ÉTICA NA EDUCAÇÃO: FILOSOFIA E PSICANÁLISE

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10350043


Helena de Fátima Bernardes Millani¹


RESUMO
Este artigo objetiva apresentar algumas reflexões sobre ética, a evolução filosófica, a ética na psicanálise e na educação à luz de alguns autores, como: Candan (1998), Freire (1996), Morim (2005), Rojas (1997), Aristóteles (1979), Freud (1930), entre outros. Foram feitos apontamentos com referência à temática “ética” ao longo de sua evolução, valores, atuação docente e a mudança na sociedade no mundo pós-moderno. O que se pode observar que há lacunas a serem preenchidas no que tange aos desejos humanos, mas a necessidade sempre foi uma só: compreender a ética e fazê-la valer na construção do sujeito social. As indagações foram feitas em diferentes referenciais teóricos, por meio de pesquisa bibliográfica, com a finalidade de compreender mais sobre a ética e atuação que deve ser contemplada na escola, para formar cidadãos mais críticos.
Palavras-chave: ética, filosofia, psicanálise, educação
 
ABSTRACT
This article aims to present some reflections on ethics, philosophical developments, ethics in psychoanalysis and education in light of some authors, such as: Candau (1998), Freire (1996), Morim (2005), Rojas (1997), Aristoteles (1979), Freud (1930) among others. Were made notes on the theme "ethics" throughout its evolution, values, acting teacher and change in society in the postmodern world. What can be observed that there are gaps to be filled in relation to human desires, but the need has always been one: understand the ethics and make her worth in the construction of the social subject. The inquiries were made in different theoretical references, through the bibliographical research, with the purpose to understand more about the ethics and practice that should be included in the school, to form citizens more critical.
Keywords: ethics, philosophy, psychoanalysis, education
 

INTRODUÇÃO

Questões relacionadas à ética e ao ensino da ética, interligadas aos espaços educativos ou ao agir dos profissionais, têm sido fonte de preocupação e constante inquietação desta autora. O presente artigo não esgotará o assunto, nem se propõe a aprofundá-lo, de forma ampla; busca, sim, a possibilidade de refletir sobre a ética pela ótica da filosofia, psicanálise e como atividade da prática educativa que acompanha a história, da Antiguidade até a atualidade.

Acredita-se, por um lado, que todo professor trata, diariamente, de forma direta ou indireta, de valores e normas de conduta em suas atividades na sala de aula; mas, por outro lado, observa-se que vários aspectos evidenciam que a sociedade convive com profundos problemas de conduta que se opõem não só à ética como ao exercício da cidadania (CORDIOLLI, 2002, p. 11).

Existem várias questões que vêm à tona, sobre a ética: o ensino da ética na escola, como será que os professores conduzem uma discussão, uma aula a respeito da ética? Como será que acontecem a educação e as demandas éticas na

As respostas a essas questões são complexas e precisam de algumas reflexões estendidas, práticas constantes na mesma direção e de forma ampla. Há de se pensar que os seres humanos constituem a sua humanidade em coletivos e que eles são produtores e, ao mesmo tempo, produto de uma rede de relações em situações que fazem das pessoas uma construção social, histórica e, aí, justamente, pode-se dizer que nessas relações a ética se situa.

Segundo Cordiolli, 2002, p.12,

[...] O ser humano está imerso num processo de socialização das idéias, dos hábitos, dos sentimentos e dos valores, e a sua individualização se constitui pelas interações que se processam com os diversos grupos com os quais se relaciona como os de sua geração, de classe social, de etnia, de religião, etc.

A partir dessa afirmação, pode-se pensar e considerar que há uma dinâmica importante nos processos de socialização e que está presente também nas relações estabelecidas na escola, entre professores e alunos.

Outra questão que deve ser ressaltada é aquela que, segundo Lima Vaz (1999, p.7) compreende,

[...] as razões que podem justificar o interesse pelo tema Ética, na atualidade, são muitas e complexas. Dentre elas destaca-se, prioritariamente, uma clara e significativa reação a uma crise espiritual sem precedentes, que atinge a civilização ocidental...

Para Yves de La Taille (2005, p.2),

[...] o mal-estar existencial, típico da sociedade moderna, se traduz em indisciplina e violência. Ele ressalta como as escolas deixaram de lado temas como a moral e a ética e a necessidade de retomá-los....  

Crise espiritual, mal-estar existencial, indisciplina e violência são elementos que estão marcando o cotidiano das pessoas, especialmente, nas grandes cidades e metrópoles do mundo. Como dizer não, como negar essa realidade severa, dura, em que a frieza espiritual é cultivada com a mesma indiferença que a violência é aceita como algo natural, normal?

Também Cabanas (1996, p.45) se volta para estudos a respeito da questão ética, pontuando que “a questão central da ética é a de responder à pergunta sobre o que nos obriga a sermos bons?”, ou seja, é a ética que nos possibilita critério para definirmos o que é ser bom, correto, ou moralmente certo e que nos fornece explicações para nosso senso de dever moral.

No Brasil, o capítulo dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, especialmente no terceiro e no quarto ciclo destaca a ética como algo que sublinha a necessidade de a escola se configurar em espaço de reflexão sobre a moralidade porque, entre outras razões, “o cotidiano escolar está encharcado de valores que se traduzem em princípios, regras, ordens, proibições” (PCN, 1998, p.24).

Di Matteo (2006, p.19 - 46) traz suas contribuições e nos dá a entender, em seus escritos, que “tanto a palavra ética quanto o termo moral dizem respeito às tentativas históricas – sempre precárias e provisórias – que as várias culturas empreendem para regular especificamente as relações sociais, visando uma vida boa e justa, tanto para os indivíduos como para a comunidade em seu todo”.

A palavra ética evoca a necessidade humana da Lei, de recriar o mundo na cultura numa regularidade instituída para viabilizar a convivência humana, sem que isso implique ser fiadora dos códigos morais que se cristalizam numa determinada comunidade histórica. Pode-se, então, falar de uma psicanálise freudiana que se coloca, certamente, do lado do desejo, mas não contra a lei; de uma psicanálise que critica o moralismo, mas não a ética ou pelos menos certa concepção da ética, como aparece claramente na obra O Mal Estar na Civilização (FREUD, 1930, p. 167-168).

Diante desses referenciais, esse artigo busca refletir sobre dois eixos em cuja pertinência acreditamos, e que permeiam nossa inquietação: o significado filosófico, psicanalítico e social da ética e o papel da escola na formação ética do cidadão.

Certamente, cada um desses eixos abarca inúmeras questões com diversos desdobramentos, mas o presente trabalho objetivo refletir sobre motivações e promovê-las para outros pesquisadores no sentido de pesquisar e acrescentar alguma coisa ao tema.

MATERIAIS E MÉTODOS

O delineamento utilizado neste estudo é o resultado de uma pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir de referências teóricas, literaturas especializadas, realizada de julho a agosto de 2022, obtida em livros, artigos, documentos, páginas da web site, entre outros.

O critério para a inclusão do material encontrado foi: abordagem da ética do ponto de vista filosófico, psicanalítico e o papel da escola na formação ética do cidadão.

Logo em seguida, buscou-se estudar e compreender os principais parâmetros e as considerações acerca dos eixos pretendidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ÉTICA E A FILOSOFIA
 

Ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais de comportamento e que orienta os homens em relação aos outros homens na sociedade em que vivem, garantindo o bem-estar social. (MOTA, 1984, p.16)

Pela Enciclopédia Britânica (1999, p. 808 – 845), a palavra “ética” é derivada do grego “ethos” e significa “modo de ser, caráter de comportamento”. Diferenciase da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão.

Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral, mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver e conviver. Havia uma busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto em público. A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos pela física, metafísica, estética, lógica, dialética e nem pela retórica. A ética, isto sim, abrangia os campos que, atualmente, são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política; eram os campos, direta ou indiretamente, ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. 

A ética tinha, entre os gregos, uma relação muito estreita com a política, tendo como base a cidadania e a forma de organização social. Atenas era o ponto de encontro da cultura grega onde nasceu uma democracia com assembléias populares e tribunais; e as teorias incidiam sobre a relação entre o cidadão e a polis (a sociedade organizada em cidades-estados), em que a conduta do indivíduo era determinante para se alcançar o bem-estar coletivo.

Segundo Oliveira (2007, p. 30) havia diferenças conceituais das várias correntes filosóficas. Poder-se-ia falar de uma ética aristotélica, de uma ética socrática e de uma ética platônica, mas todas têm um denominador comum: o homem deverá pôr os seus conhecimentos a serviço da sociedade, de modo que cada um dos seus membros possa ser feliz.

A ética grega não era normativa, limitando-se a classificar os atos dos homens como corretos ou incorretos, adequados ou inadequados a uma determinada situação.

Já na Idade Média, o conceito de ética altera-se radicalmente: desliga-se da natureza para se unir à moral cristã. Entre os séculos IV e XIV, a influência da Igreja impede que, nas sociedades européias, a ética se afaste das normas que ela própria dita: Deus é identificado com o bem, a justiça e a verdade, o modelo que todos devem procurar seguir para atingir a felicidade e a salvação. Essa época tem como expoentes máximos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, coincidindo na defesa do princípio de que só o encontro do homem com Deus lhe permitirá atingir a felicidade. Ética e Moral se fundiam numa simbiose que a Igreja considerava perfeita. (OLIVEIRA, 2007, p. 31).

No final do século XIV, com o Renascimento, emerge uma nova concepção do homem como centro do universo. É quando a ética começa assumir contornos diferentes, com novos valores; começam a surgir teorias éticas que se afastam dos valores do cristianismo e geram alguma conflitualidade.

Oliveira (2007) sinaliza que a grande ruptura do conceito de ética surge na Idade Contemporânea, no século XIX. Ela deixa de ser apenas normativa, de se limitar a classificar as ações do homem, como boas e más, e começa a surgir a noção de uma ética que estabelece regras para áreas específicas e analisa os comportamentos adequados para se seguir. ( p. 31).

É nessa época em que a ciência e a economia substituem a religião como ordem suprema; começa-se a falar de uma “ética utilitarista” que defende que tudo o que contribui para o progresso social é bom e incita os trabalhadores a se mobilizarem na reconstrução de uma nova sociedade em ruptura.

A ética na Idade Contemporânea se defronta com uma enorme variedade de tendências morais derivadas do pluralismo cultural existente. Dentro de uma mesma sociedade, encontramos correntes morais diferentes, que se formam a partir dos juízos de valor recebidos pelas pessoas em seu ciclo de convivência. A imparcialidade exigida da ética faz com que nenhuma das vertentes morais seja aceita como a melhor tendência.

À corrente da ética contemporânea, cabe criticar e analisar os diferentes hábitos e costumes existentes nos dias atuais para que cheguemos a um ponto comum a ser aceito.

Já na segunda metade do século XX, não se fala de uma ética normativa universal, comum a qualquer ser humano, mas de uma multiplicidade de “éticas”. Cada grupo social define as suas matrizes de comportamento com os seus “códigos de conduta”.

Percebe-se que os progressos científicos e tecnológicos mudaram, radicalmente, permitiram melhores condições de vida para as pessoas, mas o desenvolvimento humano não se fez no mesmo ritmo; houve uma decadência nos valores adquiridos durante séculos, e as desigualdades sociais aumentaram.

A ética no mundo moderno tem suas raízes fundadas na razão de que é um tempo de mudança, de crise, de morte do tradicional, de abandonar o velho e acolher o novo, de quebrar paradigmas e estabelecer novas formas de vida e valores. É tempo de ser diferente, de inventar a diferença.

É um processo de crise social que levou à configuração de um novo homem, uma nova sociedade, uma nova ética e também de uma nova religião. Essa crise colocou em xeque o modelo e os valores existentes e fez nascer o desejo de superação de tudo.

Segundo Rojas (1996, p.67) a ideologia do homem moderno é pragmatismo. Sua norma de conduta é a vigência social, as vantagens que leva e o que está na moda.

Sua ética se fundamenta na estatística, substituta da consciência. Sua moral repleta de neutralidade, carente de compromissos e subjetividade, fica relegada à intimidade, sem se atrever a sair em público. Tudo é suave, ligeiro, sem riscos; somente faz algo com garantia. 

O homem é frio, não acredita em quase nada, suas opiniões mudam rapidamente e deixou para traz os valores transcendentes. Busca o fazer e o bemestar a qualquer custo, além do dinheiro. Para ele, tudo é descartável, as pessoas vivem, unicamente, para si mesmas, sem restrições.

Para o sociólogo Baumam (1997, p.8):

...o mundo pós-moderno se demonstra externamente frágil, quebradiço, sem consistência, sem encanto e apresenta rachaduras no espelho, é o reinado da fragilidade, da superficialidade, da trivialidade, da liquidez.

O homem está carente de interesse, repleto de frivolidade, alimentado por meios de comunicação massificantes e alienantes, da informação sem formação, consequência de uma sociedade de consumo frenético de coisas e materiais, de verdades passageiras e sem fundamento; carente de futuro e de certezas, sociedade de desejos.

Assim, pode-se considerar uma nova cultura composta de uma nova linguagem, de uma nova simbologia, de arte, de novos paradigmas, de um novo estilo de vida, de uma nova axiologia marcada pelo controle da vida pessoal e coletiva; implantará um novo “ethos” pós-moderno, compreendendo, dessa forma, o nascimento de novos valores e atitudes éticas e morais.

O que nos faz, agora, pensar a ética através da psicanálise, pois - ao que parece - há um mal-estar instalado nas pessoas, o que altera os seus valores.

ÉTICA E A PSICANÁLISE

O ensaio freudiano O Mal-Estar da Civilização (1930) lida com a questão da busca da felicidade e com o que se mostra como infortúnio humano: a agressão entre os homens.

Quanto a esse problema, Freud diz que sempre se espera muito da ética. Ela é importante, pois queremos que ela resolva um problema difícil, o da agressividade mútua; é como se ela fosse uma terapia, diz ele, uma vez que se espera alcançar com ela, por meio de “uma ordem do superego, algo que até agora não foi conseguido por meio de quaisquer outras atividades culturais”.

Se aguardamos conscientemente ou inconscientemente essa ordem do superego a fim de compreender a ação ética, o objeto tem de ser, exatamente, a norma mais atual do superego, o que quer dizer: o objeto é o preceito mais universal de nossos tempos, o mandamento cultural vigente que, enfim, veio do superego. Freud aponta, corretamente, para o mandamento “ama ao próximo como a ti mesmo”.

Ghiraldelli (2010), em seus comentários, nos dá a entender que Freud acha esse imperativo ético exigente demais, aliás, com toda ordem do superego que, pouco se preocupa com o homem, ultrapassa as possibilidades do homem e quando algo desse tipo ocorre, há infelicidade ou, mesmo no plano de análise de um superego individual com um ego individual, há a neurose. 

Como a ética por vezes é identificada também como sendo um superego cultural, e este, por sua vez, é uma analogia com o superego psíquico individual, a analogia pode continuar diz Freud. Podem-se, então, imaginar mais correlações. Assim, como o superego individual, com suas exigências, pode produzir neuroses, a analogia permite dizer que éticas difíceis de serem cumpridas poderiam criar civilizações neuróticas. Por conseguinte, a ideia tão tentadora quanto perigosa seria a de começar imaginar terapias para toda uma civilização (GIRALDELLI, 2010).

No ensaio Mal estar da civilização, Freud (1930) demonstra que lidar com a agressividade não é fácil, assim como, lidar com a felicidade.

Talvez por isso, Freud (1930,) se abstém de dar caminhos, mas traça uma observação interessante sobre tendências e, durante todo o percurso em que fala da ética, o que aborda não é outra senão a “ética moderna”, a chamada “ética do dever”. Nesse tipo de ética, a virtude moral vai para um lado e a felicidade vai para outro. Ao final do ensaio, Freud assume “que os juízos de valor dos homens acompanham diretamente os seus desejos de felicidade”.

Freud (1930) não assume uma visão da ética filosófica, recua para a posição de um teórico que busca certa neutralidade filosófica no campo doutrinário moral. Não se trata de neutralidade científica, e sim, de neutralidade no campo da filosofia prática. A ética se interpõe na vida social da pessoa, numa busca contínua pelo bem-estar e felicidade; ela é cultural.

Com afirmação de que a ética, pela ótica da psicanálise, é cultural, ele nos permite, aqui, pensar sobre o meio de adquirir cultura e formar cidadãos pela educação.

ÉTICA E EDUCAÇÃO

O tema da ética, na educação, não é novo, mas foi com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN - e o estudo de alguns teóricos, por exemplo, Paulo Freire (1996), que voltou-se para construção de uma nova proposta pedagógica para a sala de aula, redirecionando as diretrizes que valorizam o aluno, suas múltiplas inteligências, sua realidade, suas concepções prévias, sua produção, em um espaço lúdico-dialógico, atendendo as exigências do novo cenário socioeducacional, transformando o aprendizado em algo significativo, contextualizado e fundamentado. 

A ética vem como um princípio norteador, pelo conjunto de princípios e padrões de conduta humana, é um sustentáculo do modo de agir em coletividade, em que também está inserida a escola.

Considera-se que atuação docente com ética parte da necessidade de realizar uma prática pedagógica com princípios éticos, pois se o homem não pode mudar o seu patrimônio genético, ele pode contribuir para mudar o seu ambiente, suas reações, ante as mudanças dinâmicas do meio em que se encontra.

Dessa forma, é importante que se incorporem os temas transversais, relacionados à ética, como parte dos conteúdos educativos, para que educadores e educandos questionem, critiquem e analisem e, consequentemente, possam transformar suas condutas, baseados em uma educação que se preocupa com a cidadania.

Morim (2005, p. 56) cita que “os jovens têm de conhecer as particularidades do ser humano e o papel dele na era planetária que vivemos”. Daí, a preocupação com saber se a educação está fazendo sua parte, com educadores que incorporam sua responsabilidade de formador.

Candau (1998) faz referência à formação docente, reconhece que ela não se limita à formação inicial, mas também continuada, qualificando o aprendizado do professor.

A autora (1998, p. 57) afirma que o professor “neste cotidiano, aprende, desaprende, reestrutura o aprendido, faz descobertas e, portanto, é nesse lócus que muitas vezes vai aprimorando sua formação”.

É relevante que os docentes, para o exercício pleno de suas práticas, busquem, de forma contínua, aprimorar seus conhecimentos com o objetivo de se construírem cidadãos éticos. É necessário um reconstruir diário, um repensar contínuo; buscar elementos psíquicos para auxiliá-lo na compreensão das demandas dos alunos e do meio escolar.

Morim (2005) alerta que a ética, na escola, não poderia ser ensinada por meio de lições de moral, e sim, na formação de mentes dos alunos, com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade e cidadão. É necessário que o docente ajude a desenvolver as autonomias individuais, o despertar da consciência coletiva.

De acordo com Morim (2005, p.45)

...a ética trata-se de uma aprendizagem que resulta em aprender resolver conflitos por meio de diálogo, aprender a ser solidário, ajudar, a ser democrático, dize o que pensa e ao mesmo tempo respeitar as diferenças e os outros.

Puig (1988, p.8) alerta que a “sociedade contemporânea vive uma crise de valores”. Esse é um dos maiores desafios que os educadores terão de enfrentar para atender os anseios de uma sociedade plural e democrática.

É frequente ouvir de professores a queixa de que os alunos são indisciplinados. Na concepção de La Taille (2001, p.90), “disciplina remete as regras”. Logo, disciplina corresponde à “moral”, ao respeito às normas mínimas de convívio, consideradas como obrigatórias.

Por que, então, o aluno se torna uma pessoa indisciplinada? “É porque seus valores, seus ideais não são coerentes com as referidas regras”, ou quando as regras se tornam incoerentes ou ditadas por uma cega autoridade.

Para direcionar uma educação de valores que não se baseie numa mera transmissão dos valores da classe dominante, e sim, numa dimensão transversal de respeito a uma sociedade plural, Gadotti (2000, p. 35) alerta que “nessa sociedade cresce a reivindicação pela autonomia contra toda forma de uniformização e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de cada língua”.

É um caminhar com a educação moral com respeito à autonomia dos sujeitos, partindo do diálogo que leve em consideração os interesses pessoais e coletivos em relação aos valores de cada cultura e aos direitos humanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre as questões éticas não esgota o assunto, ao contrário, compreendemos que a discussão pode nos tornar capazes de compreender o comportamento social das pessoas e um pouco mais sobre o tema.

A atividade educacional não se faz individualmente, é obra da sociedade, na qual se criam valores, normas, costumes, práticas e ideias que regem a sociedade tornando firmes as suas bases. Desde Aristóteles (1996), a formação ética dos cidadãos só pode ocorrer como prática, como socialização dos valores já existentes na sociedade. A ética teve um caminho filosófico: da Antiguidade ao pós-moderno, foi sendo construída pela sociedade.

Já em Freud (1930), o discurso ético se articula, sempre e necessariamente, com a questão do sujeito na sua relação com a cultura. Com essa verdade, é possível assinalar as repercussões, tanto na esfera ética individual quanto na coletiva.

A contemporaneidade ou os tempos pós-modernos mostram, ao mesmo tempo, que há um vazio ético e uma grande necessidade de seu retorno, o que torna imprescindível “recriar a ética e revigorar suas fontes de responsabilidade e solidariedade”. (SILVA,2017).

O ensino da ética se mostra como um desafio para a prática educativa, quanto ao seu papel na formação de cidadãos de direito, com consciência de seus deveres e direitos, e em que condições esses cidadãos podem exercer sua autonomia e liberdade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2. ed. Brasília: Editora da UnB, 1992. ______. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Coleção Os Pensadores). 

BAUMAN, Z. Ética Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1992 (p. 293). BRASIL - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e quarto ciclos (Apresentação dos temas transversais). Brasília: MEC/SEF, 1998, 436p.

CABANAS, J.M.Q. Educação Moral e Valores. Revista da Ciência da Educação. n. 166; abr./jun., 1996.

CANDAU, V.M. Magistério – construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1998.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREUD, S. Edição Standart Brasileira das Obras psicológica Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

______. O Mal Estar na Civilização. Cidade: Editora, 1930.

GERIVALDELLI JUNIOR, P. Freud e a Ética. Disponível em: http://www.portalentretextos.com.br/colunas/filosofia-no-cotidiano/freud-e-a-etica,256,6600.html ¹ Docente de Enfermagem -  Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos – SP-UNIFIO