DESIGN THINKING NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17203095


José do Perpetuo Socorro Santa Cruz das Virgens1


RESUMO
Este artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre a aplicação do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio, com base em estudos publicados entre 2020 e 2025. A investigação buscou compreender como essa abordagem inovadora, centrada na empatia, na colaboração e na experimentação, impacta a motivação, o engajamento e o desenvolvimento de competências em leitura, escrita e análise linguística. Os resultados apontam que o Design Thinking, quando bem estruturado, favorece a resolução criativa de problemas, estimula a autoria discente e promove aprendizagens significativas alinhadas às competências previstas na BNCC. Contudo, também foram identificados desafios, como a dificuldade de reorganização curricular, a carência de tempo pedagógico para projetos mais complexos e a necessidade de formação docente específica. Conclui-se que o Design Thinking representa uma estratégia promissora para o ensino de Língua Portuguesa, desde que acompanhado por mediação reflexiva, clareza de objetivos e condições institucionais adequadas.
Palavras-chave: Design Thinking. Língua Portuguesa. Ensino Médio. Metodologias Ativas. Criatividade.

ABSTRACT
This article presents a bibliographical research on the application of Design Thinking in Portuguese Language teaching in High School, based on studies published between 2020 and 2025. The investigation sought to understand how this innovative approach, centered on empathy, collaboration, and experimentation, impacts students’ motivation, engagement, and the development of competencies in reading, writing, and linguistic analysis. The results indicate that Design Thinking, when well structured, fosters creative problem-solving, stimulates student authorship, and promotes meaningful learning aligned with the competencies established by the BNCC. However, challenges were also identified, such as the difficulty of curricular reorganization, the lack of pedagogical time for more complex projects, and the need for specific teacher training. It is concluded that Design Thinking represents a promising strategy for Portuguese Language teaching, provided it is supported by reflective mediation, clear objectives, and adequate institutional conditions.
Keywords: Design Thinking. Portuguese Language. High School. Active Methodologies. Creativity.

1 INTRODUÇÃO

O cenário educacional contemporâneo vem sendo marcado por profundas transformações sociais, culturais e tecnológicas que impactam diretamente os processos de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, a escola, enquanto instituição de formação integral, é desafiada a desenvolver práticas pedagógicas que dialoguem com os interesses e necessidades dos estudantes, favorecendo aprendizagens mais dinâmicas e conectadas à realidade. No ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio, persistem dificuldades relacionadas ao desinteresse pela leitura, à baixa motivação em atividades de escrita e à percepção de que o estudo da gramática normativa é pouco significativo. Esses desafios evidenciam a necessidade de metodologias inovadoras que promovam engajamento, colaboração e criatividade.

É nesse horizonte que o Design Thinking se apresenta como abordagem pedagógica promissora. Originado no campo do design e adaptado para a educação, o Design Thinking fundamenta-se em etapas como empatia, definição de problemas, ideação, prototipagem e teste, sempre com foco na solução colaborativa de desafios reais. Ao trazer o estudante para o centro do processo de aprendizagem, essa metodologia estimula a autoria, valoriza múltiplas perspectivas e mobiliza competências cognitivas e socioemocionais. Mais do que uma técnica, o Design Thinking constitui uma cultura de inovação que incentiva a experimentação e o pensamento crítico-reflexivo.

No campo do ensino de Língua Portuguesa, pesquisas recentes indicam que o Design Thinking pode potencializar o desenvolvimento da leitura crítica, da argumentação escrita e da produção multimodal de textos. Santos (2022) observa que atividades estruturadas em etapas de ideação e prototipagem favoreceram maior criatividade na produção textual, ampliando a capacidade dos estudantes de reelaborar ideias. De forma semelhante, Oliveira e Braga (2023) verificaram que projetos baseados em Design Thinking estimularam maior engajamento nas práticas de leitura e fortaleceram a colaboração entre pares, contribuindo para aprendizagens mais significativas.

Entretanto, a literatura também destaca limitações e desafios. Entre eles, sobressaem a dificuldade de reorganizar o currículo para comportar atividades mais complexas, o tempo reduzido do calendário escolar e a necessidade de formação docente para o uso adequado da metodologia. Tais fatores revelam que a adoção do Design Thinking exige não apenas mudanças metodológicas, mas também estruturais e culturais no ambiente escolar.

Diante desse cenário, o problema de pesquisa que orienta este estudo é: como o Design Thinking tem sido aplicado no ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio e quais são seus potenciais e limitações? O objetivo geral consiste em analisar a produção científica recente (2020–2025) sobre o tema, sistematizando estratégias, resultados e desafios relatados. Como objetivos específicos, busca-se: (i) identificar práticas de Design Thinking aplicadas ao ensino de Língua Portuguesa; (ii) analisar os impactos observados em leitura, escrita e análise linguística; (iii) discutir limitações e entraves relatados pela literatura; e (iv) apresentar recomendações para o uso pedagógico dessa abordagem.

A justificativa deste estudo reside na relevância teórica e prática do tema. Do ponto de vista teórico, a pesquisa amplia a compreensão sobre metodologias ativas e inovação pedagógica no Ensino Médio. Do ponto de vista prático, oferece subsídios a professores e gestores na elaboração de projetos criativos e colaborativos que valorizem o protagonismo discente, em consonância com as competências da BNCC. Nesse sentido, este trabalho busca preencher lacunas da literatura e fortalecer o papel do Design Thinking como recurso metodológico consistente, capaz de articular empatia, criatividade e aprendizagem significativa no ensino de Língua Portuguesa.

2 DESIGN THINKING

O Design Thinking é uma abordagem centrada no ser humano que surgiu inicialmente no campo do design, mas que, nas últimas duas décadas, vem sendo incorporada a diferentes áreas, incluindo a educação. Trata-se de uma metodologia voltada para a resolução criativa de problemas, fundamentada em princípios de empatia, colaboração, experimentação e prototipagem. Sua essência está em colocar os sujeitos como protagonistas do processo de criação e aprendizagem, estimulando a observação crítica, a geração de ideias inovadoras e a busca por soluções que tenham impacto real no contexto em que são aplicadas.

No âmbito educacional, o Design Thinking tem ganhado espaço como uma das metodologias ativas mais promissoras para superar desafios históricos da escola tradicional, marcada pela centralidade do professor e pela fragmentação curricular. Ao deslocar o foco para o estudante e para os problemas do mundo real, o Design Thinking promove um ambiente de aprendizagem dinâmico, participativo e interdisciplinar, no qual as competências cognitivas e socioemocionais são desenvolvidas de forma integrada.

O Design Thinking baseia-se em etapas estruturadas, geralmente apresentadas em cinco fases: empatia, definição, ideação, prototipagem e teste.

  • Empatia – consiste em compreender profundamente o contexto e as necessidades dos usuários, que no caso da educação são os estudantes. Essa fase envolve observação, escuta ativa e levantamento de informações para identificar quais são os problemas mais significativos.

  • Definição – é o momento de organizar e delimitar o problema a ser enfrentado. Trata-se de selecionar as informações coletadas e transformá-las em um desafio claro, que servirá de guia para todo o processo.

  • Ideação – refere-se à geração de ideias criativas e diversificadas para solucionar o problema definido. Aqui, a colaboração é central, pois a troca de perspectivas amplia as possibilidades de resposta.

  • Prototipagem – nesta fase, as ideias são transformadas em versões iniciais de produtos, serviços ou soluções. Em educação, podem ser planos de aula, produções textuais, recursos digitais ou novas práticas pedagógicas.

  • Teste – corresponde à aplicação das soluções em situações reais, de modo a avaliar sua pertinência e realizar ajustes. É um processo iterativo, em que erros são considerados oportunidades de aprendizagem.

Essa estrutura não deve ser entendida de forma linear, mas cíclica e flexível, permitindo avanços e retrocessos conforme as necessidades da prática. O Design Thinking valoriza a experimentação, a criatividade e a colaboração, incentivando que estudantes e professores construam juntos alternativas inovadoras para os desafios da aprendizagem.

A incorporação do Design Thinking na educação básica é recente, mas tem demonstrado resultados expressivos. De acordo com Rauth et al. (2015), a metodologia contribui para transformar a sala de aula em um espaço de inovação, rompendo com a lógica da transmissão de conteúdos e favorecendo aprendizagens contextualizadas.

No Ensino Médio, o Design Thinking pode ser aplicado em projetos interdisciplinares que envolvem múltiplas áreas do conhecimento. Por exemplo, na criação de jornais escolares digitais, podcasts, campanhas sociais ou oficinas culturais, os estudantes passam por todas as etapas da metodologia: identificam problemas da comunidade, planejam soluções criativas, desenvolvem protótipos e apresentam resultados. Esse processo amplia a conexão entre a escola e a realidade, fortalecendo o engajamento discente.

Outro aspecto relevante é o desenvolvimento de competências socioemocionais. Durante a fase de empatia, os alunos exercitam a escuta e a sensibilidade diante das necessidades de outros sujeitos. Na fase de ideação, aprendem a trabalhar coletivamente e a valorizar a diversidade de opiniões. Já a prototipagem e o teste exigem resiliência e capacidade de lidar com erros, habilidades essenciais para a formação integral e previstas na BNCC.

Entretanto, a adoção do Design Thinking ainda encontra barreiras, como a rigidez do currículo, o tempo reduzido das aulas e a dificuldade de articular projetos de longa duração em escolas públicas. Além disso, muitos professores carecem de formação específica para utilizar a metodologia de forma consistente, o que pode limitar seus resultados.

Especificamente no ensino de Língua Portuguesa, o Design Thinking apresenta grande potencial para dinamizar as práticas de leitura, escrita e análise linguística. Por se tratar de uma abordagem centrada no protagonismo estudantil e na resolução de problemas reais, a metodologia pode tornar as atividades mais significativas, conectadas às vivências dos alunos e à sua realidade social.

Na dimensão da leitura, o Design Thinking possibilita o desenvolvimento de projetos nos quais os estudantes precisam interpretar textos variados para compreender problemas e propor soluções. Por exemplo, em um projeto sobre sustentabilidade, podem ser analisados artigos de opinião, reportagens e infográficos para subsidiar a definição de desafios ambientais locais. Essa leitura contextualizada fortalece tanto a compreensão quanto a criticidade.

Na produção escrita, a metodologia favorece a criatividade e a autoria discente. Durante a fase de ideação, os alunos são estimulados a propor soluções inovadoras para problemas comunicacionais, que se materializam em gêneros como crônicas, blogs, roteiros ou campanhas publicitárias. O processo de prototipagem e teste, por sua vez, possibilita que os textos sejam revisados coletivamente, promovendo a reflexão sobre coerência, coesão e adequação linguística.

Já na análise linguística, o Design Thinking pode ser empregado para identificar e resolver problemas relacionados à norma padrão e ao uso da língua em diferentes contextos. Por exemplo, os estudantes podem analisar erros frequentes de escrita em produções próprias ou coletivas, definindo estratégias de aprimoramento que são aplicadas e testadas em novas versões. Essa abordagem confere sentido ao estudo da gramática, que deixa de ser meramente normativa para se tornar ferramenta prática de comunicação.

A literatura aponta benefícios recorrentes da aplicação do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa:

  • Engajamento e motivação: estudantes se envolvem mais ao resolver problemas reais e propor soluções criativas.

  • Autoria e criatividade: a produção textual torna-se mais significativa, estimulando a inovação e o protagonismo discente.

  • Integração curricular: permite relacionar Língua Portuguesa a outras áreas do conhecimento, ampliando a interdisciplinaridade.

  • Competências socioemocionais: fortalece empatia, colaboração, resiliência e autonomia.

  • Avaliação processual: possibilita acompanhamento contínuo do percurso de aprendizagem, valorizando tanto o produto quanto o processo.

Esses benefícios reforçam que o Design Thinking não apenas inova as práticas pedagógicas, mas também contribui para a formação integral dos estudantes, alinhando-se às competências da BNCC.

Apesar das potencialidades, o uso do Design Thinking enfrenta desafios significativos. Um dos principais é a rigidez curricular, que dificulta a inserção de projetos interdisciplinares de longa duração. Outro problema refere-se ao tempo pedagógico, insuficiente para o desenvolvimento completo das etapas de empatia, ideação, prototipagem e teste.

A formação docente também é apontada como limitação. Muitos professores não receberam, em sua formação inicial, preparo para metodologias ativas, e a ausência de programas de capacitação continuada limita a efetividade do Design Thinking. Além disso, existe o risco de uma aplicação superficial, em que a metodologia é reduzida a atividades criativas pontuais, sem conexão com objetivos pedagógicos claros.

Por fim, há barreiras relacionadas à infraestrutura escolar, especialmente em instituições públicas que carecem de recursos materiais e tecnológicos para apoiar projetos mais complexos. Nessas condições, a adoção do Design Thinking pode se restringir a iniciativas isoladas, dificultando sua consolidação como prática pedagógica sistemática.

O Design Thinking, ao ser incorporado ao ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio, mostra-se como uma abordagem inovadora que une criatividade, empatia e colaboração. Suas etapas estruturadas permitem que a aprendizagem se torne mais significativa, alinhada tanto às competências da BNCC quanto às demandas contemporâneas da sociedade. Entretanto, para que sua aplicação seja efetiva, é necessário superar desafios ligados ao currículo, ao tempo pedagógico, à formação docente e às condições institucionais.

Assim, o Design Thinking deve ser compreendido não apenas como uma técnica de inovação, mas como uma cultura de ensino-aprendizagem centrada no estudante, que valoriza a participação, a experimentação e a construção coletiva de saberes. No ensino de Língua Portuguesa, ele se configura como oportunidade de tornar leitura, escrita e análise linguística experiências mais criativas, críticas e transformadoras.

3 METODOLOGIA

A presente investigação caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa e caráter exploratório, voltada à análise de produções científicas que discutem a aplicação do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio. De acordo com Gil (2018), a pesquisa bibliográfica tem como objetivo reunir, organizar e interpretar conhecimentos já produzidos sobre determinado tema, permitindo identificar avanços, tendências e lacunas existentes na área. Essa abordagem foi escolhida por possibilitar uma visão crítica do estado da arte sobre a temática, sem a necessidade de coleta empírica direta.

Optou-se por uma perspectiva qualitativa, pois o interesse do estudo não se restringe à quantificação de dados, mas sim à compreensão das concepções, experiências e interpretações descritas na literatura. O caráter exploratório justifica-se pelo fato de que o Design Thinking ainda é uma prática relativamente recente no campo educacional brasileiro, especialmente no ensino de Língua Portuguesa, o que exige maior familiaridade teórica para orientar pesquisas futuras e práticas docentes.

O universo da pesquisa compreendeu artigos científicos, teses, dissertações e trabalhos apresentados em congressos publicados entre 2020 e 2025, em língua portuguesa e inglesa. A seleção desse período buscou abarcar estudos atualizados, capazes de refletir a consolidação do Design Thinking como metodologia ativa em diferentes contextos. Foram incluídos trabalhos que, além de discutirem o Design Thinking no ensino em geral, apresentassem experiências ou análises aplicadas especificamente às práticas de leitura, escrita e análise linguística em Língua Portuguesa. Estudos de caráter opinativo, duplicados ou publicados em veículos não indexados foram excluídos, garantindo maior rigor acadêmico.

As fontes consultadas incluíram bases digitais de acesso nacional e internacional, como Google Scholar, Scielo, Periódicos CAPES, ResearchGate e repositórios institucionais de universidades. Para a busca, foram utilizados descritores em português e inglês, tais como: Design Thinking, ensino de Língua Portuguesa, Ensino Médio, metodologias ativas, aprendizagem colaborativa, educação básica, além de suas respectivas traduções (Design Thinking, Portuguese Language teaching, high school, active methodologies). As palavras-chave foram combinadas de forma sistemática para refinar a seleção e identificar produções alinhadas ao problema de pesquisa.

O processo de coleta de dados ocorreu em três etapas: (i) busca sistemática nas bases digitais a partir dos descritores, (ii) leitura dos resumos para seleção preliminar dos estudos e (iii) leitura integral dos textos selecionados para confirmação da pertinência e categorização. Após essa etapa, os trabalhos foram organizados em fichamentos analíticos contendo informações como autores, ano, contexto da pesquisa, objetivos, metodologia utilizada e principais resultados.

Para análise, adotou-se a técnica de análise de conteúdo temática, conforme Bardin (2016). Essa técnica possibilitou a categorização das informações em três eixos centrais: (a) potenciais do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa; (b) limitações e desafios relatados pela literatura; e (c) recomendações e perspectivas para sua aplicação pedagógica. A análise foi conduzida de maneira crítica e comparativa, com o objetivo de identificar convergências, divergências e lacunas nos estudos.

A escolha da pesquisa bibliográfica como metodologia justifica-se pelo fato de que o Design Thinking ainda está em processo de consolidação no ensino de Língua Portuguesa, sendo necessário mapear e sistematizar os conhecimentos já existentes. Além disso, a abordagem permite levantar subsídios teóricos e práticos que podem orientar o planejamento pedagógico, oferecendo suporte a professores e gestores interessados em inovar suas práticas. Dessa forma, este estudo busca contribuir tanto para o avanço da reflexão acadêmica quanto para a efetiva aplicação do Design Thinking em sala de aula.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise da literatura selecionada sobre o Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio permitiu organizar os achados em três eixos: (i) contribuições e benefícios relatados, (ii) desafios e limitações identificados e (iii) recomendações e perspectivas para aplicação pedagógica.

Os estudos analisados apontam que o Design Thinking favorece a motivação e o engajamento dos estudantes ao aproximar a aprendizagem de situações reais e significativas. De acordo com Santos (2022), atividades baseadas em etapas de empatia e ideação possibilitaram maior interesse dos alunos em práticas de leitura, uma vez que os textos passaram a ser utilizados como instrumentos para compreender e propor soluções a problemas do cotidiano.

Outro benefício identificado foi o fortalecimento da criatividade e da autoria discente. Oliveira e Braga (2023) verificaram que, em projetos de produção textual guiados pelo Design Thinking, os estudantes desenvolveram maior liberdade para propor soluções comunicativas inovadoras, experimentando gêneros diversos como podcasts, campanhas publicitárias e blogs. Essa diversidade ampliou a percepção da língua como prática social e colaborativa.

No campo da análise linguística, Carvalho e Gomes (2024) destacam que a metodologia contribui para ressignificar o estudo da gramática, tradicionalmente visto como monótono. Em atividades de prototipagem, os alunos utilizaram as normas gramaticais como ferramentas de revisão e aprimoramento de seus textos, compreendendo a funcionalidade das regras na comunicação.

A tabela a seguir sintetiza os principais benefícios relatados pela literatura:

Aspecto

Benefícios observados

Autores

Motivação e engajamento

Leitura e escrita associadas a problemas reais

Santos (2022)

Criatividade e autoria

Produção de gêneros inovadores e multimodais

Oliveira & Braga (2023)

Análise linguística

Gramática aplicada como recurso de revisão e aprimoramento textual

Carvalho & Gomes (2024)

Competências socioemocionais

Empatia, colaboração, resiliência e protagonismo discente

Moura & Costa (2021)

Apesar dos benefícios, a literatura evidencia limitações importantes na aplicação do Design Thinking em escolas de Ensino Médio. Entre os principais entraves está a rigidez curricular, que dificulta a implementação de projetos interdisciplinares de longa duração. Santos (2022) ressalta que o tempo pedagógico reduzido limita a execução das etapas completas da metodologia, comprometendo sua efetividade.

Outro desafio refere-se à formação docente. Oliveira e Braga (2023) observam que muitos professores não possuem preparo para elaborar projetos de Design Thinking, o que resulta em práticas superficiais, nas quais as fases de empatia e prototipagem são reduzidas a atividades criativas pontuais, sem conexão clara com os objetivos de aprendizagem.

A infraestrutura escolar também aparece como barreira significativa, especialmente em instituições públicas que carecem de recursos materiais e tecnológicos. Moura e Costa (2021) destacam que a ausência de espaços flexíveis e de equipamentos adequados restringe a experimentação e a prototipagem, limitando a consolidação da metodologia como prática sistemática.

Os estudos analisados oferecem recomendações para a aplicação mais consistente do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa. Santos (2022) sugere que a metodologia seja utilizada em articulação com sequências didáticas, nas quais cada etapa corresponda a um desafio específico de leitura, escrita ou análise linguística. Dessa forma, o processo ganha intencionalidade pedagógica e maior alinhamento com o currículo.

Oliveira e Braga (2023) defendem a integração do Design Thinking a ambientes híbridos, combinando atividades presenciais e digitais para otimizar o tempo e ampliar as possibilidades de interação. Já Carvalho e Gomes (2024) enfatizam a importância da formação continuada de professores, especialmente no desenvolvimento de competências relacionadas à elaboração de problemas, mediação de processos colaborativos e avaliação formativa.

Quanto às perspectivas futuras, Moura e Costa (2021) apontam a necessidade de pesquisas que investiguem os efeitos do Design Thinking em longo prazo, especialmente no desenvolvimento da argumentação escrita e da criticidade leitora. Além disso, recomenda-se explorar o uso da metodologia em contextos de ensino remoto e híbrido, considerando as potencialidades das tecnologias digitais para favorecer a colaboração.

Os resultados confirmam que o Design Thinking representa uma abordagem inovadora e promissora para o ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio. Sua aplicação contribui para a construção de aprendizagens mais significativas, pautadas pela criatividade, pela empatia e pelo protagonismo discente. Contudo, a efetividade da metodologia depende de condições estruturais, da intencionalidade pedagógica e da mediação docente.

Assim, o Design Thinking deve ser entendido não como solução isolada, mas como parte de um movimento mais amplo de inovação educacional, capaz de ressignificar práticas tradicionais e aproximar a escola das demandas contemporâneas de formação integral dos estudantes.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa alcançou o objetivo de analisar a aplicação do Design Thinking no ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio, sistematizando seus potenciais e limitações a partir da literatura recente (2020–2025). Os resultados confirmam que o Design Thinking, enquanto metodologia ativa centrada no estudante, promove engajamento, motivação e participação mais efetiva em atividades de leitura, escrita e análise linguística, ao aproximar os conteúdos escolares de problemas reais e significativos.

O estudo evidenciou que a abordagem contribui para o desenvolvimento da criatividade e da autoria discente, estimulando produções inovadoras e multimodais, além de ressignificar o estudo da gramática como recurso aplicado ao aprimoramento comunicativo. Observou-se, ainda, que o Design Thinking potencializa competências socioemocionais, como empatia, colaboração, resiliência e protagonismo, fundamentais para a formação integral prevista na BNCC.

Por outro lado, também foram identificadas limitações importantes. Entre os principais entraves destacam-se a rigidez curricular, que dificulta a implementação de projetos interdisciplinares de longa duração, o tempo pedagógico insuficiente para a execução completa das etapas da metodologia, a falta de infraestrutura escolar adequada e a carência de formação docente específica. Esses fatores revelam que a efetividade do Design Thinking não é automática, dependendo de condições institucionais e do compromisso da gestão escolar em criar espaços que favoreçam a inovação pedagógica.

A análise sugere que o Design Thinking não deve ser entendido como solução única para os desafios do ensino de Língua Portuguesa, mas como uma estratégia complementar e integrada a outras práticas de ensino. Sua aplicação exige planejamento intencional, clareza de objetivos e mediação docente reflexiva, de modo que os elementos de empatia, ideação, prototipagem e teste não sejam reduzidos a atividades isoladas, mas constituam um processo de aprendizagem contínuo e significativo.

Do ponto de vista teórico, este trabalho contribui para ampliar a compreensão sobre metodologias ativas e inovação pedagógica no Ensino Médio. Do ponto de vista prático, oferece subsídios a professores e gestores interessados em implementar projetos baseados em Design Thinking, reforçando a importância de práticas colaborativas, criativas e contextualizadas no ensino de Língua Portuguesa.

Conclui-se que o Design Thinking representa uma estratégia promissora para transformar a sala de aula em espaço de experimentação e construção coletiva, aproximando os estudantes da realidade social e favorecendo aprendizagens críticas e duradouras. Recomenda-se que pesquisas futuras aprofundem a investigação sobre os efeitos da metodologia em longo prazo, especialmente no desenvolvimento da argumentação escrita, da criticidade leitora e da integração entre diferentes áreas do conhecimento.

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1 Discente do Curso Superior de Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação da Must University. E-mail: [email protected].