AUTISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DESTE TRANSTORNO E SEU IMPACTO NA SOCIEDADE

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12659321


Jamille Bugine dos Reis Louzada


RESUMO
O termo autismo surgiu com o psiquiatra suiço Eugen Bleuler em 1910, sendo usado com pacientes esquizofrênicos, décadas depois o termo volta a ser utilizado e pacientes vão sendo diagnosticados e estudados até chegarem nos tempos atuais. Desta forma, muito se avançou nas pesquisas, mas nem todos têm o conhecimento disso. Por isso, o aludido trabalho tem por escopo apresentar em síntese a história do autismo, mostrando sua evolução no âmbito cientifico e social para, com isso, transcender o conhecimento acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA) à sociedade, de modo a quebrar os paradigmas já enraizados nesta. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica e conclui-se que as pesquisas e a divulgação das informações não podem parar aqui, a inclusão ainda não ocorre como deveria.
Palavras chaves: Autismo; História; Transtorno do Espectro Autista.

ABSTRACT
The term autism emerged with the Swiss psychiatrist Eugen Bleuler in 1910, being used for schizophrenic patients. Decades later, the term was used again and patients were diagnosed and studied until we reach the present day. In this way, much progress has been made in research, but not everyone is aware of this. Therefore, the purpose of the aforementioned work is to present in summary the history of autism, showing its evolution in the scientific and social sphere in order to transcend knowledge about Autism Spectrum Disorder (ASD) to society, in order to break the paradigms already rooted in this. To this end, a bibliographical research was carried out and it was concluded that research and dissemination of information cannot stop here, inclusion still does not occur as it should.
Keywords: Autism; History; Autism Spectrum Disorder.

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento específico por algumas características, contudo, elas podem variar de indivíduo para indivíduo e em graus de intensidade. Por isso, possui a termologia espectro em seu nome. Mas nem sempre foi assim.

O termo autismo surgiu com o psiquiatra suiço Eugen Bleuler em 1910, sendo o termo pensamento autista, a tendência de raciocínio dos pacientes esquizofrênicos, e décadas depois, Leo Kanner faz uso de tal termo com Donald Triplett, o primeiro paciente diagnosticado. Além de dele, Hans Asperger também utiliza o termo autista, porém diferente de Kanner, os estudos de Asperger demoram a ser conhecidos e utilizados por conta de serem escritos no idioma alemão. E assim, tem se os estudos pioneiros do transtorno.

Em vista disso, outras pessoas se interessaram no assunto e o desenvolveram, surgiram outras teorias, como por exemplo, a teoria da mãe geladeira apresentado a seguir, em que a causa do autismo é apresentada como uma falta de carinho materno e/ou frieza dessas mães/pai, e algumas teorias também foram desmistificadas.

Os estudos avançaram significativamente, juntamente com a ciência e evoluiu a forma de analisar os casos, diagnosticar e o tratamento, atualmente, com diversos recursos terapêuticos, e também permitiu maiores direitos as pessoas com autismo. Porém, apesar de tudo, ainda há mudanças a serem feitas e novos conhecimentos a serem adquiridos sobre o autismo, portanto, os estudos e pesquisas não podem parar. Para tanto, é necessário compreender o passado para podermos agir no futuro, e para isso é necessário compreender como se iniciou a pesquisa do autismo e como foi o seu desenvolvimento com o passar dos anos.

Desta forma, o aludido trabalho tem por escopo apresentar em síntese a história do autismo, mostrando sua evolução no âmbito cientifico e social, com o intuito de auxiliar não somente acadêmicos e pesquisadores do tema, mas também a população geral, de modo a disseminar o conhecimento para todos.

Uma vez que, o objetivo geral deste trabalho é transcender o conhecimento acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA) à sociedade, de modo a quebrar os paradigmas já enraizados nesta, buscar-se-á refletir sobre a inclusão de pessoas autistas com maior naturalidade e sem preconceitos.

Por conseguinte, para a confecção do presente trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas em livros, revistas especializadas, artigos científicos e entre outros. A partir dos quais foram coletadas informações relevantes sobre o tema abordado, que versa sobre o Transtorno de Espectro Autista (TEA). Além da pesquisa em livros e revistas, também foi feita a análise de casos para fundamentar e explanar o caso concreto, proporcionando um olhar crítico ao trabalho ora apresentado.

Autismo: Uma síntese sócio cultural

Inicialmente, o termo autismo surgiu com o psiquiatra suíço Eugen Bleuler, por volta de 1910, sendo o termo “pensamento autista” a forma de raciocinar dos pacientes esquizofrênicos, isto é, eles se desligam do mundo exterior para ir para um mundo próprio. Assim, de acordo com o psiquiatra, todos os seres humanos possuem algum nível deste pensamento autístico, contudo, nos pacientes esquizofrênicos trata- se de uma patologia (CUNHA, 2012).

Décadas depois, o termo volta a ser utilizado com Donald Triplett, o primeiro paciente diagnosticado com Autismo. Triplett nasceu em 08 (oito) de setembro de 1933 (mil novecentos e trinta e três), e para seus pais era uma criança “normal”, aprendeu andar e a falar cedo. Porém, conforme foi se desenvolvendo algumas características diferentes surgiam, como desconforto ao ser carregado, ficar sentado e quieto por muito tempo e, o que os seus pais consideravam pior, a indiferença emocional com eles.

Desta forma, por não saberem mais como agir e seguindo o conselho de um médico, eles levaram o Donald para o Prevenorium, que era um local conhecido por acolher crianças brancas entre 4 (quatro) e 11 (onze) anos para serem cuidadas e vigiadas por uma equipe médica especializada. Ou seja, essas crianças eram, desde novas, institucionalizadas. (DONAVAN, ZUCKER, 2017). Passado um tempo, como não havia mudanças em seu comportamento, Katherine e Beamon Triplett procuraram pela ajuda de Leo Kanner, um psiquiatra austríaco morador dos Estados Unidos, que estava famoso na época por conta de seu sucesso no estudo como psiquiatra infantil.

Kanner começou a observar o menino após o apelo dos pais e sua experiência ao conhecê-lo foi relatado no livro, A história do Autismo – Outra sintonia, como se lê adiante:

Ele deambulava sorrindo, fazendo movimentos estereotipados com os dedos, cruzando-os no ar. Sacudia a cabeça de um lado para o outro, sussurrando ou cantarolando a mesma melodia de três notas. Girava com muito prazer qualquer coisa que pudesse fazer girar. Ficava jogando objetos no chão e dava a impressão de gostar do barulho que faziam. Arrumava contas, bastões ou blocos em grupos de séries de cores diferentes. Sempre que terminava uma dessas atuações, grunhia e saltitava. (DONAVAN, ZUCKER, 2017, p.47)

Ainda sobre seu relato, Kanner traz sua surpresa com esses sintomas e começar a estudar sobre, sendo este seu primeiro caso. Com isso, novos casos foram surgindo e em 1943, com 11 (onze) casos, sendo 8 (oito) meninos e 3 (três) meninas, Kanner publicou seu primeiro artigo intitulado com o nome do transtorno, Autistic Disturbances Of Affective Contact (Distúrbio autista do contato afetivo).

Neste artigo, Kanner descreve algumas características que foram observadas nos casos, são elas: as relações sociais; a comunicação e a linguagem; e a rígida aderência a rotinas e insistência na igualdade (COLL et all, 2007).

Além disso, o psiquiatra deixa claro que o autismo sempre existiu, porém, pela falta de conhecimento, as crianças eram consideradas débeis mentais, esquizofrênicas ou achavam que eram surdas e isso foi comprovado a partir de estudos feitos anos depois com antigos relatos de crianças de diversas partes do mundo. Como por exemplo, um menino chamado Dick que foi diagnosticado com demência precoce, mas seus sintomas indicariam autismo (DIAS, 2015).

Em seguimento, em 1944, surge outro de estudo, desta vez trata-se de Hans Aperger, um pediatra austríaco, que vai apresentar em Viena sua tese sobre uma síndrome, que ele nomeia como Psicopatia Autística Infantil. Seu estudo apesar de apresentar algumas semelhanças com o de Leo Kanner se diferencia em alguns aspectos.

As crianças de Asperger eram descritas como peculiares e interessantes com uma capacidade de compensar suas dificuldades, como a dificuldade de interação social e comunicativa, com um alto nível de pensamento (DIAS, 2015).

Em 1950, outro tópico começa a ser discutido, que eram as causas e a origem para tal transtorno. Até o momento eram consideradas desconhecidas, mas não deixavam de surgir hipóteses para isso. A primeira delas, proposta por Kanner e aperfeiçoada por Bruno Bettelheim, ficou conhecida como “Mãe Geladeira” e abordava o seguinte conceito:

O autismo é um transtorno emocional, produzido por fatores emocionais ou afetivos inadequados na relação da criança com as figuras de criação. Tais fatores dão lugar a que a personalidade da criança não possa constituir-se ou que se transtorne. Desse modo, mães e/ou pais incapazes de proporcionar o afeto necessário para a criação produzem uma alteração grave do desenvolvimento de crianças que teriam sido potencialmente normais e que seguramente possuem uma inteligência muito melhor do que parece, mas que não podem expressar por sua perturbação emocional e de relação (COLL et al, 2004).

Ou seja, seria a falta de carinho materno e/ou essa frieza das mães/pais que resultaria em crianças com autismo. Essa foi uma hipótese que gerou uma confusão por conta do sentimento de culpa que ela gerava nos pais, principalmente nas mães e por um bom tempo gerou críticas aos familiares das crianças autistas.

Por conta disso, os familiares e pais de autistas se uniram e outras pesquisas foram sendo feitas para esclarecer essa hipótese. Assim, em 1965, Bernard Rimland um médico-psicólogo, pai de uma criança autista e fundador do Autism Society of American, defendeu uma nova teoria que a causa do autismo seria orgânica e não emocional, sendo, portanto, uma disfunção cognitiva. Isso proporcionou uma nova visão para o futuro, com pesquisas com bases biomédicas e possibilitou pensar no autismo como distúrbio neurológico (NAZARÉ, 2023).

Além disso, Rimland ao fundar Autism Society of American inspirou outros pais a aderirem ao movimento e outras entidades também se envolveram reivindicando o acesso à educação e tratamento especializado para esses indivíduos.

Outra importante figura deste momento foi Lorna Wing, que era mãe de uma criança autista e por isso, trabalhou pesquisando sobre. Ela foi fundadora do National Autistic Society e, de acordo com Dias (2015), Wing foi essencial no processo, pois além de ser responsável pela divulgação do trabalho Asperger, que ela traduziu para o idioma inglês, ela associou ao trabalho de Kanner escrevendo o artigo “A relação entre síndrome de Asperger e o Autismo de Kanner”.

Com isso, pode se observar que, apesar das diferenças, ambos trazem variedades de uma mesma entidade, em graus mais leves ou severos, a Psicopatia Autística, então, é transformada em Síndrome de Asperger, autismo de auto funcionamento, e também traz à tona a ideia de espectro, ou seja, há diferentes amplitudes ou intensidades para a manifestação do transtorno.

O Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorder – DSM que se trata de uma classificação de transtornos mentais com critérios para facilitar o estabelecimento de diagnósticos confiáveis (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) também acompanho a trajetória do autismo, sendo inserido na segunda edição do Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorder (DSM-II, 1968) como “esquizofrenia de início na infância”. Na próxima edição do DSM (DSM-III,1980), o autismo entra como “Distúrbios Invasivos do Desenvolvimento” e é retirado da categoria de psicose. No DSM IV (1991) é classificado como “Distúrbio Global do Desenvolvimento” por ser caracterizado por um prejuízo severo do desenvolvimento. Por fim, no DSM-V, em 2013, ele é classificado em um “Transtorno do Neurodesenvolvimento” e chega ao nome que se usa atualmente, Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Assim, observa-se que o Transtorno do Espectro Autista teve uma grande trajetória até chegar aos tempos hodiernos e apesar de suas nomeações serem consideradas recentes ele sempre existiu, como Kanner já afirmava.

Do Diagnóstico e dos Recursos terapêuticos

Tal como, apresentado no capítulo anterior, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode-se apresentar-se de diversas formas variando os sintomas de indivíduo para indivíduo.

Entretanto, alguns sintomas se apresentam com recorrência, de modo a elencar alguns comportamentos básicos transmitidos por pessoas com o autismo, o que auxilia o profissional da saúde a montar o diagnóstico.

A título de exemplificação, suas características principais se apresentam em “sérias dificuldades de contato com as pessoas; ideia fixa em manter os objetos e as situações sem variá-los; fisionomia inteligente; alterações na linguagem do tipo inversão pronominal, neologismos e metáforas” (RODRIGUES; SPENCER, 2010, p. 18).

Com o intuito de auxiliar os profissionais da saúde a proferirem o diagnóstico, no ano de 2003 (dois mil e três), foi divulgado uma tabela pela DSM-IV-TR, na qual constam 12 (doze) itens, onde o indivíduo deve-se estar inserido em no mínimo 6 (seis) itens da lista para cumprir com os critérios do diagnostico, como podemos observar a seguir (DSM-IV-TR, 2003):

IMAGEM 1 – Lista dos Sintomas do Transtorno autista por área.

Fonte: Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorder III, 2003

Sendo assim, é necessária uma avaliação psicológica no caso concreto do que se passa com a criança, juntamente realizadas entrevistas com os pais ou responsáveis pelo menor.

Haja vista, que o transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio que afeta o neurodesenvolvimento que deve ser diagnosticado entre os 2 (dois) à 3 (três) anos de vida do indivíduo, para que assim o tratamento possa atingir resultados melhores a longo prazo, tendo em vista a neuroplasticidade cerebral.

Outrossim, muitos casos são diagnosticados de forma tardia, em consequência do transtorno se apresentar de modo dissemelhante e em graus heterógenos, configurando-se o que conhecemos por “espectro autista”.

Neste seguimento, podemos classificar o autismo em 3 (três) níveis de suporte:

Nível 1 (um) - Síndrome de Asperger, conhecido como autismo leve, mais comum em pessoas do sexo masculino e quando não identificada na infância em sua fase adulta pode desenvolver quadros de ansiedade e depressão com maior facilidade. Nesse nível de autismo, o nível de ajuda é pouco, porém na ausência de apoio os déficits causam prejuízos notáveis.

O nível 2 (dois), categorizado por transtorno invasivo do desenvolvimento conhecido como autismo moderado, é caracterizado pelo fato de que o portador desse tipo de autismo apresente-se um nível pouco mais grave de deficiência nas relações sociais possuindo alguns sinais característicos como dificuldade interação e na comunicação verbal e não verbal. Mesmo com a presença de apoio tendem a apresentar limitações em interações sociais, apresentam dificuldades para modificar o foco de suas ações. Nesses casos é necessário um pouco mais de ajuda.

O nível 3 (três), último nível é o transtorno autista propriamente dito, é caracterizado como autismo severo podendo perder habilidade de comunicação, interação social e linguística, com poucas chances de recuperação, as pessoas diagnosticadas com esse grau de autismo, necessitam ainda mais de suporte, apresentam déficits bem mais graves em relação a comunicação verbal e não verbal, dificuldades bem evidentes de iniciar algum tipo de interação social, podendo apresentar um atraso cognitivo, e deficiência intelectual, também é notório nessas pessoas graves dificuldades em lidar com as mudanças, o foco de suas ações e com comportamentos repetitivos.(ARAÚJO, et all, 2022).

Portanto, conclui-se que o psicólogo como profissional da saúde capacitado e especializado se transforma em uma ferramenta essencial para fomentar o diagnóstico do paciente, de tal forma que se torna o pilar da relação médico-paciente auxiliando a pessoa autista a desenvolver-se e compreender quem ela e, de sorte que, auxilia os pais e responsáveis a guiar seus filhos e acalenta-los, visto que, muitos pais não aceitam muito bem a condição de seus filhos devido aos estigmas enraizados na sociedade.

Por conseguinte, os psicólogos em sua condição de recurso terapêutico, tem por dever promover a quebra de paradigmas impostos pela sociedade, fazendo o acompanhamento terapêutico da família e da pessoa autista preparando-os para aos poucos inseri-los a sociedade.

Distinto recuso terapêutico que tem ganhado grande visibilidade é a equoterapia, sendo reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) na resolução número 348 (trezentos e quarenta e oito) datado de 27/ 03/ 2008.

Nesta abordagem vislumbramos a equoterapia como:

Um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ ou com necessidades especiais (ANDE, 2020)

Outrossim, a interação paciente – cavalo promove variados efeitos nos praticantes fomentando sinergias funcionais, que auxiliam no desenvolvimento da coordenação motora, autoestima, autoconfiança, e estímulo dos sentidos, proporcionando um aumento na qualidade de vida dessas pessoas.

Neste sentido,

Para os indivíduos diagnosticados com o TEA, a prática da equoterapia melhora o equilíbrio e a postura, através da estimulação de reações de endireitamento; estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pela atividade com o cavalo; desenvolve a modulação do tônus muscular; promove a organização e a consciência corporal; aumenta a autoestima, facilitando a integração social; melhora a memória e concentração; motiva o aprendizado, encorajando o uso da linguagem; ajuda a superar fobias como a de altura e a de animais; ensina a importância de regras como segurança e a disciplina; promove a sensação de bem-estar, motivando a continuidade do tratamento (TESSMANN et. al., 2010).

Por conseguinte, além de favorecer o tratamento do transtorno do espectro autista (TEA) em diversos aspectos, a equoterapia também e inclusiva, uma vez que, o Projeto de Lei 3446/2019 Alterou a Lei nº 13.830, de 13 de maio de 2019, para incluir a equoterapia no âmbito do Sistema Único de Saúde, conforme decretado pelo Congresso Nacional:

Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 13.830, de 13 de maio de 2019, para incluir a equoterapia no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Art. 2º A Lei nº 13.830, de 13 de maio de 2019, passa a vigorar acrescida do seguinte artigo 3ºA:
“Art. 3ºA O Sistema Único de Saúde deverá fornecer equoterapia, sempre que houver prescrição médica em conformidade com Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicadas pelo Ministério da Saúde.”(BRASIL, 2019).

Ademais, existem outros recursos terapêuticos que contribuem para o tratamento do TEA, como é o caso dos fonodiólogos que auxiliam nas funções relacionadas a respiração, sucção, mastigação, deglutição, expressão facial e articulação da fala. Temos também os terapeutas ocupacionais e os pedagogos que trabalham juntos para poderem ofertar a melhor aprendizagem e qualidade de vida o possível para pessoas com TEA e seus familiares, em colaboração com os membros da sociedade e demais profissionais da saúde.

O Autismo na Sociedade Atual

Como o exposto anteriormente, o autismo foi introduzido em base histórico – secular no intuito de facilitar a compreensão acerca do tema ora abordado, promovendo o conhecimento e demonstrando o caminho a ser percorrido para alcançar o diagnóstico e os variados recursos terapêuticos que se aplicam no auxílio do tratamento de pessoas autista.

Insta observar que, independente de todas as conquistas alcançadas no estudo do transtorno do espectro autista (TEA) através dos anos, muito ainda se encontra no desconhecido e no pragmatismo devido aos estigmas enraizados em nossa sociedade atual.

No entanto, a busca pelo desenvolvimento cientifico e uma sociedade inclusiva faz se necessária à medida que o número de indivíduos diagnosticados com o TEA vem aumentando, em decorrência da realização do diagnóstico precoce, como se pode observar por intermédio de pesquisas realizadas pela Rede de Monitoramento de Autismo e Deficiências e Desenvolvimento (ADDM) do CDC – Centers for Disease Control and Prevetion dos anos 2000 – 2020, como se segue na tabela abaixo:

TABELA 1 – Prevalência do TEA ao longo dos anos

Fonte: CDC (2024)

Para mais, percebe-se que o aumento gradativo dos diagnósticos tem se relação com o progresso e disseminação do conhecimento entre a população, devido a conscientização das massas e que se tornou possível a procura dos pais e responsáveis por um tratamento adequado para os seus filhos.

Uma vez que, o diagnóstico precoce tem proporcionado as pessoas autistas uma qualidade de vida boa e longínqua, pois, ao receberem o tratamento adequado, desde novo, proporciona-lhes maior facilidade de inserção no mercado de trabalho.

Haja vista que, escolas do âmbito público e privado vem buscando se adequarem para ofertar um ensino igualitário e de qualidade para assegurar o melhor aprendizado possível para as crianças autistas de modo que não afete a educação regular da escola, de maneira que todas as crianças se relacionem da melhor maneira possível, de forma a coibir a prática do bullying e da violência que pode ser acometido as crianças com TEA.

Tendo em consideração as necessidades especiais desses indivíduos, foi desenvolvido o programa de mediação escolar, fomentado pelo Projeto de Lei nº 2460/2013, que tem por objetivo:

I- A solução pacífica e harmoniosa de conflitos oriundos das relações interpessoais entre os atores envolvidos direta ou indiretamente nos processos educacionais;
II - O respeito e tolerância as diferenças decorrentes da pluralidade de opiniões, sentimentos, características e religiões;
III - As melhorias da comunicação entre os atores envolvidos e a preservação de suas relações;
IV - A educação em valores, a educação para a paz e uma nova visão acerca dos conflitos;
V - A cultura do diálogo;
VI - A prevenção da violência no ambiente escolar;
VII - A inclusão dos alunos e professores nas soluções dos problemas escolares, possibilitando um ambiente escolar frutífero e harmonioso (BRASIL, 2013).

Ademais, é através da educação primária que o indivíduo adulto logra êxito em sua inserção no mercado de trabalho, visto que, durante a infância com a ajuda de pais e mestres este pode lapidar-se para o convívio em sociedade e acostumar-se com o caos do cotidiano, tendo em vista que:

Parte da dificuldade no processo de inclusão de autistas no trabalho pode ser atribuída a questões não resolvidas adequadamente, relacionadas ao desenvolvimento dos indivíduos. Diagnóstico tardio, restrições de acesso à educação, negação de terapias tradicionais e alternativas e baixa renda familiar estão entre os fatores que influenciam negativamente a construção de conhecimento e autonomia dos autistas e, consequentemente, sua probabilidade de aceitação no mercado laboral (LEOPOLDINO, COELHO, 2017).

Sendo assim, é possível constatar que o auxílio nos primeiros anos de vida desses ínvidos fazem toda a diferença no percurso de suas vidas, e que faz mais do que necessário a criação de políticas públicas positivas na inclusão dessas pessoas, sem mencionar nos benefícios que podem ser aplicados aos contratantes, a título de exemplificação segue a tabela abaixo:

TABELA 2 – Oportunidades de inclusão

Fonte: LEOPOLDINO, COELHO, 2017.

Consequentemente, nota-se que a inclusão e benéfica para todos os envolvidos desde que moldados na moral e nos bons costumes, neste sentido foi instituído em nosso arcabouço jurídico a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, popularmente denominada Lei Berenice Piana, que regulamenta os direitos da pessoa com o transtorno do espectro autista (TEA), proporcionando-lhes maior segurança no dia a dia em sociedade, como podemos ver a seguir:

Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista:
I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer;
II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração;
III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo:
a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
b) o atendimento multiprofissional;
c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
d) os medicamentos;
e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento;
IV - o acesso:
a) à educação e ao ensino profissionalizante;
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho;
d) à previdência social e à assistência social.
Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompanhante especializado (BRASIL, 2012).

Para tanto, existem outras medidas de inclusão abertas pela sociedade como o Centro de Atenção psicossocial (CAPS), que possui sua função social voltada para a reabilitação de indivíduos com dificuldades psicossociais.

Logo, conclui-se que muito se tem feito para o auxílio e desenvolvimento das pessoas autista, mas que muitos projetos se perdem na pratica, sendo necessária a promoção de ações sociais positivas que contribuam para a inclusão e a conscientização da população.

Considerações finais

O Transtorno do Espectro Autista teve importantes marcos em sua trajetória que ajudaram a evoluir e desmistificar alguns pensamentos, como inicialmente era pensado que se tratava de uma esquizofrenia infantil e que apenas crianças eram acometidas por tal doença. Hoje, já se sabe que se trata de um transtorno do neurodesenvolvimento e o diagnóstico pode ser aplicado em qualquer idade, porém o diagnóstico precoce possui benefícios para o desenvolvimento.

Além disso, como pode se notar que a forma de tratamento e diagnóstico também progrediu, com o entendimento do espectro e níveis de suporte é possível montar um tratamento adequado para cada pessoa, estimulando a área que cada um mais necessita e o apoio do Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil, permiti que todos tenham acesso à uma equipe especializada.

Portanto, foram grandiosos avanços na história do autismo que foram possíveis graças a pesquisas e movimentos populares, mas ainda é possível que a inclusão dessas pessoas na sociedade não ocorre como deveria, ainda há preconceitos vindos de pessoas ignorantes do assunto e para tanto, as pesquisas e a divulgação das informações não podem parar aqui, percorreu-se uma longa trajetória durante o durante século passado, porém ela não terminou.

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