APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS: FEIRA INTERDISCIPLINAR NOS CURSOS TÉCNICOS DA ÁREA DA SAÚDE

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12659296


Angélica Barra Mariano1


RESUMO
O objetivo desta intervenção foi proporcionar meios para que os educandos aprendam com a utilização de uma nova metodologia, a trabalhar com projetos e a enfrentar desafios, trabalhar em equipe e buscar por informações para se tornarem profissionais aptos para o mercado de trabalho na área da saúde. Consideramos necessário o esforço para ampliar essa formação de acordo com os princípios e diretrizes do SUS, sendo fundamental a construção de um modelo pedagógico interativo, que auxilie no ensino-aprendizagem, direcionadas ao aluno como sujeito da aprendizagem, destacando o seu protagonismo e o professor como facilitador desse processo. A metodologia utilizada foi a Aprendizagem Baseada em Projeto (ABP) no intuito de despertar o aluno para reconhecer-se como autor desse processo, pois a mesma oferece aos alunos a oportunidade de desenvolver competências e habilidades como o trabalho em equipe, a comunicação, escrita, leitura, entrosamento, além de gerenciar conflitos e buscar soluções para eventuais problemas. Os resultados da aprendizagem foram apresentados em uma feira interdisciplinar, onde cinco grupos de alunos ficaram responsáveis em apresentar o seu tema para o público visitante. A feira aconteceu em uma escola particular de ensino técnico da área da saúde no período noturno e a validação da metodologia ocorreu por um formulário criado no Google forms onde os alunos avaliaram de forma qualitativa e quantitativa os benefícios e as dificuldades encontradas durante o projeto e a apresentação da feira interdisciplinar.
Palavras-chave: Aprendizagem Baseada em Projeto. Feira interdisciplinar. Ensino técnico.

1. INTRODUÇÃO

O ensino técnico tem por característica, um ensino que prepara o indivíduo para atuar no campo de trabalho, ou, seja, um treinamento para o trabalho, prevalecendo uma formação meramente técnica, e instrumental, sendo necessários esforços para ampliar a formação do indivíduo. Na área da saúde a matriz curricular requer uma formação que estimule a autonomia, exercício de funções mentais, cognitivas e socioafetivas, assim como assimilação de novos conhecimentos, flexibilidade e criatividade. (STUTZ; JANSEN, 2006)

É importante voltar o olhar para os processos de ensino e aprendizagem dos conteúdos trabalhos no ensino técnico, para além da área técnica, mas com perfil criativo, críticos e atento as realidades sociais; e capazes de intervir nessa realidade, para tornar o ensino mais atrativo e significativo uma forma de desenvolver o protagonismo do aluno é o uso das metodologias ativas.

O professor pode ser o autor de diversas experiências significativas para os educandos, o aluno tem ganhado espaço para ser o protagonista no processo de ensino-aprendizagem, as escolas e instituições têm se adaptado para atender as diretrizes curriculares e assim formar alunos como sujeitos sociais, com competência ética, raciocínio crítico e responsabilidade.

Segundo Berbel (1998), a metodologia ativa auxilia o aluno a se reconhecer como protagonista no ensino-aprendizagem e o torna criativo e autônomo, desenvolvendo a consciência social, ética e técnica, e estimulando a intervir em problemas reais do dia a dia, atraindo os estudantes para as aulas.

Mediante o exposto esclarecemos a importância de adotar o uso de novas metodologias para o ensino a fim de atender as novas demandas da educação, preparando os alunos para o mercado de trabalho e para a vida, na tentativa de tornar o ensino técnico dinâmico e significativo. Levar o aluno à compreensão e ao desenvolvimento de habilidades como trabalhar em equipe, aprender, raciocinar, pensar criticamente, tomar decisões e resolver problemas, e não somente a memorização e repetição de conteúdos.

A aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) se mostra nesse cenário como a metodologia com potencial para ser trabalhada e para tornar os alunos profissionais capacitados, agregando-lhe qualidades pessoais como responsabilidade individual, auto-estima, autogestão, sociabilidade e integralidade. (BIE, 2008)

Esta intervenção objetivou proporcionar meios para que os educandos aprendam com a utilização de uma nova metodologia a trabalhar com projetos e a enfrentar desafios, como, trabalhar em equipe e buscar por informações para se tornarem profissionais aptos para o mercado de trabalho na área da saúde.

Foi realizada em uma escola de ensino técnico particular no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES, nas turmas do curso técnico em analises clínicas, enfermagem e radiologia durante o período de quatro meses, intitulado de feira interdisciplinar. No projeto foram abordados os componentes curriculares, com recursos visuais, tecnológicos e lúdicos apresentados para grupos de alunos, familiares, visitantes e professores, os conteúdos utilizados pelos alunos para o desenvolvimento da proposta foram embasados em conhecimentos provenientes de fontes seguras, como sites do Ministério da Saúde, e artigos científicos das revistas Birene e Scielo e também livros.

Para a realização desta intervenção foram utilizados livros, entre eles: Aprendizagem Baseada em Projetos (BIE 2008): guia para professores de ensino fundamental e médio 2ª edição, artigos e relatos de experiências que ajudaram na escolha da metodologia a ser investigada, das metodologias ativas analisadas, a escolha da Aprendizagem Baseada em Problema veio de encontro à Necessidade de empregar uma metodologia que proporcionasse o aluno a desenvolver a habilidade de trabalhar em equipe.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A partir da década de noventa várias discussões foram levantadas sobre a formação dos profissionais de saúde, uma vez que criado o Sistema Único de Saúde (SUS), muitas mudanças ocorreram nas práticas de saúde, impondo, assim, alterações significativas no processo de formação dos profissionais da área, sendo o SUS o maior mercado de trabalho em saúde do Brasil e por isso a necessidade de formar profissionais para atuarem no Sistema. (CAVALHEIRO; GUIMARAES, 2011)

A criação e divulgação dos princípios e diretrizes do SUS trouxeram desafios para os profissionais e também para as instituições formadoras, pois atuar segundo esse direcionamento demanda um caminho distinto do atendimento centrado na doença e no hospital, sendo necessário pensar em um modelo de currículo que permita o diálogo e desenvolva a autonomia e valores, levando em consideração e valorizando a questão pedagógica, para facilitar o processo de ensino e aprendizado na área da saúde. (SANTOS et al, 2019)

“Na área da saúde, as possibilidades de explicações dos fenômenos envolvidos no problema, reduz devido a fragmentação descontextualizada do conhecimento e do enfoque biomédico na abordagem das situações de saúde doença. (LIMA et al, 2015. p. 281). Isso é o que vem sendo reproduzido pelas instituições que ofertam a formação técnica profissional.

A formação profissional propõe que o estudante possa desenvolver e praticar, em sala de aula, a maior quantidade possível de atividades que demonstrem a realidade da profissão, para a qual está se preparando. Na relação entre a sala de aula e a prática profissional, é essencial que se construa um ambiente de aprendizagem em que o estudante se sinta motivado a aprender, participante do processo e, acima de tudo, que perceba o real valor do conteúdo que está sendo abordado. (SANTIN; AHLERT, 2017)

Segundo BIE (2008), A Aprendizagem Baseada em Projeto busca capacitar o educando para o mercado de trabalho, visto que esse vem se modificando ao passar dos anos, sendo necessário que os profissionais saibam aplicar seu conhecimento, resolver problemas, planejarem, monitorar e avaliar seu desempenho, além de comunicar suas ideias para diferentes grupos, habilidades que podem ser destacadas pela metodologia escolhida.

A Aprendizagem Baseada em Projeto teve suas origens em 1900, quando o filósofo americano John Dewey (1859 – 1952) validou o “aprender mediante o fazer”, agregando valor a capacidade de pensar dos alunos numa forma gradativa de aquisição de um conhecimento para intervir em “situações reais em projetos referentes aos conteúdos na área de estudos, que tinha como meta o desenvolvimento dos mesmos no aspecto físico, emocional e intelectual, por meio de métodos experimentais.” (MASSON et al, 2012 p.02)

Essa metodologia favorece um cenário de prática e por isso torna a sala de aula mais produtiva e menos cansativa, desafiando o aluno a desenvolver habilidades e comportamentos que irão favorecer a sua vida acadêmica, pessoal e profissional, deixando o ensino mais atrativo e destacando o protagonismo do aluno, pois o foco é o estudante e o professor passa a ser um facilitador desse processo, que por vezes consiste em um projeto em que seu resultado final pode ser apresentado envolvendo visitantes. (BIE, 2008)

A Aprendizagem Baseada em Projeto utiliza demandas reais, relacionadas com a formação dos estudantes, facilitando o seu aprendizado, apresentados sob a forma de projetos práticos que abordam o conteúdo em sala de aula. (SANTIN; AHLERT, 2017)

Os objetivos são claros e podem ser alcançados com o auxílio do professor que no caso irá trabalhar como um mediador, esclarecendo dúvidas e orientando os alunos sobre o processo, a forma de apresentação da ABP, foi escolhida em forma de feira interdisciplinar, a feira é uma estratégia de ensino utilizada em vários níveis da educação, muito comum no ensino de ciências, e proporciona os educando o desenvolvimento de trabalhos em grupos e o enfrentamento de diversos desafios; a interdisciplinaridade proporciona o aluno a integrar conteúdos de diferentes disciplinas em um tema proporcionando um conhecimento mais amplo sobre aquilo que é estudado.

Masson et al (2012) destaca que o sucesso da metodologia ocorre pelas características como: o aluno ser o centro do processo; o desenvolvimento de grupos tutorias; por ser um processo ativo, cooperativo, integrado e interdisciplinar e orientado para a aprendizagem do aluno.

3. PERCURSO METODOLÓGICO

O projeto teve seu início no segundo semestre de 2019, durante o período de quatro meses, em uma escola de ensino técnico da área da saúde, nas turmas de curso técnico em analises clínicas, enfermagem e radiologia, envolvendo um total de 45 alunos. A feira foi desenvolvida de forma interdisciplinar orientada pelos professores das disciplinas que os alunos cursavam naquele momento. Cada grupo recebeu um tema, onde deveriam desenvolver uma apresentação oral, com recursos visuais, lúdicos e tecnológicos, embasados em conhecimentos científicos. A feira aconteceu na escola e foi aberto ao público de forma gratuita, com o intuito de levar conhecimento e também mostrar o trabalho da escola, para a realização das inscrições, um link foi criado e compartilhado nas redes sociais e grupos escolares.

A idéia do projeto nasceu de uma conversa com os alunos, em uma pesquisa de uma atividade de uma especialização que eu cursava, sou Bacharela em Ciências Biológicas, e especializada Tecnologias Educacionais para a Prática Docente no Ensino de Saúde na Escola, atuo como docente e como técnica de laboratório, e vejo em minhas rotinas a necessidade de um olhar mais pedagógico para os cursos técnicos da área da saúde. Ao perguntar os alunos sobre melhorias na escola, responderam que gostariam de compartilhar o conhecimento adquirido para os familiares e pessoas da comunidade, por meio de eventos na escola.

A conversa foi levada para a coordenação, e juntos chegamos à ideia de utilizar a Aprendizagem Baseada em Projetos, para que eles pudessem desenvolver um projeto com base em um tema, e apresentar esse projeto. O resultado final do projeto seria a apresentação em forma de uma feira interdisciplinar, onde os alunos iriam ornamentar as salas e ilustrar o aprendizado de uma forma lúdica para apresentar para os visitantes.

A ideia principal era que os temas escolhidos fossem trabalhados em grupo dentro e fora de sala, e que os alunos se organizassem para planejar, estudar e traçar estratégias para a apresentação além de promover a saúde no âmbito escolar. Foram formados quatro grupos no curso técnico em enfermagem, quatro no curso técnico em radiologia e um no curso técnico em analises clínicas. Cada grupo foi composto por cinco alunos.

As temáticas apresentadas versaram sobre: cuidados da enfermagem com os pacientes da UTI, saúde da criança: vacinas, cuidados ao paciente oncológico, cuidado com o idoso, doenças cardiovasculares, traumas em acidentes de transito, traumas por arma de fogo, tabagismo e anemia falciforme.

A seguir descreveremos as cinco etapas da intervenção realizada.

Primeira etapa: realizamos uma reunião com todos os professores para esclarecer sobre a importância de incorporar metodologias ativas no ensino técnico. E informamos que seria desenvolvido um projeto que levasse o conhecimento produzido pelos alunos para a comunidade escolar sobre prevenção de doenças e acidentes comuns em nosso cotidiano.

Ressaltamos a importância da participação de toda a escola no suporte aos alunos, pois o sucesso da Aprendizagem Baseada em Projeto está no engajamento dos professores com os alunos (SANTIN; AHLERT, 2017), ressaltando a importância dos professores atuarem como mediadores no processo na elaboração do projeto, cada professor ficou responsável pela orientação de um ou dois grupos.

Segunda etapa: Destacamos a metodologia a ser trabalhado durante quatro meses de forma interdisciplinar, visando uma formação mais ampla com o desenvolvimento de capacidades e habilidades quanto ao trabalho em equipe, garantindo um melhor desempenho na formação profissional (BIE, 2008). Os professores os auxiliariam mediante a orientação, e que o resultado desse projeto deveria ser apresentado em forma de uma feira interdisciplinar, com recursos visuais, aberta para ao público.

Ainda nessa etapa, foi solicitado aos educandos que formassem grupos de acordo com a afinidade de cada um, para facilitar os gerenciamentos de conflitos, e os temas foram sorteados.

Terceira etapa: Os alunos foram orientados para a criação dos grupos no whats app para facilitar a comunicação, e incluir o professor orientador para auxiliar na busca pelo material, que deveria ser feita em sites de confiança como o Scielo, Birene e Ministério da Saúde, a fim de aproximar os alunos do conhecimento cientifico.

Nessa terceira etapa os materiais bibliográficos foram selecionados de acordo com o tema de cada grupo, e também o conteúdo de cada disciplina, e após leituras, os alunos eram orientados a escreverem resumos daquilo que eles entenderam, e buscar por outras formas de conhecimentos, como vídeos ou propagandas. Antes do início das aulas os professores separavam 20 minutos para orientar os alunos, nas possíveis dúvidas e nos caminhos que deveriam percorrer, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem, levando os alunos a refletirem sobre o que estavam aprendendo e como poderiam intervir de forma a melhorar as estatísticas e as problemáticas sugeridas pelos temas.

Levando os educandos a buscarem possíveis soluções para além de informar o público, mas também, tentar reduzir os acontecimentos das circunstâncias geradas por cada tema que estava sendo trabalhado.

Quarta etapa: Os alunos desenvolveram a oralidade com base nas pesquisas e resumos elaborados em encontros com o grupo, e orientados pelos professores, decidiram a forma de apresentar o conteúdo estudado, e a forma de ornamentar as salas.

Os educandos fizeram levantamentos do que precisariam e reservaram materiais da escola, como TV, Retro projetor, esqueleto, maca, seringa, fitas entre outros recursos disponibilizados. A escola criou uma inscrição virtual, para que os convidados interessados pudessem se inscrever foi ofertado um certificado de horas para alunos que fossem assistir e que precisavam de horas para a conclusão de algum curso.

Para fazer a animação da feira, e envolver toda a comunidade escolar, a coordenação e os professores buscaram por alunos que tivessem habilidades em cantar e tocar, e foi montada uma banda com os próprios alunos que ficaram responsáveis pela animação, que ocorreu no pátio da escola.

Quinta etapa: Após quatro meses estudando sobre os temas, e levantando material de embasamento, de maneira interdisciplinar, cada grupo ficou responsável por uma sala, e pela produção e apresentação do tema estudado à comunidade escolar.

A feira aconteceu durante o período da noite, foi uma noite intensa. O projeto foi acompanhado de perto pelo corpo docente, e por isso a avaliação pode ser mais fidedigna, de acordo com a participação e envolvimento dos alunos.

Durante o desenvolvimento das atividades criou-se um sentimento de pertencimento, e ficou evidente o protagonismo do aluno, destacando habilidades básicas como leituras, escrita, saber falar e saber ouvir; a capacidade de aprender, raciocinar, pensar criativamente, tomar decisões e resolver problemas; e qualidades pessoais, responsabilidade individual, auto-estima, autogestão, sociabilidade e integridade (BIE, 2008 p.38), atributos exigidos atualmente pelo mercado, além do conteúdo específico.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Aprendizagem Baseada em Projetos é uma metodologia que ainda não possui muitos relatos. É focada em padrões com estratégia para alcançar metas padrões curriculares almejados (BIE, 2008), e que depende muito do envolvimento dos alunos, para isso a escola ou instituição deve contar com professores, que se empenhem em orientar os alunos e a desenvolver o papel de mediador do processo para que os educandos se sintam seguros e motivados em querer aprender e buscar por esse conhecimento.

“A atuação do professor é de importância fundamental, pois ele vai atuar como organizador da interação e dos processos de conhecimento, mas os sujeitos do ensino e da aprendizagem são todos os participantes que interagem e interiorizam os conhecimentos produzidos.” (MASSON et al, 2012)

A feira interdisciplinar trouxe uma aproximação do corpo discente com o corpo docente, a feira foi aberta ao público, isso trouxe um peso muito grande para o desenvolvimento do trabalho, pois os alunos realmente se empenharam em buscar conhecimento e também buscar a melhor forma de transmiti-lo, para que pudessem levar informação de qualidade, e com o intuito de que essas informações pudessem trazer algum sentido para quem estivesse ouvindo.

Os alunos apresentaram o trabalho com competência e habilidades, produziram as salas com recursos visuais, imagens impactantes que chamavam a atenção do público, para alguns temas reproduziram um quarto hospitalar; o grupo da anemia falciforme produziu a sala caracterizando uma hemácia, usou a criatividade e montaram um microscópio de madeira, também levaram microscópio monocular e laminas de hematologia, para que o público pudesse conhecer um pouco mais sobre o trabalho, e sobre a anemia falciforme; o grupo de doenças cardiovascular, montou uma parede com um coração, veias e artérias percorrendo as paredes em torno, e aferiram a pressão arterial dos visitantes; o grupo que falou dos acidentes de trânsito, levaram radiografias, e vários encartes para distribuir, além de ficar rodando um vídeo de uma campanha do Ministério da Saúde, “se beber, não dirija”, trouxeram estatísticas dos acidentes de transito que ocorreram no município de Cachoeiro de Itapemirim-ES, nos últimos anos.

Os grupos foram muito criativos e se envolveram no projeto, para avaliar a opinião dos alunos, foi criado um formulário no Google forms, onde os mesmos foram convidados a avaliarem a feira interdisciplinar, algumas perguntas foram feitas para que pudéssemos validar se a Aprendizagem Baseada em Projetos realmente desperta o protagonismo do aluno.

A primeira pergunta do formulário buscava saber se os alunos já haviam participado de alguma feira antes, dos 24 alunos que responderam; 65,2 % responderam que sim, e 34,8% que não. Nessa questão avaliou-se que alguns alunos já tinham trabalhado em uma feira o que facilitou para que o desenvolvimento da feira alcançasse o resultado esperado;

Na segunda pergunta 78,3 % dos alunos relaram que não tiveram dificuldades em entender a proposta; 17,4% não entenderam; e 4,3% tiveram dúvidas, apesar de um número maior compreender a proposta, os dados mostram que temos que melhorar o planejamento e também a forma como essa proposta esta sendo divulgada para os alunos, a fim de melhorar a linguagem para que não haja dúvidas para o entendimento do projeto; em outra pergunta quanto à relevância dos temas, 87% dos alunos acharam os temas relevantes e que trariam informações importantes para o público.

Para selecionar os temas, buscamos trazer problemas do mundo real em que os alunos deveriam buscar informações para serem trabalhadas, e apresentadas de forma a conscientizar os visitantes, temas que estarão presente no cotidiano da vida profissional, ou seja, os alunos deverão criar novas soluções para velhos problemas, encontrar métodos e criar novas maneiras de comunicar suas ideias, buscando formas criativas de administrar processos complexos e equipes variadas de pessoas. (BIE, 2008)

Ainda em uma pergunta sobre a satisfação com a orientação prestada pelos professores, em uma escala de 0 a 10, sendo o zero o menor nível de satisfação e 10 o maior, pelas respostas os alunos demonstraram satisfação na forma que foram orientados pelos professores, correspondendo a 65,2%, a valor de 10 na escala, 13,0% avaliou com 9; 8,7% avaliou com o número 8; e ainda com valor 7, 4,3%, e com 5 o porcentual de 8,7%. Os resultados mostraram que apesar de ser satisfatório, ainda precisamos melhorar.

Os docentes precisam melhorar a forma como fazem a mediação e garantir que os alunos sejam orientados de forma o instigar a participação e o envolvimento. “O professor precisa atuar como interlocutor entre as dificuldades dos estudantes e os pontos de referência que embasam a prática que está sendo desenvolvida.” (SANTIN; AHLERT, 2017 P.18)

Alguns alunos reconheceram que tiveram uma boa participação, masque podiam melhorar, ao perguntar que nota dariam para a sua participação 4,3% deu nota 5 e 6; o que fica claro que reconhecem que poderiam e deveriam ter se envolvido mais, 13% deu a nota 8; 52,2% a nota 9; e 26,1% a nota 10. O que após ser discutido com os professores, chegamos a conclusão que pode ter ocorrido, por não terem achado o tema relevante, e como estratégia para as próximas feiras, será adotado as escolhas dos temas juntamente com as turmas, “tendo como princípio que todos os estudantes tenham uma noção básica sobre o funcionamento do processo escolhido.” (SANTIN; AHLERT, 2017 P.18)

Na verificação da avaliação da aprendizagem pode se ponderar que a metodologia ativa proposta teve relevância na formação do conhecimento, ainda trabalhando com a escala de 0 a 10; 69,6% dos educandos atribuíram à nota 10; 17,4% a nota 9; 4,3% a nota 8; e 8,7% a nota 7. O desenvolvimento da proposta permitiu o aluno se aprofundar em temas específicos, e ser o responsável por seu aprendizado, buscando conhecimentos em fontes seguras, e repassando o aprendido, e isso irá refletir na formação profissional.

Consideramos que os educandos estão aptos para desenvolverem novos projetos, e a trabalhar em equipe, resolver problemas, planejar e gerenciar, aptos também para atuar no mercado trabalho.

A construção do conhecimento embasada na vivência dos estudantes deve se alicerçar em tendências pedagógicas atuais, voltando-se para a compreensão do processo de formação das ideias em seu meio social mais amplo, principalmente na escola. (MASSON et al, 2012 p.08)

Sobre a percepção dos alunos sobre os conhecimentos adquiridos na feira, podemos destacar algumas frases usadas pelos mesmos:

“Novos conhecimentos”;
“Ter mais empatia, e mais disciplina para estudar”;
“Na comunicação, em discutir os temas com o grupo”;
“Aprendi sobre novas patologias”;
“Aprendi sobre conteúdos que eu achava irrelevante, e que são relevantes para a minha profissão”;
“Conhecimentos mais aprofundados sobre os temas trabalhados”;
“Aprendi novos conhecimentos dentro do tema que o meu grupo foi selecionado.
“Acredito que irá me ajudar muito quando eu quiser fazer alguma especialização dentro da minha área.”;
“Trabalho em equipe foi fundamental, fora que tivemos que aprender a pesquisar aprender a criar recursos para que a apresentação fosse feita com a qualidade pedida”;
“O fato de a apresentação ser para um público diversificado e com dúvidas diferenciadas, onde apresentariam perguntas diversas sobre a apresentação, nos obriga a buscar entender e dominar o tema proposto, para então transmitir de forma clara e correta todo conhecimento adquirido.”
“A freira nós proporciona um aprendizado de grupo, no qual deixamos as diferenças de lado para realizar um bom trabalho.”
“A feira me trouxe mais conhecimentos, e será difícil eu me esquecer, pois agora tenho mais conhecimento sobre o tema do meu grupo (oncologia)”

Os alunos que responderam repetiram que a feira além de agregar conhecimento, permitiu o trabalho em grupo, e que se sentem mais seguros nas apresentações de trabalho que antes era tão temida. A metodologia favorece a relação dos diversos conteúdos permitindo que os alunos construam “seus conhecimentos com a integração dos diferentes saberes disciplinares, numa filosofia interdisciplinar, procurando-se buscar uma aprendizagem significativa.” (MASSON et al, 2012 p.8)

Como toda novidade, alguns desafios tiveram que ser enfrentados, um dos maiores desafios foi o trabalho em grupo, muitos dos alunos moram em cidades aos redores do município em que a escola esta situada, Cachoeiro de Itapemirim-ES, e muitos alunos são trabalhadores e por isso precisaram se organizar para desenvolver o trabalho da melhor forma possível, dificuldade essa relatada no formulário quando perguntado quais as dificuldades para a realização da mesma, além dos encontros, outras dificuldades foram levantadas como: falta de união do grupo, convívio com o grupo, cobrir a parte de colegas que desistiram do curso, custos gerados na ornamentação das salas, e organizar as falas sem passar o horário, um dos alunos pontuou na sua fala “Tive um pouco de vergonha quando a falar em público, mas passando uma ou duas apresentações depois você acostuma, essa foi a minha dificuldade.” Uma das características da metodologia PBL é conseguir abordar, em projetos na sala de aula, situações práticas que o estudante poderia ter que desenvolver na sua vida profissional (NEUMANN; BORELLI; OLEA, 2016 apud SANTIN; AHLERT, 2017 p.12).

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para esta intervenção pedagógica, objetivamos proporcionar meios para que os educandos aprendam com a utilização de uma nova metodologia a trabalhar com projetos e a enfrentar desafios, trabalhar em equipe e buscar por informações para se tornarem profissionais aptos para o mercado de trabalho na área da saúde.

Compreendemos que há uma necessidade da valorização pedagógica nos cursos técnicos da área da saúde para atender o novo modelo de educação que vem sendo discutido. O mundo mudou muito, e a educação vem mudando também. A educação profissionalizante prepara o individuo para atuar de forma instrumental sem despertar a sua curiosidade, e exigindo o mínimo de pensamento crítico, e o mercado precisa de profissionais pró-ativos, com habilidades e valores, capazes de intervir em situações, gerenciar conflitos, comunicar, aprender, refletir, buscar soluções e respeitar, formando profissionais aptos para trabalhar em equipe e que esteja em acordo com os princípios estabelecidos pelas diretrizes do SUS.

A utilização de uma metodologia nova traz muitas angustias e incertezas, precisam ser muito bem planejadas, sendo necessário que alunos e professores estejam envolvidos nesta dinâmica. A Aprendizagem Baseada em Projetos oferece uma oportunidade aos alunos para aprenderem a trabalhar em grupo, e a desenvolver habilidades, forçando o aluno a gerenciar situações, encontrar soluções, buscando maneiras para lidar com diferentes opiniões.

Os desafios apareceram em função da resistência de professores com relação o novo. O novo assusta, e a intervenção exigiu uma mudança da postura tradicional para um novo pensamento. Os alunos tiveram que vencer desafios, dentre eles o de gerenciar o tempo de estudos, se comprometerem, ter empatia, confrontar problemas inesperados e descobrir como resolvê-los, assumindo a responsabilidade da sua aprendizagem, além do compromisso de levar conhecimento para um público que os mesmos desconheciam.

Realizar a intervenção numa feira interdisciplinar não foi uma tarefa fácil. Os alunos relataram dificuldades em abordar certas disciplinas dentro do contexto das temáticas dos grupos, e por trabalharmos um ensino tradicional baseado em aulas expositivas dialogadas, pois, tem o olhar fragmentado e descontextualizado do conhecimento, o que é uma proposta de mudança mediante as metodologias ativas, entre elas a Aprendizagem Baseada em Projeto.

A proposta de intervenção trouxe uma nova maneira de trabalhar. A feira proporcionou a união dos alunos e professores em busca de um aprendizado significativo. As apresentações ocorreram na escola no turno da noite, onde criamos um ambiente agradável e receptivo, recebemos um público diferente composto por profissionais da área da saúde como técnicos que já atuam no mercado, médicos e enfermeiros, alunos de ensino médio, superior, familiares dos alunos e pessoas que residiam nas proximidades da escola. Os alunos mostraram domínio de conteúdo, e alinhados quanto o perfil profissional. Foi uma noite agradável, de conhecimento e empatia, que mostrou o protagonismo dos alunos e a potencialidade de agregar novas metodologias no ensino. No final da noite os grupos fizeram uma homenagem para os professores que participaram e que acompanharam o desenvolvimento da proposta de intervenção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BIE – Buck Institute for Education. Aprendizagem baseada em projetos: guia para professores de ensino fundamental e médio. Tradução Daniel Bueno. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

CAVALHEIRO, Maria Teresa Pereira; GUIMARÃES, Alóide Ladeia. Contextualizando o campo temático: o sistema único de saúde e a política de formação de recursos humanos. Caderno FNEPAS, Campinas, v.1, p.19-27, Dez. 2011.

LIMA , Valeria Vernaschi; FEUERWERKER , Laura Camargo Macruz; PADILHA, Roberto de Queiroz; GOMES, Romeu; HORTALE, Virginia Alonso. Ativadores de processos de mudança: uma proposta orientada à transformação das práticas educacionais e da formação de profissionais de saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro,  v.20, n. 1, p. 279-288, Jan. 2015.

MASSON, Terezinha Jocelen; MIRANDA, Leila Figueiredo de; JUNIOR, Antonio Hortêncio Munhoz; CASTANHEIRA, Ana Maria Porto. Metodologia de ensino: aprendizagem baseada em projetos (PBL). Belém, set. 2012. In: XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia – COBENGE 2012. Disponível em: Acesso em: 05/03/2020.

SANTIN, Gerson Carlos; AHLERT, Edson Moacir. Aplicação Da Metodologia De Aprendizagem Baseada Em Projetos em curso de Educação Profissional, Univates, 2017. Disponível em: https://www.univates.br/bdu/bitstream/10737/2208/1/2017. Acesso em: 5 mar. 2020.

SANTOS, Maria Zilma dos et al . Graduação em enfermagem: ensino por aprendizagem baseada em problemas. Rev. Bras. Enferm.,  Brasília ,  v. 72, n. 4, p. 1071-1077,  Ago.  2019.

STUTZ, Beatriz Lemos; JANSEN, Adriane Corrêa. Ensino técnico na área da saúde: os desafios do processo de aprendizagem. Psicol. Esc. Educ. (Impr.),  Campinas, v. 10, n. 2, p. 211-222,  Dez.  2006.


1 Pós Graduanda em Práticas Pedagógicas para Professores - Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância – Cefor - [email protected].