LETRAMENTO EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO GUIA DA UNESCO SOBRE COMPETÊNCIAS EM IA PARA PROFESSORES

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13846728


Erison de Moraes Valério1
José Matias dos Santos Filho2


RESUMO
Este artigo discute o letramento em Inteligência Artificial (IA) a partir do “AI Competency Framework for Teachers” (AI CFT) publicado pela UNESCO, relacionando-o com a formação de professores e a inclusão da IA nas práticas pedagógicas. A IA tem se tornado uma ferramenta essencial para o ensino, oferecendo soluções personalizadas e inovadoras, mas também apresenta desafios éticos e técnicos. Este estudo faz uma análise crítica do guia da UNESCO, explorando como ele pode ser aplicado na formação contínua dos educadores para promover o uso responsável e eficiente da IA. A metodologia inclui uma revisão bibliográfica e descritiva das diretrizes da UNESCO e de outros estudos relacionados. Os resultados destacam a necessidade de capacitação e reflexão crítica sobre o uso da IA na educação, bem como as implicações para o papel dos professores. Conclui-se que, para uma integração bem-sucedida da IA no ensino, é essencial que os educadores dominem não apenas as ferramentas, mas também as competências éticas e práticas relacionadas à IA.
Palavras-chaves: Letramento digital; Inteligência artificial; formação de professores; UNESCO; educação digital.

ABSTRACT
This article discusses the literature on Artificial Intelligence (AI) based on the “AI Competency Framework for Teachers” (AI CFT) published by UNESCO, relating to teacher training and even AI in pedagogical practices. It has become an essential tool for teaching, offering personalized and innovative solutions, but also presenting ethical and technical challenges. This study provides a critical analysis of the UNESCO guide, exploring how it can be applied in the continuous training of educators to promote the responsible and efficient use of AI. The methodology includes a bibliographical and descriptive review of UNESCO guidelines and other related studies. The results highlight the need for training and critical reflection on the use of AI in education, as well as the implications for the role of teachers. It is concluded that, for a seamless integration of non-teaching AI, it is essential that educators master not only the tools, but also the ethical and practical competencies related to AI.
Keywords: Digital lyrics; Artificial intelligence; teacher training; UNESCO; digital education.

1 INTRODUÇÃO:

A rápida ascensão da Inteligência Artificial (IA) em diversas áreas da sociedade tem desafiado os sistemas educacionais a se adaptarem a novas formas de ensino e aprendizagem. “Para prosperarmos na nova era da inteligência artificial, precisamos aprender a trabalhar em conjunto com essas máquinas inteligentes, utilizando seu poder sem perder nossa própria identidade” (Mollick, 2024, p. 45). A IA oferece uma oportunidade única de personalizar o ensino, automatizar tarefas administrativas e transformar as práticas pedagógicas. "A integração da Inteligência Artificial na educação é uma jornada, não um destino. É um processo em constante evolução, que requer adaptação, reflexão e paciência" (Pscheidt, 2024, p. 35). Contudo, o uso dessa tecnologia também exige uma reflexão crítica sobre suas implicações éticas, sociais e culturais, principalmente no que tange à formação de professores, que desempenham um papel crucial na mediação do conhecimento e na preparação dos estudantes para o mundo digital. "A inteligência artificial não é apenas uma ferramenta, mas um impulsionador para transformar tanto a educação quanto o mercado de trabalho, demandando um novo perfil de profissionais e de estudantes" (Fava, 2018, p. 47).

Nesse contexto, a UNESCO publicou o “AI Competency Framework for Teachers” (AI CFT), um guia que propõe o desenvolvimento de competências em IA para educadores. O documento visa orientar os profissionais da educação a usar a IA de maneira ética e eficaz, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento de um letramento digital crítico que possa ser aplicado em diferentes contextos educacionais. Este estudo explora o conceito de letramento em IA e reflete sobre as competências apresentadas pela UNESCO, investigando de que maneira essas diretrizes podem ser incorporadas na formação de professores. "A Inteligência Artificial está revolucionando a maneira como aprendemos, trabalhamos e pensamos, desafiando ideias sobre criatividade, autoria e educação" (Bowen; Watson, 2024, p. 45).

O objetivo deste artigo é analisar o impacto do AI CFT no processo de formação de professores e discutir os desafios e oportunidades que a IA traz para a educação. Pretende-se também refletir sobre como os educadores podem desenvolver um letramento em IA que transcenda o uso técnico, incorporando uma visão ética e crítica da tecnologia.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:

LETRAMENTO DIGITAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO

O letramento digital tornou-se uma competência essencial na sociedade contemporânea, especialmente na educação, onde as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) transformam profundamente as práticas de ensino e aprendizagem. No contexto educacional, o letramento digital não se limita ao simples manuseio de dispositivos tecnológicos ou plataformas online. Ele envolve uma compreensão crítica sobre o uso dessas tecnologias, permitindo que os alunos e professores desenvolvam habilidades para acessar, interpretar, criar e avaliar informações de maneira ética e eficaz. "O letramento digital implica não apenas o acesso às tecnologias, mas o desenvolvimento de uma compreensão crítica sobre o uso e os impactos sociais dessas ferramentas" (Coscarelli; Ribeiro, 2005, p. 45).

O conceito de letramento digital está intimamente relacionado às novas demandas da educação no século XXI, caracterizada pela rápida evolução das tecnologias e pela necessidade de preparar os estudantes para um mundo cada vez mais digitalizado. Magda Soares (2002) define letramento digital como uma condição que permite a apropriação crítica das tecnologias digitais, onde os usuários não apenas interagem com os dispositivos, mas também compreendem e transformam as informações para resolver problemas e construir novos conhecimentos. Nesse sentido, o letramento digital extrapola as habilidades técnicas, incorporando questões éticas, sociais e culturais associadas ao uso das TIC. "Estamos assistindo ao surgimento de uma nova forma de inteligência coletiva, que se baseia na rede e nos processos de interação e troca de conhecimentos entre indivíduos, instituições e máquinas" (Levy, 2015, p. 32).

Para a UNESCO (2024), o letramento digital é um dos pilares fundamentais na promoção de uma educação de qualidade, uma vez que capacita professores e estudantes a navegar com confiança no ambiente digital. O AI Competency Framework for Teachers, documento recentemente publicado pela organização, destaca a importância de uma formação robusta em competências digitais para que os educadores possam não só utilizar tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial (IA), mas também ensinar os estudantes a fazê-lo de forma crítica e ética.

No contexto brasileiro, o desenvolvimento do letramento digital enfrenta desafios relacionados à desigualdade de acesso às tecnologias, evidenciada durante a pandemia de COVID-19. Segundo dados do Movimento Todos pela Educação, muitos professores ainda carecem de formação adequada para utilizar ferramentas digitais em suas práticas pedagógicas. A pesquisa revelou que 62% dos docentes no Brasil nunca receberam treinamento específico sobre TICs, o que impacta diretamente na capacidade de desenvolver o letramento digital em seus alunos. Essa lacuna acentua as desigualdades sociais e educacionais, uma vez que alunos de regiões mais pobres ou com menor acesso à tecnologia tendem a ficar em desvantagem no que diz respeito ao uso das TICs. "A alfabetização digital pode ser vista como uma combinação de proficiência técnica, pensamento crítico e práticas sociais que envolvem o uso eficaz de ferramentas e redes digitais" (Bawden, 2008, p. 22).

Ao reconhecer a importância do letramento digital, o Brasil vem tentando implementar políticas educacionais que promovam o uso adequado das tecnologias digitais nas escolas. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, inclui competências digitais entre seus objetivos, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade e da cidadania digital. No entanto, a aplicação prática dessas diretrizes enfrenta desafios, especialmente em regiões com menor infraestrutura tecnológica.

Além disso, é importante destacar que o letramento digital não se restringe ao uso de ferramentas tecnológicas em sala de aula, mas também abrange a capacidade de navegar em um ambiente digital repleto de informações e, muitas vezes, desinformações. Com a proliferação de fake news e a crescente dependência da internet para o consumo de notícias e conteúdos, o letramento digital torna-se vital para que os estudantes possam discernir entre fontes confiáveis e questionáveis, desenvolver um pensamento crítico sobre o que leem e consomem, e participar de maneira ética e informada nas esferas digitais.

O papel dos professores no desenvolvimento do letramento digital dos alunos é crucial. No entanto, como Freitas (2010) argumenta, é essencial que esses profissionais também sejam letrados digitais. Isso significa que os professores precisam dominar não apenas as ferramentas tecnológicas, mas também compreender as novas linguagens e práticas de comunicação que emergem nos ambientes digitais. O AI Competency Framework for Teachers da UNESCO reforça a necessidade de capacitar os professores para que sejam mediadores ativos no processo de ensino-aprendizagem, promovendo o uso consciente da IA e outras tecnologias digitais nas escolas.

Em suma, o letramento digital é uma habilidade imprescindível para a formação de cidadãos críticos e responsáveis no mundo contemporâneo. Na educação, ele tem o potencial de transformar as práticas pedagógicas, promovendo um ensino mais interativo, colaborativo e conectado com as realidades digitais dos estudantes. No entanto, para que isso ocorra de forma efetiva, é necessário investir na formação contínua dos professores e garantir a inclusão digital nas escolas, reduzindo as barreiras tecnológicas e promovendo uma educação mais equitativa e inclusiva (Mello, 2024).

LETRAMENTO DIGITAL E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) NA EDUCAÇÃO

O conceito de letramento digital já foi amplamente discutido na literatura educacional. Segundo Moreira (2020), o letramento digital vai além da alfabetização tecnológica, exigindo uma compreensão crítica das ferramentas digitais e suas implicações sociais. Soares (2002) amplia essa definição ao afirmar que diferentes tecnologias criam diferentes letramentos, sendo essencial que os professores compreendam como essas práticas se inserem no contexto educacional contemporâneo.

Ao tratar de IA, o letramento digital se expande ainda mais. Gilster (1997) destaca a importância da avaliação crítica de conteúdo em ambientes digitais, uma competência fundamental para a navegação no vasto universo de informações geradas pela IA. No entanto, como Bawden (2008) aponta, a IA não apenas facilita o acesso à informação, mas também traz desafios éticos e de privacidade, o que exige dos professores um preparo adicional para lidar com essas questões.

O AI Competency Framework for Teachers (AI CFT) da UNESCO reflete essa necessidade de um letramento mais complexo, propondo cinco áreas de competência para os professores: mentalidade centrada no ser humano, ética da IA, fundamentos e aplicações da IA, pedagogia da IA e uso da IA para o desenvolvimento profissional. Segundo a UNESCO (2024), essas competências são interligadas e visam preparar os educadores para o uso consciente e responsável da IA, garantindo que a tecnologia seja usada para o benefício de todos os alunos.

Em relação à formação de professores, Freitas (2010) argumenta que é necessário integrar o letramento digital de forma contínua nas práticas pedagógicas, não apenas como uma habilidade técnica, mas como uma prática reflexiva. A autora destaca que, para que os professores se tornem efetivamente letrados digitais, é essencial que eles dominem as ferramentas e compreendam o impacto dessas tecnologias na aprendizagem e no desenvolvimento social dos estudantes.

A literatura também aponta para a importância de um ensino ético e responsável em relação à IA. Kaufman (2023) ressalta que o uso de IA em sala de aula deve ser orientado por princípios éticos claros, que protejam a privacidade dos estudantes e garantam que a IA seja usada de maneira inclusiva e justa. Nesse sentido, o AI CFT da UNESCO enfatiza a necessidade de uma abordagem centrada no ser humano, garantindo que a IA seja utilizada para promover a equidade e a inclusão no sistema educacional.

A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO DIGITAL PARA O USO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA EDUCAÇÃO A PARTIR DO GUIA DE COMPETÊNCIAS DA UNESCO

O letramento digital assume um papel crucial no contexto educacional contemporâneo, especialmente à medida que a Inteligência Artificial (IA) se integra cada vez mais às práticas pedagógicas. A UNESCO, em seu AI Competency Framework for Teachers (2024), estabelece uma série de competências necessárias para que professores possam utilizar e ensinar IA de forma ética, eficaz e centrada no ser humano. Para que isso ocorra de forma adequada, o letramento digital é uma competência básica que habilita tanto professores quanto alunos a interagir de maneira crítica e consciente com as tecnologias digitais, incluindo a IA.

O letramento digital, de forma geral, refere-se à capacidade de acessar, avaliar e utilizar ferramentas tecnológicas, mas seu impacto vai além do domínio técnico. Em um ambiente educacional moldado pela IA, o letramento digital oferece uma base sólida para que professores e alunos possam compreender como os algoritmos funcionam, como os dados são processados, e quais implicações éticas estão envolvidas no uso dessas ferramentas (UNESCO, 2024). Sem essa competência, há um risco real de que as tecnologias de IA sejam usadas de forma inadequada ou superficial, comprometendo o processo de ensino-aprendizagem.

A UNESCO destaca a necessidade de uma abordagem centrada no ser humano para a IA na educação, e isso só é possível quando professores estão suficientemente preparados em termos de letramento digital. Por meio dessa competência, os educadores podem desenvolver uma compreensão crítica das funcionalidades das IAs e aplicá-las de forma que promovam a equidade, o aprendizado inclusivo e o respeito aos direitos dos alunos. Além disso, o letramento digital facilita a análise dos impactos sociais e culturais dessas tecnologias, permitindo que os professores integrem discussões sobre ética e privacidade em suas práticas pedagógicas.

Um dos principais aspectos do AI Competency Framework for Teachers é a formação de uma mentalidade ética e crítica em relação à IA, algo que o letramento digital pode fomentar desde os primeiros estágios da educação. O guia da UNESCO enfatiza que os educadores precisam não apenas utilizar as ferramentas digitais, mas compreender como essas ferramentas moldam a experiência de aprendizado, os dados que são gerados e como esses dados podem ser usados para personalizar o ensino de forma responsável (UNESCO, 2024). Professores letrados digitalmente são capazes de identificar e mitigar vieses algorítmicos, garantindo que as ferramentas de IA sejam usadas para promover a inclusão e a justiça social, em vez de perpetuar desigualdades.

Além disso, o letramento digital capacita os professores a ensinarem os alunos a se tornarem cidadãos digitais conscientes, prontos para interagir com a IA em suas vidas cotidianas de forma crítica e responsável. A capacidade de discernir entre informações confiáveis e tendenciosas, interpretar dados e tomar decisões baseadas em evidências são habilidades fundamentais que se desenvolvem por meio do letramento digital e são essenciais para o uso eficaz da IA no contexto educacional.

Outro ponto relevante levantado pelo guia da UNESCO é a promoção de uma IA confiável e sustentável na educação, que só pode ser alcançada se tanto professores quanto alunos tiverem o conhecimento necessário para utilizar essas ferramentas de forma crítica e estratégica. O letramento digital torna possível a personalização do ensino, um dos grandes benefícios trazidos pela IA, sem sacrificar a qualidade ou a segurança dos dados. A personalização do ensino através de sistemas de IA, como ressaltado pela UNESCO, pode proporcionar trilhas de aprendizado adaptativas, respondendo às necessidades individuais dos alunos de forma eficaz. No entanto, esse potencial só pode ser plenamente explorado quando há uma compreensão clara de como esses sistemas funcionam e de como os dados dos alunos estão sendo utilizados.

A integração da IA na educação também demanda uma evolução contínua do letramento digital entre os professores, conforme sugerido no AI Competency Framework. A IA na educação não é estática; ela evolui constantemente, e, com isso, as competências necessárias para o seu uso responsável também mudam. O letramento digital, portanto, deve ser visto como uma competência em constante desenvolvimento, à medida que novas tecnologias e aplicações de IA surgem no ambiente educacional. Os professores precisam estar preparados para se adaptar a essas mudanças, e o letramento digital é o ponto de partida para essa adaptação contínua.

Em resumo, o letramento digital é a chave para que os professores possam não apenas integrar a IA em suas práticas pedagógicas, mas também garantir que essa integração ocorra de maneira ética, inclusiva e eficaz. O AI Competency Framework for Teachers da UNESCO destaca a importância de um letramento digital profundo e crítico, que permita aos educadores explorarem plenamente o potencial da IA, ao mesmo tempo em que protegem os direitos dos alunos e promovem um ambiente de aprendizado seguro e equitativo.

PRINCIPAIS INTELIGÊNCIAS ARTIFICIAS E A CRIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS EM LETRAMENTO DIGITAL

Com o avanço da tecnologia, as Inteligências Artificiais (IA) tornaram-se ferramentas essenciais no ambiente educacional, especialmente no que se refere ao aprimoramento do letramento digital. Professores podem utilizar diversas IA para enriquecer suas práticas pedagógicas, personalizar o aprendizado e desenvolver as competências necessárias tanto para si mesmos quanto para seus alunos. Nesta reflexão, exploraremos algumas das principais IA que podem ser aplicadas na educação para o letramento digital, citando exemplos reais e suas vantagens no contexto pedagógico.

1. Chatbots e Assistentes Virtuais: ChatGPT e outros sistemas de atendimento automatizado

Um dos exemplos mais práticos e acessíveis de IA que pode ser utilizado para o letramento digital são os chatbots e assistentes virtuais, como o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI. Esses sistemas são treinados para interagir com os usuários, fornecendo respostas a perguntas, esclarecendo dúvidas e até participando de diálogos mais complexos. Professores podem usar essas ferramentas para fornecer suporte em tempo real aos alunos durante atividades de pesquisa ou produção textual, ajudando-os a desenvolver habilidades de leitura e escrita no ambiente digital.

O uso de chatbots em sala de aula também possibilita a personalização do aprendizado. Cada aluno pode obter respostas de acordo com seu nível de compreensão, o que facilita o progresso individual no desenvolvimento do letramento digital. Além disso, essas IA podem ser programadas para ajudar os alunos a reconhecer fontes confiáveis e a desenvolver um pensamento crítico ao lidar com grandes volumes de informações. Um estudo realizado na Universidade de Hong Kong demonstrou que o uso de chatbots educacionais ajudou a aumentar a motivação dos alunos para a aprendizagem, além de promover uma maior persistência em atividades complexas (Gaglioni, 2023).

2. Ferramentas de análise de texto: Grammarly e ferramentas de correção automática

Ferramentas de análise de texto, como o Grammarly, são IA amplamente utilizadas no ambiente educacional para ajudar na correção de textos escritos e no aprimoramento das competências de letramento digital. Essas plataformas analisam a gramática, pontuação, estilo de escrita e até mesmo a clareza dos textos produzidos pelos alunos, proporcionando feedback instantâneo. Além disso, elas ajudam os alunos a desenvolver uma compreensão mais profunda de como construir argumentos coerentes e escrever de forma persuasiva em ambientes digitais.

Para os professores, essas ferramentas permitem economizar tempo na correção de atividades e ao mesmo tempo, incentivar o desenvolvimento de habilidades de escrita autônoma por parte dos alunos. No contexto do letramento digital, o Grammarly não apenas melhora a correção técnica, mas também introduz os alunos ao uso de tecnologias de IA para autoavaliação e aperfeiçoamento contínuo de suas produções textuais.

3. Plataformas de aprendizado adaptativo: Khan Academy e sistemas personalizados de ensino

A Khan Academy, embora não seja exclusivamente uma IA, utiliza algoritmos de aprendizado de máquina para personalizar o conteúdo de acordo com o progresso individual de cada aluno. Esse tipo de plataforma adaptativa permite que os estudantes avancem no seu próprio ritmo, identificando lacunas no conhecimento e propondo exercícios específicos para superá-las. Além disso, o sistema ajusta automaticamente a dificuldade das atividades com base no desempenho do aluno, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e personalizada.

No que se refere ao letramento digital, ferramentas como a Khan Academy podem ser extremamente úteis, pois permitem que os alunos explorem diversos recursos multimídia, como vídeos, exercícios interativos e textos. Isso os ajuda a aprimorar suas competências digitais enquanto se familiarizam com diferentes formatos e plataformas digitais. Para os professores, essas ferramentas facilitam a personalização do ensino e a monitorização do progresso dos alunos em tempo real.

4. Plataformas de avaliação formativa: Google Classroom e Microsoft Teams

Google Classroom e Microsoft Teams são exemplos de plataformas que integram IA em suas funcionalidades, proporcionando um ambiente colaborativo e de avaliação formativa. Essas plataformas utilizam algoritmos de IA para ajudar professores a organizar melhor suas aulas, distribuir materiais didáticos e avaliar o desempenho dos alunos de forma automatizada. Por exemplo, o uso de rubricas digitais permite que a correção de trabalhos seja feita de maneira mais objetiva e padronizada.

Essas ferramentas são fundamentais no contexto do letramento digital, pois incentivam tanto alunos quanto professores a interagir com tecnologias digitais em um ambiente educacional. O uso frequente dessas plataformas promove a fluência digital, à medida que os alunos são expostos à navegação em diferentes interfaces, à organização de arquivos digitais e à participação em atividades colaborativas online. As interações online promovidas por essas plataformas também ajudam a desenvolver habilidades de comunicação digital, uma competência essencial no contexto do letramento digital.

5. Plataformas de criação de conteúdo multimídia: Canva e ferramentas de design assistido por IA

Ferramentas como o Canva, que integram IA em suas funcionalidades, são especialmente úteis para o desenvolvimento de competências de letramento digital relacionadas à criação e ao design de conteúdos digitais. A plataforma utiliza algoritmos para sugerir layouts, cores, e até elementos visuais baseados nas preferências e necessidades do usuário. Para os alunos, essas ferramentas oferecem uma oportunidade de desenvolver competências de letramento visual e de aprender a comunicar ideias de maneira eficaz através de meios digitais.

Professores também podem usar ferramentas como o Canva para criar materiais didáticos mais envolventes e interativos, utilizando-se de gráficos, vídeos e outros recursos multimídia que tornam o conteúdo mais acessível e compreensível para os alunos. Além disso, ao incentivar os alunos a utilizarem essas ferramentas, os professores estão promovendo a autonomia e a criatividade digital, competências fundamentais no letramento digital.

Conforme apresentado, o uso de IA na educação é um caminho sem volta, e sua aplicação no desenvolvimento do letramento digital é fundamental para preparar professores e alunos para os desafios do século 21. Ferramentas como ChatGPT, Grammarly, Khan Academy, Google Classroom, e Canva, entre outras, oferecem inúmeras possibilidades de personalização do aprendizado, promoção da autonomia e desenvolvimento crítico das habilidades digitais. Como apontado no AI Competency Framework for Teachers da UNESCO, essas ferramentas não apenas aprimoram a prática pedagógica, mas também garantem que o letramento digital se torne uma competência central no processo educacional, capacitando alunos e professores a navegar com responsabilidade e confiança no ambiente digital .

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo utilizou uma abordagem descritiva e qualitativa, baseada em uma revisão bibliográfica das diretrizes da UNESCO, bem como de outras fontes relevantes que tratam do letramento digital e da formação de professores. Foram analisados artigos, relatórios e estudos de caso que abordam a relação entre IA e educação, com foco na formação contínua de professores para o uso de tecnologias emergentes.

A revisão bibliográfica incluiu fontes como o relatório da UNESCO “AI Competency Framework for Teachers” e estudos teóricos de autores como Bowen e Watson (2024), Gaglioni (2024), Mollick (2024), Pscheidt (2024), Moreira (2020) e Soares (2002), que discutem o conceito de letramento digital e suas implicações na prática pedagógica. A metodologia descritiva foi utilizada para interpretar e organizar os dados de forma a explorar as competências propostas pela UNESCO e suas implicações práticas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES:

A análise do AI Competency Framework for Teachers revela que o letramento em IA exige um conjunto de competências que vai além da simples operacionalização de ferramentas tecnológicas. As cinco áreas de competência propostas pela UNESCO destacam a necessidade de os professores desenvolverem uma mentalidade crítica e ética, que permita o uso consciente da IA na educação.

Os resultados indicam que a maioria dos professores ainda enfrenta dificuldades na integração de IA em suas práticas pedagógicas, seja por falta de formação específica ou pela complexidade técnica envolvida. Como Freitas (2010) destaca, muitos professores têm acesso às tecnologias, mas não estão preparados para utilizá-las de maneira eficaz. Esse fato é corroborado pela pesquisa de Moreira (2020) e Levy (2015), que apontam para a necessidade dos docentes em adotarem novas tecnologias, no entanto se faz necessário a devido capacitação, ou seja, desenvolver o letramento digital para o uso da inteligência artificial na educação.

A discussão também evidenciou que a ética é um aspecto central no uso da IA na educação. Kaufman (2023) argumenta que o uso de IA deve ser pautado por princípios éticos que protejam a privacidade dos estudantes e promovam a inclusão. A UNESCO reforça esse ponto ao enfatizar que a IA deve ser utilizada de maneira a promover a equidade e o acesso igualitário à educação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O letramento em IA, como proposto pela UNESCO no AI Competency Framework for Teachers, exige uma formação contínua e crítica dos professores. É essencial que os educadores não apenas dominem as ferramentas de IA, mas também compreendam suas implicações éticas e sociais. A capacitação dos professores para lidar com a IA de forma ética e eficaz é fundamental para garantir que a tecnologia seja utilizada para promover o desenvolvimento educacional e social de todos os alunos.

Para alcançar esses objetivos, é necessário investir em programas de formação contínua que integrem o letramento em IA nas práticas pedagógicas, proporcionando aos professores as competências necessárias para navegar no ambiente digital de maneira crítica e reflexiva.

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1 Professor na Educação Superior. Bacharel em Teologia. Especialista em Teologia e Interpretação Bíblica, Teologia Sistemática Contextualizada e Docência no Ensino Superior. E-mail: [email protected]

2 Professor na Educação Superior. Bacharel em Biblioteconomia. Graduação em Pedagogia Licenciatura e Filosofia Licenciatura. Doutorando em Ensino no PGSS em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias (Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera). E-mail: [email protected]