APRENDIZAGEM COLABORATIVA: FUNDAMENTOS, ESTRATÉGIAS E O PAPEL DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO MODERNA
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17254548
Claudia Carbonera Martini1
Fabiano Marcos Martini2
RESUMO
A aprendizagem colaborativa é uma abordagem pedagógica que valoriza a interação e o trabalho em equipe como pilares para a construção do conhecimento. Este artigo analisa os fundamentos, benefícios e estratégias de aplicação da aprendizagem colaborativa, assim como o impacto transformador das tecnologias digitais nesse modelo de ensino. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica de publicações cientificas que abordam tanto as bases teóricas quanto estudos de caso e análises sobre o tema. Os resultados apontam que a aprendizagem colaborativa promove o desenvolvimento integral dos estudantes; cognitivo, socioemocional e ético; fortalecendo o pensamento crítico, a autonomia e a responsabilidade compartilhada. A integração de tecnologias digitais potencializa essa abordagem, ampliando as possibilidades de interação e superando barreiras físicas. Contudo, a efetividade dessa prática depende de um planejamento pedagógico cuidadoso e do papel fundamental do professor como mediador do processo. Conclui-se que, apesar dos desafios de implementação, como a necessidade de infraestrutura e formação docente, a aprendizagem colaborativa representa um caminho promissor para uma educação mais dinâmica, inclusiva e alinhada às demandas do século XXI.
Palavras-chave: Aprendizagem Colaborativa. Tecnologia Educacional. Metodologias Ativas. Mediação Pedagógica.
ABSTRACT
Collaborative learning is a pedagogical approach that values interaction and teamwork as cornerstones for knowledge construction. This article analyzes the foundations, benefits, and application strategies of collaborative learning, as well as the transformative impact of digital technologies on this teaching model. The methodology used is bibliographic research of scientific publications that address both the theoretical bases and case studies and analyses on the subject. The results indicate that collaborative learning promotes the integral development of students – cognitive, socio-emotional, and ethical – strengthening critical thinking, autonomy, and shared responsibility. The integration of digital technologies enhances this approach, expanding the possibilities for interaction and overcoming physical barriers. However, the effectiveness of this practice depends on careful pedagogical planning and the fundamental role of the teacher as a mediator of the process. In conclusion, despite the implementation challenges, such as the need for infrastructure and teacher training, collaborative learning represents a promising path towards a more dynamic, inclusive education that is aligned with the demands of the 21st century.
Keywords: Collaborative Learning. Educational Technology. Active Methodologies. Pedagogical Mediation.
1. INTRODUÇÃO
No cenário educacional contemporâneo, observa-se um debate recorrente sobre a necessidade de inovar os métodos de ensino e aprendizagem, especialmente no ensino superior. Fatores como o avanço das tecnologias, as novas demandas sociais e a compreensão do caráter social do conhecimento criaram um contexto no qual os procedimentos tradicionais; caracterizados pela passividade do estudante e pela centralidade do professor; já não parecem suficientes para promover uma experiência de aprendizagem profunda e significativa. Esta realidade impulsiona a busca por abordagens pedagógicas que coloquem o aluno no centro do processo educativo, preparando-o para os desafios de uma sociedade cada vez mais interconectada.
Nesse contexto, a aprendizagem colaborativa aparece como uma das mais promissoras metodologias ativas, propondo uma mudança fundamental na dinâmica da sala de aula. Conforme FELIX & COUTINHO (2023) sua premissa básica é que o conhecimento é construído socialmente, por meio da participação ativa e da interação entre os alunos, que se tornam protagonistas de sua própria formação. Essa abordagem visa envolver os estudantes ativamente no processo, promovendo a troca de ideias, o trabalho em equipe e a construção conjunta do saber, em oposição ao modelo de mera reprodução de conteúdo.
Apesar de sua relevância atual, a aprendizagem colaborativa não é uma prática inteiramente nova. PEREIRA (2021) coloca que suas raízes podem ser encontradas em diversas práticas ao longo da história da educação, desde o método dialógico de Sócrates na Grécia Antiga até as disputas intelectuais da educação escolástica medieval, que valorizavam o debate e a participação ativa dos discípulos. Contudo, foram os pressupostos teóricos de pensadores do século XX, como John Dewey, Jean Piaget e Lev Vygotsky, que solidificaram as bases para a sua sistematização como prática pedagógica, ao defenderem a importância da interação social e da experiência na construção do conhecimento.
A principal distinção entre a aprendizagem colaborativa e os métodos tradicionais reside na transformação do ambiente social em que o aprendizado ocorre. Para ZATTI et al. (2024) enquanto o ensino convencional frequentemente se baseia na competição e no esforço individual, a abordagem colaborativa reconhece e valoriza a poderosa influência educativa do trabalho em grupo. Ela incentiva a cooperação e o diálogo, reconhecendo que o conhecimento prévio de cada estudante, suas experiências e sua compreensão de mundo são recursos valiosos para a construção coletiva do saber.
A ascensão das tecnologias digitais nas últimas décadas ampliou exponencialmente as possibilidades dessa abordagem. Conforme ZATTI et al. (2024) ferramentas como plataformas online, fóruns de discussão e redes sociais permitem que a colaboração transcenda as barreiras físicas e temporais da sala de aula, criando ambientes de aprendizagem mais dinâmicos, interativos e flexíveis. Essa integração tecnológica não apenas facilita a troca de informações, mas também possibilita novas formas de engajamento e de construção de conhecimento em rede.
No entanto, ainda segundo ZATTI et al. (2024) a implementação da aprendizagem colaborativa não é isenta de desafios, especialmente para os docentes. A transição de um modelo centrado no professor para um centrado no aluno exige uma redefinição do papel do educador, que passa a atuar como mediador e facilitador do processo. Muitos professores enfrentam dificuldades relacionadas à falta de formação específica, ao domínio das novas tecnologias e ao planejamento de atividades que efetivamente promovam a colaboração e a autonomia dos estudantes, tornando o domínio dessa metodologia um dos principais desafios da prática docente atual.
Diante do exposto, este artigo tem como objetivo analisar a aprendizagem colaborativa a partir de seus fundamentos teóricos, os benefícios para o desenvolvimento integral dos alunos, as estratégias práticas de implementação e o papel transformador da tecnologia. A partir de uma pesquisa bibliográfica de publicações científicas, busca-se demonstrar como a colaboração pode ser uma ferramenta poderosa para a construção do conhecimento e para a formação de cidadãos mais críticos, autônomos e preparados para os desafios da sociedade atual.
Para alcançar tal objetivo, o artigo está estruturado de forma a apresentar, inicialmente, uma robusta fundamentação teórica sobre os conceitos que definem a aprendizagem colaborativa e o impacto das tecnologias digitais. Em seguida, a seção de resultados e discussões aprofundará as estratégias de implementação, o papel do professor como mediador e os obstáculos práticos enfrentados. Por fim, as considerações finais sintetizarão os argumentos, reafirmando o potencial da aprendizagem colaborativa como um caminho promissor para uma educação mais inclusiva, dinâmica e alinhada às demandas do século XXI.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Conceitos e Fundamentos da Aprendizagem Colaborativa
Colocando a interação entre os estudantes como elemento central, a aprendizagem colaborativa é uma abordagem pedagógica na qual o conhecimento é construído coletivamente através do trabalho em grupo. Conforme CASTRO (2025), diferentemente dos modelos tradicionais de ensino, esta metodologia propõe que os alunos construam ativamente o saber a partir da troca constante de informações, da formulação de questionamentos, da resolução de problemas e de avaliações mútuas, favorecendo um aprendizado mais profundo e significativo.
As raízes históricas dessa abordagem são profundas, remontando a práticas do século XVIII, quando educadores já adotavam métodos de trabalho colaborativo e cooperativo para preparar os estudantes para os desafios da vida profissional. SOUZA et al. (2024) informa que iniciativas como as do professor George Jardine na Universidade de Glasgow, entre 1774 e 1826, já demonstravam como o ensino em grupo poderia potencializar o desenvolvimento dos alunos. FARIA (2025), coloca que mais tarde, no século XX, pensadores como John Dewey reforçaram a importância do aprendizado baseado na experiência e no trabalho conjunto, contribuindo para a consolidação deste modelo educacional.
É fundamental distinguir a aprendizagem colaborativa da cooperativa. Conforme FARIA (2025, p. 2) “diferente da aprendizagem cooperativa, que envolve estruturas mais rígidas e papéis bem definidos, a aprendizagem colaborativa baseia-se na construção conjunta do conhecimento sem hierarquias fixas.” Valorizando as contribuições individuais como parte essencial do esforço do grupo para atingir um objetivo comum.
A base teórica da aprendizagem colaborativa está solidamente ancorada na teoria da aprendizagem social de Vygotsky, que defende que o desenvolvimento cognitivo é um processo intrinsecamente social. SOUZA et al. (2024) cita que segundo Vygotsky, o aprendizado se torna mais significativo quando os estudantes, em vez de agirem isoladamente, colaboram entre si para construir o conhecimento de forma coletiva a partir de um contexto de interação social.
Ainda segundo SOUZA et al. (2024), essa perspectiva é enriquecida pela visão de Paulo Freire, que enfatiza a importância de uma "relação dialógica" entre educador e educando. Para Freire, a educação autêntica supera a ideia de um educador que deposita saber em um aluno passivo. Trata-se de uma parceria dialógica onde ambos colaboram para a edificação de um pensamento crítico e com autonomia. Nessa jornada, o desenvolvimento cognitivo deve caminhar lado a lado com o cuidado pela afetividade e pelos valores que enriquecem essa relação.
Com isso, a aprendizagem colaborativa promove uma mudança de paradigma, deslocando o foco do professor como figura central para o aluno como protagonista de sua própria formação. Para SOUZA et al. (2024) os estudantes deixam de ser receptores passivos de informação e se tornam coautores de seu conhecimento, participando ativamente do processo de ensino e aprendizagem. Nessa abordagem, são vistos como exploradores ativos, incentivados a gerenciar seu aprendizado e a compartilhar informações com seus pares.
Para FARIA (2025), os benefícios cognitivos dessa abordagem são notáveis. A interação constante, o debate de ideias e a resolução conjunta de problemas favorecem diretamente o desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade de argumentação e da metacognição. “De acordo os autores, os estudantes que aprendem em pequenos grupos demonstram um desempenho acadêmico superior àqueles que estudam individualmente ou em ambientes de ensino tradicional.” (FARIA, 2025, p. 3)
O processo de colaboração enriquece a aprendizagem ao permitir que os alunos construam coletivamente interpretações sobre os conteúdos, levando a novas compreensões e conexões. Conforme SILVA & SENA (2023), ao serem desafiados a explicar seus pontos de vista e a considerar as perspectivas dos colegas, os estudantes aprofundam seu próprio entendimento, tornando a aprendizagem um processo mais ativo, efetivo e duradouro.
Além da dimensão cognitiva, a aprendizagem colaborativa contribui significativamente para o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Para CASTRO (2025), o trabalho em grupo exige e, ao mesmo tempo, desenvolve habilidades essenciais para o convívio social, como a cooperação, a empatia, a comunicação eficaz e o respeito às diferenças. A colaboração se torna um pilar para a formação de cidadãos mais participativos e conscientes.
Segundo FARIA (2025, p. 4) “outro fator relevante no desenvolvimento integral do aluno é a promoção da autonomia e do protagonismo estudantil.” Ao assumirem um papel ativo na construção do conhecimento, os alunos são incentivados a desenvolver autodisciplina, organização e autoconfiança. Eles se tornam membros de comunidades de conhecimento, apropriando-se do processo educativo e preparando-se para os desafios de um mundo que exige iniciativa e capacidade de auto-organização.
Nesse cenário, CASTRO (2025), reporta que o papel do professor é radicalmente transformado. Ele deixa de ser a fonte primária de informação para se tornar um mediador e facilitador do processo de aprendizagem. Sua função passa a ser a de criar um ambiente que incentive a participação ativa e respeitosa de todos, reforçando a colaboração e o engajamento.
Como mediador, o professor é responsável por apoiar o desenvolvimento do pensamento crítico, orientando o diálogo e a troca de ideias de forma construtiva. Isso envolve planejar e estruturar as atividades, definir objetivos claros, e garantir que a dinâmica do grupo seja equilibrada e produtiva, transformando a sala de aula em um espaço intencional de contato com o saber.
2.2. O Papel da Tecnologia na Aprendizagem Colaborativa
Para LIMA (2025), A integração das tecnologias digitais ressignificou e potencializou a aprendizagem colaborativa, oferecendo novas ferramentas para a interação e a construção conjunta do conhecimento. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) permitem que a colaboração transcenda as barreiras físicas da sala de aula, facilitando a comunicação entre estudantes e professores, não importa onde eles estejam.
Ainda segundo LIMA (2025), plataformas digitais como fóruns, blogs, wikis e aplicativos de co-criação se tornaram ferramentas eficazes para fomentar discussões e permitir que os estudantes compartilhem ideias e soluções em um mesmo espaço virtual. Essas ferramentas não apenas facilitam a logística do trabalho em grupo, mas também engajam os alunos de maneiras diversificadas, incentivando a criatividade e a inovação.
A tecnologia demonstrou ser uma parceira indispensável na superação de dificuldades, como as de infraestrutura de internet. Conforme SILVA & SENA (2023), o uso adaptado de aplicativos de comunicação instantânea, como o WhatsApp, em contextos de ensino remoto durante a pandemia, serviu como um fórum online que permitiu a interação e a continuidade do processo de aprendizagem, garantindo a inclusão e a participação dos alunos.
Para SOUZA et al. (2024), além de ampliar a comunicação, as tecnologias digitais também permitem a personalização da experiência de aprendizado dentro de um framework colaborativo. Recursos adaptativos em plataformas online podem atender às necessidades específicas de cada estudante, respeitando seu ritmo e estilo de aprendizagem sem comprometer a colaboração e a interação com os pares.
As fronteiras da aprendizagem colaborativa continuam a se expandir com tecnologias emergentes. A utilização de jogos móveis em abordagens colaborativas, por exemplo, conforme SOUZA et al. (2024), dinamiza as aulas, tornando-as mais envolventes e participativas. Da mesma forma, a Inteligência Artificial, por meio de agentes conversacionais (chatbots) e análise de interações, pode ser empregada para apoiar e otimizar a colaboração em Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
Finalmente, a aprendizagem colaborativa, especialmente quando potencializada pelas ferramentas digitais, deve ser entendida não apenas como um conjunto de técnicas, mas como uma filosofia de ensino. Ela se baseia na crença de que trabalhar, criar e aprender em grupo são habilidades essenciais que preparam os alunos para atuar de forma crítica, reflexiva e eficaz em uma sociedade cada vez mais interconectada e interdependente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A aplicação prática da aprendizagem colaborativa revela um cenário rico em possibilidades, mas também repleto de desafios que exigem uma reestruturação da prática docente e da cultura escolar. A análise dos estudos de caso e das revisões teóricas fornecidas permite discutir a implementação dessa abordagem a partir de três eixos centrais: as estratégias metodológicas e de avaliação, o impacto da integração tecnológica e os desafios enfrentados pelos educadores no processo de mediação.
3.1. Estratégias de Implementação e Avaliação
Conforme PEREIRA (2021) a implementação da aprendizagem colaborativa em sala de aula se materializa por meio de um vasto leque de estratégias e métodos, como a aprendizagem baseada em projetos, o estudo de caso e a aprendizagem por pares. O objetivo comum a essas técnicas é romper com o modelo de ensino tradicional, no qual o aluno é um agente passivo, para promover um ambiente onde ele se torna um sujeito participativo, criativo e ativo na construção do seu conhecimento. A escolha e o planejamento dessas estratégias são cruciais, pois são as atividades que dão sentido à ação do grupo e o dinamizam, permitindo que os alunos se organizem, repartam papéis e discutam ideias de forma coletiva.
Uma metodologia que exemplifica bem essa inversão de papéis é a Sala de Aula Invertida. PEREIRA (2021) coloca que sua estrutura consiste em um momento pré-aula, no qual os alunos estudam o conteúdo de forma autônoma por meio de vídeos e textos; um momento durante a aula, que se torna um espaço para atividades práticas, discussões e resolução de problemas em grupo; e um momento posterior, de aprofundamento e feedback. Em uma experiência na disciplina de Teoria do Conhecimento, essa abordagem permitiu que os estudantes aplicassem conceitos teóricos a contextos reais, como relacionar as regras do método de Descartes à estrutura de um artigo científico, tornando a aprendizagem mais significativa e engajadora.
Segundo SILVA & SENA (2023) a flexibilidade da aprendizagem colaborativa também permite sua adaptação a contextos com severas limitações, como a falta de acesso à internet. Em um estudo de caso realizado no IFPA-Campus Óbidos, o aplicativo WhatsApp foi transformado em um fórum online adaptado. Por meio de um grupo, os alunos recebiam roteiros de estudo, compartilhavam suas produções (relatórios, áudios, mapas conceituais) e discutiam os temas de forma assíncrona. Essa estratégia não apenas garantiu a continuidade do ensino durante a pandemia, mas também promoveu a inclusão, reduziu a evasão escolar e estimulou a cooperação, com os próprios alunos se tornando fontes de pesquisa uns para os outros.
Para PEREIRA (2021) o sucesso dessas estratégias está intrinsecamente ligado à gestão da dinâmica dos grupos e à promoção de uma interdependência positiva, onde cada membro é responsável tanto pela sua aprendizagem quanto pela do restante da equipe. No entanto, a prática revela desafios, como a dificuldade de entrosamento em grupos recém-formados ou a falta de preparo prévio por parte de alguns alunos, o que pode comprometer o andamento das atividades, conforme observado na experiência com a disciplina de filosofia. Isso evidencia que a colaboração efetiva requer não apenas um bom planejamento, mas também o desenvolvimento de habilidades interpessoais e de trabalho em equipe.
Consequentemente, a avaliação nesse contexto precisa ser repensada. Modelos tradicionais, focados em produtos finais, tornam-se insuficientes. A aprendizagem colaborativa exige uma avaliação qualitativa, contínua e processual, que valorize a participação, o interesse e a qualidade das interações. “Uma avaliação qualitativa e processual seria mais adequada que uma avaliação quantitativa e estática” (SILVA & SENA, 2023, P. 6). A avaliação deixa de ser um mero instrumento de aferição para se tornar uma reflexão transformada em ação, um processo dialógico e interativo no qual professores e alunos aprendem sobre si mesmos e sobre o mundo. A utilização de autoavaliações, feedbacks entre pares e rubricas de desempenho são ferramentas eficazes para acompanhar o progresso e reforçar a responsabilidade de todos os envolvidos.
3.2. A Integração da Tecnologia e Seus Impactos
As tecnologias digitais desempenham um papel central na potencialização da aprendizagem colaborativa, criando ambientes de interação que ultrapassam os limites físicos da escola. VERNER et al. (2025) cita que plataformas digitais, redes sociais e outras ferramentas tecnológicas permitem que os alunos compartilhem recursos, discutam ideias e colaborem na resolução de problemas, promovendo um aprendizado mais dinâmico, flexível e participativo. Essa integração possibilita uma comunicação em tempo real e oferece recursos que tornam as tarefas mais interativas, promovendo o engajamento e a participação ativa dos estudantes.
VERNER et al. (2025) coloca ainda que o uso da tecnologia na aprendizagem colaborativa gera múltiplos benefícios. Além de facilitar o acesso à informação e superar barreiras geográficas, as ferramentas digitais permitem a criação de comunidades de aprendizagem onde os alunos podem interagir de forma mais espontânea e descontraída. Essa interação mediada pela tecnologia contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, como a capacidade de negociar ideias e respeitar diferentes pontos de vista, e também favorece a autonomia dos estudantes, que são incentivados a buscar soluções de forma independente, mas com o apoio dos colegas.
Segundo PEREIRA (2021) a perspectiva dos estudantes sobre essas metodologias é majoritariamente positiva. Relatos de alunos que participaram da experiência com a sala de aula invertida destacam que o método é dinâmico e instigante, suscitando a responsabilidade em buscar o conteúdo e a partilhá-lo com o grupo, o que melhora a assimilação do conhecimento. Os estudantes sentem que a atividade enriquece seu conhecimento, desenvolve a capacidade de pesquisa e fortalece o aprendizado por meio da discussão em grupo.
Apesar do sucesso das metodologias ativas e tecnológicas, a experiência prática também revela a importância de não descartar completamente as técnicas tradicionais de ensino. Segundo PEREIRA (2021) o depoimento de um aluno, "É interessante o novo método com debate em sala. Porém não substitui as aulas expositivas", sinaliza uma percepção relevante. Em disciplinas com um arcabouço teórico muito técnico e complexo, como a Filosofia, a aula expositiva pode ser fundamental para esmiuçar conceitos estruturantes antes que os alunos possam aplicá-los em atividades práticas. A conclusão, portanto, aponta para a necessidade de um equilíbrio, onde a melhor estratégia é aquela que se adequa aos objetivos de aprendizagem de cada momento.
3.3. Desafios e o Papel Docente na Prática
Um dos maiores desafios para a efetivação da aprendizagem colaborativa reside na preparação e formação dos professores. ZATTI et al. (2024) cita que muitos docentes enfrentam dificuldades com o domínio das mídias digitais e com o conhecimento prático de como utilizar as metodologias ativas, desde a elaboração de uma atividade até a mediação do trabalho em grupo. A falta de formação adequada pode levar ao uso inadequado das tecnologias, resultando em uma superficialidade no aprendizado em vez de um aprofundamento colaborativo.
O sucesso da abordagem depende fundamentalmente de um planejamento pedagógico sistemático e bem delineado, no qual as etapas a serem desenvolvidas tenham uma relação clara entre si. Conforme PEREIRA (2021) a experiência na disciplina de Teoria do Conhecimento mostrou que falhas no planejamento, como a proposição de muitas questões para pouco tempo ou a falta de estratégias para garantir a leitura prévia dos materiais, podem comprometer o resultado das atividades. Portanto, a capacidade do professor de planejar, executar e adaptar as atividades é determinante.
Finalmente, conforme PEREIRA (2021), a discussão sobre a prática da aprendizagem colaborativa converge para a centralidade do papel do professor como facilitador e mediador. Nesse modelo, ele não é mais o centro do processo, mas assume a responsabilidade de incentivar a autonomia, redirecionar a autoridade para os próprios estudantes e auxiliá-los a se tornarem mais articulados e amadurecidos socialmente. Para isso, o docente precisa criar um ambiente propício à colaboração, extinguir possíveis barreiras, motivar o automonitoramento (metacognição) e garantir que as regras e procedimentos do trabalho em grupo sejam eficazes e harmoniosos. Essa transição de papéis é, sem dúvida, o elemento mais desafiador e, ao mesmo tempo, o mais essencial para o sucesso da aprendizagem colaborativa.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos materiais apresentados reforça a aprendizagem colaborativa como uma abordagem pedagógica poderosa e alinhada às necessidades da educação do século XXI. Ao colocar o aluno como protagonista e valorizar a construção social do conhecimento, essa metodologia promove não apenas um desempenho acadêmico superior, mas também o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais indispensáveis para a vida em sociedade.
A integração com as tecnologias digitais potencializa essa abordagem, tornando a aprendizagem mais interativa, dinâmica e inclusiva. Contudo, a tecnologia por si só não garante o sucesso; sua eficácia está diretamente ligada a um planejamento pedagógico intencional e à mediação qualificada do professor.
Superar os desafios de infraestrutura, formação docente e mudança de cultura pedagógica é fundamental para que mais instituições de ensino possam usufruir dos benefícios dessa prática. Investir na aprendizagem colaborativa é, portanto, um passo essencial para construir uma educação mais significativa, participativa e transformadora.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1 Graduação em Ciências, habilitação em Química. Especialização em Ciências Naturais do Ensino Fundamental e Médio - Biologia e Química. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]
2 Graduado em Educação Física. Especialização em Educação Física: Movimento Humano. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected]