OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRAFIA DOS HÁBITOS ALIMENTARES E SEDENTARISMO PARA O DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL DOS JOVENS
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17892550
Dirce Marinho de Azevedo Martins1
RESUMO
A obesidade na adolescência está intimamente relacionada a mudanças nos padrões alimentares e ao aumento do sedentarismo, fatores que interferem diretamente no desenvolvimento saudável dos jovens. Este artigo tem como objetivo investigar a relação entre hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade na adolescência. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa que reúne e analisa produções científicas e documentos institucionais sobre o tema. Os estudos revisados indicaram que o consumo frequente de alimentos ultraprocessados, associado à redução da prática de atividade física e ao uso excessivo de telas, contribui para o aumento do sobrepeso e da obesidade em adolescentes. Tais fatores repercutem no desenvolvimento, favorecendo o surgimento precoce de doenças e comprometendo a qualidade de vida. Conclui-se que a promoção de hábitos saudáveis, desde a adolescência, exige ações intersetoriais, envolvendo escola, família e serviços de saúde na construção de estratégias educativas e preventivas.
Palavras-chave: Obesidade. Hábitos alimentares. Sedentarismo.
ABSTRACT
Obesity in adolescence is closely related to changes in dietary patterns and increased sedentary lifestyles, factors that directly interfere with the healthy development of young people. This article aims to investigate the relationship between eating habits, sedentary lifestyles, and obesity in adolescence. This is a qualitative bibliographic research study that gathers and analyzes scientific publications and institutional documents on the subject. The reviewed studies indicate that the frequent consumption of ultra-processed foods, associated with reduced physical activity and excessive screen time, contributes to increased overweight and obesity in adolescents. These factors impact development, favoring the early onset of diseases and compromising quality of life. It is concluded that promoting healthy habits from adolescence onwards requires intersectoral actions involving schools, families, and health services in the construction of educational and preventive strategies.
Keywords: Obesity. Eating habits. Sedentary lifestyle.
INTRODUÇÃO
As transformações sociais e tecnológicas das últimas décadas alteraram significativamente a forma como crianças e adolescentes se alimentam, brincam, estudam e se relacionam. O fácil acesso a alimentos ultraprocessados, a redução dos espaços para atividades ao ar livre e o uso intenso de dispositivos eletrônicos têm favorecido um estilo de vida cada vez mais sedentário. Nesse cenário, a obesidade na adolescência surge como um importante indicador de risco à saúde, com potencial para se estender à vida adulta e aumentar a incidência de doenças crônicas. Ao mesmo tempo, a fase da adolescência é marcada por intensa construção de identidade, de autonomia e de hábitos de vida, o que torna esse período estratégico para a promoção da saúde.
A obesidade na adolescência tem se configurado como um importante problema de saúde pública, associada a hábitos alimentares inadequados, ao sedentarismo e a impactos significativos no desenvolvimento físico, emocional e social dos jovens. Considerando essas implicações e a necessidade de compreender melhor esses fatores, formula-se a seguinte questão de pesquisa: De que maneira os hábitos alimentares inadequados e o sedentarismo contribuem para a obesidade na adolescência?
O objetivo é investigar a relação entre hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade na adolescência, destacando suas implicações para o desenvolvimento saudável. Seguidos dos específicos: caracterizar os principais padrões alimentares observados entre adolescentes, com ênfase no consumo de alimentos ultraprocessados e na baixa ingestão de alimentos in natura; analisar a influência do sedentarismo, do tempo de tela e da redução da atividade física na ocorrência de obesidade na adolescência.
O presente estudo configura-se como uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, onde foram selecionados livros, artigos científicos, diretrizes e documentos de saúde que abordam a relação entre hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade na adolescência. A seleção do material considerou a relevância temática e a contribuição das obras para a compreensão dos objetivos propostos. Após a leitura e análise dos textos, as informações foram organizadas em eixos temáticos, articulados aos objetivos específicos do estudo.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. Hábitos Alimentares na Adolescência
As crianças e adolescentes crescem e, quando entram na puberdade (meninas em torno de 10 anos e meninos em torno de 12), devido ao aumento do metabolismo, como consequência das alterações hormonais desta fase, ficam com muito mais apetite. As meninas vão acumular gorduras para sua função biológica de procriar e os meninos vão aumentar sua massa muscular. Segundo o Estatuto da Criança e Adolescente, ECA, a adolescência é uma fase que compreende a idade dos 12 aos 18 anos. É uma fase de muitas mudanças comportamentais e atitudinais, mudanças estas que irão ser levadas em muitas vezes para o resto da vida desse adolescente (Brasil, 1990). Por isso, é muito importante que os adolescentes tenham uma alimentação saudável, ainda mais hoje em dia que a oferta de alimentos gordurosos e outros tipos de fast-food chamam muita atenção dos adolescentes.
Os hábitos alimentares constituem um dos principais determinantes da obesidade na adolescência. Nessa fase, é comum a substituição de refeições caseiras por lanches rápidos, o consumo frequente de refrigerantes, sucos artificiais, fast-food e alimentos com alto teor de gordura, açúcar e sódio. A rotina escolar, as atividades extracurriculares e a influência dos grupos de pares e da mídia também interferem nas escolhas alimentares, muitas vezes priorizando a praticidade em detrimento da qualidade nutricional.
Além disso, a irregularidade dos horários das refeições, o café da manhã omitido e o baixo consumo de frutas, verduras e legumes comprometem o equilíbrio nutricional e favorecem o ganho de peso. Tais padrões alimentares se consolidam ao longo do tempo e podem acompanhar o indivíduo na vida adulta, aumentando o risco de doenças crônicas.
Os adolescentes têm algumas peculiaridades em relação ao comportamento que influenciam as práticas e preferências alimentares nesse período da vida (Monteiro & Júnior, 2007). Segundo o mesmo autor, o comportamento dos adolescentes é imediatista e isso faz com que a sua atitude em relação à alimentação seja satisfatória no presente, não se interessando se a qualidade dos alimentos que consome possa vir a ser prejudicial na vida futura. Outra singularidade do adolescente é a sua ligação com os grupos de pares com quem se identifica acabando por adquirir o mesmo padrão de consumo, numa tentativa de romper com os padrões familiares, que também exercem influência no seu comportamento alimentar (Monteiro & Júnior, 2007). Estudos demonstram que a presença dos pais às refeições se correlaciona com hábitos alimentares mais saudáveis (Viddeon & Manning, 2003).
Um estudo sobre a tendência da ingestão dietética ao longo do tempo revela que, nos EUA, houve aumento da ingestão energética entre adolescentes do sexo feminino e aponta para o aumento de: refeições fora de casa; tamanho das porções; consumo de bebidas adocicadas e alteração nos hábitos de petiscar (Briefel & Johnson, 2004). Em estudos realizados em Nova Delhi, 65% dos adolescentes entre os 16 e 21 anos de idade deixaram de realizar pelo menos uma refeição diária. Pizzas, sorvetes, refrigerantes, hambúrgueres, são os alimentos mais consumidos, mostrando uma tendência para o consumo de refeições rápidas (Mahna, Passi & Khanna, 2004).
Num estudo qualitativo realizado no Brasil, pela análise do consumo alimentar dos adolescentes de 10 a 14 anos, observou-se, em 70% desses adolescentes, a presença diária de bebidas gaseificadas, chicletes, biscoitos recheados, salgadinhos empacotados, doces em barras e baixo consumo de frutas, hortaliças e produtos lácteos. A análise quantitativa revelou consumo excessivo de proteínas e lipídios (colesterol) mas insuficiente em ferro e cálcio. Pelo menos três refeições diárias (almoço, jantar e uma menor) foram realizadas por 94% dos adolescentes (Garcia, Gambardella & Frutuoso, 2003).
Os alimentos mais frequentemente ingeridos pelos jovens portugueses aos 12 e aos 15 anos foram o leite (90%), a fruta (93%) e os sumos naturais (86%). Em ambos os grupos etários, mais de 75% dos jovens comiam, uma ou mais vezes por semana, bolachas (74%), rebuçados e gomas (77%) e bebia leite achocolatado (78%) e refrigerantes com gás (78%). Também faziam parte da sua dieta semanal os chocolates (85%) e os bolos de pastelaria (80%). As bebidas alcoólicas, como vinho e cerveja, praticamente, não entravam na alimentação dos jovens de 12 anos, mas aos 15 anos, a cerveja era bebida, uma ou mais vezes por semana, por 17% dos jovens (DGS, 2008).
A alimentação variada e equilibrada é garantia de um estado nutricional adequado, necessário para manter um bom nível de saúde geral e oral na população. Neste sentido propusemo-nos analisar o conteúdo da dieta e a frequência de ingestão de alimentos e a sua relação com determinantes sociodemográficos, com o valor do Índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados, CPOD, Índice de Placa Simplificado, IPS, e Índice de Massa Corporal, IMC.
Quadro - dicas para uma alimentação saudável na adolescência
ORIENTAÇÃO PRÁTICA | JUSTIFICATIVA |
Realizar de 4 a 6 refeições ao dia (café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar e, se necessário, ceia). | Ajuda a manter o metabolismo ativo, evita longos períodos de jejum e reduz episódios de fome excessiva e compulsão. |
Não pular o café da manhã. | O café da manhã repõe a energia após o sono, melhora a concentração e reduz o risco de consumo exagerado nas refeições seguintes. |
Priorizar alimentos in natura ou minimamente processados (frutas, verduras, legumes, cereais integrais, feijão, ovos, leite, carnes magras). | Esses alimentos são mais ricos em fibras, vitaminas e minerais, favorecendo um crescimento saudável e a prevenção da obesidade. |
Reduzir o consumo de ultraprocessados (refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados, fast-food). | São ricos em gorduras, açúcares e sódio, contribuindo para o ganho de peso e o aumento do risco de doenças crônicas. |
Substituir refrigerantes e sucos artificiais por água, sucos naturais e chás sem açúcar. | Diminui a ingestão de açúcar simples e calorias vazias, contribuindo para o controle do peso corporal. |
Incluir frutas nas refeições e lanches diários (pelo menos 3 porções ao dia). | As frutas fornecem fibras, vitaminas e antioxidantes importantes para o bom funcionamento do organismo. |
Consumir verduras e legumes no almoço e no jantar. | Aumentam o volume da refeição com poucas calorias, promovem saciedade e melhoram a qualidade nutricional da dieta. |
Evitar beliscar o tempo todo, principalmente doces e salgadinhos entre as refeições. | O beliscar frequente, especialmente de alimentos calóricos, favorece o excesso de energia ingerida e o acúmulo de gordura |
Fazer as refeições em ambiente tranquilo, sem uso de telas (celular, TV, computador). | Comer com atenção plena ajuda a perceber sinais de fome e saciedade, prevenindo o consumo exagerado. |
Manter rotina de atividade física regular aliada à alimentação saudável. | A combinação de boa alimentação e movimento é essencial para o equilíbrio do peso, a saúde física e o bem-estar emocional. |
Fonte: Elaborado pela autora, 2025.
Diante do exposto, observa-se que os hábitos alimentares adotados na adolescência exercem papel decisivo na prevenção da obesidade e na promoção do desenvolvimento saudável. A compreensão dos fatores que influenciam as escolhas alimentares, como o ambiente familiar, o grupo de pares, a mídia e a disponibilidade de alimentos ultraprocessados, é fundamental para orientar intervenções educativas e ações em saúde. As dicas apresentadas no quadro sintetizam estratégias simples e viáveis para o cotidiano dos adolescentes, contribuindo para a construção de um estilo de vida mais equilibrado, capaz de repercutir positivamente na saúde presente e futura.
1.2. Sedentarismo, Tempo de Tela e Atividade Física
O sedentarismo pode impactar negativamente a vida de um indivíduo, aumentando o risco de desenvolvimento, por exemplo, de doenças cardiovasculares, diabetes tipo II e alguns tipos de câncer. Trata-se, portanto, de um grave problema de saúde que deve ser combatido. A adoção da prática de atividades físicas é benéfica para todas as pessoas, desde crianças até idosos. Para Palma et al. (2009), o sedentarismo é interpretado como a falta de atividades físicas ou um consumo de energia inferior a 1000 kcal por semana.
Desde os tempos em que o ser humano vivia da caça até os dias atuais, houve uma transformação significativa em seu modo de existir e habitar o mundo. Essas mudanças se intensificaram especialmente nos últimos 100 a 150 anos, em grande parte devido à Revolução Industrial. Nos tempos mais recentes, o avanço da tecnologia e da robótica contribuiu ainda mais para a inatividade do homem, que também passou a consumir mais tabaco e a adotar dietas cada vez menos saudáveis. Com a industrialização, o número de pessoas sedentárias tem crescido, uma vez que há escassez de oportunidades para a prática de atividades físicas, conforme apontado por Pitanga et al. (2005). A prevalência do sedentarismo é alarmante tanto em países desenvolvidos quanto em nações em desenvolvimento.
Com o progresso da tecnologia e da informação, Villanueva (2007) destaca que esse fenômeno pode levar ao aumento da inatividade, uma vez que as atividades mais exigentes no trabalho ou nas rotinas diárias tendem a diminuir, impactando também o tempo dedicado ao lazer. Dessa maneira, a população acaba se engajando em um sedentarismo não intencional, e com o avanço tecnológico trouxe benefícios em diversas áreas, mas também favoreceu comportamentos sedentários. Entre adolescentes, é comum o tempo prolongado em frente a televisores, computadores, celulares e videogames. Esse aumento do tempo de tela reduz o tempo dedicado a atividades físicas, brincadeiras ao ar livre e práticas esportivas.
A falta de atividade física regular contribui para o desequilíbrio energético, favorecendo o acúmulo de gordura corporal. Além disso, muitas atividades sedentárias são acompanhadas de consumo de lanches calóricos, criando um ciclo que potencializa o ganho de peso. A escola pode ter papel importante nesse contexto, seja por meio das aulas de Educação Física, seja pelo incentivo à participação em projetos esportivos e recreativos.
No Brasil, o progresso econômico resultou em um aumento na aquisição de bens de consumo duráveis pela população. A proporção de lares equipados com televisores saltou de 24,1% em 1970 para 87,0% em 2000. Três fatores associados a essa transformação impactaram o padrão de atividade física. Um deles, que afeta especialmente os jovens, foi a crescente utilização da televisão como forma de entretenimento. Relacionado a esse comportamento, observa-se uma tendência significativa de passar mais horas assistindo TV, o que diminui a prática de esportes recreativos e contribui para o aumento do consumo energético, especialmente entre crianças e adolescentes (Mendonça e Anjos, 2004).
Atividades lúdicas como pega-pega, esconde-esconde, empinar pipa, jogar futebol, pedalar e caminhar até a escola estão se tornando cada vez menos valorizadas e eram bastante comuns na infância. Normalmente, essas brincadeiras gastavam cerca de 600 calorias a mais em comparação com as atividades atuais. Esses hábitos passaram por transformações e, em função do crescimento das cidades, os locais de recreação foram desaparecendo. Além disso, o aumento da violência urbana gera medo, enquanto o trânsito intenso torna as ruas frequentemente congestionadas. As antigas vilas foram substituídas por prédios, e nas poucas que ainda subsistem, muitos moradores não suportam os sons das brincadeiras infantis (CONFEF, 2009).
Conforme a Organização Mundial da Saúde, OMS, entre 60% e 85% dos habitantes de nações desenvolvidas e em transição levam uma vida pouco ativa. A taxa de inatividade entre pessoas com mais de 15 anos é de 17%, com variações que vão de 11% a 24%, conforme a região. No Brasil, essa taxa oscila de 26,7% a 78,2% de acordo com a área geográfica e a faixa etária, segundo Seabra et al. (2008).
O uso de dispositivos eletrônicos em telas é crescente nas últimas décadas e a Academia Americana de Pediatria, AAP, recomenda o limite de uso diário de duas horas para crianças e adolescentes (Chassiakos et al., 2016). Entretanto, é comum que a exposição às telas ultrapasse essa recomendação. Nos Estados Unidos, crianças de 8 a 12 anos passam, em média, de quatro a seis horas por dia em uso de telas, enquanto os adolescentes passam em torno de nove horas (American Academy of child and adolescent psychiatry, 2025).
Já no Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, PENSE, de 2019, publicada em 2022, mostrou que 40% dos escolares do nono ano no ensino fundamental assistiam à TV por duas ou mais horas diariamente (IBGE, 2022). Com o avanço da tecnologia, dispositivos como celulares (smartphones) são usados igualmente ou mais do que televisão. Dados de uma da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, FGV-SP, demonstraram dois aparelhos eletrônicos per capita em média no Brasil, sendo o mais comum deles o celular (Felisoni et al., 2018). Com isso, a popularização no acesso a computadores, celulares e tablets tem ampliado a gama de dispositivos eletrônicos a serem considerados quanto ao tempo de tela (IBGE, 2020).
O uso excessivo de tela está associado ao risco de sobrepeso e obesidade, de acordo com Pinho (2017), além de baixos níveis de atividade física, menor duração do sono e menor qualidade de vida relacionada à saúde (Lucena et al., 2022). Além disso, estudo com adolescentes de escolas públicas e privadas no Brasil demonstrou que o maior tempo em frente às telas foi associado ao maior consumo de alimentos ultraprocessados (Rocha et al., 2021). Estudos envolvendo essa temática, com adolescentes de diferentes nacionalidades, são importantes para comparar comportamentos de indivíduos de mesma faixa etária e que vivem em países com realidades diferentes (Collese et al., 2019).
A prática de atividade física refere-se a qualquer tipo de movimento do corpo que resulte em gasto de energia devido à contração dos músculos esqueléticos. Isso abrange diversas ações voluntárias, como aquelas realizadas para lazer, trabalho, tarefas domésticas e transporte (Mendonça e Anjos, 2004). Por outro lado, o exercício físico é considerado uma categoria específica dentro da atividade física. Ele é caracterizado por um movimento organizado, planejado e repetitivo, que visa manter ou melhorar aspectos da aptidão física (Seabra et al., 2008). Segundo Villanueva (2007), o exercício físico não apenas contribui para o bem-estar físico, mas também tem um impacto indireto no estado psicossocial, que a Organização Mundial da Saúde classifica como bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo, exercendo uma influência favorável na saúde das pessoas e devendo ser incorporado ao modo de vida.
A realização de atividades físicas demonstra impactos positivos sobre distúrbios mentais. Embora a literatura não estabeleça uma relação clara de causa e efeito, há relatos de indivíduos que, ao se tornarem fisicamente ativos, perceberam uma melhora em seu estado psicológico. Essa prática influencia diretamente fatores como distração, autoeficácia e interação social. Os benefícios são diversos, incluindo a redução da ansiedade e o aprimoramento do humor, já que ocorre um aumento na transmissão sináptica das monoaminas, semelhante ao funcionamento de medicamentos antidepressivos, assim como o efeito inibitório da morfina endógena no sistema nervoso central, provocados após a atividade física (Zaitune et al., 2008).
De acordo com Mello et al. (2005), os benefícios vão além, já que indivíduos que se mantêm ativos apresentam um risco reduzido de problemas mentais quando comparados aos sedentários. Isso ocorre porque a prática de exercícios físicos favorece a saúde dos vasos sanguíneos do cérebro, ao aumentar o transporte de oxigênio, assim como a produção e a eliminação de neurotransmissores. Além disso, contribui para a diminuição da pressão arterial, dos níveis de colesterol e triglicerídeos, inibe a agregação das plaquetas e aprimora a capacidade funcional.
A prática de exercícios físicos é entendida como um fator que contribui para o desenvolvimento social, ajudando a reduzir a violência e a aprimorar as habilidades físicas. Ao considerar o esporte, a cultura, o lazer, a convivência pacífica e o trabalho em equipe, essas atividades oferecem aos jovens e crianças uma forma construtiva de ocupar seu tempo, alimentando suas aspirações e desejos. Além disso, promovem valores como tolerância, compreensão, controle emocional e respeito mútuo. Essa dinâmica favorece a transformação das percepções e valores negativos dos jovens, resultando em uma melhor interação entre as pessoas e o seu entorno (Gonçalves, 2004, p.182-197).
Pesquisas demonstram que a execução de movimentos está diretamente ligada ao grau de motivação; quanto mais desenvolvida for a coordenação motora da criança, maior será sua disposição para encarar novos desafios, tanto em atividades esportivas quanto na rotina diária (Gonçalves, 2004, p.182 - 197). Do ponto de vista fisiológico, a prática de exercícios físicos é fundamental na prevenção da obesidade, visto que a quantidade de gordura no corpo é inversamente relacionada ao nível de atividade física (Ronque et al., 2005), sendo recomendada desde os primeiros anos escolares.
A prática de exercícios físicos de maneira correta traz variadas vantagens, especialmente para crianças e adolescentes, além de adultos e idosos, afetando positivamente diversos órgãos e sistemas. No sistema cardiovascular, promove uma melhora no consumo de oxigênio, manutenção de uma adequada frequência cardíaca e no volume de ejeção. No sistema respiratório, há um aumento da ventilação. Para os músculos, resulta em maior densidade óssea e mineralização. Em relação às cartilagens, ocorre um aumento na espessura, proporcionando melhor proteção às articulações, enquanto no sistema endócrino proporciona um aumento da sensibilidade à insulina e uma redução nos níveis de gordura (Alves & Lima, 2008)
Desse modo, a prática regular de atividade física configura-se como uma estratégia essencial na promoção da saúde e na prevenção de doenças crônicas, incluindo o sobrepeso e a obesidade na infância e adolescência. Mais do que um recurso pontual, ela deve ser compreendida como parte de um estilo de vida ativo, construído cotidianamente nas rotinas familiares, escolares e comunitárias.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente revisão bibliográfica sobre obesidade na adolescência, com foco nos hábitos alimentares e no sedentarismo, evidenciou que esse agravo à saúde é um fenômeno multifatorial, diretamente relacionado às mudanças no padrão de consumo alimentar e à redução significativa da prática de atividade física entre os jovens. Os estudos analisados indicaram que a adolescência é uma fase marcada por intensas transformações biológicas, psicológicas e sociais, tornando esse público especialmente vulnerável à adoção de comportamentos de risco, como o consumo frequente de alimentos ultraprocessados e a substituição de refeições saudáveis por lanches rápidos e hipercalóricos.
Verificou-se que os hábitos alimentares inadequados, aliados ao aumento do tempo em comportamentos sedentários, como uso prolongado de telas, diminuição das brincadeiras ativas e redução da atividade física no cotidiano, contribuem de forma expressiva para o crescimento da prevalência de sobrepeso e obesidade entre adolescentes. A obesidade na adolescência está fortemente associada a padrões alimentares inadequados e a um estilo de vida sedentário, marcados pelo alto consumo de alimentos ultraprocessados e pelo excesso de tempo em atividades de tela. Esses fatores repercutem diretamente no desenvolvimento físico, emocional e social dos adolescentes, comprometendo a qualidade de vida e aumentando o risco de doenças futuras.
Por fim, reconhece-se que esta revisão apresenta limitações relacionadas ao recorte temporal e à seleção de estudos, indicando a importância de novas pesquisas que aprofundem a compreensão da obesidade na adolescência em diferentes contextos socioeconômicos e culturais. Ainda assim, os resultados aqui discutidos apontam para um consenso: investir na promoção de hábitos alimentares saudáveis e na redução do sedentarismo desde a juventude é fundamental para o desenvolvimento saudável dos adolescentes e para a construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a qualidade de vida.
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1 Graduada em Educação Física pela Faculdade Integrada de Fátima do Sul – FIFASUL. Pós-graduada em Educação Física Escolar e Saúde pela Faculdade Interamericana de Porto Velho – UNIRON (2005). E-mail: [email protected].