BULLYING FÍSICO NO AMBIENTE ESCOLAR: VOZES ESTUDANTIS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE RESPEITO
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17065454
José Henrique Aquino de Souza1
RESUMO
O bullying, no contexto educacional, configura-se como um problema de saúde pública e social, exigindo a atuação de todos os agentes envolvidos na comunidade escolar para a promoção de um ambiente mais respeitoso e acolhedor. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo analisar os fatores que contribuem para a violência interpessoal entre estudantes do Ensino Fundamental II, com ênfase na violência física, refletindo sobre seus impactos no ambiente escolar e no processo de ensino-aprendizagem, bem como discutir práticas educativas voltadas à prevenção e à promoção de uma cultura de respeito e não violência. Este trabalho, ademais de uma fundamentação teórica alicerçada em autores que abordam sobre a temática, contempla também a realização de algumas tarefas pedagógicas com o fim de reduzir os índices de violência no contexto educacional a partir de rodas de conversa, produção de materiais didáticos, apresentações e grupos de estudo. A metodologia adotada é descritiva/qualitativa e delineia as etapas necessárias para o alcance dos objetivos propostos. A fundamentação teórica apoia-se em autores que discutem o fenômeno do bullying, contribuindo para a compreensão conceitual e prática da problemática, tais como Assis, Njaine, Marriel (2024), Cecchetto, Ribeiro, Oliveira (2024), Lopes et al. (2019), Seixas (2025), Silva et. al (2014), Teixeira e Porto (1998). Espera-se, ainda que de forma gradual, a transformação do espaço, com o envolvimento de toda a comunidade, em prol da redução dos casos de agressões. Este documento não pretende ser uma fórmula para que os problemas sejam dizimados, mas pontos a serem refletidos e aprimorados, conforme realidade específica.
Palavras-chave: Violência física. Violência interpessoal. Bullying escolar. Prática pedagógica.
ABSTRACT
Bullying, in the educational context, is a public and social health problem, requiring the performance of all agents involved in the school community to promote a more respectful and welcoming environment. In this sense, this work aims to analyze the factors that contribute to interpersonal violence among elementary school students, with emphasis on physical violence, reflecting on their impacts on the school environment and the teaching-learning process, as well as discussing educational practices aimed at preventing and promoting a culture of respect and nonviolence. This work, in addition to a theoretical foundation based on authors who address the theme, also contemplates the realization of some pedagogical tasks in order to reduce the rates of violence in the educational context from conversation wheels, production of teaching materials, presentations and study groups. The adopted methodology is descriptive/qualitative and outlines the necessary steps to achieve the proposed objectives. The theoretical foundation is based on authors that discuss the phenomenon of bullying, contributing to the conceptual and practical understanding of the problem, such as Assisi, Njaine, Marriel (2024), Cecchetto, Ribeiro, Oliveira (2024), Lopes et al. (2019), Seixas (2025), Silva et. Al (2014), Teixeira and Porto (1998). It is expected, albeit gradually, the transformation of space, with the involvement of the entire community, in order to reduce cases of aggression. This document is not intended to be a formula for problems to be decimated, but points to be reflected and improved, according to specific reality.Keywords: O mesmo conteúdo de palavras-chave, porém em inglês.
Keywords: physical violence. Interpersonal violence. School bullying. Pedagogical practice.
1 INTRODUÇÃO
É visível, nos últimos anos, um número crescente de casos de violência contra crianças, seja no ambiente educacional, seja no contexto familiar, seja no convívio comunitário. Isso se dá, entre outros motivos, devido a fatores socioeconômicos (Teixeira; Porto, 1998). Ante o exposto, é cabível a apresentação do dado da Associação Brasileira de Pediatria (SBP) sobre o número de casos de violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Segundo essa sociedade, em torno de 200 casos de violência contra crianças e adolescentes são notificados todos os dias no Brasil.
Essas práticas acabam se perpetuando do convívio familiar para o educacional: crianças mais violentas com os colegas, com o professor e com a comunidade escolar. Comprometendo a saúde física e mental: ansiedade, depressão, além do regresso no desenvolvimento da aprendizagem. Lopes et al. (2019, n.p) evidencia que a prática de violência, seja em qualquer âmbito e nível: “(...) é um problema social grave e considerado como o desafio do século, pois se encontra disseminada na população (...)”.
Segundo Minayo e Souza (1998 apud UnaSus, 2014, p. 12), violência física é: “Qualquer ação intencional, perpetrada por indivíduo, grupo, instituição, classes ou ações dirigidas a outrem, que cause prejuízos, danos físicos, sociais, psicológicos e (ou) espirituais”. E, corroborando a ideia anteriormente exposta, Assis, Njaine e Marrial (2024, p. 46) destaca que: “A violência é o resultado da complexa interação de fatores individuais, de relacionamentos estabelecidos, comunitários e sociais”. Isto é, ela surge de fatores inter-relacionados.
Ainda consoante aos especialistas Assis, Njaine e Marrial (2024, p. 46), um dos fatores que contribui com esse círculo de práticas, inclui, por exemplo: “normas que dão prioridade aos direitos dos pais sobre o bem-estar da criança”, “normas culturais que apoiam a violência como uma forma aceitável para educar crianças e adolescentes assim como solucionar conflitos”.
Posto isto, os níveis relacional, comunitário e social interferem no contexto educacional e os atos de violência, muitas vezes, advêm de questões anteriores. Assis, Njaine e Marriel (2024) destacam que a violência é uma intersecção entre os níveis supracitados e, para que nós possamos identificá-los e possivelmente contribuir com suas coibições, é necessário conhecimento/estudo, bem como o acionamento de agentes competentes.
No âmbito escolar, é perceptível um nível crescente de agressões físicas entre alunos, quer em sala de aula, quer no pátio da escola e, inclusive, contra professor. Segundo o site Infância Segura, do governo do Estado do Paraná, quanto à conceituação de abuso físico, é:
A ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico. Está relacionada com a utilização de força física contra à pessoa, criança ou adolescente, por cuidadores, pessoas do convívio familiar ou terceiros (Paraná, 2024, n.p).
E, assim, tais atos, de acordo com (Krug et al., 2002 apud Assis; Njaine; Marriel, 2023, p. 49), podem ser chamados também de violência interpessoal: “caracterizada pela violência de uma pessoa contra outra (...)”, que perpassa o familiar e comunitário, atingindo o escolar. A seguir, é possível perceber um modelo ecológico, proposto por Krug et al. (2002, p. 13 apud Assis; Njaine; Marriel, 2023, p. 46) que evidente a compreensão do contexto da violência:
O primeiro nível do modelo ecológico, o individual, leva em consideração os fatores históricos, sociais, biológicos e pessoais que uma pessoa traz em seu comportamento e que podem afetar a possibilidade de ela ser vítima ou perpetradora da violência. O nível relacional diz respeito às relações sociais próximas – por exemplo, relações com companheiros, parceiros íntimos e membros da família – que aumentam o risco para vitimização violenta e perpetração da violência. O terceiro nível analisa os contextos comunitários das relações, como as escolas, os locais de trabalho e a vizinhança, e busca identificar as características desses cenários associadas ao fato de a pessoa ser vítima ou perpetradora da violência. Por fim, o último nível do modelo ecológico analisa os fatores sociais mais amplos que influenciam os índices de violência.
Levando em consideração os episódios constantes de bullying escolar na instituição em que o autor deste trabalho atua como educador, sobretudo os casos de violência física entre os alunos, foi o que motivou a desenvolver este artigo científico. Esse tipo de violência compromete os processos de ensino e aprendizagem, além do aumento de episódios de ansiedade e evasão escolar. Essas violências reverberam no convívio entre alunos dentro e fora do contexto escolar.
É importante mencionar que bullying é todo ato sistemático que tem como objetivo ferir outrem:
(...) é manifestado por alguém (um indivíduo ou um grupo de indivíduos) e tem como alvo outro indivíduo. Assim sendo, encontra-se sempre subjacente o envolvimento activo de, pelo menos, dois sujeitos, aquele que agride (o agressor) e aquele que é vitimizado (a vítima) (Seixas, 2005, p. 98).
Tais práticas constantes estão presentes no cotidiano da escola, principalmente na turma do 7º ano, entre estudantes de 11 a 13 anos de idade, em sua maioria do sexo masculino, porém, de acordo com os demais profissionais de ensino, as mesmas incidências ocorrerem com os jovens dos 6º anos (10 a 11 anos); 8º anos (12 a 14 anos); e 9º anos (13 a 15 anos), o maior número de agressões também figura entre os indivíduos do sexo masculino.
A grande incidência envolvendo, sobretudo meninos, está na construção social e na divisão de tarefas do que é próprio para garota e para garoto: “meninos e meninas são educados para se comportar de maneira diferente no exercício da sexualidade” (Cecchetto; Ribeiro; Oliveira, 2024, p. 138). Ou seja, espera-se do comportamento entre os meninos força e virilidade. Enquanto para as meninas, o papel a ser desenvolvido é o da fragilidade e submissão. Essas práticas refletem no comportamento social dentro da escola, culminando, por exemplo, na violência uns contra os outros.
Este trabalho tem-se como objetivo geral analisar os fatores que contribuem para a violência interpessoal entre estudantes do Ensino Fundamental II, com ênfase no bullying físico, refletindo sobre seus impactos no ambiente escolar e no processo de ensino-aprendizagem, bem como discutir práticas educativas voltadas à prevenção e à promoção de uma cultura de respeito e não violência.
Ainda, como específicos, compreender as raízes socioculturais, econômicas e relacionais da violência interpessoal entre crianças e adolescentes no contexto escolar; presentar e discutir os marcos legais e políticos que orientam o enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes na escola, como o ECA, a DUDH, o PNEDH e a Lei 13.185/2015; perceber os impactos do bullying físico na saúde mental dos estudantes, nos processos de socialização e no desempenho escolar; descrever e refletir criticamente sobre estratégias de atividades que podem ser aplicadas no ambiente escolar, na redução da violência física entre os estudantes.
A fundamentação teórica apoia-se em autores que discutem o fenômeno do bullying, contribuindo para a compreensão conceitual e prática da problemática, tais como Assis, Njaine, Marriel (2024), Cecchetto, Ribeiro, Oliveira (2024), Lopes et al. (2019), Seixas (2025), Silva et. al (2014), Teixeira e Porto (1998).
Espera-se que, além dos alunos (especialmente), os professores e os demais funcionários da instituição, bem como a comunidade acadêmica, possam compreender e se conscientizar sobre as consequências do bullying (agressões físicas) nas vítimas de violência, como processos que deixam marcas, mesmo que esses alunos sejam capazes de ter um diálogo direto sobre essas incidências com seus responsáveis.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
Ao longo da história da humanidade, os indivíduos passaram a ter garantias e deveres em prol de uma boa organização social. Todavia é sabido que alguns grupos, a exemplo de mulheres, negros, crianças e homossexuais tiveram muitos de seus direitos cerceados há anos, inclusive, ainda que de forma menos latentes, nos dias atuais.
Frente a isso, dentro do ambiente educacional, nas últimas épocas, tem-se observado um número desproporcional de casos de práticas de agressões, que têm culminado em mortes. Consoante Ferreira, Junior e Higarashi (2024), o bullying é um termo utilizado para denominar todo ato que envolve comportamentos agressivos, de forma constante, sem motivo aparente, que sucede em diversos contextos. Quem o pratica se vale de uma relação de desproporcionalidade de poder com relação à vítima.
Silva, Vilela e Oliveira (2024, p. 15), nas suas pesquisas sobre a temática aqui objeto de estudo, pondera que:
(...) Os resultados comprovam que, no que se refere ao nível socioeconômico, (...) o bullying retrata uma estrutura de dominação, na qual discentes situados em posição de privilégio na estrutura econômica estão mais propensos a praticarem bullying, enquanto aqueles situados em posição de desvantagem econômica estão mais propensos a serem vitimados.
No que diz respeito aos tipos de bullying, a Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave), da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul, destaca:
Os principais são o verbal, que é manifestado através de apelidos, xingamentos, insultos; o físico, quando há empurrões, socos, chutes, beliscões, tapas; o moral, quando ocorrem difamações, calúnias ou disseminação de rumores; o psicológico, que é a exclusão, isolamento, perseguição, intimidação, chantagem, manipulação, ameaças e discriminação. Há, ainda, uma outra forma muito comum, o bullying familiar. ‘A prática começa desde cedo e, muitas vezes, em casa, na família. Muitos pais praticam bullying com seus filhos e nem percebem’.
Outro tipo de ato menos conhecido pelos educadores, mas que se manifesta como uma prática de violência do estudante, é o vandalismo, pichações nas paredes e carteiras (depredação do espaço público) roubos e indisciplinas (Assis; Njaine; Marrial, 2024), que também têm crescido nas últimas décadas.
Dentro do âmbito do contexto de práticas de violência, é necessário evidenciar a violência interpessoal (Assis; Njaine; Marriel, 2023, p. 49): “caracterizada pela violência de uma pessoa contra outra e ocorre em nível familiar e comunitário”; violência familiar: “maus-tratos e abusos que ocorrem no contexto doméstico e nas inter-relações e na comunicação da família” (Assis; Njaine; Marriel, 2023, p. 53); enquanto que a violência cultural: “se apresenta também sob a forma de discriminações e preconceitos prejudicando, oprimindo grupos sociais ou às vezes até eliminando os diferentes” (Assis; Njaine; Marriel, 2023, p. 55) no que diz respeito à agressão de crianças, adolescentes e mulheres.
Malta et al. (2025) menciona que casos de bullying afetam não só a saúde dos indivíduos, mas também o desenvolvimento psicossocial. E, ainda segundo o autor, a consequência se estende desde o agressor, perpassando a vítima, ao observador. Assim, é possível concluir que todos são impactados nesse círculo de práticas desumanas.
Quanto às consequências, que são visíveis, ainda Malta et al. (2025, p. 6), em seus estudos, conclui que: “a depressão, baixa autoestima, ideação e tentativas de suicídio foram evidenciadas como principais danos à saúde mental dos adolescentes envolvidos, podendo impactar na morbimortalidade entre os jovens”. Ademais, como bem pontuado por Silva, Vilela e Oliveira (2024), há a possibilidade de a vítima sair do espaço de oprimido para opressor, como é cabível perceber pelos massacres e atentados nos espaços escolares.
Não se pode deixar de pensar também na qualidade e bem-estar dos alunos e professores frente a esse cenário de fereza. O bullying, seja ele físico e/ou virtual, impacta a saúde mental, principalmente, da vítima, contribuindo, assim, a ansiedade, depressão e, em caso mais extremo, o suicídio. A longo e/ou curto prazo, pode ocasionar em evasão escolar, baixo rendimento, dificuldade em se inserir na sociedade e no mundo do trabalho.
Com o objetivo de assegurar direitos sociais importantes aos indivíduos, surge, entre outros instrumentos legais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Nela, no art. 1º, menciona sobre a igualdade de direitos e o respeito mútuo: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (Unicef, 1948). Ainda que isso, infelizmente, em algumas situações fiquem no imaginário, é uma garantia de todos e o estado deve assegurar.
Em consonância a isso, outras políticas de garantias foram surgindo, principalmente para assegurar o público-alvo de estudo deste trabalho (crianças e adolescentes), a exemplo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), logo no art. 3º:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (Brasil, 1990).
Assim, dentro do contexto educacional, cabe à escola propiciar um ambiente livre de violência e acolhedora para assegurar o pleno desenvolvimento do educando nos seus aspectos intelectuais, culturais, físicos e sociais (LDB, 1996). E, de acordo com a DUDH, a educação: “(...) será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais” (Unicef, 1948, n.p).
“Como resposta à extensão das formas de violência social e política (...)” (Brasil, 2018), mormente no ambiente escolar, no ano de 2018, é criado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), que tem como uns dos objetivos:
Destacar o papel estratégico da educação em direitos humanos para o fortalecimento do Estado democrático de direito; enfatizar o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade justa, equitativa e democrática; encorajar o desenvolvimento de ações de educação em direitos humanos pelo poder público e a sociedade civil por meio de ações conjuntas; avançar nas ações e propostas do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) no que se refere às questões da educação em direitos humanos; orientar políticas educacionais direcionadas para a constituição de uma cultura de direitos humanos (...) (Brasil, 2018, p. 13).
Em continuidade aos avanços de proteção ao bullying, no ano de 2015, é sancionada a Lei 13.185, que Institui o Programa de enfrentamento à Intimidação Sistemática. A instituição escolar tem o dever de trabalhar com ações voltadas ao enfretamento das práticas de violências e o professor, em contrapartida, é um dos principais agentes de contato direto com os estudantes. Ainda de acordo com Xavier (2021, p. 4), quanto às atividades sociais da escola, aqui representada pela figura do docente, compete:
(...) trabalhar sobre e com aqueles que vivem à margem dos direitos consignados na lei, com acesso restrito à saúde e à cultura legítima, bem como à justiça (no sentido ético e jurídico do termo), é tarefa de monta que recai sobre os profissionais que atuam sobre o outro, entre eles os professores (Dubet, 2002 apud Xavier, 2021, p. 4).
Como se tem visto ultimamente e relatado anteriormente, o espaço educacional tem se tornado um ambiente de segregação, de práticas violentas. Diante das demandas que surgem em sala de aula, o educador, em muitos momentos, fica sem saber como agir e a quem recorrer. Segundo um estudo de Silva et al. (2014, p. 726), mostra que: “Outra faceta do problema apresentada pelos professores refere-se à sensação de despreparo para lidar com as situações de violência, no contexto escolar” e continua:
Os professores reconhecem que as situações de violência na escola são complexas e necessitam de intervenções mais abrangentes e articuladas, porém encontram dificuldades em localizar as soluções necessárias (...) (p. 726).
Por meio dessas observações, compreende-se como o assunto ultrapassa o “chão” da escola e a responsabilidade da comunidade escolar. Cabe também aos agentes políticos intervenções e apoio aos educadores que vivenciam constantemente cenários adversos daqueles que não estavam habituados.
Ainda diante dessa realidade, no ano de 2024, na primeira “Conferência Ministerial Global sobre o Fim da Violência Contra Crianças”, que ocorreu na Colômbia, vários governos se comprometeram a adotar medidas em prol da redução no número de violências desse público. O Brasil, por exemplo, assumiu: “ambientes escolares seguros e favoráveis e serviços de resposta e suporte” (Conferência Ministerial Global sobre o Fim da Violência Contra Crianças, 2024). Isso demonstra como é urgente medidas coibitivas para reduzir essas práticas e, para isso, a conscientização e a valorização do espaço de aprendizagem acabam sendo um fator muito válido.
2.1 Proposta de atividades para a construção de uma cultura de paz
2.1.1 Sujeitos envolvidos
Principalmente alunos (6º ao 9º ano), do Ensino Fundamental II, com faixa etária dos 10 aos 15 anos de idade, podendo se estender para o Ensino Médio com as devidas reformulações.
Os Professores das disciplinas (português, matemática, ciências, história, geografia, ensino religioso, arte e inglês) irão desenvolver atividades em sala de aula, sobre a prática do bullying (agressões físicas), além de auxiliar os estudantes na elaboração de tarefas educativas para a exposição na culminância (feira). Para um melhor direcionamento das práticas em sala, os profissionais receberão algumas orientações (formação) em momento oportuno.
Coordenação pedagógica e gestora no apoio logístico, financeiro, de viabilidade e de conhecimento.
2.1.2 Descrição geral das estratégias da intervenção (desenho)
Para que tenhamos uma formação integral do sujeito e que ele atue de forma ativa e autônoma, é importante um ambiente acolhedor e livre de quaisquer preconceitos e/ou atos que infrinjam a dignidade humana. Pensando nisso, o evento contará com uma sequência de 3 (três) dias consecutivos de atividades, nos turnos manhã (das 7h30 às 11h30) e tarde (13h00 às 17h20), com as turmas dos 6º aos 9º anos e um 4º (momento) com encontros mensais (grupo de estudo) sobre a temática. Pensou-se em outubro, para a execução, pois é o mês subsequente do “Setembro amarelo”. Assim, pode-se trabalhar em conjunto para potenciar os danos dos atos de violência sistemática à saúde mental e física.
Ao todo, haverá atividades de rodas de conversa, elaboração de atividades educativas em sala de aula, exposição por meio de uma feira, um caso de sucesso com a presença de uma profissional da comunidade e encontros formativos com alunos.
2.1.3 Método: estratégia e desenvolvimento.
As atividades mobilizarão a escola inteira em três dias consecutivos:
1º dia: Realização de rodas de conversa, mediadas por discentes da instituição e sob supervisão/coordenação de um professor, com o público-alvo educandos (do 6º ao 9º ano) da própria instituição, em salas de aula, evidenciando, sobretudo, as violências físicas que assolam o ambiente educacional. O docente, em momento anterior, irá dispor um momento com o aluno que mediará as discussões para propor temáticas dentro do eixo da violência física.
2º dia: elaboração de algumas atividades educativas pelos próprios estudantes, nas respectivas aulas, com o auxílio/suporte dos professores, sobre o bullying – agressões físicas (cartazes, maquetes, apresentações etc.), com a integração de todas as áreas do conhecimento. As ações serão sugestionadas pelos profissionais, porém os educandos também poderão propor algumas ações. Com isso, eles poderão desempenhar o protagonismo estudantil, ademais de desenvolver atividades “mão na massa”, que potencializam ainda mais o trabalho de conscientização.
3º dia: exposição dos trabalhos realizados pelos discentes na quadra da escola, com o objetivo de conscientizar sobre as práticas de violências físicas que ocorrem na escola. Eles participarão da organização do momento. Para isso, será reservado, aproximadamente, 1h. Como forma da responsabilidade socioambiental das produções feitas pelos jovens, será criado um mural on-line, para exposição dos trabalhos. Para finalizar o momento, será chamada uma pessoa da comunidade que teve algum caso de sucesso profissional.
4º momento: promoção de oportunidades formativas para além dos três dias mencionados, com a seleção de alguns alunos (seja como participantes e/ou auxiliares). O grupo de estudo ocorrerá uma vez por mês, com a mediação de um docente à escolha. O material ficará a cargo do professor com o auxílio de um aluno monitor.
2.1.4 Instrumentos utilizados (com quais técnicas)
Objetivo Específico | Estratégias | Recursos necessários | Cronograma | Responsável pela execução e supervisão | |
Início | Fim | ||||
Realização de rodas de conversa com a presença de alunos de 6º ao 9º ano. | A mediação se dará por alunos da própria instituição, sob a supervisão de algum professor, com a temática sobre violência física. | Data show, caixa de som, notebook, folhas impressas. | Outubro. | Novembro. | Professores, coordenação e alunos mediadores. |
Elaboração de atividades educativas sobre o bullying. | Em sala de aula, os docentes orientarão os estudantes na elaboração das tarefas educativas sobre a prática do bullying (cartazes, cartilhas, apresentações etc.). | Lápis de cor, pinceis, tintas de diversas cores, cartolina, papel cartão, papel madeira, caixa de som, notebook, folhas impressas. | Outubro. | Novembro. | Professores e alunos. |
Exposição dos trabalhos realizados pelos discentes. | Na quadra da escola, os educandos apresentarão os trabalhos executados em sala de aula com o apoio dos professores. Os alunos também ajudarão na organização do momento expositivo. | Mesas, cadeiras, papel EVA, tesoura, cola quente, barbantes, fita etc. | Novembro. | Novembro. | Professores, coordenação e alunos. |
Apresentação de uma pessoa da comunidade que teve caso de sucesso profissional. | À escolha da equipe escolar, será escolhida uma profissional da comunidade que teve caso de sucesso profissional para dar seu relato na escola e inspirar, possivelmente, os alunos. | Data show, caixa de som, microfone e notebook. | Novembro. | Novembro. | Professores, coordenação e alunos. |
Encontros para grupo de estudo sobre a temática bullying | Uma vez por mês, com encontros na escola, um professor ficará a cargo da mediação (e/ou aluno) dos momentos formativos para debater sobre as práticas de bullying. | Data show, caixa de som, microfone e notebook. | Novembro. | Dezembro (meses seguintes pós-recesso escolar). | Professores e alunos participantes. |
Fonte: dados elaborados pelo autor
3 METODOLOGIA
A metodologia adotada é descritiva/qualitativa e delineia as etapas necessárias para o alcance dos objetivos propostos. Para a execução deste trabalho, foram utilizados sites, artigos, sobretudo, publicados no portal de periódico Scielo, bem como alguns documentos como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o Estatuto da Criança e Adolescência (ECA), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH).
A fundamentação teórica apoia-se em autores que discutem o fenômeno do bullying, contribuindo para a compreensão conceitual e prática da problemática, tais como Assis, Njaine, Marriel (2024), Cecchetto, Ribeiro, Oliveira (2024), Lopes et al. (2019), Seixas (2025), Silva et. al (2014), Teixeira e Porto (1998).
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ainda que as propostas discorridas neste trabalho não tenham sido aplicadas, sobretudo na realidade em que o autor deste artigo está inserido, espera-se que possa reduzir os drásticos índices de violência física entre alunos do Ensino Fundamental II. É sabido que isso também vem sendo prática em outros contextos educacionais espalhados pelo país.
Ademais, que a fundamentação teórica aqui posta também seja objetivo de análise e reflexão sobre os tipos de bullying, seus marcos legais e as consequências do ponto de vista de saúde para as vítimas.
Os profissionais de educação, nas suas práxis, lidam com atividades muito burocráticas, fazendo com que, em alguns momentos, alguns atos de violência se mesclem entre os estudantes nas salas de aula e passem despercebidos. Este trabalho também os ajudam nessa observação.
Por fim, o bullying não pode ser negligenciado pela comunidade escolar, tampouco pelos docentes. Para isso, faz-se necessário a elaboração de ações que sejam vivenciadas cotidianamente para levar reflexão e consciência aos discentes.
5 CONCLUSÃO
Ao decorrer deste trabalho, foi possível perceber o quão urgente é a temática sobre bullying no contexto educacional, desde a comunidade de estudantes a professores, que lidam com essas incidências cotidianamente, conforme dados apresentados ao longo da produção deste projeto.
Ainda, foi cabível observar como a desigualdade social afeta diretamente nos índices de violência, seja no ambiente escolar, seja no seio familiar e/ou na comunidade. Diante de tal perspectiva, não cabe somente à instituição educacional intervenção, mas também aos entes públicos, no sentido de apoio aos profissionais, por meio de formações e ajuda psicológica e humana.
Além do mais, vimos como o preconceito relacionado à abordagem de gênero afeta nas violências ocorridas dentro e fora da escola, a prova é a presença de autores do sexo masculino, na sua maioria, nas práticas de ataques violentos na escola em que foi objetivo de estudo pelo autor.
Pensando nesse cenário impactante, surgiram algumas ações a fim de dirimir o número de violência física entre alunos, do 6º ao 9º ano, com a parceria de todos os agentes que fazem parte do educandário.
Posto isto, percebemos que, face a essa realidade sobre-humana, a escola tem tomado medidas partindo de sua condição financeira, humana e de conhecimento, todavia não tem sido suficiente frente aos dados apresentados.
Espera-se que as propostas criadas sejam um ponto de partida para conceber um ambiente de paz, inclusivo e livre de qualquer ato que coloque a vida humana em risco.
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1 Graduado em Letras – Língua Espanhola pela Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Letras – Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Faveni. Especialista em Metodologias Ativas pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf. É docente no Ensino Fundamental anos finais. E-mail: [email protected].