OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRAFIA DOS FATORES DE RISCO, IMPACTOS PSICOSSOCIAIS E DESAFIOS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17892482
Dirce Marinho de Azevedo Martins1
RESUMO
A obesidade na adolescência tem se consolidado como um importante problema de saúde pública, associada a múltiplos fatores de risco e a consequências que ultrapassam a dimensão física, alcançando aspectos emocionais e sociais. O Objetivo geral é analisar os principais fatores de risco associados à obesidade na adolescência, seus impactos psicossociais e os desafios para a promoção da saúde nessa fase do desenvolvimento. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa e natureza descritiva, baseada em livros, artigos científicos e documentos de organismos nacionais e internacionais da área da saúde. Os resultados da revisão indicaram que fatores genéticos, ambientais, culturais, comportamentais e socioeconômicos interagem de forma complexa, influenciando o ganho de peso em adolescentes. Além disso, a obesidade está associada a baixa autoestima, estigmatização, bullying e sofrimento psíquico. Conclui-se que o enfrentamento da obesidade na adolescência exige ações integradas entre escola, família e serviços de saúde, com foco na promoção de hábitos saudáveis e no cuidado integral do adolescente.
Palavras-chave: Obesidade. Fatores de risco. Impactos psicossociais. Desafios.
ABSTRACT
Obesity in adolescence has become a significant public health problem, associated with multiple risk factors and consequences that extend beyond the physical dimension, reaching emotional and social aspects. The general objective is to analyze the main risk factors associated with obesity in adolescence, its psychosocial impacts, and the challenges for health promotion during this developmental phase. Methodologically, this is bibliographic research, with a qualitative and descriptive approach, based on books, scientific articles, and documents from national and international health organizations. The results of the review indicated that genetic, environmental, cultural, behavioral, and socioeconomic factors interact in a complex way, influencing weight gain in adolescents. Furthermore, obesity is associated with low self-esteem, stigmatization, bullying, and psychological distress. It is concluded that addressing obesity in adolescence requires integrated actions between school, family, and health services, focusing on promoting healthy habits and comprehensive care for adolescents.
Keywords: Obesity. Risk factors. Psychosocial impacts. Challenges.
INTRODUÇÃO
A adolescência é um período marcado por intensas transformações físicas, emocionais e sociais, em que se consolidam hábitos de vida que podem se estender para a idade adulta. Nesse contexto, a obesidade surge como um problema relevante, uma vez que o excesso de peso nessa fase está associado tanto ao risco aumentado de doenças crônicas quanto a importantes impactos psicossociais. Assim, mudanças no padrão alimentar, aumento do consumo de produtos ultraprocessados, redução da atividade física e maior tempo de exposição a telas têm contribuído para o crescimento da obesidade entre adolescentes em diferentes países e realidades socioeconômicas. Ao mesmo tempo, a cultura da aparência e os padrões estéticos impostos pela mídia e pelas redes sociais reforçam conflitos em relação à imagem corporal, gerando sofrimento e discriminação.
Diante desse cenário, em que a obesidade na adolescência se articula a fatores biológicos, psicológicos, familiares e sociais, torna-se fundamental compreender de que maneira escola, família e serviços de saúde podem atuar de forma integrada na promoção de estilos de vida mais saudáveis. Considerando os impactos do sedentarismo, dos padrões alimentares inadequados e do sofrimento emocional associado ao estigma do peso, emerge a necessidade de investigar estratégias que apoiem os adolescentes na adoção de hábitos protetores. Assim, a questão que orienta este estudo é: como auxiliar adolescentes a promover hábitos saudáveis, de modo a mitigar o impacto de estilos de vida não saudáveis na prevalência de obesidade nessa faixa etária?
O objetivo geral do estudo é analisar os principais fatores de risco associados à obesidade na adolescência, seus impactos psicossociais e os desafios para a promoção da saúde nessa fase do desenvolvimento. Ancorado nos específicos: descrever os principais fatores biológicos, ambientais, socioeconômicos e comportamentais relacionados à obesidade em adolescentes; identificar os impactos psicossociais da obesidade na adolescência, considerando autoestima, imagem corporal, relações sociais e saúde mental; discutir os desafios para a obesidade na adolescência em contextos como escola, família e serviços de saúde. Diante desse cenário, torna-se fundamental compreender quais são os principais fatores de risco que levam o adolescente à obesidade, bem como analisar seus impactos emocionais e sociais e os desafios para a promoção da saúde.
1. METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa e natureza descritiva. Para Marconi e Lakatos (2017) a pesquisa bibliográfica não se limita à mera compilação de textos, exigindo análise, síntese e interpretação rigorosa do material consultado, de modo a produzir conhecimento sistematizado. Na percepção de Minayo (2014) a pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados, das crenças, dos valores e das atitudes, buscando apreender a complexidade dos fenômenos em seus contextos sociais e históricos, mais do que medir variáveis ou testar hipóteses numéricas. De acordo com Gil (2008) pesquisas descritivas procuram delinear características de determinadas populações, fenômenos ou relações entre variáveis, permitindo identificar padrões, recorrências e especificidades presentes nos dados analisados.
Foram consultados livros, artigos científicos e documentos oficiais que abordam a obesidade na adolescência, seus fatores de risco, impactos psicossociais e estratégias de promoção da saúde. A busca foi realizada em bases de dados acadêmicas e em publicações de instituições reconhecidas na área da saúde, na base de dados Google Acadêmicos e Scielo nos últimos anos. Os materiais selecionados foram analisados de forma crítica, buscando-se identificar convergências e divergências entre os autores, bem como elementos que contribuíssem para responder aos objetivos propostos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Obesidade na Adolescência e Seus Fatores de Risco
A obesidade é resultado de um desequilíbrio entre ingestão e gasto energético, mas sua origem é multifatorial. Na adolescência, aspectos genéticos podem predispor ao ganho de peso, porém fatores ambientais e comportamentais costumam desempenhar papel central. Entre eles, destacam-se o consumo frequente de alimentos ricos em açúcares, gorduras e sódio, o hábito de substituir refeições por lanches rápidos, o baixo consumo de frutas, verduras e legumes e a prática insuficiente de atividade física. A obesidade é definida como o acúmulo excessivo de tecido adiposo em quantidade que represente prejuízos à saúde, que além de se configurar como fator agravante para diversas morbidades, acarreta sérias alterações metabólicas e problemas graves de ordem respiratória e locomotora (Santana et al., 2018)
Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria, SBP, a obesidade é considerada uma doença crônica, complexa, de etiologia multifatorial e resulta de balanço energético positivo. Seu desenvolvimento ocorre, na grande maioria dos casos, pela associação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais (SBP, 2020). A prevalência mundial da obesidade triplicou desde 1975. Em 2016, mais de 1,9 bilhão de adultos apresentava sobrepeso, dos quais 650 milhões eram obesos, e, entre as crianças e adolescentes de 5 a 19 anos, 340 milhões se encontravam com sobrepeso ou obesidade (OMS, 2017).
A maioria dos adolescentes obesos apresentam obesidade desde a infância, mais especificamente desde antes dos cinco anos de idade. A manutenção da obesidade está relacionada com diversos fatores, entre eles a idade de início (quanto mais precoce maior o risco) e o grau de obesidade (quanto mais obeso, maior o risco). E a grande maioria dos adolescentes obesos se torna adultos obesos. Entretanto, são diversos os fatores que podem ser compreendidos como fatores de risco, pois se articulam em dimensões biológicas, psicológicas, sociais, ambientais e relacionadas às condições de saúde/doença. Nesse sentido, a identificação e a compreensão desses fatores de risco são fundamentais para o planejamento de ações preventivas e interventivas que considerem as especificidades do contexto e as necessidades reais dos envolvidos.
Quadro 1 - Fatores de risco
SISTEMATIZAÇÃO | FATORES |
Referem-se à herança familiar que aumenta a predisposição à obesidade. Não determinam sozinhos o quadro, mas tornam o indivíduo mais vulnerável ao ganho de peso quando associado a outros fatores de risco. | |
Envolvem hábitos e comportamentos pessoais, como alimentação, prática de atividade física, sono e manejo das emoções. Dieta rica em ultraprocessados, sedentarismo, uso excessivo de telas e estresse favorecem o desequilíbrio entre ingestão e gasto de energia. | |
Relacionam-se ao contexto em que a pessoa vive, estuda e trabalha. Acesso fácil a fast food, poucos espaços para atividade física, rotinas sedentárias e forte publicidade de alimentos não saudáveis dificultam a adoção de um estilo de vida saudável. | |
Algumas doenças e o uso de certos medicamentos podem favorecer o ganho de peso ou dificultar seu controle, como alterações hormonais, transtornos mentais e condições que reduzem a mobilidade, exigindo acompanhamento profissional adequado. |
Fonte: Elaborado pela autora, 2025.
Dessa forma, a obesidade resulta da interação complexa entre fatores genéticos, individuais, ambientais e determinadas doenças, o que reforça que não se trata apenas de uma falta de vontade” do indivíduo, mas de um fenômeno multifatorial que exige abordagens amplas de prevenção e cuidado. De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, ABESO (2016), a combinação entre predisposição genética, estilo de vida sedentário, alimentação inadequada e contexto social desfavorável aumenta de forma significativa o risco de desenvolvimento da obesidade em diferentes faixas etárias.
2.2. Impactos Psicossociais da Obesidade na Adolescência
Os impactos da obesidade não se restringem à saúde física, mas afetam profundamente a dimensão psicossocial do adolescente. O corpo, nessa fase, assume papel central na construção da identidade, e a divergência em relação aos padrões de beleza socialmente valorizados pode desencadear sentimentos de vergonha, insegurança e inadequação. Nessa perspectiva, Erikson (1976), destaca que a adolescência é um momento crucial para a construção da identidade, em que o corpo e a imagem que o adolescente tem de si assumem papel central nesse processo. Quando há discrepância entre o próprio corpo e os padrões de beleza socialmente valorizados, intensificam-se vivências de insegurança e sentimentos de desvalia, o que pode comprometer a formação de uma identidade positiva.
Adolescentes com obesidade muitas vezes são alvo de bullying, apelidos pejorativos e discriminação, comprometendo sua autoestima e suas relações sociais. Essa experiência pode levar ao isolamento, à ansiedade, à tristeza e, em alguns casos, ao desenvolvimento de quadros depressivos. A relação com a escola também pode ser afetada, seja por dificuldades nas interações com colegas, seja pela baixa participação em atividades físicas e esportivas. Para Gonzáles-Cross et al. (2009), crianças e adolescentes que sofrem bullying devido ao peso têm maior probabilidade de experimentar isolamento social e imagem corporal negativa, podendo agravar os sintomas de saúde mental.
Nesse contexto, o rendimento escolar pode ser prejudicado, interferindo na concentração, na motivação para aprender e na participação em atividades em grupo. Muitos adolescentes com obesidade tendem a evitar situações em que o corpo é exposto, como aulas de Educação Física e práticas esportivas, reforçando o sedentarismo e intensificar o afastamento dos colegas. Assim, a escola, que deveria ser um espaço de proteção e desenvolvimento integral, pode tornar-se um cenário de sofrimento emocional quando não há ações efetivas de combate ao preconceito e à discriminação. Goffman (1963) denomina estigma, isto é, a marca social que desqualifica o sujeito e afeta suas interações, fazendo com que muitos adolescentes se sintam deslocados e indesejados no ambiente escolar.
A dinâmica familiar também exerce papel relevante na forma como o adolescente vivencia a obesidade. Comentários constantes sobre o peso, comparações com irmãos ou colegas e cobranças excessivas por dietas e emagrecimento podem reforçar sentimento de culpa e insuficiência. Por outro lado, quando a família oferece apoio emocional, escuta e incentivo a hábitos saudáveis sem culpabilização, contribui para o fortalecimento da autoestima e para uma relação mais positiva com o próprio corpo. A qualidade desse suporte familiar pode, portanto, funcionar tanto como fator de proteção quanto de agravamento do sofrimento psicossocial. Segundo Lampard, Franckle e Davison (2014), pais com sintomas depressivos podem adotar práticas parentais menos saudáveis, o que repercute negativamente nos hábitos alimentares e na atividade física das crianças, aumentando o risco de obesidade e problemas psicológicos.
Além disso, a estigmatização do corpo pode comprometer a construção de um autoconceito saudável e influenciar negativamente projetos de vida e expectativas futuras. Adolescentes que internalizam discursos gordofóbicos passam a acreditar que não são dignos de afeto, reconhecimento ou sucesso, o que aumenta a vulnerabilidade a comportamentos de risco, como restrição alimentar extrema, uso inadequado de medicamentos para emagrecer e outras práticas prejudiciais à saúde. Segundo Bordo (1993) ao mostrar que os ideais de magreza e os discursos de controle do corpo, amplamente difundidos pela cultura ocidental, são incorporados pelos sujeitos como exigências pessoais, produzindo culpa, vergonha e condutas autodestrutivas. Por isso, é fundamental que as intervenções voltadas à obesidade na adolescência não se restrinjam ao peso em si, mas considerem a dimensão emocional, relacional e social envolvida nesse processo.
Nas escolas, programas que promovem a atividade física e a alimentação saudável podem ajudar a reduzir os impactos negativos da obesidade na saúde mental. No entanto, a presença de bullying e discriminação pode aumentar a vulnerabilidade dos jovens a problemas emocionais. Intervenções escolares eficazes devem incluir componentes que abordem tanto a promoção da saúde física quanto o bem-estar emocional (Griffiths et al., 2010).
Nessa perspectiva, autores que estudam o estigma relacionado ao peso enfatizam que as experiências de discriminação e de preconceito podem ser tão ou mais prejudiciais quanto os próprios aspectos físicos da obesidade, afetando profundamente a autoestima, as relações interpessoais e a participação social do adolescente. Puhl e Latner (2007) destacam que o estigma do peso está associado ao aumento de sintomas ansiosos e depressivos, à evasão de contextos sociais e à pior adesão a comportamentos saudáveis, evidenciando a necessidade de ações educativas que promovam respeito, acolhimento e inclusão no ambiente escolar e familiar.
2.3. Desafios para a Saúde na Prevenção da Obesidade
Atualmente, a obesidade é reconhecida como um dos principais problemas de saúde pública em escala mundial, sendo caracterizada pela Organização Mundial da Saúde como uma epidemia global, com mais de um bilhão de pessoas vivendo com obesidade e prevalências crescentes em adultos, crianças e adolescentes (Brasil,1990). Essa condição impacta diretamente a morbimortalidade, a qualidade de vida e os gastos em saúde, o que exige respostas articuladas dos sistemas de saúde e de outras políticas sociais.
A obesidade é definida como excesso de gordura corporal em quantidade suficiente para provocar prejuízos à saúde, configurando-se como uma Doença Crônica Não Transmissível, DCNT, de caráter multifatorial (Brasil, 2014). Seu desenvolvimento envolve a interação de fatores biológicos, comportamentais, sociais, econômicos e ambientais, relacionados tanto ao padrão alimentar quanto ao nível de atividade física, ao ambiente em que as pessoas vivem e às condições de trabalho, lazer e mobilidade urbana. Autores como Duncan et al. (2012) destacam que a obesidade é hoje um dos mais importantes fatores de risco para outras DCNT, como diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e hipertensão arterial, reforçando a necessidade de estratégias de prevenção em longo prazo (Duncan et al., 2012).
No contexto brasileiro, dados de inquéritos nacionais, como a Pesquisa Nacional de Saúde e o sistema Vigitel, mostraram aumento consistente das prevalências de excesso de peso e obesidade em praticamente todas as faixas etárias, com associação importante com diabetes, hipertensão e dislipidemias (Brasil, 2014). Esse cenário reforça que a prevenção da obesidade não pode se limitar a orientações individuais sobre dieta e atividade física, mas deve considerar os determinantes sociais da saúde e o chamado “ambiente obesogênico”, marcado pela ampla oferta e publicidade de alimentos ultraprocessados, pela urbanização que desestimula o deslocamento ativo e pela dificuldade de acesso a espaços seguros para prática de atividade física (Dias, et al., 2017).
Autores da Saúde Coletiva, como Dias et al. (2017), argumentam que a obesidade precisa ser compreendida como um fenômeno social e político, e não apenas como problema individual, pois suas causas e consequências estão intimamente relacionadas a modelos de produção, distribuição e consumo de alimentos, bem como às desigualdades de renda, escolaridade e acesso aos serviços de saúde (Dias et al., 2017). Nesse sentido, a prevenção da obesidade constitui um desafio que exige ações intersetoriais envolvendo saúde, educação, assistência social, agricultura, esporte, planejamento urbano, entre outras áreas.
Do ponto de vista legal e das políticas públicas, o enfrentamento da obesidade no Brasil está amparado por um importante arcabouço normativo. A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado (Brasil, 1988), fundamento que sustenta a organização do Sistema Único de Saúde, SUS, pela Lei nº 8.080/1990. A partir desse marco, foram instituídas políticas específicas que orientam a promoção da saúde e a prevenção de agravos, incluindo a obesidade, com destaque para a Política Nacional de Promoção da Saúde, PNPS, instituída pela Portaria MS/GM nº 687/2006, redefinida pela Portaria nº 2.446/2014 e atualmente consolidada na Portaria de Consolidação nº 2/2017 (Brasil, 2014). A PNPS adota o conceito ampliado de saúde e enfatiza ações de promoção de modos de vida saudáveis, participação social e intersetorialidade.
No campo específico da alimentação e nutrição, destacam-se a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, PNAN, e o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde, que apresenta recomendações baseadas no grau de processamento dos alimentos e orienta a população e os profissionais de saúde sobre práticas alimentares adequadas e saudáveis, considerando aspectos culturais, sociais e ambientais (Brasil, 2014). Em complemento, o Manual de Atenção às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde e as Linhas de Cuidado do Sobrepeso e Obesidade no SUS organizam a atenção em rede, definindo fluxos, responsabilidades e diretrizes para o acompanhamento e o cuidado contínuo dessas pessoas na Atenção Primária.
Apesar desse conjunto de políticas e instrumentos legais, persistem importantes desafios para a prevenção da obesidade: a dificuldade de implantação efetiva de ações de promoção da saúde em todos os níveis de atenção; a fragmentação entre as políticas setoriais; a insuficiente formação dos profissionais para trabalhar com abordagem ampliada e interdisciplinar; e as barreiras socioeconômicas que limitam o acesso a alimentos in natura e minimamente processados e a espaços de prática de atividade física, especialmente em populações em situação de vulnerabilidade. Estudos de avaliação da PNPS ressaltam que ainda é necessário fortalecer o monitoramento, a articulação intersetorial e a participação social para que as diretrizes previstas em lei se traduzam em mudanças concretas nos territórios (Brasil,2010).
Assim, os desafios para a prevenção da obesidade envolvem, ao mesmo tempo, consolidar o SUS como sistema universal e equânime, efetivar as políticas de promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável e criar ambientes que favoreçam escolhas saudáveis em todas as fases da vida. Integrar marcos legais, evidências científicas e práticas cotidianas nos serviços de saúde é essencial para enfrentar a obesidade como problema coletivo e assegurar o direito à saúde previsto na legislação brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obesidade na adolescência é um fenômeno complexo, que envolve a interação de fatores biológicos, comportamentais, ambientais e socioeconômicos. Seus impactos vão além do corpo físico, alcançando a autoestima, as relações sociais e a saúde mental dos adolescentes. Os estudos analisados evidenciaram que o enfrentamento desse problema exige ações integradas, que valorizem a promoção de hábitos saudáveis e o cuidado integral com o adolescente.
Diante do exposto, a prevenção da obesidade constitui um dos maiores desafios contemporâneos para a saúde pública, uma vez que se trata de uma condição crônica, multifatorial e intimamente relacionada aos determinantes sociais, econômicos e ambientais. Superar esse quadro exige ir além de intervenções centradas apenas no indivíduo, demandando o fortalecimento das políticas públicas já existentes, a efetivação do SUS como sistema universal e resolutivo, a promoção de ambientes alimentares saudáveis e de espaços que favoreçam a prática de atividade física, bem como ações intersetoriais que integrem saúde, educação, assistência social e demais setores. Nesse sentido, a prevenção da obesidade, desde a infância e adolescência até a vida adulta, depende de estratégias contínuas de educação em saúde, de participação social e de garantia de direitos, de modo a assegurar condições concretas para escolhas saudáveis e a melhoria da qualidade de vida da população.
Conclui-se que a escola, a família e os serviços de saúde precisam atuar de forma articulada, desenvolvendo estratégias de prevenção e promoção da saúde que considerem a singularidade de cada contexto. A construção de ambientes mais saudáveis, a valorização do diálogo e o combate ao estigma são elementos fundamentais para apoiar o adolescente na construção de uma relação mais positiva com seu corpo e sua saúde.
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1 Graduada em Educação Física pela Faculdade Integrada de Fátima do Sul – FIFASUL. Pós-graduada em Educação Física Escolar e Saúde pela Faculdade Interamericana de Porto Velho – UNIRON (2005). E-mail: [email protected].