O SER E SEUS CONFLITOS EXISTÊNCIAIS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17489660


Pedro Francisco Molina


RESUMO
Freud em seus estudos com a psique enfrentou dilemas, apesar do tempo, nem tudo ainda não pacificados, dentre eles o significado de angústia, como causa de base dos conflitos existenciais refletidos na histeria, denotava em seus primeiros estudos algo além da alma.
De forma que, deixou pequenos legados sobre o assunto, como um fio de novelo a ser desfiado no futuro. Portanto, como um pesquisador, sabedor das influências causadas por comorbidades nucleares que interferiam nos conflitos apresentados, nos deixou legados para dar continuidade às suas dúvidas, até então.
Um tema atual que muito colabora para estágios primários de muitas patologias lastreadas de fundo emocionais, vazios interiores, ansiedades, depressões, pânicos, luto, melancolia, etc., que afeta o ser, minando suas expectativas, causando desrupção emocional.
Esse artigo visa refletir sobre tais temas, no sentido de continuidade de heranças passadas de legados, uma Psicanálise propositiva da qual não devemos abandonar suas observações primárias, cujas incógnitas ainda prevalecem, apesar dos avanços, confortos complementados pela farmacologia, agora pela neurociência a grande expectativa.
Palavras-chave: Psicanálise, Angustia, Melancolia, Depressão, Tristeza, Luto, Ansiedade, Medo, Vazios.

ABSTRACT
Freud, in his studies of the psyche, faced dilemmas that remain unresolved even today, including the meaning of anguish as a fundamental cause of existential conflicts reflected in hysteria, which denoted in his early studies something beyond the soul.
He left small legacies on the subject, like a thread to be unraveled in the future. Therefore, as a researcher aware of the influences caused by core comorbidities that interfered with the conflicts presented, he left us legacies to continue exploring his then-unanswered questions.
This is a current theme that greatly contributes to the early stages of many pathologies rooted in emotional backgrounds, such as inner emptiness, anxieties, depressions, panic, grief, melancholy, etc., which affect the individual, undermining their expectations and causing emotional disruption.
This article aims to reflect on these themes in the context of continuing the past legacies, a proactive Psychoanalysis from which we should not abandon its primary observations, whose uncertainties still prevail despite advancements and comforts complemented by pharmacology, with neuroscience now being a great expectation.
Keywords: Psychoanalysis, Anguish, Melancholy, Depression, Sadness, Grief, Anxiety, Fear, Emptiness.

INTRODUÇÃO

A ideia não é nova, porém alguns fundamentos que muito contribuíram para avanços nos campos das pesquisas, dos mais variados temas das relações humanas, motivando reflexões profundas sobre o ser humano, seus medos, dores, em sua caminhada.

A pesquisa, ferramenta fértil, diante da curiosidade o desvelar do ser, seus enigmas diante da existência, renovando a esperança, ativando a vida, mesmo com as dificuldades pelos valores lineares do senso comum, permeados pela ignorância que nos limitam.

Os temas são provocantes das mais diversas abordagens, escolhas dos autores são provocativas, intuito de conhecer suas ideias, conceitos do início do século XIX, marco importante, revolucionário para os séculos vindouros, cujos temas exigem pacificações.

A angústia dentro de seus conceitos, assim como, a melancolia, a depressão, a tristeza, o pânico, geradores de denominações diagnósticas na época como Parafrenias, doenças dos nervos, provocavam abordagens das mais variadas possíveis. Motivos de isolamentos, confinamentos, sofrimentos dos mais absurdos inimagináveis.

Portanto, trazer tais temas é resgatar a história do movimento Psicanalítico que muito contribuiu para um olhar diferenciado colaborando com o processo de socialização, enfrentando tabus, mitos, movimentos permeados do ranço absolutistas limitantes e castradores.

HISTERIA - UM BREVE HISTÓRICO

Termo utilizado por Freud (1856-1939), para assim explicar os primeiros sintomas observados em suas clinicas, para definir conflitos mentais, ocorrência de pacientes em sua fase inicial de observação, junto como seu companheiro Breuer (1842-1925), no tratamento de uma paciente denominada de Srta. Anna O. A princípio Breuer se assusta como o processo de transferência, ou seja, não sabendo lidar com tais afetações, desiste começando um processo de resistência contra algumas falas de Freud, que corajosamente enfrenta os obstáculos criados por seus pares.

Breuer um renomado médico, Freud um iniciante na carreira que a princípio estava interessado no sistema nervoso em sua anatomia, porém as observações do caso clinico da paciente de seu amigo, leva-o até Paris para conhecer Charcot (1825-1893), sob sua orientação adentra-se ao mundo da hipnose, acompanhando alguns casos clínicos apresentados pelo mestre, pois esse tinha como foco os casos classificados como histerias.

Portanto, todo trabalho envolvendo a histeria foi graças a Charcot, ali desperta sua curiosidade a respeito de tais sintomas, retornando a sua cidade, coloca em prática a metodologia de seu mestre, porém não obteve grandes êxitos com a metodologia, voltando-se ao método catártico de seu amigo Breuer, porém eliminando a hipnose, substituindo pela associação livre das palavras. Aliado a sugestologia, quando em um Congresso Médico Internacional é atacado por Pierre Janet (1913), colocando como absurdas tais colocações, atacando assim a Psicanálise, talvez esse enciumado, pois foi um precursor anteriormente sobre a psique. Freud (2006, p. 16).

Até então a histeria tinha como diagnose, doença do útero, estigma da qual a mulher carregava dentro dela, algo como um animal sedutor que provocava os homens, levando-os a desejos pecaminosos, daí o combate com ervas para acalmar, internar, muitas vezes a isolamentos, assim conter os efeitos de tais descontroles sociais.

Observa-se que desde então, havia reflexões a respeito de tais comportamentos, já em 1866 o assunto permeava a comunidade cientifica, o atraso que ocorre no Brasil, assim define o Grande Dicionário Etimológico – Prosódico da Língua Portuguêsa de Bueno (1968, p. 1794),

Citação,

‘’Histeria – s. f. O mesmo que histerismo. Nevrose polimorfa na qual há distúrbios de sensibilidade, mentais e da nutriçã0. Admite-se, geralmente, que haja relações íntimas entre a histeria e as perturbações funcionais do útero se bem que, embora muito raramente possa haver histeria no homem. Gr. Hystera, útero e suf, ia.

Apesar de Freud ter despertado irá nos congressistas, quando diz que o privilégio não era das mulheres tais conflitos, homens também sofrem de tais situações, que tal sintoma não estava localizado no útero e sim no corpo em função da libido retida, voltada a sexualidade reprimida.

Segundo Ferenczi (1974, p. 131), um discipulo próximo, no ano de 1919, tratava da conversão e seus simbolismos histéricos, como sintomas de representações, resultantes do corpo e seus fantasmas inconscientes.

Citação, Ferenczi (1974, p. 131),

“Por exemplo, uma paralisia histérica do braço pode significar – sob forma negativa – uma inversão de agressão; uma anestesia ou uma hiperestesia localizadas, a lembrança duradoura e fixada inconscientemente de um toque de ordem sexual no lugar em questão. A Psicanálise forneceu-nos também esclarecimentos inesperados quanto à natureza das forças em jogo na formação do sintoma histérico; são sempre de natureza erótica e egoísta que se exprimem na sintomatologia dessa neurose, ora alternativamente, ora – e é o caso mais frequente – pela formação de compromissos. [...] ...Freud, afinal, conseguiu descobrir na história do desenvolvimento libidinal o ponto de fixação genético que condiciona predisposição para a histeria”.

Tais fatores de desiquilíbrio para essa psicopatologia, cuja predisposição do conflito erótico, causado pelo recalcamento da sexualidade, no sentido de somatizações corporais, em que os sintomas se manifestam.

A Psicanálise faz com que a liberdade do enclausuramento estigmatizado da mulher ocorra, pois até o final do século XIX as histéricas faziam parte de um teatro de horrores, cujas sintomas eram vistos como dissimulações, tratadas até hoje como se nada fosse, logo passa, coisas do emocional ou psicológico. Tabus, cuja hipocrisia fundada no pecado original, sendo a mulher a figura satânica responsável pela transgressão da criação. FREUD (2021, p.10).

A história deve ser resgatada, pois os méritos são dos estudiosos, mesmo com seus erros e acertos, reconhecidamente a Psicanálise funda-se na histeria e sua psicopatologia. Sendo a ligação para todo desenvolvimento de sua ciência, do qual chamava de peste negra, pois um assunto a ser pacificado desde os Gregos e sua medicina na figura de Hipócrates (460 a. C.), já se referia a esse mal, confundido com a epilepsia de forma rudimentar. TALLAFERRO (1996, p.13).

A vinculação do útero com as manifestações histérica começa com Hipócrates, cuja movimentação por deslocamento do órgão denominado de histeron em grego, daí histeria. Assim como, no Egito e outros povos, acreditava que a matriz, um órgão bicorne, deslocava-se pelo corpo inteiro, obstruindo as entradas de ar, inclusive Platão (427 a.C.), tinha como conceito a mesma teoria, do qual Sócrates (470 a.C.-399. C.) comungava.

Citação, TALLAFERRO (1996, p. 14),

“A Matriz é um animal que deseja ardentemente engendrar crianças. Quando fica estéril por muito tempo, depois da puberdade, aflige-se e indigna-se por ter de suportar semelhante situação e passa a percorrer o corpo, obturando todas as saídas de ar. Paralise a respiração e impele o corpo para extremos perigosos, ocasionando ao mesmo tempo diversas enfermidades, até que o desejo e o amor, reunindo o homem e a mulher, façam nascer um fruto e o recolham como de uma árvore.”

O olhar culposo para a mulher, sendo o casamento a forma de controle como pacificação das condutas inexplicáveis, inclusive que após ter um filho a mulher se recolhe, solucionando assim suas manifestações histéricas. Citação, TALLAFERRO (1996, p. 14/15),

“Galeno em 170 depois de Cristo, discordando das opiniões de Hipócrates e Platão, cuja discordância era a impossibilidade de tal deslocamento do útero, pois anatomicamente impossível. Porém, sua teoria era de que a histeria provocada pela retenção de sangue menstrual feminino, pois na época se acreditava que a mulher ejaculava sêmen como o homem.”

Dentre muitas teorias, das mais diversas suposições, na idade média foi estigmatizada a relação com demônio, até o advento da medicina, dentro dos conceitos antigos concordantes e discordantes. Foi com Charcot (1862), a cisão fundamental para se pensar de forma racional sobre tal tema, em que Freud se debruça no enfrentamento de uma sociedade conservadora, herdeiros da era Vitoriana, os chamados fisicalistas, além da beatitude perseguidora.

Importante acentuar alguns erros correntes sobre a psicanálise, como se explica tudo pela sexualidade ou que qualquer estádio neurótico se explica pela sexualidade, pois a hostilidade e a maldade canalizam narrativas sem fundamentos para deturpar, desconstruir a ciência banalizando por palavras sem sentidos, no sentido de estigmatizar.

Citação, Ferenczi, (2023, p. 137),

“Nunca será demais prevenir o leitor contra o caráter errôneo, incorreto, dessas afirmações, quer sejam proferidas pro malevolência ou sem intensão hostil. O fato é – a psicanálise o demonstrou – que a vida sexual desempenha no universo psíquico, tanto dos doentes como dos indivíduos sãos, um papel muito importante do que se acreditava até agora; é igualmente verdadeiro que a influência da sexualidade é ainda mais acentuada no domínio particular das neuroses e psicoses.”

Sendo a base da psicanálise o recalcamento como estrutura filogenética dos sintomas, cujo inconsciente como sistema atua de forma silenciosa as heranças genômicas que se manifestam em busca de resoluções, trazendo a tona a ontologia do sujeito, em que o psicanalista atua como um antropólogo no sentido de preservar os conteúdos, no trabalho de conscientização do manifestante.

Graças aos estudos iniciados por Freud, Breuer e outros discípulos as reflexões continuam a serem postas na pacificação atual de uma visão anatomofisiologicas voltadas às pesquisas, distanciando-se dos tabus de outrora.

ANGÚSTIA

Diante de seus significados a angústia é o presente sintoma que se apresenta na relação tempo espaço, nos tracionam como passageiros da agonia, carga emocional carregada de vazios, lembranças encobridoras de um estado de alma, sentido de perdas, faltas, como se um breve retorno nos aguarda a volta para casa.

Dando-nos um sentido de prisioneiro do presente, com limitação na expectativa de nossa vivência, cuja exterioridade nos sufoca de forma apática com a derrocada falência, descontroladamente alimentando nossa insatisfação.

Vivenciamos nossos registros mentais, transitamos nas lembranças de registros das memórias entre o passado e a expectativa do futuro, como se o tempo fosse o dragão a ser combatido. Divagações através da imaginação, utopias preenchedoras de fantasias, de sonhos muitas vezes em vigília, um cérebro pensante que nos comandam, diante do que não conhecemos conscientemente, somos guiados pelo mais profundo recalque, regido pelo desconhecido.

O que ameniza em momentos da atuação de lampejos, são as dúvidas permeadas de certezas, ou seja, de que o sol irá brilhar sempre, pois assim sempre ocorreu, que o planeta terra sempre será fértil, nos abastecerá para o todo sempre. Porém, quando entramos no mundo quântico, tudo muda, nada nos dá certeza, apenas a dúvida prevalece no mundo das partículas, nada mais do que a incerteza, diante do mundo das aparências, ofuscados pela iluminação.

Grandes mitos tiveram seus momentos de angústias, dúvidas, agonias, superando seus propósitos, assim como, outros pereceram diante de seus fracassos. Portanto, seres dualistas que somos, uma ancora nos sustenta, ou seja, a família, a esperança, a mística e nossa tradição totêmica mitológica.

Desde a monada, a ínfima partícula do fiat da vida, que nos organizou como matéria orgânica, passamos por transformações, rumos as adaptações múltiplas de momento único, a vida. O que nos leva a deduzir a formação do psíquico, sendo a nossa cognossência aflorada, abrindo a percepção das coisas, nos levam a interioridade subjetiva da metafísica. Norteamento de nossa exterioridade, profundidade dimensional, sensores neurológicos, interagem entre o de fora e do dentro.

Consequentemente, a mística permeada pelo espirito, uma construção posteriori quando da saída da caverna de sombras para a iluminação, criação dos mitos, ritos, para suprir nossas angústias, agonias, pelo que se apresentava em nossa percepção dimensional.

Citação, Von Franz (2003, p.9),

“...Os mitos de criação pertencem a uma classe diferente dos outros mitos – por exemplo, os mitos dos heróis ou os contos de fadas - pois, quando são narrados sempre existe uma certa solenidade que lhes confere uma importância central; eles transmitem um estado de ânimo que deixa uma certa solenidade que lhes confere uma importância central; eles transmitem um estado de ânimo que deixa implícita a mensagem de que o que está sendo dito refere-se aos padrões básicos da existência, a algo mais do que o que está contido nos outros mitos. Portanto, pode-se dizer que, no que tange aos sentimentos e ao tom emocional que os acompanha, os mitos de criação são os mais profundos e importantes de todos. Em muitas religiões primitivas, narrar o mito de criação estabelece um ensinamento essencial no rito de iniciação. O mito é contado para jovens como parte mais importante do trabalho tribal. [...] referem-se aos problemas básicos da vida humana, pois dizem respeito ao significado final, não só de nossa própria existência, mas da existência do cosmo inteiro”

Observa-se que a formação da psique nos leva as mais variadas percepções, navegamos por mares abertos, significado real de nossas liberdades, cujo comando é a natureza no balançar das individualidades, dividimos nos opostos, princípio da dualidade, por afinidades nos associamos aos nossos desejos, vontades. A alquimia nos proporcionou a descoberta, porém fomos mais longe na formação de nosso inteligir, caminho a química da matéria.

Percebemos que poderíamos controlar tudo em nossa volta pelo coletivismo, ledo engano, ainda um processo de projeção, visão de Jung, citação de Von Franz (2003, p. 11), “Projeção significa a expulsão de um conteúdo subjetivo para um objeto; é o oposto de introjeção”.

A angústia é uma percepção de algo perdido, com a falta de um elo unificador, sensação de falta, um vazio existencial que incessantemente busca uma forma de preenchimento, talvez aí, o significado dos símbolos que explicam certas fases, nos remetendo ao tempo da imaginação. Um processo gestacional dos movimentos inconscientes projetivos nas realizações de suas subjetividades entre os sonhos e as realidades.

O corte, segundo algumas teorias, seria os períodos glaciais que passou a humanidade, que faz relação com o nirvana (paraíso), com a nova realidade apresentada, em que a pulsão é a mola inicial para sua saída, caminho a sua exterioridade e necessidade.

Citação, Berlinck (2000, p. 34),

“Nesta perspectiva, a pulsão seria, então, anterior ao instinto; uma força determinada e atemporal que vai se moldando segundo as vicissitudes dos movimentos do hominídeo e da hominídea. Ora, a pulsão que move o instinto é a mesma que constitui a libido. Assim, a ruptura do instinto, regido pela necessidade que a catástrofe glacial provoca, vai constituir a libido que está voltada para o prazer. [...] ... teoria psicopatológica da humanidade, seria a catástrofe, ou seja, a violência que ameaça a espécie vinda do exterior. É essa violência que permite a modificação de posição corporal e provoca a saída do estado edênico para o estado humano. Sabe-se muito pouco ainda sobre essa fundamental passagem, mas é certo que o rompimento do equilíbrio nirvânico – provocado pela violência da catástrofe – permitiu que investimento libidinal no objeto se voltasse para o corpo do primata e começasse a produzir angustia”.

Tais ideias, partem de um corpo constituído de sua soma, eminentemente biológico e naturalista, assim como a psicopatologia geral da humanidade. Berlinck (2000, p. 34).

Portanto, algo não pacificado por Freud, dizia que o impulso poderia antevir a fase instintiva, segundo ele restrito a filogenética humana e dos animais.

Citação, Berlinck (2000, p. 37),

“No Dicionário comentado do alemão de Freud, Luiz Hanns (1996) argumentará que o campo semântico coberto pelo vocabulário Angst cobre todas as formas de medo, que vai de um sentimento de perigo indeterminado até um sentimento bastante determinado em relação a um dado objeto”.

Portanto, angústia pode ser um medo interiorizado em função das catástrofes ou acidentes que provocaram o ser em desenvolvimento primário do qual a filogenética nos dá a sensação de algo perdido, dores profundas na adaptação corrente no processo de humanização. Apesar de faltar estudos que complementem tais teorias, hoje sabemos que o corpo de forma integralizada, tais sensações se manifestam, não apenas de forma compartimentada, como pensam alguns de forma fragmentada.

Uma coisa é possível, o desenvolvimento de nossa psique em função das necessidades primárias da sobrevivência, forma os motivadores na preservação da espécie, assim como, no desenvolvimento do sentir em relação ao outro, talvez origem das uniões, agregações de grupos, tribos, coletivamente nos tornaram mais fortes diante das adversidades.

Consequentemente, nas formações das hordas, práticas na proteção da família, convivência com suas proles, necessidades das supremacias dos machos fortes nos seus sacrifícios das manutenções, proteções dos pares.

Citação, Berlinck (2000, p. 46),

“É a época da concepção anímica do mundo e de sua técnica mágica. Como recompensa pelo seu poder de proporcionar proteção e vida a tantos desamparados, arrogava-se domínio ilimitado sobre eles, defendendo, através de sua personalidade, as duas primeiras normas: sua inviolabilidade e que não pudesse ser negado a ele dispor das mulheres. No fim dessa época, a humanidade era dividida em hordas isoladas, as quais eram dominadas por um homem sábio, forte e brutal, como pai. É possível que a natureza desconsiderada, ciumenta e egoísta, que as ponderações da psicologia popular atribuem ao pai primitivo da horda humana, não existissem desde o começo, senão que, adaptando-se às necessidades, moldaram-se no percurso dos difíceis tempos glaciais”.

Apesar que a história demonstra em seu curso, sociedades puramente matriarcais, patriarcais, diversas estruturas de grupos e atuais sociedades vigentes. Assim como, a questão do homossexualismo hoje divergente que não é advindo de uma sociedade patriarcal, mas somente de vicissitudes com fundamentos na sociedade humana. Segundo Freud, Citação, Berlinck (2000, pg. 51), “...nesta perspectiva, é uma fixação que suscita uma dificuldade no relacionamento social, já que falta, nesse caso, uma sublimação que leva à sociabilidade”.

Assim como, outras parafrenias com nomenclaturas modernas, porém de fundo emocional relacionados a psicossomática tratadas de forma medicamentosa.

Citação, Berlinck (2000, pg.53),

“Nesse sentido, os trabalhos sobre pânico, que vem sendo desenvolvidos e publicados por Mario Eduardo Costa Pereira (1997) no Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Unicamp, merecem ser citados, O desamparo, que se manifesta de forma tão evidente em nossas clínicas, em praticamente todos os casos que tratamos, não tem somente referências às condições de vida contemporâneas. A angústia e o medo são sentimentos muitos primitivos e assim devem ser escutados e tratados por aqueles que não estão interessados apenas na eliminação dos sintomas. Eliminar o pânico com medicamentos, sem respeitar a subjetividade humana, é, sim, uma grande desonestidade profissional, pois essa prática leva à cronificação da doença e à impossibilidade de sua transformação em experiência. Esse procedimento pode eliminar o pânico e criar a dogadição”.

Como medida preventiva as doenças de fundo psicossomático devem-se ter a cautela necessária, pois sendo de origem filogenética, processo ainda em estudo dos quais muitas das vezes os sintomas não explicam tais manifestações. Cujos resultados medicamentosos prolongam o sofrimento, resultados que mascaram de momento breves resoluções, mas que irá replicar de forma danosa o desenrolar do processo, cuja base originária é desconsiderada.

Hoje se sabe que a angústia leva a melancolia, essa por sua vez a dificuldade na recuperação de algumas comorbidades, provocando a morte do indivíduo, enquanto aqueles que apresentam quadros diferentes de recuperação, superam o combate com o fortalecimento de sua imunidade em relação ao agente provocador. Assim como, o psiquismo encontra seus limites, pois os estudos dos cérebros são novos e se apresentam esperançosos seu desvelar do ponto de vista da mente humana. Berlinck (2000, pg. 54).

Quando Freud em suas observações sobre a neurose ainda em uma fase de conceituação sobre a angústia,

Citação Campbell (2008, pg. 76),

“Quando o indivíduo está repleto de angústias e medos numa situação que não é temível, tais angústias não são reais. São punições imaginárias aplicadas por disciplinadores paternos invisíveis e ocasionados por desejos que o indivíduo desfrutou secretamente. Quando há um número excessivo de frustrações, de desejos proibidos, há uma atração irresistível na psique – ou seja, tanta coisa ocorre lá no fundo que o sujeito se torna incapaz de agir no mundo consciente. Se o conteúdo inconsciente aumentar muito, pode ocorrer a chamada psicose: o indivíduo perde inteiramente o contato com o mundo exterior”.

Nota-se, que Campbell faz observação sobre o que é temível, pois as consequências de um surto variam a cada indivíduo e suas representações desejosas, o impulso não controlado, pode levar a pulsão exteriorizada, passível de não controle, pois o desejo, a vontade é priorizada entorpecendo a razão.

Desde os mais remotos tempos, angústia denotam mudanças de humor, tristeza, insegurança, culpa, mal-estar, dificuldade de respirar e dor. Etimologicamente sua raiz tem sua origem no Grego “angor”, derivou para o latim como “angustus”. Com significado de aperto, opressão, sufocamento, etc. Consulta https://www.gramática.net.br> etimologia e Francisco da Silveira Bueno – Grande Dicionário Etimológico – Prosódico da Língua Portuguêsa.

Dentro de sua abrangência de significado, foi se moldando as outras nomenclaturas com diagnoses semelhantes, para efeito de tratamento, porém de fundo emocional ou psíquico a considerar, pois seus reflexos se somatizam em detalhes únicos a observar.

Importante situar do ponto de vista do inconsciente sobre tais eventos de perspectiva psicológica,

Citação, von Franz (2003, págs. 54/55),

“segundo hipótese Junguiana “o inconsciente é dotado de uma criatividade autônoma em função dos arquétipos”, enquanto a visão Freudiana é uma lata de lixo na qual conteúdos inaceitáveis da consciência e da experiência pessoal são reprimidos ou suprimidos, ao lado de alguns resíduos arcaicos, embora estes sejam apenas vagamente definido por Freud”.

Na constituição do sistema Freudiano o consciente é algo que se realiza numa dimensão externa ao indivíduo, enquanto o inconsciente todo registro filogenético recalcado do ser, portanto algo intrínseco, independente que atua sem o compromisso, apenas se compõem de registros, memórias, lembranças, consequentemente atuante em nosso sistema parassimpático, cujo comando não temos. Relativamente o que estão em alguns relatos mitológicos quanto a formação da vida no sentido do reconhecimento, na formação do “eu” entre o homem de dentro e o homem de fora.

A angústia é um momento de desrupção em que a consolidação entre a exterioridade e a interioridade fracassa, ou seja, em que a impossibilidade do sonhado, imaginado, desejado, não se realiza diante de suas vontades. Daí o fracasso da descarga, sensação de incapacidade atinge o ápice da contração, onde a vida está se esgotando, desejando a morte como resolução, em que envolve toda afetação, carências, reconhecimentos, olhos profundos entristecidos, acumulam-se de forma que a respiração em contração contrapõe a expansão, diminuindo a capacidade de ventilação pela respiração, de uma morte interna, prejudicando a manutenção da vida (Thanatus).

Consequentemente, a libido desaparece, ou seja, toda sensação de busca de prazer, nada estimula reações que não seja a apatia a caminho da tristeza e melancolia.

Como procuramos demonstrar vários aspectos que envolvem a angústia, não poderíamos deixar de lembrar de Reich (1897 – 1957), um discipulo de Freud, porém com viés biológico das neuroses, em que o corpo se manifesta encouraçando toda dimensão corporal, causando os enrijecimentos (couraças) das musculaturas lisas em estádio de êxtases profundos, consequentemente as doenças somatizadas.

Citação, Reich (1975, p.312),

“A angústia como direção básica oposta à sexualidade coincide com o processo da morte. Não é equivalente à morte, pois a fonte central de energia, o processo de carga, extingue-se na morte. Na angústia, por outro lado, a fonte de energia no centro do organismo é represada, por causa da retirada da excitação da periferia, criando assim sensação subjetiva de constrição (angustiae). [...] Mente e corpo constituem uma unidade funcional, tendo ao mesmo tempo uma relação antitética. Ambos funcionam segundo leis biológicas. As modificações dessas leis são resultado de influências sociais. A estrutura psicossomática é o resultado de um choque entre as funções e biológicas”.

Suas teorias fundamentadas na função do orgasmo, pesquisas direcionavam para a energia bioelétrica produzida pela resultante da relação do prazer sexual. Seus experimentos possibilitaram como pesquisador, verificar junto a hospitais psiquiátricos, clínicas, as medições de cargas com aparelho (amperímetro), por ele desenvolvido para verificar a quantidade de energia bioelétrica da superfície corporal, como demonstração de vitalidade.

Citação, Reich (1975, p.311),

“A intensidade de prazer corresponde à quantidade da carga bioelétrica da superfície, e vice-versa. A sensação de “ser frio” e de “estar morto”, e a “falta de contato” do paciente psiquiátrico são expressões de uma deficiência da carga bioelétrica na periferia do corpo”.

Portanto, Reich avançava nos aspectos biológicos, pois sua curiosidade inicial debatida com Freud, era de que os conflitos mentais tinham como destino o corpo em sua totalidade, em que os músculos lisos internos, assim como, toda periferia corporal armazenava as energias em estática, causando a êxtase muscular, ou seja, o enrijecimento, dificultando a motilidade dos órgãos, não permitindo o funcionamento integral do ser, causando estáticas em certas partes do corpo humano, dificultando a irrigação e oxigenação nos extremos da superfície.

Observações em suas pesquisas de que há um movimento do centro para periferia e vice-versa, dessa energia biofísica, experimentos replicados em seu laboratório, Reich (1975, p. 310), “Todas as outras excitações, dor, susto, angustia, pressão, depressão e aborrecimentos são acompanhadas por uma redução da carga de superfície do organismo.”

O prazer e a angústia têm uma relação direta com a substância viva, pessoas em tais condições de excitações podem estar em uma produção de energia de pico ou em um estado de morte extremamente opostos. Sendo o prazer direcionado para reprodução da vida, em contrapondo com a angústia um vetor de dentro para fora, cujo estado angustiado nega a vida.

A angústia como toda sensação do ser o ambiente interfere nas questões emocionais de forma direta ou indireta, pois como herdeiros que somos de uma espécie em evolução que requer adaptações continuas, em que a vida é sustentada de acordo com sua natureza, cujas condições favoráveis podem interferir no corpo biológico, dependendo do grau de disponibilidades intensas ou fragilidades em suas reações bioemocionais de defesas e resistências.

Sua vida foi pautada nas pesquisas, porém seu posicionamento ideológico foi seu grande entrave, sendo obrigado a refugiar-se em vários países até seu fim nos EUA, foi preso julgado à revelia, morreu de enfarto dentro de sua cela, contrariado por ações de seus detratores e as rigorosas beatas, quanto ao seu posicionamento científico pautado entre o mecanismo e vitalismo, não compreendido por uma sociedade de valores rígidos em seu tempo.

Uma visão diferenciada de um psicanalista, a biofísica, seu Norte na compreensão do significado do amor, porém de forma contraditória é sacrificado pela repressão sexual, com sua frase memorável será sempre lembrado, “O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes da nossa vida. Deveriam também governá-la”. Wilhelm Reich (1897 – 1957).

MELANCOLIA

Resgatar os conceitos freudiano, trazer à tona as diversidades confusas sobre tal tema, assim como os demais termos usados na psicanálise, rememorando as formulações feitas, em sua época, suas conjecturas, assim como, pesquisas correlacionadas em seus fundamentos teóricos.

Para tanto, vamos citar a etimologia da palavra melancolia, Zimerman (20-12, p. 179),

“Melancolia: a etimologia da palavra melancolia é derivada dos étimos gregos mélanos (= negro) + Kholé (= bile), e expressa com clareza que se trata de uma doença conhecida desde a antiguidade e que se caracteriza por um humor sombrio, isto é, uma tristeza e um desânimo profundo, um estado depressivo capaz de conduzir ao suicídio, com ou sem a presença de ideias delirantes de ruína. A melancolia é uma forma patológica do luto; assim, é útil traçar uma diferença entre “luto normal” (que exige um determinado tempo para elaborar a tristeza após o qual retoma a vida normal, não obstante conserve uma forte imagem da importante figura perdida). Já na melancolia a pessoa não consegue elaborar a perda e pode manter por tempo indeterminado (às vezes, pela vida inteira) um eterno luto, quase sempre acompanhado por sentimento de culpa que, na maioria das vezes, são culpas indevidas”.

Portanto, a importância de complementar com outros temas atuais, apesar de serem antigos os sintomas, assim como, sua atuação, merecem trazer à tona tais reflexões.

A melancolia dentre outros temas, como objeto de pesquisa de Freud, sua importância coube várias citações ao longo de suas obras, pois assim como, seus conceitos estão sempre em aberto às novas formulações.

Para tanto, vamos discorrer sobre suas obras, agregando quanto aos autores em suas diversidades, para assim dirimir quanto às confusões de outras comorbidades, que se apresentam dentro de aspectos semelhantes, porém distintos.

E que não se resumem em jogos dialéticos, mas a funcionalidade a partir da ideia de um sistema e suas instâncias antropológicas criadas por Freud, para explicar as interrelações do sujeito de dentro com o de fora, a partir do Ego e do Id, capitaneado pelo superego.

Em seus rascunhos FREUD, relaciona a melancolia com uma condição anestésica por perda da libido, tendo as mulheres frigidas como exemplo, assim como a perda de apetite com anorexia. Cujo sintoma em sua intensificação está na prática da masturbação, aumentando assim a neurastenia, assim como a relação da melancolia e o luto, pois há significado de perda de algo. FREUD (2006, p. 246-247).

Portanto, a vida pulsional quando atingida pela melancolia, consequentemente afeta a libido, do qual relaciona com o luto, perda inconsciente resultante da falta de desejo e perda de Eros, correlacionando com a sexualidade.

Classificação a partir de esquematização, “de uma excitação sexual somática, que diminui ou cessa ou quando desviada para uma condição psíquica, provoca uma condição melancólica grave ou quando cíclica com alternâncias”. FREUD (2006, p. 249).

Sendo os dois casos, em função, não é descarregada em sua plenitude, desviando para somatizações outras é determinante, no que chama de melancolia de angústia. Caso da melancolia por frigidez, também coloca que pela falta completa de descarga, assim prejudicando a condição reflexa, caso de masturbação e coitos interruptos. FREUD (2006, p. 249).

Conclui, que mesmo a anestesia ocorrendo, necessariamente a pessoa pode ter melancolia, pois a mesma advém da falta de excitação, ou seja, perda da libido. Apesar de dizer que é mais corrente em mulheres, em função da passividade, enquanto nos homens, apenas perdem o desejo sobre o sexo, portando sendo mais propicio a melancolia sujeita as mulheres. FREUD (2006, p. 250).

Acentua que as mulheres por casarem sem amor, não despertam o desejo, tornando-se frigidas, enquanto indivíduos potentes são mais propícios às neuroses, daí a impotência quando ocorre, tendem à melancolia.

Daí sua correlação com os neurônios, citação, FREUD (2006, p. 252), no grupo sexual psíquico diz,

“... se defronta com uma grande perda da quantidade de sua excitação, pode acontecer uma retração para dentro (por assim dizer) na esfera psíquica, que produz um efeito de sucção sobre as quantidades de excitação contíguas. Os neurônios associados são obrigados a desfazer-se de sua excitação, o que produz sofrimento”.

Para tal desfazimento das associações, coloca Freud que é sempre sofrível, afetando assim as pulsões e funções, causando a neurastenia que se assemelha, há um hiato, em que a excitação sexual somática e a psíquica se confundem, não sendo possível diferenciá-las. FREUD (2006, p. 253).

Mais tarde, sobre traumas de guerra, cita FREUD (2006, p. 44) diz:

“que distúrbios graves na distribuição da libido, tal como a melancolia, são temporariamente interrompidos por uma moléstia orgânica intercorrente, e, na verdade, que mesmo uma condição plenamente desenvolvida de demência precoce é capaz de remissão temporária nessas mesmas circunstâncias”.

Inter-relacionava a ansiedade quando não controlada, em função da excitação sexual não descarregada, traria como efeitos traumáticos, gatilhos em várias situações, o despertar da melancolia.

Esboça uma explicação, há uma dúvida colocada a respeito de como uma doença neurótica pode ser explicada pela psicanálise, a dinâmica entre o ego, id e o instinto. Dizendo, que toda força do instinto se origina no id, o ego, portanto, vive sua realidade interiorizada e exteriorizada, quando é sentida pelo corpo e esse reduz, logo o id age com desprazer. FREUD (2006, p. 195-199)

A força contrária entre o ego e o id acarreta dano considerável, em conjunto com seus órgãos dos sentidos se manifestam, refreando seus instintos, até refrear seus impulsos. O que ocorre, o princípio de prazer é substituído pelo princípio de realidade, levando em conta o mundo externo.

Apesar do ego sobrepor o id que é puro instinto, diz FREUD (2006, p, 196), “os dois se pertencem, que em condições saudáveis não podem na prática ser distinguido um do outro”.

Interessante sua colocação, “Um organismo primitivo, que não tenha desenvolvido uma organização apropriada do ego, encontra-se à mercê e todos esses “traumas””. FREUD (2006, p, 197).

Toda preparação está relacionada ao fortalecimento do ego, desde a primeira infância, pois o id é instinto que se harmoniza com seu companheiro da exterioridade (Ego), por sua vez, ameniza a situação para que impulsos sejam controlados. Portanto, quando não bem alicerçados de um ego reprimido, ocorre que se contrapõem ao id, catexiando desejos, medos, por uma série de fatores externos, resultando na melancolia. FREUD (2006, p, 199),

Retomando o assunto em, FREUD (2006, p, 246), após abandonar a relação da melancolia com a morte do pai nas hordas, com o sentimento de culpa, assim como vê na atuação em casos de paranoia a atuação da melancolia. Até mesmo relaciona a melancolia com a fase oral da criança no desenvolvimento libidinal.

Foi na análise do Homem dos Lobos (1918b), que volta a se interessar pelo assunto sobre melancolia em 1921, um novo conceito, FREUD (2006, p. 247), em que retoma a identificação objetal, Cap. III de o Ego e o Id (1923b),

“... onde ele escreve que a identificação com os pais ‘aparentemente não é, inicialmente, a consequência ou resultado de uma catexia objetal; é uma identificação direta e imediata, e se verifica mais cedo do que qualquer catexia objetal’”.

O que mais tarde vai considerar a melancolia com a identificação, substituindo a catexia objetal, sendo de importância “que na dissolução do Édipo na formação do núcleo do superego”. FREUD (2006, p.248).

No Capítulo Luto e Melancolia, FREUD (2206, p. 249 e 263), “que a partir dos sonhos servindo de protótipos das perturbações mentais narcisistas na vida normal”. Apesar da Psiquiatria descritiva segundo Freud, em que assume várias formas clínicas, sugerindo afecções somáticas.

Diz, que as causas excitantes devidas as influências ambientais são, na medida em que podemos discerni-las a correlação entre melancolia e luto da forma que se apresenta. Sendo o luto uma forma de algumas perdas, que deve ser patológica em função da disposição, mas superável com o tempo.

Traça as condições mentais do sujeito e também encontrado no luto em relação a melancolia,

“... distintos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição”. FREUD (2006, p. 250).

A analogia que se chega é sua perda, está na representação do objeto ou na perda do ego, além de autopunição em seus lamentos, a falta, acusações das mais variadas formam em função do objeto perdido, assim como, da revolta, caso de sentir abandonada pelo luto.

A atuação da melancolia está em todos os aspectos da vida do sujeito, não saber lidar com perdas, assim como, rejeição pelo objeto amado, entre outras coisas, também significa posse de algo que é seu.

Citando FREUD (2006, p. 258), diz,

“A característica mais notável da melancolia, e aquele que mais precisa de explicação, é sua tendência a se transformar em mania – estado este que é o oposto dela em seus sintomas. Como sabemos, isso não acontece a toda melancolia. Alguns casos seguem seu curso em recaídas periódicas, entre cujos intervalos sinais de mania talvez estejam inteiramente ausentes ou sejam apenas muito leves. Outros revelam a alteração regular de fases melancólicas e maníacas que leva à hipótese de uma insanidade circular”.

Coloca a mania, assim com o alcoolismo na mesma condição de funcionamento do indivíduo em relação à melancolia, portanto também sujeita a ambivalência. Sendo que as três precondições para instalação da melancolia, ou seja, perda do objeto, ambivalência e regressão da libido ao ego, a ambivalência é a força motora do conflito. FREUD (2006, p. 263).

Quando Freud relaciona o narcisismo com a melancolia e o luto, faz em função do narcisismo, o sujeito se fecha em si, pois sua visão é para com ele, fixando em sua própria imagem, o luto relacionado a esta fusão do outro no eu do sujeito, porém como algo objetal, portanto, a morte ocorre em função da posse do outro, morrer significa o fim, daí o luto e a melancolia.

Assim como, a identificação como a inicial do processo na escolha objetal, ou seja, o ego escolhe a partir da exterioridade, internalizando a imagem, incorporando ao outro no sentido de meu, a perda, sofre com a cisão do objeto, instalando a melancolia e luto de sua própria morte.

Como em todas suas pesquisas, Freud sempre deixa em aberto para futuras conjecturas, pois sua dinâmica é atuante, flutuante a cada reflexão ampliando-se os conceitos, com os estudos recentes do cérebro, clarear em sua funcionalidade, o mapeamento anatômico que permite atualmente as tecnologias de ponta nos permitam avanços futuros.

ANSIEDADE

Se anteriormente tratamos de situações de inversões dos vetores relacionado a respiração, cujos mecanismos ocorrem de dentro para fora, em que fatores socioemocionais interferem na nossa condição de produzirmos energias, que nos dá vida, na produção de bioenergias que favorecem o bem-estar, de forma oposta, situações que nos levam a encolhimentos profundos na busca da morte como resolução final.

Não que a ansiedade não esteja relacionada com afetações internas, porém a dinâmica é outra, os corpos denunciam tais ansiedades, como um excesso de resquícios energéticos represados, anseiam pelas saídas por seus poros.

As expressões faciais, assim como, movimentos rítmicos das pernas, braços, de forma a denunciar energias de sufocamentos, pressa, impaciência, falta de escuta, ausência, como uma força trepidante sem controle.

Nossa memória, assim como, seres ontológicos constituídos de um cérebro que nos possibilita armazenar informações filogenéticas, nos propicia a capacidade de associações infinitas, pois nossa facilidade de atualizações nos traz sempre ao tempo presente, um passado de registros inconscientes, desde a superfície até o mais profundo do ser (arcaico).

Ainda um processo de desvelamento com o centro das atenções para com o cérebro nos últimos setenta anos aproximadamente de estudos por pesquisadores da mente, em suas funções anatomofisiologicas.

Citação, BOADELLA (1997, p. 79) apud JEROME LISS,

“Ansiedade significa uma proeminência do sistema de atividade, acompanhada de suor nas palmas das mãos, aceleração do batimento cardíaco, respiração superficial, tensão muscular intensa e estado de prontidão elevado”.

A Ansiedade foi um tema que Freud se debruçou, diante de outros interesses, como o luto e melancolia. Apesar de deixar em aberto tais temas em função de outras prioridades, já em (1895b) estudo sobre neurose de angústia, Freud (2006, p. 82), porém não deixou de observar suas manifestações diante de suas clínicas. FREUD (1925 – 1926).

Em suas observações iniciais Freud, denota que no processo de angústia haviam resíduos represados de excitações acumulativas, que se manifestavam em ansiedades, ainda não associava com fatores psicológicos.

Porém, vai mudando sua percepção nas decorrências em função das complicações apresentadas, associava com a repressão até então, assim se manifestou,

Citação, Freud (2006, p. 83), “A ansiedade é um impulso libidinal que tem sua origem no inconsciente e é inibido pelo pré-consciente. [...] ...decorre da libido pelo processo de repressão”.

Mais tarde, muda sua concepção, até então imaginava que tais energias represadas causavam as excitações provenientes de repressões, porém, muda suas ideias com fatores mais preocupantes. Portanto, não considerava efeitos da libido transformada, e sim, não utilizada, uma situação de risco mais preocupante. Freud (2006, p. 83).

Sua dinâmica impressionava, sempre em busca de respostas bem fundamentadas, apesar de suas formulações, portanto não se preocupa em alterações e sim com complementações, sem medo de errar.

No campo das neuroses que era seu foco, observa que assim como a angústia, tinha como efeito a ansiedade, portanto fatores externos e internos se manifestavam como ameaças, daí sua conclusão sobre os riscos.

Citação, Freud (2006, p. 84), “O fato [ansiedade normal] e a neurose correspondente se acham em firme relação um com a outro: o primeiro é a reação a uma excitação exógena e a segunda a uma reação endógena análoga”.

Interessante, que os fatores causais estavam relacionados as questões afetivas, carências de desejos não realizados, cujas energias se acumulavam pela não realização do ato, descargas não efetuadas geravam as movimentações em torno do sujeito, como um estado de choque constante. Fazendo uma associação com o consumo, no desejo de se adquirir algo que julga ser a solução de tudo, porém quando adquiri, volta-se o foco para outro objeto.

Significado exemplar de sublimação, projetar no objeto externo o que se deseja, porém o acumulo da energia não cessa, pois não foi descarregada internamente que de forma projetiva e sublimada no consumo exagerado.

Na época relacionava tais manifestações de ansiedade as perdas, castrações, proibições, Citação, Freud (2006, p. 86) “como o nascimento de um bebe, perda mãe como objeto, perda do pênis, perda do amor do objeto, a perda do amor do superego”.

De uma forma ou de outra, havia uma substituição do objeto em relação as escolhas à sublimar o desejante, criando assim o desprazer, no caso da ansiedade frustrante, idealizada não real. Outros aspectos, foram relacionados em sua época desde a fome, fobias, inibições, a cultura, as regras sociais, fatores de gatilhos para gerações de ansiedades.

Citação, Freud (2006, p.97),

“O problema de como surge a ansiedade em relação com a repressão pode não ser simples, mas podemos legitimamente apegar-nos com firmeza à ideia de que o ego é a sede da ansiedade e abandonar nosso ponto de vista anterior de que a energia catexial do impulso reprimido é transformada em ansiedade”.

Ou seja, a exterioridade é o fator de estimulo para o despertar da ansiedade, somado as carências afetivas são complementares para a busca de forma impensada, pois apenas emoções atuam no estado ansioso. O impulso quando não conscientizado, a pulsão é o mecanismo de realização na busca do objeto projetado, catexiado ou a realização através de algo substitutivo, em que a sublimação é fundamental para justificativa do social.

Na atualidade, diante do consumo exagerado como elemento de uma sociedade ansiosa, leva o sujeito aos desabonos das frustações constantes, pois sabedores das insatisfações diante da realidade, nada como, sublimar ou projetar no objeto do desejo de conquistar, porém não preenche o vazio interior, algo viciante que leva ao consumo como realização de preenchimento.

Somos condicionados a ansiedade, por estarmos alienados pelo desconhecimento de nós mesmos, um “eu” irreconhecível no seu tempo espaço, em que o tempo como fator determinante nos faz prisioneiros do presente, entre o passado e futuro. A ansiedade é o momento que o amanhã inexistente passa a ser ansiosamente antecipado, assim o desejante antecipa algo a se realizar, porém não ocorrendo o planejado, entra em um processo de contração profundo, buscando a morte como solução, muitas vezes dissimulados como carentes afetivos.

Citação, Freud (2006, p. 99), “O viajante surpreendido pela noite pode cantar alto no escuro para negar seus próprios temores; mas, apesar de tudo isto, não enxergará mais que um palmo adiante do nariz”.

DEPRESSÃO

Depressão, falta de pressão, ou seja, o vetor de respiração em contração de fora para dentro, assim comprimir o corpo para um estado de imobilidade em que o pensamento circulante se repete de forma sucessiva. O medo se estabelece diante da indisposição, intolerável a iluminação a procura de ambientes escuros e o corpo se dobra no sentido de aconchego, na busca de proteção em posição fetal.

A respiração entra no sentido de marcha lenta, de forma diminuta o abastecimento de forma econômica, pois o medo de expandir significa entrar no processo contrário ao movimento corporal, portanto controlar o ar é uma forma de se defender das ameaças externas, em um corpo interno acuado pela tristeza angustiante, representando a dor de viver

A depressão é um momento de cisão entre o físico e o emocional, tal preocupação existe no momento que a escolha é o encolhimento total, gerador de muitas mortes, fuga em que a vida se torna dolorida, daí a economia no respirar, assim como, uma criança medrosa no engolir do choro, evitando as ameaças impostas.

Há muitos significados, desde arrependimento de escolhas erradas, falta de reconhecimento, sentido de solidão, insatisfação sexual, perda da libido, decepções, falta de prazer, fugas, são infinitas variáveis na composição humana.

O encolhimento é a fuga da iluminação, cujo refúgio em ambientes escuros, na busca inconscientes, porém manifesta a volta ao útero materno, mecanismo inconsciente ao dobrar-se para caber, alguns levam o dedo a boca, retroagindo a sucção, como forma de alimentação afetiva.

Citação, BOADELLA (1997, p. 79) apud JEROME LISS,

“Depressão significa uma proeminência do sistema de relaxamento, acompanhada de fraqueza, paralisia, fadiga, boca seca, postura arqueada, e preguiça mental. Num estado patológico, pode-se deslizar de um conjunto de sintomas para outro, mas o princípio subjacente permanece o mesmo: emoções patológicas significam que os sistemas de atividade e relaxamento estão trabalhando de modo cumulativo em de trabalharem de modo recíproco, e assim falham em prover alívio emocional”.

É a representação máxima da desistência ao ambiente em que vive no processo de morte, como solução as suas angústias arcaicas e ansiedades de mudanças não realizadas. Em que os fármacos têm realizado a ativação, sustentação, até a retomada da consciência com lampejos de estabilidade, conforto, combustivel de ativação.

A nomenclatura não corresponde a ocorrência, pois “de-pressão” significa falta de algo que nos sustenta, motivos pelos quais usam os fisiologistas a respiração, como instrumento de sustentação a vida, como exercícios físicos para recompor o que julgam faltar, assim se recompor, o combustível de ativação.

Nosso corpo sobrevive pelo que aspira e expira, dentro das composições do ar, componentes químicos da natureza que sustentam a vida biológica no planeta em que vivemos. Portanto, respirar é alimentar nosso organismo para viver, combustível do cérebro para pensar, agir, comandar, assim não interromper toda comunicação entre as partes, caso desassociem a cisão é eminente.

A relação que Reich (1897 – 1957) é interessante, pois com o tempo observou que dentro de sua função orgonômica, havia relação com o universo, as galáxias em sua forma espiralada de movimentações, ou seja, uma pulsão de contração e expansão impulsionava o todo, assim como todo organismo existente, gerando vida.

Impulsos de sobrevivências quem alimenta tais organismos na permanência da vida, intensão que gera uma tensão, cuja respiração o motivo de manutenção de sua existência, em que momentos de desistência ou negação se processa a morte.

Mecanismos até então invisíveis em sua época, daí a criação de objetos de pesquisas como microscópios, acumuladores de orgônios, observações celulares, para entender o micro e o macro, assim pesquisar o orgânico do sistema no qual estamos inseridos, fundamentos de suas teorias.

Toda visão não há apenas uma face, várias facetas se apresentam nos levando as camadas dimensionais inimagináveis, porém nossas capacidades de situá-las são possíveis e passiveis de realizações. O que não nos permitem o avanço são as resistências, somadas as ignorâncias e muitas vezes o poder insano do controle do outro.

Assim ocorreu no passado no sentido de silenciar, eliminar os que pensam ou imaginam o contrário do que está estabelecido.

A depressão no sintoma, também a perda do controle, cujo refúgio é um quarto escuro, medo da luminosidade, em função das sensibilidades do ser no retorno à caverna, ou seja, o útero materno protetor, na posição fetal o encolhimento na busca de proteção, pois a vida representa um abandono ameaçador.

Citação, Boadella (1931 – 2021) apud Kignel (1997, p. 130), organizador, diz:

“A sombra da morte e as dores e tormentos do inferno são sentidos do modo mais agudo, e isto provém da sensação de ter sido abandonado por Deus, sendo castigado e expulso pela sua cólera e grave descontentamento. A alma sente tudo isso e até mais do que isso neste momento, pois um temor terrível acomete-a, a de que isso a acompanhará para sempre. Ela também tem o mesmo sentimento de abandono com a relação a todas as criaturas, e que é objeto de desprezo para todos, especialmente para os amigos. (São João da Cruz).

Há um limite nesta caminhada, em que não havendo cisão entre o consciente e o inconsciente a possibilidade de retorno, pois a dor e o medo são os combustíveis de dificuldades de uma volta a realidade, quando há uma sustentação de representação de pilares, exemplo, família presente como afirmação é um caminho de solidariedade, passíveis de ajuda ao restabelecimento.

Uma abordagem mais profunda, todos processos de fundos psicossomáticos, sempre algo relacionado ao período gestacional, como a maioria da gravidez ocorre, por acidente ou algo proibido, pecaminoso, rejeições, sempre uma manifestação de culpa, além de outros fatores são instalados na relação pai, mãe e filhos. Apesar das diversidades a procura no retorno uterino é uma forma de proteção em relação ao ambiente do qual foi exposto.

Reich, (1972, p. 305), fez a classificação de acordo com o caráter no sentido de características, cujas manifestações demonstram suas classificações, porém dentro de um conceito relativista, pois se mesclam, define como pestes emocionais pelo fato de derivarem sempre das questões emocionais, cujas energias produzidas alimentam-nas.

Diz, Reich (1972, p. 572),

“que o homem normalis, aquele que tem horror das forças da vida no animal humano, as quais ele é incapaz de sentir em si próprio. A peste emocional que é formada e mantida sobre o medo das sensações orgânicas”. Arremata que, “COLOCAR O ANIMAL HUMANO NUMA POSIÇÃO EM QUE ACEITE A NATUREZA DENTRO DE SI PRÓPRIO, PARA DE FUGIR DELA E GOZE AQUILO QUE TEME TANTO.”

Falava da vida pelo privilégio de participar intensamente de forma livre da qual fomos dotados, que o grito da liberdade surja dentro de cada um, pois assim nasceu, mesmo diante das repressões tem o direto as manifestações plenas, em que o juízo, seja o limite na composição da relação social, no sentido de alteridade.

LIMÍTROFE

Não somos sempre o que fomos, ainda é um processo de resoluções que se apresentam, causando surpresas quer no comportamento, assim como, novas estruturas do pensamento afloram em dimensões das mais variadas possíveis.

Somos diferentes, causa primeira de nossa atração com os opostos, o que nos diferenciam é nossa capacidade de ressignificação em relação ao outro, em que brotam sentimentos dos mais diversos dentro de nós e que se renovam, além do processo de mutações imperceptíveis que segundo Darwin (1809 – 1882), se denota com as mudanças na sexualidade.

Porém, alguns se diferenciam em algumas atitudes, comportam-se fora das caixinhas, dos quais serão excluídos ou não aceitos dentro dos ambientes dos quais vivem.

Como coletivistas somos moldadas as homogeneidades das coisas, na prática somos seletivos, primamos pelas nossas individualidades, porém heterogêneas em nossas convivências, mesmo assim cobramos do outro o que não somos.

As características que denotam um estado limítrofe são, o distanciamento do outro no sentido de que não existe, sentimentos múltiplos que os levam as excitações extremas, porém não se sentem esvaziados, não transpiram no sentido de exsudação, o de dentro não reconhece o de fora, as vezes, apresentam duplas personalidade, estão presos em seus corpos com sensações de implosão em determinadas situações, cortes no sentido de esvaziamento, precisam da dor para existir e sentir seus corpos.

São seres do mais diversos sentimentos, sentem-se deslocados do ambiente onde vivem, provocam situações de desconfortos para os demais no sentido de chamar atenção, com atitudes agressivas na maioria das vezes ou uma timidez profunda, são seres de picos extremos, assim como nas excitações.

Juntam-se aos grupos de revoltas, no sentido de se sentirem aceitos em que não medem as consequências de seus atos, pois agem como suicidas em relação a vida no sentido de sentir-se vivos.

O limítrofe precisa sentir a dor para coexistir, não apenas com o outro, mas principalmente com ele mesmo, agridem seus genitores por responsabilizarem de sua existência, não amadurecem, quando inseridos na sociedade agem de forma fria, nas decisões sempre apáticos e indiferentes.

Muitas vezes destituídos de sentimentos afetivos ou que tenha reciprocidade em relação ao outro, indiferentes, porém intensos no sentido em que o momento parece ser o último, logo que passa é como se não tivesse existido.

São poucas as terapias que se dedicam para este trabalho, exige-se intensidade compreensão e muita habilidade no desenvolvimento de técnicas de percepção táctil, pois necessitam desenvolver o sentir, como princípio existencial.

Somos seres finitos de limitadas temporalidades, porém sonhadores, imaginativos, míticos, em que as fantasias extrapolam nossa capacidade mental de visualizar, assim como materializar.

Trazemos em nós heranças milenares de nossos antepassados, ao longo foram sendo forjados a sentimentos dos mais profundos, na construção do significado de humanidade. Tivemos muitas conquistas, assim como, manifestações de atrasos, com impulsos não conscientizados da fera primitiva egocêntrica que habita em nós.

Como seres finitos, nossas mentes em surtos se imaginam perpetuarem no tempo, perdendo assim, sua existência, espaço tempo, cujas megalomanias partem para os exageros no controle imaginativos das coisas infinitas.

Cabe apenas a projeção, para alguns, realidades, mesmo que não tenham formas ou substâncias das quais as compõem. Daí o passo para as parafrenias seguintes, assim estabelecerem seus ambientes de acordo com suas necessidades existenciais.

São manifestações silenciosas, porém observáveis do ponto de vista clínico, suas expressões dizem mais do que imaginam, porém quando atingem o poder, tudo pode acontecer, vide relatos históricos da humanidade.

O que é o sentir?

É um processo que vai se construindo ao longo de gerações, estruturas neurológicas vão moldando-se as afetividades, percepções em relação a interioridade, assim como, exprimir para a exterioridade, como troca energética.

Quando surge os rebentos, trazem em seus primeiros desenvolvimentos o narcisismo egocêntrico, sempre justificados com sublimações durante a fase infantil, mesmo com rebeldias, maldades, sádico masoquistas em seu ambiente familiar, mudando diante da fase social seguinte.

As ambientações podem ter atitudes extrovertidas ou introvertidas, dependem do meio de cultivo do qual vai se ambientando em relação seus contatos e afinidades.

Os limítrofes, são limitados em relação ao sentir, mas em atitudes são ilimitados quanto as transgressões com o próprio corpo, pois muitas vezes são isentos de dores, porém sentir significa esvaziar através de cortes, queimaduras que podem produzir alívios de um sentimento de contensão profunda, como uma bexiga ou balão no ponto de implosão, veja não é explosão, sendo uma necessidade interna de esvaziamento.

São categorias que fogem as classificações clássicas no mundo das neuroses, portanto requer abordagens múltiplas para o setting terapêutico, tanto individuais, coletivos de ambientações confortáveis, para que se sintam seguros diante do que se apresenta, não bastando apenas teorias, pois as práticas sempre sugere descobertas e processos de continuidade, no que tange as percepções, intuições, sensações, empatias, além das técnicas fundamentadas existentes nas mais diversas áreas do conhecimento.

Importante dizer, apesar de muitas teorias terapêuticas, os limítrofes carecem de literaturas voltadas as questões relacionais e algumas existenciais. Porém focadas em estruturas diferentes quanto a condução, portanto, tentar fazer analogias com que existe, vai ficar desapontado, pois a relação é de existir, não para o outro, mas para sim mesmo.

Observa-se, que é uma relação com o “eu” encapsulado ao meio, cuja recepção foi cortada, talvez pelo distanciamento do de fora com o de dentro, ou seja, mãe e filho. Ou um olhar de mundo, cuja comorbidade está no sentimento, motivo de se apoiarem na dor, desprazer, como sentido existencial.

Observem, como pode ser o comportamento de um limítrofe, citação, Boadella (1931 – 2021) apud Kignel (1997, p. 145),

“Uma estrutura limítrofe é muito fraca. Eles não têm um ego forte para enfrentar a realidade. Eles fogem ou lutam com ela. Quando fala, não encontramos muitas frases egóicas, não ouvimos muitos “Eu quero isso e eu não quero aquilo”, ou “Eu fiz isso, eu fiz aquilo”. Suas queixas comuns não têm nada a ver com o dia-a-dia. Suas queixas habituais são: “Eu não me sinto real”; “Eu não sinto meu corpo”; “Eu não sei quem sou”; Eu tenho medo das pessoas”; “Eu sinto um buraco no meu corpo”; etc. Quando falam, talvez haja uma segunda pessoa. como se houvesse outra pessoa falando acima do corpo do cliente. (José Alberto Costa).

São pessoas que apresentam uma certa pureza, sem maldades, pois a punição são normalmente para seu próprios corpos, enquanto os demais que se olham nos espelhos se compraz, assim como, quando olha o outro se identificam pelo reflexo do olhar, o limítrofes se assusta com a própria imagem, normalmente não gostam de se ver nos espelhos, como se tivesse fugindo da própria imagem ou que elas representam.

Portanto, uma síndrome que não é nova, porém observada há tempo com os comportamentos afetivos com os outros, o próprio corpo na busca de identificação ou medo de algo imaginável ocorra e quando tem contato com o outro a indiferença é um sinal, apesar de intensa na relação dentro de cada momento, não importando com quem.

A utilização de piercings em locais sensíveis é uma forma de manifestação em relação ao sentir, pois provocam dores ao mesmo tempo, incômodos aos outros, assim chamar atenção, “eu existo”.

Imaginar-se como um prisioneiro do próprio corpo, assim é o sentido de muitos que vivem síndromes em que corpos dissociados convivem numa relação tempo espacial, agoniados, enclausurados em sua existência.

O LUTO

Entre as diferentes abordagens sobre o Luto, vamos conjecturar sobre vários aspectos, pois é um miasma que replica no tempo, cujos neologismos definem de forma particularizadas a cada cultura, dimensões de especificidades qualitativas, porém o contexto nos leva a pensar sobre outras variáveis do ponto de vista da psicossomática, perpassando pela metapsicologia freudiana.

O Luto, intrigante assunto, esse do qual Freud por volta de 1895 em algumas citações com seu amigo de correspondências Fliess, resultado de alguns manuscritos, veio à baila tal assunto, ainda de forma insipiente, atrelado a melancolia até então. Freud (1914 – 1916) Livro Imago, Volume XIV, pag. 245.

Apesar de tal assunto não ter sido pacificado por Freud, apenas em alguns momentos quando atrelava tal situação com estados melancólicos ao luto, somente por volta de 1910 Vol. XI, pag. 221, diante de tais questões dizia, que não estava solidificado as questões, deixando assim em aberto tais questionamentos, como outros temas pendentes a serem pesquisados.

Houveram outras citações com a melancolia ao longo de sua obra, fazendo assim correlações com as fases, obras complementares com viés antropológicos, porém vamos nos centrar as experimentações ao longo do tempo.

Assim como, outrora as especulações sobre o assunto, apesar de transcender a civilizações, Freud colocou algumas pitadas sobre o assunto, porém sem aprofundar tais questões, não faltaram oportunistas para completar com as construções de neologismos voltados as clínicas.

O luto é um abismo enorme que se abre dentro de nosso ser físico e energético ou espiritual, que para recompor necessita de tempo, pois morre algo em nós, algo que nos compõem como seres forjados nos elementos de partículas e ondas, que nos unem e vai além de nossa compreensão no momento.

Objetivamente no momento não é entrar nos aspectos fisiológicos, anatômicos e sim, por não ser o objetivo, mas dar a significação até então sobre o luto que sempre veio atrelado as condições melancólicas, cuja relação na época de Freud se fazia para explicar seus efeitos.

O luto está sempre relacionado as perdas, sendo a melancolia efeitos, cuja causa, são os fatores que favorecem ou despertam gatilhos do qual o luto provoca.

A melancolia desde os Gregos estava relacionada ao estado biliar, enquadrando-se a bílis negra, uma doença do fígado, que estava relacionada ao estado da leitura do sujeito, em seu comportamento amargo como o féu.

Estados melancólicos, assim como, angustias, tristezas, hoje enquadradas como depressão, pânicos, geram instabilidades emocionais nas pessoas, outrora não havia muita diferença.

Hoje com o advento dos estudos do cérebro, muitos dos conceitos tendem a mudar, pois toda reação bioquímica dos corpos orgânicos nos permite a verificações de manifestações múltiplas, dentro das circuitarias que nos envolvem nos funcionamentos chamados neurônios, dos quais somos constituídos, além dos nervos, glândulas, vesículas, atuações nos sistemas central e periférico, que nos regem nas composições hormonais.

Do ponto de vista da psicossomática, o luto tem como representação a integralidade que nos envolvem em relação ao outro, ligações essas das quais não temos ainda consciência de seu funcionamento, não apenas da plasticidade, mas principalmente das energias, cujas ligações não nos permite a ver, sentir, mas apenas a imaginar. Porém, para a Astrofísica, assim como, a Cosmologia, nos permitem a fazer analogias complexas do mundo de possibilidades quânticas infinitas das dúvidas, ou seja, navegar entre as incertezas, que nos dificultam as realidades, em que o absolutismo resiste em aceitar.

O fato que estamos em momentos de transição, assim como, na linguagem, ou seja, um sistema binário que nos limitam em nossas comunicações, enquanto as tecnologias se desdobram para ampliar suas capacidades, nossos cérebros se limitam a um aprendizado tímido no mundo dos contrários, limitando-nos a imagem do oroboro, ou seja, correndo atrás do próprio rabo. Porém, desejosos que o outro nos domine, entusiastas por tecnologia que nos supram, limitando-nos no comando como meta, talvez por um masoquismo inconsciente.

Voltando ao tema do luto, somos como criaturas que se eternizam, herdeiros de nossos antepassados, registros genômicos replicam em nosso corpo, mensageiros da filogenética, no construto de nossa formação desde a concepção.

Somos a composição de uma legião de gerações que nos antecederam, aprendizados que nos trouxeram até aqui, cujo resultado é nossa existência em luta com pela sobrevivência, cuja experiência nos permitiram nos manter como espécie atuante até então.

Infelizmente com o advento da razão, podemos dizer que passamos do ponto, nos perdemos na arte de pensar, limitando-nos ao tal maniqueísmo doutrinário, pós revolução francesa, sua ideologia destrutiva em nome de um socialismo solidário, tem nos colocado diante de um precipício sem destino com um único propósito, o extermínio seletivo da raça humana, com suas falácias desconstrutivistas do apagamento da história, focando apenas o poder, controle e dominação.

Para fundamentar a colocação acima, devo lembrar que todo processo de massificação é coletivista, portando homogêneo e excludente. Lembrando que o movimento revolucionário francês, ocorrido teve como ideal a igualdade, depois a liberdade, que não condiz com a realidade, de forma sublimada resgataram a fraternidade, para impor um amalgama hipócrita do falso humanismo, uma forma de sublimar seus crimes praticados. Objetivando o confisco das terras da igreja e entregando aos progressistas abastados, a burguesia, se esquecendo do proletariado, segundo suas bandeiras de igualdades.

Consequentemente, as emoções ficaram restritas a uma visão Aristotélica, ou seja, manifestações sensíveis do orgânico, cujos arquitetura devemos a Kant (1724 – 1804) e Hegel (1770 – 1831), os pais e coveiros da morte de Deus. Aristóteles (384 – 322 a.C.).

O materialismo dialético monistas, criadores de ditaduras, líderes sanguinários, replicaram como o ideal da massificação, de uma sociedade sem classes, ou seja, a morte dos opositores e a manutenção de introjetados do paraíso terrestre, de uma visão distorcida de um sujeito chamado Engels (1820 – 1895), amigo de boteco o Karl Marx (1818 – 1883), esse um bom vivã a procura de uma resolução inicial econômica, do qual mantinha grandes embates com Ricardo, economista Inglês, discordante de suas teorias sobre a mais valia.

Um histórico que devemos lembrar sempre para nos situar diante da morte da metafisica, cujo propósito é desconstruir a dicotomia de Descartes, quanto a composição histórica do ser dicotômico, composto de uma mente pensante e um corpo orgânico material, como extensão biológica. Tudo capitaneado pelo desconstrutivismo e as propagandas neos positivistas concretistas, surrealistas, tais introjeções no levam ao luto de um passado combatido.

A princípio o que tem uma coisa a ver com outra?

Tudo é muito convergente, como forma de pensar! Veja, com a morte da metafísica o mundo das subjetividades, sepultou os sentimentos, pois as emoções, percepções, intuições, o sentir passou a não existir, ou seja, meras sensações, afastando mais o ser da sua singularidade, da individualidade, pois o sentir é heterogêneo, portanto particular, não massificante, coletivista, objetiva o qualitativo e não mais o quantitativo homogeneizante que controla.

A capacidade dissociativa, a ambivalência nos leva a não pensar sobre muitas coisas, como vivêssemos compartimentados, presos em pequenas caixinhas de saber absoluto de novas verdades, portanto presas fáceis da ignorância predadora, aquela que ataca o inocente útil como culpado das coisas, limitando-os ao conhecimento, empobrecendo a educação como agentes revolucionários doutrinadores do nada existencial.

Ora! Quando há uma dissociação total, em que o sentir não mais existe o distanciamento dos nossos sentimentos são explicados por soluções mágicas ou por uma sociedade de aconselhamentos a partir do exterior, não mais do interior do sujeito, caso não funcione, fármaco nele! e o sentir? A emoção se distância da percepção, em relação ao outro que é coisificado.

Não estou questionando o fármaco, mas a forma de aplicar, sem considerar as ligações das causas que interferem no caso especifico do luto! Não devemos esquecer com a morte decretada da metafisica, a morte de Deus, uma nova categoria de ser surge, ou seja, destituído do sentir, se tornam presas fáceis do suicídio.

No caso da morte, causa primária do luto, ou seja, o inconformismo causado pela situação, nos leva vivenciar a perda por um período longo ou breve, talvez até nem se aperceber da morte do outro. Pois, as ligações biofísicas ocorrem, porém com os adeptos do materialismo é uma situação do qual não há parâmetros, tudo é possível.

Como disse acima, ligações biofísicas, como continuadores de corpos herdeiros genomicamente replicados, que nos ligam pela filogenética como repositório de memorias celulares, desde a fecundação, as células construtoras executivas trabalham na concepção das formas, características do tronco materno e paterno, assim como, os antepassados que existem em nós, na construção de um novo DNA.

Esta composição em inteiração na formação vai nos ligando de forma afetiva, como se a morte do outro fosse a nossa própria morte, cujo processo de reprodução recupera a vida finita em restauração contínua, até a extinção. Quando a espécie fragilizada, sem mecanismos de defesa, experiências, são sujeitas aos condicionantes protetoras ou sendo adaptadas, as mutações da própria espécie.

O luto tem esse significado da morte do outro em nós, morremos também, em partes, quanto mais próximo, mais profundo é o vazio interior. As cobranças inconscientes das culpas, omissões, dedicações são os instrumentos dos arrependimentos, que geram as melancolias, depressões ou até mesmo somatizações de doenças punitivas, de desejos destrutivos em direção a morte.

Portanto, não há tratamentos de cura, mas o tempo, a resolução da restauração do todo, em que o equilíbrio se estabelece com a conscientização temporal e existencial.

As terapias são fundamentais no apoio, pelo processo catártico, em que a água como componente de expurgo, processo que o liquido nos possibilita como solvente, a dissolução do quantum de energia represado em nossos neurônios. Representados pelos choros, suores, transpirações, mesmo como lamentos culposos, corrosivos, lembranças, restaurando-se com as reflexões provocadas pelas abordagens, em que a fala é a expressão manifesta elaborada, significado de esvaziamento a escuta a sensação de alguém que nos ouve de fato, ecoado pelo falante.

As consequências de muitas variáveis, desde o processo destrutivo por decomposição (câncer), ou doenças outras como a diabetes, perdas das doçuras da vida, regurgitos, vômitos de algo que rejeitou, azias, queimações, ulceras, uma bola que sob e desce, algo que não queira digerir, chegando a estagnação metabólica do digestivo de algo que não se decompõe, retentiva ou expulsiva.

Consequências atuantes de forma inconscientes, cujos mecanismos próprios dos sistemas, não controlamos, porém quando consciêntes passiveis de interromper o processo, daquilo que Freud chamou como antítese de Eros (vida), Thanatus (morte).

CONJECTURAS

Vivemos a dualidade a partir do pacto do modernismo cartesiano, antes não tínhamos a capacidade de pensar, pois alguém pensava por nós, do qual representantes do pensador interpretavam as origens de tais pensamentos, havia um julgamento se bom ou mau, daí suas penalizações, pelo ato de se expressar algo que fossem contrários as normas e regras impostas.

Tudo ocorria em pleno século XVII, em que o pai do modernismo Descartes (1596 – 1650), ousou enfrentar o monismo ato de pensa e através das dúvidas, chegou à conclusão de que “Penso, logo existo”. O pensamento passou a ser a referência do existir, porém a dúvida era a grande questão de resoluções futuras, por findar, através das pesquisas baseadas nas evidencias.

Estamos passando de forma veloz o século XXI, instituições persistem nas vigílias dos pensamentos, julgamentos e proibições, porém o foco não é mais na primeira pessoa e sim um grupo de privilegiados que se denominam de grandes sensores da humanidade ou de pequenas porções de localidades, que se dizem ser seus, de forma tribal, para exercícios de seus mandos e poderes egocêntricos patológicos.

Diante de pesquisas revolucionárias, como os estudos recentes dos cérebros, alguns assuntos, dúvidas requer pacificações, pois há séculos tais questionamentos sobre a dualidade humana é algo que a metafisica atua com sua subjevidade.

Citação, Boadella (1997, p. 114),

“Há muitas evidências que apontam para a conclusão de que se o cérebro é uma parte da natureza altamente organizada que ocupa uma região discreta do espaço e do tempo, protegido por um capacete ósseo craniano, a mente não tem lugar, e opera além das quatro dimensões universais de espaço e tempo”.

Algo que até o momento, um processo de investigações, dos quais os mais renomados neurocientistas dizem que a mente é algo que desconhecem sua localização do ponto de vista anatomofisiologicas.

Há inclusive conjecturas que o cérebro poder ser um receptor ou processador, do qual abstrai do espaço tais pensamentos, como ondas. assim replicar, decodificadas como expressões da fala, através de palavras e sua sedimentação a escrita.

Portanto, as mais diversas terapias estabelecem está dualidade para recompor os restabelecimentos das partes, assim harmonizar o todo, efeito contrário da fragmentação desconstrucionistas vigente no estabelecimento circular do monismo dialético materialista de plantão, que mais uma vez se renova do mesmo, tendo como consequência a morte de Deus.

Importante nos situar que as premissas foram alteradas, para que tais movimentos possam se manifestarem, motivos de muitas discordâncias não muito clara para os discordantes. Veja, nossa mente nos dá o sentido de existências, mas para eles o existir que realiza o pensar, porém doutrinados, introjetados pela linguagem no sentido de controlar o pensamento. Assim como, a essência que precede a existências, para os existencialistas a existência precede a essência, daí a morte de Deus, muitos não perceberam que estão fazendo do estado ilimitado e divino, em que o materialismo precede a qualquer custo suas decisões, com a massificação dos iguais.

Apesar da Física Quântica, diante do micro surgem outros segredos, entre o mundo das partículas e das ondas, ampliando o conceito de matéria, cujas propriedades estão ligadas ao ser de forma não resolvida quanto ao estabelecimento do que é real. Surgindo um mundo diferente com outras dimensões possíveis, diferente das nossas, do qual estamos inseridos, porém não mais do mesmo, diante das falsas aparências.

Considerações Finais

Temos que nos situar, somos seres finitos, assim como, viver a vida, mas sermos educados para morte, pretensões de infinitudes aos deuses apenas, assim nossa perpetuação pela reprodução de nossas proles.

Como seres prisioneiros do presente, cujo passado uma lembrança, nossa morte o futuro, uma expectativa de algo que possa acontecer, planejamentos das incertezas. O presente, diante da velocidade da vida é fugaz, portanto não nos apercebemos de nós, muito menos do outro, uma mera projeção de nossa imagem. Estar consciente de nosso tempo, da nossa existência é nos apercebermos do momento de alteridade em relação ao outro, não como fazemos, a cobrança de que ele seja o que você é, pois, a inexistência faz cobrar do outro o que você é, na visão da imagem invertida, entre o ser e o não ser, miasmas da projeção.

Se situar, significa viver em seu tempo presente, sem pressa, de muitos sonhos, pois é preciso, dedicar-se a você na prática da alteridade em relação ao outro, limites de entender o outro como ele é apenas. Simplicidade até mesmo no ato de respirar, pois muitos nem mesmo se percebem do mecanismo involuntário que está diretamente ligado ao ato de sobreviver, privilégio dos neuróticos. O tempo existe de acordo com os movimentos, passado, presente, futuro, são abstrações humanas de uma contagem que não permite volta, porém pode repetir com outras intensidades em outros momentos, porém em outro tempo.

A destituição dos sentimentos, percepções, intuições, que fazem parte do sentir, são momentos únicos, caso perca, ficará apenas nas lembranças de sentimentos culposos que poderão ser transformados em luto, consequentemente melancolias, depressões, pânicos, por vazios que não se preenchem, causando abismos infinitos de reparações ou morte.

O ato de existir é um momento no tempo, esse por sua vez estático, regido pelo movimento do qual somos submetidos, representante da presentificação prisioneira, retido em lembranças que se tornam passados, que nos ativam as expectativas de um futuro de reparações. Viver em seu tempo é fazer de seus movimentos a consciência da finitude que se realiza nas proles surgentes, continuadores da vida, em sua eternização limitada que a natureza nos permite renascer.

Quando as considerações materialistas não têm a percepção da subjetividade, em que o mundo das aparências julga aquilo que pensam ver, estamos diante de um ser secular que ainda não compreendeu tais significados, ou seja, solidificou se tornou coisa.

Doenças psicossomáticas se manifestam de dentro para fora, ficando difícil diante de diagnoses, em que parâmetros dificultam a compreensão até a formalização de resultados únicos e individuais. Como a razão nos levam a criar protocolos em uma visão ampla nas observações, reduzimos certas complexidades em cestas de resoluções de escolhas, que criam dificuldades para os necessitados, pois a falta de uma equipe multidisciplinar para abranger todas as possibilidades, muitas vezes inviabilizam os custos de um tratamento singular individualizado.

Os temas parecem corriqueiros, porém ainda não pacificados, dores individuais não sentidas em função de outras preocupações mais eminentes, portanto trazer os temas dentro das diversidades de olhares é uma forma de diminuir as mazelas dos que sofrem com dores na alma isoladamente, sem a compreensão de seus ambientes familiares, julgados muitas vezes como um peso morto, sem resolução de boa vontade.

Melancolia sintoma que vai despedaçando o sujeito por um conjunto de efeitos do qual não tem consciência, mazela causada pelo fato de não saber lidar com perdas. Fator fundamental no processo de conscientização entre o sujeito de dentro e o desconhecido sujeito de fora.

Segundo o Grande Dicionário Etimológico de BUENO (1968, p. 2374), o significado de Melancolia reforça sua simbologia, pois traduz, “Tristeza, desânimo, depressão do espírito, predisposição para pensamentos sombrios, tristes, Gr. Melancolia, de melas, mélanos, negro; kholé, bílis e suf. ia”.

A linguística é constituída de fonemas e escritas que definem o significado do termo ou signos, portanto, a intensão é de definição do fato observável, ou seja, o fenômeno singular do ser manifestante (ato), pois é sensível e particular. Motivo, cuja definição é um nortear para entender, daí a denominação, mas o sentir é o foco dentro da dimensão apresentada em suas subjetividades, sentidos, percepções, emoções, intuições, etc.

O potencializar (Potência) é o mecanismo do analista em decifrar, assim conscientizar o sujeito, através de abordagens em seu tempo de abertura a reflexão do seu sentimento, despertar as causas que o impede de se perceber as prisões de suas afetações, em função de suas representações, em que uma luta entre o Ego e o Ide se manifestam, impedindo o superego como sensor, que fica isolado pela união de seus irmãos menores, do ponto de vista da resolução.

Portanto, os sintomas podem estar relacionados à psicosomatização ou até mesmo de ordem emocional temporária ou definitiva, levando o sujeito despertar o gatilho inconsciente de morte (Thanatus).

Se a psicanálise para alguns reducionistas, dizem algo fundado na palavra ou na fala, é dar uma dimensão de uma elaboração como ferramenta de escuta, portanto a psicanálise é uma ciência da alma transcendente, que se manifesta em sua imanência, diferente dos pragmáticos de uma dialética materialista.

De tudo aquilo que angústia o ser, o que ele menos conhece é o seu “eu”, está tão envolto com sua exterioridade (ego), pois foi condicionado a viver como se existisse apenas naquilo que vê, como seres exteriores sujeito a ilusão de um mundo de aparência, não se apercebeu de sua dimensão, apesar das representações constantes, porém na falta de um desenvolvimento cerebral consciente voltado a educação de fato, cuja ferramenta é o conhecimento.

Ficamos surpresos com coisas, muitas vezes insignificantes, as vezes o que nos interessa é algo muito mais simples de se conquistar. Exemplo, somos constituídos de um cérebro, por sua vez com capacidade de adquirir, aprender inteligências infinitas, mesmo diante de sua finitude.

Nossa educação, seja familiar, educacional, sempre pragmática sujeita a conquistas materiais, as espirituais como socorristas de momentos sustentáveis dependentes, como bombeiros diante do fogo.

Veja, como chegamos até aqui?

Somos continuadores de uma espécie em desenvolvimento constante, sujeitos as mais diversas adaptações, nossos antepassados contribuíram em muito para nossas existências, assim nos tornarmos aptos a sobrevivência do humano e custou caro as outras espécies dizimadas pelas ocupações de espaços.

Portanto, o que mais nos afligem são as questões emocionais, leva-nos a destruição pelas faltas, vazios, em nossas carências pessoais. Mesmo diante de séculos de estudos, ainda nos faltam uma pacificação sobre os mais variados temas, apesar de muitos grupos envolvidos no conhecimento de soluções inimagináveis.

Sermos fortes, não é o materialismo ou a morte do companheiro que julgamos culpados, diante dos relatos históricos foram alvos de perseguições mortais. Ilusionistas da boa nova fazem ofertas impossíveis, porém o sonhador se apresenta como soldado, ou seja, até o pesadelo chegar.

Somos seres que acumulamos saberes em bibliotecas, arquivos, além de nossas memórias, porém nos fragilizamos diante das emoções, mesmo tendo toda revolução da razão para nos equilibrar nas decisões, além do inconsciente coletivo e todos os arquétipos nas representações simbólicas, mitológicas, que se replicam em mandalas.

A esperança que diferente da ânsia é o diferencial, pois nossa capacidade de planejamento é fundamental, conscientizar sobre nossos impulsos é antecipar o caos dentro de nós, olhar para o futuro com a presentificação do momento, assim construir, reparar sem as falácias das reconstruções que não respeitam as velhas estruturas de nossos alicerces seculares, o que chamamos de experiências.

Ansiedade é tentar viver um tempo que ainda não existe, apenas dentro de nossa memória, uma expectativa de desejos apenas, porém anula nosso presente, fazendo que não exista, pois está preso ao passado de angústia que se renova sempre, elemento gerador de ansiedade, pois vive em um ciclo constante de repetições.

A razão nos propiciou um olhar coletivista de iguais, mas as emoções caminham para uma situação bastante diversas, assim como, sua dinâmica na evolução da espécie.

Na prática, nem tudo corresponde a teoria, surpresas se apresentam nas fundamentações internas de formas diferenciadas, assim como, os comportamentos em suas formas exteriorizadas. Somos seres em constantes mutações que de forma morosa, suas manifestações vão se apresentando causando choques naqueles que olham o mundo dentro do universo de suas expectativas.

Situações das mais variadas ocorrem com manifestações de cobranças no sentido de regularidade, mas novas situações vêm se apresentando na relação de sentimento entre as pessoas, principalmente dentro de seus ninhos.

Precisamos sempre estar observando as mudanças para poder assistir, conduzir, aprender com as comorbidades que se apresentam, pois é um sentir, assim como, de um olhar de dimensões das quais ainda não temos, porém, buscar o entendimento para conviver sem preconceitos,

O conhecimento que não aprisionam, se faz necessário para novas linguagens e o que vemos, um reducionismo no sentido de igualar. Choques já ocorrem, porém ainda muito sujeito há controles, dificuldades nas independências de pensar, das quais verificamos com punições, prisões e silenciamentos.

Estamos caminhando de forma lenta nessa área do conhecimento, mas as duras penas, um dia talvez cheguemos lá, de forma pacífica, principalmente com as inovações cientificas de ponta que estamos vivenciando, enquanto outros, tentam impedir pela negação a caminho da massificação e a intolerância.

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