DESCARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM RURAL: CONSEQUÊNCIAS E DESAFIOS PARA AS COMUNIDADES RURAIS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13289690


Atila Barros1
Ecléa Pérsigo Morais2


RESUMO
A especulação imobiliária e o turismo desordenado e em áreas rurais têm gerado questionamentos sobre os impactos na qualidade de vida, no meio ambiente e nas comunidades locais. A substituição das atividades agrícolas por empreendimentos turísticos altera profundamente a dinâmica regional, descaracterizando o campo e trazendo uma série de desafios. A influência urbana agrava ainda mais esses problemas, transformando o uso da terra e pressionando os recursos locais, o que resulta em um modelo econômico sazonal e instável. A urbanização e o turismo em massa aumentam a poluição e destroem habitats naturais, causando graves impactos ambientais e sociais. O custo de vida elevado leva os moradores a abandonarem suas terras, fragmentando comunidades e enfraquecendo tradições culturais. Este artigo analisa os impactos causados no município de Teresópolis, Rio de Janeiro e enfatiza a urgência de um planejamento sustentável que preserve a identidade rural, diversifique a economia e inclua as comunidades locais nas decisões, transformando o turismo em uma força positiva para o desenvolvimento rural.
Palavras-chaves: Comunidades rurais. Impacto ambiental. Planejamento sustentável.

ABSTRACT
Real estate speculation and unregulated tourism in rural areas have raised concerns about their impact on quality of life, the environment, and local communities. The replacement of agricultural activities with tourism developments profoundly alters regional dynamics, stripping the countryside of its character and introducing a series of challenges. Urban influence further exacerbates these issues, transforming land use and putting pressure on local resources, resulting in a seasonal and unstable economic model. Urbanization and mass tourism increase pollution and destroy natural habitats, causing severe environmental and social impacts. The high cost of living forces residents to abandon their lands, fragmenting communities and weakening cultural traditions. This article analyzes the impacts in the municipality of Teresópolis, Rio de Janeiro, and emphasizes the urgency of sustainable planning that preserves rural identity, diversifies the economy, and includes local communities in decision-making, turning tourism into a positive force for rural development.
Keywords: Rural communities. Environmental impact. Sustainable planning.

INTRODUÇÃO

A expansão desenfreada do turismo e a especulação imobiliária em áreas rurais têm provocado profundas mudanças na qualidade de vida das comunidades que ali residem e trabalham, impactando tanto o ambiente natural quanto o tecido social dessas regiões. A proliferação de empreendimentos turísticos, como pousadas e casas de aluguel, tem gradualmente substituído as atividades agrícolas tradicionais, modificando drasticamente a dinâmica local (Carvalho, 1994). As lavouras, que por gerações foram o sustento das famílias e definiram a paisagem rural, estão sendo progressivamente substituídas por construções voltadas ao turismo, descaracterizando a essência do campo e criando desafios para agricultores e moradores.

Ainda, a influência da vida urbana nas áreas rurais tem contribuído para a complexidade desses problemas. O fluxo crescente de pessoas e capitais das cidades para o campo não só transforma o uso da terra, mas também pressiona os recursos locais e altera a dinâmica social das comunidades. O desenvolvimento desenfreado do turismo rural frequentemente ignora as necessidades e realidades das comunidades locais, substituindo a agricultura, uma atividade contínua e de longo prazo, por um modelo econômico sazonal e instável. Isso torna as comunidades vulneráveis às oscilações do mercado turístico e pode resultar na perda da diversidade econômica, ameaçando a segurança alimentar e a sustentabilidade das áreas rurais (Locatel, 2013).

A chegada de turistas em massa e o impacto da urbanização podem aumentar a poluição, destruir habitats naturais e pressionar recursos essenciais como água e energia, causando impactos ambientais expressivos. No aspecto social, o aumento do custo de vida nas áreas rurais, impulsionado pela demanda por imóveis e serviços turísticos, pode forçar os moradores locais a abandonarem suas terras em busca de moradias mais acessíveis. Esse deslocamento não só fragmenta as comunidades, mas também pode levar à perda de coesão social e ao enfraquecimento das tradições culturais passadas de geração em geração.

Os desafios enfrentados pelos moradores no campo são amplos e intricados. A pressão para adaptar-se às demandas do turismo e à influência da vida urbana pode criar conflitos sociais entre os moradores locais e os novos empresários do setor turístico. Disputas por terras e recursos, além de interesses econômicos divergentes, podem gerar tensões e divisões dentro das comunidades. A transformação da economia local pode marginalizar os agricultores e outros trabalhadores rurais, que enfrentam dificuldades para competir com os novos empreendimentos turísticos (Da Câmara Medeiros, 2013).

Este artigo explora os múltiplos impactos do turismo não planejado, a especulação imobiliária e a influência urbana nas áreas rurais, destacando as consequências adversas para os povos no campo, com foco no município de Teresópolis, Rio de Janeiro. Ao entender esses desafios, busca-se promover um debate sobre a necessidade de um planejamento sustentável para o município que respeite e preserve a identidade rural, garantindo o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e a preservação das tradições e do meio ambiente.

DESCARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM RURAL

A descaracterização da paisagem rural é um dos efeitos mais visíveis e preocupantes do turismo desordenado e da especulação imobiliária. A paisagem rural, tradicionalmente marcada por campos cultivados, florestas nativas e construções típicas, sofre transformações drásticas devido à expansão de empreendimentos turísticos. Essas mudanças alteram a identidade visual e cultural das áreas rurais, substituindo elementos naturais e tradicionais por estruturas artificiais, como hotéis, resorts e áreas de lazer. Essa transformação impacta profundamente o homem no campo. A perda da paisagem tradicional pode resultar em um sentimento de desconexão e alienação entre os moradores locais, que veem suas raízes culturais e históricas sendo progressivamente apagadas. Ainda, a introdução de elementos urbanos na paisagem rural pode levar à desvalorização dos saberes e práticas tradicionais, diminuindo o reconhecimento e a valorização das atividades agrícolas e artesanais.

A descaracterização da paisagem também afeta a economia local, já que à medida que o turismo cresce de forma descontrolada, a demanda por terras aumenta, elevando os preços e dificultando o acesso dos pequenos agricultores à terra. Muitos podem ser forçados a vender suas propriedades, resultando em uma perda de sustento e na migração para áreas urbanas em busca de trabalho. Ainda, a mudança na paisagem pode acarretar impactos ambientais significativos, como a degradação do solo, a poluição de rios e a perda de biodiversidade. Esses fatores comprometem a sustentabilidade das atividades agrícolas e a qualidade de vida dos habitantes locais, que dependem diretamente dos recursos naturais para sua subsistência.

No Brasil, adotamos um critério político-administrativo para definir o que é área urbana: consideramos urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila). Segundo o IBGE, uma área é considerada urbanizada quando é legalmente definida como urbana e caracterizada por construções, ruas e uma ocupação humana intensa; isso inclui áreas transformadas pelo desenvolvimento urbano e aquelas reservadas para expansão urbana.

Grabois (2001) ressalta que não se leva em conta as funções específicas dos diferentes aglomerados urbanos, o que é essencial para diferenciar o espaço rural do urbano. Nessa classificação, o espaço rural é definido por exclusão, como aquilo que não é urbano, focando nas carências em vez de suas próprias características. Além disso, tanto o rural quanto o urbano são definidos pelo poder municipal, muitas vezes influenciado por interesses fiscais.

Veiga (2002) destaca que esse critério faz com que pequenas sedes de municípios, algumas com menos de 2.000 habitantes, sejam classificadas como áreas urbanas, o que é ainda mais problemático no caso de algumas sedes distritais. Isso nos leva a chamar de cidades o que na verdade são aldeias, povoados e vilas, resultando numa superestimação do nosso grau de urbanização. Ele descreve essa fronteira inframunicipal entre rural e urbano como “anacrônica e aberrante” (Veiga, 2002, p. 112). Para evitar essa distorção, Veiga sugere usar três critérios combinados: tamanho populacional do município, densidade demográfica e localização. Ele argumenta que “não há habitantes mais urbanos do que os residentes nas 12 aglomerações metropolitanas, nas 37 demais aglomerações e nos outros 77 centros urbanos” identificados no estudo Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil de 1999. Esses locais representam o Brasil “inequivocamente urbano”, correspondendo a 57% da nossa população (Veiga, 2002).

Para Veiga (2002), a densidade demográfica é crucial para distinguir entre urbano e rural nos municípios fora dessas aglomerações, pois reflete a “pressão antrópica” e as modificações do meio natural resultantes de atividades humanas, indicando o grau de urbanização dos territórios. Combinando densidade demográfica e tamanho populacional, ele considera de pequeno porte os municípios com menos de 50 mil habitantes e menos de 80 hab/km², concluindo que 90% do território brasileiro, 80% dos municípios e 30% da população são essencialmente rurais. Os 13% restantes da população se enquadrariam numa categoria intermediária, chamada “rurbana”.

Segundo Veiga (2002), o rural é necessariamente territorial e não setorial, como muitos programas governamentais costumam considerar. As relações entre urbano e rural não correspondem mais à “antiquada dicotomia” entre cidade e campo, mas a uma geometria variável onde as aglomerações e microrregiões são cada vez mais importantes. Por isso, é necessário considerar a relação entre espaços mais urbanizados e aqueles onde os ecossistemas permanecem menos artificializados, ou seja, espaços rurais, para definir uma estratégia de desenvolvimento realista baseada numa articulação horizontal de intervenções (Veiga, 2002).

Veiga afirma que os analistas reconhecem que as possibilidades de desenvolvimento de qualquer comunidade rural dependem dos laços com centros urbanos, especialmente as cidades da própria região. Essa constatação levou a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a classificar, a partir de 1994, as regiões de seus países membros em três categorias, considerando como unidade de base rural toda área administrativa ou estatística com densidade inferior a 150 hab./km². Uma unidade de base rural pode ter um núcleo urbano com densidade superior a 150 hab./km², desde que a densidade média não ultrapasse esse valor (Abramovay, 2000).

As categorias definidas são as seguintes: "essencialmente rurais" refere-se às áreas onde mais de 50% da população reside em unidades de base rurais. "Relativamente rurais" descreve aquelas regiões onde entre 15% e 50% da população vive em unidades de base rurais. Por fim, "essencialmente urbanizadas" corresponde às áreas em que menos de 15% da população habita em unidades de base rurais.

Veiga (2002) parece se inspirar nessa classificação ao propor a divisão do território brasileiro em inequivocamente urbano, essencialmente rural e intermediário. Segundo ele, as relações entre cidade e campo mudaram radicalmente na segunda metade do século XX, mas ainda há um contraste claro entre esses espaços.

“O que está ocorrendo hoje nos países do Primeiro Mundo é que o espaço rural tende a ser cada vez mais valorizado por tudo o que ele opõe ao artificialismo das cidades: paisagens silvestres ou cultivadas, água limpa, ar puro e silêncio. O desenvolvimento leva a uma forte revalorização do ambiente natural, em vez de suprimir a diferença entre cidade e campo por obra e graça da organização conjunta da agricultura e da indústria” (Veiga, 2002, p. 95).

Veiga se dedica a defender a viabilidade econômica do espaço rural, buscando superar a visão antiquada de que essas áreas são sinônimo de atraso. Ele destaca o dinamismo que hoje caracteriza essas regiões em países desenvolvidos, enfatizando que o principal trunfo econômico do espaço rural é seu patrimônio cultural e natural. Isso inclui as chamadas amenidades rurais, como ar puro, paisagens deslumbrantes e contato com animais. Para Veiga, a valorização dessas amenidades pode atrair investimentos da indústria do lazer, deslocando a base da economia rural da exportação de produtos primários e manufaturados para a oferta de serviços e a importação de pessoas, dinheiro público e renda urbana (Veiga, 2002).

No entanto, apesar da importância das questões que Veiga aborda e da relevância de sua proposta de uma classificação mais adequada da realidade espacial, sua análise é predominantemente econômica. Ela não considera os aspectos sociais das mudanças na relação cidade-campo. Assim, o autor acaba tratando a imagem do espaço rural como algo natural, defendendo a necessidade de aproveitar essa tendência que transforma o espaço rural em um objeto de consumo (Veiga, 2002).

De maneira geral, as definições sobre o campo e a cidade podem ser associadas a duas grandes abordagens: a dicotômica e a de continuum. A abordagem dicotômica considera o campo e a cidade como meios sociais distintos e opostos, destacando as diferenças entre esses espaços. Em contraste, a abordagem de continuum argumenta que o avanço da urbanização provoca mudanças significativas em toda a sociedade, afetando também o espaço rural e aproximando-o da realidade urbana.

As ideias de Sorokin e Zimmermann (1986), de natureza marcadamente dicotômica, são uma referência fundamental na discussão das relações entre o rural e o urbano. Apresentadas na década de 1930, em um contexto de intensa transformação provocada pela expansão do sistema capitalista, essas ideias enfatizavam as diferenças entre os dois meios devido à maior complexidade do mundo urbano e à mobilidade social e espacial crescente de sua população. Essa mobilidade é caracterizada por deslocamentos diários frequentes entre trabalho e residência, gerando uma vida marcada por um ritmo acelerado.

Os autores argumentaram que a construção de uma definição sociológica desses universos requer a combinação de múltiplos traços, ou seja, deve ser uma definição composta. Reconhecer a dificuldade de classificar o mundo rural e o mundo urbano a partir de uma única característica é essencial para entender a complexidade desses espaços, a sociologia rural.

A sociologia rural busca à compreensão das sociedades que habitam e interagem em ambientes rurais, onde a vida está intimamente ligada à terra e às tradições que se perpetuam por gerações. Esta ferramenta de estudo investiga as formas como essas comunidades se organizam, trabalham, e constroem suas identidades em meio a um contexto marcado pela proximidade com a natureza e pela economia agrária.

No núcleo da sociologia rural está a análise das estruturas sociais que predominam no campo, como as relações de trabalho, as hierarquias de poder, e as redes de solidariedade que muitas vezes sustentam essas comunidades. Diferentemente das sociedades urbanas, onde a industrialização e o mercado de trabalho formal predominam, as áreas rurais frequentemente mantêm práticas e modos de vida que resistem ao tempo e às transformações sociais mais amplas (Martins, 1986).

Contudo, nas últimas décadas, o campo tem enfrentado profundas mudanças. A modernização agrícola, a mecanização, e o redirecionamento do uso da terra têm alterado drasticamente a paisagem rural, tanto em termos físicos quanto culturais. Esse processo de descaracterização não é apenas uma mudança na aparência das áreas rurais, mas também uma transformação nas formas de vida, nas relações sociais e nas identidades culturais que moldam essas comunidades.

A migração de jovens para os centros urbanos, em busca de melhores oportunidades, e a introdução de novos modelos de produção agrícola têm desafiado a continuidade das tradições rurais. A sociologia rural, portanto, busca perceber os impactos dessas transformações: por um lado, a perda de identidade cultural e o aumento das desigualdades; por outro, as novas oportunidades que emergem, como a diversificação econômica e a melhoria das condições de vida em algumas regiões.

A sociologia rural também se dedica a avaliar as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural, analisando até que ponto elas conseguem fortalecer as comunidades locais e promover um desenvolvimento sustentável. A sociologia rural, assim, oferece uma perspectiva crítica e necessária para entender as complexidades e os desafios enfrentados pelas sociedades rurais em um mundo que está em constante transformação, onde tradições e modernidade se encontram e se redefinem continuamente.

De acordo com Martins (1986), a sociologia rural surge para abordar uma crise profunda que exige uma reflexão mais detalhada sobre o mundo rural. Essa crise é caracterizada por uma série de transformações sociais, incluindo a intensa migração do campo para a cidade, que provoca o esvaziamento das áreas rurais e a expansão das cidades sobre o território rural. A sociologia rural, portanto, surge para lidar com essa ambiguidade fundamental da sociologia e se torna um conhecimento instrumental voltado para a superação das dificuldades enfrentadas pelo campo (Martins, 1986). A abordagem dicotômica presente nesse campo permite uma oscilação entre dois polos: um que idealiza o passado e valoriza o tradicional, e outro que foca no progresso e valoriza o moderno.

Desde o final dos anos 70, a abordagem dicotômica foi retomada, refletindo uma nova visão sobre a relação cidade-campo, resultante da chamada "crise urbana" e da deterioração das condições de vida nas cidades. Nesse contexto, intelectuais franceses como M. Jollivet e o próprio H. Mendras, entre outros, têm criticado a ideia de que tudo é urbano. Segundo eles, essa visão decorre de uma confusão entre modo de vida e prática de consumo, além de um equívoco no entendimento do termo urbanização. De fato, o contraste entre as duas realidades tem se intensificado, e a imagem do rural como próximo à natureza tem ganhado um papel cada vez mais significativo nas representações da sociedade moderna. Esse contraste destaca-se ainda mais quando comparado ao artificialismo da vida urbana, sublinhando a valorização crescente das qualidades naturais e tradicionais associadas ao espaço rural (Kayser, 1990).

O contraste entre as imagens do rural e do urbano é ainda mais acentuado com a transformação da paisagem rural em um objeto de consumo e a crescente valorização de identidades rurais para atender às demandas do mercado. Essas mudanças são particularmente evidentes em países desenvolvidos, como a França, onde a imagem do campo, anteriormente associada à produção e à atividade agrícola, está se deslocando para uma perspectiva de consumo. O campo é cada vez mais visto como uma paisagem a ser apreciada, com o olhar estético ganhando importância sobre o aspecto econômico (Kayser, 2001). No entanto, é indiscutível não confundir o campo com a natureza. O campo é o resultado de um trabalho humano secular; ele é cultivado e artificializado. Segundo Kayser (2001), o campo é um dos monumentos da civilização urbana é um espaço construído onde a natureza assusta sempre um pouco.

TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS NAS ÁREAS RURAIS

A urbanização no campo refere-se ao processo pelo qual áreas rurais adquirem características urbanas, como a expansão de infraestrutura, a proliferação de serviços e o aumento da densidade populacional. Esse fenômeno é impulsionado por uma série de fatores inter-relacionados. Entre eles, estão o êxodo rural, à medida que jovens buscam oportunidades de emprego nas cidades, a melhoria da infraestrutura de transporte que conecta áreas rurais aos centros urbanos e a disseminação da cultura e dos valores urbanos através da mídia e da tecnologia.

O deslocamento populacional do meio rural para o urbano, conhecido como êxodo rural, é um fenômeno histórico no Brasil que persiste até os dias atuais. Segundo os dados do IBGE, nos últimos cinco anos (2019-2023), nesse período, houve uma diminuição na população rural brasileira, passando de 30,8 milhões para 28,8 milhões, representando uma queda de 6,5%. Esta taxa supera a média global de 2,7% para o mesmo intervalo temporal (IBGE, 2022).

A observação desses dados revela disparidades regionais significativas. O êxodo rural demonstrou-se mais acentuado em certas regiões do país do que em outras. O Nordeste e o Norte, por exemplo, registraram reduções de 8,4% e 7,8%, respectivamente, em sua população rural, enquanto o Sudeste e o Sul apresentaram declínios menores, de 3,2% e 2,9%, respectivamente. Um dos efeitos perceptíveis desse fenômeno é o envelhecimento da população rural. A migração dos jovens para os centros urbanos tem contribuído para um aumento na proporção de indivíduos com 60 anos ou mais no meio rural, que passou de 14,7% em 2019 para 16,2% em 2023 (IBGE, 2023).

Ao longo das últimas duas décadas, a população rural brasileira superou a média mundial em tamanho. Segundo o Banco Mundial (2023), o percentual de habitantes do país que residem em áreas rurais caiu 33,8% entre 2000 e 2022, em comparação com uma queda de 19,2% em todo o mundo.

A população rural do Brasil migrou muito, principalmente entre as décadas de 1950 e 1980. Isso resultou em uma queda significativa de aproximadamente 65% para cerca de 25% da população total que vive no campo no Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É importante destacar que, embora o êxodo tenha diminuído desde então, o fenômeno continua presente tanto no Brasil quanto em todo o mundo. Em termos nacionais, é mais acentuado do que em outros países (Alves, 2011).

Em 2000, cerca de 18,8% da população brasileira vivia em áreas rurais. No entanto, em 2022, esse número caiu para 12,4%. Como mencionado por Teixeira, essa porcentagem já é inferior à de nações como Estados Unidos, Alemanha e França. Por outro lado, a população rural representará 18,5% em 2022 entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde se encontram as nações mais desenvolvidas do mundo. Isso é uma queda de 24,4% em 2000. Essa disparidade representa uma queda de 24 por cento, quase 10 pontos percentuais abaixo do que ocorreu no Brasil (OCDE, 2022).

Em termos globais, a parcela da população que vive em áreas rurais diminuiu de 53,3% em 2000 para 43,3% em 2022. Especialmente os mais jovens são afetados por esse fenômeno, que está relacionado à escassez de oportunidades de trabalho e educação nas áreas rurais.

Quanto à infraestrutura educacional rural, observa-se uma queda no número de estabelecimentos de ensino básico, passando de 79,3 mil para 52,7 mil entre 2010 e 2022. Paralelamente, o número de matrículas também diminuiu, de 4,6 milhões para 3,3 milhões no mesmo período. Além disso, a população apta para o trabalho, compreendida entre 18 e 59 anos, apresentou uma redução de quase 1 milhão de indivíduos de 2012 a 2022. No entanto, o declínio geral da população é mitigado pelo aumento de cerca de 200 mil pessoas na faixa etária idosa, conforme indicado pelo Banco Mundial (2022). As consequências desse êxodo são intricadas. Incluem desde o declínio na produção agrícola devido à migração da mão de obra qualificada até o aumento da pobreza rural e o abandono de áreas rurais, acarretando impactos ambientais e culturais negativos, além de sobrecarga nos serviços públicos urbanos devido ao aumento do influxo populacional.

Para ilustrar o fenômeno da urbanização, usaremos o município de Teresópolis, localizado na Serra Fluminense do estado do Rio de Janeiro. Localizado na região serrana do estado, o município de Teresópolis apresenta singularidades educacionais que refletem suas características geográficas e a influência da comunidade local, fortemente ligada às atividades agrícolas e pecuárias. Com raízes profundas na agricultura e pecuária, Teresópolis destaca-se na produção de laticínios, frutas, verduras e flores, abastecendo não apenas sua região, mas também outras partes do estado (EMBRAPA, 2023).

Com uma área total de pouco mais de 770 km², apenas cerca de 8,31% são urbanas, enquanto mais de 91,69% são áreas rurais (aproximadamente 91,6% da área de Teresópolis está em área rural), compostas por montanhas, florestas de mata atlântica e propriedades rurais. No entanto, o município também enfrenta um grave processo de urbanização sem planejamento adequado de áreas rurais e favelização.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020, 24% da população de Teresópolis vivia em favelas (aglomerados subnormais[3]), o equivalente a mais de 33 mil pessoas. Isso coloca a cidade como o segundo município com maior índice de favelização no estado do Rio de Janeiro, atrás apenas de Nova Iguaçu (IBGE, 2020).

O processo de favelização em Teresópolis tem origens históricas. Nas décadas de 1950 e 1960, a cidade viveu um período de expansão industrial. Isso atraiu um grande fluxo migratório, principalmente de pessoas das áreas rurais, que buscavam melhores condições de vida. No entanto, a falta de planejamento urbano e a especulação imobiliária dificultaram o acesso a moradia digna para essas pessoas. Como resultado, elas passaram a ocupar áreas marginais e irregulares, dando origem às favelas da cidade.

Outro fator que contribuiu para a favelização em Teresópolis foi a tragédia das chuvas de 1966, que devastou a Baixada Fluminense. Cerca de 100 mil pessoas ficaram desabrigadas e muitas delas migraram para a cidade em busca de abrigo. Desde então, o processo de favelização em Teresópolis se intensificou. A cidade enfrenta uma série de problemas sociais e econômicos, como a desigualdade, a pobreza e o desemprego, que contribuem para a persistência das favelas.

Assim como ocorre em Teresópolis, a urbanização do campo e o êxodo rural desencadeiam uma série de transformações sociais e econômicas. Nas áreas rurais, novos padrões de ocupação do solo surgem à medida que antigas fazendas são convertidas em loteamentos residenciais e áreas comerciais. As comunidades rurais também enfrentam mudanças em suas estruturas sociais e culturais. O influxo de novos residentes, muitas vezes vindos de áreas urbanas, traz consigo diferentes estilos de vida e valores, influenciando a identidade local e as tradições. Essa interação entre o urbano e o rural pode levar a conflitos e desafios de integração.

A PERDA DE IDENTIDADE

Marx (2016) afirma que a divisão entre campo e cidade é a divisão mais importante do trabalho, tanto material quanto intelectual. A cidade é vista como o centro do trabalho intelectual, o que significa que a administração, a política, os impostos e outras questões são necessárias. Por fim, requer uma estrutura pública organizada, começando na esfera política. Marx explica o significado da divisão do trabalho, bem como a relação de poder que dá à cidade uma posição dominante no campo. É onde a direção, a administração e a regulamentação ocorrem. É o epicentro do controle ideológico e financeiro, influenciando a moral, religiosa e a consciência social da sociedade.

Henri Lefebvre (1969) segue essa linha de raciocínio e observa que a divisão primordial do trabalho constitui a base dessa divisão entre campo e cidade. Baseado em Marx, o escritor também afirma que a separação do trabalho entre cidade e campo corresponde à separação do trabalho material e intelectual, e, portanto, entre o natural e o espiritual.

Segundo Lefebvre (1999), os campos e as cidades são construções sociais formadas por diferentes interações sociais. Eles produzem realidades diferentes, mas ambas são impulsionadas pela mesma lógica produtiva do modo de produção capitalista. As relações entre as áreas rurais e urbanas, por sua vez, fornecem conteúdo e vitalidade aos modos de vida específicos de cada local (Lefebvre, 1999). Tanto as áreas urbanas quanto as rurais superam as fronteiras espaciais convencionais. As divergências destacam a diversidade das características do desenvolvimento da sociedade. Ainda que o campo seja principalmente rural, não é exclusivamente assim, e as cidades são principalmente urbanas, mas não exclusivamente (Locatel, 2013).

A incorporação de atividades e estratégias de vida que não são inerentes às suas lógicas não significa que os espaços sejam totalmente uniformes. As características que definem cada subespaço são mantidas. A conexão entre campo e cidade se fortalece à medida que suas diferenças são valorizadas, complementando-se pela forte conexão que existe entre elas.

É importante ressaltar que, a urbanização deve ser vista como um processo, pois tanto o campo quanto as cidades são construções sociais, espaços formados por diferentes relações sociais que criam realidades diferentes, mas todas com a mesma lógica produtiva. Só quando o campo é considerado um mundo rural, ou seja, um conjunto complexo de elementos sociais, culturais, econômicos e interpessoais, e não apenas como agrícola, limitado apenas aos aspectos econômicos, é possível falar em urbanização do campo e perda de identidade.

A migração rural-urbana é um enorme fator que contribui para a perda de identidade, pois os jovens deixam suas comunidades de origem em busca de melhores oportunidades de emprego e uma vida mais contemporânea nas cidades. Muitas vezes, isso resulta na redução da população rural e no envelhecimento das comunidades, abandonando uma sensação de perda de continuidade cultural e uma lacuna geracional.

Além disso, a industrialização do campo e a mecanização da agricultura têm diminuído a dependência da mão de obra humana. Como resultado, o trabalho manual e o conhecimento tradicional transmitido de geração em geração estão menos importantes. Isso pode fazer com que as pessoas que vivem em áreas rurais se sintam desconectadas de suas raízes e do modo de vida rural comum. A perda da identidade do homem do campo é fortemente influenciada por mudanças nos padrões de consumo e nas práticas agrícolas. A globalização e a integração dos mercados têm levado à adoção de práticas agrícolas mais industrializadas e orientadas para o mercado, muitas vezes em detrimento de técnicas agrícolas tradicionais e sustentáveis. Isso pode causar uma sensação de perda de controle sobre o próprio meio de subsistência, bem como uma perda de confiança na profissão agrícola.

O TURISMO RURAL E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

O acesso ao turismo a partir da segunda metade do século XX é resultado de diferentes transformações econômicas, técnicas e socioculturais. Essas transformações incluem o desenvolvimento do transporte aéreo e das telecomunicações, a implementação de novos procedimentos de gestão, o surgimento de novos destinos turísticos e a melhoria geral da qualidade de vida nos países desenvolvidos. Além disso, o aumento do tempo livre e a popularização do turismo contribuíram para essa expansão (Da Câmara Medeiros, 2013).

De acordo com De la Torre,

"o turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural." (De la Torre,1992, p. 19).

O setor de turismo tem experimentado, recentemente, um notável crescimento no desenvolvimento de ideias e ações. Esse aumento na demanda é impulsionado pelo crescimento populacional, pela complexidade urbana associada ao capitalismo e seus modos de produção, e pela busca por opções diferenciadas para a satisfação pessoal (De la Torre,1992). O turismo é frequentemente visto como uma forma de evasão, um sonho ou uma fuga da rotina e das monotonias diárias. Embora não se enquadre nas necessidades básicas como alimentação, moradia, saúde e educação, o turismo deixou de ser considerado um mero capricho. Após atender às necessidades primárias, os indivíduos passam a buscar experiências relacionadas a status, cultura e lazer, áreas em que o turismo desempenha um papel significativo (Da Câmara Medeiros, 2013).

De acordo com um estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e publicado no portal do Ministério do Turismo, o volume de arrecadação no segmento de turismo brasileiro durante a alta temporada de 2023 e 2024 alcançou R$ 162,2 bilhões. Esse valor representa um aumento de 1,4% em relação ao mesmo período de 2022/2023. Vale destacar que apenas a temporada de 2013/2014 apresentou números comparáveis, com uma receita de R$ 165,2 bilhões. O montante arrecadado inclui gastos com hospedagem, bares e restaurantes, serviços culturais, passagens aéreas, locação de veículos, transporte intermunicipal e interestadual, e agências de viagens (CNC, 2024).

O levantamento também revela um recorde histórico na receita obtida com turistas estrangeiros, que totalizou US$ 2,1 bilhões, marcando um aumento de 31% em comparação com a temporada anterior. O valor mais alto registrado anteriormente na série histórica foi de US$ 1,89 bilhão, alcançado em 2016/2017.

Segundo o Panorama do Turismo, igualmente divulgado pela CNC, fevereiro de 2024 apresentou a melhor receita desde 2016, com um volume de R$ 36,01 bilhões. Apesar de uma queda de 0,8% em relação a janeiro, a previsão para 2024 é de crescimento de 2% no setor. O panorama também evidencia que o setor de bares e restaurantes, o que mais contrata durante a alta temporada, registrou um aumento significativo, com a contratação de 15.565 trabalhadores em fevereiro de 2024, comparado a 14.467 no mesmo período do ano anterior.

Em 2023, o turismo rural (Espaço Rural), uma tendência crescente no setor de viagens, atraiu 74% dos turistas em busca de contato com a natureza. Esta tendência é confirmada pela 2ª edição da pesquisa “Demanda Turismo Rural”, realizada pelo Ministério do Turismo em colaboração com a SPRINT Dados e a Rede Turismo Rural Consciente (Rede RDC). A pesquisa, que mapeou as preferências dos turistas no segmento rural entre 20 de abril e 31 de maio de 2023, revela que 70% dos viajantes consideram a “paz e tranquilidade” como um fator essencial ao escolherem seus destinos, enquanto 73% valorizam a “autenticidade da comida caseira”. Entre as atividades rurais mais apreciadas, as trilhas se destacam, com 60% de preferência dos turistas (Rede RDC, 2023).

Adicionalmente, o levantamento indica que 50% dos turistas buscam destinos que ofereçam oportunidades de aprendizado e que a sustentabilidade é uma tendência relevante, atraindo 47% do público. Minas Gerais se destaca como o estado mais procurado para turismo rural, sendo o preferido por 42% dos entrevistados.

Segunda Silva (2006), a expressão "Turismo em Espaço Rural" (TER) refere-se a um conjunto de modalidades de hospedagem situadas em áreas rurais, com o objetivo de explorar seus recursos naturais e culturais.

Este tipo de turismo surgiu como uma resposta das autoridades portuguesas e da União Europeia à crise gerada pela desruralização, um processo que começou por volta de 1960 e que resultou em um declínio das atividades e da população rural (Silva, 2006, p.295).

Os dados sobre o turismo revelam uma intensificação preocupante da descaracterização da paisagem rural, com impactos negativos evidentes em várias dimensões econômicas, sociais e ambientais. A análise revela que, ao contrário do que os profissionais do setor costumam argumentar, o impacto do Turismo em Espaço Rural não é tão significativo no tecido socioeconômico das áreas onde essas unidades são alojadas. Embora o objetivo seja revitalizar essas regiões, a realidade mostra que os benefícios econômicos e sociais desse tipo de turismo podem não ser tão profundos quanto se esperava.

Durante muito tempo, o turismo foi visto como uma indústria isenta de impactos negativos do ponto de vista cultural, social ou ambiental. No entanto, a partir da década de 1970, essa percepção começou a mudar, e as primeiras críticas aos efeitos negativos do turismo começaram a emergir. Apesar disso, muitas regiões têm apostado fortemente na atividade turística como principal motor de desenvolvimento econômico (Faulkner e Tideswell, 1997).

Devido às suas características intrínsecas, o turismo é uma atividade que dinamiza as economias regionais e locais, e tem crescido rapidamente. No entanto, sendo um setor econômico que gera tanto benefícios quanto custos, é essencial que seu desenvolvimento ocorra de forma sustentável (Oliveira, 2010). A dualidade dos efeitos do turismo—positivos e negativos—e sua influência em diversas indústrias têm levado a uma crescente conscientização sobre a necessidade de mitigar os impactos negativos e maximizar os benefícios positivos para garantir sua sustentabilidade. Dessa forma, o debate sobre o desenvolvimento sustentável expandiu-se para o setor turístico (Choi e Sirakaya, 2006; Hunter e Green, 1995).

Nos últimos dez anos, os preços das propriedades em Teresópolis[4], município do estado do Rio de Janeiro, têm subido consideravelmente, refletindo uma tendência mais ampla do impacto causado pelo êxodo vindo do urbano para o rural. À medida que a região ganha popularidade como destino turístico, o crescente interesse de investidores e visitantes faz com que os preços das propriedades disparem. Teresópolis, tradicionalmente conhecida como uma cidade de veraneio, passou por transformações nas últimas décadas. A partir do início dos anos 2010, o município começou a atrair grandes empreendimentos imobiliários, um movimento impulsionado pela saturação do mercado no Rio de Janeiro. Entretanto, foi a partir de 2020, com o advento da pandemia de Covid-19, que Teresópolis se consolidou como um polo emergente no mercado imobiliário.

O aumento populacional registrado nesse período exerceu um impacto direto na demanda por imóveis na cidade, refletindo-se na economia local. Um indicador disso foi o crescimento da arrecadação do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que registrou um aumento de 33% durante o período, evidenciando um incremento nas transações imobiliárias. Entre os fatores que continuam a incentivar a migração para Teresópolis estão o aumento da violência em grandes centros urbanos, a digitalização dos negócios, que possibilita o trabalho remoto, e as expectativas de melhorias na infraestrutura urbana.

O município destaca-se por suas ofertas diversificadas em turismo cultural, gastronômico e natural. Localizado no bioma da Mata Atlântica, o município abriga três importantes unidades de conservação: o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o Parque Estadual dos Três Picos e o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis. Essas áreas protegidas conferem a Teresópolis o título de Capital Nacional do Montanhismo, consolidando sua posição como um destino proeminente para o turismo ecológico e de aventura no estado do Rio de Janeiro.

Adicionalmente, Teresópolis integra a Serra Verde Imperial, uma rota turística composta por quatro municípios adjacentes – Petrópolis, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu e Guapimirim. Essa rota proporciona aos visitantes uma ampla gama de atrações gastronômicas, culturais e históricas, especialmente durante o inverno, além de acesso a cachoeiras e trilhas durante o verão. Além de seu papel como centro de turismo de aventura e natureza, Teresópolis é também o local da Granja Comary, principal centro de treinamento da Seleção Brasileira de Futebol. A cidade está se destacando no cenário turístico pela sua rica gastronomia e pelo crescente reconhecimento de suas cervejas e cervejarias artesanais.

De acordo com o Indicador Abrainc-Fipe, balanço realizado com 18 empresas filiadas à Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), em parceria com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) os lançamentos de empreendimentos de MAP (Médio e Alto Padrão) tiveram ampla expansão e cresceram 339,8%, com a chegada de 23.713 imóveis no mercado brasileiro entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. O crescimento chegou a 278,1% com 70.154 novas unidades, em 12 meses (Fipe, 2022).

Segundo dados do IBGE, a população de Teresópolis foi a que mais cresceu, entre as três com maior IDH da Serra (Petrópolis[5] e Nova Friburgo[6]): o salto foi de 1,1% ao ano entre 2010 e 2021, atingindo 184.240 pessoas. Além disso, a cidade tem um total de 71.324 domicílios, em um aumento de 2,6% ao ano no mesmo período. Em 2000, esse número era menor que 50 mil.

Esse aumento na procura de imóveis, impulsionado pelo crescimento do turismo rural e pelo desejo de uma vida mais tranquila longe das metrópoles, tem levado muitos proprietários a venderem suas propriedades para o mercado imobiliário. Embora isso possa trazer benefícios econômicos para alguns, também tem consequências importantes para as comunidades rurais e seus trabalhadores.

Durante a pandemia, o preço médio de venda de imóveis na Região Serrana aumentou entre 15% e 20%. Terrenos que eram vendidos por R$ 250 mil antes de março de 2020 estão sendo ofertados atualmente por R$ 650 mil a R$ 700 mil. Segundo matéria publicada pelo jornal O Globo em julho de 2024, Teresópolis está vivenciando uma efervescência de projetos de luxo. A cidade atrai incorporadoras que buscam investir em condomínios, visando o público de alta renda (O Globo, 2024).

Por esta efervescência, o cenário de Teresópolis está mudando de forma marcante. Grandes casarões antigos, sítios que por muito tempo preservaram a essência rural da região, e áreas próximas ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos estão sendo ocupados por construções modernas: prédios altos e empreendimentos de luxo. O que antes era uma paisagem tranquila, repleta de história e natureza, agora dá lugar a complexos residenciais de alto padrão, atraindo novos moradores e investidores em busca de conforto e exclusividade em meio à beleza natural da serra.

Esses casarões, que eram parte da identidade da cidade, estão sendo substituídos por edifícios que, embora sofisticados, trazem uma mudança significativa na atmosfera local. Os sítios, que por anos foram espaços de convívio familiar e produção agrícola, agora abrigam condomínios fechados, onde lazer e segurança são os principais atrativos. A proximidade com o Parque Nacional, um dos grandes tesouros naturais da região, se torna um diferencial para esses novos empreendimentos, mas também levanta preocupações sobre o impacto ambiental e a preservação do que faz de Teresópolis um lugar especial.

Essa ocupação intensa, ao mesmo tempo em que valoriza economicamente a região, vai apagando, aos poucos, as características que fizeram de Teresópolis uma cidade única. A paisagem vai sendo transformada, e com ela, a vida dos que sempre viveram ali, acostumados ao ritmo mais calmo e à ligação estreita com a natureza.

Com o aumento dos preços, muitos proprietários rurais são atraídos pelas oportunidades financeiras oferecidas pelo mercado imobiliário e optam por vender suas terras. A conversão dessas áreas para usos turísticos ou residenciais reduz a disponibilidade de terras para cultivo e criação de animais, diminuindo as oportunidades de trabalho no campo e forçando muitos trabalhadores rurais a buscarem empregos nas cidades (Körössy, 2008).

A transformação do trabalhador rural de dono de terras para empregado de quem as comprou é um fenômeno que reflete mudanças profundas no mercado imobiliário rural. Inicialmente, o agricultor, que há gerações cultivava a terra e vivia do que ela produzia, passa a ser seduzido pelas promessas de altos preços de venda de sua propriedade. Os especuladores imobiliários, muitas vezes vindos de centros urbanos, oferecem valores aparentemente atraentes, criando a ilusão de que o campo se tornou um ativo valioso e de fácil liquidez.

No entanto, essa venda raramente traz os benefícios esperados. Ao se desfazer de suas terras, o antigo dono perde não apenas seu meio de sustento, mas também sua identidade e a conexão com a terra que seus antepassados cultivaram. O dinheiro obtido na venda, muitas vezes, não é suficiente para sustentar um novo estilo de vida na cidade, onde o custo de vida é mais alto e as oportunidades, frequentemente, escassas para quem sempre viveu no campo.

Enquanto isso, o comprador, muitas vezes um investidor urbano, transforma a propriedade rural em um cenário idealizado de vida bucólica, longe da realidade do trabalho agrícola. Esse novo proprietário, que busca a "paz do campo", emprega o antigo dono da terra ou outros trabalhadores rurais para manter a propriedade e criar essa imagem de tranquilidade pastoral. O campo, antes um lugar de trabalho árduo, é remodelado para servir de refúgio estético, mais para consumo visual do que para produção agrícola.

Essa dinâmica também está ligada à falsa promessa de que a migração para a cidade trará melhores condições de vida. Muitos trabalhadores rurais vendem suas terras e se mudam para os centros urbanos em busca de uma vida mais próspera, mas frequentemente encontram dificuldades. A transição para a vida urbana é complexa, e a falta de qualificação para o mercado de trabalho urbano coloca esses migrantes em situações de vulnerabilidade. Em muitos casos, acabam em empregos precários ou subempregos, vivendo em condições piores do que aquelas que tinham no campo.

Assim, o que se percebe é um processo de descaracterização da paisagem rural, onde o trabalhador deixa de ser o dono da terra para se tornar um empregado naquilo que um dia foi seu. As forças do mercado imobiliário transformam o campo em um produto, criando um ambiente artificial e superficial, enquanto a verdadeira vida rural, com suas dificuldades e riquezas, é gradualmente esquecida.

CONSEQUÊNCIAS

A migração desses trabalhadores para áreas urbanas pode resultar na perda de atividades agrícolas e na diminuição da população rural. Além disso, a transformação da paisagem rural pode enfraquecer a coesão social e cultural das comunidades, com a perda de práticas e tradições agrícolas transmitidas por gerações. Assim, embora a valorização das propriedades rurais possa trazer ganhos financeiros e estimular o desenvolvimento turístico, ela também tem implicações significativas para o emprego rural, a estrutura das comunidades e a preservação das tradições locais (Alves, 2011).

Com o crescimento desordenado e a falta de planejamento urbano, as classes mais vulneráveis são empurradas para as periferias da cidade em busca de um menor custo de vida, o que aumenta os desgastes ao meio ambiente e precariza o bem-estar dessas populações. O que hoje se configura como áreas urbanizadas, na verdade eram planícies de inundação naturais dos rios, canalizados e retilinizações para dar espaço às formas e aparelhamentos urbanos. Assim, as enchentes seriam uma resposta natural a reproduzir situações anteriores às transformações ocorridas ao longo do tempo, ou seja, a tentativa de atingir um novo equilíbrio do sistema. Além do mais, há de se levar em consideração que o intenso desenvolvimento urbano das cidades acaba por gerar uma apropriação indevida do meio ambiente, tornando muitas vezes as condições ambientais dos núcleos urbanos em um elemento segregador (Rodrigues, 2011).

Como essa apropriação também se constitui de maneira desigual, multiplicam-se os conflitos sociais na busca por melhores condições de moradia, expressas nas disputas pelos ambientes natural e transformado, principalmente por parcelas mais vulneráveis da população, tanto por habitarem áreas onde há a precariedade das condições ambientais, quanto por serem afetados pelas condições socioeconômicas adversas.

Estas são áreas impróprias para a moradia, que oferecem, por sua vez, riscos à vida. Como consequência, temos uma grande parte da população vulnerável à ocorrência de acidentes envolvendo danos materiais e vítimas fatais, os quais acentua, mas situações de riscos, por ocasião dos períodos chuvosos mais intensos atingindo principalmente os habitantes das favelas e loteamentos irregulares instalados nos espaços sem condições adequadas de habitabilidade. De tal modo, uma parte da população, para viver, é obrigada a ocupar determinada parcela do espaço a exemplo dos fundos dos vales e encostas declivosas. Estes são espaços que apresentam inúmeros riscos ambientais, principalmente os deslizamentos e às inundações que estão associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados repetindo-se a cada período chuvoso mais severo.

O processo de favelização de Teresópolis tem promovido múltiplos impactos ambientais inevitáveis e mais que visíveis aos olhos das seguintes administrações do município. A ocupação irregular de áreas naturais, como encostas e margens de rios, causa a degradação ambiental, com a destruição da vegetação, o assoreamento dos rios e o aumento do risco de deslizamentos e inundações. A falta de saneamento básico nas favelas contribui para a poluição do ar, da água e do solo. A falta de coleta de lixo, por exemplo, leva ao acúmulo de resíduos sólidos, que atraem vetores de doenças e contaminam o solo. A falta de tratamento de esgoto nas favelas contribui para a poluição dos rios e da água subterrânea. O esgoto doméstico é lançado diretamente nos rios, sem nenhum tratamento, contaminando a água e o meio ambiente.

A ocupação das encostas por habitações irregulares é um fato preocupante que afeta muitas áreas no município de Teresópolis por décadas, apresentando desafios significativos para a segurança, o meio ambiente e o bem-estar das comunidades envolvidas. Esse tipo de ocupação comumente ocorre em regiões geograficamente desafiadoras, onde as encostas íngremes oferecem terrenos baratos e, muitas vezes, são escolhidos pela população mais sensível por dificuldades econômicas.

A instabilidade do solo em regiões íngremes aumenta a probabilidade de deslizamentos de terra e erosão, representando uma ameaça direta para as estruturas habitacionais e para a vida das pessoas que nelas residem. Desastres naturais, como fortes chuvas, podem intensificar esses riscos, resultando em tragédias como deslizamentos em larga escala. Além dos perigos geológicos, a ocupação irregular de encostas contribui para problemas sociais e econômicos. Muitas dessas habitações carecem de infraestrutura básica, como água potável, saneamento e acesso a serviços de emergência. A ausência de planejamento urbano apropriado impacta negativamente a qualidade de vida, criando comunidades isoladas e dificultando o acesso a oportunidades educacionais e de emprego.

No aspecto econômico, a substituição das atividades agrícolas tradicionais por empreendimentos turísticos, como pousadas, restaurantes e outras infraestruturas voltadas ao turismo, está transformando a paisagem rural de maneira irreversível (Grabois, 2001). A expansão de construções turísticas sobre áreas agrícolas e naturais altera profundamente o uso do solo, enfraquecendo a base econômica tradicional das comunidades rurais. A dependência crescente do turismo sazonal em vez da agricultura contínua cria uma vulnerabilidade econômica significativa, pois as receitas provenientes do turismo podem ser voláteis e menos previsíveis. Esta transição pode resultar em uma economia local mais instável, com menos segurança financeira para os moradores que anteriormente dependiam da agricultura (Lefebvre, 1999).

Socialmente, a descaracterização da paisagem rural traz consequências sérias para o custo de vida. O crescimento da demanda por imóveis e serviços turísticos tende a elevar os preços, tornando a vida mais cara para os residentes. Esse aumento nos custos pode forçar muitos habitantes a buscarem moradias mais acessíveis fora de suas comunidades tradicionais, resultando em deslocamento e possível fragmentação das comunidades rurais. A chegada de turistas e a instalação de novos empreendimentos podem também gerar tensões sociais, com conflitos surgindo entre os antigos residentes e os novos empresários, além de provocar a perda de coesão social e enfraquecer as redes de suporte comunitárias.

Na esfera ambiental, a descaracterização da paisagem rural é particularmente evidente. A construção de infraestruturas turísticas, como hotéis e centros de lazer, sobre áreas verdes e agrícolas pode levar à degradação dos habitats naturais e à redução da biodiversidade. O aumento da urbanização rural exerce pressão significativa sobre os recursos naturais, como água e energia, e contribui para a poluição do solo e da água. Além disso, a expansão das atividades turísticas pode provocar o desmatamento e a destruição de áreas ecologicamente sensíveis, comprometendo a qualidade ambiental e a saúde dos ecossistemas locais (Abramovay, 2000).

Ainda, a transformação da paisagem rural pode resultar na perda da identidade cultural e na erosão das tradições locais. A substituição das práticas agrícolas tradicionais e o foco no turismo podem fazer com que conhecimentos e habilidades ancestrais se percam, enfraquecendo a cultura e a história que caracterizam essas comunidades. O turismo em massa, se não for gerido com responsabilidade, pode também levar a uma experiência turística superficial e homogeneizada, na qual a autenticidade e a riqueza cultural da região são diluídas para atender às expectativas dos visitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este breve estudo evidenciou que a especulação imobiliária em Teresópolis, caracterizada por um enfoque predominantemente econômico, gera diversas consequências negativas para a cidade. Este modelo especulativo, amplamente praticado e desprovido de controles adequados, desconsidera a capacidade de suporte da infraestrutura local e prioriza o lucro em detrimento dos interesses da comunidade residente. Neste cenário, surge a necessidade de um planejamento urbano mais sustentável, que respeite os princípios do desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade no setor imobiliário torna-se, portanto, uma condição essencial para o desenvolvimento equilibrado da cidade a longo prazo. No entanto, é importante observar que a especulação imobiliária frequentemente é confundida com práticas de desenvolvimento sustentável. Enquanto o desenvolvimento sustentável busca equilibrar crescimento econômico, proteção ambiental e justiça social, a especulação imobiliária muitas vezes foca exclusivamente no lucro imediato, desconsiderando esses princípios.

A literatura especializada aponta que a confusão entre desenvolvimento sustentável e práticas especulativas pode advir da crescente ênfase no crescimento econômico sem a devida consideração dos impactos sociais e ambientais. O destaque dado ao crescimento econômico pode levar a uma interpretação equivocada de que práticas imobiliárias altamente lucrativas são necessariamente sustentáveis. Defende-se que qualquer tipo de desenvolvimento urbano, incluindo o imobiliário, pode ser considerado sustentável se adotar os princípios do desenvolvimento sustentável: justiça social, proteção dos recursos naturais e eficiência econômica. Portanto, é indispensável dissociar a ideia de sustentabilidade da especulação imobiliária e promover um planejamento urbano que respeite e integre essas diretrizes para assegurar um crescimento equilibrado e benéfico para toda a comunidade de Teresópolis.

Em síntese, o planejamento sustentável se revela como uma estratégia essencial para a preservação da identidade rural. Ao garantir a inclusão das comunidades locais nas decisões de desenvolvimento, é possível preservar as tradições e práticas culturais específicas à base da vida rural. Além disso, ao valorizar e integrar as práticas agrícolas tradicionais, evita-se a substituição indiscriminada dessas atividades por empreendimentos turísticos, garantindo a continuidade do conhecimento ancestral que enriquece a cultura local. O incentivo ao turismo sustentável se apresenta como uma solução viável, oferecendo oportunidades econômicas que respeitam tanto o meio ambiente quanto as tradições locais. Essa abordagem não apenas gera renda, mas também promove a valorização da paisagem e da cultura rural, fortalecendo os vínculos da comunidade com seu território. A proteção do patrimônio cultural e natural, por sua vez, surge como uma prioridade, com o planejamento sustentável desempenhando um papel decisivo na preservação da biodiversidade e dos habitats naturais, elementos indispensáveis ​​à manutenção da identidade rural.

Por fim, a educação e a sensibilização despontam como ferramentas fundamentais, permitindo que tanto residentes quanto visitantes reconheçam e respeitem a importância da cultura e do meio ambiente rural. Dessa maneira, o planejamento sustentável contribui para um modelo de desenvolvimento que respeite e preserve a essência das comunidades rurais, garantindo que elas possam prosperar sem sacrificar sua identidade cultural e social.

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1 Docente em Tecnologias da Informação e Eletrônica (UNESA-RJ). Mestrado em Educação (UNESA-RJ). MBA em Data Warehouse e Business Intelligence (FI - PR). Pós-Graduado em Antropologia, Filosofia e Educação no Campo (FAVENI-MG). Coordenador e docente do Curso de Especialização, MBA e Pós-Graduação em Inteligência Artificial e Gestão do Conhecimento (FESAV-ES). Graduado em História (FMU-SP). e-mail: [email protected].

2 Doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR-UFRJ). Arquiteta e Urbanista. Especialista em Patrimônio Cultural Urbano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Planejamento Urbano e Regional (Propur-UFGRS). e-mail: [email protected]

3 No Brasil, os aglomerados subnormais são também chamados de favelas, cortiços, loteamentos precários, invasões, entre outros. Eles são um grave problema social e ambiental, pois abrigam uma parcela significativa da população urbana, com condições de vida precárias e que estão expostas a diversos riscos (Pretto, 2013).

4 Teresópolis é um município brasileiro situado no interior do estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do país. Localizado na Serra Fluminense, pertence à Região Geográfica Intermediária de Petrópolis, e está distante a cerca de 94,3 km a norte da capital do estado. Ocupa uma área de pouco mais de 770 km², sendo aproximadamente 64 km² em área urbana (IBGE, 2022).

5 Petrópolis é uma cidade brasileira a norte do Rio de Janeiro. Delimitada pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, com os seus picos arborizados e quedas de água, é conhecida como um retiro de montanha para os residentes do Rio. Ocupa uma área de 795,798 km², e sua população é de 278 881 habitantes. (IBGE, 2023A).

6 Nova Friburgo é um município brasileiro do estado de Rio de Janeiro, distante 136 quilômetros de sua capital, ocupa uma área de 935,429 km² (IBGE, 2023).