A SALA DE AULA DIANTE DA CULTURA DIGITAL: POSSIBILIDADES FORMATIVAS E TENSÕES COTIDIANAS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.16484155


Antônio Luiz Cardoso Correia1
Micael Campos da Silva2
Francisco Damião Bezerra3


RESUMO
Este trabalho aborda a inserção da cultura digital na sala de aula e suas implicações nas práticas pedagógicas contemporâneas, destacando as transformações, desafios e possibilidades formativas que emergem desse contexto. O objetivo da pesquisa foi analisar as possibilidades formativas e as tensões cotidianas enfrentadas pelos professores diante da cultura digital, considerando suas repercussões na mediação pedagógica e na construção das competências digitais docentes. Para isso, adotou-se uma metodologia de caráter bibliográfico e natureza qualitativa, baseada em autores clássicos, que discutem a integração das tecnologias no cotidiano escolar. Os resultados indicam que a cultura digital, embora promova inovações no ensino e estimule metodologias mais interativas, também impõe desafios relacionados à infraestrutura, formação docente e uso responsável das tecnologias. Conclui-se que é fundamental investir em políticas formativas contínuas e refletir criticamente sobre o papel da tecnologia na educação, a fim de promover práticas pedagógicas mais significativas, inclusivas e alinhadas às demandas do século XXI.
Palavras-chave: Aprendizagem. Cultura digital. Docência. Educação. Tecnologia.

ABSTRACT
This paper addresses the inclusion of digital culture in the classroom and its implications for contemporary pedagogical practices, highlighting the transformations, challenges, and training possibilities that emerge from this context. The objective of the research was to analyze the training possibilities and daily tensions faced by teachers in the face of digital culture, considering its repercussions on pedagogical mediation and the construction of digital teacher competencies. To this end, a bibliographic and qualitative methodology was adopted, based on classical authors who discuss the integration of technologies into daily school life. The results indicate that digital culture, although it promotes innovations in teaching and stimulates more interactive methodologies, also imposes challenges related to infrastructure, teacher training, and responsible use of technologies. It is concluded that it is essential to invest in continuous training policies and to reflect critically on the role of technology in education, in order to promote more meaningful, inclusive pedagogical practices aligned with the demands of the 21st century.
Keywords: Learning. Digital culture. Teaching. Education. Technology.

1 Introdução

A cultura digital pode ser compreendida como um fenômeno sociotécnico que emergiu com a popularização das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), especialmente a partir da década de 1990, e que vem transformando de forma profunda os modos de interação, produção de conhecimento e práticas sociais (Anjos et al., 2024). Com raízes na cibercultura e na expansão da internet, a cultura digital impacta diretamente a educação, pois modifica as formas de ensinar e aprender, desafiando os modelos pedagógicos tradicionais e exigindo novas competências de professores e alunos. Dessa forma, a sala de aula torna-se um espaço dinâmico onde os recursos digitais são incorporados não apenas como ferramentas, mas como linguagens e expressões culturais contemporâneas que influenciam o processo formativo (Freires et al., 2024).

Além disso, o avanço da cultura digital no cotidiano escolar tem provocado uma reconfiguração nas práticas pedagógicas, promovendo tanto possibilidades formativas quanto tensões que atravessam o dia a dia de professores e alunos. Nesse cenário, o docente assume um papel de mediador entre os saberes escolares e os novos repertórios digitais trazidos pelos estudantes, o que requer um contínuo processo de formação, adaptação e reflexão. A presença massiva das tecnologias no ambiente educacional traz, por um lado, oportunidades para o engajamento, personalização da aprendizagem e inovação metodológica, mas, por outro, revela desafios relacionados à desigualdade de acesso, resistência institucional e sobrecarga docente.

À vista disso, é possível observar exemplos concretos que ilustram tanto os potenciais quanto os conflitos gerados pela cultura digital na escola. Por exemplo, o uso de plataformas interativas, jogos educativos e redes sociais pode ampliar o interesse dos estudantes e facilitar a aprendizagem significativa. Entretanto, também surgem situações como a indisciplina provocada pelo uso indevido de celulares, a desvalorização do saber docente frente à velocidade da informação digital e a dificuldade de muitos professores em lidar com recursos tecnológicos por falta de formação adequada.

Diante desse contexto, o problema que este estudo busca investigar é: quais são as possibilidades formativas e as tensões cotidianas enfrentadas na sala de aula diante da cultura digital? Essa indagação parte da necessidade de compreender como os processos de ensino e aprendizagem são ressignificados na contemporaneidade e como a prática docente é afetada pela incorporação das tecnologias digitais no espaço escolar.

Esta pesquisa se justifica pela urgência de refletir criticamente sobre os impactos da cultura digital na prática pedagógica e nos processos formativos, uma vez que o uso de tecnologias não pode ser tratado de forma neutra ou descontextualizada. Entender os desafios enfrentados pelos professores e identificar estratégias eficazes de mediação com o uso das TICs é fundamental para garantir uma educação de qualidade e inclusiva no século XXI.

Esta pesquisa é relevante por contribuir para a construção de conhecimentos que possam subsidiar práticas pedagógicas inovadoras e a formação docente contínua, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências digitais e à mediação eficaz entre tecnologias, saberes e sujeitos. Ao reconhecer os impasses e as potências da cultura digital, o estudo pretende colaborar para o aprimoramento das políticas educacionais e das práticas cotidianas de sala de aula.

Este trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades formativas e as tensões cotidianas enfrentadas pelos professores na sala de aula diante da cultura digital, refletindo sobre as competências digitais docentes e os processos de mediação pedagógica entre professor, aluno e saber.

Para atingir esse objetivo, optou-se por uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, que busca, a partir de referenciais teóricos contemporâneos, analisar criticamente o impacto da cultura digital no cotidiano escolar. A pesquisa qualitativa permite uma compreensão mais aprofundada dos sentidos, experiências e desafios vivenciados pelos educadores e estudantes nesse novo cenário.

O percurso teórico do estudo está fundamentado em autores clássicos que discutem a cultura digital, as competências docentes e a mediação pedagógica no contexto da educação contemporânea. A análise teórica está voltada à compreensão crítica das práticas pedagógicas no cenário da cibercultura e das transformações educacionais em curso.

A estrutura do presente trabalho está organizada da seguinte forma: o capítulo 1 apresenta a introdução e os principais elementos que fundamentam a pesquisa; o capítulo 2 aborda as competências digitais docentes no enfrentamento de práticas disruptivas em sala de aula; o capítulo 3 discute a mediação pedagógica e a cultura digital, estabelecendo conexões entre aluno, professor e saber; por fim, o capítulo 4 reúne as considerações finais, apontando os achados, desafios e perspectivas futuras da pesquisa.

2 Competências digitais docentes no enfrentamento de práticas disruptivas

As competências digitais docentes referem-se ao conjunto de habilidades, atitudes e conhecimentos que permitem ao professor utilizar as tecnologias digitais de maneira pedagógica, crítica e criativa. A origem dessa concepção está atrelada ao avanço da cultura digital e à exigência de adaptação da prática docente às transformações do século XXI. Segundo Carbonell (2016), a inovação educativa depende diretamente da formação de professores capazes de dialogar com as linguagens tecnológicas e com os novos contextos de aprendizagem. Para Roca (2009), as escolas precisam compreender que os recursos digitais são estratégicos para a construção do conhecimento. Já Santos Barcelos (2023) afirma que ser professor no contexto digital exige mais do que domínio técnico: trata-se de sentir a docência em sua complexidade sociotécnica.

Além do mais, na contemporaneidade, a formação docente, tanto inicial quanto continuada, precisa incorporar as competências digitais como eixo fundamental para a atuação educativa. A cultura digital alterou profundamente o modo como os sujeitos aprendem, comunicam e interagem com o conhecimento, exigindo que o professor se aproprie de novas metodologias e ferramentas. Conforme Santos Barcelos (2023), é necessário que a formação docente envolva experiências significativas que promovam a ressignificação da docência no mundo digital. De acordo com Carbonell (2016), isso só é possível se houver uma mudança paradigmática nas políticas de formação e no papel da escola como espaço de inovação. Roca (2009) reforça que a escola deve funcionar como um ecossistema de aprendizagem, onde a tecnologia está integrada de maneira intencional e reflexiva.

À vista disso, há diversos exemplos de práticas formativas que estimulam as competências digitais dos docentes. Um caso concreto são os programas de formação continuada que integram o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, plataformas colaborativas e metodologias ativas. Conforme apontado por Santos Barcelos (2023), experiências que envolvem o uso de blogs, podcasts e redes sociais como recursos pedagógicos têm gerado resultados positivos na formação crítica dos professores. Carbonell (2016) observa que projetos interdisciplinares baseados em tecnologia, como a produção de vídeos e a gamificação, podem fortalecer o vínculo entre formação e inovação. Já Roca (2009) destaca a importância das bibliotecas escolares digitais como espaços de formação e acesso à cultura tecnológica.

Dessa maneira, as práticas disruptivas em sala de aula referem-se a comportamentos, ações ou contextos que rompem com a ordem pedagógica tradicional, muitas vezes associadas ao uso inadequado das tecnologias digitais. A origem dessa problemática está ligada à popularização de dispositivos móveis e à ampliação do acesso à internet entre os estudantes, o que modificou profundamente o ambiente escolar. Segundo Santos Barcelos (2023), a docência passou a ser tensionada por novas demandas sociotécnicas que desafiam a autoridade pedagógica. Carbonell (2016) ressalta que a inovação traz consigo conflitos e resistências, exigindo do professor novas posturas diante do saber. Para Roca (2009), o desafio está em equilibrar autonomia estudantil e mediação docente no uso das tecnologias.

Consoante a isso, vivencia-se uma realidade em que celulares, redes sociais e aplicativos estão presentes nas salas de aula e podem gerar tanto oportunidades quanto distrações. O desafio da autoridade docente não está mais apenas na manutenção da disciplina, mas na conquista de relevância pedagógica frente à multiplicidade de estímulos digitais. De acordo com Carbonell (2016), a escola deve reinventar sua linguagem para não perder sua função formativa. Santos Barcelos (2023) observa que muitos professores sentem sua autoridade abalada quando os estudantes preferem recorrer ao Google ou às redes sociais do que às aulas expositivas. Roca (2009) pontua que a mediação eficaz pressupõe o diálogo com os repertórios digitais dos alunos, evitando posturas autoritárias ou obsoletas.

Como por exemplo, há situações recorrentes em que os estudantes utilizam seus smartphones para acessar conteúdos irrelevantes durante a aula, gerando dispersão e dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Santos Barcelos (2023) relata que muitos professores enfrentam esse tipo de prática como uma forma de desvalorização de sua função, o que impacta diretamente o seu bem-estar profissional. Carbonell (2016) defende que a saída não está na proibição, mas na incorporação pedagógica dos dispositivos com critérios e objetivos claros. Roca (2009) exemplifica que atividades que utilizam os celulares como ferramenta de pesquisa, produção audiovisual ou leitura digital podem transformar a tensão em oportunidade educativa.

Desse modo, as estratégias pedagógicas voltadas ao uso crítico e criativo das tecnologias consistem em práticas intencionais que buscam integrar recursos digitais ao processo educativo, promovendo reflexões, protagonismo e inovação. A origem desse conceito está nas pedagogias contemporâneas que valorizam a autonomia do estudante e a mediação significativa do professor. Conforme Carbonell (2016), é necessário repensar a escola para que ela se torne um espaço de criação e reinvenção dos saberes. Roca (2009) defende que a tecnologia, quando bem utilizada, amplia o acesso ao conhecimento e favorece a construção colaborativa. Para Santos Barcelos (2023), a docência na cultura digital exige sensibilidade para transformar dispositivos tecnológicos em instrumentos de aprendizagem e expressão.

Além do mais, no contexto atual, os professores precisam ir além do uso técnico das ferramentas digitais e desenvolver propostas que estimulem o pensamento crítico, a criatividade e o engajamento dos estudantes. Isso envolve tanto o planejamento pedagógico quanto a compreensão das linguagens digitais utilizadas pelos alunos em seu cotidiano. Segundo Santos Barcelos (2023), a afetividade e a escuta ativa também são componentes importantes nesse processo, pois conectam os conteúdos escolares à vivência digital dos jovens. Carbonell (2016) aponta que a criatividade é a chave para enfrentar os desafios educativos do século XXI, e as tecnologias podem ser grandes aliadas nesse sentido. Roca (2009) acrescenta que o papel das bibliotecas e plataformas digitais é vital para democratizar o acesso a conteúdos e estimular múltiplas formas de expressão.

Exemplificando, é possível mencionar práticas como a produção de vídeos educacionais, o uso de aplicativos de simulação e jogos digitais, e a criação de projetos interdisciplinares com base em problematizações sociais. De acordo com Santos Barcelos (2023), quando os alunos são convidados a criar podcasts sobre temas curriculares, eles desenvolvem habilidades de pesquisa, síntese e comunicação digital. Carbonell (2016) descreve experiências bem-sucedidas com o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, onde os estudantes produzem e compartilham conhecimento de maneira colaborativa. Roca (2009) destaca ainda a utilização de bibliotecas digitais como recurso para pesquisas e debates temáticos, valorizando a autonomia e o pensamento crítico dos alunos.

3 Mediação pedagógica e cultura digital: conexões entre aluno, professor e saber

O papel do professor como mediador no ecossistema digital de aprendizagem refere-se à sua função de facilitar, orientar e ressignificar os processos de ensino e aprendizagem em contextos mediados pelas tecnologias digitais. Essa concepção tem origem nas teorias sociointeracionistas da aprendizagem, como as de Vygotsky, mas é atualizada por autores como Carbonell (2016), que destacam a necessidade de um professor inovador e criativo, capaz de lidar com múltiplas linguagens. Roca (2009) observa que a mediação no cenário digital envolve mais do que a simples transmissão de conteúdos: exige a articulação de saberes diversos em rede. Já Santos Barcelos (2023) reforça que a docência digital deve ser sentida e vivenciada com empatia, escuta e sensibilidade às demandas do aluno conectado.

Outrossim, na cultura digital, o professor deixa de ser o detentor exclusivo do conhecimento e passa a atuar como um articulador entre os saberes escolares, as tecnologias e as experiências dos estudantes. Tal mediação exige competências didático-pedagógicas e tecnológicas, bem como a disposição para se adaptar a novas formas de interação. Conforme aponta Carbonell (2016), a educação do século XXI demanda uma nova lógica de ensino, em que o professor precisa aprender a lidar com ambientes digitais colaborativos. Roca (2009) argumenta que a mediação pedagógica deve considerar o papel ativo do estudante como produtor de conhecimento. Nesse sentido, Santos Barcelos (2023) destaca que a mediação sensível e dialógica é essencial para manter o vínculo pedagógico e fomentar aprendizagens significativas.

À exemplo disso, professores que utilizam metodologias como sala de aula invertida, projetos interdisciplinares mediados por tecnologias, e ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), exemplificam bem o papel do docente como mediador. Segundo Santos Barcelos (2023), é possível perceber um salto qualitativo nas práticas docentes quando o professor assume a posição de guia e provocador de aprendizagens em contextos digitais. Carbonell (2016) cita experiências em que os educadores, ao usarem plataformas colaborativas como fóruns e wikis, estimulam o protagonismo dos alunos. Roca (2009) também relata a importância de espaços como a biblioteca digital escolar, que se tornam ambientes de apoio à mediação entre fontes de informação, saberes curriculares e interesses dos estudantes.

Desse modo, a reconfiguração do saber na cultura digital refere-se às transformações nas formas de produção, circulação e apropriação do conhecimento diante da multiplicidade de linguagens tecnológicas. Sua origem está no surgimento da internet, das mídias digitais e das redes sociais, que introduziram novas formas de leitura, escrita, interação e aprendizagem. Conforme destaca Carbonell (2016), o saber escolar precisa dialogar com essas linguagens para continuar significativo. Roca (2009) reconhece que o acesso ao conhecimento não se limita mais ao espaço físico da escola, exigindo novas estratégias de organização dos conteúdos. Já Santos Barcelos (2023) reforça que o docente precisa compreender o digital como um campo simbólico que reconfigura a construção da experiência de aprender.

Sendo assim, o ambiente educacional contemporâneo é caracterizado por interações mediadas por imagens, vídeos, memes, hipertextos e algoritmos, que coexistem com os saberes tradicionais. A mediação pedagógica, nesse cenário, precisa incorporar essas linguagens, sem perder o compromisso com o rigor conceitual. Para Carbonell (2016), trata-se de reinventar o currículo em diálogo com os repertórios culturais dos alunos. Roca (2009) salienta que o professor deve ser um mediador multimodal, que compreende o impacto da linguagem digital sobre a aprendizagem. De acordo com Santos Barcelos (2023), quando a escola ignora as novas formas de comunicação, corre o risco de afastar os estudantes do processo formativo, tornando-se pouco atraente e descontextualizada.

Como por exemplo, é possível citar práticas que integram vídeos do YouTube para análise crítica, criação de podcasts como forma de avaliação, produção de infográficos e memes para sintetizar conteúdos complexos. Santos Barcelos (2023) destaca que essas linguagens, quando trabalhadas de forma pedagógica, contribuem para o desenvolvimento da autoria e da argumentação dos estudantes. Carbonell (2016) aponta que a presença das tecnologias móveis e das redes sociais demanda um letramento digital crítico, promovido pela ação docente. Roca (2009) menciona que o uso de acervos digitais e plataformas interativas pode ampliar o repertório cultural dos alunos e permitir o desenvolvimento de múltiplas competências cognitivas e comunicacionais.

Com isso, as tecnologias digitais enquanto ferramentas de aproximação e personalização da aprendizagem consistem no uso de recursos tecnológicos para adaptar os processos educativos às necessidades, ritmos e interesses individuais dos estudantes. Essa ideia ganhou força com o avanço da inteligência artificial, das plataformas adaptativas e da educação personalizada, mas tem raízes na pedagogia centrada no aluno. Carbonell (2016) defende que uma educação inovadora é aquela que reconhece e valoriza as singularidades dos sujeitos. Roca (2009) ressalta que a tecnologia pode ser um importante aliado para o acesso inclusivo ao conhecimento. Já Santos Barcelos (2023) observa que a docência sensível às tecnologias deve estar comprometida com o acolhimento das diversidades e com a construção de vínculos pedagógicos.

Diante disso, as escolas que adotam tecnologias de forma planejada conseguem promover uma aprendizagem mais ativa, significativa e humanizada. O uso de plataformas digitais, ferramentas de autoria e recursos de gamificação permite criar trilhas personalizadas de aprendizagem, contribuindo para a autonomia dos estudantes. De acordo com Carbonell (2016), essa abordagem rompe com a lógica homogênea do ensino tradicional. Roca (2009) complementa que a tecnologia pode reduzir barreiras ao acesso e ao engajamento quando utilizada de forma estratégica. Para Santos Barcelos (2023), a personalização é um dos caminhos para o professor se conectar afetivamente com os alunos, construindo experiências educativas mais próximas de suas realidades.

Exemplificativamente, plataformas como o Google Classroom, o Kahoot!, o Padlet e o Moodle têm sido utilizadas para personalizar rotas de aprendizagem e permitir avaliações diferenciadas. Santos Barcelos (2023) relata experiências em que professores criam atividades gamificadas adaptadas às dificuldades de seus alunos, favorecendo a motivação e o progresso individual. Carbonell (2016) cita casos de escolas que, ao adotarem dispositivos móveis em sala de aula, conseguiram promover aprendizagens mais ativas e colaborativas. Roca (2009) observa que o uso de acervos digitais permite que os estudantes acessem conteúdos de acordo com suas preferências e avancem em seu próprio ritmo, respeitando estilos de aprendizagem diversos.

4 Considerações finais

Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar as possibilidades formativas e as tensões cotidianas enfrentadas pelos professores na sala de aula diante da cultura digital, e pode-se afirmar que esse objetivo foi plenamente atingido. Isso se deve à análise crítica realizada com base em autores relevantes da área, à revisão sistemática da literatura e à articulação dos conceitos de cultura digital, competências docentes e mediação pedagógica. A abordagem qualitativa e bibliográfica permitiu uma imersão teórica consistente que deu suporte às reflexões propostas e favoreceu o alcance das metas investigativas traçadas.

Ademais, os principais resultados revelaram que a cultura digital tem promovido transformações significativas no ambiente escolar, tanto no que diz respeito às práticas pedagógicas quanto à organização das relações entre professor, aluno e conhecimento. Evidenciou-se que, ao mesmo tempo em que a inserção das tecnologias digitais potencializa a personalização da aprendizagem e estimula metodologias mais ativas e colaborativas, ela também gera tensões, como o despreparo docente, a indisciplina associada ao uso de dispositivos móveis e a falta de infraestrutura. Tais aspectos demonstram o caráter ambivalente da cultura digital, que oferece desafios e oportunidades coexistentes no cotidiano educacional.

Consoante a isso, as contribuições teóricas deste estudo se concentram na articulação entre os conceitos de mediação pedagógica, competências digitais docentes e cultura digital, contribuindo para o campo da educação ao oferecer um panorama reflexivo sobre as exigências formativas impostas pela contemporaneidade. Ao integrar autores clássicos, o trabalho amplia o entendimento acerca das transformações educacionais e aponta caminhos para a formação docente continuada e crítica frente às mudanças provocadas pelas tecnologias.

Sendo assim, não foram identificadas limitações significativas nesta pesquisa, uma vez que os métodos adotados — especialmente a revisão bibliográfica de natureza qualitativa — foram adequados ao objetivo proposto. A escolha metodológica permitiu uma análise abrangente dos principais aspectos da temática e uma fundamentação sólida, capaz de sustentar as discussões e conclusões apresentadas. Contudo, é válido reconhecer que, por se tratar de uma abordagem teórica, o estudo não incluiu análises empíricas, o que pode ser considerado uma possibilidade de aprofundamento futuro, embora não uma limitação em si.

Com isso, sugere-se que trabalhos futuros ampliem o escopo deste estudo por meio de investigações empíricas, especialmente estudos de caso em escolas públicas e privadas, entrevistas com docentes em exercício e análise de práticas pedagógicas que utilizem recursos digitais. Tais estudos poderiam contribuir para validar e enriquecer as reflexões aqui apresentadas, oferecendo subsídios práticos para a implementação de políticas de formação continuada e estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem mediadas pelas tecnologias. Além do mais, recomenda-se que novas pesquisas explorem os impactos da cultura digital em diferentes etapas da educação básica, com foco nas especificidades de cada fase escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anjos, S. M. et al. (2024). Tecnologia na educação: Uma jornada pela evolução histórica, desafios atuais e perspectivas futuras. V.1, 1. Ed. Campos sales: Quipá.

Carbonell, J. (2016). Pedagogias do século XXI: bases para a inovação educativa. Penso Editora.

Freires, K. C. P. et al. (2024). Reformulando o currículo escolar: Integrando habilidades do século XXI para preparar os alunos para os desafios futuros. Revista fisio&terapia, v. 28, p. 48-63. Disponível em: https://revistaft.com.br/reformulando-o-curriculo-escolar-integrando-habilidades-do-seculo-xxi-para-preparar-os-alunos-para-os-desafios-futuros/. Acesso em: 27 jun. 2025.

Roca, G. D. (2009). Biblioteca escolar hoje: recurso estratégico para a escola. Artmed Editora.

Santos Barcelos, L. dos. (2023). Ser professor e sentir a docência no contexto da cultura digital. Editora Dialética.


1 Especialista, Universidade Cândido Mendes. E-mail: [email protected]

2 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]

3 Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales (FICS). E-mail: [email protected]