ESTUDO SOBRE A DESMOTIVAÇÃO NA CARREIRA DOCENTE

PDF: Clique Aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10346070


Edmilson Siqueira de Sá¹
Fidelícia de Fátima Ferreira Marçal²


RESUMO
Este artigo tem como proposito analisar osfatores que influenciam a desmotivação do professor em sala de aula. Nesse sentido, o objetivo geral do trabalho é investigar os fatores que propiciam e/ou impulsionam a desmotivação na carreira docente. A metodologia utilizada foi o método estado da arte, buscando textos acadêmicos que mencionam fatores vinculados à desmotivação da carreira profissional do professor. Sobre os aspectos e fatores de desmotivação da classe docente, propôs-se investigar as causas, bem como assimilar e ajudar a compreender a influência desses fatores. Para o estudo exposto neste trabalho, foi possível concluir quais os fatores que mais influenciam na desmotivação. Contudo, mesmo com entraves significativos, os professores, alunos, responsáveis e a sociedade como um todo devem ressignificar o espaço escolar enquanto lugar de construção e reconstrução contínua do saber.
Palavras-chave: Desmotivação. Professor. Carreira docente
 
ABSTRACT
This article aims to analyze the factors that influence teacher demotivation in the classroom. In this sense, the general objective of the work is to investigate the factors that provide and/or drive the lack of motivation in the teaching career. The methodology used was the "state of the art" method, seeking academic texts that mention factors linked to the lack of motivation in the teacher's professional career. Regarding the aspects and factors of demotivation of the teaching class, it was proposed to investigate the causes, as well as assimilate and help to understand the influence of these factors. For the study exposed in this work, it was possible to conclude which factors most influence demotivation. However, even with significant obstacles, teachers, students, guardians and society as a whole must re-signify the school space as a place of continuous construction and reconstruction of knowledge.
Keywords: Demotivation. Teacher. Teaching career
 
1. INTRODUÇÃO
 
Ser e manter-se professor não tem sido uma tarefa fácil nos dias atuais. Para Mendes e Baccon (2015), ser professor é não esquecer jamais do comprometimento, da dedicação e da formação constante e necessária para manter sempre viva a chama do desejo de ensinar.
 
Luckesi (2011) enxerga o professor como o ser humano capaz de se autoconstruir e construir história através de suas ações, um sujeito transformado e transformador, ao mesmo tempo, por influenciar e sofrer influências do meio em que vive. 
 
Dentro do espaço escolar, entre tantos agentes envolvidos no processo educacional como o porteiro, a merendeira, auxiliares administrativos, direção e secretaria, o professor tem um papel de destaque, como mediador, na formação do indivíduo, cujo resultado se estende significativamente à sociedade em geral.
 
Como agente ativo, o professor (é um que) utiliza-se da sua influência, para conduzir com maestria e perspicácia a aprendizagem durante a formação do cidadão. Possuidor de conhecimentos e habilidades específicas, ele tem o dever de orientar, com ética e cidadania, o educando em todo o processo de formação, através dos conteúdos que ministra. Conhecedor da realidade com a qual trabalha, ele precisa compreender e demonstrar competência no campo teórico/prático dos conhecimentos destinados à aprendizagem dos alunos.  
 
De acordo com Mendes e Baccon (2015), as funções do professor estão divididas em três categorias: (i) da transformação; (ii) do conhecimento; e (iii) da incerteza.
 
A categoria de transformação diz respeito ao comprometimento do professor, como profissional transformador, trabalhar a disciplina que ministra, através do conhecimento científico e da consciência crítica do cidadão para que este possa atuar como sujeito transformador da sociedade em que vive. É obrigação intrínseca de o docente ajudar os educandos a se libertarem da dependência econômica, social e política, trabalhando os conteúdos de forma que sejam úteis e práticos para que os alunos se apropriem deles em sua experiência diária. Em suma, é necessário que o aluno consiga construir o seu saber a partir do lhe foi ensinado.
 
A categoria do conhecimento confirma que o conhecimento do professor está diretamente relacionado a sua formação. Marcelo (2009) reitera que o maior desafio em ser professor é aprender de forma consciente que a sua formação é constante; o tempo todo ela faz parte da sua carreira profissional; é ser um eterno estudante ao longo de sua trajetória como docente. É entender que ao ensinar também se aprende (FREIRE, 1996). O professor precisa envolver-se no processo aprendizagem de tal maneira que seja capaz de fazer o discente aprender aquilo que ensina. Precisa ainda, responsabilizar-se pela transformação do conhecimento em aprendizagem significativa para o aluno. Não lhe é suficiente apenas ter muito conhecimento; é fundamental que saiba fazer com que o educando realmente aprenda. Além de dominar o conteúdo, ter conhecimento e possuir habilidades no processo ensino aprendizagem, torna-se necessário que o professor tenha capacidades para lidar com as relações interpessoais, utilizando-se delas para promover, com êxito, a aprendizagem de seus alunos. 
 
Por último, a categoria da incerteza faz alusão às problemáticas enfrentadas pelos professores cotidianamente em decorrência das constantes mudanças na sociedade contemporânea.
 
Para Imbernón (2011), o momento histórico pelo qual passa a educação, como profissional, o professor necessita ter participação e posicionamento crítico/reflexivo acerca dos processos de inovação e mudanças que vêm acontecendo, sem deixar de ser flexível e dinâmico. De acordo com Mendes e Baccon (2015) “ser professor é estar imerso em relações interpessoais, é conviver com pessoas e estar sujeito às transformações sociais”.
 
Ens e Donato (2011) mencionam que estamos mergulhados na “Era do conhecimento” e isso traz implicações na função do professor, levando em consideração a complexidade de sua profissão, devido às pressões e tensões constantes. O professor tem o dever de conscientizar o aluno para que se sinta capacitado para viver em uma sociedade em constante processo de mudanças e incertezas, possibilitando-o para o enfrentamento dos desafios na luta por mais igualdade e justiça social para todos.
 
Para ser educador, não basta ter contrato de trabalho numa escola particular ou num emprego público. É preciso competência, habilidade e comprometimento. Ninguém se torna professor do dia para a noite, sem aprendizagem e preparação satisfatórias. Exige-se tempo e aperfeiçoamento constante.
 
As transformações sociais se estendem ao professor e a todos os envolvidos no processo educacional. Os professores vistos pela plasticidade social se apresentam e se representam de modo plural, bem como sua prática e suas adequações ao contexto histórico e social (MONTENEGRO, 2019). A autora afirma que a prática docente, como o próprio processo de aprendizagem no percurso histórico da educação se ressignifica constantemente, pois o professor na busca da construção de sua identidade social e a partir de sua formação tem uma representação que se reconfigura no espaço e no tempo.
 
A docência simboliza a função social da educação juntamente com a escola e a gestão, bem como as relações estabelecidas com a comunidade e os alunos. O professor como agente ativo contribui com a construção social dos sujeitos, e também se constrói e reconstrói constantemente no meio social em que a escola está inserida. Por isso, a prática deve ser refletida, a metodologia sempre avaliada, as barreiras superadas em prol de uma educação emancipatória (MONTENEGRO, 2019).
 
Para exercer o papel de educador, é preciso compromisso político e competência técnica. Segundo Montenegro (2019) os desafios do processo educacional, a exemplo da estrutura escolar física e curricular, formação inicial e continuada dos professores, não podem limitar o processo de aprendizagem.
 
Contudo, mesmo com entraves significativos, os professores, alunos, responsáveis e a sociedade como um todo devem ressignificar o espaço escolar enquanto lugar de construção e reconstrução contínua do saber. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho é investigar os fatores que propiciam e/ou impulsionam a desmotivação na carreira docente.
 
Tem-se observado e ouvido na sala dos professores, nas reuniões pedagógicas, dias de trabalhos coletivos como em outras dependências da unidade escolar, os desabafos e preocupações dos professores relativos às condições de trabalho, ao insucesso dos alunos, à desresponsabilização dos pais, aos baixos salários, à falta de materiais pedagógicos, espaço físico precário e à indisciplina dos alunos cada vez mais acentuada, entre tantas outras situações que os afligem no dia-a-dia (MIRANDA, 2012).
 
Assim, elencou-se como pergunta norteadora desse estudo “Quais são os fatores que corroboram com a desmotivação na carreira docente?
 
Por meio de pesquisas sobre os aspectos e fatores de desmotivação da classe docente, propõe-se investigar as causas da desmotivação na carreira do professor, bem como assimilar e ajudar a compreender a influência do fator desmotivação no desempenho dos docentes que atuam no ensino fundamental.
 
2. METODOLOGIA
 
Para a realização desse trabalho foi utilizado como método, a pesquisa denominada “estado da arte”. A inquietação e desejo de compreender alguns fatores que levam muitos professores a ficarem desmotivados na carreira docente é a razão pela qual decidiu-se escrever esse artigo.
 
Por meio do Estado da Arte encontram-se importantes contribuições do campo teórico que possibilitam esclarecer indagações e inquietações. Aportes significativos dentro da mesma área de conhecimento foram as bússolas que guiaram todo o percurso da pesquisa e trouxeram experiências inovadoras, evidenciando a necessidade de acompanhar o desenvolvimento e as mudanças pertinentes ao campo da educação.
 
Precisa-se estar atento, em cada texto que se lê e no conjunto deles, as facetas sobre as quais o fenômeno vem sendo analisado (SOARES; MACIEL, 2000, p. 4). De acordo com Romanowski e Ens (2006, p. 3) embora recentes, os estudos de “estado da arte” que objetivam a sistematização da produção numa determinada área do conhecimento já se tornaram imprescindíveis para apreender a amplitude do que vem sendo produzido. Os estudos realizados a partir de uma sistematização de dados, denominada “estado da arte”, recebem esta denominação quando abrangem toda área do conhecimento, nos diferentes aspectos que geram produções.
 
Por exemplo: para realizar um “estado da arte” sobre “A desmotivação na carreira docente” não é suficiente ler apenas alguns trabalhos como teses, dissertações e resumos. É extremamente importante estudar as produções feitas em congressos na área e ver as publicações de periódicos da área.
 
Brandão, Baeta e Rocha (1986, p. 7) afirma que, esse tipo de pesquisa tem por objetivo realizar levantamentos do que se conhece sobre um determinado assunto a partir de pesquisas realizadas em uma determinada área. Soares (1993, p. 4) acrescenta que a pesquisa “estado da arte” nos conduz à plena compreensão do estado atingido pelo conhecimento a respeito de determinado tema, sua amplitude, tendências teóricas e vertentes metodológicas.
 
No decorrer do processo de realização da pesquisa do tipo estado da arte foram utilizados equipamentos eletrônicos como notebook e smartphone com acesso à internet. As palavras-chave usadas nas buscas de textos para leitura foram: desmotivação, professor, fatores, carreira docente.
 
Para selecionar as referências bibliográficas foram acessados vários sites destinados para pesquisas acadêmicas como: Google acadêmico e repositórios de universidades.
 
Após a seleção das referências foi feita a primeira leitura dos conteúdos pertinentes ao assunto abordado. Durante a leitura e análise dos resumos selecionados ocorreu o descarte de alguns textos que não tinham muito a acrescentar ao tema estudado. Nessa etapa, foi necessário ler os resumos mais de uma vez para certificar o descritor nas palavras-chave e decidir pela continuação da leitura e aproveitamento do material pesquisado.
 
Em seguida, houve uma segunda leitura analítica do material selecionado, depois fez-se a organização e síntese dos dados e das informações relevantes, após a apuração dos dados eles foram tabulados para posteriormente serem utilizados na produção desse artigo.
 
3. FATORES AGRAVANTES DA DESMOTIVAÇÃO NA CARREIRA DOCENTE
 
Faz parte da função do professor orientar os alunos para um futuro melhor e, como profissional, poder se sentir honrado quando vê seus educandos adquirindo conhecimento e prática com qualidade.
 
Entretanto, ao realizar o estudo de alguns textos, a partir de uma sistematização de dados, denominada “estado da arte”, foi possível fazer o levantamento dos fatores agravantes da desmotivação na carreira docente. São eles: (1) capacitação do professor; (2) a relação entre professor e aluno; (3) o ambiente escolar; e (4) a relação entre a família e a escola.
 
Na maioria dos textos analisados, os autores destacam esses fatores, como aspectos, chave da desmotivação, na carreira docente. A seguir faremos uma breve reflexão sobre cada um deles.
 
3.1 CAPACITAÇÃO DO PROFESSOR
 
A capacitação do professor deve ser prioridade para que o aluno, através da aprendizagem consiga alcançar o seu objetivo. Além do conhecimento técnico da matéria, o docente precisa contribuir com o desenvolvimento da capacidade do aluno em resolver situações do dia a dia e analisar criticamente as situações. Ser professor não é apenas transmitir conhecimento, mas também buscar o que cada um tem de melhor para contribuir na construção do seu meio (MACHADO; ALVES, 2013).
 
Nesse sentido, Machado e Alves (2013) falam sobre a importância de 10 verbos a serem usados, em um ambiente escolar, e que estão diretamente vinculados à capacitação do professor. São eles: “Interrogar‐se, partilhar, investigar, compreender, decidir, escrever, difundir, debater, comprometer‐se e exigir”.
 
O professor deve interrogar-se sempre através da técnica de autoavaliação para verificar se está alcançando bons resultados e percorrendo o caminho mais adequado. Neste momento, importa questionar se as estratégias, em sala de aula, estão surtindo efeito ou se é necessário mudar forma de abordagem. Caso seja necessário, procurar envolver outros professores, alunos e pais no processo de mudança.
 
Em seguida, é de extrema importância que o professor partilhe suas ideias, frustações, pesquisas, iniciativas e conhecimento com aqueles que precisam e, principalmente, com os novos educadores do ambiente escolar. É muito comum professores novatos serem bombardeados de críticas pelos professores veteranos que têm dificuldade de partilhar suas frustrações, medos, decepções e de absorver novas ideias.
 
Investigar o que acontece na vida dos seus estudantes também é fundamental para professor exercer um bom trabalho. Um aluno considerado bom em sala de aula e de repente muda de comportamento drasticamente deve ser questionado para se saber se tem e quais são outros problemas e atividades, fora do ambiente escolar, que interferem em sua vida.
 
Ao saber algo que desvia do normal dia a dia do discente, torna-se fundamental investigar também o desfecho e compartilhar com outros professores, a fim de que tenham a mesma sensibilidade para solucionar tal situação. O ambiente escolar deve ser entendido como um local de transformação e democratização do conhecimento.
 
A partir deste processo investigativo torna-se possível desenvolver o senso de compreensão do professor, o que é significa uma atitude muito virtuosa. O professor que investiga provavelmente será aquele que analisará contextos e fará reflexões sobre o comportamento de seus discentes e de seus colegas de trabalho. Será o profissional capaz de elencar com mais facilidade ações para contornar as tribulações e tomar as decisões mais assertivas.
 
O professor capacitado é aquele que saberá quando se deve decidir por uma conversa com o aluno, ou realizar uma ação disciplinar corretiva a até mesmo quando julgar, acolher, tentar entender a origem do problema e propor solução.
 
A quinta característica do “bom professor” está vinculada à sua capacidade de se comunicar e registrar o conhecimento, ou, em outras palavras, a sua capacidade de escrita. A escrita surgiu há mais de 4 mil anos a. C., sempre foi utilizada para transmitir conhecimento, registrar a história e melhorar a habilidade de comunicação. Na escola, escrever é fundamental para qualquer matéria, porque desenvolve a habilidade de se comunicar com os demais, melhora o processo de interpretação, além de potencializar a capacidade de memorizar os ensinamentos.
 
As ações dos professores ao difundir e debater uma melhor visão de escola representam atos de amor à profissão, pois a experiência de se unirem aos alunos e pais para demostrar o bom trabalho que se pode fazer no ambiente escolar, vai gerar grandes ideias e mudanças que, se colocadas em prática, transformará vidas e estimulará toda a comunidade escolar.
 
Na oportunidade dos debates, além de se perceberem agentes de transformação de todo o ambiente escolar, como qualquer outro ser humano, os professores perceberão como são passíveis e mediadores de transformação.
 
Assim, sente-se a escola como um dos principais agentes de mudança na vida das pessoas e para que ela seja efetiva, é preciso comprometimento com a mudança e coragem de exigir, além da comunidade escolar, do próprio governo, condições para que as mudanças não fiquem apenas na ideia ou no papel.
 
O que temos de fazer, numa sociedade em transição como a nossa, inserida em um processo de democratização fundamental, com grande parte do povo se emergindo, é tentar uma educação que seja capaz de colaborar com ele na indispensável organização reflexiva de seu pensamento. Educação que lhe coloque à disposição, meios com os quais seja capaz de superar a captação mágica ou ingênua de sua realidade, por uma dominantemente crítica. Isto significa então colaborar com ele, o povo, para que assuma posições cada vez mais identificadas com o clima dinâmico da fase de transição. Posições integradas com as exigências da Democratização fundamental, por isso mesmo, vão combatendo a inexperiência democrática (FREIRE, 1997).
 
3.2 A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO
 
Saber relacionar-se com o outro é um fator importante para a consolidação do bem viver em sociedade. Na escola, não é diferente porque seu espaço é constituído por uma gama enorme de relações, onde cada seguimento se relaciona entre si e com todos os outros, sobretudo com os alunos, direção, equipe administrativa, funcionários, prestadores de serviços, gerando-se múltiplas possibilidades de vários tipos de relações entre todos os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
 
Destaca-se, no entanto, a relação entre professor e aluno que será abordada neste trabalho com o intuito de melhor compreender a influência que um exerce sobre o outro e as suas consequências.
 
Todo professor em sua sala de aula sabe quão grande é a importância de se ter e manter uma boa relação com os seus alunos. Quando esta é real, o professor consegue estabelecer com seus alunos, de forma clara, ética e consensual os combinados, as regras e objetivos trabalhando na mesma direção em busca da aprendizagem, o que garante sucesso à ambas as partes.
 
Segundo Bariani e Pavani (2008), a relação entre professor e aluno apresenta duas direções; fazendo se entender que o professor exerce influências sobre o aluno, assim como o aluno pode influenciar o professor causando efeitos recíprocos. As ações influenciadoras de cada sujeito dessa relação acontecem de forma esperada devido a rotina e ao modelo de trabalho que envolve professor e aluno.
 
Para os autores Tunes, Tacca e Junior (2005), essa relação vai além do esperado, pois os envolvidos mergulham numa diversidade de possibilidades e interatividade, com histórias e experiências de vida, que produzem possibilidades novas de se relacionarem, até mesmo sem intenção. Até mesmo, Inconscientemente, professores e alunos podem causar transformações um no outro.
 
Morales (1999) afirma que o comportamento do professor e a maneira como ele se vê, influi na forma em que gere sua sala de aula, na excelência e no efeito geral da relação com o aluno.
 
O impacto e a influência do professor sobre o aluno vão além dos conhecimentos e habilidades que o mesmo ensina.
 

Por isso, pensar nos efeitos não intencionais alcançados, como aquisição de valores, atitudes, hábitos e motivação, os quais podem transformar em finalidades conscientes intencionais, podem refletir significativamente no ensino aprendizagem do aluno. (BRAIT et al., 2010).

O empenho em manter o bom convívio entre as duas partes deve considerar a expectativa e o desejo dos professores de que os educandos sejam envolvidos, tenham a responsabilidade e o interesse e não confundam a sua obrigação.
 
Sobre a relação entre professor e aluno é comum ouvir que o professor deve ser um espelho para o seu aluno. Sua prática e seu comportamento profissional e pessoal refletem de modo positivo e/ou negativamente sobre seus alunos, de forma que consciente ou não, professores e alunos ensinam e aprendem mutuamente apesar das suas diferenças de idades, experiências de vidas, credos e crenças.
 
A sala de aula pode ser comparada a um laboratório vivo, de experiências em convivências humanas extraordinárias, onde seres humanos têm a oportunidade de se humanizar. Dentro desse laboratório é que se dá a conhecer a grandeza das diversidades humanas e suas complexidades. Formado por relações entre alunos e professores com diferentes tipos de personalidades e variadas atitudes comportamentais, hormonais, emocionais e cognitivas, este laboratório de saberes sofre alterações constantes provocadas por forças externas e internas, intrínsecas e extrínsecas, de cada um dos componentes.
 
Com toda essa diversidade concentrada em uma sala de aula, temos diferentes tipos de reações. Nem todos “alunos e professores” conseguem ter uma relação harmoniosa, pacífica e afetiva, tampouco encaram a sala de aula como uma oportunidade de se tornarem seres humanos melhores. Ademais, existem alguns casos em que essa relação se torna tão desgastante que tem sido transformada em atos degradantes e violência dentro do espaço escolar. A esse respeito:
 
“Ser professor é investir no futuro, trabalhando cotidianamente as aprendizagens. Seria um equívoco perder as esperanças, quando na verdade o trabalho do professor consiste em convencer cada aluno contra qualquer tipo de fatalidade.” (MEIRIEU, 2006 apud SILVA, 2012, p. 19). 10 Dentro deste contexto é que se reitera a importância de professores motivados e preparados para as adversidades, bem como a necessidade de melhorias nas condições de trabalho para esta classe profissional.
 
O processo ensino e aprendizagem está pautado nas relações e é o professor quem deverá inspirar nos educandos, através do seu exemplo, o protagonismo e convencê-los de que a educação é o caminho para transformarem suas vidas e a sociedade.
 
3.3 O AMBIENTE ESCOLAR
 
É confortável morar em uma casa suja e cheia de buracos nas paredes e no telhado? Chão desgastado, móveis velhos, sem água quente para tomar um banho, às vezes sem panelas adequadas para fazer uma janta ou almoço. Já pensou em dirigir um carro com buracos no teto, janelas quebradas, sem escapamento e com o tanque furado?
 
Pois bem, a falta de estrutura básica para realizar atividades simples no nosso dia a dia é algo que desmotiva qualquer pessoa, seja qual atividade ela esteja realizando. Infelizmente, a falta de recursos básicos nas escolas públicas do país ainda é uma realidade que muitos professores, alunos e funcionários sofrem constantemente.
 
Uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) (BRASIL, 2015) mostrou que ainda falta muito para que professores e alunos possam estar em um ambiente digno para ensinar e aprender. Quase 60% das escolas avaliadas não possuem sala para professores, banheiros separados dos alunos e bibliotecas. Em relação a equipamentos, a situação não é diferente, pois quase 50% das escolas não possuem copiadoras e 70% não possuem retroprojetores.
 
Além de interferir no trabalho do professor, a falta de material e espaço adequado para as atividades desmotivam muito os alunos que necessitam de um ambiente melhor para aprenderem. Ainda que várias escolas possam contar com excelentes diretores e professores dedicados ao máximo para garantir a educação dos jovens, é necessário conforto, ainda que mínimo. No entanto, o mínimo ainda é uma realidade muito distante para muitos, principalmente para os alunos e professores das escolas públicas do Brasil.
 
O fato de em uma única escola, centenas de alunos, além de professores e funcionários, passarem horas em salas de aula, isto requer que se sintam bem em criar um sentimento de pertença àquele lugar e para que ela seja vista como uma segunda casa.
 
Salas de aulas superlotadas, carteiras insuficientes para todos os estudantes e desgastadas pelo tempo, falta de ventilação adequada, com ventiladores ou ares-condicionados apresentando defeitos, constituem alguns dos motivos pelos quais se torna quase impossível ensinar ou aprender em determinados ambientes escolares.
 
Em pleno século XXI, mais precisamente no ano de 2022, é triste, mas possível de se encontrar escolas sem laboratórios completos de informática, ou de cursos preparatórios para que os professores possam usar da tecnologia em sala em aula de forma funcional. Mesmo quando existem computadores disponíveis, são equipamentos ultrapassados e impossibilitados de serem usados.
 
Uma alternativa para remediar esse quadro é, além de cobrar incisivamente do poder público, desenvolver ideias e projetos que ajudam a envolver pais, alunos e funcionários em uma ação de conservação do espaço escolar, sabendo-se de que devido à burocracia, verbas para restauração e compra de materiais podem demorar um pouco mais do que o normal, Além disso, é bom que se faça com que todos sintam a responsabilidade de cuidar do que é seu, criar novos métodos de se ensinar, aprender e avaliar, e incluir todas essas ideias e projetos, como prioridade do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada escola.
 
O ponto norteador para esse trabalho são as Diretrizes Curriculares Educacionais, na perspectiva das teorias críticas da educação, dando-se destaque às metodologias que priorizem diferentes formas de ensinar, aprender e de avaliar. Desta forma, é necessário que o PPP, o plano de trabalho docente e os demais documentos da escola levem em consideração o currículo escolar e o sujeito que aprende, destacando o educando e os profissionais da Educação em suas características físicas, intelectuais e emocionais e todos os profissionais da educação.
 
Diante disso, exige-se uma reorganização escolar que priorize espaços de estudos e reflexão sobre currículo, conhecimento e relações que se estabelecem no espaço escolar, com base em referenciais teóricos norteadoras da prática educacional. Portanto, a escola tem autonomia para construir práticas que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem e melhorem a qualidade educacional dos seus alunos (MORETTI, 2009).
 
Esse cenário cria uma imensa bola de neve, pois sem infraestrutura correta, não somente professores ficam desmotivados, como também pais e alunos criam um sentimento de descrédito na educação e na transformação, que se veem sem perspectivas para um futuro melhor.
 
A evasão das escolas começa a se tornar mais frequente, professores abandonam suas profissões, entre outros problemas, o que torna quase impossível um aluno de escola pública competir com outro de escola particular. É necessária a participação de todos os envolvidos, para que haja melhora nesse quadro e dignidade para que se possa estudar e trabalhar, ter orgulho de estar ali e do que faz. Não se trata apenas de um detalhe que interfere no processo do ensino e aprendizagem, como foi mostrado, pois viemos de um processo de abandono pelo poder público desde séculos atrás. Professores sem apoio para que se possam qualificar, ou finalizar uma formação mais adequada, terem espaços funcionais entram em greve para que possam exigir direitos e inclusive receber os seus salários em dia. 
 
Além da remuneração baixa, excesso de trabalho e burocracia, mesmo tendo que lidar com todos esses problemas dentro e fora da sala de aula, infelizmente a imagem que é pintada do profissional da educação não é a melhor, e a cada dia que passa, o desrespeito e a desmotivação aumentam, dificultando ainda mais a realização de um trabalho melhor. Pode-se dizer que o professor de escola pública faz um verdadeiro milagre com o tempo, persistência e os poucos materiais que tem à disposição.
 
Uma alternativa para um caminho em direção à mudança seria uma participação mais efetiva da sociedade, do colegiado de forma geral, ou seja, pais, alunos, professores, diretores e funcionários, bem como uma postura mais democrática dos gestores que provoca e acolhe a participação efetiva de todos. Este último ponto tem sido tema de diversos debates, os quais têm evoluído de forma significativa, pois tal participação é fundamental para propor mudanças às Coordenadorias Regionais de Educação (CRE), que são as instâncias intermediárias entre a Secretaria de Educação e as escolas (FERREIRA, 2016).
 
3.4 A RELAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E A ESCOLA
 
Para Chalita (2001), por melhor que seja a escola, por mais bem preparados que estejam seus professores, o ambiente escolar nunca supre a carência deixada por uma família ausente. Pai, mãe, avó ou avô, tios, quem quer que tenha a responsabilidade pela educação da criança deve participar efetivamente sob pena de a escola não conseguir atingir seu objetivo.

 
Um desafio muito grande é lidar com o que acontece fora da escola. O ambiente familiar pode ser o melhor lugar na vida de um jovem, ou o seu pior pesadelo. Todo o convívio social é muito importante para crianças e adolescentes, sobretudo, quando se têm os adultos a sua volta, pois eles são responsáveis por nortear seus passos, influenciar ações, falas, opiniões, gostos e outras coisas.
 
Os alunos também se refletem uns nos outros, se tornando, além de alunos, seus próprios educadores, pois transmitem o que são entre si sendo influenciados e influenciando outros a sua volta, dentro e fora dos muros das escolas. Como isso acontecerá vai depender de toda equipe de educadores em geral e principalmente familiares que não podem escapar dessa responsabilidade, já que fora da escola, são os professores da vida de seus filhos, netos, sobrinhos etc.
 
Um jovem que recebe uma boa educação em casa e tem noções de regras, consequência de seus atos e respeito ao próximo, possui muito mais chances de vivenciar uma boa convivência com outros alunos e professores do que outro estudante que não tenha recebido essa mesma instrução familiar.
 
O envolvimento dos familiares na educação dos jovens é muito importante, pois as ações educacionais não devem ocorrer de forma unilateral e sim compartilhada: uma boa educação em casa e um bom ensino na escola gera resultados significativos em ambos os lugares.
 
O processo de ensino aprendizagem deve ser partilhado entre professores e familiares. A família deve acompanhar reuniões escolares e cultivar o hábito de visitar o aluno na escola, conversar com professores para verificar comportamentos e frequência às aulas, ler avisos nos cadernos ou agendas, verificar atividades realizadas etc. Assim como o educador deve ter o hábito se preocupar com o que acontece fora da escola quando observa algo de diferente no comportamento do educando.
 
Atitudes como essas podem transformar a vida dos alunos, familiares e professores, pois são ações simples como essas que um adolescente pode observar que tanto familiares quanto à escola se preocupam com os detalhes que acontecem em sua vida, criando um sentimento de elevação na autoestima do aluno e valorização pessoal.
 
O aluno motivado e valorizado pode criar um sentimento de reconhecimento do espaço onde estuda e também dos professores que o ensinam, como despertar nos professores o sentimento de valorização profissional, devido aos bons resultados obtidos.
 
Nesse sentido, ter o apoio da família na educação dos alunos é um pilar a ser mantido a todo custo, pois o professor já se vê tão abandonado pelo governo, pela infraestrutura, pela baixa remuneração, que mesmo após tudo isso, ele acredita que o trabalho em conjunto com os responsáveis pode fazer a diferença.
 
4. A DESMOTIVAÇÃO DOCENTE
 
A desmotivação pode ser definida como a ausência de motivação, de ânimo, de estímulo ou de vontade para fazer alguma coisa; desestímulo, desinteresse. É o ato ou resultado de desmotivar, de perder a motivação (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2020).
 
Segundo Santomé (2006) “sempre que alguém conversa com um grupo de professores é comum ouvir as palavras desmotivação, desmoralização e desilusão”. Esse e outros autores relatam que a maior causa de descontentamento existente nas redes públicas de ensino com a educação é a presença de professores desmotivados, sem perspectivas de melhoria profissional e baixos salários.  
 
São muitos os fatores que corroboram para a desmotivação da equipe docente de uma escola. O professorado é afetado pela precariedade de formação (técnica e emocional) e pelas más condições de trabalho, onde equipamentos e materiais pedagógicos são escassos, ou inexistem. Por consequência, as atividades realizadas com os alunos são permeadas pela baixa autoestima, fator que aumenta a desmotivação docente e afeta a motivação do aluno.
 
Ademais, as mudanças e transformações que vêm ocorrendo na sociedade pós-moderna trouxeram para a escola demandas que sobrecarregam o professor, o qual se encontra despreparado para enfrentá-las.
 
Devido à obrigatoriedade do ensino por volta dos anos oitenta e a sua massificação, o modelo de educação atual é constituído de salas de aula cheias de alunos oriundos dos mais diversos formatos familiares, quase sempre vindos de famílias desestruturadas, que não acompanham e nem participam da vida estudantil do escolar.
 
Recai sobre o professor a atribuição de conseguir fazer um “milagre” para dar cabo às incumbências educacionais que antes eram de responsabilidade das famílias. Disciplinas eletivas como projeto de vida, educação ambiental, programa saúde na escola, agente dengueiro, valores, habilidades socioemocionais e educação para o trânsito se tornaram responsabilidades do professor.
 
Além de fornecer conhecimentos técnicos e ser o principal ator do processo ensinoaprendizagem, o professor tornou-se responsável pelo desenvolvimento pessoal e social dos alunos, atuando como investigador do conhecimento, promotor da saúde e do bem-estar, dinamizador de turmas, administrador e preceptor.
 
Para Nóvoa (1991), a partir dos anos oitenta tem aumentado significativamente, a pressão sobre os professores que estão sujeitos a assumir um conjunto de responsabilidades cada vez maior. Além de atender às demandas inscritas na própria matriz da profissão, o docente assume, via pressão social, inúmeras outras funções que lhe são impostas. Sem tempo para fazer uma reflexão, a existência do processo burocrático doloroso tem trazido consequências desastrosas na evolução da carreira docente.
 
Igualmente, no que tange à valorização social e profissional, o fato de ser professor não lhe dá nenhum status e nenhum reconhecimento à altura que se merece. Para uma boa parcela da sociedade, o professor é um coitado e o salário que ganha não compensa pelos desaforos e desrespeitos que recebe de muitos alunos.
 
A situação docente contemporânea tem sido degradante no que tange ao reconhecimento público e prestigioso que a referida profissão merece. Para Seco (2002), a pouca importância que se tem dado ao “saber escolar”, à invasão tecnológica, à massificação do ensino, à escolaridade obrigatória, à inversão de valores da sociedade, os prejuízos salariais, o grande número de profissionais docentes, a existência de um corpo docente pouco remoçado, se tornam fatores apontados, atualmente, como justificativas para a diminuição do prestigio, do respeito e do reconhecimento da profissão de professor.
 
A falta de respeito e consideração pela profissão docente tem levado os professores a adquirir baixa autoestima e serem responsabilizados pelo mau desempenho dos alunos, pela indisciplina em sala de aula e pelo fracasso escolar dos estudantes.
 
As mudanças curriculares, nos grupos de gestão, nas formas de avaliação e de enfrentamento dos conflitos, bem como as novas maneiras de se relacionar com os pais e com a comunidade tem gerado para o professorado a responsabilidade pelo fracasso escolar do aluno, e quiçá de todo sistema educativo, tendo a necessidade de prestar contas públicas do seu trabalho, sendo sistematicamente culpabilizado na maior parte do tempo.
 
Para Nóvoa (1995), a ascensão negativa do professor tem crucificado a classe docente como responsável global por todas as mazelas existentes no sistema educacional; e isso vem se tornando um legado da história atual na carreira dos professores.
 
Para Afonso (1999) e Esteves (1995), a desmotivação entre os docentes está atrelada a uma imagem ruim que a sociedade tem da educação escolar pública e da profissão de professor. Soma-se a isto a pouca valorização e/ou divulgação de melhorias educacionais alcançadas e o desinteresse da sociedade e dos governos para se alcançar o que ainda falta: uma escola pública, gratuita e de qualidade, com a valorização merecida dos profissionais da educação.
 
Nóvoa (1995) menciona que muito tem se falado “por aí” da situação deplorável de muitas escolas com alunos que “não sabem nada” ou tem a “cabeça cheia de coisas inúteis” por causa dos professores incompetentes ou inoperantes que trabalham em tal instituição de ensino.
 
Não se leva em consideração, dentro deste contexto, as condições culturais e socioeconômicas em que vivem os alunos, e as condições precárias de aprendizagem em que estão submetidos, agravando a falta de interesse e/ou de concentração para a aprendizagem. Este pré-julgamento não destaca o excesso de alunos por turma, o desajustamento dos programas de ensino, as atitudes de passividade e/ou não colaboração dos pares, a dificuldade de adaptação da escola aos tempos atuais e a falta de medidas eficientes e eficazes ao combate do fracasso escolar do aluno.
 
De maneira geral, pode-se dizer que são diversos os fatores que levam o professor a perder a motivação para realizar suas atividades: a falta de reconhecimento, o excesso de burocracias, a pouca remuneração salarial, a sobrecarga de trabalho são alguns fatores contributivos para uma carreira de frustração e desmotivação de uma grande parcela dos educadores da escola pública, que chega até mesmo levar o profissional muitas vezes abandonar a carreira docente, pois, a realização profissional não se encontra desvinculada da realização pessoal.
 
De acordo com Guerra (2000), quando o professor trabalha desmotivado ele simplesmente cumpre seu horário de trabalho, assiste reuniões, dá aula, dá nota, partilha à docência e realiza as atividades burocráticas. Dificilmente ultrapassará os cumprimentos dessas obrigações administrativas (GUERRA, 2000). O autor ainda sugere que, para saírem desse marasmo e avançar por caminhos mais empolgantes e motivados é necessário que os professores atuem em equipes, que dialoguem, projetem e trabalhem como uma comunidade, sem bloqueios para o novo e para aprendizagem. Assim disfrutarão da sua profissão, tornando o fardo mais leve e agradável.
 
Guerra (2000) sintetiza essa situação, afirmando a esse respeito:
 

Se não estão motivados, não se entregarão de corpo e alma a sua profissão, nem desfrutarão das dimensões mais reconfortantes. Por outro lado, se o exercício da profissão não lhes traz recompensas não se sentirão motivados. (GUERRA, 2000, p. 71).

 
No dia a dia do exercício da sua profissão o docente faz o uso demasiado de energias mentais e físicas, pensando e elaborando diuturnamente estratégias pedagógicas para dar conta de tamanha demanda, que tem gerado fadigas, esgotamento físico e mental devido às cobranças exacerbadas. 
 
Miranda (2012) aborda que essa relação conflituosa e desequilibrada de muitas demandas, desgaste físico/mental e a culpabilização por não conseguir atingir a aprendizagem mínima dos estudantes gera uma situação de stress e angústia no professor. Chega a ser desonesta a competição que o professor tem com o aluno para instruí-lo no desenvolvimento da aprendizagem e nas relações de interação, mediante tamanha desvalorização e desmoralização com que é tratado o grupo docente.
 
De acordo com Carita e Fernandes (1997), a indisciplina dos alunos provoca no professor uma perturbação constante por sentir-se desafiado, questionado e até desprezado enquanto pessoa. Breuse (1984) apud Lopes (2001) reforçam dizendo que a falta de interesse, a indisciplina, o desrespeito e a indiferença do aluno para com o professor provocam na classe docente um grande efeito psicológico de desmotivação, afetando até mesmo sua condição humana e profissional. A violência psicológica praticada contra o professor lhe traz um sentimento de diminuição e desprezo que afeta a sua autoimagem e sua carreira profissional.  
 
Vive-se um momento histórico de desrespeito e desvalorização na educação que se questiona a respeito da situação de ser um professor e o que essa situação tem a oferecer aos futuros docentes! Infelizmente não conseguimos vislumbrar um futuro promissor diante dessa realidade de desmotivação, desvalorização e desamparo em que a categoria se encontra (SECO, 2002).
 
Não é incomum ver professores ensinando em sala de aula da rede pública sem ao menos uma formação básica para isso, ou ter que comprar materiais com o próprio salário para trabalhar, já que o recurso não chega à escola, gerando uma dificuldade muito grande na vida desse educador e reforçando sua desmotivação profissional, ao longo da vida. Para o estudante também fica mais difícil, pois a mesma desmotivação que abraça o professor, também o abraça como toda a sala de aula.
 
A banalização desses problemas, por parte do governo, cria uma força muito poderosa para que o problema continue e torne bem comum o abandono dos professores das salas de aula, e sua busca por um novo ramo de trabalho. Santomé (2006) e Lopes (2001) apud Miranda (2012), falam de alguns professores que por mais que tentem uma inovação, ou saiam da faculdade com ideias de transformação na educação, existem vários fatores que os auxiliam na desmotivação pela profissão, assim confirmado:
 

O ambiente social de ceticismo e de banalização, a falta de incentivos aos professores mais inovadores, não lhes reconhecendo o trabalho e comprometimento com a vida quotidiana nas escolas, uma continua ampliação das funções encomendadas à educação e uma maior visibilidade dos efeitos do trabalho dos professores, são mais algumas das razões para que os professores se sintam desmotivados. (SANTOMÉ, 2006 apud MIRANDA, 2012, p. 8).

 
Ainda segundo Lopes (2001), a desmotivação está relacionada às mudanças socioeducativas que incidem nas relações com a escola e o restante sistema sociocultural, sobre o professor recai a responsabilidade de uma situação social global. 
 
5. CONSIDERAÇÕES
 
Os professores são peças-chave para a aprendizagem dos alunos. A maneira como eles se comportam, os desafios das suas necessidades profissionais, baixa produtividade e seus desejos têm grande interferência em todo o processo, muitas vezes causando problemas de relacionamentos com os colegas, entre outros.
 
O professor desmotivado reclama de tudo que lhe é proposto para fazer, tem pouca iniciativa, apresenta atitudes pessimistas, pratica ações repetitivas, fica sempre na mesmice e em casos mais graves sofre de depressão e outros tipos de patologias mentais.
 
Não é incomum de se ver escolas funcionando pela metade do período devido à falta de professores, prejudicando a aprendizagem dos alunos. Também acontece com frequência a substituição de um professor por outro de disciplina diferente que não possuem domínio intelectual da matéria que está em falta, simplesmente para que não haja a dispensa dos estudantes.
 
Não se trata apenas da desmotivação profissional, mas das consequências: professores doentes; alunos e pais desacreditados na escola pública; gastos altos com professores substitutos; professores sobrecarregados devido à substituição de um colega; aprendizado defasado e a falta de esperança no futuro de cada criança e adolescente.
 
Outro detalhe de se pensar é na carga emocional que cada professor recebe durante as suas aulas. Sabemos que cada aluno sempre tem uma história, assim como qualquer pessoa, às vezes o docente tem que lidar com questões emocionais muito fortes que esses jovens trazem de casa, como violência doméstica, abandono dos pais ou responsáveis, preconceito e muitas outras coisas.
 
Existe um esforço emocional muito grande exigido pela profissão, além de lidar com baixos salários, desvalorização, falta de realização pessoal e profissional, cobrança das famílias de alunos, preparação de aulas em casa, correção de provas e trabalhos, além das aulas em si que são realizadas todos os dias.
 
É interessante pensar sobre as implicações do afastamento sobre a identidade docente, uma vez que a maioria dos educadores dedicou grande parte da sua vida a carreira do magistério. Faz-se necessário compreender a fragilidade do afastamento sob a ótica da dor de renunciar ainda que momentaneamente, a experiência, a trajetória profissional por uma condição que foi imposta pela qualidade do trabalho, excessiva carga de atividades ou insatisfação com as condições políticas, econômicas e sociais impostas pela profissão (LIMA; LEITE, 2017).
 
Lima e Leite (2017), falam sobre a dor de se afastar do que se gosta de fazer, do que dedicou anos, com cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamentos etc. não devido ao trabalho em si, mas por questões que circulam a profissão; maus tratos de alunos e seus familiares, abandono do governo, baixos salários, sobrecarga de tarefas. 
 
A profissão de professor está listada, há muito tempo, como uma das 10 profissões mais estressantes e que causam mais depressão (WORTH, 2011). Lecionar é uma dádiva do ponto de vista da possibilidade de contribuir significativamente para a sociedade, transformando vidas e contribuindo para a formação de mentes críticas. Porém, além da romantização, é evidente que a profissão docente configura um trabalho muito pesado, com excesso de demandas, que exige muita gestão da emoção e otimização do tempo, pois se leva em conta tantas responsabilidades e a incompatibilidade no que se refere às condições de trabalho, à remuneração e ao reconhecimento da sociedade. Num cenário assim, como já exposto, as consequências esperadas são: redução da qualidade de vida, problemas físicos, psicossociais e ineficiência no processo ensino-aprendizagem.
 
São muitos os fatores desmotivantes no contexto da profissão de ensinar, dentre os quais, destacamos neste trabalho, a multiplicidade de funções, a falta de capacitação, a relação professor-aluno, a ausência de condições adequadas no ambiente escolar e a relação família-escola.
 
Nesse sentido, buscou-se identificar os fatores que tem maior influência na desmotivação dessa classe profissional para então investigar as causas da desmotivação na carreira do professor, bem como assimilar e ajudar a compreender a influência do fator desmotivação no desempenho dos docentes que atuam no ensino fundamental.
 
As pesquisas feitas através do método “estado da arte” mencionam que existem alguns fatores vinculados à desmotivação e que ambos devem serem considerados no contexto da carreira profissional do professor, agente principal do processo ensino e aprendizagem.
 
Para o estudo exposto neste trabalho, foi possível concluir que os fatores que mais influem na desmotivação é a relação entre professor e aluno, a ausência de condições adequadas no ambiente escolar e a relação entre a família e a escola.
 
Assim, faz-se necessária a implementação de políticas públicas pautadas em priorizar a educação e a valorização da carreira dos docentes. Onde seja possível reconhecer a importância dos formadores de todas as outras profissões. Um plano de carreira sólido e consistente para classe, é uma boa sugestão de tentativa para sanar e/ou reduzir a desigualdade na consolidação do trabalho com conhecimento na sociedade.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
AFONSO, A. et al. Sentido da escolaridade, indisciplina e stress nos professores. Porto: ASA, 1999. 
 
BARIANI, I. C.; PAVANI, R. Sala de aula na universidade: espaço de relação interpessoais e participação acadêmica. Revista Estudos de Psicologia / 25(1) / 67- 75/ Janeiro – março / 2008.
 
BRAIT, L. F. R. et al. A relação professor/aluno no processo de ensino e aprendizagem. Itinerarius Reflections – Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do campus de Jataí – UFG. v.8 n.1 jan/jul 2010. ISSN: 1807-9342.
 
BRANDÃO, Z.; BAETA, A. M. B.; ROCHA, A. D. C. Evasão e repetência no Brasil: a escola em questão. 2. ed. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.
 
BRASIL. Ministério da Educação. Resultados das escolas na edição de 2015 do Enem já estão disponíveis. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/enem/resultados-das-escolas-na-edicao-de-2015-do-enem-ja-estao-disponiveis. Acesso em: 14 jan. 2022. 
 
CARITA, A.; FERNANDES, G. Indisciplina na Sala de Aula. Editorial Presença. Lisboa, 1997.
 
CHALITA, G. B. I. Educação: A solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2001.
 
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Significado de Motivação. In: Dicionário Online de Português, 2020. Disponível em: https://www.dicio.com.br/motivacao/. Acesso em: 20 maio 2020. 
 
ENS, R. T.; DONATO, S. P. Ser professor e formar professores: tensões e incertezas contemporâneas. In: ENS, R. T.; BEHRENS, M. A. (Orgs.). Ser professor: formação e os desafios na docência. Curitiba: Champagnat, 2011. p. 79-100. 
 
ESTEVES, J. M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Profissão Professor. Porto: Porto Ed., 1995. p. 93-124. 
 
FERREIRA, A. C. C. A Importância da Infraestrutura na Escola Pública: visão geral da importância estrutural no ambiente pedagógico. 2016. UFF. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/6025/1/Augusto%20Cesar%20Cardoso%20Ferreira.pdf. Acesso em: 18 jul. 2020.
 
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1997.
 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
 
GUERRA, M. A. S. A escola que aprende. 2ª edição. Porto: Cadernos do CRIAP, ASA, 2000.
 
IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 9. ed. v. 14. São Paulo: Cortez, 2011.
 
LIMA, É. J. C. de; LEITE, E. A. Docência e a depressão: fatores predominantes no processo. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 13., 2017. Anais do 13º Congresso Nacional de Educação. UNEB, 2017. p. 85-94.
 
LOPES, A. Mal-estar na docência? Visões, razões e soluções. Porto: ASA, 2001.
 
LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez Editora, 2011.
 
MACHADO, J.; ALVES, J. M. Melhorar a escola – Sucesso Escolar, Disciplina, Motivação, Direção de escolas e Políticas educativas. Porto: Faculdades de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos em desenvolvimento Humano (CEDH) & Serviço de Apoio a Melhoria das Escolas (SAME), 2013. ISBN 978-989- 96186-4-0.
 
MARCELO, C. Desenvolvimento profissional docente: passado e futuro. Ciências da Educação, n. 8, 2009. p. 7-22.
 
MEIRIEU, P. O cotidiano da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto Alegre: Artmed, 2006.
 
MENDES, T. C.; BACCON, A. L. Profissional docente: o ser e manter-se na docência. 2015. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2015.
 
MIRANDA, M. R. A. C. O Impacto da Desmotivação no Desempenho dos Professores. 2012. Dissertação de Mestrado, Porto: Universidade Católica Portuguesa, 2012. Disponível em: 10400.14/11906/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Final%20-%20Ros%C3%A1rio-.pdf" target="_blank">https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/11906/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Final%20-%20Ros%C3%A1rio-.pdf. Acesso em: 16 jul. 2020.
 
MONTENEGRO, R. K. A. Educação: possibilidades e caminho. Campo Grande: Editora Inovar, 2019.
 
MORALES, P. A relação professor-aluno – o que é como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
 
MORETTI, J. S. O professor e os desafios da escola pública paranaense. Paraná: Produção Didático-Pedagógica VOLUME II do Governo Estadual Paraná, 2009.
 
NÓVOA, A. Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1991.
 
NÓVOA, A. (org). Vida de professores. Porto: Porto Editora, 1995.
 
ROMANOWSKI, J. P.; ENS, R. T. As pesquisas denominadas do tipo “Estado da Arte” em educação. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6, n. 19, p. 37-50, dez. 2006. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/view/24176. Acesso em: 08 jan. 2022.
 
SANTOMÉ, J. A desmotivação dos professores. Mangualde: Edições Pedagógicas Ltda, 2006.
 
SECO, G. A satisfação dos professores – Teorias, modelos e evidências. Porto: ASA, 2002.
 
SOARES, M. B. As pesquisas nas áreas específicas influenciando o curso de formação de professores. Cadernos ANPED, n. 5, set. 1993.
 
SOARES, M. B.; MACIEL, F. P. Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/434265065/Soares-m-b-Maciel-f-Alfabetizacao-2000-n-1. Acesso em: 14 jan. 2022. 
 
UNES, E.; TACCA, M. C. V. R.; JUNIOR, R. S. B. O professor e o ato de ensinar. Cadernos de pesquisa, v. 35, n. 126, p. 689-698, set./dez. 2005.
 
WORTH, T. 10 careers with high rates of depression. In: Health, 26 fev. 2011. Disponível em: https://www.health.com/condition/depression/10-careers-with-high-rates-of-depression?. Acesso em: 8 jun. 2020.

¹ Doutor em Ciências de Educação pela Universidad Nacional de La Plata, mestre em História, especialista em Docência Universitária, licenciado e bacharel em História. E-mail: [email protected].
 
² Mestranda em Ciências da Educação pelo Instituto de Graduação e Pós – Graduação de Goiás – Universidade Americana – Flórida USA, especialista em Conteúdos e Metodologia de Ensino de Linguagem e licenciada em Letras. E-mail: [email protected]