ANALISE TEÓRICA DO FILME “O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO” SOB O VIÉS DA PSICOLOGIA SOCIAL
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15622464
Ana Paula Vilas Boas Mendonça1
Cleoní Ramos de Souza Toni2
Fabiana Aparecida da Silva Oliveira3
Grasieli Ferreira Bernardo4
Daniela Emilena Santiago5
RESUMO
O presente texto aborda elementos associados a exclusão social que está presente no cotidiano de grandes parcelas populacionais, fenômeno esse que veda o direito de determinados segmentos a condições mínimas de vida e de existência. Como tal, foi estruturado usado como fonte para a realização das discussões o filme O menino que descobriu o vento uma vez que a obra aborda elementos associados a desigualdade social que afeta as populações mais pobres e, sobretudo, negros. Para tanto, a história apresenta um desfecho diferenciado a medida que o protagonista do filme consegue desenvolver um projeto científico que altera a sua vida, de sua família e de todo o local onde vive, demonstrando assim a importância do estudo para a mudança social. Apesar da relevância da obra, vencedora de vários prêmios de reconhecimento internacional, ela apresenta um exemplo representativo, porém, que não se aplica a todos na sociedade capitalista, afinal, nesse sistema nem todas as pessoas conseguem alcançar uma condição social e financeira favorável. Ainda assim, trata-se de obra que permitiu várias conexões com temas discutidos por Silvia Lane, referência essa que foi usada para a reflexão em torno dos vários elementos presentes no filme, e, que permitiu também a análise acerca de elementos associados a exclusão social mas também ao poder da educação na minimização das desigualdades sociais.
Palavras-chave: Exclusão Social. Educação. Psicologia Social.
ABSTRACT
This text addresses elements associated with social exclusion that are present in the daily lives of large portions of the population, a phenomenon that denies certain segments the right to minimum living and existence conditions. As such, the film The Boy Who Harnessed the Wind was used as a source for the discussions, since the work addresses elements associated with social inequality that affects the poorest populations, especially black people. To this end, the story presents a different outcome as the protagonist of the film manages to develop a scientific project that changes his life, that of his family and the entire place where he lives, thus demonstrating the importance of study for social change. Despite the relevance of the work, winner of several internationally recognized awards, it presents a representative example, however, which does not apply to everyone in capitalist society, after all, in this system not everyone is able to achieve a favorable social and financial condition. Still, this work allowed for several connections with themes discussed by Silvia Lane, a reference that was used to reflect on the various elements present in the film, and which also allowed for the analysis of elements associated with social exclusion but also with the power of education in minimizing social inequalities.
Keywords: Social Exclusion. Education. Social Psychology.
1 Introdução
Se eu pudesse, eu dava um toque em meu destino
Não seria um peregrino nesse imenso mundo cão
E nem um bom menino que vendeu limão
E trabalhou na feira pra comprar seu pão [...]
Não aprendia as maldades que essa vida tem
Mataria a minha fome sem ter que roubar ninguém
Juro que eu não conhecia a famosa FUNABEM
Onde foi minha morada desde os tempos de neném
É ruim acordar de madrugada pra vender bala no trem
Se eu pudesse, eu tocava em meu destino
Hoje eu seria alguém [...]
Problema Social, Seu Jorge6
A música de Seu Jorge supra inserida nos chama para as desigualdades sociais que afetam grande parte de pessoas devido ao aprofundamento das desigualdades geradas pela sociedade capitalista, e, junto a ela, o desejo desses segmentos por uma vida e condição de sobrevivência que se manifeste em opções melhores de vida. O filme “O Menino que descobriu o vento”7 se fundamenta em uma narrativa verídica, inspirado na obra autobiográfica do engenheiro William Kamkwamba em que também vemos essa tentativa de melhoria das condições de vida em momentos que a desigualdade se mostra preponderante e latente.
William é um jovem do Malawi que vivia em um vilarejo onde todos ao redor sofriam com a extrema pobreza e crise alimentar. O filme é narrado no início do ano 2000 e aborda questões sociais, políticas e econômicas que afetam a vida de pessoas em regiões periféricas e vulneráveis. Sua notoriedade teve início, quando criou um moinho de vento, para fornecer energia à sua comunidade.
A história apresenta a batalha da comunidade para se manter viva frente as condições climáticas adversas e a negligência do governo capitalista, que não disponibilizou o auxílio necessário às famílias frente a uma calamidade pública. William Kamkwamba, o protagonista, é um garoto que sonha intensamente com um futuro diferente do que ele vive. Com uma grande sede de conhecimento, ele se depara com situações adversas, quando sua família enfrenta problemas financeiros. O enredo destaca como o acesso à educação podem transformar vidas, mesmo em circunstâncias desfavoráveis.
A escolha por esse filme adveio de um duplo viés. Se, por um lado o mesmo retrata e expressa questões sociais que nos remetem à discussões e reflexões sobre fenômenos que afetam as minorias sociais, por outro, como podemos observar, nos apresenta a possibilidade de mudança, de melhora na condição de existência dos referidos segmentos. Esses elementos estiveram presentes nas discussões realizadas em Psicologia Social, disciplina essa frequentada por parte dos autores no primeiro semestre de 2025, no curso de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. Nela, tais temas foram abordados também por meio de um trabalho acadêmico no qual foi proposta análise dos assuntos abordados na disciplina e peças artísticas contexto em que os autores do presente manuscrito optaram por essa obra supra citada.
Por conseguinte, o trabalho consistia em analisar as obras, como dito supra, recorrendo ao referencial teórico da Psicologia Social. Pois bem, trata-se, pela sua natureza, de um trabalho de natureza teórica ou como nos indica Minayo (2014). Para a autora, o estudo teórico se consolida pela construção de conhecimentos por meio da análise e reflexão sobre conceitos, teorias e referências existentes. Esse formato de produção do conhecimento é essencial para embasar estudos que visam desenvolver ou aprofundar teorias, e geralmente utiliza revisão bibliográfica, análise de textos e reflexão crítica. No caso em pauta, o estudo é teórico uma vez que a análise realizada foi toda empreendida com base na fonte usada, o filme e os livros e artigos da Psicologia Social ou seja, a produção de saber adveio de tais elementos e não houve a recorrência a pesquisa de campo.
Nesse sentido, na sequência apresentamos parte de nossas considerações provenientes da análise estruturada. Para a apresentação optamos por iniciar a reflexão por meio da apresentação inicial da fonte, recompondo a história narrada do filme por meio de um resumo em que apresentamos os principais elementos que nos permitam compreende como a história transcorreu, e, quais são os eventos que a demarcaram. Após a apresentação inicial em voga, há também indicação da análise desenvolvida, e, nesse sentido, o estudo é estruturado com o aporte à Psicologia Social, e, em especial ao pensamento de Silvia Lane, pois, como sabemos a autora em voga foi no Brasil uma das principais expoentes dessa corrente.
Pensar a produção artística, nos temos postos, também faz menção ao entendimento de como a arte pode ser usada como uma potência no sentido de problematizar e nos levar a refletir sobre eventos e fenômenos que estão postos na realidade. A proposta da disciplina destaca a importância e a relevância do substrato teórico de referência como um elemento que viabiliza a estruturação de uma análise coerente e crítica e não apena sum discurso sem substrato teórico correspondente. Também por tal elemento fortalecemos a relevância do presente texto.
2 “O menino que descobriu o vento”: a vida de Willian como representativa de exclusão e também de insubordinação
A história se passa na Vila de Wimbe, no Malawi, um país africano com grande desigualdade social, onde a maior parte da população depende da agricultura para sobreviver. É nessa realidade que vive William.
William, o protagonista, vive com seus pais e mais dois irmãos, sendo uma irmã mais velha e um irmão caçula (ainda bebê). A comunidade onde vive, enfrenta enormes dificuldades devido a uma grave seca e as políticas ineficientes do governo, que impedem os agricultores de manterem suas colheitas produtivas, onde a seca, a fome e a falta de oportunidades levam moradores ao desespero, resultando em conflitos entre a população e às autoridades.
O governo é retratado como corrupto e negligente, fechando os olhos para a miséria que se espalha. Muitos moradores deixam a região em busca de melhores condições, enquanto os que ficam, enfrentam a fome extrema e chegam ao ponto de saquear alimentos, para suprir suas necessidades. A violência e o desespero tomam conta da comunidade, evidenciando os impactos sociais da desigualdade e da falta de acesso a recursos básicos. Por conseguinte, os protestos e também os saques que são apresentados na narrativa são retratados como resultado de um processo de exclusão pelo qual a sociedade do local passa.
Mas William por ser um garoto curioso e inteligente, apaixonado por ciência e mecânica, sendo expulso de sua escola, por motivos financeiros se vê determinado a continuar aprendendo. Ele encontra uma maneira de frequentar a biblioteca da escola, onde começa a estudar sozinho. Na biblioteca, William descobre um livro sobre energia éolica e percebe que poderia usar essa tecnologia para ajudar sua comunidade. Por consequência teve a brilhante ideia de construir uma turbina de vento, para gerar eletricidade e bombear água para irrigação, garantindo assim, a produção de alimentos mesmo durante a seca.
Mesmo com sua ideia brilhante, William enfrenta resistência dentro de sua própria casa. Seu pai Trywell, um homem tradicional e cético quanto as ideias do filho, acredita que a sobrevivência depende exclusivamente da força do trabalho manual na lavoura. Além da resistência familiar, William também enfrenta obstáculos estruturais. Ele precisava de peças para construir sua turbina, mas não tinha recursos financeiros para custear a invenção.
A fome e a miséria já estavam se alastrado pelo vilarejo, levando a morte de muitas pessoas e animais, inclusive o cachorro de estimação de William. Mesmo assim, com resiliência, força, coragem e criatividade, William começa a coletar peças em um ferro velho. Utiliza partes da única bicicleta de seu pai e reutiliza um antigo dínamo que ganhou de seu professor para criar um sistema rudimentar de geração de energia.
William com persistência, consegue provar para o pai, que sua ideia pode funcionar, e logo Trywell passa a apoiá-lo. Logo com o apoio do pai e da comunidade, William consegue construir sua turbina éolica, gerando eletricidade suficiente para bombear água do poço e irrigar as plantações durante a seca. Com sua ideia William, não só salvou sua família da fome, mas também inspirou a comunidade, provando que a inovação e o conhecimento podem ser soluções para problemas sociais.
Esse filme finaliza com um salto temporal, mostrando que William conseguiu continuar seus estudos, se tornando um exemplo de superação e esperança. Ele ganhou uma bolsa para estudar no exterior e levou sua experiência para ajudar outras comunidades carentes. Importante frisar que o filme foi estruturado com base em uma história real.
A Psicologia Social, segundo Lane (2008), estuda a influência da sociedade sobre o comportamento dos indivíduos e como estes podem agir para transformar sua realidade. A obra enfatiza que as condições históricas, econômicas e culturais moldam a identidade social e a consciência dos indivíduos, mas também destaca que as pessoas não são meramente determinadas por essas condições: elas podem se tornar agentes de mudança. Assim pode se afirmar que:
Da mesma forma que se diz, genericamente, que o homem ao transformar a natureza se transforma, podemos constatar que o indivíduo, ao produzir um objeto, transforma uma matéria que se torna coisa através da sua atividade, e pela própria atividade desenvolvida ele, indivíduo, se transforma (Lane, 2008, p. 59).
No filme “O Menino que Descobriu o Vento”, William Kamkwamba representa essa ideia ao utilizar o conhecimento para modificar sua realidade e a de sua comunidade. Seu contexto social é marcado pela desigualdade extrema, onde a fome e a precariedade são resultadas de políticas governamentais ineficazes e de um sistema econômico que marginaliza a população rural. No entanto, ele não se conforma com sua realidade e, apesar das barreiras impostas pelo sistema, busca alternativas para mudar sua situação.
A obra de Lane (2008) discute o conceito de identidade social, mostrando como somos definidos pelos grupos aos quais pertencemos e pelas experiências que vivemos. William, ao ser expulso da escola devido à falta de recursos financeiros, poderia ter aceitado sua condição de exclusão. No entanto, ele resiste a essa determinação e busca conhecimento por conta própria, demonstrando um exemplo claro do que a autora chama de consciência social e histórica.
A identidade social também é apresentada pela autora como resultado da identificação, do pertencimento e do vínculo. Para ela, essa noção de pertencimento é que garante a construção da identidade que, apesar de possuir certa singularidade, carrega, em si, a totalidade das informações que estruturamos em torno do outro com o qual convivemos, ou, como ela pactua, com os outros com os quais convivemos. Assim, “[...] os outros, ou seja, o grupo ou grupos a que pertencemos, e como nós, nesta convivência, vamos definindo a nossa identidade social”(Lane, 2008, p. 10). No caso, William foi movido por sua construção social mas também pela vulnerabilidade social que atravessava sua residência, e que, afetava a vida de todos com os quais convivia.
Uma vez mais ancorados no pensamento da autora é preciso destacar também que os principais dispositivos de socialização do ser humano e que são família e escola são apresentados no filme. Nos diz Lane (2008, p. 38) que:
[...]
a família e em seguida a escola, ambas fundamentais no
processo de socialização e determinantes das
especificidades próprias das classes sociais, apesar
destas instituições proporem normas comuns para todos
os membros da sociedade.
A socialização viabilizada pela família, no dizer da autora, dá ao ser humano informações sobre os conceitos cotidianos ao passo que a escola possibilita a construção de conceitos científicos. Por conseguinte, a criança se apropria, na família, de informações sobre os papéis sociais estruturados, sobre normas e valores sociais. Na escola algumas normas podem ser fortalecidas ou refutadas, porém, o objetivo da escola, digamos assim, é o fortalecimento das noções e conceitos acadêmicos e que viabilizam a sua inserção e a apropriação da cultura produzida.
No sentido em voga, a família de William se mostra como um ponto positivo para seu desenvolvimento. Se, por um lado, o pai do protagonista não acreditou em suas propostas iniciais, com o tempo, acabou conferindo ao filho o embasamento de que necessitava. No entanto, o filme apresenta uma família preocupada, protetiva e também que vivenciava as situações de pobreza e sofrimento que os demais moradores que ali viviam. Já no aspecto da escola, como a obra retrata e aqui destacamos, William foi impedido de frequentá-la devido a questões financeiras. Assim, vemos que o protagonista vivencia um segundo processo de exclusão no sentido da questão do acesso à educação e também aos próprios dispositivos de viabilização da cultura.
O fato de William ter conseguido acesso à biblioteca para continuar seus estudos demonstra a importância do estudo porém, isso demonstra que o menino é um caso em um milhão ou seja, nem todos que viveram no período em pauta possuíram as mesmas condições do protagonista. Dito de outra forma: o ideal seria que todas as crianças possuíssem as mesmas condições de William, porém, isso não acontece em uma sociedade capitalista e marcada pela exclusão social. Nesse sentido, a ausência de acesso à educação demonstra que o Estado naquele período não garantia a educação para todos promovendo assim uma segunda exclusão social pois a educação era acessível apenas aqueles que conseguiam custear o serviço.
Outro aspecto relevante abordado no livro é a relação entre trabalho e classe social. Lane (2008) argumenta que a sociedade capitalista impõe um modelo de divisão do trabalho que aliena os trabalhadores, fazendo com que a sobrevivência dependa exclusivamente da força de trabalho manual. Essa é a visão do pai de William, que inicialmente rejeita a ideia do filho, pois acredita que apenas o trabalho braçal pode garantir a subsistência. No entanto, ao testemunhar a eficiência da turbina eólica criada por William, ele muda sua perspectiva, um reflexo da ideia de que a consciência pode ser transformada por experiências concretas.
Para tanto, William e sua família pertenciam a classe social vulnerável e usando um termo convencionalmente adotado por Lane (2008), classe proletária. Essa classe social só consegue ter suas necessidades atendidas por meio da venda da força de trabalho. Para tanto, nem sempre há consciência acerca do pertencimento a uma data classe social.
[...] a consciência de si, a consciência social e a
consciência de classe são apenas produtos de um único
processo, decorrente da atividade humana, que é pensamento e ação, teoria e prática, que se concretizam através da cooperação entre os homens na produção de suas próprias vidas.(op. cit., p. 65-66)
Cabe algumas indicações em relação a tal aspecto. Uma delas faz menção ao dato de que William buscou colaborar com seu território, com as pessoas com as quais convivia, possivelmente por um sentimento de proximidade e de vínculo. Não há indicativos no filme que nos permitam compreender se William tinha noção de que classe pertencia ou estava vinculado, porém, há menção de que o protagonista apresentasse consciência de sua classe social.
Outro elemento necessário de observação é a indicação da inteligência do menino que conseguiu estudar sozinho mesmo em um contexto de adversidade total. Isso merece ênfase uma vez que essa condição de conseguir estudar e desenvolver o projeto em questão foi peculiar do caso apresentado ou seja não pode ser universalizada como uma verdade a ser seguida por outros negros periféricos. Melhor dizendo, há muitas pessoas vulneráveis, muitas minorias que teriam condições intelectivas similares as de William mas nem todas elas conseguiram desenvolver projetos científicos com a mesma destreza que o personagem do filme. Necessário enfatizar que mesmo a capacidade de imaginação e de projetar a vida futura advém das condições objetivas e concretas de vida e de existência do sujeito e que se as mesmas não forem favoráveis as pessoas não conseguem se desenvolver como William.
O desenvolvimento das funções psíquicas superiores como a memória, o pensamento e mesmo a capacidade de imaginação e de projeção futura advém, de acordo com a autora, da realidade que a criança vivencia. William teve como referência a possibilidade de estudar na biblioteca da escola e isso fortaleceu tanto a sua pesquisa quanto a sua condição de projeção de vida futura. Assim, as condições objetivas, reais de William se mostraram pródigas e conseguiram orientar sua vida, de sua família e de todos que residiam com ele para outra direção e referência.
A narrativa do filme aparece com a apresentação de William conseguindo o aceite de suas propostas de utilização do vento por meio da produção de energia o colocou em uma posição de destaque em sua sociedade e que também conseguiu garantir uma situação financeira extremamente favorável e positiva para si e para sua família. Para tanto, ainda que a experiência retratada seja positiva e exitosa, e, seja, para muitos um retrato de inspiração, não pode ser compreendida como uma experiência universal. O ideal seria que as pessoas pudessem ter acesso as mesmas condições de vida e de sobrevivência que a família de William teve. Ou seja, que as condições objetivas concretas de vida e de existência e de reprodução da vida material fossem mais justas e equitativas.
Por conseguinte, Lane (2008) também nos fala acerca do compromisso social assumido pela Psicologia frente a situação de desigualdade que é gerada e potencializada a partir da sociedade capitalista na idade do monopólio destacando que cada vez mais a discrepância de acesso a condições dignas de vida tem aumentado. Frente a tal circunstância, para a autora, compete a Psicologia a adoção de uma posição de defesa dos direitos desses segmentos mais vulneráveis os quais, como William, demandam por dispositivos de proteção e de defesa.
Como é possível inferir a autora criticava a Psicologia que nomeava como burguesa pelo fato de não adotar uma posição de defesa dos segmentos mais vulneráveis, as minorias sociais e destaca que, como ressaltado, constitui papel da Psicologia uma postura em prol dos segmentos excluídos bem como o rompimento com condutas e práticas aburguesadas e com leituras desqualificadas no sentido crítico. Nesse interim é importante ressaltar que histórias como a de William precisam ser compreendidas como resultado desse sistema capitalista e mais, a Psicologia precisa compreender vivências análogas de tal maneira, ou seja, como provenientes de uma estrutura social consolidada nos modos de produção. Outrossim, se não é possível a sua superação é necessário ao menos diminuir o fosso da desigualdade social que separa essas classes sociais de forma tão contundente e excludente.
Considerações finais
A interseção entre a teoria da Psicologia Social de Silvia Lane e o filme O Menino que Descobriu o Vento revela como os indivíduos podem romper com as barreiras sociais e econômicas impostas pelo sistema. William Kamkwamba é um exemplo vivo do que Lane (2018) chama de agente histórico: um indivíduo que, apesar de ser socialmente determinado, consegue enxergar além das limitações impostas e transformar sua realidade.
O filme ilustra a importância do conhecimento e da educação como ferramentas de empoderamento social. A Psicologia Social sugere que, para que haja transformação, é necessário que os indivíduos desenvolvam uma consciência crítica sobre sua própria situação. Essa crítica está presente na luta de William contra a fome, a pobreza e a corrupção governamental, refletindo a necessidade de mudanças estruturais e coletivas.
Portanto, tanto a teoria da Psicologia Social quanto a história retratada no filme demonstram que a transformação social é possível quando os indivíduos tomam consciência de sua realidade e buscam mudá-la, utilizando o conhecimento como principal ferramenta de emancipação. No entanto, ainda há que se pensar sobre a relevância e a importância de que essa consciência social deve alcançar os segmentos vulneráveis como um todo e não apenas indivíduos isolados para que a ótica de opressão, de agressão possa ser subvertida, alterada e possa resultar em uma sociedade mais justa e menos desigual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LANE, S. T. M. O que é psicologia social. São Paulo, Brasiliense, 2008.
Minayo, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª edição. São Paulo: Hucitec, 2014.
FONTE
O MENINO que descobriu o vento. Direção: Tate Taylor. Produção: Andrea Calderwood
Gail Egan. Local: Estados Unidos, 2019. Mídia: Netflix.
1 Graduanda em Psicologia pela Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]
2 Graduanda em Psicologia pela Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]
3 Graduanda em Psicologia pela Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]
4 Graduanda em Psicologia pela Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]
5 Docente do Curso Superior de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas da UNIP, Campus Assis. Mestre em Pedagogia e Psicologia pela Unesp de Assis, Mestre em História pela Unesp de Assis e Doutora em História pela Unesp de Assis e-mail: [email protected]
6 Disponível https://www.letras.mus.br/seu-jorge/456890/ . Acesso: 27 de maio de 2025.
7 Disponível https://cdcc.usp.br/o-menino-que-descobriu-o-vento/. Acesso: 27 de maio de 2025.