NEM TODO SABER CABE EM UMA PROVA: AVALIAÇÃO FORMATIVA EM FOCO
PDF: Clique aqui
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17263889
Josefa Edna Amâncio1
RESUMO
Este artigo nasce de uma inquietação que começou no coração e foi crescendo junto com as leituras, as aulas e os estágios vividos durante a formação docente. Ao conhecer o conceito de avaliação formativa, me vi provocada a repensar tudo o que vivi na escola e tudo o que quero construir como futura professora. Com um olhar sensível e curioso, o texto propõe uma conversa franca sobre o papel da avaliação no processo de aprender não como julgamento ou punição, mas como acompanhamento, escuta e cuidado. A partir de reflexões teóricas e experiências concretas, o artigo defende que avaliar vai muito além de dar uma nota: é estar presente, oferecer devolutivas significativas e enxergar o estudante em sua caminhada. Inspirada em autores como Luckesi, Perrenoud e Freire, a discussão gira em torno da ideia de que a avaliação formativa pode (e deve) ser uma ferramenta de transformação dentro da sala de aula principalmente quando feita com afeto, ética e compromisso real com o aprender de cada um.
Palavras-chave: avaliação formativa, sensibilidade pedagógica, escuta, processo educativo, transformação.
ABSTRACT
This article was born from a personal unease that grew alongside readings, classes, and teaching internships experienced during teacher training. Upon discovering the concept of formative assessment, I was compelled to rethink everything I had lived as a student and everything I hope to build as a future educator. With a sensitive and curious perspective, the text invites an honest conversation about the role of assessment in the learning process not as judgment or punishment, but as a space for guidance, listening, and care. Based on theoretical reflections and real classroom experiences, the article argues that assessment goes far beyond assigning a grade: it means being present, offering meaningful feedback, and seeing each student throughout their journey. Inspired by authors such as Luckesi, Perrenoud, and Freire, the discussion centers on the idea that formative assessment can (and should) be a tool for transformation within the classroom, especially when carried out with affection, ethics, and a genuine commitment to each student’s learning process.
Keywords: formative assessment, pedagogy of care, feedback, educational transformation, student-centered learnin
1. INTRODUÇÃO
Quando pensamos na palavra "avaliação", o que vem à cabeça quase automaticamente é prova, nota, correção em vermelho, ansiedade e, pra ser bem sincera, até medo. Eu cresci ouvindo frases como “se não estudar, vai tirar nota baixa” ou “você precisa ir bem na prova senão vai reprovar”. E aí, a avaliação foi virando sinônimo de punição. Deu errado? Tira nota ruim. Acertou tudo? Aprovado. Fim. Era assim, simples e duro. Mas a vida, a aprendizagem e as pessoas não são tão simples assim, né?
Só que foi na faculdade mais precisamente nas aulas de Didática e Avaliação da Aprendizagem que tudo isso começou a ser questionado dentro de mim. Eu lembro exatamente do dia em que ouvi a professora dizer que a avaliação deveria ser parte do processo de aprendizagem, e não o fim dele. Que ela podia ser formativa, contínua, cheia de escuta e diálogo. Aquilo me deu um clique, sabe? Porque, pela primeira vez, alguém estava dizendo que avaliar não era julgar, era cuidar. E isso mexeu comigo.
Comecei a pesquisar mais sobre o assunto, ler autores que antes eram só nomes em textos indicados. Cipriano Luckesi (1995) foi um dos primeiros que li com vontade de entender mesmo, e ele já começa dizendo que “avaliar é um ato de amor”, mas só se for com o propósito de ajudar o outro a crescer. E aí entendi: o problema não é avaliar. É como se avalia e com que intenção.
O que eu percebi, tanto pelas leituras quanto pelas vivências, é que a escola, muitas vezes, usa a avaliação como um filtro. Um instrumento que decide quem é "bom" e quem é "ruim", quem passa e quem fica. Mas será que é esse o verdadeiro papel da educação? Paulo Freire (1996) dizia que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, e isso inclui o respeito à forma como cada um aprende —no seu ritmo, com suas dificuldades, suas histórias e potências. A avaliação tradicional, centrada em provas objetivas e notas finais, não dá conta dessa complexidade toda. E é aí que a avaliação formativa entra em cena.
A avaliação formativa propõe algo mais bonito e mais profundo: acompanhar o estudante ao longo da sua caminhada, identificar seus avanços, suas dúvidas, e, principalmente, oferecer devolutivas que ajudem no crescimento real da aprendizagem. É uma avaliação que se preocupa com o caminho, não só com a linha de chegada. Como diz Perrenoud (1999), ela se baseia em observar, escutar, dialogar e agir tudo isso junto e misturado com o processo de ensinar e aprender.
Esse tipo de avaliação também exige uma nova postura do professor. Não dá pra manter a mesma lógica de controle e cobrança. É preciso abrir espaço para o erro como parte natural do processo, construir confiança, fazer devolutivas que realmente toquem o estudante. E mais: é necessário se desfazer da ideia de que o professor “sabe tudo” e o aluno “não sabe nada”. A avaliação formativa parte do princípio de que todos aprendem só que de jeitos diferentes. E isso é lindo, porque respeita a diversidade que existe dentro de cada sala de aula.
Eu mesma, como futura professora, me vejo constantemente desafiada a rever minhas ideias sobre avaliação. Às vezes me pego pensando: como vou lidar com isso na prática? Como equilibrar as cobranças do sistema (que ainda exige notas, médias, resultados) com uma abordagem mais humana, mais formativa, mais sensível? Não tenho todas as respostas e talvez ninguém tenha , mas tenho certeza de que começar a fazer perguntas já é parte do caminho.
Por isso, este artigo tem como objetivo discutir a avaliação formativa não apenas como uma alternativa pedagógica, mas como uma mudança de postura frente à educação. Quero refletir sobre os conceitos, as práticas possíveis, os desafios reais e, principalmente, sobre como essa forma de avaliar pode contribuir para uma escola mais justa, mais inclusiva e mais próxima das pessoas. Porque, no fim das contas, avaliar não deveria ser sobre medir, mas sobre acolher e impulsionar.
Ao longo do texto, vou dialogar com autores que embasam essa discussão, compartilhar experiências que vi (e vivi) em estágios e formações, e pensar junto sobre os caminhos que temos pra transformar a avaliação em algo mais verdadeiro. Não quero oferecer fórmulas prontas, mas sim abrir espaço para pensar com o coração e com a razão. Porque é disso que a educação precisa: menos receitas e mais humanidade.
2. O CONHECIMENTO VAI ALÉM DA PROVA: REFLETINDO SOBRE A AVALIAÇÃO FORMATIVA
Tem coisa que a gente aprende que nunca vai cair numa prova. E não é por isso que deixa de ser importante. Aliás, talvez sejam justamente esses aprendizados “invisíveis” que mais marcam a gente. Aprender a ouvir, a respeitar o tempo do outro, a reconhecer quando não sabe, a fazer perguntas boas, a tentar de novo... Essas coisas não têm gabarito, mas fazem parte da vida e, com certeza, fazem parte do aprender. E, sinceramente, nenhuma prova de múltipla escolha dá conta disso.
Quando eu olho pra minha própria trajetória como aluna, percebo quantas vezes tive que "decorar pra passar", mesmo sem entender de verdade. E aí, dias depois da prova, tudo já tinha sumido da minha cabeça. Mas o pior não era esquecer o conteúdo era a sensação de que a nota dizia quem eu era. E é esse tipo de lógica que a avaliação formativa tenta desconstruir.
A avaliação formativa não finge que o erro não existe ela olha para ele com respeito. Ela entende que errar faz parte do processo e que, às vezes, é no tropeço que o aprendizado ganha corpo. Em vez de carimbar um 5 ou um 10, o professor escuta, dialoga, devolve, constrói junto. Não é sobre suavizar a cobrança ou fazer “vista grossa” pro conteúdo, mas sobre tratar o saber com mais humanidade, reconhecendo que cada estudante é um mundo em si.
E isso muda tudo, sabe? Muda o jeito de ensinar, o jeito de aprender, o jeito de estar na sala de aula. Como bem diz Jussara Hoffmann (2000), a avaliação formativa é um convite à reflexão constante. É olhar o estudante como alguém que está em movimento, e não como um dado fixo que precisa ser classificado. Mas, ser formativo dá trabalho. Não tem fórmula pronta, nem checklist de certo e errado. Exige tempo, sensibilidade, empatia. Exige conhecer quem está aprendendo, confiar no processo, estar disponível. E num sistema educacional como o nosso, marcado por desigualdades e pressões por resultados, isso parece quase utopia.
A avaliação formativa visa transformar a relação do aluno com o saber e com a escola. Trata-se de fazê-lo sair da passividade, do conformismo ou da submissão, levando-o a interrogar-se sobre seus próprios erros, a compreender as expectativas da escola, a construir projetos, a desejar aprender e a se envolver pessoalmente no processo de aprendizagem. (PERRENOUD, 1999, p. 92).
Só que, pra mim, utopia não é sinônimo de impossível é sinônimo de horizonte. Como diria Eduardo Galeano, a utopia serve pra gente caminhar. E se tem algo que a avaliação formativa nos propõe é exatamente isso: caminhar junto. Ela transforma o professor em parceiro do estudante, e não em juiz do seu desempenho. Transforma o erro em oportunidade, e não em vergonha. Transforma a avaliação em diálogo, e não em sentença.
Durante meus estágios, vi como práticas formativas, mesmo que pequenas, já fazem diferença. Teve uma professora que usava portfólios no lugar de provas finais. Os alunos escolhiam quais atividades queriam entregar, explicavam por que aquelas representavam o que tinham aprendido. Era lindo ver como isso empoderava os estudantes, como eles se sentiam parte do processo. Não estavam só “sendo avaliados”. Estavam se avaliando também. E isso é formativo no melhor sentido da palavra.
Claro que ainda tem muito chão pela frente. A maioria das escolas continua presa ao modelo tradicional. Os sistemas de ensino ainda cobram número, média, rendimento. Mas eu acredito que é possível ir furando essas bolhas aos poucos. Às vezes, mudar a forma de corrigir uma atividade já é um começo. Escolher dar um feedback mais detalhado em vez de só uma nota. Permitir reescritas, recomeços, revisões.
A avaliação formativa não é um milagre que vai resolver todos os problemas da educação. Mas ela é, com certeza, uma ferramenta poderosa pra começar a fazer diferente. E, mais do que isso, ela é um gesto de cuidado com quem aprende. E isso, pra mim, já é uma forma de resistência. Porque, no fim das contas, avaliar não deveria ser sobre quem “acerta mais”, mas sobre quem está aprendendo de verdade. E pra isso, a gente precisa sair da lógica da prova como único termômetro. Porque, convenhamos... tem muito saber por aí que simplesmente não cabe numa prova.
2.1. De Julgamento a Acompanhamento: o Papel Transformador da Avaliação Formativa
Quando a gente fala de avaliação, muita gente ainda pensa naquele momento tenso da prova final, àquela hora em que tudo parece estar em jogo, e o aluno fica sozinho diante do papel, encarando a pressão. Eu confesso que já vivi isso e, olhando para trás, me pergunto quantas vezes essa sensação de “ter que dar conta” atrapalhou mais do que ajudou no meu aprendizado. Por isso, quando conheci a avaliação formativa, senti que ela trazia um respiro para essa realidade sufocante. É como se, de repente, a avaliação deixasse de ser um juiz impiedoso e passasse a ser um parceiro presente na caminhada.
O grande lance da avaliação formativa é que ela muda o foco: sai a preocupação de só medir o que o estudante sabe num dado momento e entra a vontade de acompanhar o que ele está construindo ao longo do tempo. É como se a gente trocasse o olhar da linha de chegada pelo encanto do caminho e, sério, isso faz toda a diferença. Eu comecei a entender que avaliar não é só registrar resultados, é também olhar para o que acontece no processo, reconhecer os avanços e apoiar nos obstáculos. É um jeito de estar junto, de cuidar.
Isso me lembra o que Cipriano Luckesi fala sobre avaliar ser um ato de amor (1995). Não é só uma frase bonita para colocar em texto, é uma verdade que precisa ser sentida na prática. Avaliar com amor significa se importar de verdade com o aprendizado do outro, estar disposto a escutar, a perceber onde está a dificuldade e a celebrar cada pequena conquista. E mais: significa respeitar que cada pessoa aprende de um jeito, no seu tempo, com seus erros e acertos.
Mas, para que essa avaliação formativa realmente aconteça, o professor precisa mudar sua postura e isso não é fácil. É preciso abandonar aquele papel de detentor do saber absoluto e abrir espaço para o diálogo, para o erro, para a dúvida. É assumir que o ensino e a aprendizagem são processos dinâmicos, em constante construção. Paulo Freire (1996) dizia que educar é um ato de amor e coragem e avaliar formativamente é exatamente isso: coragem para olhar o estudante como sujeito de sua própria aprendizagem, e amor para acompanhar essa trajetória sem pressa. Segundo Jussara Hoffmann (2000), a avaliação formativa é um convite à reflexão constante. É olhar o estudante como alguém que está em movimento, e não como um dado fixo que precisa ser classificado,
Avaliar é muito mais do que atribuir notas; é reconhecer o sujeito que aprende em seu contexto, com seus percursos, dificuldades e conquistas. A avaliação deve ser uma prática de escuta, de diálogo e de transformação mútua. (HOFFMANN, 2000, p. 42).
Nas minhas experiências em estágio, vi como esse movimento pode transformar a sala de aula. Quando o professor começa a dar devolutivas que não apenas corrigem, mas que indicam caminhos para melhorar, o estudante sente que está sendo visto de verdade. A avaliação passa a ser um momento rico de diálogo, onde erros deixam de ser punições e viram oportunidades para crescer. Isso cria um ambiente de confiança, onde o medo da avaliação diminui e a vontade de aprender cresce.
Mas não dá para negar que há desafios enormes. O sistema educacional ainda é muito rígido, preso a notas, provas e rankings. O tempo para preparar atividades formativas é escasso, a carga de trabalho dos professores é alta e nem sempre há espaço para esse tipo de cuidado na rotina escolar. Além disso, os próprios estudantes, acostumados com a lógica da “prova que decide tudo”, podem resistir a essa mudança de olhar. Por isso, acredito que a avaliação formativa é um processo coletivo, que envolve toda a comunidade escolar e exige diálogo constante.
Pensar a avaliação assim, mais humana e acompanhada, é, para mim, um convite para resgatar o sentido da educação. É perceber que ensinar e aprender não são tarefas mecânicas, mas encontros que envolvem emoções, relações e respeito. Avaliar formativamente é, portanto, um ato político e afetivo um passo para uma escola que valorize o sujeito em sua totalidade e não apenas seus resultados numéricos.
2.2. Desafios e Esperanças: Navegando Entre o Sistema e a Prática Formativa
Confesso que uma das coisas que mais me deixa pensativa é o quanto o nosso sistema educacional parece preso a velhos formatos, como se não conseguisse acompanhar as transformações que a gente sabe que são necessárias. Quando a gente fala de avaliação formativa, logo vem aquele pensamento: “Mas será que é possível fazer isso de verdade, dentro das escolas onde a realidade é tão difícil?” Eu mesma me pego nessa dúvida várias vezes. Afinal, entre a pressão por resultados, a cobrança por médias, o número enorme de alunos por sala e a falta de recursos, como implementar uma avaliação que respeite o tempo e o jeito de cada estudante?
É complicado, né? Porque a gente vive num contexto em que a avaliação tradicional está tão enraizada que muitas vezes é difícil até pensar em outra coisa. Professores são cobrados para “dar nota”, gestores querem relatórios claros, famílias se preocupam com resultados e o estudante, muitas vezes, só quer passar e pronto. Aí fica aquele dilema: como caminhar para uma avaliação que acompanhe o processo, se o sistema parece pedir só o produto final? Isso me fez perceber que a avaliação formativa não é só uma questão técnica, de escolher métodos diferentes, mas uma questão política e ética. É preciso coragem para enfrentar esse modelo e tentar fazer diferente, mesmo que seja aos poucos.
Outro desafio é o tempo. A gente sabe que para dar um feedback bacana, personalizado, que realmente ajude o estudante, o professor precisa dedicar atenção e um bom tempo. E isso não é fácil, principalmente quando a rotina é corrida, cheia de outras demandas, planilhas, reuniões e atividades administrativas. Nas minhas vivências, vi que a falta de preparo e formação também pesa. Muitos professores nunca tiveram espaço para refletir sobre avaliação de um jeito diferente, então a mudança de postura é, muitas vezes, uma caminhada solitária.
A avaliação formativa exige um novo olhar sobre o aluno e seu processo de aprendizagem, rompendo com a prática de classificar e selecionar. É uma prática que envolve compromisso ético, escuta sensível e vontade de compreender, mais do que julgar. O professor deixa de ser apenas transmissor de conteúdos e passa a ser um mediador atento, comprometido com o desenvolvimento de cada estudante. (LIBÂNEO, 2004, p. 95).
Mas, por outro lado, tem muita coisa boa acontecendo. Já ouvi falar de experiências incríveis, onde a avaliação formativa virou prática real, com uso de portfólios, autoavaliação, trabalhos em grupo e até conversas sinceras entre professor e aluno. Isso me dá esperança, porque mostra que, apesar das dificuldades, é possível transformar o que parece tão rígido em algo mais humano.
E essa transformação começa em pequenos gestos: um professor que escuta mais, que aceita o erro como parte do aprendizado, que incentiva o estudante a refletir sobre sua própria caminhada. É um processo lento, que exige paciência, mas que pode mudar o clima da sala de aula e, de verdade, a relação que a gente constrói com o conhecimento.
Eu acredito que o papel do professor vai muito além de transmitir conteúdo e cobrar resultados. Ele é um mediador que pode ajudar o estudante a descobrir seus potenciais, a enfrentar suas dificuldades sem medo e a se sentir valorizado pelo que é, e não só pelo que sabe. A avaliação formativa, nesse sentido, é um convite para essa postura cuidadosa e comprometida, que respeita a complexidade do aprender.
Sei que ainda tenho muito o que aprender sobre isso e que a caminhada vai ter tropeços. Mas o mais importante, pra mim, é não desistir dessa ideia de que avaliar pode (e deve) ser um ato de amor, de escuta e de construção conjunta. Porque só assim a educação vai se transformar de verdade, tornando-se mais justa, inclusiva e capaz de acolher a diversidade de saberes e histórias que cada estudante traz para a sala.
2.3. Quando o Professor Também Aprende: a Avaliação Formativa Como Caminho de Transformação Pessoal
Algo que me marcou muito enquanto mergulhava nesse universo da avaliação formativa foi perceber que essa mudança não afeta só o estudante, mas transforma o professor também. A gente fala muito do papel do aluno na aprendizagem, e isso é super importante, claro. Mas o que me impactou de verdade foi entender que, para avaliar de forma formativa, o professor precisa estar aberto a aprender e a se reinventar constantemente. E isso é tão intenso quanto libertador.
Lembro de um momento no estágio em que fiquei bem frustrada porque uma das atividades que eu tinha planejado para dar uma devolutiva construtiva não funcionou como eu imaginava. Eu queria dar um retorno que fosse acolhedor, mas o jeito como os alunos reagiram me fez questionar se eu estava mesmo pronta para fazer isso. Foi aí que percebi que a avaliação formativa não é algo que a gente simplesmente aplica, como uma receita. É um processo vivo, que exige do professor uma postura humilde, flexível, e que está sempre aprendendo com os estudantes.
Essa postura me fez pensar muito sobre a importância de se permitir errar e tentar de novo. Afinal, se a avaliação formativa quer valorizar o erro como parte do aprendizado, por que o professor não pode também se permitir errar no processo de avaliar? A gente cresce justamente na tentativa, no olhar atento e na disposição para modificar o que não deu certo. Isso me fez enxergar a prática docente como um espaço de constante aprendizado mútuo, onde tanto professor quanto aluno estão juntos construindo conhecimento. Segundo Freitas,
os ciclos e mesmo a progressão continuada contrariam cada um a seu modo e com profundidades diferenciadas uma lógica escolar que não é desconstruída sem resistência. Caso a mudança na organização curricular não venha acompanhada de medidas que possibilitem uma transformação da escola, dos tempos, dos espaços, da formação dos professores e desenvolvimento de uma avaliação diagnóstica e formativa, os riscos que se corre são de desmotivação dos professores e estudantes pela eliminação do temor da reprovação, o que estimulava o comportamento e a dedicação aos estudos pelos alunos, além de servir também como ‘arma’ para os professores. (Freitas, 2003, p. 16)
Outra coisa que me tocou foi o que Paulo Freire fala sobre a educação como prática da liberdade (1996). Para que essa liberdade aconteça na avaliação, o professor precisa se libertar das amarras da tradicional “nota que condena” e abraçar a ideia de que avaliar é acompanhar, dialogar, caminhar lado a lado. Isso exige coragem, sim, mas também um olhar mais generoso para o processo. Eu acho que é exatamente aí que mora a beleza da avaliação formativa: ela humaniza a relação entre quem ensina e quem aprende.
No meu dia a dia como futura professora, tento carregar essa ideia comigo. Tento me lembrar que a avaliação é uma ferramenta para entender melhor as necessidades dos estudantes, para ajudar a ajustar o ensino e para fortalecer a autoestima de cada um. Sei que isso vai dar trabalho e que vou me sentir insegura às vezes, mas acredito que a prática constante dessa escuta e desse cuidado pode fazer a diferença.
Por fim, acredito que a avaliação formativa não é só uma técnica ou uma metodologia, é uma escolha ética e política. É escolher acreditar na capacidade do outro de crescer, mesmo quando ele tropeça. É apostar numa educação que acolhe as diferenças e que entende o aprendizado como um caminho que cada pessoa faz com seu ritmo, suas dificuldades e suas conquistas. Para mim, essa descoberta mudou meu olhar sobre o que significa ser professora, e
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegar até aqui, refletindo sobre a avaliação formativa, me fez perceber que essa descoberta não é só sobre métodos ou técnicas, mas sobre uma transformação de olhar um olhar mais sensível, mais humano, que entende que avaliar é, antes de tudo, um ato de cuidado. Como futura professora, sinto que a avaliação precisa deixar de ser essa barreira assustadora que separa o estudante do seu próprio processo de aprender, para se tornar uma ponte que conecta, apoia e fortalece.
A avaliação formativa me ensinou que o erro não é um vilão, mas um convite para continuar tentando; que as notas não podem ser o fim da conversa, mas só um ponto de partida para o diálogo; que cada estudante tem seu tempo e seu jeito, e que a escola precisa respeitar essa diversidade de caminhos. Mais do que isso, aprendi que para avaliar de forma formativa é preciso coragem: coragem para mudar práticas, para se abrir para o outro, para colocar o afeto no centro da educação.
Sei que a estrada não é fácil, que existem muitos desafios do sistema, da rotina, das pressões externas. Mas também acredito que essa transformação é urgente e necessária. Porque, no fundo, avaliar é ajudar a construir sujeitos mais confiantes, autônomos e críticos, que vão além dos números e das provas para se descobrirem como aprendizes e cidadãos do mundo.
Por fim, quero levar comigo essa ideia de que a avaliação é um espaço de encontro, não de separação; um ato de amor e compromisso com o aprender, que nos convida a construir uma escola mais justa, mais inclusiva e verdadeiramente humana. É esse o mundo que eu quero ajudar a criar um mundo onde todo saber possa caber, não só numa prova, mas na vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
FREITAS, Luiz Carlos de. A avaliação como estratégia de luta pela qualidade da escola pública. Cadernos CEDES, Campinas, v. 23, n. 61, p. 5-28, jan./abr. 2003.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação: a prática em busca do sentido. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 11. ed. São Paulo: Cortez, 1995.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. Porto Alegre: Artmed, 1999.
1 Graduada em Historia Educação pela Universidade Estadual da Paríba (UEPB), Graduada em Licenciatura em Educação Física pela Faculdade IBRA, Graduada em Licenciatura em Língua Portuguesa pela Faculdade IBRA,Especialista em Fundamentos da Educação pela Universidade Estadual da Paríba (UEPB), Mestre Ciências da Educação pela Universidad de la Integración de las Américas – UNID, em Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad de la Integración de las Américas – UNID. E-mail: [email protected].