A PSICANÁLISE E SUA IMPORTÂNCIA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17489321


Pedro Francisco Molina1


RESUMO
O trabalho desenvolvido tem como propósito a afirmação da importância da Psicanálise Freudiana em sua evolução como uma base científica, resgatando sua atualidade em relação às novas descobertas científicas que vem reafirmando suas idéias, diante dos estudos recentes do cérebro, a partir da segunda metade do século XX, trazendo luz, o resgate das analogias idealizadas por Freud, dentro de um contexto voltado a sua formação como Neurologista, com o viés focado na mente do ser.
Para tanto, o estudo faz um histórico das formas, construtos, iniciais na sua formação, pontuando a importância de sua ciência, assim como seus discípulos, suas clínicas, ferramentas, ética, valores culturais de seu tempo.
Regatando o grande humanista que foi na criação de sua metodologia, como médico neurologista, o desenvolvimento de ferramentas para ajudar o sujeito no processo de sua reconciliação. Tanto assim, que no breve retorno de sua origem na fase final de seu desligamento, em função da doença, se volta a sua religiosidade do sagrado, entre o judaísmo e o cristianismo do qual tinha como parâmetros sua cultura. Relatos de cartas para a sua filha durante viagem (1895-1923), FREUD (2002), organizado por Tögel e Molnar.
O trabalho de pesquisa tem como objetivo, trazer uma visão do resgate das idéias, conceitos de Sigmund Shilomo Freud (1856-1939), dentro de sua importância como um grande humanista e a desmistificação danosa de interpretes do caos em suas obras. Pelo fato de ter trazido a luz o mundo das sombras da sexualidade humana, até então velada por uma sociedade reprimida, contida em um inconsciente coletivo de proibições impostas por tabus de uma cultura religiosa até então.
Além de suas propostas iniciais, amplia-se com seus discípulos a visão de aliviar tensões psíquicas atenuantes nos tratamentos de debilidades mentais. Criando uma clínica, cujos experimentos baseados em suas analogias, idéias, caso reais na condução metodológica da abordagem, diferenciando-se até então no enfrentamento de tabus, mitos e principalmente culturas da época.
Desbrava-se com coragem seu propósito como pesquisador, apesar de poucos instrumentos, além de uma formação aos moldes de seu tempo, avança em seu imaginário fundou sua cátedra neurologia, além de sua intelectualidade indiscutível.
Palavras-chave: Psicanálise, consciente, inconsciente, Freud

ABSTRACT
The work developed aims to affirm the importance of Freudian Psychoanalysis in its evolution as a scientific foundation, reclaiming its relevance in light of new scientific discoveries that have reaffirmed its ideas, particularly in relation to recent studies of the brain since the second half of the 20th century. This brings to light the recovery of the analogies idealized by Freud, within a context oriented towards his training as a neurologist, with a focus on the human mind.
To this end, the study provides a historical overview of the initial constructs in his formation, highlighting the importance of his science, as well as his disciples, clinics, tools, ethics, and cultural values of his time.
It acknowledges the great humanist he was in creating his methodology as a neurologist, developing tools to assist individuals in their reconciliation processes. Indeed, in the brief return to his origins during the final phase of his departure due to illness, he turned to his sense of the sacred, navigating between Judaism and Christianity, which provided parameters for his culture. Letters to his daughter during travels (1895-1923) have been compiled by Tögel and Molnar.
The research aims to offer a perspective on the recovery of ideas and concepts by Sigmund Shilomo Freud (1856-1939), emphasizing his significance as a great humanist and the harmful demystification by interpreters of chaos in his works. He illuminated the world of human sexuality, previously veiled by a repressive society, constrained by a collective unconscious of prohibitions imposed by the taboos of a religious culture of the time.
In addition to his initial proposals, his vision was expanded by his disciples to alleviate psychic tensions in the treatment of mental weaknesses. He created a clinic based on his analogies and ideas, utilizing real cases to guide methodological approaches, differentiating himself in confronting taboos, myths, and the prevailing cultures of his era.
With courage, he pursued his purpose as a researcher, despite having few instruments and a training aligned with his time; he advanced in his imagination, founding his chair in neurology, along with his indisputable intellect.
Keywords: Psychoanalysis, Conscious, Unconscious, Freud.

INTRODUÇÃO

Sigmund Shilomo Freud o mais velho filho de uma família de comerciantes judeus, composta de três irmãos, o nome significa alegria em alemão (Freude) era derivado de Freide, pré=nome da bisavó, iniciado por sua mãe ainda muito cedo com texto sagrado. O contato com sua cuidadora Tcheca, católico fervoroso o inicia na segunda religião monoteísta, levava-o aos cultos de sua igreja. Sua vida repleta de um tempo de acomodações, perseguições do qual os judeus passavam, deslocando-se de um lugar para o outro, não foi diferente para sua família.

Tendo como marcante em sua vida a figura do pai sendo humilhado nas ruas, quando do relado de seu pai diante de um cristão, dissera-lhe, “um cristão atirou seu boné de pele na lama, gritando”: “Judeu, saia da calçada”. E a pergunta dele para o pai sobre o que fizera? O pai respondeu: “Recolhi o meu boné”. (ROUDINESCO, 2016, p. 24-26).

Foi marcante para sua vida tal história, assim como sua vivência na infância, que o leva em suas escolhas como pesquisador, ser um marco de importância para humanidade, dentre aqueles que revolucionaram culturas em seu tempo.

A imagem construída de Freud (1856-1939) perpassa por uma visão distorcida em função de ter trazido reflexões, com conteúdo a sexualidade no bojo de conflitos de intimidades, até então não compreendida por uma medicina na época revestida de mitos e tabus.

Tradição de uma cultura centrada no imaginário popular de um paraíso perdido tinha como máxima a transgressão de um pecado capital, que deu origem a construção de uma realidade fundada em relação ao original sagrado como referente, norteador no controle de impulsos a desejos inconfessáveis, relegados apenas na exclusividade de um ato confessional, cuja absolvição até então relativizada.

Sendo dentre muitos reconhecidamente um dos marcos daqueles que tiveram sua importância no conjunto dos que revolucionaram o pensamento do século XIX, dentre eles cientistas, pesquisadores iniciadores de conceitos no entendimento do cérebro humano. Freud, com capacidade e gênio questionador tem um olhar mais reflexivo diante de seus pares, com sua sensibilidade prospectiva, resgata a dualidade humana, na visão de uma dimensão metafísica, trazendo de forma subjetiva o resgate da alma humana, perdida em suas sombras das culpas, nas confissões de um divã, cujo significado remete ao retorno do útero materno.

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE AS DOENÇAS MENTAIS E A IMPORTÂNCIA DA PSICANÁLISE COM AS DEMAIS CIÊNCIAS

A doença mental sempre esteve no domínio da Psiquiatria no meio médico, mesmo diante do evento da psicanálise pelos idos de 1900, no Brasil ainda de forma insipiente vigorava a visão de um consciente da subjetividade e metafísico de Bergson (1859-1941), portanto no Brasil prevaleciam os conceitos biológico, fisiológico e psicológico no tratamento de tais comorbidades.

Sempre voltado à premissa de elevação da alma como obsessão, os discípulos de Hipócrates, objetivo de engrandecer a inteligência e sua natureza generosa. Assim como seus herdeiros, os chamados alienistas, como marco Pinel um revolucionário na humanização do tratamento psiquiátrico, logo após a Revolução Francesa, consequentemente temos Esquirol voltado à justiça e da humanidade contra o regime de terror que passavam os chamados alienados de seu tempo. (PACHECO E SILVA, 1940, p. 19).

Citação de FERRUS, apud PACHECO E SILVA (1940, p. 19) “A arte de conduzir os alienados não é diferente da arte de governar os homens equilibrados”. Com o papel da Psicologia Forense, abre-se um diálogo entre o direito e a medicina no campo do criminal, possibilitando o estudo da Psicopatologia no julgamento de casos. Vários institutos desde o século XVIII, dentre eles HERMANN BOERHAAVE, apud PACHECO E SILVA (1940, p. 29), inicia o estudo sobre histeria sob o ponto de vista médico-legal. Teve a contribuição de LOCKE, LE CAMUS E DUFOUR, com seus trabalhos com a Psiquiatria Forense. E tantos outros e diversas escolas em vários países que se dedicavam aos estudos das doenças mentais, até remotos tempos, eram tratados como manifestações do diabo pelas instituições religiosas, conceitos medievais até então.

Tendo a frente no Brasil à criação do Instituto Correcional Prisional, intitulado Franco da Rocha, Juliano Moreira, Henrique Roxo, A, Austregesilo, Afranio Peixoto, Ulysses Pernanbucano, Gustavo Riedel, Ernani Lopes, Pacheco e Silva, formando a fundação das Ligas Brasileira, Paulista e Pernambucana de Higiene Mental. (PACHECO E SILVA, 1940, p. 34).

Vários enfrentamentos na época surgiram com o fanatismo religioso, crenças, superstições, espiritismo sobre os domínios na condução dos tratamentos voltados sobre as idéias do psiquismo humano, esse até então tratados por conceitos religiosos e crendices populares. Além de conceitos voltados a hereditariedade defendida por alguns, como causa das causas, como dizia TRÉLAT, apud PACHECO E SILVA (1940, P. 37),

“A herança decorre apenas de uma das linhas, paterna ou materna chama-se simples. Convergente será quando provenha de ambos os lados. Si se observarem indícios de hereditariedade patológica apenas nos colaterais, e não nos ramos diretos, há denominada colateral [...] Si porventura os distúrbios observados nos pais se transmitirem com os mesmos caracteres aos filhos, tem lugar a herança similar. [...] As modernas noções de hereditariedade obedecem às leis de MENDEL, que excluem a influência infecciosa ou tóxica, para se limitar aos caracteres genotípicos, representados pelos fatores cromossômicos”.

Tendo como consequência a criação dos Institutos de Genealogia e de Antropologia e as medidas de esterilização compulsória, como ocorreu na Alemanha, visando impedir a perpetuação das estirpes taradas. (PACHADO E SILVA, 1940, P. 37).

O percurso foi longo até a aplicação da Psicanálise que oferecia diante de tais conceitos, foi a partir da formulação de BLEULER, quando adota a questão da afetividade, para resumir o conjunto dos afetos, das emoções e dos sentimentos, prazer e dor. Assim como a contribuição de WUNDT na fundamentação da doutrina tridimensional dos afetos, das manifestações clássicas de prazer-dor, estados de excitação-depressão e os de tensão-relaxamento, houve uma atenção voltada a Psicanálise e seu sentido a “psique” até então alijada por preconceitos, diante de sua constituição, segundo pervertida com valores da época. (apud PACHECO E SILVA 1940, p. 46).

Conduzida ao Brasil por várias vertentes, a psicanálise ou psicologia profunda dentro de sua beleza, atraentes concepções do pensamento humano, fruto do cérebro verdadeiramente genial de SIGMUND FREUD (1856-1939) o notável médico de Viena. (apud PACHECO E SILVA 1940, p. 111).

Traz a tona a analogia do consciente e o inconsciente, estabelecendo uma conduta da vida psíquica do homem, suas tendências, condutas, seus impulsos, recalques, etc.

Estabelece outros parâmetros na correlação de forças misteriosas até então consideradas, com o advento dos sonhos, traz a tona o mistério de séculos, correlacionando com camadas profundas no ser, estabelecendo novas concepções da personalidade humana, trazendo a síntese dos três eus que dormitam dentro de cada um de nós, ou seja, um eu inferior (id), forças instintivas, um eu consciente (ego), relação cognitiva com a exterioridade, um eu superior (superego), adequação do ser no ambiente social em que vive. (PACHECO E SILVA 1940, p. 112).

Introduz novos conceitos na medicina legal e criminologia, tema ampliado que ainda requer aprofundamento nos estudos em função da espetacularização midiática na sublimação de eventos e acomodações salvacionistas, ainda muito em voga em nossa temporalidade. Em função dos preconceitos tratados como doutrina, às vezes como enxertos ideológicos, senso comum na banalização de que tudo se explica com as teorias freudianas, até mesmo com o esoterismo nas explicações fenomenológicas.

Com a idéia de uma linguagem até então aventada, porém ainda não desvelada com a apresentação ao mundo do inconsciente, revoluciona o tratamento em todas as esferas, abrangendo desde a Psiquiatria e suas formas de tratamentos, assim como a Psicologia, a Filologia, a Filosofia, História da Civilização, a Ciência Estética, o Sociológico e o Educacional, dentre outros. (FREUD, 1969, p.169-192).

Foi a partir do interesse psicológico dentro de um procedimento médico um pequeno volume Cinco Lições de Psicanálise FREUD (1910), descreve a evolução da psicanálise a partir do procedimento catártico de Josef Breuer e suas teorias de Charcot e Pierre Janet. (FREUD 1969, p. 169).

Tendo como os conceitos das parapraxias e sonhos dentro das doenças mentais como prospecções da linguagem dos gestos, movimentos faciais, falas, até então tratadas como distúrbios orgânicos ou funcionamento do aparelho mental.

As parapraxias como fenômenos psíquicos quando desenvolvidos relaciona-se com o prazer e desprazer, voltados a um significado ou intensão. Trazendo a simplicidade na resolução dos casos, com explicações obvias, em função do deslocamento e a conscientização dos detalhes envolvidos nas manifestações do sujeito, assim como manifestações secundárias como perturbações. (FREUD, 1969, p. 172).

Até então a pesquisa médica explicava os sonhos como sendo fenômenos puramente somáticos (FREUD, 1969, p. 172), “sem sentido ou significação, e considera-os como a reação de um órgão mental, mergulhado em estado de sono, aos estímulos físicos que o mantêm parcialmente desperto”.

Sendo que a psicanálise, “eleva as condições dos sonhos a de atos psíquicos possuidores de sentido e intenção e com um lugar na vida mental do indivíduo apesar de sua estranheza, incoerência e absurdo”. (FREUD, 1969, P. 173).

Quanto ao Filológico, apesar do universo dos símbolos uma área permeada por achismos, as pesquisas avançam dentro do conceito de linguagem, diz: FREUD, (1969, pg. 179), “dos peritos da fala, porque, no que segue a expressão “fala”, deve ser entendida não apenas como significando a expressão do pensamento por palavras, mas incluindo a linguagem dos gestos e todos outros métodos.”

Freud (1969, p. 180), afirma que,

“os sonhos, comparado como um dialeto, assim como exemplifica que um histérico quando se expressa por vômitos, o obsessivo com por medidas de proteção contra infecções, um para frênico com suspeita de envenenamento, assim como o desejo de engravidar que foi reprimido pelo inconsciente, ou suas reações de defesa contra esse desejo”.

E na Filosofia trouxe as figuras do Olimpo Grego para suas analogias do inconsciente arcaico como relação aos sintomas, representações das mais variadas simbologias. Unindo a Filosofia com a Psicologia, aproximação que enriquece a ciência e seu conhecimento. Trazendo a luz dos filósofos que tinha o inconsciente como algo mítico, intangível, não demonstrável, principalmente ao obscuro mundo da mente filosófica. (FREUD, 1969, p. 181).

No Biológico foi o marco dos primeiro ataques à psicanálise por falta de compreender o novo que ela representava. Porém, amplia o conceito de sexualidade e a relação do desejo na fase infantil. Traz a tona os impulsos correlacionados a esta fase da infância, desmitificando conceito da criança e sua assexualidade, que nos remete as questões religiosas. Além de questionar as questões de normalidade neste campo de investigação, fazendo sua etiologia a fase infantil diante das repressões, desinformações, proibições que irão interferir na fase adulta, assim correlacionando uma fase a outra. (FREUD, 1969, p. 183).

Características que de uma forma ou de outra interferia nas questões do biológico, além dos conceitos das fases, anal, oral, fálica, genital, no que consistia nas retenções, excreções, quanto à sensibilização e excitação muscular.

Devemos observar a citação de FREUD (1969, p. 184),

“Na biologia encontramos a mais abrangente concepção de um plasma germinal imoral ao que os diferentes indivíduos transitórios se ligam como órgão que se desenvolvem sucessivamente. É somente essa concepção que nos permite compreender corretamente o papel desempenhado pelas forças instintivas sexuais na filosofia e na psicologia”.

Mais uma vez colabora com a união da filosofia, psicologia, os conceitos da psicanálise em contribuição as ciências e suas interlocuções.

Dentro do contexto da história da civilização a psicanálise foi fundamental para conciliar e trazer a luz da razão certos fenômenos até então inexplicáveis.

Citação, FREUD (1996, p. 187),

“A psicanálise estabeleceu uma estreita conexão entre essas realizações psíquicas de indivíduos, por um lado, e de sociedades, por outro, postulando uma mesma e única fonte dinâmica para ambas. Ela parte da idéia básica de que a principal função do mecanismo mental é aliviar o indivíduo das tensões nele criadas por suas necessidades”.

A necessidade de explicações a certos fenômenos do cotidiano, assim como os sonhos, suas vicissitudes, dúvidas, interpretações, premonições, mitos, a psicanálise trouxe alentos nos seus significados, distencionando o sujeito diante de suas indagações, trouxe para dentro algo voltado ao sujeito como ser pensante, dimensão de linguagem há um novo dialeto, intrínseco a sua interioridade. Não mais sujeito a adivinhações, mas explicável com suas interpretações racionais, em um campo de possibilidades de interações com sua vida diária, seu cotidiano.

A razão de uma explicação razoável traz à luz as instituições culturais, como a religião, a filosofia, a moralidade, a justiça, etc. (FREUD, 1996, p. 187).

Do ponto de vista da arte do estético, situa o artista na expressão de sua linguagem inconsciente, expressão máxima de um sentir a imagem, sedimentada em uma página, tela, escultura, do inconfessável mundo limitador das confissões de desejos e vontades.

Citação, FREUD (1996, p. 189),

“A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e os substitutos são capazes de provocar emoções reais. Assim, a arte constitui um meio-caminho entre a realidade que frustra os desejos e o mundo de desejos realizados da imaginação – uma região em que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo ainda se acham em pleno vigor”.

Na visão sociológica, a mente possibilita a investigação sobre o ser e a sociedade, na sua compreensão da convivência em seu meio ambiente. A repressão, leis, regras, impedimentos de seus instintos, o social passa a ser o construtor das neuroses, fomentador das limitações impostas que o meio exige, como controle do animal humano, no quesito rebeldia, expressões de seus desejos primitivos, impedindo assim seus impulsos e suas realizações.

A sublimação, termo escolhido por FREUD, sobre forma de se adaptar do sujeito para amenizar seus impulsos, sentimento oposto à repressão no aliviar de tensões do corpo e harmonizar o social, em sua composição coletiva desde o início da formação das polis.

Preocupação dos pensadores, filósofos, como referencia a civilização Greco-Romana, com a formação dos primeiros redutos, principalmente na sua composição entre os nativos e os estrangeiros migrantes.

A psicanálise trouxe real situação do sujeito sonhador, imaginativamente lúdico em suas fantasias, aproximações com realidades vivenciadas entre o mundo dos sonhos e sua vigília diária, cuja sublimação o distensiona para algo de utilidade coletiva no meio social.

O bom combate da ciência possibilita o avanço na praga emocional, amenizando a peste negra da ignorância, assim como na derrubada de mitos, tabus de outrora, resistências às mudanças, conceitos atrelados as doxas, nada como o tempo, a educação, as mudanças e o reconhecimento das psicopatologias que somatiza coletivamente uma civilização decadente.

DESENVOLVIMENTO

Não diria que sua escolha pela medicina foi casual, pois sabemos que mecanismos internos nos sujeitam as escolhas de nossas profissões de forma a resoluções, harmonizar conflitos inconscientes, assim como na construção de sonhos dos quais não temos comando, pois é uma função que independem de nossas vontades do ponto de vista do nosso sistema parassimpático, regulador de nossa vida anímica, reconhecidamente pela medicina funcionalista.

Também são reconhecidos pela história, aqueles que buscaram a transgressão como ferramenta de contestação, BONDER (1998, p. 64), formam um grupo seletivo na visão das revelações, pesquisas, experimentos que transformaram suas épocas com as derrubadas de mitos, tabus do chamado sagrado.

Reconhecidamente um desespero da devassa do sagrado constituído é o medo da realidade humana, o horror do despertar, medo em nossas vidas no particular, social e cultural (BONDER, 1998, p, 64). Não reconhecer o sentimento interiorizado pelo julgamento do outro, portanto o agradar a nós para que nos situemos sempre no mundo das aparências e da idealização de nossas fantasias utópicas.

Assim sendo, toda teorização de Freud foi despertada ao longo de suas observações e seu interesse cultural construído em seu curso de Neurologia sobre psicopatia até então permeadas por conceitos fundados nos preconceitos dos tratamentos de neuroses (doenças dos nervos), ainda dentro de explicações míticas do imaginário, construto religioso de difícil contestação.

Porém, inicia sua pesquisa com o propósito do estudo sobre as enguias e seu sistema nervoso central, após sua conclusão do curso, segundo sua escolha, foi alterado em função das responsabilidades de seu casamento e como pesquisador não seria possível financeiramente.

Mas deixou contribuições relevantes em seus estudos sobre afasias e fármacos, o uso da Cocaína como anestésico.

Sua preocupação sempre voltada ao ser humano o leva a busca de um aprendizado nas inovações como em sua viagem a França, conhecer a Hipnose de Charcot em 1893, complemento de seus propósitos voltados à neurologia, no construto de sua psicanálise.

A partir daí, aprofunda-se em um mundo até então proibido da alma humana, no sentido da reafirmação dessa dualidade, propriedade da subjetividade humana.

Temos que nos situar, os eventos do século anterior XVIII, tivemos um ambiente de sucessões de perseguições na manutenção do geocentrismo secular absolutista, mantinham seus propósitos como indevassáveis, punindo caso fosse contrariado seus conceitos. Não devemos nos esquecer, remanescentes de uma era Vitoriana conservadora ainda vigorava.

Daí, o marco histórico que representa o início do século XIX, na revolução das idéias possíveis, guindados por pensadores, cientistas que mudaram a história da humanidade, reconhecidamente pelos fatos e descobertas de um paraíso a partir da terra, não mais do céu para terra. (Marx e Engels, 2004).

Tal comoção foi permeada por idéias, utopias, de uma farta literatura voltada aos estudos de uma sociedade, se descortinava na introdução de mudanças profundas, com ideologias, mudanças politicas, guerras, resultaram em mudanças geopolíticas, uma nova geografia continental.

Muitas mudanças houve principalmente no estudo da mente humana dentro de uma discussão a partir de Descartes (1596-1650), segundo os dualistas substanciais a mente é uma substância em si mesma. Acreditava-se que ela é uma substância “pensante”, capaz de existir independente de qualquer corpo físico. Enquanto os materialistas em contraposição acreditavam que há apenas um tipo de substância – a substância material. (LAW, 2008, p. 125).

Dentro da premissa que a mente é um componente estrutural, responsável por trazer histórico de registros de vida que Freud adentra nas formulações de sistemas, trazendo a tona uma topologia, assim como topográfica, nas ideações, suas correlações com o cérebro armazenador, processador no comando da consciência, idealizando assim, sua antítese chamada inconsciente.

Tudo por uma provocação no resgate mitológico dos sonhos, em que sua pesquisa se funda, diante dos relatos primeiros no uso da hipnose, depois na metodologia das associações das idéias, inicialmente na criação de seu amigo Breuer (1969, p. 57) no processo catártico com seus pacientes. Cuja ruptura final se estabelece quando a tese de Freud voltada à sexualidade durante a fase clinica da paciente denominada Ana O. Citação VALENTE (2002, p. 54), “Em cada paciente, em cada sintoma de cada paciente, chega-se inevitavelmente ao terreno das experiências sexuais”. Daí, o afastamento do mestre para um campo vasto de pesquisas.

Reconhecidamente Freud armazenava uma cultura Judaica, por tradição de família, de uma intelectualidade voltada ao conhecimento humano, na Antropologia, Arqueologia, nas Artes, no Estético, História da Religião, Museus, fascinação por Roma com seus símbolos, imagens, estruturas arquitetônicas, etc...

Tratá-lo apenas pelo viés de sua ciência, sem considerar o ser humano que foi é simplesmente omitir, e seguir a regra do pré-conceito estabelecido de uma época de perseguições com o intuito, reduzi-lo ao mundo das perversões que tanto lutava para situar no seu tempo, com o surgimento de movimentos, centrava no histórico da eugenia, forma de expurgo nas perseguições ideológica com a alienação da história por psicóticos, esquizoides guindados ao poder.

Processos que se repetem na civilização de forma cíclicas, diante daqueles que com coragem enfrentam o passivo da ignorância instalados em governos, com o único intuito de estabelecer seus egos, como premissa de mando, determinação centradas nas ansiedades destrutivas do poder.

Diante de tais resistências, assim como ocorreu dentro dos movimentos de seus discípulos, repetindo os arquétipos da morte do pai, na busca da superação do real em detrimento da não superação do pai idealizado. Concomitante discurso de superação da Psicanálise moderna, por reformadores na busca da boa nova, distanciando-se da ciência criada e desenvolvida por uma mente brilhante.

Permanecendo seu escopo, assim como princípios fundamentais, ainda permanece como pilares, hoje reconhecidamente por estudos modernos da Neurociência, com seus instrumentos de prospecção avançam no conhecimento do cérebro humano, reafirmando parte das idéias e concepções de Freud em seus escritos.

Alguns detratores não entenderam suas analogias na construção das idéias do seu sistema, baseado em uma medicina da época, cujos conceitos embasados nos limites impostos de seu tempo, proibiam tais avanços. Daí, a importância dos movimentos provocados de seus estudos, mesmos combatidos por materialistas na desclassificação preconceituosa, colocando de forma singular, como uma ciência judaica, retrado de uma situação que permanece nos porões do inconsciente das memórias, ainda como registros de miasmas recentes de perseguições.

Portanto, registros de opositores se fundamentam em registros anteriores de épocas passadas, por outro lado, outros tipos de resistência à psicanálise atuam em discursos na superação das inovações, utilizando-se de seus fundamentos propondo alterações teóricas de plantão. Mesmo tendo ele deixado aberta suas pesquisas, pois acreditava na sua evolução com o advento de tecnologias futuras que descortinavam nos estudos das mentes.

Seus detratores se escondem disfarçados na psicanálise, por parte de autoridades em psiquiatria, psicologia e ciências das relações humanas de forma exagerada como sempre se repetiu na própria história recorrente até os tempos atuais. (WEISSANN, 1967, p. 11).

Por outro lado a Psicologia amplia em seus estudos, assim como os demais campos de estudos dentre eles, a Pedagogia, a Antropologia, a Arte e as relações Humanas, enriquecendo com suas clinicas, na educação, aplicações dos conceitos revolucionários da Psicanálise. A Psicologia mantendo-se isenta com independência de sua tradição, ampliam-se suas clinicas na resolução de sujeições comportamentais, cognitivas com o intuito de situar o sujeito no seu meio social.

Cabe lembrar, sua importância da grandeza dos estudos freudianos diante das atividades médicas, pedagógicas, mitológicas, sociológicas, legais, literárias e artísticas em que tiveram ressonâncias ou como diria citação do livro A Psicanalise de Hoje, tradução de Jayme Salomão, (1970), em sua introdução na homenagem dos 50 anos da psicanálise, “... em que penetraram a enzima ou o hormônio das centelhas originais do gênio provindas do germe freudiano”. (KLEIN E OUTROS, 1970, p. 2).

Diante do contexto atual, em que movimentos fundamentados no pragmatismo existencialista com o advento do positivismo, na derrocada missão da morte de Deus, em que o materialismo dialético surge como reformador das estruturas sociais, sugerindo reforma baseadas na desconstrução dos estamentos erguidos há séculos, sem considerar as estruturas que sustentaram os pilares da sobrevivência humana no planeta, ainda carente de conhecimentos no equilíbrio entre o orgânico, mineral e vegetal. A utopia centrada na fantasia esquece que, um comparativo requer uma citação para reflexão sobre a importância da psicanálise de KLEIN E OUTROS (1970, p. 4), na introdução, diz:

“Pouco importa que, do ponto de vista cósmico mais amplo do universo, o homem seja apenas uma pequena estação à margem da estrada, na trilha infinita da vida. Para êle próprio – como um organismo vivo que sente um animal vinculado ao tempo, êle encerra todo o passado e a esperança de igual surto de futuro. Essa esperança dever ir ao encontro do uso sábio de seu peregrinar passado, senão será fútil, e nessa luta entre a realidade e os princípios do prazer residem à glória e a tragédia de seu êxito ou fracasso em utilizar da melhor forma a sua herança”.

A Psicanálise traz em se bojo um conteúdo concreto na sua fala dos instintos, impulsos primitivos, replicam em nosso inconsciente de forma atuante, relacionados à sobrevivência, abafados pela socialização, interferem nos impulsos dos desejos e vontades.

O que demonstra que tal conhecimento consciente foi possível chegarmos às condições atuais, porém o desprazer, a negação, tem demonstrado nas reações como formação, cujos limites são amparados na radicalização com o antidoto das sublimações.

REGISTROS DE SEUS DISCÍPULOS QUANTO AS FUNÇÕES E EXTENSÕES DA PSICANÁLISE.

Iniciaremos as exposições sem uma ordem, apenas para ampliar as primeiras observações advindas de seus pares, na composição maior dos propósitos iniciais de Freud diante das formulações, variações em função de mentes pensantes de sua época que tantas controvérsias foram criadas, a partir de supostos desentendimentos com objetivo único destratar algo iniciado com inteligência, capacidade de observação, clínica e de forma aberta as reflexões.

Melanie Klein, um marco como foco a criança, seus estudos centraram no desenvolvimento infantil, dentro das fases iniciais de Freud, quanto à fase oral e anal. Responsável pelas contribuições nas investigações psicanalíticas dentro dos processos mentais nas fases iniciais dos lactantes e suas relações com as mães.

Observação feita por KLEIN e Outros (1970, p. 13), diz:

“A experiência demonstrou, há bastante tempo, que a psicanálise, embora originariamente projetada por Freud como um método para curar doenças mentais, atende também a um segundo propósito. Corrige distúrbios da formação do caráter, mormente nas crianças e adolescentes, nos quais consegue efetuar consideráveis alterações. A rigor, podemos dizer que, depois de terem sido analisadas, todas as crianças mostram radicais mudanças de caráter; tampouco podemos fugir à convicção, baseada na observação de fatos, de que a análise do caráter não é menos importante como medida terapêutica do que a analise das neuroses”.

Suas observações foram além de suas expectativas, ou seja, demonstrou que tal ferramenta poderia ser usada além de seu campo inicial de ação. Estruturação como correção do caráter, assim como metodologia na fase educacional no equilíbrio de uma sociedade mais harmônica, quando reparadas em uma fase de desenvolvimento na primeira infância.

Observa-se, a correção da fase impulsiva centrado no Ego, Id e formação do Superego na fase oral, consequentemente na fase anal, que denotavam aspectos destrutivos, distencionando assim a agressividade observada no processo de sobrevivência do ser. Transformando os primeiros sintomas, em algo de preparar o ser em seu comportamento social mais equilibrado no coletivo.

Portando, Klein centrava-se nas fantasias das crianças, distancia-se de Freud, porém as bases são mantidas, amplia o lúdico com a criação de bibliotecas voltadas aos brinquedos, daí observar os movimentos advindos das expressões voltadas as ludicidades manifestas.

Na mesma linha de procedimento Anna Freud e Outros (1970, p. 17), centram suas observações nos significados das representações da fase do ID, sua relação na formação de seu Ego, quanto ao comportamento, formação de sua personalidade.

Sua discordância com Klein estava na forma de condução da análise, achava que a presença dos pais, seria de fundamental importância nos tratamentos, pois a criança é o reflexo do ambiente familiar constituído.

Partia das premissas de seu pai (Freud), colocando o adulto como as fases secundárias das percepções advindas das crianças, processo coletivo nas reparações na fase infantil do tratamento. Principalmente da fase impulsiva dos instintos, concomitantes com os instintos dos adultos e seus reflexos.

Vindo colaborar, com a ampliação do conceito de mecanismo de defesa do ego, influenciando muito na validação da teoria, sobre o desenvolvimento da psicanálise.

Sua contribuição, assim como de sua oponente Klein, embates que beneficiaram o amadurecimento da primeira infância para educação escolar no divisor da idade mais propícia para adentrar ao mundo dos fonemas e grafemas.

A psicanálise representa um marco no ajustamento conflitivos da época, como o relacionamento dos filhos e pais, a solidificação cultural da família e a importância do relacionamento matrimonial dentro da base nuclear biológica constituída. Assim como na prevenção de doenças mentais na infância, em função da aceitação pela família, no tratamento racional em uma condição, então adversa de muitas teorias segregacionista e experimental nos tratamentos.

As dimensões das representações causam reações adversas na criança, citação provocante e atual de AMES e OUTROS (1970, p. 64), diz:

“As crianças reagem aos estados emocionais dos pais na medida em que estes as estimulam. O semelhante gera o semelhante – as crianças amam quando são amadas e se afastam quando são afastadas [...] a presença do amor e da estima contínuos atenua a dor”.

O ambiente familiar dentro da composição nuclear biológica é o principal elemento de forjar toda manifestação inicial de uma fase primária para minimizar consequências na fase secundária, impedindo assim as neuroses, psicopatias, efeitos conflitante causada pelos adultos. Minimizando conflitos marginais dos adolescentes, quanto à delinquência juvenil.

Portanto, a psicanálise estende as questões sociológicas, atendendo assim, conflitos sociais, na composição coletiva de uma sociedade saudável.

Dentre outros tantos que se detiveram nas questões sociológicas na formação do caráter quanto efeitos colaterais nas formações das famílias, temos REICH (1807-1957) com seu viés contestador, primeiramente não conformado com a amplitude da subjetividade freudiana, seus estudos foram à utilização da biologia, funcionalidade quanto à motilidade corporal, suas couraças musculares, classificações divergentes voltadas ao sexual.

Diferentemente de Freud, quando a sexualidade, ou seja, no relacionamento como um todo entre os sexos, na representação do masculino e feminino, além de ter pesquisado outras áreas, consequências de suas investigações, como alguém na solução das adversidades que se apresentavam na época.

Entusiasta de uma melhor vida para o ser humano, Reich participou de vários movimentos sociais, políticos, pensador destemido, arrojado, porém foi vitima de sua atuação. Critico da educação, moral sexual, escritos voltados a movimentos que provocaram na época de 60 a chamada revolução Hippies, contestação de cunho da liberdade sexual livre, apoiados por socialistas em uma visão de transformações sociais ideológicas de fundo.

Mas, suas contribuições foram baseadas nas formulações de bases na psicanálise freudiana, atuando na pedagogia e outras áreas do conhecimento. Citação de MATTHIESEN (2003, p. 98), diz:

“Herdado de certas idéias de Freud, o tema da educação de educadores perpassa a obra de Reich [...] Apesar das possibilidades para o desdobramento dessa idéia, é o fato que Reich se assenta no pressuposto freudiano de que o educador deveria iniciar-se na psicanálise não apenas teoricamente, mas experimentando-a em si próprio, já que os resultados das intervenções educativas dependeriam também do estado emocional do educador”.

Suas observações dentro do contexto educacional estão fundamentadas no inconsciente freudiano em função de acreditar que parte das desordens, consequentes do ambiente escolar, seria originada das atitudes inconscientes dos educadores, ou seja, MATTHIESEN (2003, p. 99),

“diante de manifestações pulsionais das crianças, o educador recorda os seus próprios desejos reprimidos e proibições educativas de que foi alvo, devendo primeiramente libertar-se, através de um trabalho de analise de si mesmo, dos preconceitos que a sua própria educação lhe legou”.

As dimensões da psicanálise ainda é um livro aberto dentro do conceito do consciente e inconsciente da teoria freudiana, o que foi para Jung (1875-1961), um campo de exploração nas mais diversas pesquisas do conhecimento humano. Seu livro “O Homem e seus Símbolos” foi marcante em seu inicio, cuja abertura é a chegada ao inconsciente adentrando na importância dos sonhos, fundamentações de sua Psicologia Analítica, distanciando-se, porém com a base freudiana como referencias de sua construção analítica. Ampliando assim, a linguagem dos símbolos, remetendo ao conceito de inconsciente coletivo, arquétipos, migrando para Antropologia, explorando a Mitologia, Alquimia, dentre outros parâmetros, assessorado por eminentes estudiosos de sua época.

De forma propositiva, avança na construção de uma linguagem voltada a espiritualidade, contrapondo a rejeição sofrida por Freud em relação à religião e seus desafetos, preenchendo um vazio de forma inteligente a sua notoriedade.

Sua contribuição para divulgação da psicanálise foi de valorização plena, sua citação JUNG (1964, p.23), diz:

“O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado. [...] E esta evolução está longe da conclusão, pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo. Quem quer que negue a existência do inconsciente está, de fato, admitindo que hoje em dia temos um conhecimento total da psique. É uma suposição evidentemente tão falsa quanto à pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico”.

Sua fidelidade foi sempre muito notória, assim como sua relação afetiva com o mestre, porém foi construída uma relação de intrigas por alguns autores, como retrato de seus próprios egos. Tanto que as cartas provam nos seus escritos uma relação de respeito e cordialidade entre ambos.

Dentre os mais próximos, assim como os mais distantes, diante da peste negra, assim denominada por Freud, seus escritos foram importantes para avançar nas mais tradicionais culturas, assim como no pensamento das ciências vindouras.

Ele nunca esteve sozinho, suas companhias no início de forma seletiva confidenciavam suas descobertas, porém sempre com o diálogo permeados de possibilidades a escuta do outro.

No caso, seu amigo Fliess na figura de seu superego, auxiliava na escuta através de missivas trocadas, mas foi a partir de 1897 que desperta para suas pesquisas de forma sincera, honesta, somada a sua coragem, traz a sua vida como referencia de traumas, sua clinica com pacientes, observa aquilo que chamou de neurose, em função do relacionamento com seus pais.

Daí, os sonhos, seu ponto de partida de suas obras, publicação em 1899 o livro Interpretação dos Sonhos, seguido por outras três obras Psicologia da Vida Cotidiana, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade e Fragmentos de uma Análise de Histeria (o caso de Dora). VALENTE (2002, p. 56).

Foi o suficiente para causar indignações de uma época, fundamentadas ainda nos valores conservadores sob a condução de valores sociais absolutistas, herdeiro de uma época passada.

SONHOS UM INTERDITO CULTURAL ATÉ ENTÃO, SISTEMATIZADO POR FREUD.

A origem de todo processo inicial da psicanálise culmina na descoberta da linguagem do inconsciente, ampliando assim a escuta e uma cisão histórica culminando na interpretação dos sonhos. Até então, algo que os antigos relacionavam os tais sonhos, desde os primitivos homens das cavernas, até o desvelamento dos sistemas idealizados por Freud, com o advento da sua ciência.

Os sonhos, cujo processo de significação abre possibilidades interpretativas, causando uma ruptura nas formas binárias até então prevalecentes. Adentra-se a um mundo de subjetividades até então não compreendidas. Observa-se que as mentes giravam em valores fundamentados na religião, dentro dos limites das culpas e dos pecados, cujo responsável, baseado no mito do criacionismo, o homem, o sujeito provocador da expulsão do paraíso.

Abre-se com os sonhos o sentido de sintomas mentais para Freud, citação de GAY & RIEFF (1976, p. 100-101),

“O sonho seria, assim, apenas um molde onde foram despejados os pensamentos oníricos. É esse descaso pela forma do sonho como um mero aspecto acessório que impede Freud de perceber o aspecto lúdico do sonho, pois a brincadeira é basicamente uma forma, e não um conteúdo; depende do arranjo e da articulação das emoções, empregando imagens e fala – ou seja, depende de certas convenções. A preocupação vital de Freud é elucidar o significado interior dessas convenções; ele não tem interesse pelo fenômeno da convencionalidade do significado. Se tivesse, veria que os sonhos por ser libertador não só porque certos conteúdos suprimidos tem permissão para se expressar, mas pelo próprio fato de que no sonho a emoção do sonhador é dramatizada, atuada”.

Portando, os sonhos devem ser analisados a partir de sua utilidade, assim expressar as ansiedades que no cotidiano não se permite vivenciar.

Desde o mais remotos dos tempos, os sonhos eram vistos como manifestações míticas e religiosas. Os livros sagrados, assim constituídos pelos homens, relatam sonhos dentro de significados sobrenaturais, passíveis de realizações premonitórios e até ligações mentais com seres divinos.

Os mensageiros povoam relatos como se apresentam na necromancia e realismo espiritual. Realismos que vigoravam ainda na época da revolução psicanalista, sendo a alma o duplo espiritual do homem, este por sua vez matéria.

O que vigorava eram as interpretações, histórico que perpassam pelos primeiros habitantes com seus totens e tabus. Muitas vezes com limites impostos, entre o divino e o material, ou seja, passíveis de julgamentos quando expressos, em que feriam conceitos, valores, ética de uma cultura, que colocava regras, leis, determinações quando transgredidas.

Dentre as muitas classificações de tipos de sonhos, qualificações, sentidos, objetivos, nas mais diversas etapas de nossa evolução, Freud enfrenta tais resquícios de resistências, dentro do que se tinha como referências os sonhos, ou seja, definidos como reações somáticas, resultados de anseios, paixões de uma natureza irracional, ou faculdades superiores, mensagens divinas externas ao homem. Já bem distante quanto às interpretações de outrora, porém conservadas de pensamentos, sonhos manifestações supra-humanas, dos deuses, demônios, espíritos, almas errantes, irracionais, até mesmo de ordem somática, etc. VALENTE (2002, p. 117).

Tudo se inicia de observações primeiras de forma curiosa sobre a histeria, relacionada às manifestações de mulheres, portanto fundamentos de que o útero um animal que a mulher trazia em seu corpo, cujas manifestações provocavam desejos aos homens, portanto algo a ser controlado, pois representavam o mal. Para tanto, ervas eram utilizadas para acalmar tal situação que desembocavam em patologias passiveis de internações às vezes psiquiátricas.

A psicanálise vem trazer luz, a partir da curiosidade daquele estudante, nas práticas iniciais de sua residência médica, que o leva as investigações futuras, cujos sonhos desperta a existência de algo latente, além da consciência.

O despertar da linguagem do inconsciente idealizado surge com a idéia de que existe uma vida psíquica, em momentos indutivos surge à consciência relatos da infância, portanto recalcadas, por algum motivo não se manifestam em estado de vigília.

Há principio denomina que havia algo entre o consciente e o inconsciente, talvez na passagem do subconsciente, mais tarde abandonada a idéia, pois em função da plasticidade do cérebro, sua construção fica centrada no sistema binário do contraditório, pois o sistema apresentava algo que se sobrepunham na condução das expressões, profusas entre o consciente e inconsciente. Daí, situado o “eu” em substituição ao subconsciente, na sua topologia, modificando assim seu sistema.

O recalque surge em função da censura, algo escondido que surgia após tensionados, portando, há certa confusão do sentido entre o recalque, repressão de algo censurado do ponto de vista do simbolismo analítico.

Nascimento (2017), apud Molina (2018, p. 19), “a força pulsional é o motor para que o mecanismo de recalque se mantenha, classificando assim em recalque primário e secundário, mantendo-se fixado na pulsão inalterado no inconsciente”.

Força pulsional?

Poderíamos dizer que antes da pulsão o que antecede é o impulso, esse por sua vez um estímulo instintivo, quando não conscientizado, leva a uma condição primitiva com o único objetivo que é a satisfação sujeita a necessidade.

Atuação que pode sofrer com estimulo interno, assim como agentes externos, quando disciplinados pode ser desviados para ações sociais, privilegiando o coletivo no sentido de compartilhar no meio um sentir de forma sublimada.

Se considerarmos que o estimulo é causado pelo meio, porém o ato esta interiorizado no organismo internamente. Portanto, o fato gerador é a pulsão que é uma força constante, quando socializado se torna produtiva a coletividade, em que é direcionada de forma primitiva se torna destrutiva rompendo com regras, leis, ordem, etc.

Citação FREUD, Tradução de Pedro Heliodoro Tavares, Obras Incompletas, (2013, p. 23),

“Poderíamos concluir, pois, que são as pulsões, e não os estímulos externos, os verdadeiros motores dos progressos que conduziram o sistema nervoso, com sua infindável capacidade de realização, ao seu lado elevado patamar atual de desenvolvimento. Certamente, nada nos impede de supor que as pulsões mesmas sejam, ao menos em parte, precipitados dos efeitos de estímulos externos que, no decurso da filogênese, atuaram de forma transformadora sobre a substância viva”.

O primitivo comunga em nosso interno, mecanismos inconscientes replicam em nossos desejos, a educação é o ato transformador em toda sua dimensão de responsabilidades, no ajuste do ser em seu meio social, função essa da família nuclear biológica. Sendo esta força pulsional um movimento interno, reação involuntária no momento da necessidade, cujo deslocamento é inconsciente, enquanto instinto é motivado pela exterioridade, ou seja, provocado por estímulos desejantes.

Carnaúba (2013) apud Molina (2018, p. 18), ao falar sobre Freud diz,

“que o recalque passa a ser de importância vital para o sujeito, motivo que o leva a fundamentar o inconsciente com algo que traz a memória do histórico da filogênese do ser, pois ali esta instalada um passado do qual poderá ser revelado, porém com as limitações de acessos em função das defesas estabelecidas, cujos comandos têm vida própria de um dualismo construído pela evolução".

A classificação de sistemas e instâncias, ainda em um processo de desvelar algo do arcaico ou primitivo, Freud com os devidos cuidados de um Antropólogo e Arqueólogo, que todo analista deve ter para o início de uma análise, fase da recepção do sujeito que chega, em seus primeiros contatos, no trabalho de escuta, não macule de forma precipitada, o sítio estabelecido, preservando-o em uma área restrita das primeiras observações.

Dirimindo o que é repressão, como algo de impedimento, coação, proibição em relação ao ato ou um recalque como algo guindado de um represamento de dor, sofrimento, margeando o significado de estigma em função do seu deslocamento, um quantum de energia de suas memórias catexiadas.

Carnaúba (2013), apud Molina (2018, p. 20), em seu artigo situa a repressão do ponto de vista individual relacionado à ontogênese, enquanto a social do ponto de vista do coletivo a filogênese, cujo marco inicial é atribuído ao mito da horda primitiva, em que o filho mata o Pai e toma posse da mãe, cujo poder transita de forma natural. A partir do remorso pela ação cometida da morte do Pai, esse por sua vez ressuscitado na figura de um Deus é internalizado no superego, como culpa e se transforma em totem.

Assim sendo, do ponto de vista do inconsciente em seus registros históricos o homem esta relacionado à sua atuação, com suas memórias inconscientes, cujo simbolismo é a essência como tal.

Carnaúba (2013, p. 124), apud Molina (2018, p. 21),

“A expressão máxima da repressão na culpa permanece inconsciente, porém se manifesta na civilização como um mal estar ou uma insatisfação, pessoas buscam outras motivações [...] A civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a vida humana se elevou de sua condição animal e difere das dos demais animais – o desprezo ter que distinguir entre a cultura e civilização [...] A definição de civilização ou cultura possui um duplo sentido para Freud, ao passo que a civilização nos fornece riquezas para a satisfação de nossas necessidades, também é o grande responsável pelas severas exigências, o que provoca-nos certa revolta”.

Nascimento (2017), apud Molina (2018, p. 21), diz que Freud elucida o mecanismo de recalque que se distingue da formação substitutiva e da formação do sintoma, sendo que não são equivalentes ao processo de recalque, mas sim indicativos do retorno do que foi recalcado, utilizando-se da exemplificação do caso clínico dos “homens dos Lobos” (FREUD, 1918), para elucidar o mecanismo de recalque presente.

Freud explica que o referido caso se destaca pelo recalque de uma pulsão relativa ao afeto libidinal direcionado ao pai, cujo conflito é direcionado de forma substitutiva do pai para os lobos, ou seja, o recalque é a figura do pai, porém no consciente é traduzido pela figura do lobo, que se apresenta como medo, fobia, etc. O recalque, esse instalado, instintivamente contido, porém com o represamento instituído, motivado pelo medo, sofrimento, nada melhor do que de forma substitutiva seu deslocamento para a sublimação e do imaginário.

Fróes e Vianna (2013), apud Molina (2018, p. 24), a teoria do recalque ou da repressão é por meio dela que noção de inconsciente ganha sua especificidade no âmbito do pensamento freudiano, sendo progressivamente desenvolvida e elaborada até a transformar-se em um conceito metapsicológico fundamental.

Ao contrário do que se apregoam certas narrativas sobre o inconsciente e sua história dentro da psicanálise, não foi Freud o primeiro a falar sobre o mesmo. As primeiras manifestações curiosas sobre os estudos da histeria, somadas aos aprendizados com seus mestres, Freud percebe-se detalhes do qual chamou de repressão, algo guardado, não manifesto, mas que no primeiro momento tratava como consciente, no decorrer de seus experimentos, surge à possibilidade de algo interno, chamado de segundo consciente, daí inconsciente.

Observa-se, que até atualidade a definição de inconsciente, ainda objeto de investigação das mais diversas interpretações do seu sentido original. Veja a definição de DA SILVA (1959, p. 15),

“... Dissemos que inconsciente tem uma significação mais ampla, porque há idéias que se conservam inteiramente inconscientes. De fato. O INC. não é só a cadeia em que se acorrentam as tendências indignas do CONS. Nele existe um punhado de formações psíquicas herdadas. Comparando a uma povoação primitiva, o INC. é também a região agreste onde reside o homem bárbaro, onde adormece a BESTA com todos os instintos selvagens. Aí estão os impulsos e as tendências mais repulsivas, asquerosas e degradantes [...] o que “esquecemos” por ser temível fatal ou vergonhoso à nossa personalidade”.

Fróes e Viana, apud Molina (2018, p. 24), expressa que Freud manteve o modelo de divisão da consciência em sua abordagem, sobre o inconsciente, promovendo, entretanto, significativas alterações e acréscimos, dentre outros modelos que surgiram de acordo com as abordagens em seus desenvolvimentos. Freud compartilha com outros autores a noção de que existe um aquém da consciência, em que percepções e representações encontram guarida quando se fazem presentes na consciência, tendo, no entanto, o poder de influenciar o psiquismo.

Daí a mudança de um inconsciente cerebral, que partir do “Projeto para uma Psicologia Científica”, Freud opta pela concepção puramente psicológica do inconsciente. Tal despertar parte para conceitos, como resolução a idéia de uma topologia do aparelho psíquico inconsciente, pré-consciente e consciente e mais tarde com as divisões, ou seja, suas instâncias ego, superego e id.

Sendo que a elaboração entre o inconsciente e consciente perpassa por etapas de estudos, cujos registros simbólicos detêm em suas instâncias, uma linguagem própria que os constituem como base antropológica.

Temos que nos ater, na mesma época havia um movimento de estudiosos do cérebro, chamados localizionistas, fisicalistas, dentre eles Broca, Wernicke, que Freud refutava apesar da concordância do local afetado, porém não discordava de suas teorias, apenas que deviam ser consideradas suas correlações neurais de comunicações, entre as ligações neurológicas, pois o cérebro tinha uma integralidade em sua totalidade. Portanto, a idéia de um inconsciente tinha abrangência desta concepção, que para muitos tratam como um compartimento localizado. GARCIA-ROZA (1991, p. 39).

Em sua constituição a partir de então, classifica os sonhos como latentes, manifestos, elaborados, com nuances de deslocamentos e condensações.

Visão de suas práticas, fundamentados em sua topologia cerebral para que de forma sistemática entender, baseados na sua formação de Neurologista, para tanto inicia seu Projeto inacabado de uma Psicologia, em que tenta explicar a partir dos neurônios e sua idéia de energia psíquica.

Cabendo salientar que toda obra freudiana é um trabalho de pesquisas sobre o aparelho onírico, baseado no pensamento e linguagem, portanto dentre todos os relatos até então, somados as pesquisas surgidas pela Neurociência, Antropologia Biológica, Linguística, muito se tem acrescentado sobre o assunto, dentro de uma dinâmica própria, porém não invalida teorias anteriores, mas por si só, alimenta com inovações do ponto de vista fisiológico, como trabalhos de terapias do sono, visando o bem estar do sujeito.

Suas abrangências compõem seu livro Interpretação dos Sonhos (2001, p. 22), relata A Literatura Científica tratam dos problemas dos sonhos, em que aborda as técnicas psicológicas para interpretação dos mesmos, sonhos na visão pré-histórica, assim como, sonhos da Antiguidade Clássica do ponto de vista premonitório ou de adivinhação.

No que se refere à Filosofia, cita Aristóteles em sua obra que versa sobre os sonhos, FREUD (2001, p. 23), diz:

“Assim, somos informados que os sonhos não são enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são “demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina. [...] Os sonho, em outras palavras, não decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem leis do espirito humano, embora este, é verdade, tenha afinidades com o divino. [...] os sonhos podem revelar a um médico os primeiros sinais de alguma alteração corporal que não tenha sido observada na vigília”.

Define os sonhos como atividade mental de quem dorme, na medida em que esteja adormecido.

Assim como, cita Artemidoro de Daldis apud FREUD (2001, p. 24), considerado a maior autoridade na antiguidade sobre interpretação de sonhos, cuja obra (Oneirocritica) compensada pelas perdas dos escritos do referido autor. Em que as interpretações pelos povos da antiguidade estavam, por certo, em completa harmonia com a visão do universo em geral da época e até hoje defensores do sobrenatural dos sonhos, não embasados em estudos científicos.

Portando, um assunto que não se fecha passível de estudos e reflexões diante do recente estudo do cérebro no que concerne a mente, pois este era o objeto de pesquisa de Freud, cujo debate ainda esta em aberto, apesar dos equipamentos atuais utilizados nos estudos de anatomia e fisiologia do sistema nervoso central e periférico.

Os sonhos representam para o analista uma estrada para adentrar no inconsciente da pessoa, por eles desvela-se sintomas neuróticos, traumas, conflitos da alma e camadas profundas da qual Freud chamava de inconsciente arcaico. Sonhos é parte da composição do processo analítico, pois sua constituição se faz nos relatos conscientes, linguagem, gestos, atos falhos, chistes, ironias, associação de idéias.

Estudioso em suas pesquisas Freud debruça-se sobre vários autores antigos e contemporâneos para formular seu livro dos sonhos, conforme citação FREUD (2001, p. 115),

“Fui levado a compreender que temos aqui, mais uma vez, um daqueles casos nada incomuns em que uma antiga crença popular, ciosamente guardada, parece estar mais próxima da verdade que o julgamento da ciência vigente em nossos dias. Devo afirmar que os sonhos realmente têm um sentido e que é possível ter um método científico para interpretá-los”.

Com o objetivo terapêutico, assim como entender as estruturas psicopatológicas, como sintomas e assim explorar como apresentações populares, bíblicas, contos, relatos do passado apresentava em suas diversidades propostas desencontradas sobre os enigmas dos sonhos.

Uma janela se abre para Freud, pois além de seus sonhos, muitos outros foram ouvidos, fragmentos, revelações, desejos, vinganças, formulavam seus relatos, adotando assim o método de interpretação, pois os mesmos tem um sentido, não apenas uma atividade cerebral, como assim alegavam algumas autoridades, diz: “Quando o trabalho de interpretação se conclui, percebemos que o sonho é a realização de um desejo”. FREUD (2001, p. 135).

Como desejo, algo que desperta algo psíquico de alguma validade, portanto relacionado com a cadeia dos atos mentais, segundo Freud, inteligíveis do estado de vigília, portanto complexa. FREUD (2001, p. 136).

Adentrando-se no mundo dos sonhos, várias são as indagações, o enigma da interpretação é alimentado para tal entendimento de uma linguagem simbólica, com relatos manifestos, nos porões das latências haviam um sentido profundo permeado por segredos que poderiam ser lidos, baseados nas chaves do inconsciente.

O trabalho de investigação leva Freud aos seguintes questionamentos, principalmente nas relações entre o conteúdo manifesto, pensamentos oníricos latentes e como tal passagem ocorria diante das elaborações. FREUD (2001, p. 276).

As linguagens se diferenciavam, sendo o conteúdo apenas transcrições dos registros dos pensamentos e como se tornam compreensíveis após seus relatos, em função de seus fragmentos atemporais, sendo um quebra cabeça a ser montado.

Daí surge o conceito de condensação, pois a junção de vários eventos de registros nas memórias do sonhador, portanto nunca com pretensão de forma absoluta dar como acabado sua interpretação, seus relatos são como uma síntese de algo muito mais denso e maior. Assim como, a condensação é a compressão de quantidades de representações armazenadas, que se relacionam nos sonhos.

Segundo FREUD (2001, 280),

“poderíamos concluir que a condensação se apresenta por omissão: quer dizer, que o sonho não é uma tradução fiel ou uma projeção ponto por ponto dos pensamentos dos sonhos, mas uma versão altamente incompleta e fragmentária deles. [...]... mas um ponto de partida provisório e passar para outra questão”.

Por consequência percebe dentro do construto dos sonhos, certas resistências, como censuras ou revelações proibitivas, como no deslocamento, como sobreposições de imagens. No deslocamento, assim como na condensação, estruturas de relatos a serem percebidos durante as manifestações, pois a temporalidade não existe no momento, sendo o inconsciente atemporal.

Fatos observados nas distorções, sobreposições de relatos, figuras encaixadas na elaboração como dialética de convencimento do próprio sonhador, segundo Freud (2000, p. 306), “Podemos presumir, portanto, que o deslocamento onírico se dá por influência da mesma censura – ou seja, a censura da defesa endopsíquica”.

A conclusão que a única diferença entre os sonhos, apenas o estado de vigília, pois o mesmo homem que sonha tanto acordado como dormindo é o mesmo homem. FREUD (2001, p. 306).

Para tanto, os sonhos poderia ser situado dentro de pequenos surtos psicóticos, pois ocorrem identificações, projeções, junções de partes de um com a de outros personagens, isenção de gravidade, assim como deslocamento no tempo, portanto um estado sonífero diferente do estado de vigília, porém conteúdos muitas vezes sem lógica, mas relatos que irão compor o período de analise em seu curso.

Outro fator importante nos sonhos são as verbalizações, palavras escolhidos, contradições nos relatos, gestos, movimentos correspondentes, pois as resistências compõem sua elaboração da linguagem, ou seja, traduções de relatos fragmentados como forma de expressão.

Citação de FREUD (2001, p. 337),

“No caso da interpretação simbólica dos sonhos, a chave da simbolização é arbitrariamente escolhido pelo intérprete, ao passo que, em nossos casos de disfarce verbal, as chaves são geralmente conhecidas e estabelecidas pelo uso linguístico firmemente consagrado. Quando se dispõe da idéia certa no momento exato, é possível solucionar no todo ou em parte esse tipo de sonho, até mesmo independentemente das informações do sonhador”.

Os sonhos se apresentam como ferramentas na prospecção no campo da linguagem, em seu desenrolar um construto para conclusões daquele que se apresentavam na busca da consciência e assim se situar diante de suas vidas o equilíbrio necessário.

Sendo os sonhos parte do enigma do pensamento, algo que nos remete no sentido de alma, mesmo diante de todo mapeamento do cérebro a partir da metade do século XIX, não há ainda uma certeza sobre o assunto.

Portanto, FREUD (2001, p. 567), diz:

“O sonho, como descobrimos toma o lugar de diversos pensamentos que derivam de nossa vida cotidiana e formam uma sequência completamente lógica. Não podemos duvidar, portanto, de que esses pensamentos se originem de nossa vida mental normal. Todos os atributos que tanto valorizamos em nossas cadeias de pensamento e que as caracterizam como realizações complexas de ordem superior são reencontradas nos pensamentos oníricos”.

Todo sonho tem sua fase primária, assim como secundária, pois a escuta propicia o refinamento do silenciar, abrir a percepção para algo não dito, porém represado por diversos fatores que compõem o significado de resistência inerente à preservação da vida.

Afirmando assim, FREUD (2001, p. 584),

“O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais intima, ele nos é tão desconhecido quanto à realidade do mundo externo, e é apresentado de forma tão incompleta pelos dados da consciência quanto o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais” [...] “Se o sonho dá prosseguimento às atividades diurnas e as conclui, chegando até a trazer à luz idéias novas e valiosas, tudo o que precisamos fazer é despi-lo do disfarce onírico, que é o produto do trabalho do sonho e a marca do auxilio prestado por obscuras forças procedentes das profundezas da mente, essa realização intelectual se deve às mesmas forças mentais que produzem todos os resultados semelhantes durante o dia”.

Os sonhos dentre seus valores é de fundamental importância seus efeitos psicológicos terapêuticos, assim como suas funções do aparelho mental nas resoluções de harmonizações dos processos e entender conflitos que se desvelam nas manifestações do momento analítico em curso.

SIMBOLOGIAS

Símbolo é um derivado do Grego antigo “symballein”, que significa agregar, usado nas escritas antigas para firmar ou romper como afirmação de algum acordo ou contrato. Diferente de signo, este representa algo, alguma coisa, serve para transmitir informações sobre objetos, portanto significados amplos de uma mesma coisa. Sendo os símbolos, assim como os signos gráficos uma forma de transmitir, interpretar, comunicar, através das histórias, mitologias, artes, escritas e contos. O’CONNELL; AIREY (2010, p. 1).

Um campo vasto de contribuições ocorre desde os primórdios iniciais da psicanálise, assim como fomentadas pela história de outras civilizações permeadas dos simbolismos da linguagem, dentro da filosofia, antropologia, arqueologia e demais ciências humanas.

Segundo CAPALBO (1996, p. 61-62 e70), a psicanálise como a fenomenologia da linguagem,

“... pretende descobrir, além dos fenômenos conscientes e racionais, as formas inconscientes das manifestações humanas [...] seu intuito é também fazer com que essas formas inconscientes sejam reencontradas e sirvam para interpretar manifestações conscientes [...] em outras palavras, ela visa “estabelecer a ligação entre o desejo-camada instintiva que deve ser relacionada e a linguagem sob a forma imaginária e relacionada com um desejo, que, contido e reprimido, agora se revela de conteúdo e significação”, compondo a relação do corpo mediador que é ao mesmo tempo eu-mesmo e o mundo”.

No campo das representações, simbolismos relacionados aos arquétipos, contribuição JUNG (1875-1961), dentro do processo analítico enriqueceu com suas interpretações no sentido ontológico, permeado em seu coletivismo inconsciente, ampliando seus significados linguísticos, permeados de algo voltado à espiritualidade do ser.

Mas, foi com Freud em suas vivências traz o significado da sexualidade como movimento do relacionamento cotidiano a representações do simbólico de forma próxima do real, sendo estes permeados de fantasias, utopias, imaginações, como fuga de expressão de seus desejos e vontades. Citação, DE FARIA (2002, p. 57) “O dilema antigo; hedonistas e estóicos, na esteira de Sócrates e Platão já discutiam o problema: a felicidade estará na liberação do desejo ou na repressão às paixões”.

Exemplificando, a dimensão dita do simbólico, porém as carências das informações, talvez por omissão, da não prática em função de alimentar conceito por teorias, que depois se constituem, porém no final o sentido de falta ou vazio na hora prática do psicanalista ou clinicas terapêuticas.

Apesar das dimensões interpretativas se situam dentro do contexto, sendo esta passível de deslocamentos ou novas interpretações, porém há uma base de referencias dentro das literaturas, que às vezes passa-se despercebidos diante dos casos clínicos.

Dentre as simbologias, como acessórios de relação de uma prática clínica, citaremos algumas para demonstrar sua importância para entender o significado da latência que compõem os sonhos e principalmente o estado de vigília.

Uso exclusivo do analista, porém como ilustração dos significados simbólicos, signos, suas correlações com objetos da exterioridade, assim como fantasias, imaginações lúdicas, com suas representações.

Os parâmetros podem ser ampliados, correlacionados, não é algo fechado de forma absoluta, mas sim ensejar possibilidades de enriquecer a linguagem dentro da dimensão possível de sua universalidade.

Vamos começar pela casa, cujo significado como representação nos remete a socialização familiar formando uma estrutura psíquica fundamental nas relações. Sendo a simbologia do retorno, lugar de conforto, núcleo reparador, construtor, mantenedor, dentro dos preceitos na formação nuclear biológico e suas resultantes de continuidade.

As referências de significados como exemplos do imaginário possíveis, parâmetros, citação de RIBEIRO (1980, p. 8).

  1. MESA – Lugar de reunião em que ocorre o momento de se alimentar, conversar, cuja introspecção nos remete a ceia, simbolismos de comunhão, ou seja, ali a estrutura familiar junto com a convivência social. Desde a escolha do formato da mesa, dando a significação de comportamento da família e sua atuação no cotidiano. Veja, uma mesa retangular como escolha inconsciente do objeto, significa desde o tamanho na composição dos elementos que compõem esta família, mas também das lideranças, representadas pelas pontas ou cabeceiras do pai e da mãe. Demonstrando assim, suas representações dentro do contexto familiar. Uma mesa quadrada significa que todos exercem uma liderança, não há um líder, pois todos agem de forma independente, sem vínculos com os demais do ponto de vista comportamental e emocional. Uma mesa redonda, significa que ninguém manda, todos que chegam, transita, visitam, tem as mesmas influências possíveis dentro da estrutura ali estabelecidas. Concluindo, nas duas mesas, quadrada, redonda, não há lideranças definidas, portanto passíveis de confrontos entre as partes. Assim como os pés das mesas, além das formas, representam suas estruturas, bases de seguranças familiares.

  2. CADEIRAS – Normalmente constituem-se em relação aos membros ou integrantes da família, quando destacadas representa o lugar das figuras paternas ou maternas. Sendo elementos significativos nas representações analíticas, como sentido de perdas de algum parentesco, luto, separação, etc.

  3. PISO – Significado de limites, chão, segurança, inseguranças, carências, inclusive de afetos.

  4. SALA – Significado dos conflitos, uma visão de sociabilidade existente ou não, muitas vezes relacionadas ao mundo das idéias, portanto objeto de fantasias na busca de mudar a realidade doméstica. Principalmente quando se apresenta bem arrumadinha, significam floreios, arrumações que escondem suas realidades.

  5. BAÚ – Significado de segredos escondidos, penalizações, condicionamentos, recalques, culpas, perdas, conflitos primários, regressão, frustrações, causas, heranças, etc.

  6. CAIXAS - PACOTES– Normalmente lugar onde guardamos recortes, notícias, cadernos escolares, lembranças positivas ou negativas, como algo guardado para não se lembrar. Os pacotes quando amarrados, via de regra, empoeirados pode significar material culposo.

  7. POEIRA – Além de representar abandono, algo de uma camada como barreiras de um estado emocional, relacionado às alergias, algo muitas vezes, escondem situações de resistências no processo analítico.

  8. JORNAIS – pode significar recortes, notícias, culpas, delação, acusação, esconder para que não tenham acesso de histórico revelado.

  9. TEIAS DE ARANHA – Repulsa ao sexo, medo, traumas relacionados a abusos, lembranças negativas, vida intrauterina, ameaças, repreensão sexual, perigo e marginalização.

  10. TAPETE – Pode significar bloqueios, de acordo com a cor, vários significados, quando se destaca o vermelho, este relacionado à sexualidade.

  11. COMPARTIMENTO, PENSAMENTO FRAGMENTADO – Pode significar não aceitação da mãe, desejo de volta ao útero materno, personalidade esquizoide.

  12. ÁGUA – Simboliza sexualidade, natureza que compõem a totalidade do corpo humano, nascimento, assim como representação de sexo limpo sem culpa, quando sonha com águas limpas, quando sujas, sexo culposo ou vinculado alguma repressão ou julgamentos pelos pais.

  13. ESTANTES – Pode significar complexos de inferioridade intelectual, ou grande frustrações na área de atuação, falsa intelectualidade ou necessidade de autoafirmação ou dissimulação.

  14. BANHEIRO – Significa quando de forma obsessiva a limpeza, problemas com a sexualidade, além de fixação e caráter anal, desvios sexuais, medo, culpa, quando sujos, pode significar sádico-anal, com possível perfil histérico.

Objetivando ampliar as representações dentro dos conceitos de uma simbologia freudiana, seus significados inconscientes, relações com o latente e manifesto, quando das elaborações da psique, independente de estar em vigília ou adormecido. Portanto, todo movimento tem o seu significado, o corpo nos remete a uma linguagem a ser decodificada, assim ser ampliada dentro do universo da corporeidade.

FASES PÓS NASCIMENTO E SEUS SIGNIFICADOS

Dentro do casulo biológico, depois de uma fase de amadurecimento o portal de passagem de forma natural em seu tempo, surgir após contrações profundas, como uma onda, faz sua passagem, travessia que a própria natureza desenvolveu como um rito o renascimento propicia a continuidade da espécie.

O contado primeiro em sua exterioridade é com o ar, na busca da adaptação, depois de uma estadia de nove meses, sobrevivendo de forma simbiótica com sua matriz. De forma impulsiva busca o ar, inflando seu pulmão acompanhado de um choro instantâneo, sentindo-se como um conteúdo expelido, porém envolto de uma ligação profunda com o continente do qual foi desenvolvendo como parte, agora como todo na busca de sua dependência, mas como um forte, diante de todas as adversidades que a vida lhe proporcionará.

FASE ORAL

Sendo o primeiro contato, seu aleitamento com um corpo que a instante fazia parte, a textura, cheiro, afago, desenvolve o seu sentir, ainda como extensão do todo. Agora saciar, adicionado pelo prazer do enchimento pelo leite materno, vai se recompondo, adaptando-se com a luz, os olhos captam imagens em busca de identificação, que até instantes a sua percepção se ancorava no sentir.

A linguagem psicanalítica refere-se a esta fase como oral, tratando-a como a primeira sexualidade (relacionamento), no sentido de “Eros” (vida), utilizando-se da boca como captadores iniciais de sensações, receptores comunicantes do cérebro em formação.

Citação (FREUD apud TALLAFERRO 1996, p. 55),

“A sexualidade está divorciada de sua conexão demasiado estreita com os genitais e considero-a uma função mais ampla do corpo, que tem como meta final o prazer e só secundariamente serve para fins de reprodução”.

Sendo o conceito inicial de autoconservação como forma de relacionamento da criança com o mundo que se descortina em sua exterioridade, o órgão (boca), é utilizado como ingestão de alimento, que se completa com a dupla função de excretar, além do funcionamento ergonômico da musculatura de forma funcionar, movimentação de expansão da vida, além dos sentidos, olhos e a pele. (TALLAFERRO, 1996, p. 123).

Amplia-se o sugar, além do exposto, no sentido de completude de suas necessidades psicológicas marcantes como registros futuros de seu desenvolvimento como ser no mundo. Portanto, a atividade bucal vai além do alimentar, encher seu estomago, saciar apetite, seu sugar imprime sua importância de forma mecânica sangue à cabeça e rosto, para o pleno desenvolvimento de músculos faciais e cérebro. (MARGARET RIBBLE 1954 apud TALLAFERRO 1996).

Além de a boca ser uma forma de relaxamento, destensionamento da criança com a mãe, primeira formação do Ego, no que tange socialização, funções cognitivas, estimulo primeiros de suas funções executivas, moldando-o para contatos com sua exterioridade.

Tal sensibilidade bucal inicia-se já nos primeiros meses da gestação, o chupar os dedos é uma prática observada, acontece de forma regular como exercício espontâneo, como mecanismos voluntários desde o inicio, prolongando com sugar os dedos, levar a boca objetos, desenvolvimento perceptivos da gustação, papilas sensoriais da língua, exercitando o engolir de alimentos, processo contínuo da ingestão, funcionamento digestivo completo.

Quando não ocorre de forma natural, caso todo processo não se complete em seu ciclo, surge à denominada fixação, primeiramente notada no morder, fase canibalesca em relação ao seio materno, depois se ampliam nos primeiros contatos com coleguinhas e pessoas em sua convivência. Autores, (Breuler, apud TALLAFERRO 1996, p. 127), “Durante a fase oral torna-se evidente a ambivalência, termo criado por Breuler para significar que uma coisa é sentida, pensada e desejada de modo positivo e negativo ao mesmo tempo”.

Havendo um falta na completude do ciclo oral, as fixações na fase secundária é de forma substitutiva notada no falar sufocante, o prolixo, o radialista, o cantor, nos vícios de fumar, morder palitos, no afeto o beijo, mordiscar, assim como a felação, cunilinguos como expressão prazerosa.

Hoje nos situamos em uma dimensão que vai além de observações em sua época, com advento dos estudos dos cérebros, abrem-se um desvelar de dimensões outras de formas funcionais, em que pese às primeiras experiências, relatos dos primeiros estudiosos que se somaram as clínicas da psicanálise.

FASE ANAL

Esta fase é concomitante com a fase oral, sua ocorrência se processa de forma consequente a ingestão dos primeiros alimentos, inclusive na fase uterina, cuja ligação se processava dentro de um único organismo.

Muitos autores colocam como marco o nascimento, demarcando datas em sua funcionalidade, porém sabemos que é parte de um continuo desenvolvimento da natureza humana, assim como dos animais. O esfíncter de entrada (boca), o ânus também é composto de receptores nervosos, cujas sensibilidades são sentidas durante o processo de desenvolvimento ao longo da vida do sujeito.

Toda expressão nas ocorrências de fase oral e anal estão sujeitas as condições de recepção, excreção na mesma dimensão, portanto não há supremacias quando alguns autores assim denominam. (TALLAFERRO, 1996, P. 137).

Assim como a boca, a fase anal, esta sujeita às questões de afeto, principalmente na fase da higienização, ou seja, na forma do trato do cuidador, poderão surgir conflitos que terão ressonância na fase secundária.

Surgindo ansiedades, assim como prazer na defecação, flatulências, gosto pelos excrementos, controle de forma passiva ou ativa, que esta relacionada a esta fase, principalmente no que tange valoração como algo dele, produção, até mesmo como algo significativo de troca afetiva.

Observação interessante de forma comportamental, citação de (MENNINGER apud TALLAFERRO 1996, p. 137), nota de rodapé, diz:

“... relata que um esquizofrênico com profunda regressão anal guardava cuidadosamente numa floreira as matérias fecais para presenteá-las a seu médico “quando este se portava bem”. Muitos povos primitivos guardam ou escondem cuidadosamente suas fezes para evitar que caiam nas mãos do inimigo, pois este poderia fazer um trabalho com elas, que são parte do corpo, e realizar um malefício. Muitos delinqüentes defecam no lugar em que cometeram um roubo ou outro crime, e ao fazê-lo satisfazem um desejo inconsciente de deixar ali, em troca do que levam ou como compensação pelo que fizeram, algo de si mesmo”.

Tal exemplo corrobora com a compensação de algo que o sujeito atribui ao outro de forma compensatória, que de melhor ele tem para dar. Mesmo que questionável pela forma, porém remete a uma fase, cujo ciclo não foi completo, além do transgredir no sentido de agredir o outro pelo não reconhecimento, que lhe dá o direito de tirar, roubar, subtrair, etc..

Interessante também citar estudo realizados por FERENCZI apud TALLAFERRO (1996, p. 138-139), sobre tal fase em “Ontogenia do interesse pelo dinheiro”, diz:

“A criança experimenta prazer manipulando suas fezes, que são cheirosas, moles, úmidas, marrons e inservíveis. A primeira coisa que começa a repugná-la é o cheiro, mas ela continuará mantendo uma inclinação pelos odores fortes. Assim, gostará de cheirar asfalto, gás, gasolina, borracha queimada e certos perfumes muito fortes. Essa desodorização leva-a a brincar com barro que, embora não seja cheiroso, é mole, úmido, marrom e inservível tal como suas fezes [...] Um passo subsequente leva a criança a repelir a umidade do barro e ela passa a brincar com terra e areia; mas, algumas vezes, em manipular terra ou areia molhada e em andar descalça na lama [...] Nessa altura da evolução começa a desempenhar um papel importante o sentido utilitário ou de valoração, e a criança passa a colecionar figurinhas, tampinhas, selos e outros elementos que são secos e tem algum valor. Depois disso, o indivíduo pode iniciar coleções de objetos, especializando-se em jóias, dinheiro, moedas e selos, ou manifestando-se como financista ou grande comerciante”.

Interessante notar a importância de tais fases e suas interferências na fase secundária no quesito prazer, desprazer, dor, sofrimento, irritações, etc. A importância na vida psíquica do sujeito, suas satisfações, insatisfações, escolhas de suas profissões, neuroses que vai se somando no processo de socialização.

Suas relações com o tempo, dinheiro podem ter situações das mais antagônicas ou atitudes, como gastar, reter de forma prodiga ou não, assim como a vontade de poder, a megalomania, ânsia de autodomínio, subjugação do outro, pode ter relação com o controle do esfíncter. (MINNIGER apud TALLAFERRO, 1996, p. 143).

FASE FÁLICO-GENITAL

Alguns autores colocam esta fase de forma conjunta, assim como a oral e a anal, pois são processos que se desenvolvem de forma concomitante, com algumas variáveis de acordo com ambiente de cada ser.

A transição está ocorrendo de forma natural, com completude ou falta, fixações ou resolutas, portanto estão seguimentadas sem necessariamente firmada em marcos, pois as consequências, atitudes são permeadas ao longo do ser no mundo.

Na fase fálica, micção do urinar e o transito da urina pela uretra, cuja tendência é o brincar com água, escolha de ser bombeiro quando adulto, sonhos com inundações, incêndios. Descoberta do falo como algo representativo, traz de diferente em relação às meninas, dúvidas ocorrem, assim como medos, competições, ansiedades nos relacionamentos com outros. Toda uma simbologia vai acompanhar em toda fase secundária do individuo, caso não seja suprido de forma educativa desde o ambiente familiar até a fase escolar. Uma carência dos tempos atuais, cujos melindres, despreparos dos ensinantes, presos as questões religiosas, tabus, mitos.

Fase em que o falo em toda sua extensão, pois é a zona dominante do homem, assim como o clitóris, lábios vulvares idênticos nas meninas. Daí surge às fantasias, na fase fálica, chamada proto fantasias, em que a imaginação como se algo tivesse sido realizado de fato. Descoberta que Freud percebe na fase primeira da sedução, desmistificando assim certos abusos pelo imaginário em função de curiosidades, desejos ou equivalentes.

Desembocando na ambivalência quanto à finalidade, o que permite a fase bissexual biológica do individuo, muito atual no campo das pesquisas. Sendo um dos primeiros estudiosos foi (SCHAUDIN, apud TALLAFERRO 1996, p. 151), mas foi com (HARTMANN apud TALLAFERRO 1996, p. 151),

“que inferiu a sexualidade é uma propriedade relativa. Seus experimentos demonstram que a mesma célula que se comportar como masculina e ativa diante e uma célula feminina pode, diante de outra ainda mais ativa do que ela, adotar uma atitude passiva ou feminina. Existiria, portanto uma bissexualidade imanente. Mas esse termo que tem sido empregado com tanta frequência, não coincide exatamente com o conceito de “sexualidade indiferenciada”.

(Hartmann demonstra que a função masculina e feminina na sexualidade celular não é fixa, sendo que Freud apud TALLAFERRO 1996, p.152),

“sustenta que em todos os indivíduos existe uma disposição bissexual originária que, no decorrer da evolução, foi se orientando para a monossexualidade, embora conservando alguns restos do sexo oposto”. (TALLAFERRO, 1996, p.152).

FASE OU PERÍODO DA LATÊNCIA

Esta fase é trazida como transição em que se estabelece como fator de ressignificação do ser que fundamentalmente esta relacionada na harmonia psicossexual em relação às fases anteriores, sendo basicamente restabelecida esta na dependência dos progenitores. Ou seja, depende dos estímulos externos, que esta diretamente relacionada quanto à organização familiar, se esta desorganizada a criança sofre a sobrecarga afetiva. Gerando conflitos em parte de indivíduos com distúrbios mentais, psicossomáticos quando não conseguem sublimar essas descargas. (TALLAFERRO, 1996, p. 161).

Coincidentemente tal fase é quando a modificação dos testículos ocorre, segundo (RASCOVSKY apud TALLAFERRO, 1996, p. 162), diz:

“A evolução histológica do testículo começa nos primeiros meses da vida embrionária e, já no final da vida intra-uterina, ele se constitui de células de Leydig, em grande quantidade nos espaços intersticiais, e gonócitos e células vegetativas nos condutos seminíferos”.

Portanto, para Freud uma condição biológica, enquanto para Reich não há um período de latência, baseado em estudos de Malinowski com atividade sexual nas Ilhas Trobiandesas como um processo ininterrupto das crianças observadas, sem a existência de um período de latência. Sendo este período relacionado à cultura, ambiente em que se vive a repressão sexual. (TALLAFERRO 1996, p. 164).

PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA

Esta fase da puberdade é o desligamento que ocorre na analogia com a mitologia edipiana, em que a estrutura orgânica do menino e da menina, transformando o físico com o aparecimento dos pelos pubianos, secreções penianas e vaginais, norteando assim, para interesses não mais centrados no núcleo familiar, assim como uma bussola nas oscilações do norte magnético da terra.

Fase esta que requer certa morosidade, pois muitos ficam presos às resoluções, dependendo sempre do ambiente familiar nuclear biológico, que poderá ocorrer de forma natural ou prisioneiros de sentimentos ambivalentes não resolutos.

Período que descortina rebeldias, revoltas com o novo ambiente que se deparam, saindo de um mundo não correspondente com seus anseios, pois as transformações físico-químicas ocorrem de forma silenciosa, causando espantos, muitas vezes negativos para o sujeito, quando não superado.

Daí, a necessidade de uma educação sexual baseados nas ciências, como parte de um processo natural para o ser humano, assim como toda natureza, reparação complementar de conscientização na área social, porém com preparação dos interlocutores que irão fazer a passagem.

Consequentemente, citação BRABANT (1977, p. 57),

“... Digamos que a saída da crise seja essa ruptura seguida de uma orientação firme para um modo de vida e atividades que contrariam as ambições dos pais; mas frequentemente, neste caso, a culpabilidade alimenta sentimentos de inferioridade e uma consciência intranquila que ameaçam entravar o êxito nesse caminho. Em compensação, se a revolta permite ao adolescente esboçar sua independência e dirigir seus interesses sexuais para fora do meio familiar sem levá-lo até a ruptura, torna-se-lhe progressivamente menos necessário mobilizar sentimentos hostis para conter sua ligação edipiana”.

Todo processo passa pela conscientização de seu amadurecimento racional, emocional, intelectual, cujo conhecimento vai possibilitar de forma comedida suas experimentações, sem atropelos permissíveis, que desvirtuam suas fantasias e realidade futuras, irrompendo com sonhos em função da precocidade. Tornar consciente significa diante de seus impulsos, amparados diante do ato da pulsão, equilibrando assim pela sublimação, ou seja, direcionamentos voltados às atividades que todas as escolas deveriam estar preparadas.

DA ENTREVISTA PSICANALÍTICA

O consultório de análise é uma porta que se abre de forma livre, principal quesito quanto à recepção do outro, portanto representa o aconchego, o conforto diante da expectativa da chegada. Importante em sua recepção é a simplicidade do ambiente, assim como agradável na representação que remete ao chegante de forma que se sinta acolhido para suas buscas psíquicas.

Portanto, a empatia é a inicial desse processo, a entrevista tem como objetivo a observação do analisado na composição da fala, gesto, trejeitos, tiques, movimentação dos olhos, expressões dos lábios, repetições, enfim o todo observável.

A composição da anamnese resume seu histórico familiar, doenças, tratamentos, posição hierárquica no núcleo ambiental familiar, assim como, suas fixações nas fases oral, anal, fálica, genital, superação edipiana, narcísica, introversão, extroversão, já compondo o desenho das abordagens de forma planejada das seções seguintes.

Considerando as possíveis variações dentro do expectro inicial, variáveis possíveis dentro do processo, corrigindo, alterando de forma flexível de acordo com o desenvolvimento de cada singularidade e sua particularidade.

Todo analista que se propõe ao atendimento deve ter uma formação intelectual bem estruturada, tendo a leitura atualizada como hábito, pois suas argumentações serão sempre questionadas, para isso, fundamentalmente explicitadas por conceitos, teorias, demonstrando assim, conhecimento na área que atua, como qualquer profissional especializado.

O que difere de outras áreas é o olhar do ser que se aconchega de forma holística, o todo devera ser observado, dentro dos objetivos, principalmente o campo da subjetividade intrínseca ao sujeito, em um processo evolutivo de transformação constante, seja emocional ou racional.

A fala é o conteúdo que se revela parâmetros de símbolos, nos permite adentrar ao inconsciente dentro do processo de elaboração, a escuta o meio, portanto a capacidade do receptor deve estar aberta a todos os ruídos que compõem a construção dos fonemas expressados.

Citação, FREUD (1940 [1938], p. 91), apud DE MACEDO; FALCÃO (2005, p. 2),

“A capacidade de ir além da ciência de sua época está intimamente ligada à possibilidade de Freud de buscar nas palavras de seus pacientes e em suas próprias – mais do que padrões à adaptação moral e costumes vigentes – uma fala atravessada pelo inconsciente e pela sexualidade: mensagens cifradas e enigmáticas que demandaram outra qualidade de escuta para serem compreendidas. Ao se deparar com o sofrimento histérico, Freud põe-se a escutar um corpo que fala; nos sonhos descobre a capacidade dos elementos se condensarem e se deslocarem, criando uma outra cena; nos lapsos percebe a expressão de algo, via uma inesperada inabilidade na execução de atos ou falas até então exitosas. Ao dar cada vez mais espaço para o que escutava de forma diferente, no contato com seus pacientes, Freud, pôde construir “tanto um novo ramo do conhecimento quanto um método terapêutico”.

A forma natural, de acordo com o que se apresenta na receptividade, sem floreios, palavras rebuscadas, técnicas, intimidades particulares, julgamentos, escolhas religiosas ou partidárias. O setting é um lugar sagrado, qualquer mácula, pode ser motivo de afastamento do sujeito, pois tudo de forma natural desembocam nas transferências, como um rio que busca o mar, nas dimensões de cada analisado.

Daí, o fundamental na preparação de cada analista no processo de analise pessoal, pois se há um conhecimento de seus conflitos, para tanto consciente na formação, estará apto a recepcionar o outro com alteridade, sem a mistura de suas emoções, portanto isento, quando não, procurar auxilio em sua analise com outro colega, assim a resolução de alguma aresta que se manifeste.

Segundo FREUD (2006, p. 26-27),

“Na Psicanálise, ai de nós, tudo é diferente. Nada acontece em um tratamento psicanalítico além de um intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista. O paciente conversa, fala de suas experiências passadas e de suas impressões atuais, queixa-se, reconhece seus desejos e seus impulsos emocionais. O médico escuta, procura orientar os processos de pensamento do paciente, exorta, dirige sua atenção em certas direções, dá-lhe explicações e observa as reações de compreensão ou rejeição que ele, analista, suscita no paciente. [...] Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens. Assim, não depreciamos o uso das palavras na psicoterapias, e nos agradará ouvir as palavras trocadas entre o analista e seu paciente”.

Atualmente a conciliação de muitas técnicas, a dinâmica da análise de forma objetiva se recompõe nas suas adversidades, as bases freudianas mantidas, seu tempo reduzido no tratamento, pois centrado no livre arbítrio, caminhamos juntos nos limites desejados pelo analisado, senhor da decisão em conhecer suas verdades, verdades essas que o libertará de seus conflitos.

Tudo é direcionado para a formação da consciência do ser, situando-o a condição espacial, ciente do presente com algo de um tempo que se transforma independente de sua vontade interior.

Daí a idéia de neurose de Freud, a chamada de atuação (atual), é a realidade negada em função dos conflitos, interrupções, incompletude, ou seja, advindas de racionalizações, ansiedades, angustias, vazios de desejos de completude.

DA CLÍNICA AOS CASOS CLÍNICOS

Vemos na atualidade a vinculação da análise com doenças, patologias, nomenclaturas com o objetivo de rotular, nomear, assim como diagnosticar, em função de enquadrar no campo da fisiologia, distanciando-se da idéia analítica freudiana que tinha como objetivo o tratamento da alma para o equilíbrio do corpo e suas manifestações.

A sua metapsicologia, segundo Freud era a sua bruxa, forma a que se referia sua feiticeira, termo tratada em sua carta a Wilhelm Fliess, datada de 13 de fevereiro de 1896, fazendo uma distinção entre sua preocupação com a metapsicologia, apesar da psicologia (GARCIA-ROZA, 2017, p. 9).

Para tanto, suas formulações partem de pressupostos nas idéias, centra-se na mente (alma), segundo sua fala para distinguir das oposições de seus pares do contraditório. Quando desperta os sonhos como ferramenta de prospecção do chamado inconsciente, algo que ao longo da história sempre foi permeados por alegorias, misticismo, norteador de predestinação futurista, profética.

Abre-se na sua pesquisa uma linguagem, dentro de uma dimensão inimaginadas, para tanto até hoje fonte de especulação e estudos para entender sobre tal enigma. Para tanto, Freud não descobriu o inconsciente, apenas trouxe algo palpável diante de tudo sobre o que se dizia, pois antes dele seu professor Brentano; conhecia Eduard von Hartmann. Carl Gustav Carus (1789-1869) conforme citação de MARCUSE (2008, p. 56), “A chave para o conhecimento de vida consciente da alma está no inconsciente”.

Portanto, todo processo analítico visa um início, meio e fim, este por sua vez esta atrelado à alta, sendo um processo analítico dentro de uma visão do interminável, pois fatores como heranças genômicas, atuais no sentido de atuação, faz-se necessária manutenção diante das transformações do cotidiano, uma terapia evolutiva em que o absolutismo fica a esteira do relativismo.

Segundo RACKER, (1982, p.30), o tratamento objeto de conscientização dos seus sentimentos internos, impulsos, pulsões, desejos, vontades, cujo primitivismo instintivo pulsa dentro do significado de sobrevivência. Portanto, não há cura e sim amadurecimento emocional, adaptação à realidade, superações evolutivas da personalidade, dentre outras formulações, levando o sujeito à mudança de forma serena na vivência do conhecimento de si.

Citação, RACKER (1982, p. 30), diz:

“Considerando o desenvolvimento da psicanálise desde sua origem, pode-se dizer que começou como terapia, em seguida, dirigiu sua atenção ao homem como totalidade e descobriu, por este caminho, as perturbações gerais e especiais da evolução do homem, do ser humano em si “doente” e “são”, e o tratamento psicanalítico, converteu-se em uma técnica de evolução ou transformação humana, incluindo esta, com uma de suas possibilidades principais, a “terapêutica””.

Como todas as ciências evoluem, assim como o analista na busca do conhecimento, pois a clínica psicanalítica exige dinâmica constante, como as técnicas elaboradas nos campos que se desenvolvem atualmente voltados para os estudos do cérebro com a neurociência.

Sua clinica está situada no setting em que ocorre todo desenrolar das emoções, percepções, que contém o ser analisado, cada singularidade com sua multiplicidade ontológico filogenético, cada conteúdo em seu universo próprio.

O psicanalista em sua psicanálise cita LAGACHE (1966, p.121), pois define bem o seu significado,

“A psicanálise é uma arte que se aplica em compreender e modificar fenômenos irracionais, más é uma arte racional, fundada em conhecimentos positivos. Uma psicanálise é sempre uma pesquisa, mas a descoberta não jorra ex nihilo ou das trevas do inconsciente. A interpretação forma-se freqüentemente por tenteios progressivos. Mesmo revestindo o aspecto espontâneo da intuição, ela é, na verdade, a aplicação de um conhecimento geral a uma situação particular e concreta. O psicanalista não é nem adivinho nem feiticeiro”.

Seus relatos estão dentro do conceito de esvaziamento, sendo a transferência o instrumento de romper com a resistência, pois requer empatia e confiança, sem ela não há desenvolvimento.

As muralhas são compostas de camadas, que se somam nas memórias, como placas teutônicas de forma sedimentar, daí o cuidado com tal fragilidade na prospecção arqueológica do ser que se apresenta. Um caso clínico como exemplo de tais somações e seu tempo.

1º Caso:

Uma senhora de aproximadamente 60 anos, passou por vários relacionamentos, cinco filhos, netos, mas por escolha, viver sozinha. Diz assim, tem liberdade de exercer sua profissão como terapeuta sistêmica na resolução de problemas familiares.

Segundo ela, fugiu de casa aos 15 anos de idade, cuja família era composta de mais nove irmãos, entre mulheres e homens, o patriarca rigoroso com as filhas, pois estas não precisavam estudar, bastava assinar os nomes, sendo objeto de verificação no estágio que ele impunha como régua, os rapazes os cabritos, cuja função era reproduzir o modelo imposto pelo pai. A mãe submissa, não tinha voz ativa, pois moldada pela sua geração, aquela que tinha nos afazeres doméstico o modelo para as filhas, assim cumpria seu papel.

Quando de sua fuga, percebida pelo pai, este foi buscá-la para reparações morais, a ameaça de morte com um revolver, pois a vergonha devia ser reparada, pois ela se tornara uma rebelde colocando em risco o julgamento da família em seu reduto de convivência.

Rebelando-se foge, busca nos estudos do qual tinha como meta de vida, ou seja, uma forma reativa de contrapor ao imposto pelos pais. Faz diversos cursos para sobreviver, até chegar a um posto de gestora em uma grande empresa. Daí conhece um rapaz com o tempo se casa e forma uma família, diz: “Graças a Deus não casei com meu pai”.

Porém, seu relato culmina na separação, pelo fato de durante quatro anos, sofrer agressões e imposições para abandonar o emprego, pois se mostrava inseguro o companheiro, diante da postura que ela demonstrara com sua independência.

Não havia relacionado o marido com o pai, quando feita à relação, tem seu primeiro insyte, pois não imaginava a correlação, em função de não se considerar edipiana por formação reativa.

Um de seus sonhos, foi o ápice de seu reencontro com seus conflitos edipianos, quando do relato de que se encontrava nadando contra o fluxo das águas, porém era um mar, não havia ondas, e sim água barrenta, mal cheirosa, com seus movimentos soltos em nado, avançava pouco diante de sua pretensão.

Quando olha para traz, lá estava seu pai, olhando sem nada fazer diante de sua luta com as águas. Reclama da não preocupação e inércia do progenitor, pois acreditava que iria se safar com sua ajuda, portanto não aconteceu.

Foi solicitado que ela interpretasse tal sonho, pois seu histórico de vida, escolhas estava claro para o momento da dinâmica analítica.

Nadar contra a maré, significava ir contra os valores da família, águas sujas, turvas, culpa que carregava pelos sexos culposos que praticará decepção com a separação do companheiro, não repetindo o modelo traçado pelos pais, sua luta para vencer a maré. A omissão do pai em função de suas dificuldades, carência afetiva da qual abriu mão, quando do seu afastamento, fuga de casa.

Tinha esperança de retornar, assim como fez bem mais tarde, porém seu pai faz contato com ela, para saber se ela ainda trabalha, exigindo que ela se case para que alguém cuide dela. Daí, o espanto quando diz: “ainda hoje me justifico para ele, que um dia paro e arrumo um marido”. Diz, “ainda estou justificando para ele!” Entra em catarse, processo de expurgo daquele quantum de energia armazenado em suas memórias de longo prazo, chamado por Freud de neurônios impermeáveis.

Destaco a escolha dela na profissão de terapeuta familiar, faz de sua missão dirimir conflitos dos núcleos, porém despertou, busca sua solução no outro, ou seja, consertar seu passado, um processo de reconstrução da qual se sente culpada. Restabelece-se, agradecendo, diz ter passado um filme em sua cabeça e muitas mudanças por vir.

Um caso em aberto no processo analítico com muitas coisas ainda por vir, dentro do livre arbítrio do qual ela esta ciente, com sua escolha na continuidade ou limites desejados, portanto como toda análise que alguns colocam como ter final, analogia ao principio de cura estabelecido pelo absolutismo do qual ainda trafegamos no espaço e tempo.

2º Caso:

Rapaz de aproximadamente 45 anos, estava sempre à procura de cursos que tivesse muitas mulheres, pois dizia ser uma forma de aproximação, sedução, conquistas, etc. Portanto, procurou a psicanálise, pois esta podia propiciar a ele técnicas, conhecimentos outros para seus projetos futuros.

As primeiras seções foram de relatos de sua infância, seu pai um homem bruto, profissão pedreiro, sempre as voltas com a bebida, lembranças, na hora das refeições com a família, quando sozinho com o mesmo, lembra-se que era agredido de diversas formas, sua família composta pela mãe, irmão, mais duas senhoras que sempre acompanhava sua mãe, portanto tinham aparências de freiras, segundo seu relato.

Dizia lembrar-se da mãe, sempre após as refeições, se dirigia ao quarto, acompanhadas das duas senhoras e passava horas rezando, fazendo suas orações, daí a relação com freiras, passível de lembranças fantasiosas de sua imaginação infantil ou simples sublimação.

Observa que havia diferenças intelectuais, pois a mãe professora, seu pai, um homem bruto de profissão de serviços com pouca instrução.

Este por sua vez, trabalhava como chefe de almoxarifado em uma grande empresa multinacional, alto, aproximadamente 1,85m, andava de forma brusca, demonstrava certa agressividade em sua postura, olhar fixo, fala alta, andar pesado, magro de porte atlético.

Dizia gostar de brincar, fazer chistes com seus subalternos, escolhia sempre um mais retraído para humilhar, talvez como forma de sobressair do cargo que ocupava como chefe, diante de suas representações do seu relacionamento com o pai, assim como sua inferioridade manifesta.

Em quase todas as seções, trazia de forma escrita seus sonhos, porém era pedido que falasse sobre tais escritos, acompanhava sempre uma lista de nomes de mulheres que havia conquistado como testemunho de sua sexualidade hétero.

Os sonhos quase de forma repetitiva, ele se encontrava em uma escalada de um morro, composto de várias árvores enormes, cujo ápice nunca fora atingido.

O morro, sua escalada estava sua dificuldade com a relação sexual, as árvores o símbolo fálico em seu imaginário, a não chegada ao topo, sua incapacidade orgástica. Devemos lembrar que chegava a ejaculação por mecanismo solitário masturbatório do qual se sentia no controle, pois tinha medo da penetração vaginal, por temer algo que pudesse perder o pênis, portanto se recolhia ao banheiro para completar seu esvaziamento, em sua fobia imaginária.

Em sua infância lembra-se que enganados por amigos maiores, em um determinado local, levado e recordar-se do abuso, dizia: “por ser o mais novo, fragilizado não teve como se defender”.

Colocava-se como vítima, inclusive dizia havia ter sido traído pela esposa durante o casamento, que se afastará pelo motivo e diz ter denunciado a mesma para os familiares, assim tendo uma desculpa pela separação.

Mas, de forma cínica dizia que na noite de núpcias, comprara um vídeo cassete, na sala passou aquela noite vendo filmes, enquanto sua agora esposa o esperava no quarto.

Quando solicitado para detalhar tal traição, pós algumas seções, dizia que sua esposa decidirá ficar grávida sem o consentimento dele, portanto sua decisão não concordará com tal idéia, daí constrói tal história para justificar sua separação, acusando sua companheira de tê-lo traído.

Suas contradições, psicopatias, afloravam a cada seção, fora se norteando de forma ampla suas fragilidades emocionais, caráter, relatos fantasiosos, imaginação exacerbada, um contador de estórias para esconder seus desejos e sonhos.

Interessante relatar, que em determinado dia, foi necessário mudar de consultório, assim foi deslocada à seção para uma sala vizinha, portanto ali, atendia um Reichiano, não havia uma mesa, apenas um ambiente, as cadeiras ficavam de frente de um para o outro, ou seja, nada entre o analista e o analisado.

Com o início da seção, o rapaz foi se encolhendo no assento, demonstrava insegurança, medo, quando foi observado que nada iria ocorrer, portanto solicitei que ficasse calmo, pois não seria abusado. A escrivaninha que havia na outra sala separava o analista do analisado, servindo a ele como proteção. Solicitado que respirasse de forma harmônica, foi relaxando, acalmando, foi direcionado ao divã, adormece coisa que dizia ser impossível de acontecer, pois estava sempre ligado, tinha dificuldades de dormir e relaxar.

Sua agressividade vinha da auto-afirmação, forma de esconder sua passividade seus desejos homossexuais a procura por mulheres, um norte afetivo em função da representação materna. Na competição, com suas amantes, sempre havia uma preocupação, pois as mesmas quando questionadas por ele, resolviam ficar com seus companheiros, quando solicitada a separação dos mesmos. Sentia-se humilhado por não ser o preferido, assim como se afastava de mulheres que se apaixonavam por ele, dizia que elas não estavam a sua altura ou profissões na visão dele, menores.

Interessante notar, mulheres que ofereciam carinhos, este recusava, pois a representação da mãe ausente, não carinhosa, portando não tinha tal merecimento, pois sua indignidade não aceitava. Pois, aquela que devia dar o afeto, não poderia ser dada por outra pessoa, aquela máxima “quem é você para dar algo, cuja pessoa que devia dar, não deu”?

Durante o período de analise teve mudanças e seus movimentos, comportamento mais harmonioso, desistiu de ser um analista, em função de mudanças foi interrompida a analise, portanto mais uma interminável.

Apenas dois relatos para demonstrar representações diferentes, porém como causa o ambiente familiar constituído por escolhas ou não de cada um, portando tendo reflexos em psicopatias das mais variadas atitudes, composição que se repete a séculos de uma sociedade doente por desinformações, ignorâncias, atreladas por ideologias destrutivas, quiçá com o advento de novas pesquisas, possa revolucionar com a educação na formação de núcleos biológicos familiares melhores conformações. Omitimos classificações, nomenclaturas, assim como suas resistências inconscientes, pois o espaço tem como objetivo apresentação apenas de casos clínicos.

Apesar de Freud em seus escritos dizia, ser necessária à neurose e que a repressão, assim como as proibições como fomentadoras das estruturas sociais, se fazem fundamentalmente para sustentação do processo civilizatório, fazendo uma analogia com suas obras de cunhos antropológicos, ou seja, Futuro de uma Ilusão e Mal Estar da Civilização (1927-1931), Totem e Tabu (1912-1913).

A clínica, assim como os casos clínicos, são experimentos sendo cada situação se apresenta um universo com variáveis possíveis, nos remete dentro de cada particularidade a conhecimentos infinitos, no que tange o animal humano. Pois, diante do arcaico inacessível desconhecimento genomico, atualmente se desvela com alguma revelação no meio científico, talvez tenha acesso a histórico que possa avançar em tais heranças genéticas, ainda se apresentam dentro das muitas interpretações e suas variáveis possíveis.

PSICOPATOLOGIA E A METAPSICOLOGIA FREUDIANA

Inicia-se com a denominação da palavra neurose, no sentido até então com o significado de doenças desconhecidas, com as observações de sintomas histéricos, desperta em Freud algo que estava além dos princípios de sua época nas nomenclaturas de sua medicina, daí começa seu método investigativo além, designação de subjetividades a partir de suas analogias idealizadas.

A janela se abre com as observações oníricas, ali se encontravam lembranças em pequenos fragmentos, pois não havia continuidade, ou seja, ajuntamentos de relatos que significavam algo desejável, intensões acobertadas, porém causas de um tencionamento que impedia sua realização, portanto manifestações simbólicas submetidas a interpretações que necessitava de decifrações de um dialeto primitivo a ser resgatado de um sujeito interrompido de significação.

Citação FREUD (2006, p. 89), volume XV, conferência V,

“Um dia descobriu-se que os sintomas têm um sentido. Nessa descoberta fundamentou-se o método psicanalítico de tratamento. Acontecia que o decurso desse tratamento os pacientes, em vez de apresentar seus sintomas, apresentavam sonhos. Com isso, surgiu a suspeita de que também os sonhos teriam um sentido”.

Os sonhos desperta a curiosidade para entender as parapraxias, até então nada se tinha como explicações sobre tal assunto, por outro lado o conceito de insanidade, pois tais manifestações eram intrínsecas ao universo do que se denominava de pessoas normais ou sadias. (FREUD, 2006, p.89).

Devemos lembrar que os sonhos até então tinha em seu histórico desde seus mais remotos relatos estavam vinculados aos enigmas de adivinhações, míticos e relatos bíblicos. E com o advento na formação da psicanálise tal significado transforma-se em possibilidades de algo interiorizado, denominado por Freud como sistema consciente e inconsciente.

Suas pesquisas amplia-se na formulação de sua etiologia da neurose, citação FREUD (2006, p. 251), volume III, em que aproxima tais manifestações a sexualidade, diz:

“... Essa teoria não é inteiramente nova. Uma dose de importância tem sido concedida aos fatores sexuais na etiologia das neuroses desde tempos imemoriais e por todos os autores que trataram do assunto. Em certas áreas marginais da medicina sempre se prometeu, simultaneamente, a cura das “queixas sexuais” e da “fraqueza nervosa”.

Adentramos aí nos fatores etiológicos das neurastenias e suas relações a princípios com as neuroses, mas que se ampliam nas parafrenias e psicopatologias das quais vamos discorrer abaixo de forma pontual, para Freud a dimensão estava centrada na sexualidade (sentido de relacionamento, com foco no sexual).

Faz uma observação quanto ao sistema na sua topologia, que:

“... devemos estar preparados para encontrar nos seres humanos possíveis condições patológicas sob as quais os dois sistemas alteram, ou mesmo permitam, tanto seu conteúdo como suas características” FREUD (2006, p. 194, Vol. XIV).

Concentram nos sonhos como algo de alucinações, entre manifestações que permeia a realidade das fantasias, estágios observados no seu sistema que se completam nas formulações das instâncias, ou seja, Id, Ego e Superego.

Portando, os sonhos se abrem para abordagens nos processos alucinatórios, sendo que no alucinado encontrasse o desejo de realização de sua satisfação, porém não é privilegio apenas dos sonhos, observa-se em estádio de vigília. Sendo encontrada na presente data em estágio de morbidez, confusão alucinatória (amência termo usado por Meynert) e casos de esquizofrenias. Muitas vezes tais manifestações de forma geral em psicoses alucinatórias carregadas de desejos. (FREUD, 2006, p.236, Vol. XIV).

Isto posto, faz sentir em suas primeiras abordagens sobre neurose, algo relacionado à histeria, portanto desvincula também a neurose da psicose, motivo que o forçaram reestruturar os conceitos sobre etiologia. Segundo este mesmo autor Freud, considerou a partir de 1889 a neurose se desvincula da histeria sendo, “resultado de uma vivência especifica, intensamente emotiva, que representa o papel de “causa imediata” da doença e a que Freud deu o nome de trauma”. (TALLAFERRO, 1996, p.257).

Sendo o marco em 1906, abandona a teoria traumática das neuroses, posteriormente surge seu segundo principio das perversões relacionadas aos impulsos, daí ao seu último esquema da etiologia das neuroses e psicoses, anunciado em 1920, considerado os conceitos de fixação, regressão e sublimação, assim como o caráter dinâmico e evolutivo nos mecanismos de defesas. (TALLAFERRO 1996, p. 259).

Recompõe seu esquema levando em consideração vivências fetais que atuariam sobre o feto fatores hereditários, maternais, afetando assim a constituição do indivíduo. Sendo a fixação da libido em relação à neurose e psicose.

Citação, TALLAFERRO (1996, p. 260),

“Quando a libido, pela presença de um obstáculo, não pode fluir livremente, e por conseguinte não obtém sua satisfação no mundo exterior, em primeiro lugar ela se estanca. Se nessas circunstâncias tiver dificuldades para sublimação ou se esta dor insuficiente, regressará a posições anteriores, para os pontos de fixação específicos para tipo de neurose e psicose, e tentará se descarregar novamente nesse nível”.

Fatores desencadeantes como privações, frustrações, impedimentos externos, conflitos, etc., afetando assim o organismo como gatilhos internos em que o impulso atua, como se houvesse uma cisão entre o consciente e o inconsciente, cujo objetivo é o prazer.

Sendo assim, em alguns casos a privação ou conflito real, sejam até imperceptível, porém parte da fixação, como fobias, medos, angustia etc., a frustração pode gerar a depressão, contrações, isolamentos, pânicos.

Assim se constituindo uma entidade clinica, como:

“... o ponto de fixação oral primário corresponderia à esquizofrenia, o oral secundário à psicose maníaca depressiva, o anal primário à paranóia, o anal secundário à neurose obsessiva e o fálico à histeria”. (TALLAFERRO, 1996, p. 262).

O fator desencadeante da perversão conforme foi definida por Freud, a importância do mecanismo de defesa, em toda sua abrangência o controlador dos impulsos do ego. Sendo que a perversão é uma válvula de escape para que o indivíduo não tenha um surto psicótico ou manifestações neuróticas. Portanto, qualquer radicalismo no tratamento, no sentido de suprimir alguns conflitos pode gerar no direcionamento da libido e desencadear a psicose. (TALLAFERRO, 1996, p.263).

Daí, o direcionamento para terapias ocupacionais, criativas, artesanatos, pinturas, esculturas, como forma de sublimar e descarregar suas ansiedades libidinais para que reações internas possam ser expressas de formas reativas, para que não se expressem no plano genital. (TALLAFERRO, 1996, 264).

Nota-se que o conflito esta relacionado com sua realidade, dificuldade essa de registros em suas infâncias normalmente, não como regra, pois sabemos que conflitos podem ser gerados por acidentes ou traumas por atuação. Portanto, segundo (FREUD apud TALLAFERRO, (1996, p.265), diz: “Freud sustenta que o conflito real do neurótico ou do psicótico só se torna plenamente compreensível quando é possível relacioná-lo com a história desse indivíduo”.

Quando fatores advindos do EGO, suas debilidades causais de forma constitucionais genéticas ou acidentais, adquiridas, econômicos, sociais, religiosos, vícios, debilitam em angustias, hipersensibilidades, afetando suas funções sintéticas, assim como aumenta seus mecanismos de defesa. (TALLAFERRO, 1996, p. 266).

Fatores que depende do ID, instintos primários, quando regredidos, fatores endógenos, exógenos, dentre eles as interferências são pontuais endógenas, como crises púberes, climatérios, endocrinopatias, e exógenos excitações, fármacos, hormônios e telúricos. (TALLAFERRO, 1996, p. 266).

Superego, influenciado pela severidade, proibições, castrações, ou sadismo acentuado, como fatores sociais, religião, educação, etc. assim como outros fatores de origens internas na fase anal, impulsos agressivos que não descarregam, vão compor o superego do sujeito em desenvolvimento, em uma fase biológica e social. Compondo assim manifestações de predisposições sociais na fase secundária gerando psicopatias, psicossomáticas em suas manifestações. (TALLAFERRO, 1996, p. 266).

Sendo que Reich concorda com Freud, os conflitos centrais esta na relação filhos e pais, encontrado em suas práticas nos casos de neuroses e psicoses. Diz:

“Pode-se afirmar, assim, que a estase libidinal é o fator etiológico originário e que a história do indivíduo somente dá origem aos conteúdos, mas a energia necessária para que estes se ponham em movimento é dada pelo estancamento libidinal”. (REICH APUD TALLAFERRO, 1996, p. 266).

Observa-se que organismos diferentes reagem de formas diferenciadas, pois crianças que passaram por tais circunstâncias agem de forma considerada, “normal”, suportam situações que para outras seriam fatais no desembocar dos distúrbios psíquicos ou psicossomáticos. Confirmado hoje pelos estudos dos cérebros, diferenças de singularidades, porém dentro das multiplicidades nos fazem de forma especial uns construtos diferenciados, porém todos com capacidades de superações nas adversidades. (TALLAFERRO, 1996, p. 267).

Adentrando sobre as psicopatias é interessante observar que alguns fatores da atualidade em diagnosticar o psicopata dentro de uma ordem de conduta, procedimentos na qualificação, não levam as questões ontológicas em consideração. Ou seja, no intuito de entender o construto de uma mente em desalinhos, transtornos psíquicos, seja particular ou coletivo, como situações sociais, movimentos de desordens, enfim varias vertentes do ponto de vista do direito, psicologia, de forma particularizada se compõem para uma definição, tendo como instrumentos testes avaliativos como mensuração.

Portanto, nos distanciamos cada vez mais de uma definição nesse quesito, pois compartimentados, sugere abordagens dicotômicas dentro de cada esfera de observação.

A definição etimológica de pato (pathos) nos remete as doenças mentais de longa data, pois além de significar sofrimento, também paixão e passividade. Portando, representa excesso de forma prática que nos remete a dor, vazio, preenchimento, incompletude, cognição, disrupção no processo de conscientização e inconsciente. Há até conjecturas de um componente genético, leva o sujeito a esta condição, portanto nada provado, apenas correlações empíricas como sugestão.

Na composição do qual vamos discorrer é no sentido psico-pato-lógico, características intrínsecas ao ser humano, desde sua verticalização até o momento atual de manifestações que se repetem no tempo, dentro de um construto antropológico, filosófico para entender o psicanalítico.

Citação de Richard Sennett (1977) apud BERLINCK (1936, p. 12), dentro da cultura Grega,

“A cultura grega, diz ele, faz do andar e da postura ereta expressões de caráter. Caminhar com firmeza denotava masculinidade. Num trecho admirável da Ilíada, Homero escreveu que “os troianos avançam em massa, segundo Heitor, que os conduzia em largas passadas”. Por outro lado, “quando as deusas Hera e Atena surgiram diante de Tróia para socorrer os gregos (segundo Homero), elas pareciam em seus passos tímidas pombas – exatamente o oposto dos heróis de grandes passadas”. Alguns desses atributos arcaicos persistiam na cidade. O andar calmo e firme também indicava nobreza; “percorrer descuidado as ruas é um traço que reputo desmerecedor de um cavalheiro, quando se pode fazer isso de forma elegante”, diz o escritor Alexis. Supostamente, as mulheres deviam caminhar lentamente, hesitantes, e o homem que fizesse o mesmo pareceria efeminado. Ereto, hábil, ciente de onde quer chegar; a palavra orthos – “irrepreensível” – carregava todas as implicações da retitude do macho e contrastava com a passividade desonrosa, marca dos homens que se submetiam à penetração anal”. (SENNETTS, 1977, p. 44).

Em sua época o corpo tinha um significado de postura, linguagem aceita como normatização do sujeito no meio ambiente, primava pelo andar, pois significava seriedade e correções de maneiras. Ou seja, um corpo falante tinha o propósito de aceitação dentro do contexto cultural de um tempo, cuja civilização é herdeiro.

Portanto, o corpo ocupava seu espaço em movimento, cujas distinções estavam relacionadas às figuras dos escravos e dos metecos (estrangeiros). (BERLINCK, 1936, p. 13).

Buscavam com isso, o reconhecimento de si em relação ao nós que compunham as adversidades, para tanto distinguir as diferenças entre gregos e estrangeiros. A linguagem tinha a representação da fala, porém o orthos fala por si, pois a elaboração da mesma, ou seja, da fala cujo orador tinha sua responsabilidade pelo que se expressava, porém poderia não ser responsabilizado, se repetia o que ouviu por aí, assim como as doxas (opiniões, contos).

Observa-se que pathos acontece em movimentos, citação de BERLINCK (1936, p. 20), “Pathos brota no corpo sem dele fazer parte intrínseca e rege as ações humanas”. Segundo, ERIXÍMICO apud BERLINCK (1936, p. 20), o psicopatológico são médicos, pois cujos efeitos “... a medicina, diz ele, para falar em resumo, a ciência dos fenômenos do amor, próprios ao corpo” (cf. Fédida, 1088; pp 28-29).

Pathos no teatro grego significava o persona representado pela fala, mascara no sentido de ser outro, demonstrar o sofrimento, paixões, passividade do corpo com parte inerente dele. Para tanto, pathos para eles tinha relação com o soma, pois a psique é corporal, segundo os socráticos e não de continuidade. (cf. REALE, 1994, apud BERLINCK (1936, p. 23))

Portanto, concluindo cito BERLINCK (1936, p. 24),

“A descoberta do inconsciente freudiano como manifestação do pathos e como algo que surge da violência primordial, bem como a consequente metapsicologia que é conhecida por psicanálise é a casa mais confortável existente na contemporaneidade para a Psicopatologia Fundamental [...] De fato, a psicanálise nasce e se desenvolve como uma Psicopatologia Fundamental, mas com morte de Freud e a subseqüente babelização da psicanálise fica tão vasta e comporta tantas posições que se torna necessário especificar cada vez mais precisamente qual a posição que se ocupa nesta enorme mansão”.

Importante saber, desvelar para entender a atualidade da sociedade, pois com a evolução primando pela quantidade, perdemos o norte de alguns significados, para tanto a fala passa ter importância, porém perdida como final de conclusões, no sentido de qualificações exclusivas, para selecionar comportamentos no sentido de massa, sem levar em consideração sua representação.

Assim vamos abordar o psicopata, dentro de um construto de causas e não apenas de efeitos, portanto, vamos além do relato histórico do significado de pathos, entender fatores de ordens sociais, fomentadores de psicopatias em função da formação do ego, em sua dimensão exterior como norteador de costumes, culturas, com sua perda do simbólico.

Lembrando que Freud coloca que o período glacial, faz com que o homem em função de sua verticalização, falta de alimento, cuja posição ereta faz com que perca o contato com a regularidade sexual. Que o cheiro perdido, o faz distanciar-se do cio colocando a espécie em risco de extinção e que os perfumes, aromas artificiais, deixou o hominídeo perdido e angustiado. BERLINCK (1936, p. 29).

Sendo assim, segundo (FREUD apud BERLINCK 1936, p. 30), o homem,

“O homem é, assim, um ser da catástrofe e é a partir dela, e de uma capacidade criativa que se transforma em repetição, que o ser humano é uma espécie psicopatológica [...] Ela é também a expressão da resistência contra essa regressão, um compromisso entre as coisas antigas dos tempos primitivos e a exigência do culturalmente novo”.

Entender hoje as psicopatias requer uma volta no sentido ontológico do ser, para que possamos nos situar das condições psíquicas e deixar que outros setores norteiem as diagnoses fundamentadas apenas no comportamental, restrito ultimamente no direito criminal forense, como norteador sujeito as punições, sendo que tal situação nos remete a sobrevivência, conflitos, alimentados por núcleos familiares descomprometidos com a educação, mecanismo de forja alimentando conflitos sociais.

Trago um breve estudo de um Promotor de Justiça do MP-GO, REIS (2020, p. 95), faz uma abordagem do ponto de vista do direito, porém fundamentam-se com outros autores nas definições, efeitos, causas, comportamentos, que se resume em conjecturas de observações no sentido de transtorno de personalidade afetos ao meio como crime ou sujeitos a tratamentos.

Tratando as personalidades psicopáticas como sujeitos passíveis de punição, fazendo distinção entre anormal e imputabilidade, pois segundo o (Manual da Sociedade Americana de Psiquiatria – DSM-IV, apud Reis 2020, p. 98),

“... primeiro ponto que deve ficar claro a respeito do psicopata. [...]... relevância, pois interfere diretamente na sua responsabilidade criminal”. [...]... “o psicopata não é um alienado, conservando, portanto, sua plena capacidade de discernimento, podendo perfeitamente distinguir o certo do errado, o bem do mal e de compreender as consequências de suas ações, enfim, por não ser doente mental, é ele imputável, isto é, deve ser julgado e condenado como qualquer outra pessoa”. (Negrito nosso).

Interessante notar, que existe uma linha de pensamentos que consideram a questão dos impulsos instintivos primários, relacionados a abalos emocionais, conforme nota do rodapé, citando art. 26. Parágrafo único, do Código Penal. O que são impulsos diante da exposição anterior, qual a definição do mesmo diante da explicitação da lei.

Segundo Genival Veloso de Franças (2015, p.516) apud Reis (2020, p. 99),

“menciona três tendências, sendo a primeira de caráter constitucionalista, de origem orgânica (biológica), de ordem natural. A segunda causa na formação familiar, portanto, social, sendo um fator de criação e a terceira dentro das perversões raízes na sexualidade”.

Além de outros autores, como o Oroboro divagando sobre possiblidades do transtorno influenciados e potencializados por fatores culturais e sociais e imitativos no seio familiar. Sabemos que na formação nuclear biológico do ponto de vista da socialização visa excluir os diferentes, pois são fomentadores do cao social.

A Psicanálise abrange o ser em relação sua constituição no sentido natural em seu tempo, porém tendo a sociedade como formadores das neuroses, ampliado no sentido das parafrenias das quais se somam aos quesitos de falta, centrado no afeto a incompletude do ser interno que se manifesta.

Freud, quanto ao significado cultural do caráter neurótico, apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p-. 101),

“Os neuróticos são rebeldes devido à fraqueza, não à força; eles atestam as deficiências das restrições culturais. Mas são rebeldes, mal sucedidos, pois pagam um preço demasiado alto por sua revolta e terminam fracassados, virando sua agressão contra si mesmos”.

Porém, as abordagens permeiam os efeitos e suas dimensões, mas não leva em consideração o Antropológico do ser em evolução e adaptação. Freud teve esta preocupação de entender as patologias a partir do ser incompleto, interrompido, que requer uma educação competente e não como depósito de massa humana, formatada cartesianamente como iguais.

Citação de Freud apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.102), diz,

“a ansiedade neurótica vem de uma libido que “não encontrou ocupação”; portanto o sonho, tal como o trabalho, tem um “propósito moralizante”. Mais uma vez a metáfora econômica revela também o ideal freudiano de saúde: uma libido plenamente ocupada”.

Faz distinção entre a realidade do neurótico e do psicótico quanto à atitude, citação de Freud apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.102),

“A neurose não nega a existência da realidade, apenas tenta ignorá-la; a psicose a nega, e tenta substituí-la por outra coisa. Uma reação que combina características dessas duas atitudes é a que chamamos de normal ou “saudável”; como a neurose ela não nega a realidade, mas como a psicose procura modificá-la".

A normalidade é o ajuste do ser quanto o social, assim sempre a contestação é a máxima, sempre há insatisfação, permeado pela dúvida, que para Freud apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p. 102),

“para Freud o homem normal... não se contenta... mas em estabelecer a alternação dentro de si mesmo”. Portanto, “dizia somos todos um tanto histéricos”.

A neurociência a partir da metade do século XX, de forma científica inova esta composição do animal e o ser de uma nova era, portanto a roda da justificativa não mais comporta na visão de especialistas, o laboratório de pesquisa tem que se aproximar na resolução das psicopatias.

Assim como a psicanálise continua em aberto para sua completude forjada em um tempo sem tecnologias, mas que se aproxima em parte de seus conceitos, pois é uma ciência do ser em evolução, não compartimentados, fragmentados, de uma linguagem binária absolutista.

A distinção de um psicopata e de um psicótico, daquele que engana, rouba, do outro que mata em função de suas alucinações, porém são colocados em uma mesma cesta.

O psicopata é aquele que sempre se sentiu enganado, portanto tirar do outro significa aquilo que não recebeu por direito. Na realidade, ele se sente roubado o tempo todo, daí sua necessidade impulsiva de roubar, enganar, ludibriar, aprendizado na convivência familiar nuclear. Há também, aquele por acidentes, por deformações de regiões do cérebro por interrupções neurônicas, necessariamente sua abrangência é maior, até mesmo o meio ambiente de suas escolhas, pois os afins se completam.

Portanto, são efeitos formados na proibição, castração, penalização de um Estado que corrobora para incentivar seus cidadãos, em que a pirâmide é ditada pelo seu cume, pois são resultados dos mesmos mecanismos ontológicos e poderia até dizer filogenéticos.

O psicótico ultrapassa a imaginação, pois tem um componente alucinatório por traumas, ameaças, fixações, medos, dentro de um ambiente familiar destrutivo, que leva a cisão do consciente e inconsciente, com lampejos de realidades. Portanto, perdem a noção do que é normal além de muitos acrescentarem o sadismo, masoquismo como ferramenta de saciar seus prazeres, mesmo que causem dores ou sofrimentos.

Muitos se sentem deuses, pois o poder insano leva-os ao culto da morte, pois se sentem no controle da decisão, completando-se com o sangue na vingança. Exemplos dos necrófilos que matam para não serem julgados pelo olhar de seus fracassos sexuais, preferencias por um corpo gélido sem censura.

Crianças que muitas vezes são diminuídas pelos seus fracassos, recriminações em função das inferioridades paternas, exclusão de políticas que marginalizam os periféricos, portanto não é exclusividade de classes sociais, abastados também são vitimas de tais situações.

Daí, a importância de situar o sujeito em sua dignidade, merecimento, a felicidade se encontra no saber, conhecimento, na sabedoria da experiência, um passado atuante de lembranças, terá um presente prazeroso, satisfatório com as oportunidades, e um futuro moldado na imaginação de completude, não mais de fracassos.

A esquizofrenia quando uma mente dividida, porém fragmentada, rompidos acessibilidades no sentido de ruptura entre o consciente e o inconsciente, o interno não se situa com a exterioridade e vice versa, é como um sonho entre o lúdico, imaginário, se constrói sem dimensão, portanto dependendo de suas representações poderá ser algo destrutivo, negativo, assim como construtivo, positivo, quando suas expressões inconscientes os encaminham para criatividade, pintura e as artes de forma geral.

O preconceito quando estabelecido como mensuração de valores, qualidades, quantidades, ultrapassam o racional, histórico, centrando-se no emocional destrutivo da classificação, nomeação de forma estigmatizada.

Nosso construto como animal humano trazem todas variáveis possíveis, pois somos herdeiros da mesma cepa, o que potencializa se torna ato, reconhecer-se no todo que nos circundam, faz-nos compreender o outro a partir da alteridade, sair do ego encapsulado que coloca o ser no furacão do egocentrismo, narcísico, muitas vezes distante de sentimentos, transformando em coisas (entes), objetos, do ser aí como sujeito da atuação.

A sua Metapsicologia, Freud a denomina como a bruxa, pois ela revela o enigma até então constituído, decifração que adentra ao mundo das subjetividades metafisicas dos sonhos, desvelando o idealizado inconsciente como linguagem, um dialeto sujeito a interpretação, dentre outros, que a Antropologia linguística situa em suas pesquisas atuais.

Citação de Garcia-Roza (2000, p. 11-12),

“O Psicanalista é aquele que suspeita, que sabe que nosso relato é um enigma a ser decifrado, mas que sabe também que através desse enigma uma verdade se insinua. [...] ou um dos enigmas da psicanálise – reside nesse fato desconcertante e perturbador: o de que somos dois sujeitos, um dos quais nos é inteiramente desconhecido. [...] O que não é verdadeiro, mas também não é inteiramente falso. A prática psicanalítica não exclusivamente reveladora de algo já pronto e previamente existente, ela é também produtora do próprio desejo”.

Constituindo-se em uma técnica de linguagem, que tem a fala no sentido simbólico, construto de uma elaboração manifesta, que em sua latência a algo interrompido a ser decifrado, não no sentido de adivinhação, mas de conteúdos desvelados pelos sonhos, gestos, movimentos, expressões, involuntárias de mecanismos observáveis que denotam sinais, assim como a linguagem dos mudos e surdos, dando-lhes significações.

Os sonhos foram à porta de entrada para os primeiros contatos, assim como o recalque que afloravam nos conflitos das abordagens iniciais de suas primeiras pesquisas, para tanto, citação de GARCIA-ROZA (2000, p. 21), diz,

“Passados trinta anos e tendo já escrito a quase totalidade de sua obra, Freud faz a seguinte declaração no prólogo à terceira edição inglesa de A interpretação do sonho”: “Este livro... contém ainda de acordo com meu julgamento atual, a mais valiosa de todas as descobertas que tive a felicidade de fazer. Um insight como este acontece a alguém apenas uma vez na vida”.

Traz de forma revolucionário, daí ter sido considerado um dos homens que mudaram a sociedade, marco do século XIX, como tantos outros. O simbólico se apresenta como algo voltado somente as questões sociológicas ou etnológicas, mas como transcendente na evolução da linguagem.

Citação de GARCIA-ROZA, (2000, p. 126), que diz:

“O simbólico não é aquilo cuja gênese deva ser explicada pela sociologia ou pela etnologia, mas aquilo de deva ser considerado como dado, como ponto de partida do social e do cultural. Não há sociedade humana, nem cultura, anteriormente é emergência do pensamento simbólico. O simbólico não é o ponto de chegada do social, mas seu ponto de partida. A própria comunicação entre seres humanos não é possível senão em função de um sistema simbólico que fenda a linguagem e torna possível o social humano”.

Portanto, nos remete aos inovadores com propósitos que divergem do sentido inicial do pensamento freudiano, apenas para ilustração a afirmação de SAUSSURE apud GARCIA-ROZA (2000, p. 127-128),

“... a língua é um sistema, uma forma e não uma substância [...] distinguia “língua” (langue) e “fala” (parole), sendo a fala o ato singular pelo qual dois sujeitos se comunicam, e a língua um sistema sobre o qual repousam as possibilidades dessa comunicação de significações. Enquanto a fala e variável, a língua é estável. Dessa forma, o sistema (a língua) persiste e somente o jogo das oposições internas ao sistema pode variar, sendo que é esse jogo que torna a significação possível [...] Portando, não pode haver pensamento antes do aparecimento da língua. A língua não “traduz” o pensamento em palavras, ela funda a possibilidade do próprio pensamento. Não há idéias preexistentes que seriam a “substância” da língua, a língua é pura forma”. (Negrito nosso).

Diferenças marcantes de um linguista voltado à gramática com expressões de seus signos nas escritas, diferentemente da simbologia quanto construto da psicanálise, pois esta remete ao pensar primitivo que antecede a linguagem, situando-se no parole como comunicação, ainda fundamentado nos gestos, expressões corporais, movimentos que nos remete as falas iniciais dos gregos.

Importante tal definição, pois colaboradores, variantes idealizadores nos seguimentos dos estudos da psique, muito contribuíram para sua divulgação em suas diversidades que culminam no que podemos chamar de babelização da psicanálise.

O INCONSCIENTE E O CONSCIENTE

Sua importância como conceito, instância, lugar, nos traz a linguagem próxima de um dialeto na composição entre manifestações do interno em relação a sua exterioridade na formação de um estado consciente.

Algo criado a partir da percepção da escuta, instrumento de todo analista que vai além do ouvir, somente alguém com a sensibilidade e propósito como FREUD, para alcançar o pensamento, quanto elaboração de uma mente, dar a ela significados, rompendo com o mundo das aparências, trazendo luz a sombra do ser absolutista, no parto das idéias socrático.

Toda teoria freudiana tem como objetivo e fim o ser no sentido de lugar Aristotélico de ocupação, situação singular de forma a multiplicidade que cada sujeito é constituído. O processo consciente ganha outra dimensão até então limitada ao orgânico, biológico, traz em sua subjetividade, assim como em sua metafísica, substância concreta ao mundo real.

Entender o processo de seu desenvolvimento com intuito humanista, despojado, focado nas ciências que não estabelece limites no conhecer, porém respaldado pela ética e a bioética como parâmetros do não exceder.

A teoria do recalque ou da repressão é por meio dela que a noção de inconsciente ganha sua especificidade no âmbito do pensamento Freudiano, sendo progressivamente desenvolvida e elaborada até transformar-se em um conceito metapsicológico fundamental. Ao contrário do que se apregoam certas narrativas sobre o inconsciente e sua história dentro da psicanálise, não foi Freud o primeiro a falar sobre o mesmo. As primeiras manifestações curiosas sobre os estudos da histeria, somadas aos aprendizados com seus mestres, Freud percebe detalhes do qual chamou de recalque, algo guardado, não manifesto, mas que no primeiro momento tratava como consciente, no decorrer de seus experimentos, surge à possibilidade de algo interno, chamado de segundo consciente, daí inconsciente. FRÓES E VIANA (2013) apud MOLINA (2018, p. 24)

Segundo FRÓES E VIANA (2013), apud MOLINA (2018, p. 24),

“diz que em linhas gerais, o inconsciente se desenha a partir do conceito de recalque estava calcado no modelo da divisão da consciência. A idéia de uma divisão da consciência esta intimamente ligada como os fenômenos da dupla e da múltipla personalidade e também da hipnose, que acabaram servindo de modelo para pensar principalmente a histeria e, agora com Freud, até mesmo outras neuroses e a própria psicose. Até então a dissociação da consciência era considerada fenômeno patológico ou ação sobre a consciência “normal”, explicava a causa de ataques e sintomas histéricos. motivações o levam ao uso do inconsciente parte de algo interno que se manifestava, porém sem a consciência dos analisados, utiliza-se o termo pela contradição dos opostos”.

De acordo com os autores citados, Freud manteve o modelo de divisão da consciência em sua abordagem, sobre o inconsciente, promovendo, entretanto, significativas alterações e acréscimos, dentre outros modelos que surgiram de acordo com as abordagens e seus desenvolvimentos. Freud compartilha com outros autores a noção de que existe um aquém da consciência, em que percepções e representações encontram guarida quando não se fazem presentes na consciência, tendo, no entanto, o poder de influenciar o psiquismo.

Daí, a mudança de um inconsciente cerebral, que a partir do “Projeto para uma Psicologia Científica”, Freud opta pela concepção puramente psicológica do inconsciente. Tal despertar parte para conceitos que como resolução a idéia de uma topologia do aparelho psíquico em inconsciente, pré-consciente e consciente em mais tarde com as suas instâncias, ego, superego e id.

As observações iniciais Freud, havia detectado que algo sinalizava no ser alguns registros dos quais chamou de recalques primários, depois compôs com os secundários, dos quais tais registros em uma ordem filogenética instalada, denominado de arcaico. O conceito de inconsciente perpassa por estas observações, daí do recalque guindado à pedra fundamental da psicanálise, cuja referencia de forma dedutiva o leva ao sistema do inconsciente, sub-inconsciente e consciente na primeira tópica. Citação de HANS (1996, p.171, apud CHIARADIA 2006, p. 17),

“Até então, havia apenas a referencia a processos inconscientes e processos conscientes, ou ainda ao estado inconsciente de uma determinada representação ou de um conjunto de representações, mas o termo “inconsciente” era empregado adjetivamente, para designar que tal processo ou tal representação estavam fora do campo da consciência. A partir da elaboração do modelo de aparto apresentado no capitulo 7 da Traumdeutung , o inconsciente passa a ser concebido como um sistema, com uma estrutura e um modo de funcionamento distintos do sistema pré-consciente/consciente. E o operador dessa distinção, e o que reponde pelo modo de ser do conteúdo do inconsciente, é precisamente o recalque”.

Portanto, Freud percebe que registros posteriores compõem representações arcaicas no que denomina recalques primários de forma filogenética constituem o inconsciente, em que o ser humano em função de sua cognição vai se constituindo o consciente. Assim como o recalque secundário foi se constituindo pela interação do consciente e o inconsciente, diferente da repressão, esta por sua vez instalada na fase do ego, ou seja, na socialização.

Devemos lembrar alguns conceitos, assim como a etimologia das palavras de uso por Freud, diante de sua formação médica e visão do ser constituído de uma anatomia, fisiologia que adentrava ao mundo das idéias, de forma empírica, a sua psicologia da mente, cujos parâmetros se baseavam nos limites do absolutismo, regente até então, entra o corpo e alma de cartesius.

O Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno (1968, p. 3775), o significado de “sistema”, diz:

“Complexo de princípios coordenados entre si; corpo de doutrinas cujas partes estão todas dirigidas para um mesmo fim. Plano, método, construção, seriação bem ordenada de princípios. Práticas ou idéias, etc. Em medicina, sistema é o conjunto de órgão semelhantes, que possuem estrutura comum, por exemplo, o sistema muscular, nervoso, sanguíneo, etc. Gramática. Systema, de synístemi, estou junto de”.

Continuando, o significado de “instância”, Silveira Bueno (1968, 1947),

“Insistência, pedido, suplica, solicitação; tribunal de apelação; conjuntos de actos jurídicos de um processo. Lat. Instantia de instare” [...] “Além da qualificação daquilo que é eminente, do que pode acontecer a qualquer momento, do que está prestes a acontecer, iminência”. (Google Dicionário de definições de Oxford Languages, 02/06/2021, às 12h22min horas).

Trazer a nossa memória tais significados para entender sua época, cultura, como continuadores na conservação da ciência como norte do iluminismo como objetivo inicial, trazer luz, iluminação as sombras do homem dual que se apresentava em sua evolução dicotômica com o advento da modernidade cartesiana.

Portanto, a topologia freudiana é uma ideação, resultado de sua prática, fundamentado no recalque aflorado em suas analises, depois amparados pelos sonhos relatados com seus simbolismos, do qual surgem os dialetos das interpretações possíveis para compor seus significados.

O grande diferencial do inconsciente freudiano esta no significado do pensamento como linguagem, diferente de todos outros surgentes, portanto a fala é o instrumento de comunicação, porém amplia além dos fonemas e grafemas.

Fazendo com que aquilo que trazia o ser humano primitivo se ilumine a sombra do desconhecido, desse ser instintivo quando situado do ponto de vista do socializado. Donde surge a terminologia das neuroses (nevrose), doenças dos nervos de um ser interrompido em seus instintos, desejos, vontades. Recalques que observa em sua clinica, diferenciando do sentido de repressão, supressão, distorcidos pelas traduções sequentes, porém fazia uma distinção entre as duas situações.

Hoje poderíamos situar dentro da neurociência a relação com memória curta e longa duração, pois em sua construção dos neurônios quando define as funções dos neurônios permeáveis, impermeáveis, sensitivos no sentido de qualidade. Sendo os permeáveis àqueles que não retinham quantum de energia, ficava situado ao consciente reprimido, enquanto os impermeáveis retinham como catexiado desse quantum de energia, armazenando assim os conflitos, memórias, resultados dos recalques. Os sensitivos, hoje os terminações nervosas, captadores sensórios, receptores qualitativos de percepções, abstrações, como agentes de interações entre a exterioridade e interioridade dos organismos vivos.

Que segundo Freud (1927, p. 59 apud Chiaradia 2006, p. 60), que... ”o tratamento analítico tem dentro de muitos objetivos, substituir os recalques se seus efeitos, como resultados da operação racional do intelecto”.

Portanto, tal configuração idealizada dos sistemas tem como objeto a harmonização, equilíbrio do homem de dentro com o homem de fora, que perpassa pela cognição, ou seja, sua interação com a exterioridade e os registros arcaicos de sua interioridade no que diz a sua ontologia e filogenética.

Dentre as muitas definições de inconscientes, trago a citação de MOLINA (2018, p. 18),

“No inconsciente não há apenas tendências indignas, mas registros históricos, de uma evolução primitiva herdada no sentido filogenético, ali residem o homem bruto, adormecido no passado, em suas mais repulsivas essências que somente é abafada pela socialização, castração, impedidos por forças de leis e ordens estabelecidas”.

Hoje, o inconsciente é algo que se constituiu a partir de uma idéia e como tal fora tratado como algo localizável, portanto nunca foi à proposta de Freud, e sim, constituir um sistema de sincronicidade dentro do conceito físico de seu tempo, assim como de complementaridade, conforme citação do professor W. Pauli em sua correspondência apud (JUNG, C.G., VIII/2, 2000, § 439), citação 149, na integra,

“Provavelmente os meus leitores terão interesse em conhecer a opinião de um físico a este respeito. O Professor Pauli, que teve a gentileza de ler o manuscrito deste meu epílogo, escreveu-me as seguintes palavras”: “De fato, o físico esperaria uma correspondência psicológica neste ponto, porque a situação epistemológica relativamente aos conceitos de “consciência” e de “inconsciente” parece uma analogia bastante aproximada com a “complementaridade” abaixo mencionada, na Física De um lado, só se pode deduzir o inconsciente, isto é, qualquer percepção consciente dos conteúdos inconscientes exerce um efeito reativo inicialmente incontrolável sobre estes mesmos conteúdos inconscientes (o que, como sabemos, exclui em princípio a possibilidade de esgotar o inconsciente tornando-o consciente). Assim, o físico concluirá, por analogia, que este efeito retroativo incontrolável do observador sobre o inconsciente limita o caráter objetivo da sua realidade e ao mesmo tempo confere a esta certa subjetividade. Embora a posição do “corte” entre a consciência e o inconsciente (pelo menos até certo ponto) seja deixada à livre escolha do experimentador psicológico, conteúdo, a existência deste corte continua sendo uma necessidade inevitável.

Em consequência, do ponto de vista da Psicologia, o sistema observado consistiria não só de objetos físicos, como também incluiria o inconsciente, ao passo que à consciência caberia o papel de instrumento de observação. É inegável que o desenvolvimento da “micro física” aproximou imensamente a maneira de descrever a natureza nesta ciência daquela da Psicologia moderna: ao passo que a primavera, em virtude da situação de princípio que designamos pelo nome de complementaridade, se vê em face da impossibilidade de eliminar os efeitos do observador com correções determináveis, sendo, assim, obrigada a renunciar, em princípio, a uma compreensão objetiva dos fenômenos físicos em geral, a segunda pode suprir a Psicologia meramente subjetiva da consciência, postulando a existência de um inconsciente dotado de um alto grau de realidade objetiva”.

Explicação esta que corrobora com a subjetividade de seus significados, porém que objetiva em seus propósitos como sistema, de uma época que tinha como premissa a analogia de fatos observados de manifestações mentais como linguagem, que ora a neurociência pesquisa dentro de algo real nas manifestações do cérebro, cuja plasticidade em suas circunstancias dinâmicas, passíveis de estudos com equipamentos desenvolvidos que facilitam o contato direto com sua luminescência funcional.

A formulação das instâncias foi um marco de sua idealização, pois traz em seu bojo significados profundos da composição antropológica do ser humano, ou seja, sentido de que em sua evolução nas transições, como necessidade de sobrevivência, desejos, vontades, impulsos, afetações, se constituía em instintos desse animal primitivo, adentrando-se se acomodando há um mundo socializado.

Pensar o cérebro constituído de um sistema, pois é a base das instâncias idealizadas do Id, Ego e Superego, para estruturá-lo em seu tempo, passado, presente e futuro, formulando assim sua topologia.

Portanto, o inconsciente freudiano se difere de muitos outros conceitos que foram surgindo, assim como tínhamos como referencia, principalmente relacionados aos sonhos, que antecede algumas civilizações, tão bem explorada por Jung na sua psicologia Analítica.

Ciente sobre o que o humano trazia em sua sombra dá o significado de inconsciência a esse primitivo interrompido pela socialização, nascem às neuroses como instrumentos de impedimento aos seus instintos, desejos, vontades. Recalques que observa em sua clínica, diferenciando do sentido de repressão ou supressão, distorções de interpretações, muitas vezes entendidos na viabilização, adequação nas línguas traduzidas, porém danosas nas distorções dos conceitos iniciais de sua ciência.

Salientar, que na época em seu tempo, muitas coisas aconteciam para influenciá-lo em suas pesquisas, movimentos naturalistas atuantes, além dos chamados fisicalistas, descortinava o relativismo, uma revolução do pensar, rompendo com o absolutismo.

Surgindo o materialismo dialético de Marx, mais tarde os fenomenologistas, assim como os existencialistas, consequentemente os divergentes, chamados discípulos da psicanálise discordantes, atuam para novas formulações como parte do movimento progressistas dos positivistas.

Devemos colocar entre os detratores disfarçados dentro da psicanálise por parte de autoridades em psiquiatria, psicologia, ciência das relações humanas como sempre se repetiu na história recorrente até os momentos atuais.

Alguns detratores não entenderam suas analogias quanto à construção da sua idealização de seu sistema e instância, baseados em uma medicina contemporânea, fundamentada no medievo, com pequenas aberturas no então ao sagrado terreno biológico do ser.

Principais divulgadores da ciência freudiana, pois seus alardes despertaram curiosidades, se tornando a bola da vez, porém no furacão, guerras dos atuantes eugenistas preocupados com sua ciência, partem para a desqualificação de sua pesquisa, situando-a como algo de judaico apenas, dentro do contexto.

Corajoso, destemido, um guerreiro por acreditar em sua ciência, é resgatado como moeda de troca por Bonaparte que luta pela sua libertação, separação traumática de toda sua família, mesmo assim não desiste, parte para França.

Sacramentando assim, a psicanálise em sua base analógica, sua estrutura de um sistema formado pelo inconsciente e o consciente, constituindo-o com suas instâncias, ampliando assim, o ser no seu tempo, como partículas atômicas de um corpo que atua em seu espaço, significando-o em seu lugar aristotélico, no sentido de ocupação e preenchimento.

A subjetividade sai de sua metafisica e se adentra ao mundo concreto, mudanças de paradigmas sendo questionados, mesmo diante de muralhas de resistências, sempre esta em evidência com seus simbolismos.

Permanece o pensamento uma incógnita, mesmo diante dos avanços das neurociências, apesar de todo mapeamento conhecido desse universo chamado cérebro, não é domínio ainda do saber, assim diz, DAMÁSIO, (2006, pg. 279).

O ID, O EGO E O SUPEREGO SUAS INSTÂNCIAS.

O id, traduzido como o “isso” no sentido de coisa, algo constituído no tempo, registros primitivos ontofisiogenético, que antecede as hordas, nos remetem aos mitos de criação, em que o sujeito solitário sobrevive graças à coletividade. Portanto, uma instância idealizada, representação da sobrevivência instintiva, moldada aos impulsos, desejos, ainda em processo de conscientização.

Traz como companheiro o Ego, seu sucessor, este representante no processo de conscientização social, pois como referência a exterioridade do ser, norteado pelo sentir, ouvir, ver, como norteadores sensitivos na construção cognitiva primal do ser. Portanto, o Ego forjado na socialização, um sujeito interrompido, sujeito a regras, oriundos tribais, depois a socialização na composição das primeiras polis, adquiri aí todo mecanismos de defesas, para conter seus segredos reprimidos e recalcados.

Por último, guardião da moralidade, o Superego da censura, oponente do Id, ajustador do Ego, vigia constante dos valores sociais, juiz dos irmãos menores, tendo o Id sob sua vigilância, seu desafeto, pois sempre transgressor. Instância da manutenção social, que interage entre o mundo real e o imaginário, situando o ser na capacidade de juízo, ou seja, sentido do significado do julgamento, porém polarizado, dentro de sua arquitetura psíquica.

O atualizar, assim como resgatar a essência das definições em toda sua amplitude interpretativa é fundamental, para situar a importância que teve e tem a psicanálise no meio cientifico, principalmente a partir da segunda metade do século XX, o cérebro representado pelo micro, assim como o cosmo as grandezas que transcendem as nossas curiosidades, caminha cada um em sua ordem, desvelando o futuro, promissor pelo processo de conscientização do ser em seu tempo.

INSTINTO FREUDIANO

Vamos fazer uma retrospectiva dos primeiros significados do qual relato Freud em seu livro XIV, (2006, p.117), tradução Inglesa “Instincts and their Vicissitudes” traduzido para o Português, “Os Instinto e suas Vicissitudes”, importante à relação com a tradução em Espanhol de Ballesteros (1948, p. 793), sobre o mesmo tema.

Há uma convergência no sentido inicial do significado de “instinto”, o que nos leva ao entendimento que o termo esta relacionado à condição natural do humano, assim como a natureza animal. Portanto, a construção é tratada como um componente intrínseco ao ser, cujas manifestações são mecanismos relacionados às funções do desenvolvimento de uma fase primária para o sucedâneo da fase secundária.

O componente das observações que leva o sujeito daquilo que Freud denomina como perversão, este relacionado com a repressão do ponto de vista da socialização. Motivo pelo qual as distorções ocorrem em função das fixações, pelo fato da incompletude de cada singularidade no processo de sensibilização da fase oral e anal, consequentemente resquícios que vai compor o sujeito em outras fases da vida em desenvolvimento.

Trata do termo “instinto”, relacionado à libido (Eros) sempre voltada a sexualidade, pois observa que sua antítese será o instinto de morte (Tanatus), e que na primeira infância como referencia para os fatos observados.

Segundo LAGACHE (1966, p. 29), “Quando Freud fala de instinto é no sentido de um comportamento animal fixado pela hereditariedade e característico da espécie".

Como um bom cientista, suas idas e voltas nas teorias, são de fatos observados, pois o empirismo até então como elemento de correlação com outros teóricos na construção de uma base na recomposição de certa “normalidade”.

Citação, FREUD apud BALLESTEROS (1948, p. 794),

“El instinto sexual de los psiconeuróticos muestra todas las aberraciones que hemos estudiado como desviaciones de la vida sexual normal y manifestaciones de uma vida sexual patológica”.

Fica evidente em Freud que o instinto é uma energia de vida, cujo organismo em sua evolução foi um instrumento de sobrevivência da espécie, de forma natural relacionado à reprodução, que com a repressão foi norteando para a psiconeurose, desembocando para as parafrenias, em função das proibições.

Citação, FREUD (2006, p. 118), formulação depois do caso Schreber (1911c), descreveu o instinto, “o conceito na fronteira entre o somático e o mental..., o representante psíquico das forças orgânicas” [...] “o representante psíquico de uma fonte de estimulo endossomática, continuamente a fluir”. (Três Ensaios 1905 d, Vol. VII, 1972, p. 171).

Portanto, o instinto como uma força produzida pelo soma, que transita pelo mental, fonte da excitação de uma representação atuante que causada por estímulos endógeno ou exógeno em função do meio, fator de produção das perversões, inversões gerados por representações deformantes da naturalidade do ser quanto sua natureza em contraposição impostas pela socialização repressora.

Abriram-se assim reflexões profundas quando de suas observações na fase infantil, correlacionando o prazer na manutenção da vida de uma criança em seu desenvolvimento, contrariando conceitos religiosos de uma época de transição entre polaridades do corpo e de uma alma, ainda dentro dos conceitos do modernismo cartesiano.

Deformações até então constituídos, porém na atualidade temos outras ciências para clarear tais proposituras, reafirmando, assim como renovando de forma salutar a compreensão do homem em seu desenvolvimento antropológico e social.

Citação, FREUD (2006, p.123), “A física proporciona excelente ilustração da forma pela qual mesmo ‘conceitos básicos’, que tenham sido estabelecidos sob a forma de definições, está sendo constantemente alterados em seu conteúdo”.

Cuja correlação entre o instinto como potencias, e o impulso como ato no sentido aristotélico das manifestações físicas e metafisicas, objeto constante das reflexões filosóficas como centro de posicionamentos temporais, inclusive na atualidade.

IMPULSO

A depuração se faz necessária, pois as terminologias que são representadas por signos que perpassam pelos fonemas e grafemas, em suas representações, muitas vezes não definem um sentimento como resposta de sensações de um sentir provocado por manifestações sensitivas de um corpo.

Para tanto, colocamos acima dentro do conceito das subjetividades metafisicas aristotélicas para definir o sentido entre instinto e impulsos, assim bem o define Freud no significado entre o soma e a mente (psique).

Citação FREUD (2013, p. 8),

“Apesar de sua relativa “obscuridade”, admitida aliás, pelo próprio Freud, o conceito de pulsão ilumina a metapsicologia e demarca a especificidade da clinica psicanalítica. Ao discutir os fundamentos de nossa economia sexual, Freud também desenha um quadro sinóptico dos destinos das pulsões. Uma pulsão pode, ainda que parcialmente, satisfazer-se num objeto, provocando prazer; pode ser revertida em seu oposto; pode retornar ao próprio Eu; pode ser recalcada, sublimada, etc. A gramática dessas transformações é apresentada de modo claro e sucinto. Os destinos das pulsões dependem de fatores os mais diversos, ligados às contingências dos encontros e dos desencontros da vida de um sujeito”.

Portanto, a definição de instinto (Trieb) do alemão deve ter uma dimensão dentro do contexto de seu significado semântico, porém pulsão deve ser entendida como potencia de algo que se manifesta dentro de algo pulsional, mas que pode não ser realizada diante da pulsão, antecipação quando conscientizada de sua não realização. Enquanto instinto, algo relacionado ao antropológico, como inerente a sobrevivência do corpo em seu tempo espaço.

Uma discussão ampla dentro dos desafios entre sua natureza linguística, epistemológica e clínica do qual vamos discorrer. FREUD (2013, p. 10).

Segundo LAGACHE (1966, p. 29), “Quando se fala de impulso, é no sentido de um “ímpeto” energético e motor que faz tender o organismo para um fim”.

Dentro de uma visão da pulsão gerada por estímulos do lado fisiológico, citação FREUD (2013, p. 17), “Essa nos deu o conceito de “estímulo” e o esquema do arco reflexo, segundo o qual um estímulo trazido de fora e que atinge o tecido vivo (substância nervosa) é descarregado para fora por meio da ação”.

Ação esta que age de acordo com o estimulo externo, assim como um reflexo, picada de algo, incomodo qualquer que ocorra nos sentidos, seja visual, auditivo, sensorial, olfativo e gustativo. Portanto, diferentes estímulos, desde fisiológicos e sua atuação no soma. Sendo a pulsão uma força constante, pois esta relacionada à necessidade, quando conscientizada por um impulso, torna-se preventiva de atuação produtiva. FREUD (2013, p. 10).

Poderíamos concluir que além de um arco reflexo fisiológico, com contrações musculares, alcança sua meta, estimulando assim funções executivas, citação FREUD (2013, p. 23),

“... pois, que são as pulsões, e não os estímulos externos, os verdadeiros motores do progresso que conduziram o sistema nervoso, com sua infindável capacidade de realização, ao seu tão elevado patamar atual de desenvolvimento. Certamente, nada nos impede de supor que as pulsões mesmas sejam ao menos em parte precipitados dos efeitos de estímulos externos que, no decurso da filogênese, atuaram de forma transformadora sobre a substância viva”.

Quando Freud sugere que há duas qualidades de pulsões, sendo a voltada para o “eu” e as sexuais, diz, FREUD (2013, p. 31).

“A Biologia ensina que a sexualidade não se equipara a outras funções do indivíduo, já que suas tendências estão acima do individual e têm por conteúdo a produção de novos indivíduos, logo, a preservação da espécie. Ela nos mostra, ademais, que há duas concepções coexistindo justificadamente a respeito da relação entre o Eu e a sexualidade; uma, segundo a qual o indivíduo é o elemento principal, sendo a sexualidade valorizada como arma de suas atividades e a satisfação sexual como uma de suas necessidades, e outra para a qual o indivíduo é um apêndice temporários e evanescente de uma plasma germinativo quase imortal, que lhe foi confiado pela transmissão geracional”.

Em pulsões e seus destinos, Freud observa que as mesmas podem ter direcionamentos dos mais variados e sendo um componente importante nas formações psiconeuróticas, assim como um direcionar por reversão em seu contrário, ou a própria pessoa, recalcada ou sublimada, como defesa de forma paroxística. FREUD (2013, p. 35).

Em carta para seu amigo Ferenczi, segundo (GAY, 1989, P. 334 apud FREUD 2013, p.95),

“Freud resolve fazer uma síntese de sua metapsicologia, vinha de uma grande decepção com Adler, Jung, nas reformulações discordantes de suas teorias, isso tudo no final de 1915, dos dozes artigos, apenas cinco foram concluídos, sendo o primeiro dedicado às pulsões. Isto tudo porque chega à conclusão que a pulsão é “anterior” ao inconsciente, até mesmo ao aparelho psíquico, sendo ela a ligação entre o corpo e a psique”.

Sendo um marco em sua epistemologia como fundamentos as pulsões, qualificando-a a condição de importância ao inconsciente, pois ela antecede na formação do organismo somático, funções fundantes de mecanismos pulsionais na composição de todo um sistema de vida.

De forma sistemática prioriza o conceito de pulsão, em função dos descaminhos surgem em seus entornos, motivadas por reacionários, colocando em risco sua psicanálise, para isso, “não apenas coloca lado a lado a pulsão e o inconsciente, mas privilegia esta como estratégia ao mesmo tempo, epistemológica e político”. FREUD (2013, p. 99).

Na teoria de pulsão, tivemos uma primeira teoria, até meados de 1920, que distinguia os impulsos sexuais, cujas manifestações dinâmicas, denominadas “libido”, e os impulsos do ego. Baseados na clínica com a descoberta do recalque e seu papel na teoria das neuroses, diz LAGACHE (1966, p 29),

“sendo que à satisfação sexual se opõem a angústia, a culpabilidade, o ideal moral ou estético do ego; as forças opostas às tendências sexuais e que servem à preservação do ego são então chamadas “impulsos do ego”. [...] O conflito dos impulsos sexuais e dos impulsos do ego é o sentido do conflito neurótico; o recalque é o resultado da predominância dos impulsos do ego”.

Sua segunda teoria dos impulsos situa entre impulsos de vida (Eros) e de morte (Thanatos),

“... em que na mesma unidade a oposição da autoconservação e da conservação da espécie, como a da libido narcísica e da libido “objetal”; seu fim é a “ligação” (Bin-dung), isto é, o reconhecimento de unidades cada vez maiores e que podem dêsse modo persistir. Os impulsos de morte é de destruição, ou Thanatos, tem por fim a dissolução dos conjuntos, sendo o fim de todo ser vivo e a volta ao inorgânico”. LAGACHE (1966, p 30),

Surgindo mais tarde sua bruxa a Metapsicologia, dentro de um construto epistemológico, tendo como base todas suas experiências como pesquisador, solidificando sua ciência com suas práticas clínicas. Resgata assim, seu propósito na formulação de seu Projeto de uma Psicologia, que paralisado na época, pois não havia até então embasamento concreto, apenas suas idéias de uma topografia cerebral de forma dedutiva e comparativa com seus experimentos.

Importante citação FREUD (2013, p. 109), quanto à literatura diz:

“Dono de um estilo límpido, merecedor do prêmio Goethe pelas qualidades literárias de sua prosa, recusou veementemente que sua doutrina fosse identificada à literatura, embora nunca tenha deixado de recorrer aos seus poetas e romancistas preferidos, ali onde a cadeia de razões parecia encontrar seus limites. O resultado é uma curiosa combinação de pretensão epistêmica repousada no modelo naturalista da ciência e de confiança inabalável no valor cognitivo e heurístico da ficção e do mito”.

Devemos situar espaço clinico, dizer que é apenas um lugar de fala e escuta é reduzir no sentido linguístico, porém o lugar em que situa o setting analítico em que aflora a linguagem do inconsciente é muito mais amplo do que a elaboração da fala, assim como o despertar para escuta, que esta além do ouvir.

Considerando o filogenético, assim como o ontológico em uma dimensão antropológica e na construção de um dialeto dentro da simbologia mental se constitui a análise clinica propriamente dita. Reduzi-la a literatura é diminuir o sentido real de seus significados, centrando a temática em uma situação de elaboração semântica em que a gramática, o léxico, cuja dimensão da mente caótica não pode ser mensurada pela matemática, lógica do um mais um é dois.

Para uma mente evolutiva, pontuar a lógica da Mathesis é aprisionar o sistema idealizado por Freud, pensado a partir da grafia propriamente dita, em uma condição pós-civilizatória contemporânea social.

Vale salientar em 1895 em seu Projeto de uma Psicologia Científica, carta endereçada ao seu amigo Fliess, (FREUD 1895, p.30 apud FREUD 2006, p.118), diz: “O aparelho psíquico, ou, mais precisamente, o aparelho neuronial está “exposto sem proteção” às pulsões oriundas do elemento somático, e nisso “reside à mola pulsional” [Triebfeder] do mecanismo psíquico”.

Quando estabelece as questões endógenas e exógenas, ou seja, em que a pulsão situa em uma exposição somática advinda de fenômenos externos, aqueles intrínsecos a sexualidade de uma atuação pulsional interna filogenética.

Situa a sua bruxa chamada Metapsicologia, em detrimento das afirmações científicas de sua psicanálise, preocupado com o ser humano dentro de sua convivência dual, estabelecendo assim, como um arqueólogo o surgimento do homem interiorizado do amanhã.

RECALQUE E REPRESSÃO

Um tema que de tantos outros em sua tradução distanciaram-se de seus conceitos originais, assim distorções casuísticas deformam seus significados, por ser tão importante dentro do contexto da psicanálise.

Segundo Laplanche e Pontalis (2001, p. 458), observa que o termo “repressão” é usado com frequência em Psicanálise, mas o seu uso esta mal codificada. Devido ao conceito alemão Verdrängung ter sido traduzido para o Inglês como represion, dando origem para o Português como repressão. Sugerindo o termo supressão como equivalente em alemão Unterdrückung. Sendo a repressão o sentido restrito pelo caráter consciente e não inconsciente.

“... a repressão opõe-se, sobretudo no ponto de vista tópico, ao recalque. Neste, a instância recalcante (o ego), a operação e o seu resultado são inconscientes. A repressão seria elo contrário, um mecanismo consciente atuando ao nível da “segunda censura”, que Freud situa entre o consciente e pré-consciente; tratar-se-ia de uma exclusão para fora do campo de consciência atual, e não de passagem de um sistema (pré-consciente – consciente) para outro (inconsciente). Do ponto de vista dinâmico, as motivações morais desempenham na repressão um papel predominante”.

Para tanto, citação de Aristóteles (1973, p. 31 e 35), apud MOLINA (2018, p.12), tento como marco da Psicologia Ocidental, quanto ao uso da dialética como deformadora na execução da linguagem, acomodação de ajustamentos do real, diz:

“É bom, além disso, trocar um termo por outro mais familiar – substituir, por exemplo, “exato”, por “claro” ao descrever uma concepção e “estar ocupado”, pois quando a expressão é mais familiar torna-se mais fácil atacar a tese. Esta norma é também utilizável para ambos os fins, isto é, tanto para estabelecer como para lançar por terra um ponto de vista. Devemos também definir os erros que ocorrem nos problemas. São eles de duas espécies, causados ou por um juízo falso, ou por uma transgressão da linguagem corrente. Porquanto aqueles que formulam juízos falsos, afirmando que um atributo pertence a uma coisa quando não lhe pertence, cometem um erro; e aquele que chama os objetos pelos nomes de outros objetos transgride a terminologia estabelecida”.

De acordo com Chiaradia (2006 apud Molina 2018, p. 12), considerando o ambiente suas características naturais de localização, observância dessas características se faz necessárias, tendo em vista as significativas influências, por elas exercidas, que irá ou afetar as potencialidades determinantes para os propósitos objetivados.

Para Chiaradia (2006 apud Molina 2018, p. 12), o significado de Recalque, também chamada de adução, ou transporte de fluidos do ponto de vista hidráulico e um determinado ponto a outro (geralmente para um local mais elevado), utilizando-se, para tanto, um sistema de bombeamento.

Uma determinada força foi ativada, assim como o mecanismo idealizado por Freud na tentativa de seu Projeto de uma Psicologia, definindo como um “Q”, quantum de energia quando guindados e retidos pelos neurônios impermeáveis, ali se instalava algo aduzido e armazenado no inconsciente.

Sendo assim possível acessar tais informações, por um mecanismo do qual chamou de insight (compreensão súbita de alguma coisa) que estimulado por algo, vence seu mecanismo de defesa (resistências), liberando assim a retenção desse quantum “Q” de energia retida.

Podendo, atingir o ápice de seu expurgo, quando uma mobilização de algumas placas (sedimentos) que compõe o recalque a denominada catarse, assim dissipando de forma definitiva de sua memória de longo prazo, liberando, aliviando seus neurônios, tornando-os permeáveis, mecanismo de conscientização. Ou seja, o inconsciente freudiano não é algo absoluto, assim como os registros recalcados são como camadas no imaginário, sua analogia sedimentos é uma analogia com as rochas sedimentares, que por sua vez se dissolve quando aplicação de uma força, causando efeito cascata na sua dissolução.

O estimulo no uso da dialética freudiana provoca tal mobilidade no processo de escuta, quando há ressonância a lembrança sofre um deslocamento, gerando assim o esvaziamento, sentido de liberdade de algo que o aprisionava em função de traumas, desejos, vontades, etc.

Em seu Dicionário Critico RYCROFT (1975, p.211), define,

“REPRESSÃO, processo (mecanismo de defesa) através do qual um impulso ou idéia inaceitável é tornado INCONSCIENTE. Freud fazia distinção entre repressão primária, através de que o surgimento inicial de um impulso instintual é impedido, e a repressão secundária, através de que os derivativos e as manifestações disfarçadas do impulso são mantidos inconscientes. ‘O retorno do reprimido’ consiste na irrupção involuntária, na consciência, de derivados inaceitáveis do impulso primário, não na dissolução da repressão primária. Segundo Freud, todo o DESENVOLVIMENTO DO EGO e a ADAPTAÇÃO ao MEIO AMBIENTE dependem da repressão primária; na ausência desta, os impulsos são imediatamente descarregados pela REALIZAÇÃO alucinatória DE DESEJOS. Por outro lado, a repressão secundária excessiva conduz ao desenvolvimento deficiente do ego e ao surgimento de SINTOMAS, não de SUBLIMAÇÕES. A repressão pressupõe uma instância repressora, o EGO ou o SUPEREGO, e um ESTÍMULO, que é a ANSIEDADE, e conduz à divisão da personalidade em duas partes. Nos primeiros trabalhos de Freud, o INCONSCIENTE é às vezes chamado de ‘o reprimido’. A repressão difere da INIBIÇÃO por pressupor a oposição de dois QUANTA DE ENERGIA: a investida no impulso reprimido, que se esforça por liberar-se, e a investida na instancia repressora (a CONTRA-CATEXIA), que se esforça por manter a repressão. A repressão assemelha-se a uma represa que retém o fluxo de um rio, ao passo que a inibição, ao desligar de uma luz elétrica”.

No entanto, HANS (1996) acentua a clareza dos temos recalque e repressão, no campo psicanalítico, distinguindo suas dinâmicas e situam-nas em espaços diferentes, reafirmando assim o pensamento acima, ratificando os significados próximos da Obra Freudiana, corroborando assim, na distinção original dos termos alterados pelas traduções de forma simplistas. MOLINA (2018, p.13).

Portanto, a repressão fica contida, submissa à censura, não significa que foi dissipada, apenas impedida em função de condições desfavoráveis. Quando introjetada passa a ser proibida, porém sob coação ou punição. Podemos dizer que o impulso passa para o estado de repressão, pois esse impedimento é uma forma que tal ato se realize, quando da atuação do superego.

HANS (1996), diz que dentre os significados de repressão como, guardar, reprimir, impedir de se manifestar, essa energia se aloja no organismo. Ficando quase em estática, porém ocupando um espaço que poderíamos dizer, incomodando no sentido de desalojado, na primeira oportunidade realizada, caso contrário somatizado. Denota-se que partir de movimentos psíquicos conscientes, contrapondo-se contra desejos e vontades.

Citação, (HANS 1996 apud MOLINA 2018, p. 14), afirma que,

“o significado de repressão não gera distorções no entendimento do termo alemão, mas que é insuficiente para contemplar a totalidade conotativa do conceito. Perdas semelhantes também ocorrem com a utilização do termo recalque. No entanto, considera-se importante a clareza de que o recalque e repressão, no campo psicanalítico, são dois conceitos que poder ser considerados como semelhantes em alguns aspectos, mas que na dinâmica do aparelho psíquico são distintos e se manifestam em espaços diferentes. Além disso, apresentadas as divergências, é possível observar a importância que há em manter-se próximo aos significados e conceitos encontrados no idioma em que a obra de Freud foi escrita. Possivelmente, é a única forma de ler a tradução sem perder a riqueza e as minúcias dos conceitos”.

O conceito em si não muda apenas uma questão geográfica ou topológica no armazenamento dos conflitos, suas distinções são importantes, pois o que é inconsciente e o que é consciente. Alterando sim, na abordagem psicanalítica no que tange a resolução dos mesmos, ou seja, o que perpassa por algo arcaico (Filogenético) e o que é atuação diante das neuroses (Ontogenética). Sugere que o mecanismo de defesa atua como proteção de algo, que por si só vai alojar entre o “in” e o “co” de cada ser pensante. Dirimir, esclarecer, situar é de importância fundamental dentro da dinâmica analítica, tratar os termos Recalque e Repressão em um mesmo saco, impossibilita o avanço no entendimento do Inconsciente Freudiano.

TORNAR CONSCIENTE O INCONSCIENTE

A finalidade de que ocorra tal situação, perpassa pela conscientização de representações, conflitos, traumas, preconceitos, do significado que Freud estabelece como neurose.

Não devemos esquecer que quando de seu projeto de Psicologia situava o conceito de represamento de Q de energia do qual denominava como um quantun retido nos neurônios, fazendo com que tal situação de impermeabilidade, não ocorria à dissipação desta energia, causando em sua ocupação a dificuldade de que tais representações mantivesse o sujeito de forma catexiada, replicar tais eventos retidos em suas memórias.

Observações que vão construindo os fenômenos de sua subjetividade, como os insytes e catarses, relatos de seus pacientes quando dos desbloqueios, alívios, sentido de esvaziamentos, no momento em que tais ocorrências se manifestavam.

Daí, o significado de insytes, como uma movimentação ou deslocamento e função do represamento de tal energia, ou seja, quantun de energia desbloqueado, dando a sensação de esvaziamento, porém apenas deslocados, porém ainda retido em suas memórias, motivos de possíveis resoluções do ponto de vista das representações. Imagens estas que emergiam de forma a conscientizar, mas ainda nas franjas da memória, analogia com as placas tectônicas com pequenos abalos sísmicos, causando pequenas reflexões sobre suas mensurações ou questionamentos representativos.

Diferentemente da catarse, pois há dissipação no sentido da liquidificação da energia retida, causando assim a diluição do quantun retido nos neurônios, sentido de esvaziamento e aliviamento de certa pressão no cérebro, relatos que quando atingido na análise, observada.

O que ocorre nesta dissipação, equivalente a diluição através do choro, sudoreses, através da água, essa sendo um diluente, assim expurgando de forma liquida o quantun de energia retido, represados nos neurônios.

Se no insyte há um espanto, na catarse a diluição, ocorre pela dissipação ou desbloqueio da carga que causa as intercorrências das lembranças de conflitos, recalques retidos.

Devemos lembrar que já naquela época Freud teve contato em sua fase de experimentos com enguias, estudo do sistema nervoso central de tal criatura, observando que a composição, o mesmo podia de forma analógica com os seres humanos.

Portanto, durante suas análises, assim como ocorre nas terapias melhoras nas questões cognitivas do sujeito, quando na liberação de tais energias, da qual denominava libido, o individuo aumentava sua percepção pela vida e resoluções de seu cotidiano. Contrapondo assim, o despertar quanto ao estádio de morte, tristezas, melancolias, angustias, ansiedades, disponibilizando a vida como meta, não mais prisioneiros de seus traumas retidos em suas lembranças.

Uma breve relação entre o pensamento de Aristóteles e Freud a respeito da catarse, citação de GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.33),

“Aristóteles a descreveu como uma espécie de inoculação homeopática de sentimentos perigosos, por meio da representação mimética, a fim de descarregá-los e assim fazer voltar o sentimento a níveis toleráveis. Freud também entendeu a catarse com uma descarga de emoções. Mas há várias diferenças importantes. Primeiro, enquanto Aristóteles descrevia a experiência de uma platéia assistindo a um espetáculo público, a idéia freudiana de catarse como algo que ocorre na privacidade da sessão terapêutica une ator e plateia numa só pessoa, o paciente que sofre; o ator é seu próprio público. Estendida ao campo artístico, esta noção considera relevante à catarse que o artista efetua em si mesmo. Em segundo lugar, Aristóteles não oferece nenhum critério para julgar quais são as emoções perigosas que precisam se descarregar; indica apenas que são as que passaram por um acúmulo excessivo e têm de ser drenadas”.

Objetivo fundamental que Freud realizava como dissolução no processo de conscientização, cujo tratamento objetivava o esvaziamento da memória na resolução dos conflitos. Sendo a catarse um processo em oposição ao intelectual, assim como a racionalização em conjunto com as resistências do sujeito.

UM BREVE HISTÓRICO

Freud pode ser considerado um arqueólogo da mente, segundo relato de Peter Gay, publicação em 1976 o surgimento do Homem Psicológico, extraído de Freud: The Mind of the Moralist, de Philip Rieff, editado em 1939, um livro clássico sobre as implicações culturais da obra freudiana.

Inclusive as manifestações de Freud contra o monopólio da psicanálise da classe médica. Citando uma carta de Freud para Spinoza, de sua relação com a filosofia. Prefácio de Paulo Cesar Souza em GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1967 p. X, XI e XII).

A frase de que tudo se explica por Freud, acrescenta GAY (1976, p.1), subtítulo de Fraqueza e segredo, diz “Quem sabe apenas uma coisa a respeito de Freud, sabe de algo que não é verdadeiro”. GAY; RIEFF & WOLLHEIM.

Devemos salientar as dificuldades como judeu em sua terra, toda perseguição, desqualificação sugeridas, sendo que todos seus pacientes tivessem como norte em sua definição de neurótico em função do stress, porém aristocratas, cristão, estrangeiros, assim como ele mesmo em sua autoanálise. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p. 1).

Portanto, um grupo seleto, formado de burgueses, judaico, feminino e vienense, assim “elaborou uma nova abordagem da psicologia, que iria abalar os alicerces da moral estabelecida”. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p. 2).

Foi ali em Berggasse, que Freud escreveu quase todos seus livros, assim como à análise de seus pacientes, sua biblioteca, seus pertences um pequeno museu arqueológico voltado às artes sacras, apaixonado pela arqueologia, dizia ter lido mais sobre esta do que sobre psicologia. Tendo na escrita sua paixão, seus manifestos, pesquisas, artigos, sempre com muita seriedade, honestidade, pautou suas pesquisas sobre psicanálise. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.8 e 9).

Tinha como meta a franqueza, cuja técnica analítica se funda na desinibição do analisado para que possa produzir em seu próprio benefício suas associações, para isso, o analista e o sensor são inimigos mortais, cuja transferência transcorra com a normalidade em uma via de duas mãos.

Lembrava sempre que o psicanalista, citação Freud apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.18 e 19),

“tal como o arqueólogo que se depara com superfícies promissoras, mas enganosas, que sugerem, mas de modo algum garantem estranho achado lá embaixo. Como o arqueólogo, deve tomar cuidado para não destruir o sítio com suas sondagens; deve ser paciente, hábil, delicado”.

Assim, como o Arqueólogo o Psicoanálista esta sujeito a mudanças, portanto a diversas revisões, principalmente as revisões teóricas, pois a dúvida permeia a ciência, sua dinâmica de ser acompanhada em toda sua dimensão de observação.

Citação de FREUD apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.19),

“No prefácio do caso “Dora”, Freud explica essa analogia: “Ante o caráter incompleto de meus resultados analíticos, não me restou outra opção senão seguir o exemplo dos exploradores que têm a boa fortuna de trazer à luz do dia, depois de soterrados por longo tempo, os vestígios inestimáveis, ainda que mutilados, da Antiguidade”.

Portanto, a análise é revestida de obscuridade, trazer a luz da consciência é seu objetivo, assim o analista treinado deve proceder, ou seja, o que esta latente deve vir à tona (manifesto), através de elaborações da fala, esta como signos a serem decifrados em suas intensões.

Como um cientista Freud procedia, pois aquele que observa sempre, registra, relata os fenômenos que se apresentam, mas apoiado na dúvida da máxima Socrática de que as aparências são passíveis de enganos.

Confessa Freud em sua velhice que foi através de uma leitura de Goethe, um ensaio sobre a natureza que o colocou na medicina, assim como seu estilo. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.26).

Tal consciência sobre seus estudos, pesquisas, talvez antevendo as máculas que estariam por vir de seus detratores, sua citação FREUD apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.29), “... Freud tinha consciência de que o cientista não deve se deixar dominar pelos instrumentos linguísticos que ele próprio escolheu. “Na psicologia”, escreveu em 1926, em A Questão da Análise Leiga, “só podemos descrever com o auxilio de analogias”. Nisso não há nada de especial: o mesmo se dá em outras áreas. Mas precisamos estar sempre mudando essas analogias; “nenhuma se sustenta por muito tempo”. Quaisquer que sejam os limites da metáfora, a ambição de Freud de descobrir muito mais que uma explicação para a histeria e solucionar muito mais que os mistérios da neurose, de construir, em suma, uma psicologia de validade geral, encontrava sustentação e exemplos na linguagem que ele utilizava ”.

Seu método investigativo muito amplo, além da filogenia, a ontologia, da experiência, a metáfora, assim como as analogias, passavam pelo crivo da sua percepção, provocação e persuasão. Por ter consciência de suas pesquisas, nunca se furtou à ética, assim como repetia FREUD apud GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.42), “que a psicanálise era um conjunto de proposições científicas e não uma Weltanschauung”. (Concepção de mundo). (Grifo nosso).

Além de todo combate que teve que enfrentar, devemos lembrar que na época os resquícios de uma era Vitoriana conservadora radical da religião, ainda vigorava. Em sua obra O Mal Estar da Civilização, em seu final diz: “Longe de mim oferecer uma avaliação da civilização” GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.45).

Apenas um libertador, pois apesar de ser uma escuta das vaidades, imaginações, mentiras, tinha como norte o real, assim como a verdade de seu tempo, ser racional diante da irracionalidade. Um Cervantes, porém em sua confissão a Pfister, citação GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.47), “apenas que não surja uma enfermidade crônica, uma paralisia da capacidade de trabalho em virtude da miséria física, Morramos de armas em punho, como diz o rei Macbeth”.

O destino foi cruel em sua doença, porém como dito acima, morreu de armas em punho, não se acovardou em nenhum momento, pois acreditava na sua ciência, tinha curiosidade sobre tudo da psique humana, GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.49-50), dizia: “que há mais coisas para conhecer e menos para se julgar do que imaginava a maioria das pessoas pensantes”. [...] “O que me impulsionou, na verdade, foi uma espécie de sede de saber, direcionada, porém, mais para as questões humanas do que para os objetos naturais”.

Dentre todas as ferramentas em suas pesquisas, a transferência dizia ser a melhor arma do analista, assim como a virtude. Quanto à transferência “o fato de que o paciente dota o analista dos traços amoráveis (e às vezes odioso) GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.51), de outras pessoas – é a arma mais eficiente da terapia psicanalítica". GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.5).

Apesar de toda a dificuldade que passou, a mais difícil ser judeu na Áustria imperial, principalmente um judeu com aspirações e pretensões. Desabafando com Marie Bonaparte, citação GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.57),

“Os espíritos medíocres” [...] “exigem da ciência um tipo de certeza que ela não pode dar, uma espécie de satisfação religiosa. Só as mentes raras, real e verdadeiramente científicas, conseguem suportar a dúvida que acompanha todo o nosso conhecimento”.

Sendo sua autoanálise seu ato de bravura e honestidade, aberto as suas pesquisas foi sua cobaia, diz que a morte do pai, foi seu legado para a compreensão sobre a ambivalência. Assim como o Édipo “esta longe de ser uniforme; sua maneira de se concretizar depende do impacto da constelação familiar, da escola, das leituras”. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976 p.63-64).

E quanto sua teoria da sedução GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.65) diz:

“Em 1914 afirmou eu sua teoria errônea sobre a sedução fora “quase fatal para a jovem ciência”. Quando da teoria “desmoronou sob o peso de sua própria improbabilidade”, e pela contradição das circunstâncias verificáveis, “a primeira consequência foi uma fase de total perplexidade”. O “chão da realidade perdera””.

Perdera a confiança, pensou em abandonar, porém sua persistência foi maior, sua auto critica foi fundamental, nada estava perdido, necessitava de mais estudos, assim o fez, apesar do golpe sofrido.

Em 1927, declara-se judeu e não alemão, em função do anti-semitismo, colocando-se em oposição ao movimento alemão, no mesmo ano escreveu o Futuro de Uma Ilusão, ensaio sobre a religião e a neurose, GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.69),

“que termina com a célebre profissão de fé: “Não, nossa ciência não é uma ilusão”“. Ilusão seria acreditar que obteríamos em outro lugar aquilo que ela não pode nos dar “”. Para ele a metafísica, como escreveu a Achelis, era “uma ambição” um “abuso de pensamento”, um “vestígio” de eras mais antigas, mais religiosas. Achava muito mais simples orientar-se no Aqui-e-agora dos fatos – um Jenseits der Philosophie. “Sei precisamente”, concluiu, “o quanto esse modo de pensar faz de mim um estrangeiro no mundo cultural alemão”.

Mesmo que sentisse rejeitado pela Alemanha, não podia negar sua pátria, por pior que presenciara naquele momento, portanto pertence a tal cultura, mesmo que seja de praxe a Alemanha ter rejeitado o que tem de melhor. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.71).

Longe de ser uma doutrina, mas sim, um método, que dá esperança as limitações do sujeito, seu método de tratamento choca os demais, revoluciona com o real, emancipando a clinica do momento. Os sonhos foram à porta de entrada, seus fragmentos revelam a fase infantil rememorada, “falar – a linguagem – é o veículo essencial da consciência, e portanto o meio essencial de liberação”. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.80).

Citação, GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.87),

“Freud adotou a posição tradicional de supor um conflito entre as naturezas animal e espiritual do homem – a natureza sendo uma qualidade residual no processo transformador da civilização repressiva”. [...] “A revolução sexual estava vinculada ao socialismo, antes que o conservador Karl Marx rompesse essa conexão com a pejorativa palavra “utopia””.

Portanto, a felicidade não se alcança com promessas vãs, pois assim como a sexualidade há regras e os limites que a sociedade impõe, em seus costumes e culturas. Assim, pensava Freud, pois temia a liberdade sexual trouxesse sacrifícios não bem aceitos pela cultura, sendo esta passageira. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.90).

Freud acreditava que seu inconsciente instintual trouxesse com sua psicologia para dentro de uma sociedade racional. GAY; RIEFF & WOLLHEIM (1976, p.92).

Seu combate com as mazelas do espirito humano era algo profundo (arcaico), pois a forma de se conscientizar sobre a carga genômica, necessário para humanidade, o advento do racional em conjunto com o emocional, realidade metafísicas demonstravam em seus experimentos como fundamentais a uma nova realidade para socialização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se diante de todas as contradições, negações ou objetivos da desconstrução de uma realidade interior revelada pela Psicanálise, ficam claro que a cada movimento faz dela mais atual, de forma que promovam suas reflexões, a evolução dos tempos, aprofunde nos seus conceitos, idéias, cujos propósitos foram às transgressões dentro das máximas judaicas de inovações.

Portanto, a cada comemoração, artigo, dissertação, sejam uma forma de trazer a atualidade suas consequências e importância como ciência, apesar das contradições que visam apenas sua negação, fazendo com que ao contrário, exalte e a coloque na berlinda, sua história como ciência.

Devemos nos situar no campo da bioética, quando se trata de ciência e o trato humano como parâmetros da ética, citamos PEGORARO (2002, p. 53),

“Sem dúvida, o terceiro milênio abre-se com este déficit de horizonte ético, Nem por isso os homens deixar de sonhar com a liberdade, com o sentido e com a finalidade da vida justa, solidária e pacífica, ou seja, com a retomada das grandes referências éticas. Em outras palavras, o homo faber não pode prevalecer sobre o homo symbolicus. A questão do sentido ético da vida, da história e da ciência está subjacente ao mundo definitivamente marcado pela tecnociência. Cabe à filosofia, à ética e bioética criar uma hermenêutica para explicitar o sentido maior embutido na biotecnologia e na pluralidade das éticas particulares. Nosso desafio está em traduzir este sentido ético maior em diálogo elevado e respeitoso com a técnica e a biogenética que também estão em busca de referência mais altas. A ética não pode vir depois para julgar os fatos; mas deve acontecer junto, contemporaneamente, ao acontecer tecnocientífico”.

E para os negacionistas que dizem ter ele se distanciado da filosofia, apesar de toda correlação de suas terminologias, pode-se dirimir algumas dúvidas, inclusive de alguns que se dizem freudianos, com intuito de completar suas obras sobre suas abordagens.

Citação de JAPIASSU (2002, p. 13),

“O método socrático não consiste em fornecer verdades ou contestar de frente as teses de seus interlocutores, mas em pôr a dúvida, mediante questões desconcertantes, as certezas estabelecidas. Diante da juventude cultivada, provoca suas contradições. A Protágoras pergunta: o que é a virtude? Existe “uma” ou são várias as virtudes? Pode ser ensinada? Assim, através de um questionamento falsamente ingênuo, leva seu interlocutor a) a entrar e contradições (denominadas “aporias”), b) a fazer uma confissão de ignorância, c) a uma reformulação do problema. O objetivo desse método é claro: levá-lo dar à luz as verdades que traz em si. O importante é substituir as idéias confusas por questões, revelando as incoerências dissimuladas sob os falsos saberes. A filosofia já é filha da ignorância reconhecida: a consciência da ignorância já constitui um saber. Ao assumí-la e ao recusar dissimulá-la a outrem e a nós mesmos, nossa razão encontra sua lucidez primeira. O filósofo indiferente às suas ignorâncias é “como o amante sem paixão: uma bela mediocridade” (Kierkergaard). Por isso, precisamos estar atentos para que o mundo de nossas idéias não se gangrene sob efeito da hipertrofia de nosso ego, em busca constante de consagração e glória”.

Diante de qualquer dúvida, fica aí o questionar sobre sua metodologia quanto à dialética, seu cultivo intelectual resgatando sua interlocução com os clássicos da filosofia.

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Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação, da Emill Brunner World University, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Psicanálise.

1 Psicanalista Freudiano – Psicanálise Dinâmica – Academia de Psicanálise e Ciência Humana - São Paulo – Graduado em Filosofia (licenciatura Plena) pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR). Pós-Graduação em “Psicologia Clínica: Psicanálise”, pela Universidade de Araraquara (UNIARA). Pós-Graduação em “Antropologia e Neuropsicanálise”, pela Faculdade Unyleya de Brasília, Participação em Capítulos de Livro Cientifico voltado à Educação, Autor de Artigos Premiados em parceria, publicado em revista cientifica JAERS Internacional Journal of Advanced Engineering Reserarch and Science (EUA) e Universidade do ABC Paulista, Brain Connection, Prêmio Prof. Dr. Fernando César Capovilla ,Pesquisador Literário, Mestrado e Doutorado e Pós-Doutorado pela Universidade Emill Brunner World University da Florida – EUA. E-mail: [email protected]