A RELAÇÃO ENTRE O FRACASSO ESCOLAR E A APRENDIZAGEM: ANÁLISE DAS DIMENSÕES PEDAGÓGICAS E PSICOSSOCIAIS

PDF: Clique Aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13990152


Sandra Maria Ferreira1
Elizabeth Ivone Santos Nunez2
Nerilton Vidal de Almeida3


RESUMO
Este artigo aborda a relação entre fracasso escolar e aprendizagem, explorando teorias pedagógicas, psicológicas e sociológicas que elucidam esse fenômeno complexo. O fracasso escolar não deve ser entendido exclusivamente como uma falha individual do aluno, mas sim como um reflexo de condições pedagógicas, emocionais, socioeconômicas e culturais. A pesquisa se baseia em autores como Paulo Freire, Gabriel Chalita, Lev Vygotsky, Philippe Perrenoud e Pierre Meirieu, que destacam a importância de práticas pedagógicas inclusivas, afetivas e dialógicas para mitigar o fracasso escolar. A partir de uma revisão bibliográfica, o estudo revela que a falta de uma educação humanizada, que valorize a individualidade e o contexto sociocultural dos alunos, pode levar à desmotivação, alienação e, consequentemente, ao fracasso escolar. Além disso, as práticas avaliativas padronizadas e excludentes contribuem para marginalizar alunos com diferentes estilos de aprendizagem. Os resultados indicam que o fracasso escolar está intimamente ligado à falta de adaptação das práticas pedagógicas às necessidades dos alunos, bem como às desigualdades socioeconômicas que afetam o ambiente escolar. O artigo conclui que é necessária uma reforma educacional que promova uma educação inclusiva, afetiva e centrada no estudante, valorizando a diversidade e combatendo a exclusão escolar.
A pesquisa contribui teoricamente ao consolidar reflexões sobre o tema e, na prática, reforça a importância de mudanças profundas no sistema educacional para reduzir o fracasso escolar e promover o sucesso acadêmico de todos os alunos..
Palavras-chave: Fracasso escolar. Aprendizagem. Práticas pedagógicas.

ABSTRACT
This article addresses the relationship between school failure and learning, exploring pedagogical, psychological and sociological theories that elucidate this complex phenomenon. School failure should not be understood exclusively as an individual failure of the student, but rather as a reflection of pedagogical, emotional, socioeconomic and cultural conditions. The research is based on authors such as Paulo Freire, Gabriel Chalita, Lev Vygotsky, Philippe Perrenoud and Pierre Meirieu, who highlight the importance of inclusive, affective and dialogic pedagogical practices to mitigate school failure. Based on a bibliographical review, the study reveals that the lack of a humanized education, which values ​​the individuality and sociocultural context of students, can lead to demotivation, alienation and, consequently, academic failure. Furthermore, standardized and exclusionary assessment practices contribute to marginalizing students with different learning styles. The results indicate that school failure is closely linked to the lack of adaptation of pedagogical practices to the needs of students, as well as to socioeconomic inequalities that affect the school environment. The article concludes that an educational reform is necessary that promotes inclusive, affective and student-centered education, valuing diversity and combating school exclusion.
Keywords: School failure. Learning. Pedagogical practices.

1 INTRODUÇÃO

A transição do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio é um marco significativo na trajetória escolar dos estudantes brasileiros. Nesse período, ocorrem mudanças substanciais no currículo, nas expectativas pedagógicas e na própria dinâmica de ensino. A matemática, disciplina que já apresenta desafios em outras etapas da educação, torna-se ainda mais complexa nessa fase, o que pode gerar dificuldades consideráveis para os alunos. Essa transição é marcada pelo aumento da exigência cognitiva, com a introdução de novos conteúdos e a necessidade de um pensamento mais abstrato e analítico, aspectos que muitos estudantes não tiveram a oportunidade de desenvolver plenamente ao longo do Ensino Fundamental.

O problema da transição escolar e suas repercussões na aprendizagem de matemática tem sido abordado em diversas pesquisas educacionais. Fiorentini e Lorenzato (2006) apontam que essa fase pode acentuar as lacunas de aprendizagem que os alunos carregam desde o Ensino Fundamental, agravando dificuldades que antes poderiam ter sido ocultas. D’Ambrosio (1991), por sua vez, sugere que as metodologias utilizadas no ensino da matemática muitas vezes falham em contextualizar o aprendizado, levando à desconexão entre os conteúdos abordados em sala de aula e a realidade vivida pelos estudantes. Assim, os alunos entram no Ensino Médio com uma compreensão limitada da matemática, enfrentando novos conceitos com pouca ou nenhuma base para lidar com eles.

Entretanto, a questão não se limita apenas às lacunas no conhecimento acumulado ao longo do Ensino Fundamental. Conforme argumenta Vygotsky (1991), o desenvolvimento do pensamento abstrato e a capacidade de resolver problemas complexos dependem, em grande parte, da mediação social e pedagógica oferecida pela escola. Quando essa mediação é insuficiente ou mal direcionada, os alunos podem enfrentar barreiras cognitivas que dificultam o entendimento dos conceitos mais avançados da matemática no Ensino Médio.

O problema central que norteia esta pesquisa reside nas dificuldades específicas que os alunos enfrentam na disciplina de matemática durante a transição do nono ano para a 1ª série do Ensino Médio. Quais são os fatores que contribuem para essas dificuldades? Como o ensino da matemática pode ser ajustado para apoiar os alunos nesse momento crítico de sua educação? Embora estudos anteriores tenham explorado amplamente as questões relacionadas ao ensino da matemática (D’AMBROSio, 1991; Fiorentini e Lorenzato, 2006), há uma lacuna na compreensão de como essas dificuldades específicas podem ser mitigadas de forma eficaz, considerando tanto as práticas pedagógicas quanto o contexto sociocultural dos alunos.

O objetivo desta pesquisa é investigar as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos do Ensino Médio em relação à matemática, identificando os fatores que agravam essas dificuldades durante a transição escolar e propondo estratégias pedagógicas que possam contribuir para superá-las. A justificativa para este estudo baseia-se na relevância prática e teórica do problema. No contexto prático, as dificuldades em matemática têm impacto direto no desempenho acadêmico geral dos alunos e, muitas vezes, limitam suas oportunidades futuras, especialmente em áreas relacionadas às ciências exatas e tecnologia. Do ponto de vista teórico, esta pesquisa busca contribuir para a compreensão de como as práticas pedagógicas podem ser adaptadas para facilitar a transição escolar e apoiar o desenvolvimento do pensamento matemático em fases críticas da educação.

Portanto, o presente estudo busca responder à seguinte questão: quais são os principais fatores que influenciam as dificuldades em matemática na transição do nono ano do Ensino Fundamental para a 1ª série do Ensino Médio, e como o ensino pode ser adaptado para mitigar essas dificuldades? Acredita-se que as respostas a essa questão poderão contribuir não apenas para o aprimoramento das práticas pedagógicas em matemática, mas também para o desenvolvimento de estratégias educacionais que favoreçam uma transição mais tranquila entre as etapas da educação básica, impactando positivamente o desempenho dos alunos e sua relação com a matemática.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A relação entre fracasso escolar e aprendizagem tem sido um tema amplamente discutido no campo da educação, envolvendo teorias pedagógicas, psicológicas e sociológicas. O fracasso escolar é um aspecto complexo, que pode ser compreendido de diferentes maneiras, dependendo das abordagens e das perspectivas teóricas adotadas. Por outro lado, o conceito de aprendizagem também é multifacetado, envolvendo processos cognitivos, emocionais e sociais. A intersecção entre essas duas características revela aspectos profundos da educação contemporânea e das práticas pedagógicas. Para entender essa relação, é necessário explorar como fatores afetivos, culturais, econômicos e pedagógicos que influenciam o desempenho dos estudantes e, consequentemente, sua aprendizagem

A aprendizagem, segundo Vygotsky (1991), é um processo interativo, social e culturalmente mediado. Nessa perspectiva, o desenvolvimento cognitivo das crianças não ocorre isoladamente, mas em colaboração com outros indivíduos, sendo o meio social um fator crucial para o aprendizado. Assim, quando uma criança não consegue atingir as expectativas acadêmicas, o fracasso escolar pode ser visto não apenas como um reflexo de suas capacidades individuais, mas também como um reflexo das condições sociais e educacionais em que está inserido. Isso amplia a responsabilidade da escola e da sociedade para além da visão tradicional de que o aluno fracassado é aquele que "não aprende", focando no ambiente e nas práticas que favorecem ou dificultam o processo de aprendizagem

Gabriel Chalita (2001), em seu trabalho sobre a educação baseada no afeto, argumenta que o fracasso escolar muitas vezes está relacionado à falta de uma relação positiva entre educador e aluno. O afeto é uma dimensão crucial da prática educativa, pois estabelece uma conexão emocional que facilita a aprendizagem. Quando o estudante se sente reunido, compreendido e respeitado em sua individualidade, ele desenvolve uma maior confiança em suas capacidades, o que favorece seu desenvolvimento cognitivo. Em contrapartida, ambientes escolares marcados pela indiferença, estresse ou mesma agressividade simbólica podem gerar ansiedade, baixa autoestima e desmotivação, fatores que prejudicam a aprendizagem e conduzem ao

Paulo Freire (2000), em sua obra "Medo e Ousadia", destacou a importância de o professor adotar uma postura de reflexão crítica sobre sua prática pedagógica. O fracasso escolar, nesse sentido, pode ser resultado de práticas educacionais que não consideram as especificidades dos alunos, ignorando suas realidades culturais, sociais e emocionais. Freire enfatiza que a educação deve ser um processo dialógico, em que o conhecimento é construído coletivamente e a partir da experiência dos educandos. Assim, o fracasso escolar seria, em parte, fruto de uma educação bancária, que depositar conteúdo nos alunos sem levar em conta sua capacidade de interagir criticamente com o que é apresentado. A ausência desse diálogo entre professor e aluno gera uma desconexão entre o conhecimento formal e as vivências dos estudantes, o que pode resultar na evasão escolar ou no insucesso acadêmico.

A abordagem de Philippe Perrenoud (2004) também fornece insights relevantes sobre o fracasso escolar. Ele propõe que os professores desenvolvam dez novas competências para ensinar, o que inclui a capacidade de gerenciar a heterogeneidade das turmas. A diversidade de perfis e ritmos de aprendizagem é uma realidade que, quando não detalhada ou tratada adequadamente, pode gerar fracasso escolar. A incapacidade de atender às necessidades individuais dos alunos, muitas vezes associada a um sistema educacional padronizado e rígido, impede que muitos estudantes alcancem o sucesso acadêmico. A falta de flexibilidade e inovação pedagógica, aliada à reprodução de práticas tradicionais que não consideram as múltiplas inteligências e estilos de aprendizagem, leva ao fracasso de mim

Perrenoud (2002) também discute a prática reflexiva no ofício do professor, indicando que a capacidade de reflexão sobre suas próprias ações e sobre os processos de ensino-aprendizagem é fundamental para combater o fracasso escolar. Os professores devem estar constantemente revisando suas práticas pedagógicas, considerando que estão realmente promovendo a aprendizagem de todos os alunos ou se estão contribuindo, ainda que involuntariamente, para o fracasso de alguns. O fracasso escolar, nesse contexto, não é apenas o fracasso do aluno, mas também o fracasso do sistema educacional, que não foi capaz de criar

O psicólogo Lev Vygotsky (1991) também contribui significativamente para a compreensão da relação entre fracasso escolar e aprendizagem ao destacar a importância da mediação social e cultural no desenvolvimento cognitivo. Segundo sua teoria, a aprendizagem ocorre de maneira mais eficaz quando os alunos interagem com seus pares e com adultos mais experientes, que atuam como mediadores entre o aluno e o conhecimento. No entanto, num ambiente escolar onde essa mediação não ocorre de forma eficaz – seja por falta de interação, falta de estímulo adequado ou pela ausência de um contexto cultural relevante – o fracasso escolar tende a ser mais prevalente. Assim, o fracasso escolar pode ser visto como o resultado de um desequilíbrio na mediação educacional, onde as necessidades cognitivas e sociais do

Além das questões pedagógicas e psicológicas, o fracasso escolar também está intimamente ligado a fatores socioeconômicos. Estudos indicam que alunos de contextos econômicos desfavorecidos enfrentam maiores desafios para ter sucesso na escola. A pobreza e a desigualdade social impactam diretamente as condições de aprendizagem, desde a falta de recursos até o acesso limitado aos ambientes propícios ao estudo. A obra de António Marchesi (1996) sobre psicologia da educação ressalta que o desenvolvimento psicológico das crianças é fortemente influenciado pelo contexto em que estão inseridas, e a educação deve levar isso em consideração ao desenvolver estratégias pedagógicas. Alunos de classes sociais mais baixas muitas vezes encontram maiores dificuldades de se adaptar à cultura escolar, o que pode resultar em fracasso escolar.

Outro aspecto a ser considerado é a forma como a avaliação educacional é realizada. Santos e cols. (2002) sugerem que a avaliação deve ser um processo reflexivo e contínuo, que leve em conta o desenvolvimento integral do aluno. No entanto, em muitos sistemas educacionais, a avaliação é predominantemente baseada em provas padronizadas, que medem apenas uma parte das habilidades cognitivas dos estudantes. Esse tipo de avaliação pode marginalizar alunos com diferentes formas de aprendizagem, levando-os ao fracasso escolar. Uma abordagem mais holística e individualizada da avaliação poderia ajudar a combater o fracasso escolar, ao valorizar não apenas o resultado final, mas também o processo de aprendizagem

Pierre Meirieu (1998), em sua obra "Aprender... Sim, mas como?", questiona os métodos de ensino tradicionais que não favorecem o desenvolvimento da autonomia do aluno. A autonomia é um fator chave no processo de aprendizagem e, quando não estimulada, pode levar ao fracasso escolar. Meirieu (1998) argumenta que os alunos precisam ser incentivados a serem protagonistas de sua própria aprendizagem, desenvolvendo uma capacidade de autoavaliação e reflexão sobre seu progresso. No entanto, muitos sistemas escolares falham na promoção dessa autonomia, criando dependência em relação à figura do professor e ao currículo rígido. Isso pode resultar em desmotivação e, eventualmente, em fracasso escolar, especialmente quando os alunos não veem relevância no que estão aprendendo

É importante considerar o impacto do fracasso escolar na vida dos alunos. A repetência, a evasão escolar e a marginalização dentro do ambiente escolar são consequências diretas do fracasso. Essas experiências negativas podem ter um efeito duradouro na autoestima e nas expectativas futuras dos estudantes. Muitos alunos que experimentam o fracasso escolar acabam abandonando a escola, o que limita suas oportunidades de sucesso na vida adulta. O fracasso escolar, portanto, não afetou apenas o desempenho acadêmico imediato, mas tem repercussões significativas no desenvolvimento pessoal e

Por fim, a relação entre fracasso escolar e aprendizagem é complexa e multifatorial. Ela envolve desde questões pedagógicas, como abordagens de ensino e avaliação, até fatores emocionais, sociais e econômicos. O fracasso escolar não deve ser visto apenas como uma falha individual do aluno, mas como um reflexo de um sistema educacional que muitas vezes não é capaz de atender às diversas necessidades de seus alunos. Para combater o fracasso escolar, é necessário compensar as práticas educativas, promovendo uma educação inclusiva, afetiva e dialógica, que valorize a diversidade e estimule o protagonismo dos alunos em seu processo de aprendizagem.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa adota o método de revisão bibliográfica como abordagem principal para alcançar o objetivo proposto, que é investigar a relação entre o fracasso escolar e a aprendizagem, com base em referências teóricas consagradas no campo da educação. A revisão bibliográfica é uma metodologia amplamente utilizada nas ciências humanas e sociais, especialmente quando se busca compreender um conhecimento a partir de diferentes perspectivas teóricas e estabelecer um diálogo entre autores e correntes de pensamento.

A pesquisa é de caráter qualitativo, pois busca explorar e interpretar o tema de forma abrangente e aprofundada, sem se limitar a quantificar os dados. Uma revisão bibliográfica é adequada a esse objetivo, uma vez que permite reunir, analisar e discutir as contribuições teóricas de autores renomados que estudaram o fracasso escolar e a aprendizagem sob diferentes abordagens. A metodologia qualitativa visa captar a complexidade das questões educacionais, proporcionando uma análise crítica e reflexiva das diversas interpretações do tema.

A revisão bibliográfica foi conduzida com base em uma seleção de obras de autores que desenvolveram significativamente para o campo da educação, como Paulo Freire, Gabriel Chalita, Philippe Perrenoud, Lev Vygotsky, Pierre Meirieu e outros. Essas fontes foram escolhidas devido à sua relevância acadêmica e à profundidade com que tratam do tema da aprendizagem, do fracasso escolar e das práticas pedagógicas.

Os dados da pesquisa foram encontrados exclusivamente por meio de fontes bibliográficas. As obras selecionadas foram comprovadas criticamente, buscando-se identificar os conceitos, teorias e argumentos relacionados ao fracasso escolar e à aprendizagem. A escolha das obras foi orientada pela relevância teórica e pelo impacto que esses autores tiveram nas discussões sobre o tema da educação.

Portanto, a metodologia de revisão bibliográfica, aliada a uma análise qualitativa e reflexiva dos textos, constitui-se como o caminho escolhido para alcançar o objetivo da pesquisa, fornecendo uma visão ampla e crítica sobre o tema em questão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Nesta etapa, apresentamos e discutimos os resultados obtidos por meio da revisão bibliográfica sobre a relação entre o fracasso escolar e a aprendizagem. A organização dos dados segue uma estrutura que facilita a análise e a compreensão dos principais conceitos estratégicos pelos autores selecionados. O objetivo é expor de forma clara e sistemática como diferentes abordagens teóricas explicam o fracasso escolar, suas causas e consequências, e, a partir disso, oferecer uma análise crítica sobre possíveis caminhos para lidar com essa problemática na educação.

A análise dos textos consultados revela que o fracasso escolar não pode ser atribuído exclusivamente à incapacidade individual dos estudantes, mas está relacionado a uma série de fatores estruturais, pedagógicos, emocionais e sociais. O primeiro fator a ser considerado é a natureza das práticas pedagógicas adotadas nas escolas. De acordo com Paulo Freire (2008), o fracasso escolar é, em parte, um reflexo de uma educação autoritária e bancária, em que os estudantes são vistos como receptores passivos de conhecimento. Essa abordagem pedagógica desconsidera a experiência dos alunos e seu papel ativo no processo de aprendizagem, o que gera alienação e desmotivação, especialmente entre aqueles que não se identificam com o modelo de ensino tradicional.

Além disso, Freire (2000) destaca a importância do diálogo entre educadores e educandos para a construção do conhecimento. A ausência de uma prática pedagógica dialógica, que valoriza as vivências e o contexto cultural dos alunos, resulta em um ensino que muitas vezes não faz sentido para os estudantes, levando-os ao fracasso. Essa desconexão entre o currículo escolar e a realidade dos alunos é uma das principais causas do insucesso escolar, especialmente em comunidades mais vulneráveis.

Outro aspecto que emerge da revisão bibliográfica é a importância das relações afetivas no ambiente escolar. Gabriel Chalita (2001) aponta que o afeto é um elemento central na aprendizagem. Quando há uma relação de confiança e respeito entre professor e aluno, o ambiente se torna mais propício para o desenvolvimento cognitivo. Em contrapartida, a falta de acolhimento e empatia no ambiente escolar pode gerar insegurança, medo e, consequentemente, dificultar a aprendizagem. Isso reforça a ideia de que o fracasso escolar não é apenas resultado de dificuldades cognitivas, mas também de questões emocionais e relacionais que afetam diretamente os educandos.

A forma como a avaliação escolar também desempenha um papel importante no fracasso escolar. Santos e cols. (2002) argumentam que as práticas avaliativas tradicionais, focadas exclusivamente na medição de resultados por meio de provas padronizadas, não conseguem captar a diversidade das capacidades e formas de aprendizagem dos alunos. Esse tipo de avaliação tende a privilegiar estudantes que se adaptam bem ao modelo padronizado de ensino, enquanto marginaliza aqueles que apresentam outras habilidades ou dificuldades específicas. A ênfase em uma avaliação classificatória reforça o fracasso daqueles que não conseguem atingir as expectativas condicionais, sem considerar suas trajetórias de aprendizagem e suas potencialidades.

A partir das reflexões de autores como Perrenoud (2002), que abordam a prática reflexiva dos professores, fica evidente que o fracasso escolar pode ser resultado da incapacidade de adaptar as práticas pedagógicas às necessidades específicas dos alunos. Professores que não se envolvem em uma reflexão crítica sobre suas práticas tendem a perpetuar métodos que reproduzem o fracasso escolar, ao invés de buscar inovações pedagógicas que promovam a inclusão e o sucesso de todos os alunos. Perrenoud (2004) também destaca a importância de desenvolver novas competências docentes, como a habilidade de lidar com a heterogeneidade das turmas, o que é crucial para evitar que os alunos tenham ritmos e formas de aprendizagem diferentes.

Outro ponto crucial discutido na literatura é a influência do contexto socioeconômico sobre o fracasso escolar. Os autores consultados, como Marchesi (1996) e Meirieu (1998), ressaltam que estudantes de classes sociais desfavorecidas enfrentam dificuldades adicionais para ter sucesso na escola. A pobreza, a falta de acesso a recursos educacionais adequados e as condições de vida precárias criam barreiras à aprendizagem. Alunos de famílias de baixa renda muitas vezes carecem de suporte em casa para realizar suas tarefas escolares, enfrentam maiores níveis de estresse e possuem menos oportunidades de se dedicarem aos estudos. Além disso, o sistema educacional muitas vezes falha em levar em conta essas desigualdades, adotando uma abordagem uniforme que não considera as diferentes realidades vividas pelos estudantes.

Vygotsky (1991), com sua teoria sobre a construção social da aprendizagem, ajuda a entender como o meio social e cultural influência o desenvolvimento cognitivo. A aprendizagem, segundo ele, ocorre por meio da interação com outros indivíduos e com o ambiente. Portanto, alunos que vivem em contextos de exclusão social e econômica têm menos oportunidades de interação com estímulos que favorecem o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas. Quando essas diferenças não são compensadas pela escola, o fracasso escolar torna-se uma consequência natural das desigualdades socioeconômicas.

A revisão bibliográfica também sugere algumas estratégias para combater o fracasso escolar, baseadas nas reflexões teóricas dos autores treinados. Chalita (2001) e Freire (2008) apontam para a necessidade de humanizar a educação, promovendo um ambiente escolar que valorize o afeto, o respeito e o diálogo. Isso implica na construção de uma relação pedagógica mais próxima e abrangente, em que o professor se coloque como mediador e facilitador da aprendizagem, ao invés de uma figura autoritária.

Além disso, a adoção de práticas pedagógicas inclusivas e diversificadas, como sugerido por Perrenoud (2004), é fundamental para atender às necessidades dos diferentes perfis de alunos. Isso inclui o uso de metodologias ativas, que incentivam a participação dos estudantes, o trabalho em grupo e a construção colaborativa do conhecimento. Tais abordagens ajudam a reduzir o fracasso escolar, ao tornar a aprendizagem mais significativa e conectada com a realidade dos alunos.

Outro ponto relevante é a reformulação das práticas de avaliação. Ao invés de se concentrar apenas nos resultados finais, as avaliações devem ser mais formativas, contínuas e capazes de identificar o progresso do aluno ao longo do tempo. Santos e cols. (2002) defendem uma avaliação que leve em consideração o processo de aprendizagem, e não apenas o desempenho em provas padronizadas. Uma avaliação mais justa e reflexiva pode reduzir a estigmatização dos alunos que, em muitos casos, são rotulados como "fracassados" a partir de um único sorteio de sucesso acadêmico.

Os resultados da revisão bibliográfica revelaram que o fracasso escolar é um fenômeno complexo, influenciado por uma série de fatores que vão desde as práticas pedagógicas até as condições socioeconômicas. A análise dos dados permite concluir que o fracasso escolar não deve ser tratado como uma falha individual do aluno, mas como um reflexo de um sistema educacional que, em muitos casos, não está preparado para lidar com a diversidade e as desigualdades. Para combater o fracasso escolar, é necessário compensar profundamente as práticas pedagógicas, avaliativas e a relação entre escola e comunidade, de modo a promover uma educação mais inclusiva, dialógica e centrada no estudante.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise bibliográfica realizada, foi possível concluir que a relação entre fracasso escolar e aprendizagem é complexa, envolvendo uma série de fatores que vão além das capacidades individuais dos alunos. O fracasso escolar, conforme abordado pelos teóricos consultados, deve ser entendido como um reflexo de práticas pedagógicas inadequadas, falta de mediação cultural e social no processo de ensino e desigualdades socioeconômicas que afetam diretamente o desempenho acadêmico.

Autores como Paulo Freire, Gabriel Chalita e Philippe Perrenoud destacam que o fracasso escolar pode ser mitigado por uma abordagem educacional mais humanizada, dialógica e afetiva. A construção de um ambiente escolar que valorize a individualidade dos alunos, o afeto na relação educador-educando e o desenvolvimento de práticas pedagógicas que considerem a diversidade de ritmos e estilos de aprendizagem são apontadas como fundamentais para melhorar o desempenho dos estudantes e reduzir o fracasso escolar.

Foi constatado também que o sistema de avaliação tradicional, baseado em provas padronizadas e voltado exclusivamente para resultados quantitativos, contribui para a exclusão e marginalização de alunos com diferentes perfis de aprendizagem. Uma avaliação mais contínua, reflexiva e que valorize o processo de aprendizagem, conforme sugerido por Santos e outros, poderia promover uma educação mais inclusiva e equitativa.

Os objetivos da pesquisa foram alcançados, evidenciando que o fracasso escolar não deve ser visto como uma falha individual, mas como um fenômeno sistêmico que exige mudanças profundas nas práticas pedagógicas e na organização do sistema educacional. As suposições de que fatores emocionais, pedagógicos e socioeconômicos estão interligados ao fracasso escolar foram confirmadas, corroborando com as teorias revisadas.

Entretanto, é importante reconhecer as limitações do estudo, uma vez que a revisão bibliográfica, por si só, não permite uma análise empírica aprofundada dos contextos escolares. Sugere-se, portanto, que pesquisas futuras possam complementar essa abordagem com estudos de campo, envolvendo entrevistas com alunos e professores, bem como observações diretas em diferentes contextos educativos.

Por fim, esta pesquisa contribui teoricamente ao aprofundar o debate sobre o fracasso escolar, oferecendo um panorama das abordagens mais influentes sobre o tema. Na prática, reforça a necessidade de uma reforma educacional que valorize a inclusão, a diversidade e o protagonismo dos alunos, promovendo uma educação mais justa e equitativa para todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001.

FREIRE, P., SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 8. ed. LOPEZ, A. [Trad.]. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

MARCHESI, A (Org.), Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p.294

MEIRIEU, P. Aprender... Sim, mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998.

PERRENOUD, P. Dez novas habilidades para ensinar. Convite para a viagem a Barcelona: Graó, 2004

PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício de professor. Profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SANTOS, C. R. (et. al.) Avaliação Educacional: um olhar reflexivo sobre sua prática., e vários autores, São Paulo: Editora Avercamp.

TORRE, Saturino de La. BARRIOS, Oscar. Curso de formação para educadores. São Paulo. Madras, 2002.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

______.. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


1 Licenciada em Pedagogia, pós graduada em Psicopedagógia Clínica Institucional, Mestre de Ciências da Educação, doutoranda em Ciências da Educação pela UNISAL. email: [email protected].

2 Licenciada em Letras Português - Espanhol, graduanda em Sociologia, pós graduada em Psicopedagogia, mestranda em Ciências da Educação pela UNISAL. email: [email protected].

3 Licenciado em Matemática, Licenciado em Artes Visuais, Bacharel em Engenharia Civil, pós graduado em Gestão Pública, especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Mestrando em Administração de Empresas pela Must University. E-mail: [email protected].