A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: CENÁRIOS E ATORES DO CENTRO PAULA SOUZA NA EDUCAÇÃO DOS JOVENS E ADULTOS
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10349647
Rosangela do Carmo Laureano da Silva Pereira¹
1. INTRODUÇÃO
A inclusão tem sido discutida em vários cenários da educação. Desde as séries iniciais até o ensino superior, existe uma preocupação em apresentar os perfis e as condições sociais que precisam ser transformadas neste cenário.
A princípio, quando apresentamos o termo inclusão, visualizamos a acessibilidade e as estruturas para os estudantes com deficiência motora e visual que precisam deste processo. Mas inclusão vai além desses fatores: ela engloba as diversidades tanto no âmbito social como no cultural.
O presente artigo relata aspectos da inclusão de alunos na educação profissional, fazendo uma abordagem dos fatores verificados e de como as unidades escolares do Centro Paula Souza vêm minimizando as dificuldades encontradas por meio de ações eficientes. O levantamento das informações foi feito através de pesquisa bibliográfica e observações diretas nas unidades. Tratar desta inclusão escolar é importante para reduzir os efeitos do preconceito e da discriminação, ao melhorar o cenário e o papel dos atores sociais na educação profissional dos jovens e adultos, ao analisar brevemente as práticas inclusivas das unidades, a preparação dos docentes, a receptividade dos demais discentes e como as Unidades do Centro Paula Souza são capacitadas para o acolhimento de alunos considerados nos grupos de inclusão.
Justifica-se abordar este tema devido a diversidade que os professores da educação profissional encontram em sala de aula nas escolas técnicas, e de como o despreparo e a falta de informação podem levar os alunos em condições deficientes ou qualquer condição especial à desistirem dos estudos e aumentar os índices de evasão, pois se não há um entendimento dos docentes e gestores destas diversidades, a escola não atenderá as políticas públicas que norteiam a ideia de inclusão na educação.
2. A RELAÇÃO DOS CENÁRIOS E ATORES NO AMBIENTE EDUCACIONAL
A educação inclusiva tem uma função essencialmente reparadora, e pretende
[...] não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. (BRASIL, 2000, p.7).
Nas modalidades técnicas observamos o crescimento de alunos que iniciam os cursos técnicos profissionalizantes com características e realidades diversificadas. São pessoas em busca de aprendizagem para se qualificar no mercado de trabalho, outros são incentivados por oportunidades de crescimento na empresa que atuam, há os que já praticam a atividade, mas necessitam do diploma para se manter no emprego, e também os casos de alunos que buscam não só a profissionalização, mas o resgate de relacionamentos perdidos ao longo dos tempos. Portanto, a escola ocupa um espaço de sociabilidade, de transformação social, de construção do conhecimento (BARRETO, 2006, p.23). Além disto,
os movimentos pela inclusão social também se alastraram pelo Brasil após o longo período da ditadura militar. No contexto da redemocratização da sociedade Brasileira reascenderam inúmeros movimentos pela ampliação da cidadania cujas cuja reinvindicações ultrapassaram os limites da luta pela participação política. Os movimentos sociais engajaram-se na defesa de direitos sociais, exigindo do Estado a Implantação de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade da educação, da saúde, das condições de moradia e saneamento básico (......)Neste contexto, discutiu-se amplamente o papel da educação como um elemento privilegiado de inserção social.(....)Os profissionais da educação podem transformar a escola num espaço privilegiado de reflexões, de debatesse de ações práticas com o objetivo de proporcionar aos educandos competências, atitudes e valores que lhes proporcionem condições de ser um agente transformador da realidade social. Ao desenvolver ações voltadas para a formação da cidadania, o educador estará despertando sua consciência e a do educando par a superação das diferentes formas de exclusão e de discriminação social em relação a mulheres, homossexuais, moradores de rua, pessoas de diversas origens étnico-religiosas, portadores de necessidades especiais, dentre outros (MATHIEU; BELEZIA, 2013, p.23).
O ensino inclusivo para jovens e adultos focado no ensino técnico compõe um público diversificado e que pode não satisfazer as expectativas dos docentes, principalmente para aqueles professores tradicionais que ainda mantém uma visão da educação clássica e que estejam acostumados com métodos e ambientes padronizados, que considerem apenas os resultados finais e não as competências e evoluções ao longo de um período. Estas diversidades também fazem parte do perfil do aluno de inclusão e que devem ser observadas para melhorar as relações de ensino e de aprendizagem.
3. INCLUSÃO NO CENTRO PAULA SOUZA
Como ações específicas de inclusão, em registros do Centro Paula Souza, encontram-se capacitações realizadas nos últimos anos quanto ao preparo de docentes para o recebimento de estudantes com deficiências visuais em parceria com a Associação Brasileira de Deficiência Visual Laramara, as informações quanto a estas capacitações apontam a utilização de tecnologias assistidas, novas metodologias de ensino aplicadas em sala de aula e o atendimento à legislação quanto ao aluno com deficiência.
A parceria entre o Centro Paula Souza e a Associação Laramara capacitou desde 2009, 1500 professores através de palestras, cursos, wokshops, seminários, fóruns, simpósios, para atuarem com alunos que possuem algum tipo de deficiência. Em maio de 2015 foram capacitados 45 professores com o curso “Práticas pedagógicas para acompanhamento de alunos que possuem deficiência” (CPS, 2016).
Em junho de 2016, mais professores participaram de uma capacitação no auditório da Associação Laramara sobre o tema: ‘Inclusão da pessoa com deficiência nas Unidades do Centro Paula Souza’ ministrado pela Professora Alessandra Aparecida Ribeiro Costa, com carga horária de 40 horas divididas entre encontro presencial e a atividades a distância, o que levou-me a observar com maior atenção todos os fatos envolvendo a inclusão devido a participação pessoal nesta capacitação, além da demanda crescente na unidade que atuo de discentes que necessitam ser inclusos. Vale destacar que a professora Alessandra Costa é atualmente responsável pelo atendimento às pessoas com deficiência ou com demandas de inclusão, estando diretamente ligada ao Gabinete da Superintendência, o que tende a agilizar os processos e solicitações procedidas pelas escolas técnicas estaduais e faculdades de tecnologia congregadas pelo CPS.
Conforme os dados do Centro Paula Souza, em maio de 2015 registrou-se cerca de 500 estudantes entre Etecs e Fatecs com algum tipo de deficiência e na sua maioria, a deficiência visual. Além dos equipamentos disponibilizados são fornecidos para as unidades, quando necessário, mobiliário, transporte, interprete de libras e professores cuidadores que acompanham os que tem paralisia cerebral e déficit de atenção. Entre 2011 e 2015, o atendimento a estes estudantes quintuplicou na instituição.
É importante descrever as medidas que o Centro Paula Souza vem desenvolvendo para que as unidades possam incluir aqueles que necessitam de amparo para alcançar a igualdade social e a inclusão do estudante com deficiências físicas ou mentais.
Observações diretas também foram feitas pela autora. Participando de uma reunião de coordenação em uma das unidades que serviu de base para o desenvolvimento deste artigo, os coordenadores de curso comentaram não estarem plenamente preparados para as práticas inclusivas, dando um enfoque especial a inclusão em relação aos alunos com deficiência física, motora, visual e com alguns transtornos mentais.
Os mesmos relataram que os professores de seus eixos também não estão em sua totalidade preparados e todos concordaram que em relação as deficiências, que a própria unidade escolar não dispõe de acessos plenamente satisfatórios para o atendimento destes alunos. Esta unidade em questão conta com 65 anos e mesmo com algumas melhorias na estrutura, não possui acessos para atender todas as necessidades vigentes pela legislação, pois estas adaptações têm um alto custo e os recursos dependem de ações e aprovações governamentais. Esta Etec conta com dois estudantes com deficiências motoras cursando o ensino técnico, e como iniciaram no mesmo módulo e eixo, foram matriculados na mesma sala, como estratégia para atender esta demanda que está crescendo a cada semestre.
Já em outra unidade escolar, com 6 anos de existência, a estrutura foi desenvolvida considerando a acessibilidade, visto esta ser uma norma para as construções públicas atuais. Esta escola conta atualmente com uma estudante com deficiência visual, e os professores da mesma forma que na outra Etec, não tinham conhecimento e preparo para o acolhimento de um estudante com deficiência visual. Neste momento, o suporte do Centro Paula Souza tem sido fundamental no preparo dos professores e na aquisição de equipamentos para o atendimento e desenvolvimento do ensino na modalidade técnica. A direção, professores e funcionários estão aprendendo juntos com o discente a adaptar-se e tem sido uma experiência satisfatória, pois a estudante tem conseguido adquirir as competências e habilidades necessárias para a conclusão do módulo.
Analisando a realidade da cidade de Piracicaba e região, e os acontecimentos nos últimos tempos nas escolas técnicas, verifica-se a necessidade de adaptar-se para receber alunos com deficiência, há de se planejar diretrizes para atender esta demanda que cresce a cada dia.
A infraestrutura da unidade escolar ainda é um fator determinante para o primeiro acesso, e a forma de amenizarmos os impactos da falta é fazer adaptações pontuais nos espaços de convivência e de aulas.
Os demais colegas de sala os acolheram de forma receptiva e os professores neste aspecto não tem demonstrado nenhuma dificuldade. O docente deve ter uma capacitação que o habilite ao conhecimento de recursos, as questões psicológicas e emocionais, as práticas pedagógicas que devem ser abordadas e ensinadas, levando em consideração que a relação professor-aluno é a primeira e mais efetiva manifestação de inclusão na escola.
As unidades têm recebido estudantes com défices de atenção e Transtorno Obsessivo Compulsivo [TOC]. Os alunos com TOC são pessoas esclarecidas e estão no curso por motivos diversificados. Observa-se que possuem transtornos psicológicos, e as características predominantes da inclusão com estes estudantes são comportamentais e de convívio com os pares. Os professores são orientados ao trato com este perfil de aluno, de como se relacionar, para que a dinâmica das aulas não seja atrapalhadas e os alunos atendam as competências e habilidades necessárias. A orientação educacional também pode contribuir, pois as pessoas com TOC geralmente precisam ser ouvidas e o professor e equipe devem ser sensíveis a este comportamento.
As demais ações quanto à adaptação e inclusão de jovens e adultos que se possuem perfis minoritários de orientação sexual, etnias, religiões; ou ainda idosos e fatos sociais como reabilitados ou ressocializados, ainda precisam ser tratadas com a conscientização dos docentes e com atitudes que reduzam as desigualdades em sala de aula. Uma estratégia que tem funcionado em classe nos cursos modulares em que há uma grande diversidade social é a metodologia de projetos, que proporciona o envolvimento de todos em um objetivo comum.
A intervenção constante da coordenação e o acompanhamento periódico das classes tem proporcionado a troca de informações e a empatia junto ao discente, o que tem feito a diferença na permanência daqueles que por algum motivo cogitam em desistir da escola. Em qualquer projeto de inclusão é imprescindível a participação da equipe, para que sejam atos eficientes e eficazes.
3.1 Aprovados: uma metáfora de inclusão para reflexão
Como exemplo para suscitar a discussão nos ambientes escolares, sugerimos o filme Aprovados (2006), que apresenta uma realidade de muitos que deixaram os estudos por serem rotulados de fracassados, por reprovações sequenciais nos métodos tradicionais, por questões econômicas, sociais, acometidos por distúrbios, entre outras características comumente põem as pessoas à margem da sociedade.
O filme pode ser encontrado em mídia e no Youtube, sendo de fácil acesso. É uma comédia que conta a história de um rapaz que após ser rejeitado por diversas universidades, inventa uma faculdade fictícia para não decepcionar seus pais, juntamente com outros amigos que tinham problema semelhante. Eles sustentam a farsa, que toma proporções maiores no momento que os pais cobram mais detalhes da desconhecida faculdade.
A abordagem fictícia apresenta jovens que acabam criando um espaço em que cada um poderá criar e desenvolver seus conhecimentos. A mensagem que o filme passa é que todos aqueles que buscaram a universidade não estavam a margem da sociedade por falta de conhecimento, mas sim que os métodos tradicionais não os faziam compreender ou lhes permitiam demonstrar suas competências e habilidades.
A proposta de reflexão que coloco sobre o filme é a de que o perfil do estudante de inclusão é semelhante ao que trata a ficção: é necessário quebrar padrões para atender pessoas que já virão com uma bagagem, com saberes do trabalho, com culturas e valores definidos, com limitações e com coragem, porque para muitos será um grande desafio permanecer em sala de aula e é neste momento que a sensibilidade do docente, juntamente com sua capacitação técnica se faz necessária para o sucesso ou insucesso desta modalidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS