ACOLHIMENTO E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: PRÁTICAS INOVADORAS NO ENSINO MÉDIO INTEGRAL EM TEMPO INTEGRAL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17556917


Fabiane de Pellegrin Dzingeleski1


RESUMO
A educação integral no ensino médio representa uma oportunidade significativa nas escolas da rede pública, uma vez que é nesse espaço que os jovens passam grande parte de suas vidas. O Ensino Médio Integral em Tempo Integral tem como objetivo proporcionar essa experiência, reconhecendo que todo indivíduo possui potencial e é capaz de se desenvolver plenamente quando é estimulado a acreditar em si mesmo, motivado por uma aprendizagem significativa e amparado por oportunidades educativas acolhedoras e atrativas. Quando uma escola se abre para o novo e implementa uma modalidade de ensino integral, demonstra que valoriza e acredita no potencial de seus alunos e professores. Muitos desses profissionais, antes desmotivados, passam a reconhecer a diversidade de modos de ser e a garantir oportunidades que promovem o desenvolvimento de um amplo conjunto de competências essenciais para a vida no século XXI, fundamentais para além do ambiente escolar. A matriz curricular, mediada pelo Instituto Ayrton Senna (IAS) em parceria com a coordenação e o corpo docente, incorpora a proposta e a metodologia da Educação Integral por meio de diversas ações, como a implementação de componentes educacionais, projetos de intervenção, metodologias ativas, projeto de vida, estudos orientados, práticas inovadoras e feedbacks contínuos a professores e estudantes. Além disso, o investimento em formações continuadas, materiais didáticos e tecnológicos de qualidade, bem como o planejamento por áreas do conhecimento e a culminância de projetos, contribuem para que os estudantes desenvolvam plenamente suas potencialidades. Assim, a Educação Integral possibilita que os jovens realizem escolhas conscientes, alinhadas a seus propósitos, valores e projetos de vida, preparando-os para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho.
Palavras-chave: Acolhimento. Educação Integral. Feedback. Práticas Inovadoras.

ABSTRACT
Integral education in high school represents a significant opportunity within public schools, as it is in this space that young people spend much of their lives. The Full-Time Integral High School aims to provide this experience, recognizing that every individual has potential and is capable of fully developing when encouraged to believe in themselves, motivated by meaningful learning, and supported by welcoming and attractive educational opportunities. When a school opens itself to innovation and implements an integral education model, it demonstrates that it values and believes in the potential of its students and teachers. Many of these professionals, once demotivated, begin to recognize the diversity of ways of being and to ensure opportunities that foster the development of a broad set of essential competencies for 21st-century life, which are crucial beyond the school environment. The curriculum, mediated by the Ayrton Senna Institute (IAS) in partnership with the coordination and teaching staff, incorporates the proposal and methodology of Integral Education through several actions, such as the implementation of educational components, intervention projects, active methodologies, life projects, guided studies, innovative practices, and continuous feedback for teachers and students. In addition, investment in ongoing training, quality teaching and technological materials, as well as planning by areas of knowledge and the culmination of projects, contribute to the full development of students' potential. Thus, Integral Education enables young people to make conscious choices aligned with their purposes, values, and life projects, preparing them for citizenship and the world of work.
Keywords: Welcoming. Integral Education. Feedback. Innovative Practices.

1. INTRODUÇÃO

Este estudo apresenta um relato de experiência sobre a implantação do Ensino Médio em Tempo Integral (EMITI) e sua nova matriz curricular em uma escola da rede estadual de Santa Catarina, a Escola de Educação Básica Coronel Ernesto Bertaso. O tema central da pesquisa — Acolhimento, Mediação e Práticas Inovadoras para uma Educação de Qualidade na Modalidade Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMTI) — foi escolhido por representar um importante instrumento de mediação nos processos de ensino e aprendizagem, envolvendo elementos sociais, culturais e pedagógicos que se materializam na realidade escolar e influenciam sua forma de organização.

A investigação foi orientada, inicialmente, pela seguinte pergunta norteadora: O que é qualidade na educação?
Uma educação de qualidade é aquela que possibilita a todos os estudantes o desenvolvimento das competências do século XXI, estimulando habilidades cognitivas, socioemocionais e práticas. O foco não deve se restringir a médias quantitativas, mas priorizar aprendizagens significativas e aplicáveis à realidade. Assim, a escola precisa promover o protagonismo estudantil, incentivando a criatividade, a comunicação, o trabalho em equipe e a resolução de problemas. Além disso, uma educação de qualidade valoriza o trabalho docente, promove mediação pedagógica efetiva entre coordenação e professores, investe em formação continuada, em materiais didáticos adequados, em feedbacks construtivos e em planejamento integrado por áreas do conhecimento, acolhendo e estimulando as potencialidades dos estudantes.

A segunda questão norteadora deste trabalho é: Como promover qualidade em uma instituição escolar?
Para responder a essa questão, é essencial compreender a realidade de cada escola, valorizando um espaço físico adequado, um ambiente acolhedor e favorável à aprendizagem, ações pedagógicas planejadas e uma gestão que motive professores e alunos. É fundamental fortalecer o trabalho em equipe, a integração entre coordenação, corpo docente e comunidade escolar, criando propostas atrativas que contribuam para a permanência e o engajamento dos estudantes.

A implantação de uma nova matriz curricular representa um desafio tanto para a equipe pedagógica quanto para os estudantes, exigindo acompanhamento constante e abertura ao novo. O objetivo é oferecer oportunidades de desenvolvimento integral, estimulando autonomia, valores e habilidades que preparem os jovens para a vida pessoal e profissional. A disciplina Projeto de Vida, por exemplo, favorece a reflexão sobre interesses, metas e potencialidades individuais, articulando o desenvolvimento acadêmico às competências socioemocionais necessárias ao futuro. Com disciplinas como Projeto de Vida, Projeto de Intervenção e Estudos Orientados, o Ensino Médio Integral amplia as possibilidades de aprendizado, valorizando todas as classes sociais e garantindo acesso equitativo à educação pública de qualidade.

A sociedade contemporânea está em constante transformação. No passado, os estudantes eram pouco estimulados à autonomia e à curiosidade; a escola seguia modelos tradicionais baseados na memorização e na transmissão de conteúdos. Segundo Mello, Petrillo e Neto (2022, p. 31), “a educação 2.0 está filiada à pedagogia diretiva, conhecida como tradicional ou conteudista, na qual o centro do processo de aprendizagem é o educador, e os alunos são coadjuvantes”.
Embora esse modelo ainda persista em algumas práticas docentes, a realidade atual exige mudanças profundas, impulsionadas pelo avanço das tecnologias e pelas novas demandas sociais. Assim, as escolas buscam se adaptar por meio da implantação de recursos digitais, laboratórios de informática, internet, lousas interativas e metodologias ativas que favorecem a participação e a autonomia dos estudantes.

Entre essas metodologias, destaca-se a Aprendizagem Baseada em Equipes (Team-Based Learning – TBL), que consiste em envolver os alunos em tarefas de aprendizagem significativa, promovendo a construção coletiva do conhecimento. Conforme Mello, Petrillo e Almeida Neto (2022, p. 68), “os alunos são divididos em grupos a fim de desenvolverem uma atividade proposta pelo professor, sendo colocada em evidência a possibilidade de uma nova elaboração do conhecimento construído de maneira conjunta”.

A implantação dessa nova matriz curricular contou com o apoio do Instituto Ayrton Senna (IAS), que ofereceu formações continuadas para gestores, coordenadores e professores. Segundo o projeto, “com a visão de que só a educação de qualidade pode transformar vidas, levamos, a milhões de estudantes, propostas educacionais inovadoras, elaboradas em conjunto com professores, gestores, pesquisadores e redes de ensino de todo o Brasil”. Parte das atividades são desenvolvidas em projetos nos quais os estudantes aplicam, na prática, os conhecimentos adquiridos, aprendendo a trabalhar em grupo, superar desafios e solucionar problemas reais, ampliando as possibilidades de aprendizagem para além da sala de aula.

O feedback tem papel fundamental nesse processo, permitindo avaliar continuamente as ações e aprimorar as práticas pedagógicas. De acordo com Mello, Petrillo e Neto (2022, p. 82), “o feedback deve ser objetivo e claro, devendo ser verbal e realizado ao final de cada encontro”.
Na escola analisada, os feedbacks são realizados não apenas com os estudantes, mas também com os professores. Os coordenadores e mediadores do Instituto Ayrton Senna assistem às aulas e realizam devolutivas de forma profissional e respeitosa, promovendo a chamada homologia dos processos, ou seja, a coerência entre as práticas pedagógicas e os princípios orientadores do ensino. Essas trocas fortalecem a mediação pedagógica, inspirando docentes a levarem essas práticas também para outras etapas da educação básica.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Aprendendo na Prática com a Educação Integral do Ensino Médio

É na escola que os jovens passam boa parte de suas vidas, desenvolvem suas habilidades, sonham e constroem suas competências: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver. A proposta do Ensino Médio em Tempo Integral, embora desafiadora em sua implementação inicial, tem se mostrado um modelo exitoso e inspirador para as redes municipais, estaduais e particulares. Essa modalidade de ensino possibilita aos estudantes aprender na prática, descobrir novas potencialidades, planejar o futuro e desenvolver autonomia. O Ensino Médio Integral permite que os alunos realizem seus projetos de vida e se insiram com mais facilidade no mundo do trabalho, tornando-se proativos e preparados para a continuidade dos estudos, especialmente porque vivenciam experiências como a disciplina de Metodologia Científica, apresentações de trabalhos com banca avaliadora e devolutiva formativa.

Pensar a educação integral é repensar o conceito de qualidade em educação. A qualidade educacional brasileira passa pela ressignificação do propósito da escola, que deve ir além do desempenho acadêmico e abarcar o desenvolvimento integral do estudante. Uma escola de qualidade é aquela que forma sujeitos autônomos, críticos e criativos, capazes de conviver, interagir e transformar a realidade em que estão inseridos. Para isso, é fundamental que as práticas pedagógicas estimulem a autonomia, as competências cognitivas e socioemocionais, além do sentimento de pertencimento e participação na vida escolar. O ambiente educativo precisa favorecer o diálogo, a escuta e o protagonismo dos estudantes, promovendo relações de respeito e corresponsabilidade.

Conforme destaca o material da Must (2020) sobre o conceito de competência no ambiente escolar, “é importante entender que os professores possuem competências muitas vezes adormecidas. A questão das competências trouxe à tona a interação com o autoconhecimento, as sensações, os sentimentos, a inteligência emocional e outros aspectos que não eram ensinados na educação escolar”. Nesse sentido, a coordenação pedagógica assume papel essencial ao identificar e potencializar as habilidades dos professores, estimulando o trabalho colaborativo e interdisciplinar, rompendo com o isolamento docente e fortalecendo a construção coletiva do conhecimento.

Trata-se, portanto, de uma educação que ocorre em múltiplos espaços, tempos e contextos, buscando o desenvolvimento humano integral e a melhoria da qualidade de vida. Ferreira, Sirino e Mota (2020) reforçam que a educação integral “possui em seu bojo uma visão dos processos educativos para além do desenvolvimento cognitivo e da instrução formativa”, compreendendo o sujeito em sua totalidade e valorizando as dimensões emocional, social e ética.

Quando a gestão escolar está alinhada à gestão pedagógica, o apoio ao professor torna-se natural e contínuo. O trabalho docente precisa de integração e reconhecimento, especialmente diante dos desafios diários da sala de aula. As práticas de acolhimento, a escuta ativa e a corresponsabilidade entre os profissionais fortalecem o clima organizacional e contribuem para a permanência e o engajamento dos estudantes.

Nas escolas de tempo integral, o trabalho pedagógico é planejado em detalhes, incluindo o acompanhamento próximo dos coordenadores e a criação de momentos de acolhimento, nos quais os professores são convidados a refletir coletivamente sobre as práticas, compartilhar experiências e desenvolver projetos interdisciplinares. Segundo Roxana (2017, p. 18), “quanto à valorização dos profissionais, a gestão da qualidade tem como princípio a valorização do desempenho individual e não coletivo, pois privilegia os cargos ou funções de liderança, expressados na hierarquização e decisões setoriais verticalizadas”. Nesse contexto, o Ensino Médio Integral propõe superar a verticalização das relações e promover a cooperação entre todos os membros da comunidade escolar.

As metodologias utilizadas no Ensino Médio Integral buscam transformar a sala de aula em um ambiente de aprendizagem ativa. A organização dos espaços, como o uso de mesas em ilhas e atividades em duplas, estimula a interação e a colaboração. Segundo Mello, Petrillo e Almeida Neto (2022, p. 86), essa metodologia “promove a interação em sala de aula para envolver os alunos e abordar aspectos críticos da disciplina; aumenta a produtividade e o interesse dos alunos; e possibilita o feedback constante entre aluno e professor”.

Além das disciplinas do núcleo comum, o currículo do EMITI inclui componentes inovadores como Projeto de Vida, Projeto de Intervenção e Estudos Dirigidos, que reforçam o caráter formativo e reflexivo da educação integral. Nessa perspectiva, a avaliação assume um papel qualitativo e processual, superando a lógica classificatória e quantitativa. Cária e Oliveira (2015, p. 8) destacam que “as avaliações ocupam grande parte do tempo escolar das instituições de ensino, muitas vezes se sobrepondo ao próprio trabalho com os conteúdos”, o que reforça a necessidade de repensar suas funções e instrumentos.

Durante muito tempo, o Ensino Médio foi percebido como um trampolim para a universidade. Contudo, o cenário contemporâneo aponta para novas possibilidades de inserção e permanência, em que as competências socioemocionais e o protagonismo dos estudantes ganham destaque. O propósito maior é formar sujeitos íntegros, preparados para aprender continuamente e atuar de forma ética, crítica e solidária na sociedade.

De acordo com Moran (2015), a educação integral deve ser entendida como uma prática viva, que “integra razão, emoção e ação”, estimulando a aprendizagem significativa por meio da autonomia e da corresponsabilidade. Essa visão dialoga com Bacich e Moran (2018), que afirmam que o papel do professor deve ser ressignificado: ele deixa de ser o transmissor de conteúdos e torna-se mediador e orientador do processo de aprendizagem, favorecendo experiências práticas e reflexivas. Essa mediação pedagógica é essencial para conectar teoria e prática, e para desenvolver nos estudantes o protagonismo necessário diante das rápidas transformações sociais e tecnológicas.

Complementarmente, Libâneo (2020) enfatiza que a gestão democrática e participativa é o eixo de sustentação de uma escola de qualidade, pois fortalece os vínculos entre os diferentes atores da comunidade escolar. Souza (2023) acrescenta que o gestor escolar, ao ir além das atribuições administrativas, deve oferecer suporte técnico e pedagógico, promovendo formações, incentivando o trabalho colaborativo e garantindo um ambiente de escuta e diálogo. Assim, a integração entre gestão, docentes e discentes consolida uma cultura de aprendizagem contínua, inovação e compromisso com a formação integral.

Essa prática tem transformado não apenas a rotina das escolas, mas também a vida das pessoas. A experiência da educação integral evidencia uma mudança de paradigma no modo de ensinar e aprender: mais humanizadora, colaborativa e significativa. Na vida pessoal, estudantes e professores aprendem a organizar melhor o tempo, fortalecer vínculos e compreender que a escola é, antes de tudo, um espaço de convivência, construção de valores e formação cidadã.

3. METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, de natureza descritiva e com abordagem bibliográfica, fundamentada em referenciais teóricos que discutem a educação integral, a mediação pedagógica e a qualidade do ensino. Segundo Gil (2019), a pesquisa descritiva busca compreender e interpretar fenômenos a partir da observação e da análise de suas características, permitindo relacionar práticas e contextos. Assim, a metodologia adotada possibilitou compreender como as práticas inovadoras e o acolhimento pedagógico têm se materializado na realidade escolar do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI), na Escola de Educação Básica Coronel Ernesto Bertaso, localizada no Estado de Santa Catarina.

A escolha pela abordagem qualitativa justifica-se pela necessidade de compreender a experiência educativa em sua complexidade, considerando os significados atribuídos pelos sujeitos envolvidos e o contexto em que as ações ocorrem. Conforme Minayo (2021), a pesquisa qualitativa busca o entendimento dos fenômenos humanos em profundidade, valorizando a subjetividade, a interação e o ambiente social em que se desenvolvem. Dessa forma, o estudo não se limitou à mensuração de dados, mas concentrou-se na análise interpretativa dos processos e práticas observadas.

Os procedimentos metodológicos incluíram a análise de documentos institucionais, como o projeto político-pedagógico da escola e a matriz curricular do EMITI, além de referenciais teóricos que tratam da gestão escolar, mediação docente e práticas inovadoras no ensino médio. O levantamento bibliográfico foi realizado em livros, artigos científicos e materiais de formação continuada, incluindo produções do Instituto Ayrton Senna (IAS), que contribuiu com a implementação do projeto na rede estadual. O diálogo entre teoria e prática foi construído a partir da análise das ações pedagógicas observadas na escola, com foco nos processos de acolhimento, acompanhamento e feedback entre coordenação, professores e estudantes.

A metodologia também se configurou como um relato de experiência, conforme definido por Cavalcante e Caldas (2018), por registrar práticas pedagógicas concretas desenvolvidas em um contexto escolar real, permitindo refletir sobre seus resultados e possibilidades de aprimoramento. Essa modalidade de pesquisa contribui para socializar experiências significativas e promover a troca de saberes entre profissionais da educação, estimulando a inovação e a reflexão crítica sobre a prática docente.

O tratamento e a interpretação dos dados foram realizados a partir da análise de conteúdo, proposta por Bardin (2016), permitindo a identificação de categorias temáticas relacionadas à gestão escolar, práticas pedagógicas inovadoras, acolhimento e mediação. Essa análise buscou evidenciar como o Ensino Médio Integral contribui para a formação integral dos estudantes, promovendo o desenvolvimento de competências cognitivas, socioemocionais e éticas.

Portanto, a metodologia deste estudo possibilitou compreender o impacto das práticas de acolhimento e mediação pedagógica na efetivação de uma educação de qualidade, analisando as contribuições do modelo integral para o fortalecimento da autonomia, da inovação e do protagonismo estudantil.

4.RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A implantação do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) na Escola de Educação Básica Coronel Ernesto Bertaso revelou-se uma experiência significativa de transformação da prática pedagógica e da cultura escolar. Os resultados observados apontam para o fortalecimento da autonomia discente, da corresponsabilidade docente e da integração entre gestão e pedagogia. As ações desenvolvidas, pautadas no acolhimento e na mediação pedagógica, contribuíram para a criação de um ambiente escolar mais colaborativo, participativo e inovador.O primeiro resultado percebido refere-se à mudança nas relações interpessoais dentro da escola. O acolhimento, tanto de estudantes quanto de professores, mostrou-se fundamental para promover a confiança e o sentimento de pertencimento. As práticas de escuta ativa e diálogo entre coordenação, docentes e discentes favoreceram a construção de vínculos e a valorização das experiências individuais. Conforme Libâneo (2020), a gestão democrática se consolida quando há efetiva participação dos sujeitos escolares nas decisões e quando as relações são pautadas na ética, no respeito e na cooperação. Essa dimensão humana da gestão escolar foi determinante para a adesão dos professores e o engajamento dos estudantes nas novas práticas.

Outro aspecto relevante foi o uso de metodologias inovadoras e colaborativas. A organização das salas em ilhas, o trabalho em duplas e a realização de projetos interdisciplinares despertaram maior interesse e participação dos alunos. De acordo com Bacich e Moran (2018), as metodologias ativas possibilitam uma aprendizagem significativa, pois colocam o estudante no centro do processo, tornando-o protagonista de sua própria trajetória formativa. Na escola, as atividades práticas e os projetos integradores permitiram que os jovens desenvolvessem competências cognitivas, sociais e emocionais, demonstrando mais segurança ao apresentar trabalhos, solucionar problemas e interagir com os colegas.

O papel do professor também passou por uma profunda ressignificação. De transmissor de conteúdos, ele tornou-se mediador e facilitador do conhecimento, adotando uma postura mais dialógica e reflexiva. Como afirma Mello, Petrillo e Almeida Neto (2022), o feedback é uma ferramenta essencial para o fortalecimento da aprendizagem, pois permite ao aluno compreender seus avanços e desafios, além de estabelecer um canal contínuo de comunicação entre professor e estudante. No contexto da escola pesquisada, o feedback passou a ser uma prática sistemática — tanto para alunos quanto para professores — promovendo a melhoria das ações pedagógicas e a qualificação das práticas docentes.

Os resultados também evidenciam que o planejamento coletivo e por área do conhecimento fortaleceu a integração curricular e contribuiu para o aprimoramento da prática pedagógica. Durante os momentos de planejamento, os professores, com apoio da coordenação e dos mediadores do Instituto Ayrton Senna (IAS), refletiam sobre suas práticas, compartilhavam experiências e propunham novas estratégias de ensino. Essa dinâmica colaborativa, segundo Souza (2023), reforça a ideia de uma gestão participativa, que vai além das funções administrativas e assume compromisso com a formação contínua dos profissionais da educação.

Em relação aos estudantes, observou-se uma evolução significativa nas competências socioemocionais e no protagonismo juvenil. O envolvimento em projetos de vida, intervenções sociais e atividades interdisciplinares proporcionou aos jovens a oportunidade de se expressarem, reconhecerem suas potencialidades e desenvolverem o senso de responsabilidade e cidadania. Essa perspectiva de formação integral está em consonância com a proposta de Moran (2015), que defende uma educação que integre razão, emoção e ação, formando sujeitos capazes de aprender com autonomia e de agir com consciência ética e social.

Outro ponto relevante identificado foi a melhoria no clima escolar e na permanência dos estudantes. O modelo integral, ao oferecer um ambiente mais dinâmico e acolhedor, favoreceu o engajamento e reduziu índices de evasão. A ampliação da jornada escolar, combinada com práticas inovadoras e suporte emocional, possibilitou aos alunos vivenciarem experiências diversificadas e significativas, alinhadas ao seu contexto e à realidade da comunidade local.

Esses resultados demonstram que a implantação do Ensino Médio Integral não se resume a mudanças estruturais, mas implica uma transformação cultural profunda, que envolve atitudes, valores e práticas pedagógicas. Como afirma Libâneo (2020), a qualidade da educação depende da coerência entre as intenções formativas, os processos de ensino e as condições de trabalho docente. Nesse sentido, a experiência da escola Coronel Ernesto Bertaso confirma que a educação integral é um caminho promissor para a formação de sujeitos críticos, autônomos e socialmente comprometidos.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação possui o poder de transformar as pessoas. Por meio das leituras e das experiências vividas, compreende-se que só é possível oferecer aos jovens aquilo que se carrega dentro de si. Quando um trabalho é realizado com amor, seus resultados são significativamente positivos. Os principais objetivos do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) consistem em formar jovens comprometidos, solidários, criativos, capazes de trabalhar em equipe, resolver problemas e propor soluções. Entretanto, esse processo somente se torna efetivo quando há acolhimento e um trabalho colaborativo entre professores e coordenadores, sem que haja caráter assistencialista.Despertar o entusiasmo e o brilho no olhar do professor é fundamental. Aprender com os colegas, sejam eles da mesma ou de outras áreas do conhecimento, enriquece o processo educativo. Durante os momentos de planejamento e formação — realizados, por exemplo, nas quintas-feiras no período vespertino —, foi possível promover a troca de experiências, incentivar a liderança docente e o rodízio nas apresentações, favorecendo uma nova forma de pensar e aprender.

O relato de experiência com o Ensino Médio Integral certamente marcou tanto os professores quanto os estudantes matriculados na matriz curricular. Mesmo diante de limitações estruturais, como instalações elétricas e prediais precárias e poucos recursos financeiros, foi possível descobrir e valorizar as melhores qualidades profissionais entre os colegas de trabalho. A ampliação do tempo escolar possibilitou a formação de grupos de estudo, o trabalho coletivo e o desenvolvimento de projetos de intervenção.Com o apoio dos professores, os estudantes revitalizaram espaços como a sala de convivência e a biblioteca da escola, realizando pintura, reforma e a culminância dos projetos. Essas ações demonstram que o acolhimento, as práticas inovadoras e a aprendizagem colaborativa são caminhos possíveis quando mediados por profissionais que acreditam no projeto e fazem a diferença no contexto social, oportunizando o crescimento e o desenvolvimento de jovens de diferentes classes sociais.Assim, observa-se que, cada vez mais, os estudantes têm a oportunidade de se tornarem pessoas melhores e cidadãos competentes, preparados para enfrentar os desafios da vida e contribuir de maneira significativa para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e humana. Nesse sentido, a experiência vivenciada no EMITI reafirma a importância da formação integral e da atuação docente comprometida como pilares essenciais para uma educação pública transformadora, inclusiva e de qualidade.

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1 Discente do Curso Superior de Tecnologias Emergentes na Educação do Instituto Must University Campus Florida. E-mail: [email protected]