ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA: TECNOLOGIA, TUTORIA E USO DO MOODLE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15540403
Anderson Silvério Bueno1
RESUMO
Esta pesquisa explora a Educação a Distância (EaD) na educação de nível superior, destacando a contribuição das ferramentas online nas aprendizagens significativas, colocando o estudante como o protagonista de sua aprendizagem, assim como a importância da tutoria nesse processo. Também foi abordada como a plataforma Moodle é utilizada por diversas instituições de educação pública brasileiras, analisando sua capacidade de promover uma aprendizagem rica e dinâmica, com um olhar pedagógico eficaz. A metodologia baseou-se em revisão de literatura, apoiada em autores consolidados na área e na legislação educacional vigente no país. A pesquisa indica que, na EaD, a função do professor tradicional é redefinida, ou seja, ele passa a ser um tutor essencial para orientar, acompanhar e incentivar o engajamento discente. Quanto ao Moodle, evidencia-se como um ambiente que alia recursos tecnológicos e didáticos, promovendo a autonomia do estudante através da mediação de um tutor. Conclui-se que o uso planejado dessa plataforma, somado à atuação estratégica dos tutores, constitui um pilar indispensável para a consolidação da EaD no âmbito universitário.
Palavras-chave: Educação a Distância. Moodle. Tutoria.
ABSTRACT
This research explores Distance Education (DE) in higher education, highlighting the contribution of online tools to meaningful learning, placing the student as the protagonist of their learning, as well as the importance of tutoring in this process. It also addressed how the Moodle platform is used by several Brazilian public education institutions, analyzing its ability to promote rich and dynamic learning, with an effective pedagogical perspective. The methodology was based on a literature review, supported by consolidated authors in the area and the educational legislation in force in the country. The research indicates that, in DE, the role of the traditional teacher is redefined, that is, he or she becomes an essential tutor to guide, monitor and encourage student engagement. As for Moodle, it stands out as an environment that combines technological and didactic resources, promoting student autonomy through the mediation of a tutor. It is concluded that the planned use of this platform, together with the strategic action of tutors, constitutes an indispensable pillar for the consolidation of DE in the university environment.
Keywords: Distance Education. Moodle. Tutoring.
1 Introdução
A expansão da Educação a Distância (EaD) no Brasil tem ampliado significativamente o acesso ao ensino superior, superando barreiras geográficas e sociais que antes limitavam a inclusão educacional. Esse avanço é resultado de políticas públicas e marcos regulatórios, como a Lei nº 9.394/1996 (LDB) e o Decreto nº 9.057/2017, que enfatizam a qualidade pedagógica como elemento fundamental para a integração da EaD nas instituições públicas. Nesse cenário, as tecnologias educacionais deixam de ser apenas meios para armazenar conteúdos, passando a transformar as relações entre ensino e aprendizagem.
O Moodle destaca-se como uma plataforma essencial nesse contexto, funcionando não apenas como uma ferramenta digital, mas como um ambiente interativo onde estudantes, tutores e professores colaboram na construção do conhecimento. Esse ambiente, alinhado a princípios pedagógicos inovadores, promove a autonomia do aluno, ao mesmo tempo em que reconhece a importância da orientação especializada oferecida pelos tutores, que desempenham papel crucial para estimular o engajamento crítico dos estudantes.
Este estudo adota uma abordagem qualitativa para investigar a interação entre tecnologia, mediação tutorial e autogestão da aprendizagem na EaD universitária, com foco nas funcionalidades do Moodle. A análise fundamenta-se em teorias educacionais e na legislação vigente, buscando compreender como a combinação desses elementos potencializa experiências formativas significativas, equilibrando a liberdade de estudo com o suporte pedagógico estruturado.
2 Tecnologia, Tutoria e Autonomia: Desenvolvendo uma EaD Humanizada
O processo educacional apoiado em ferramentas tecnológicas e digitais transcende a mera utilização de equipamentos computacionais ou conexões de internet. Representa uma profunda reestruturação das relações entre ensino e aprendizagem.
A compreensão do processo de ensino-aprendizagem é complexa e envolve a interação entre o estudante e o professor, inseridos em um contexto, nele incluídos as ferramentas e métodos adotados, com a finalidade de apoiar a construção do conhecimento. Assim, ao considerar que os estudantes se diferenciam quanto às habilidades e formas de aprender, é preciso repensar os recursos pedagógicos utilizados, vislumbrando nas ferramentas tecnológicas uma nova possibilidade para abranger as múltiplas formas de aprender e operacionalizar métodos ativos de ensinar (Valente, 2003, p. 45).
A modalidade EaD, ao estabelecer-se como alternativa educacional acessível para numerosos estudantes, posiciona o aprendiz como elemento central, demandando dele participação ativa e pensamento crítico no desenvolvimento de suas competências. De acordo com Moran (2015):
A inserção de tecnologias digitais no ambiente educacional possibilitou a criação de um espaço de aprendizado mais dinâmico e interativo. Plataformas de aprendizagem online, softwares educacionais, realidade virtual e aumentada, e recursos multimídia, tornaram-se ferramentas fundamentais para o ensino. Essas tecnologias não apenas facilitam a apresentação de conteúdos de maneiras inovadoras, mas também promovem um ambiente de aprendizagem mais engajador e personalizado, atendendo às diversas necessidades e estilos de aprendizado dos estudantes (Moran, 2015, p. 78).
A centralidade do aluno na Educação a Distância (EaD) não elimina a necessidade de uma orientação especializada; pelo contrário, requer a presença constante e qualificada do mediador tutorial. Conforme destaca Kenski (2012), “o tutor é o elo que liga o estudante ao conhecimento e à instituição, sendo essencial para a construção de sentido no processo de aprendizagem em EaD” (p. 51). O tutor vai além do papel tradicional de esclarecer dúvidas e aplicar avaliações, atuando como facilitador da trajetória acadêmica. Ele apoia o aluno na interpretação dos conteúdos, no estímulo ao pensamento crítico e na organização autônoma dos estudos, consolidando assim uma dinâmica interativa que confere profundidade e significado à formação.
Nisso, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle se apresenta como o espaço onde essas interações ganham forma concreta. Sua estrutura modular e personalizável oferece múltiplas ferramentas, como fóruns de discussão, atividades colaborativas, avaliações personalizadas e sistemas de acompanhamento, que favorecem a mediação tutorial e a participação ativa dos estudantes. Essa plataforma potencializa o papel do tutor, permitindo que ele crie ambientes de aprendizagem ricos e personalizados, essenciais para o sucesso da EaD (Dantas & Troleis, 2013; SEED/MEC, 2007).
Segundo Santos (2003):
A aprendizagem mediada pelo AVA pode permitir que através dos recursos da digitalização várias fontes de informação e conhecimento possam ser criadas e socializadas através de conteúdos apresentados de forma hipertextual, mixada, multimídia, com recursos de simulações. Além do acesso e possibilidades variadas de leituras o aprendiz que interage com o conteúdo digital poderá também se comunicar com outros sujeitos de forma síncrona e assíncrona em modalidades variadas de interatividade (Santos, 2003, p. 4).
O tutor, portanto, é peça fundamental para garantir a inter-relação contínua e personalizada entre estudante e instituição, atuando como referência para o processo de aprendizagem e contribuindo para a motivação e o engajamento dos alunos. A mediação tutorial envolve, ainda, a criação de espaços para construção coletiva do conhecimento e o acompanhamento sistemático do progresso acadêmico, aspectos que fortalecem a qualidade e a efetividade da educação a distância (Oliveira, 2024; Neske, 2019). Como destacam Behar e Passerino (2017):
O Moodle, por sua natureza construtivista e colaborativa, representa um espaço de aprendizagem dinâmico, onde o estudante não apenas acessa conteúdos, mas constrói seu conhecimento em interação com os colegas e tutores. A plataforma incentiva a participação, a autoria e a reflexão crítica, características essenciais para uma formação de qualidade na EaD (p. 42).
Esta adaptabilidade torna-se essencial para atender à diversidade do público que busca a EaD – frequentemente composto por adultos trabalhadores, responsáveis por famílias e residentes em áreas com limitado acesso a centros educacionais. Conforme indicam Palloff e Pratt (2011), a educação virtual responde à necessidade de maior flexibilidade, permitindo a cada indivíduo estudar conforme sua disponibilidade e circunstâncias pessoais.
O sistema Moodle disponibiliza também canais comunicativos em diferentes temporalidades e formatos: comunicações síncronas, como webconferências e salas de bate-papo; assíncronas, como discussões em fóruns e mensagens privadas; além de ferramentas institucionais que garantem o gerenciamento eficiente do percurso acadêmico. Para Maia e Mattar (2007), esta diversidade de canais é fundamental para assegurar coesão e continuidade no processo formativo.
Investigações recentes comprovam que a implementação adequada do Moodle impacta diretamente a permanência e o êxito dos estudantes. Ferreira e Goulart (2020) afirmam:
A adoção do Moodle em cursos de licenciatura EaD tem mostrado resultados significativos em termos de engajamento e desempenho acadêmico. A possibilidade de oferecer trilhas personalizadas de aprendizagem, associada à comunicação constante entre tutor e estudante, favorece a redução da evasão e fortalece o vínculo com o curso (p. 88).
Adicionalmente, a plataforma Moodle fomenta o desenvolvimento de competências digitais – aspecto cada vez mais relevante tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado profissional. Como salientam Costa e Silva (2021), trata-se de um sistema que oferece muito mais que organização de materiais didáticos: promove conexões significativas, avaliação processual e monitoramento do progresso do estudante.
Desta forma, a EaD se consolida como proposta pedagógica eficaz, desde que estruturada em uma articulação equilibrada entre recursos tecnológicos, mediação humana qualificada e valorização do estudante como protagonista de sua própria aprendizagem.
3 Considerações Finais
A Educação a Distância consolida-se como um modelo pedagógico inovador no ensino superior brasileiro, sustentado pela integração estratégica entre plataformas digitais, mediação qualificada e autonomia discente. Essa tríade não apenas reconfigura práticas educativas tradicionais, mas estabelece um ecossistema dinâmico, onde a interatividade e a construção coletiva de conhecimentos substituem hierarquias rígidas e abordagens unidirecionais. Para que seu potencial transformador se efetive, é essencial priorizar mediações pedagógicas reflexivas, capazes de articular teoria e realidade sociocultural, aliadas a tecnologias adaptáveis às demandas regionais e aos perfis diversificados dos estudantes.
O Moodle, nesse contexto, transcende sua função instrumental: transforma-se em espaço de experimentação, onde recursos multimodais e interações tutorais fomentam a criticidade e a autoria discente. Paralelamente, o tutor assume o papel de articulador crítico, conectando saberes institucionais às trajetórias individuais e garantindo que a autonomia não se confunda com abandono pedagógico. Assim, a EaD afirma-se não como substituta do presencial, mas como via democratizante que harmoniza acesso amplo e excelência acadêmica, desde que ancorada em equilíbrio entre inovação tecnológica, suporte humano contínuo e reconhecimento do estudante como agente ativo de sua formação.
A sustentabilidade e o impacto ambiental também são questões éticas relevantes. A obsolescência programada de dispositivos educacionais contribui significativamente para a geração de resíduos eletrônicos. Estimativas indicam que, em 2024, foram produzidas globalmente 53 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos, muitos dos quais provenientes de tecnologias educacionais descartadas precocemente (Warren, et al., 2022).
No âmbito pedagógico, o uso excessivo de tecnologias como realidade virtual e gamificação pode gerar efeitos colaterais indesejados. A realidade virtual, por exemplo, pode levar à dessensibilização emocional, enquanto a gamificação excessiva pode reduzir a motivação intrínseca dos estudantes. Além disso, a automação de feedback, embora eficiente em escala, pode erodir a interação humana, essencial para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais (Moore, et al., 2024). Esses desafios destacam a necessidade de equilibrar a inovação tecnológica com práticas pedagógicas humanizadas.
A integração responsável de tecnologias no design instrucional exige uma abordagem multidisciplinar que combine princípios pedagógicos, ética aplicada e avaliação de impacto social. Como afirma Malone (2024), "a ética na tecnologia educacional não é um acessório, mas um componente essencial para garantir que a inovação beneficie a todos de maneira justa e sustentável".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1 Biomédico. Especialização em Saúde Pública. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]