CATEDRAL METROPOLITANA DE MACEIÓ: MARCAS DA HISTÓRIA E HARMONIA ARQUITETÔNICA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14583142
Laura Tereza Menezes
Nathalie Tenório de Barros Farias
RESUMO
A Catedral Metropolitana de Maceió, construída no século XIX, é um marco histórico e arquitetônico de Alagoas. Este estudo aborda sua relevância enquanto espaço de preservação cultural, destacando a harmonia entre elementos neoclássicos e barrocos presentes em sua estrutura. Analisam-se aspectos históricos, artísticos e simbólicos da catedral, com ênfase em sua influência na paisagem urbana e no imaginário coletivo da região. A pesquisa busca contribuir para o reconhecimento da importância do patrimônio histórico e cultural de Maceió.
Palavras-chave: Catedral Metropolitana de Maceió, história, arquitetura, patrimônio cultural.
ABSTRACT
The Metropolitan Cathedral of Maceió, built in the 19th century, is a historical and architectural landmark in Alagoas. This study looks at its relevance as a space for cultural preservation, highlighting the harmony between neoclassical and baroque elements present in its structure. Historical, artistic and symbolic aspects of the cathedral are analyzed, with an emphasis on its influence on the urban landscape and the region's collective imagination. The research seeks to contribute to recognizing the importance of Maceió's historical and cultural heritage.
Keywords: Metropolitan Cathedral of Maceió, history, architecture, cultural heritage.
Introdução
A Catedral Metropolitana de Maceió, situada no coração da capital de Alagoas, trata-se de um dos mais relevantes marcos religiosos e históricos do estado de Alagoas. Sua fundação ocorreu em 31 de dezembro de 1859, durante a visita do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina. Conhecida como "Templo Imperial", a igreja é um testemunho da influência da arquitetura neoclássica no Brasil do século XIX.
Este estudo foi conduzido com base em uma abordagem qualitativa, empregando técnicas de pesquisa bibliográfica e de campo. Foram efetuadas visitas in loco à Catedral Metropolitana de Maceió, com o intuito de observar suas características arquitetônicas e registrar elementos históricos significativos. Ademais, foram consultados artigos acadêmicos, obras especializadas em história e arquitetura sacra, bem como documentos disponíveis sobre o patrimônio histórico de Maceió. Tal combinação de estratégias possibilitou uma análise detalhada das marcas históricas e da harmonia arquitetônica presentes na edificação, promovendo uma compreensão integrada de seu contexto cultural e arquitetônico.
O presente estudo teve como objetivo principal realizar uma análise das características arquitetônicas e históricas da Catedral Metropolitana de Maceió, enfatizando sua importância como patrimônio cultural e sua contribuição para a compreensão da história e da identidade local. A pesquisa é fundamentada em fontes bibliográficas, tendo por base os conceitos de preservação do patrimônio cultural, conforme citado por Choay (2001).
A sua edificação foi precedida pela demolição da antiga e modesta capela de Nossa Senhora dos Prazeres em 1840, que estava localizada no Largo do Pelourinho, que hoje é a Praça Dom Pedro II; esta primeira capela, que era dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, foi feita em taipa de pilão e refletia a simplicidade da vila de Maceió na época. Com o crescimento econômico e populacional da cidade, além de sua elevação à categoria de capital em 1839, surgiu a necessidade de um templo maior e mais imponente para atender à comunidade e representar o novo status da cidade (ALBUQUERQUE, 2010).
A construção da atual catedral começou em 1840, após a demolição da antiga igreja matriz. Contudo, a pedra fundamental já havia sido lançada em 1821. O projeto arquitetônico da catedral apresenta influências neoclássicas e, conforme alguns estudos, pode ter sido elaborado por Grandjean de Montigny, um arquiteto francês associado à Missão Artística Francesa.
A inauguração da catedral foi dada em 1859, em uma cerimônia que contou com a presença do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Dona Teresa Cristina. Este evento histórico levou a Catedral Metropolitana a ser apelidada de “Templo Imperial”, em referência à visita da família real brasileira. Desde então, a catedral tem desempenhado um papel essencial na vida religiosa e cultural de Maceió, destacando-se como um símbolo arquitetônico e histórico da cidade.
A Legislação quanto ao tombamento de patrimônios religiosos
No Brasil, o tombamento de patrimônio religioso é regulamentado por um conjunto de leis e decretos que têm como objetivo a preservação de bens culturais de relevante valor histórico, artístico, arquitetônico ou religioso. O Decreto-Lei nº 25, de 1937, constitui a norma fundamental para o tombamento, garantindo a proteção de bens que representam a memória e a identidade cultural do país.
A Constituição Federal de 1988, por meio de seu artigo 216, reforça a abrangência da proteção ao patrimônio cultural, o qual abrange edificações religiosas de significativa relevância. Um exemplo notável é a Catedral Metropolitana de Maceió, que foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1986. Este marco arquitetônico simboliza a história e a religiosidade da capital alagoana, destacando-se tanto pela sua importância na paisagem urbana quanto por sua contribuição à formação da identidade cultural local.
Ademais, a proteção dos patrimônios religiosos no Brasil é fortalecida pela Lei nº 9. 605, de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), que impõe penalidades a ações que resultem em danos aos bens tombados, como a Catedral Metropolitana de Maceió.
O tombamento dessa catedral reflete sua importância histórica e cultural, sendo digna de reconhecimento por seu estilo neoclássico e por abrigar inestimáveis obras sacras que datam do século XIX. A preservação desse patrimônio, garantida pelas leis de tombamento, assegura a continuidade de sua função como espaço de celebração religiosa, além de consolidar seu status como um símbolo da memória coletiva tanto de Maceió quanto do Brasil.
A Catedral Metropolitana de Maceió, também designada como Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, foi oficialmente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no ano de 1986, em virtude da sua significativa relevância arquitetônica, histórica e cultural. Esta catedral, erguida originalmente no século XIX, representa um marco do estilo neoclássico na região de Alagoas e simboliza não apenas a religiosidade da comunidade local, mas também a evolução urbanística da cidade de Maceió (FERREIRA, 2010).
Em 2009, a Catedral passou por um processo de restauração de grande envergadura, realizado sob a supervisão do IPHAN. Esta intervenção teve como objetivo restaurar elementos arquitetônicos e artísticos que haviam sido deteriorados ao longo do tempo, incluindo a fachada principal, os altares internos e o teto. Ademais, a restauração contemplou a renovação de pinturas sacras e detalhes decorativos, respeitando a concepção original do projeto. Este trabalho foi crucial para o restabelecimento do esplendor original da Catedral e para reiterar sua importância enquanto patrimônio cultural e religioso, central à vida da comunidade maceioense.
A Visita de Dom Pedro II a Alagoas
A inauguração do projeto da catedral ocorreu em consonância com o início do Segundo Reinado, em 1840, período durante o qual Dom Pedro II empenhava-se na consolidação da identidade nacional. Nesse contexto, o imperador promovia a edificação de estruturas imponentes, inclusive igrejas, com o objetivo de simbolizar o progresso e a estabilidade do Brasil. A arquitetura neoclássica da catedral, inspirada em modelos europeus, estava em plena sintonia com os ideais estéticos e culturais do Império, que visava reafirmar a presença da Igreja Católica como um pilar essencial da moral e da educação na sociedade.
Os transeuntes, que passam pelas ruas do Centro de Maceió se depara com diversas relíquias históricas que nos fazem parar e perder a noção do tempo. Na Praça da Assembleia, localizada no coração da cidade, um busto se encontra ali desde o século passado. Ele foi instalado logo após a visita do Imperador Dom Pedro II, durante a inauguração da matriz de Nossa Senhora dos Prazeres (atualmente a catedral), em 31 de dezembro de 1859.
De acordo com o escritor e teatrólogo Bráulio Leite Júnior, em seu livro "Outras Histórias de Maceió" (publicado pela Gráfica Graciliano Ramos em 2004), o monumento encontra-se erguido sobre uma longa coluna de mármore, sustentada por uma base circular. A criação do monumento, realizada em Portugal, teve seu custo coberto por uma coleta pública realizada nas províncias de Alagoas, Pernambuco, Sergipe e Bahia, sendo inaugurado em 31 de dezembro de 1861.
Abelardo Duarte (2010) menciona que, após a inauguração da matriz de Nossa Senhora dos Prazeres em Maceió no final de 1859, Dom Pedro II e Dona Tereza Cristina estiveram envolvidos em um conjunto de atividades festivas, incluindo um baile realizado no Palácio da Assembleia Provincial.
Apesar do cansaço provocado pela longa viagem, o casal imperial teve a oportunidade de descansar no Paço Imperial (o palacete do Barão de Jaraguá), onde um quarto havia sido especialmente preparado para sua acomodação. No dia subsequente, o imperador fez um passeio pela cidade montado a cavalo, visitando igrejas, hospitais, cemitérios e prédios públicos, interagindo com os responsáveis e autorizando a liberação de recursos financeiros para diversas instituições.
Dom Pedro II, imperador do Brasil, manteve uma estreita relação com o catolicismo, promovendo iniciativas religiosas e culturais em diversas regiões do país. Em um gesto de devoção e reconhecimento da relevância da religião católica em Alagoas, ele ofereceu uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres à Catedral Metropolitana de Maceió (MARTINS, 2012).
Esta doação, realizada no século XIX, não apenas evidenciou o apoio do imperador à preservação e promoção da fé católica, mas também refletiu sua intenção de fortalecer os laços entre o governo central e as províncias do Império. A imagem tornou- se um dos elementos mais significativos da catedral, reforçando ainda mais o valor religioso do espaço.
A doação de Dom Pedro II inseriu-se em um movimento mais amplo, voltado para o fortalecimento da Igreja Católica no Brasil, especialmente durante o período imperial, em que o catolicismo estava intrinsecamente relacionado ao Estado. No contexto de sua política de promoção da cultura e da religião, o imperador realizou doações a diversas igrejas e catedrais em todo o território nacional, incluindo a de Maceió. A imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, além de simbolizar a fé, representava também uma conexão entre o monarca e a cidade, solidificando o prestígio da catedral e da Igreja Católica no contexto alagoano.
Esse gesto de Dom Pedro II reflete sua preocupação com o fortalecimento da identidade nacional, ao associar a figura imperial à devoção religiosa e ao patrimônio cultural de cada região. A imagem, que permanece sendo venerada na catedral, simboliza não apenas o apoio do imperador, mas também a continuidade de um relevante patrimônio cultural e espiritual da cidade de Maceió. Com o passar do tempo, tornou-se um dos principais ícones da cidade e da religiosidade em Alagoas, consolidando a Catedral Metropolitana como um marco na história local e nacional.
Um viés Histórico a respeito da catedral metropolitana de Maceió
Tendo sido projetada no século XIX, a Praça Dom Pedro II, situada no Centro de Maceió, Alagoas, constitui um marco histórico e urbanístico que ilustra as transformações socioeconômicas e culturais da cidade. Projetada em um contexto de modernização urbana, a praça simboliza os esforços das elites locais em alinhar Maceió às tendências arquitetônicas e paisagísticas que se disseminavam nas capitais brasileiras da época (Abreu, 1994).
Do ponto de vista urbanístico, a Praça Dom Pedro II foi concebida como um espaço de convivência e integração, destacando-se por sua disposição geométrica e pela inclusão de elementos como bancos, iluminação pública e vegetação ornamental típica do período, entre os quais se incluem palmeiras imperiais. Sua localização estratégica, circundada por edificações significativas, como a Assembleia Legislativa e a Catedral Metropolitana de Maceió, reforça sua função como um centro cívico e cultural (Leal, 2005).
As características arquitetônicas e paisagísticas da praça evidenciam influências do urbanismo europeu, especialmente no que se refere ao estilo francês, que privilegiava a harmonia entre os elementos naturais e construídos. Este modelo urbanístico buscava não apenas o embelezamento do espaço público, mas também sua funcionalidade, proporcionando áreas de lazer e encontro para a população (Holston, 1993).
Com a transição para o século XX, a praça também se tornou um ponto de efervescência social, refletindo as dinâmicas da vida urbana em expansão, caracterizada pela circulação de bondes nas proximidades e pelo fluxo constante de pedestres. Este cenário ilustra as mudanças que acompanhavam a modernização das cidades nordestinas, marcadas pela introdução de novas tecnologias e pelo crescente impacto da arquitetura europeia (Abreu, 1994; Leal, 2005).
Durante o período imperial, Maceió apresentou um expressivo crescimento urbano e populacional, consequência de sua consolidação como a capital da província de Alagoas em 1839. Nesse contexto, tornou-se imperativo substituir a antiga capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres por uma edificação de maior envergadura e prestígio, que atendesse às crescentes demandas espirituais e sociais da população em expansão.
A capela original, que se caracterizava por sua simplicidade conceitual, já não comportava o aumento do número de fiéis e não se adequava às aspirações urbanísticas da cidade, a qual almejava afirmar-se como uma capital moderna e em consonância com os padrões arquitetônicos da época (Abreu, 1994).
A decisão de edificar a nova igreja, que posteriormente se tornaria a Catedral Metropolitana de Maceió, refletiu também as transformações no papel da religião na sociedade urbana. A igreja não se limitava a ser um espaço de culto, mas atuava como um marco simbólico dentro do tecido urbano, representando o poder e a influência da Igreja Católica durante o período imperial. Sua localização no centro da cidade sublinhava essa função, integrando-a aos principais espaços cívicos e administrativos de Maceió, como a Praça Dom Pedro II e a Assembleia Legislativa (Leal, 2005).
A construção da catedral seguiu as tendências arquitetônicas do neoclassicismo, um estilo que predominou no Brasil no decorrer do século XIX, caracterizado pela grandiosidade e simetria de suas formas. Este estilo era frequentemente associado à modernidade e ao progresso, valores que as elites alagoanas aspiravam transmitir através de suas edificações públicas e religiosas. Ademais, a nova igreja servia como um símbolo de estabilidade e continuidade, contrastando com a simplicidade da antiga capela, que representava um passado colonial que se tornava cada vez mais distante (Holston, 1993).
A transição da capela para a catedral não se restringiu a uma questão de urbanismo ou arquitetura, mas também envolveu elementos de identidade cultural e política. A nova igreja consolidou-se como um ponto de encontro para eventos religiosos e cívicos, reforçando a centralidade da religião na vida da cidade.
Simultaneamente, sua construção simbolizava a ambição de Maceió em estabelecer-se como uma capital que se alinhasse aos ideais do Império, dotada de uma infraestrutura e monumentos que refletissem seu papel como centro político, econômico e cultural do estado de Alagoas (Abreu, 1994; Leal, 2005).
José Antonio de Mendonça, reconhecido como Barão de Jaraguá, figurou entre as personalidades mais influentes de Alagoas durante o período imperial, destacando-se por sua atuação como proprietário de engenhos e como membro da elite agrária. Sua relevância para o desenvolvimento de Maceió transcendeu o âmbito econômico, uma vez que também desempenhou um papel crucial na promoção da cidade como um centro urbano e cultural da província. O Barão de Jaraguá participou ativamente das decisões que moldaram a Maceió moderna, contribuindo significativamente para diversas obras de infraestrutura que visavam elevar o prestígio da cidade no contexto nacional (Abreu, 1994).
No que se refere à construção da Catedral Metropolitana de Maceió, o Barão de Jaraguá destacou-se como um dos principais apoiadores financeiros e políticos deste projeto, que tinha como finalidade substituir a antiga capela dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres.
Sua colaboração com a obra refletia seu desejo de modernizar a cidade e fortalecer as instituições religiosas, considerando que a nova catedral não apenas satisfazia uma necessidade espiritual da população em crescimento, mas também atuava como um símbolo de poder e prestígio para a elite local. Assim, a Catedral Metropolitana tornou- se um reflexo das aspirações políticas e sociais do Barão de Jaraguá, deixando na cidade um edifício monumental que reforçava a centralidade da Igreja Católica e da elite alagoana na configuração urbana de Maceió (Leal, 2005).
O Barão de Jaraguá, José Antônio de Mendonça, igualmente desempenhou um papel fundamental na edificação de um monumento em homenagem ao imperador Dom
Pedro II, o qual se configurou como um marco de significância no espaço urbano de Maceió. O referido monumento foi erguido em 1884, na Praça Dom Pedro II, uma das áreas mais relevantes da cidade.
A intenção do Barão ao financiar e promover a construção dessa estátua não se restringiu a apenas prestar tributo ao imperador, mas visava, adicionalmente, consolidar o prestígio de Maceió como um centro de civilização e modernidade no contexto do Brasil imperial. A praça, situada no coração da cidade, foi meticulosamente planejada para funcionar como um espaço de encontro e reflexão, refletindo as aspirações políticas e sociais da elite local.
O monumento, que representava Dom Pedro II em sua figura de soberano, simbolizava a estabilidade do Império e a interconexão de Maceió com o governo central. A presença da estátua na praça reforçava a imagem de um Brasil coeso sob a monarquia e servia como uma representação da continuidade das relações políticas entre a cidade e o Império.
Além disso, o monumento assumia a função de um afirmativo símbolo do poder da elite alagoana, que percebia na obra uma oportunidade de associar-se ao poder imperial e ao desenvolvimento da urbanidade da cidade. Ao promover a construção do monumento, o Barão de Jaraguá consolidou sua própria posição no cenário político e social de Alagoas, evidenciando seu compromisso com a modernização urbana e com o prestígio de Maceió enquanto capital.
Localização da Catedral
O bairro do Centro reúne três elementos arquitetônicos emblemáticos de Maceió: a Praça Dom Pedro II, a Catedral Metropolitana e o Farol Marítimo. Na composição, a praça assume papel central, prevalecendo como foco principal. O enquadramento em plano geral captura não apenas a arquitetura, mas também a interação do espaço com a vida cotidiana da época, incluindo pedestres, bondes em movimento e arborização.
Edifícios como a Assembleia Legislativa, situada à direita, e a Catedral Metropolitana, localizados no plano secundário, complementam a cena sem perder sua relevância arquitetônica. A perspectiva adotada ressalta a harmonia entre os elementos arquitetônicos e o dinamismo urbano presente no entorno da praça.
A ideia de que a fotografia reflete fielmente a realidade é equivocada. É fundamental que o observador compreenda que a fotografia é, na verdade, uma construção intencional. Ela resulta de diversas decisões tomadas pelo fotógrafo, que refletem objetivos explícitos ou implícitos. O objeto retratado, conhecido como referente, é frequentemente o elemento que mais desperta interesse e direciona a análise do espectador.
A arquitetura Neoclássica da Catedral Metropolitana de Maceió
Durante o reinado de D. Pedro (1840-1889), tivemos a arquitetura Neoclássica representando uma fase de consolidação dos valores estéticos e culturais provenientes da Europa, os quais foram adaptados ao contexto nacional. Inspirado pelos ideais de equilíbrio, simetria e grandiosidade do classicismo greco-romano, o estilo neoclássico foi amplamente empregado em edifícios públicos e religiosos, simbolizando o poder imperial e a busca pela modernidade (FRAMPTON, 1997).
As igrejas e catedrais construídas nesse período passaram a refletir uma sobriedade decorativa e uma organização espacial meticulosamente planejada, características que dialogavam com a autoridade e a estabilidade almejadas pelo regime monárquico (MORAES, 2014).
A influência deste estilo nas igrejas e catedrais brasileiras é manifesta em suas fachadas simétricas, frontões triangulares, colunas clássicas e interiores amplos e iluminados. Esses elementos, associados a ornamentos discretos, conferiam uma aura de solenidade e nobreza aos templos religiosos.
Exemplos como a Catedral Metropolitana de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, evidenciam a coexistência de estilos, combinando características neogóticas com a sobriedade neoclássica (NOVAES, 2010). Sob o patrocínio de D. Pedro II, a arquitetura religiosa neoclássica estabeleceu-se como um marco visual e espiritual, traduzindo a ambição de alinhar o Brasil aos padrões artísticos internacionais, ao mesmo tempo em que reafirmava os valores do catolicismo no cenário nacional (COSTA, 2018).
Inaugurada em 1859, A Catedral Metropolitana de Maceió, representa um significativo exemplo da arquitetura religiosa do século XIX no Brasil, destacando-se especialmente dentro do estilo neoclássico. O neoclassicismo, influenciado pela arte e arquitetura da Grécia e Roma antigas, manifesta-se na catedral por meio de sua fachada simétrica e austera, caracterizada por colunas dóricas, frontão triangular e janelas de molduras simples e elegantes, atributos típicos deste movimento (KOSTOF, 1995).
Grandjean de Montigny, arquiteto francês integrante da Missão Artística Francesa, deixou uma contribuição significativa à arquitetura brasileira, consolidando o estilo neoclássico como uma das linguagens arquitetônicas predominantes no início do século XIX. Sua formação na École des Beaux-Arts, em Paris, aliada à sua atuação em projetos emblemáticos no Brasil, como a Casa França-Brasil, localizada no Rio de Janeiro, evidenciam seu papel central na introdução de valores clássicos no contexto arquitetônico local.
No que diz respeito à Catedral Metropolitana de Maceió, cuja autoria é atribuída a Grandjean, é possível observar a aplicação dos princípios neoclássicos dentro de uma perspectiva regional. Conforme apontado por Caravias (1999), as obras de Grandjean refletem uma busca por ordem e monumentalidade, características que se manifestam na planta da catedral por meio da simetria e da rigorosa proporcionalidade dos espaços.
De acordo com Leme (1985), o neoclassicismo promovido por Grandjean no Brasil representa uma integração entre os ideais europeus de racionalidade e as condições culturais e técnicas locais. No projeto da Catedral de Maceió, tal abordagem é claramente perceptível no equilíbrio entre a monumentalidade do edifício e a sua funcionalidade litúrgica, atributos que reforçam sua relevância como um marco arquitetônico. Embora a construção tenha sofrido modificações ao longo do tempo, a planta original elaborada por Grandjean consolidou-se como referência, reforçando o edifício como um exemplar paradigmático da interação entre o academicismo europeu e a realidade brasileira.
A Catedral Metropolitana de Maceió, dedicada à Nossa Senhora do Bom Sucesso, é um importante exemplo da arquitetura neoclássica em Alagoas. O estilo neoclássico, que surgiu no final do século XVIII e início do XIX, é caracterizado pela busca de simetria, equilíbrio e proporções harmônicas, inspiradas nas formas da antiga Grécia e Roma (VITRUVIUS, 2008). A catedral, concluída em 1859, reflete esses princípios por meio de seu design imponente, com elementos clássicos e detalhes que trazem grandiosidade à construção.
Um dos principais aspectos neoclássicos da catedral são suas colunas dórias, que conferem um ar de solidez e simetria. A ordem dórica, de simples elegância, é uma característica importante do estilo, sendo um dos pilares da arquitetura clássica, que se reflete também nas colunas da fachada e do interior (BASTIAN, 2016). Essas colunas são um símbolo de estabilidade e elegância, com seu design robusto, típico do período neoclássico.
As vidraças coloridas da catedral, com suas formas geométricas e cenas religiosas, são outro destaque. Embora o uso de vitrais seja comum em igrejas de diversos estilos arquitetônicos, no neoclássico eles assumem uma função simbólica de iluminação divina, contribuindo para a criação de um ambiente contemplativo e espiritual. O vitrail no neoclassicismo buscava não apenas embelezar, mas também expressar a luz como algo divino (MARTINS, 2010). O uso do vidro pintado e a riqueza de detalhes proporcionam um efeito visual impactante, harmonizando o espaço interior da catedral.
A cruz no alto da catedral, um dos principais símbolos cristãos, é um elemento que dialoga diretamente com a simplicidade e a força do neoclassicismo. O uso de formas claras e imponentes reflete a busca pela beleza clássica e pela simbologia forte, sem exageros decorativos. A cruz, em sua forma simples e majestosa, reforça o caráter simbólico da arquitetura religiosa (LAROSE, 2017).
A fachada da catedral é outro exemplo claro do estilo neoclássico, com seu desenho simétrico e a escadaria que leva ao altar. O design do edifício, com suas linhas claras e proporções harmoniosas, é um reflexo da busca por equilíbrio, uma das principais características do movimento (MARTINS, 2010). Além disso, o uso de materiais nobres, como o mármore e a pedra, proporcionando uma estética de grandeza.
Esses elementos não apenas conferem à igreja um caráter de solenidade e grandiosidade, mas também aderem aos princípios de equilíbrio e clareza que marcaram o estilo neoclássico, aplicado de maneira a se adaptar ao contexto brasileiro (MORAES, 2014).
No interior, a catedral preserva o conceito de um espaço amplo e organizado, com uma nave central que proporciona uma adequada iluminação natural, característica de um estilo que privilegia a funcionalidade e a estética por meio da simplicidade. Os materiais empregados na construção incluem pedras, como o calcário, e madeira de lei, que asseguram não apenas a robustez estrutural da edificação, mas também contribuem para a estética contida e austera do neoclassicismo. A utilização de materiais locais reflete a adaptação da arquitetura europeia no Brasil, aproveitando os recursos disponíveis de forma inteligente e eficiente (COSTA, 2018).
Este projeto teve sua supervisão realizada por renomados profissionais da arquitetura e engenharia da época, entre os quais se destaca o arquiteto francês Auguste de Saint-Hilaire, o qual também esteve envolvido em outros projetos significativos no Brasil. Sua colaboração, em conjunto com a mão de obra local, propiciou a concretização de um edifício que não apenas respeitou as normas do neoclassicismo, mas também se ajustou às particularidades regionais.
Reformas realizadas ao longo do século XX contribuíram para a preservação das características do edifício, garantindo a continuidade de seu papel como ícone da arquitetura religiosa em Alagoas (NOVAES, 2010).
Do ponto de vista arquitetônico, a localização da Praça Dom Pedro II, situada no centro histórico de Maceió, evidencia uma clara intenção de planejamento urbano que reflete tanto o simbolismo religioso quanto o poder político da época. A praça, estrategicamente posicionada em uma área elevada, foi concebida como o núcleo da cidade, tendo a imponente Catedral Metropolitana de Maceió como seu elemento central. Os edifícios circunvizinhos à praça complementam sua relevância cultural e histórica, formando um conjunto arquitetônico de grande importância. O Palácio dos Martírios, cuja estrutura neoclássica é marcada por sucessivas adaptações, serviu como sede do governo estadual e atualmente abriga o Museu Palácio Floriano Peixoto.
Nas proximidades, o Teatro Deodoro, inaugurado em 1910, reflete o estilo eclético da época, combinando elementos neoclássicos em sua fachada e um interior adornado com pinturas e esculturas, reafirmando assim o papel central das artes na formação da identidade cultural alagoana.
De acordo com Novaes (2010), A Praça Dom Pedro II, com seus jardins cuidados e sua organização harmoniosa, transcende a condição de mero espaço público; é um elo entre o passado e o presente de Maceió. As edificações que a circundam não apenas narram a história política e religiosa da cidade, mas também revelam a evolução estética e funcional da arquitetura local. Dessa forma, a praça e seus arredores permanecem como um marco de convivência, um símbolo de herança cultural e um testemunho das transformações sociais e urbanísticas que moldaram Maceió ao longo dos séculos.
Os jardins projetados com influência dos estilos europeus de jardinagem predominantes durante os períodos colonial e imperial, apresentava uma ornamentação que seguia princípios de simetria e geometria. Seus canteiros eram organizados de maneira meticulosa, com árvores e arbustos dispostos de forma a criar uma composição equilibrada, perfeitamente integrada à paisagem urbana. Ademais, as fontes e os bancos, elementos comuns nos espaços públicos da época, não apenas conferiam um caráter decorativo ao ambiente, mas também ofereciam conforto e oportunidades de descanso para os cidadãos.
O pavimento de pedra, que se estendia pelos caminhos sinuosos do jardim, refletia uma preocupação com a funcionalidade, enquanto a vegetação seletivamente escolhida era adequada ao clima tropical de Maceió. A utilização de espécies adaptadas assegurava que o jardim se mantivesse verde e vibrante ao longo de todo o ano, criando uma atmosfera agradavelmente tranquila e propícia à contemplação. Essa combinação de elementos arquitetônicos e naturais transformava a praça em um local de convivência social e de integração entre a cidade e a natureza.
Durante os séculos XIX e XX, o jardim da Praça Dom Pedro II constituiu um dos principais pontos de encontro e lazer da população maceioense, funcionando como um espaço de significância cívica e cultural. A sua preservação ao longo dos anos tem contribuído para a manutenção do caráter histórico do local, refletindo a identidade e os valores da cidade. Mesmo diante das mudanças urbanísticas e dos desafios contemporâneos, o jardim permanece como um testemunho da arquitetura paisagística da época, constituindo um espaço que continua a dialogar com a história e a cultura de Maceió.
Conclusão
Na realização deste artigo foi possível salientar que a Catedral Metropolitana de Maceió tem destaque não apenas por sua relevância religiosa, mas também por sua significativa contribuição à história e à arquitetura da cidade, refletindo o período neoclássico e as influências do Brasil Imperial. A atuação de Dom Pedro II foi fundamental para o incentivo à arte e à arquitetura no país, visto que ele se revelou um promotor de obras públicas que visavam à modernização e à construção de um cenário nacional de grandeza (Carvalho, 2006). O projeto da catedral, combina elementos neoclássicos com uma estética religiosa imponente, buscava alinhar-se aos valores da época e integrar a Igreja Católica ao movimento de afirmação do Brasil enquanto nação.
A figura do Barão de Jaraguá, responsável pela administração local, desempenhou um papel crucial no progresso da obra e na concretização do projeto. Seu envolvimento com a catedral não apenas reflete a estrutura política do período, mas também demonstra a importância de um planejamento urbano que visava conferir à cidade uma aparência mais moderna e em consonância com as expectativas do Império (Nascimento, 2010). Dessa forma, a Catedral Metropolitana não somente cumpriu uma função espiritual, mas também se consolidou como um símbolo de poder e identidade para Maceió e para o Brasil da época.
A análise da catedral revelou a convergência entre a religiosidade, a política e a arquitetura, características de um período de afirmação da identidade nacional brasileira. Através deste estudo, infere-se que a catedral, mais do que um espaço de culto, representa uma construção simbólica da modernidade, de um Brasil que, por meio de suas obras arquitetônicas, buscava traduzir seus ideais de progresso e civilização. A preservação desse patrimônio, portanto, é essencial para a compreensão do desenvolvimento histórico e cultural de Maceió, bem como do Brasil como um todo (Lima, 2015).
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Quando houver financiamento da pesquisa, o autor deve indicar, em nota de rodapé posicionado após o título da contribuição, a instituição financiadora, e no campo específico no momento da submissão.