observed that the respondents have limited knowledge about the functioning of CEFET/RJ's exchange program. Consequently, this enriching experience of studying in another country for a few months is not experienced by all interested students.
Keywords: Exchange. Students. CEFET/RJ. Challenges. Experience

1. INTRODUÇÃO

Um programa de intercâmbio é uma oportunidade única para a formação do aluno, proporcionando imersão em novas culturas, aprimoramento de idioma e desenvolvimento de competências essenciais para o mercado de trabalho. Porém, apesar de enriquecedor, possui fatores que podem dificultar a participação de diferentes estudantes, especialmente no Brasil.

A pesquisa coletou dados de estudantes universitários do CEFET/RJ Campus Maracanã, com foco em compreender as percepções, motivações e expectativas dos alunos sobre o programa, a fim de identificar os obstáculos existentes.

Com base nesta pesquisa, este artigo tem como objetivo analisar os desafios enfrentados pelos alunos da instituição com o programa de intercâmbio, buscando identificar as dificuldades existentes e oferecendo sugestões de melhoria para o mesmo, com o intuito de melhorar a comunicação, aumentar a transparência e facilitar a adesão ao programa, possibilitando a participação de mais pessoas.

2. RELAÇÃO COM GESTÃO DE PESSOAS

Por que a importância da gestão de pessoas para o desenvolvimento e implementação do intercâmbio? É possível obter sucesso, no resultado de um intercâmbio, sem a gestão de pessoas? Não é possível e veremos o porquê e quais as atribuições necessárias da gestão de pessoas para o funcionamento eficiente do intercâmbio.

A gestão de pessoas é fundamental para lidar com o componente humano nas organizações, seja ela empresarial ou acadêmica. Sendo assim, as faculdades se assemelham a empresas tradicionais, e compartilham algumas características, principalmente em termos de administração e operação.

2.1. Pilares da Gestão de pessoas

Motivação: É essencial para manter os colaboradores engajados, estimular a produtividade e promover a marca da organização. Para isso é importante criar um ambiente de trabalho agradável, e que ofereça oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Por exemplo, com recompensas financeiras, reconhecimento pela liderança, bonificações e Feedback.

Comunicação assertiva: A comunicação é outro pilar fundamental. É importante que a organização tenha canais de comunicação claros e eficazes, que permitam a troca de informações. Fomentando a integração de todos os membros da organização. Uma boa comunicação ajuda a prevenir crises e resolver conflitos.

Conhecimento e Competência: É fundamental valorizar as competências dos colaboradores. E é crucial que a organização saiba as competências que ainda precisam ser desenvolvidas. A partir disso, é possível incentivar e investir no aprimoramento das habilidades e conhecimentos de cada um, além de valorizar as competências já existentes.

Treinamento e Desenvolvimento: A organização deve oferecer oportunidades para que os colaboradores possam se desenvolver pessoal e profissionalmente. É fundamental oferecer treinamentos que estejam alinhados aos objetivos estratégicos da organização, e que esses programas sejam avaliados e atualizados para se adequar às mudanças na organização.

Trabalho em equipe: É necessário promover o trabalho em equipe, estimular a comunicação e troca das pessoas para criar um ambiente mais agradável e garantir um bom clima organizacional.

2.2. Processos da gestão de pessoas vs Processos do intercâmbio

A faculdade precisa de um boa gestão de pessoas para realizar o projeto de intercâmbio. A partir disso, veremos como os seis processos da gestão de pessoas, conceito elaborado por Idalberto Chiavenato, são inerentes a funcionalidade do intercâmbio.

Agregar: O processo de agregar pessoas é usado para atrair e incluir novos talentos nas organizações. Agregar as pessoas requer conhecimentos técnicos e propaganda assertiva para atrair e selecionar o melhor aluno para o intercâmbio. Recrutamento e seleção de pessoas, se inclui neste processo.

Aplicar: Este processo é utilizado para desenhar o trabalho que as pessoas irão desempenhar, orientando, acompanhando e avaliando os alunos. Logo, estes processos são de modelagem do intercâmbio, que incluem o desenho, análise e a descrição das vagas, bem como a avaliação de conhecimento linguístico e específico.

Recompensar: Este processo é utilizado pela organização para incentivar e motivar pessoas atendendo aos seus objetivos pessoais. Aqui cabe desde a remuneração, que é o básico, como por exemplo a bolsa oferecida aos estudantes que desejam fazer o intercâmbio. Além disso, cabem as satisfações de necessidades mais elevadas, como por exemplo, a realização pessoal e profissional, flexibilidade, autonomia e reconhecimento.

Desenvolver: Neste processo incluímos a formação, a aprendizagem, a gestão do conhecimento, de competências e de mudança, bem como estratégias de comunicação. Desenvolver alunos é um grande desafio para a área da Gestão de Pessoas, pois é preciso que o aprendizado e o ganho/ desenvolvimento de competências seja contínuo e atualizado, para que o aluno esteja preparado e estimulado a ideia do intercâmbio.

Manter: É necessário criar condições ambientais e psicológicas que o satisfaçam a nível pessoal e profissional. Isto só é possível quando a experiência internacional não gera traumas e gera segurança para novos desafios, quando há higiene, segurança, qualidade de vida.

Monitorar: Este processo consiste em acompanhar os alunos nas suas funções e verificar seus resultados.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. A internacionalização do ensino superior

Segundo Santos Filho (2020), a internacionalização é um processo contínuo de mudança, não apenas uma série de atividades isoladas. Ela envolve três dimensões principais: internacional, intercultural e global, que englobam as relações entre nações e culturas.

No ensino superior, esse conceito se expandiu para se tornar um campo interdisciplinar ligado à missão e aos valores das universidades. Observa-se que, com essa ampliação, a mobilidade estudantil deixou de ser a única forma de promover perspectivas internacionais e interculturais.

Desse modo, a internacionalização do ensino superior não se restringe mais a ações isoladas, mas passa a ser parte central das políticas institucionais das universidades ao promover uma abordagem global e intercultural que não se limita apenas à mobilidade estudantil, mas também à criação de ambientes acadêmicos que fomentem a colaboração internacional e a troca de conhecimentos. Essa mudança destaca a importância de uma visão estratégica alinhada aos valores das instituições, de modo que os alunos estejam cada vez mais preparados para um mundo interconectado.

3.2. O Intercâmbio

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), o intercâmbio é o estabelecimento de relações recíprocas entre nações ou instituições e que pode compreender aspectos como cultura, comércio e questões sociais.

Portanto, ao trazer esse conceito para a visão universitária, ele está relacionado a alunos que estudam alguns meses em outro país, onde há interações que propiciam a troca e o compartilhamento de conhecimentos, práticas e culturas entre eles e os estudantes dos países visitados.

3.3. Benefícios do Intercâmbio Acadêmico

A prática do intercâmbio oferece muitas oportunidades aos alunos que a vivenciam. Um bom exemplo dessas oportunidades é o fato de que como os estudantes vão estudar em instituições de ensino de outros países, eles conseguem aprender mais sobre as culturas desses locais, além de ajudar no aprendizado de novos idiomas.

De um modo geral, o intercâmbio contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional, visto que os intercambistas têm contato com diferentes estilos de vida e perspectivas.

Diante disso, é importante que as universidades estimulem os alunos a vivenciarem a experiência do intercâmbio para que esses benefícios consigam ser adquiridos.

4. METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa ao permitir o estudo da realidade tanto em seus aspectos mais “concretos” quanto em seus significados mais profundos (MINAYO; SANCHES, 1993). Assim, os dados estatísticos obtidos da pesquisa foram analisados com o intuito de compreender os motivos subjacentes a esses resultados.

Esta pesquisa trata-se de um questionário realizado no Google Forms no qual foram incluídos os estudantes universitários do CEFET/RJ campus Maracanã, além da leitura do edital sobre o programa de intercâmbio publicado no site do CEFET/RJ, de forma que fosse analisado as regras e condições para participar desse programa, além de adicionar essas informações em algumas perguntas do formulário.

O questionário foi subdividido em 4 seções, sendo a primeira voltada aos dados demográficos, tais como: idade, cor, localidade, renda familiar, localidade, curso da graduação, período e a vontade da realização de um intercâmbio. Já a segunda seção era voltada aos alunos que responderam que não possuem interesse de realizar um intercâmbio, de modo que fosse possível analisar suas motivações e o conhecimento sobre o programa de intercâmbio do CEFET/RJ, e foi estudada através das seguintes perguntas: “Quais motivos te levam a não ter vontade e/ou planejar realizar um intercâmbio?”, “O quanto você conhece o programa de intercâmbio no CEFET e as normas presentes no edital?”, “O programa de intercâmbio do CEFET oferece uma bolsa de R$2500,00 mensais para alunos intercambistas. Considerando esse valor para custear moradia, estudo, alimentação e demais gastos, o que você acha desse valor?”, “Como você classifica a divulgação do programa de intercâmbio do CEFET?”. Já a terceira seção era voltada aos alunos que responderam que possuem interesse de realizar um intercâmbio, de modo que fosse possível entender sobre a forma que eles pretendem realizá-lo, seus objetivos e opiniões sobre o programa de intercâmbio do CEFET/RJ, e foi estudada através das seguintes perguntas: “Você planeja realizar o seu intercâmbio pelo programa de intercâmbio do CEFET?”, “Quais são seus objetivos ao participar de um programa de intercâmbio?”, “Quais motivos são um empecilho para a realização do seu intercâmbio?”, “Em sua opinião, qual a duração ideal do programa de intercâmbio?”, “O programa de intercâmbio do CEFET oferece uma bolsa de R$2500,00 mensais para alunos intercambistas. Considerando esse valor para custear moradia, estudo, alimentação e demais gastos, o que você acha desse valor?”, “Quanto você conhece cada um dos seguintes critérios do CEFET/RJ referentes ao processo de intercâmbio?”, “Entre as opções de destino do intercâmbio do CEFET/RJ, quais países ou regiões você tem mais interesse em visitar?”. Por fim, a quarta seção era voltada aos alunos que já realizaram intercâmbio, de modo que fosse possível analisar suas vivências, e foi estudada através das seguintes perguntas: “Você realizou o seu intercâmbio pelo programa de intercâmbio do CEFET?”, “Quais eram seus objetivos ao participar de um programa de intercâmbio?”, “Como alguém que já teve a experiência de um intercâmbio, quais fatores você considera como principais empecilhos para quem deseja se tornar intercambista?”, “Em sua opinião, qual a duração ideal do programa de intercâmbio?”, “O programa de intercâmbio do CEFET oferece uma bolsa de R$2500,00 mensais para alunos intercambistas. Considerando esse valor para custear moradia, estudo, alimentação e demais gastos, o que você acha desse valor?”, “Quanto você conhece cada um dos seguintes critérios do CEFET/RJ referentes ao processo de intercâmbio?”, “Em qual país você realizou o seu intercâmbio?”, “Entre as opções de destino do intercâmbio do CEFET/RJ, quais países ou regiões você tem mais interesse em visitar?”. As indagações citadas tinham como possibilidade de resposta caixa de seleção, múltipla escolha ou escala linear para que os entrevistados pudessem classificar as opções ou marcá-las, de modo que eles pudessem dar respostas mais relacionadas com a realidade deles. Dessa forma, pôde-se ter um entendimento maior a respeito dessas realidades.

As análises estatísticas foram realizadas por meio da planilha do Excel e dos gráficos obtidos no próprio Google Forms. A coleta de dados ocorreu durante o mês de agosto.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1. Comportamentos Sociodemográficos

Neste estudo, analisaremos as perspectivas de 59 estudantes universitários do CEFET/RJ. A primeira seção do questionário abordou questões sociodemográficas, o que nos permitiu interpretar com maior profundidade as opiniões do nosso público-alvo. Nosso objetivo é compreender como suas vivências moldam suas expectativas e enriquecem suas experiências acadêmicas e pessoais. Os dados analisados foram criteriosamente selecionados com base em padrões observados nas respostas. Embora tenham sido feitas perguntas sobre gênero e região do Rio de Janeiro onde residem, essas variáveis não apresentaram padrões claros, pois as respostas foram amplamente distribuídas.

Imagem 1. Fonte: Formulário elaborado pelos autores.

Inicialmente, analisaremos a faixa etária dos respondentes da pesquisa. Observa-se que 88,1% dos estudantes têm entre 17 e 24 anos, e dentre eles, 88,5% expressam o desejo de participar de um programa de intercâmbio. Esse dado corrobora os resultados de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta) em 2013, que revelou que 85,7% dos estudantes brasileiros têm essa mesma intenção. Dos estudantes interessados, 31,8% planejam concretizar esse objetivo até o final da graduação. Entre as principais motivações estão o aprimoramento de idiomas estrangeiros e o interesse em conhecer outras culturas, há também quem deseja se desenvolver profissionalmente. Por outro lado, entre os 11,5% que não consideram fazer intercâmbio, as principais razões incluem a falta de recursos financeiros, o desconforto com a ideia de viver em uma nova cultura longe da família, e a falta de conhecimento em línguas estrangeiras.

Entre os estudantes com mais de 25 anos, todos os respondentes expressaram o desejo de fazer intercâmbio. Os principais objetivos citados incluem o desenvolvimento profissional e o aprimoramento de habilidades em idiomas estrangeiros. Esse dado sugere que, com o avanço da idade e da maturidade, a perspectiva dos estudantes em relação às oportunidades de sair do país se torna mais focada em estratégias para enriquecer seus currículos e impulsionar suas carreiras.

Imagem 2. Fonte: Formulário elaborado pelos autores

Entre os estudantes que desejam participar de um programa de intercâmbio, 58,88% são brancos. Em contrapartida, entre aqueles que não manifestam interesse em fazer intercâmbio, 66,66% são não brancos. Essa proporção é atribuída a fatores como a desigualdade socioeconômica que pessoas não brancas, sobretudo afrodescendentes, enfrentam historicamente no Brasil, dessa forma, a falta de oportunidades e de acesso a informação limita a visão desses grupos sobre formas de expandir conhecimentos e ambientes de atuação dentro de suas carreiras. O Ministério da Educação (MEC) possui dados que mostram que até 2015, apenas 25,23% das vagas oferecidas pelo Ciência sem Fronteiras foram preenchidas por negros e pardos, o que evidencia o privilégio branco em programas de intercâmbio.

5.2. Programa de Intercâmbio do CEFET/RJ

Logo após a seção de perguntas sociodemográficas, o questionário direcionou-se para questões específicas aos estudantes que demonstraram interesse em realizar intercâmbio. Essa parte do questionário buscou explorar as motivações, expectativas e possíveis desafios enfrentados por aqueles que desejam participar de programas internacionais. No total, foram registradas 51 respostas, fornecendo uma amostra significativa para a análise das percepções e aspirações desse grupo em relação às oportunidades de intercâmbio acadêmico.

Imagem 3. Fonte: Formulário elaborado pelos autores

Quando questionados sobre a possibilidade de realizar um intercâmbio através do CEFET/RJ, as respostas dos estudantes revelaram uma distribuição interessante: 35,5% afirmaram que sim, fariam o intercâmbio, 13,7% disseram que não, e um expressivo grupo de 51% não soube responder. Essa alta porcentagem de alunos indecisos em comparação aos que têm uma resposta clara é um indicativo significativo da falta de conhecimento sobre o programa de intercâmbio oferecido pela instituição.

Perguntamos aos participantes sobre o grau de conhecimento que possuem em relação às características do processo seletivo do CEFET/RJ para o programa de intercâmbio. As características analisadas incluíram aspectos como a eficácia da divulgação, o número de vagas disponíveis, os requisitos especificados no edital, e os critérios utilizados para desempate entre os candidatos. Para captar a percepção dos estudantes de maneira detalhada, oferecemos opções de resposta que variavam entre "péssima", "insuficiente", "suficiente", "boa" e "excelente". Essa abordagem nos permitiu avaliar não apenas o alcance e a eficácia do programa de intercâmbio entre os alunos, mas também identificar áreas específicas onde o processo pode estar falhando em termos de comunicação e clareza.

Imagem 4. Fonte: Formulário elaborado pelos autores

A avaliação da divulgação do programa de intercâmbio, sua quantidade de vagas, requisitos presentes no edital e critérios de desempate revelou resultados preocupantes. A maioria dos estudantes considerou a divulgação como péssima (41,1%) ou insuficiente (43,13%). Apenas 9,8% dos respondentes classificaram a divulgação como suficiente, e menos de 6% a avaliaram como boa ou excelente. Esses dados indicam uma situação insatisfatória, sugerindo que os esforços para disseminar informações sobre os editais entre os alunos de graduação são, no mínimo, ineficazes. Essa percepção negativa pode sinalizar que a comunicação sobre o programa não está atingindo seu público-alvo de forma adequada, seja por falta de estratégias eficazes, canais de comunicação limitados, ou até mesmo pela ausência de uma campanha de divulgação robusta e contínua.

O edital interno do programa de intercâmbio estudantil informa que são disponibilizadas 5 vagas financiadas pelo CEFET/RJ. No entanto, o conhecimento dos alunos sobre o número de vagas foi avaliado como insuficiente ou péssimo por 84,3% dos respondentes. Em relação aos pré-requisitos para inscrição, que incluem ser de nacionalidade brasileira, estar regularmente matriculado no ensino superior, possuir CRA (Coeficiente de Rendimento Acadêmico) acima de 7, ter completado pelo menos 50% dos créditos exigidos pelo curso, e demonstrar conhecimentos suficientes de inglês, 39,2% dos estudantes classificaram seu entendimento como insuficiente, enquanto 33% consideraram seus conhecimentos como suficientes. Além disso, o questionário abordou o conhecimento dos alunos sobre o critério de desempate, que se baseia na integralização de uma maior parte da carga horária do curso. Nesse aspecto, 35,2% dos participantes julgaram ter conhecimentos insuficientes, enquanto 31,7% avaliaram seu entendimento como suficiente. Esses dados revelam uma significativa lacuna na compreensão dos detalhes do processo seletivo entre os estudantes, indicando a necessidade de uma comunicação mais clara e efetiva para garantir que todos os interessados estejam bem-informados sobre os requisitos e procedimentos do programa.

Imagem 5. Fonte: Formulário elaborado pelos autores

Pedimos aos participantes que avaliassem, em uma escala de 1 a 5, o valor da bolsa mensal de R$2.500 oferecida pelo CEFET/RJ para alunos intercambistas. Informamos que esse valor é destinado a cobrir despesas com acomodação, passagens, alimentação, taxas acadêmicas, materiais de estudo, transporte local e outros custos. Também destacamos que a quantia precisa ser convertida para a moeda do país de destino. Em agosto de 2024, por exemplo, a conversão para dólares resultaria em aproximadamente $455,54 mensais, segundo o Banco Central. Os resultados indicam que 45,1% dos estudantes atribuíram nota 2 ao valor da bolsa, 23,5% deram nota 3 e 21,6% avaliaram com nota 1. Apenas uma minoria, 9,2%, deu notas 4 e 5, o que sugere que, à primeira vista, a maioria dos estudantes considera o valor insuficiente para cobrir todas as despesas necessárias durante o intercâmbio. Esses dados apontam para uma percepção generalizada de que a bolsa pode não ser adequada para manter um padrão de vida confortável no exterior, o que pode influenciar a decisão de muitos estudantes em participar do programa.

Imagem 6. Fonte: Formulário elaborado pelos autores

A última pergunta da pesquisa abordou a opinião dos estudantes sobre a duração ideal de um programa de intercâmbio. Vale destacar que o programa do CEFET/RJ tem duração de um semestre acadêmico, ou seja, 6 meses. Os resultados mostraram que 52,9% dos participantes consideram ideal uma duração entre 3 e 6 meses, enquanto 35,6% preferem um período entre 6 meses e 1 ano. Um grupo menor, 7,8%, optou por uma duração de 1 a 2 anos, e apenas 9,9% indicaram que até 3 meses seria o tempo ideal. Esses dados refletem uma preferência geral por intercâmbios de médio a longo prazo, com a maioria dos estudantes alinhando suas expectativas ao formato já oferecido pela instituição.

6. SUGESTÕES DE MELHORIAS

Com base nas análises e resultados obtidos através de uma pesquisa quali-quantitativa, são propostas sugestões para melhoria do processo seletivo do programa de intercâmbio estudantil oferecido pelo CEFET/RJ unidade Maracanã. O objetivo do plano de ação a seguir é abordar atividades que possam amenizar ou solucionar parte das dores relatadas pelo público alvo do programa.

6.1 Plano de Ação

A) Intensificação da divulgação do programa de intercâmbio estudantil.

Mais de 84% dos estudantes participantes da pesquisa classificam a divulgação do programa como péssima ou insuficiente, podemos compreender que, a necessidade da mudança de procedimento adotado para comunicação do edital e do intercâmbio.

Como estratégia a fim de solucionar essa problemática, é adotada a sugestão da participação em eventos acadêmicos como Programa de Acolhimento ao Calouro (PAC), que forneceria informações aos ingressantes da educação superior sobre o programa no seu primeiro contato com a instituição, bem como também no SEPEX e eventos internos dos cursos, como o Simpósio de Administração. A presença nesses eventos tem como objetivo utilizar o espaço para esclarecer os objetivos, benefícios e requisitos do programa de intercâmbio fornecido pela unidade.

B) Incentivo para aderência ao programa.

Para promover o interesse dos estudantes em participar do intercâmbio estudantil, a realização de palestras explicando os benefícios para o desenvolvimento acadêmico e profissional do programa.

Como palestrantes, o indicado é convidar um ou mais estudantes ou profissionais do mercado de trabalho que já realizaram intercâmbio para contar sua (s) experiências e os efeitos disso na sua jornada acadêmica e profissional. A escolha dos palestrantes preferencialmente é que sejam estudantes contemplados pelo programa de intercâmbio da instituição.

C) Mudança nos requisitos para classificação da bolsa auxílio

Como o objetivo de aumentar a diversidade de alunos no programa de intercâmbio, e tendo em vista a manifestação da questão financeira por parte dos respondentes a pesquisa como um dos maiores empecilhos para não realização do mesmo, torna-se necessária a elaboração de uma sugestão de melhoria quanto a este requisito.

Presente na cláusula 9.3 do edital do Programa de Intercâmbio Estudantil, o critério de desempate quanto a bolsa atualmente é decidido de acordo com o maior CRA (Coeficiente de Rendimento Acumulado).

Portanto, com o objetivo de promover a diversidade e aumento de oportunidades para os estudantes da graduação, a sugestão de melhoria é a designação de 50% das bolsas de auxílio para alunos que sejam contemplados pela assistência estudantil ou ingressantes no sistema de cotas de renda. Sendo assim, a sugestão dos critérios para tais vagas terá como desempate para o benefício da seguinte forma:

  1. Alunos ingressantes no sistema de cotas por renda.

  2. Alunos beneficiados pelo programa de assistência estudantil.

  3. Ordem decrescente de acordo com CRA dos candidatos.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo, ao analisar os desafios enfrentados pelos alunos do CEFET/RJ Campus Maracanã para realizar intercâmbio, revelou um cenário no qual, apesar do interesse em vivenciar essa experiência, obstáculos impedem a participação de um número maior de estudantes. A falta de conhecimento sobre o programa, a percepção de que a bolsa oferecida é insuficiente para cobrir as despesas e a insegurança com a vida em outro país são os principais fatores que desmotivam os universitários.

Os resultados apontam para a necessidade de ações por parte da instituição para tornar o intercâmbio mais acessível e inclusivo. Para isso, a instituição pode promover ações de divulgação, como palestras, workshops e eventos para apresentar o programa e esclarecer dúvidas. Além disso, é interessante avaliar a viabilidade da bolsa oferecida com base no custo de vida do país de destino e identificar alternativas para aumentar o valor. É fundamental que haja investimento, a fim de garantir o acesso dos alunos a oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

Este estudo contribui para o debate sobre a importância de políticas e ações que possibilitem a democratização do acesso a experiências internacionais para estudantes em qualquer cenário. A implementação das sugestões apresentadas pode contribuir significativamente para a criação de um programa de intercâmbio melhor para os alunos do CEFET/RJ Campus Maracanã.

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1Professor orientador: Ricardo Nascimento Ferreira – CEFET-RJ – Campus Maracanã. [email protected]

2CEFET-RJ – Campus Maracanã. [email protected]

3CEFET-RJ - Campus Maracanã [email protected]

4CEFET/RJ - Campus Maracanã. [email protected]

5CEFET-RJ – Campus Maracanã. [email protected]

6CEFET-RJ – Campus Maracanã. geovanna.r[email protected]