A EVOLUÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE FEMININA NAS ORGANIZAÇÕES
PDF: Clique Aqui
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10459983
Jéssica Torres da Silva1
Roberta Meirelles Ferreira do Carmo2
Ricardo Nascimento Ferreira3
INTRODUÇÃO
Há anos a presença feminina aumentou gradativamente no mercado de trabalho e esse aumento vem de décadas de lutas a fim de conquistar um espaço necessário, direitos garantidos, segurança e respeito, observando-se o princípio da igualdade, aos quais homens e mulheres devem ser tratados de formas iguais.
Segundo Gomes (2005) apud Clara Alves (2023) No século atual, o processo de inserção das mulheres no mercado de trabalho aparentemente parece estar se consolidando, mas existem vários obstáculos, como: salários inferiores em relação ao dos homens executando as mesmas tarefas; dupla jornada; deficiências nas políticas sociais; menores chances de capacitação; falta de voz para tomar decisões e negociar acordos coletivos de trabalho diante das desigualdades de gênero nas relações sindicais, dentre outros.
A consolidação das leis trabalhistas, promulgada em 1943, que solidificou tudo relativo ao trabalho, foi essencial para o exercício das atividades empregatícia das mulheres no Brasil e com o passar dos anos e a crescente busca por mais direitos, as mulheres começaram a ocupar ainda mais espaço dentro do ambiente trabalho. Porém, apesar de existir muitas leis de proteção e garantias, ainda havia muitas barreiras a serem quebradas, como por exemplo; O preconceito que as mulheres sofrem apenas por serem mulheres, pois para a sociedade o papel da mulher era apenas o de servir, cuidar da casa e da família e o provedor das necessidades de um lar era o papel do homem.
Entretanto, apesar de haver muitos preceitos a serem desconstruídos na sociedade quando se fala do papel da mulher, em 1988, houve a promulgação da constituição federal e essa publicação foi um grande marco para a evolução e proteção da presença feminina no mercado de trabalho garantindo ainda mais direitos e proteção a mesma.
Diante disso, percebe-se um crescimento dos movimentos em prol da mudança de mentalidade e cultura de muitas organizações que apesar das mulheres terem uma presença cada vez mais expressiva no mercado de trabalho, ainda assim, continuam a sofrer preconceitos, como por exemplo, quando é comparado o salário que os homens recebem para exercer a mesma função da mulher, mesmo que essa prática de diferença salarial seja proibida por lei. Segundo o artigo 461 da CLT:
Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade. Art. 461.
Em face do exposto, chegou-se à conclusão que é importante que a mulher esteja em todos os níveis hierárquicos de uma organização, pois as mulheres possuem muitas características favoráveis para aprimorar o clima organizacional e podem desenvolver muitas outras características ao ocupar diversos cargos incluindo cargos de liderança além de desbravar o mundo do empreendedorismo. Com objetivo de ampliar ainda mais o espaço da mulher e extinguir o conceito de que o papel da população feminina está apenas em servir o marido, os filhos, caso a mulher escolha ser mãe, e fazer tarefas do lar. A sociedade feminina pode estar onde quiser estar, pois todas são capazes tão quanto o sexo oposto.
Todavia, sabemos que existem diferenças físicas entre um homem e uma mulher, porém não impede de a mulher participar de maneira expressiva as atividades laborais. Porque a luta pela equidade de gênero trata-se da igualdade de tratamento e direitos em qualquer tipo de atividade, seja de oportunidades, área trabalhista entre outras. A equidade de gênero no mercado de trabalho ainda está longe do ideal mesmo após todo o espaço em que as mulheres conquistaram, portanto, a busca deve continuar envolvendo toda a sociedade com projetos de incentivo e proteção as mulheres.
O objetivo deste estudo é mostrar o quanto é importando inserir cada vez mais as mulheres de forma volumosa no mercado de trabalho e discutir sobre as dificuldades e preconceitos que a sociedade feminina tende a enfrentar com muito mais frequência, dificuldades e preconceitos que os homens não sofrem ao exercer uma atividade laboral.
Desenvolvimento
Nesta seção contém tópicos explicando o caminho em que as mulheres percorreram para fazer parte do mercado de trabalho, com o objetivo de entender como está atualmente essa evolução. Contém também os direitos alcançados, os benefícios, desafios e barreiras que as mulheres ainda passam no século XXI ao lutarem por mais oportunidades igualitárias neste mercado profissional.
2.1 Evolução da presença feminina no mercado de trabalho
No passado a sociedade tinha uma visão da figura feminina com estereotipo de apenas serem capazes para exercer funções domésticas, cuidar da casa, ser filha, mãe ou esposa. A mulher era propriedade de seus pais, maridos, irmãos ou quaisquer que fossem os chefes de família.
Nos primórdios da humanidade, a partir do surgimento das relações familiares entre homens e mulheres, as mesmas nasciam e já eram educadas com o objetivo de satisfazer os homens, cuidarem da casa, dos filhos e da alimentação. Devendo ser mais educadas do que instruídas, gerando a imagem ideal da mulher como esposa e mãe (OST,2009).
Percebemos na citação, que é uma reflexão da que realmente acontecia, que as mesmas sempre foram designadas a receberem ordem da figura masculina e atender às suas necessidades. Sempre se sujeitando ao outro. Não podendo ter autonomia nas escolhas do que gostariam de fazer a não ser as que já eram lhes denominadas.
Na história o homem, sempre foi o protagonista. A figura provedora do lar, sempre foi reproduzido sobre a sua postura e sua soberania em comandar. Até os dias de hoje ainda perpetua como viés de referência sobre o posicionamento e comportamento masculino. Ao longo da história a mulher para ter direitos, poder ter escolhas, houve a necessidade de bater de frente com a cultura patriarcal que era o ideal soberano. Uma luta que levou anos até poderem ter direito de se expressarem. Na época do Brasil colônia, período entre 1500 até 1822, um período considerado grande, mas que ainda sim a conquista foi pouca. Era um tempo em que a cultura estruturada se tratava do patriarcado e a repressão, e a desigualdade e preconceito contra a minoria.
A figura feminina no mercado de trabalho, para chegar ao cenário que está hoje, conseguiu sua ascensão devido a um histórico de muitas batalhas, para ocuparem o espaço que estão hoje. Nessa época colonial, inicia-se a luta das mulheres com o intuito da sua liberdade, e a direitos básicos, que lhe eram privados. Elas lutavam por direito a participação política, na sua ação mais básica e primordial, que era o simples direito ao voto, o direito de também poder escolher, direito a educação, ao divórcio e ao livre acesso ao mercado de trabalho. Os movimentos feministas que fortaleceram e conseguiriam validar essas ações e muitas outras ao longo da história.
A participação das mulheres no trabalho, se inicia no decorrer da ascensão do capitalismo, no século XIX, onde acontece os starts nas mudanças.
De acordo com Tonani (2011), o marco da inserção da mulher no mercado de trabalho sucedeu com a 1ª e a 2ª Guerra Mundial. Com os homens tendo que enfrentar a guerra, as mulheres ficaram responsáveis pela fabricação do armamento e munições e vários outros componentes que abasteciam não só a guerra, mas a economia de uma forma geral. Quando o cenário da guerra teve um fim, muitos dos homens não voltaram para suas famílias, ou ficaram em condições físicas precárias que os tornaram inválidos para retomarem as funções no mercado. E restou as mulheres começarem a assumir os papeis que eram apenas designados a eles. De serem os únicos capazes de prover sustento aos lares. Elas precisaram se mostrar tão capazes quanto. Mas ainda sim houve muito preconceito.
Na era Brasil República, a constituição de 1934, é quando começa os primeiros direitos das mulheres a serem oficializados em documento. A criação da constituição de 34, traz na sua escritura que as mulheres podem exercer não apenas as funções domésticas, e é proibida qualquer distinção salarial por motivos de sexo, proibição de trabalho em condições insalubres e garantia de assistência médica e sanitárias as gestantes, além de um descanso antes e depois do parto. Porém não eram desta maneira que as coisas funcionavam para as mulheres.
No meio disso, ocorre o crescimento das máquinas e o desenvolvimento tecnológico, a mão de obra feminina, passa a ser vista como de valor e que poderia agregar. Mas já é deparado com carga horária de 18 horas, e um salário muito menor do que os homens. (KUHNER, 1977. Apud QUERINO; DOMINGUES; LUZ, 2013).
Sendo assim, marcou o início da participação feminina no mercado de trabalho, mas claro, sempre com uma diferenciação ao sexo masculino.
Figura 1 – Mulheres Trabalhando em fábrica séc. (XIX)
O cenário no mercado de trabalho para as mulheres, passa a ter um início de uma pequena evolução em 1943, depois que as leis trabalhistas acatam a redução da jornada de trabalho para 44 horas semanais. Mas outro dado que demonstrava ainda a participação da figura masculina nas decisões da vida da mulher, é que até meados de década de 1960, as mulheres casadas, tinham que ter uma autorização legal de seus esposos para poderem trabalhar. Elas não podiam ter essa decisão sozinhas.
Em 1970 é o marco dos movimentos feministas que foram extremamente importantes para lutar pelos direitos e melhores condições de trabalho para as mulheres. O movimento iniciou no EUA, e atingiu o Brasil.
5 anos depois a ONU decretou como “Ano Internacional da Mulher” o que tornou um marco mundial e influenciou a ressignificação da representatividade feminina perante a sociedade.
Em 1988, com mais uma alteração na Constituição Federal, declara e estabelece o princípio da isonomia (todos são iguais perante a lei) a igualdade de gênero, entre homens e mulheres, o que mesmo declarado, ainda não foi e não é o suficiente para assegurar que de fato as mulheres sejam vistas igualmente perante a sociedade.
Sobre essa jornada, Coutinho (2011) diz que:
[…] foi somente no início do Século XX contudo, que as mulheres brasileiras das camadas médias começaram a atuar nas empresas, preenchendo funções de apoio (secretárias, por exemplo) enquanto aguardavam e/ou se preparavam para o casamento, ainda que algumas permanecessem no trabalho mesmo depois de casadas, especialmente antes do nascimento dos filhos, para aumentar a renda familiar. Pouco a pouco, a despeito da permanência da segregação a que sempre foram submetidas na esfera pública, elas foram abrindo espaço e galgando posições cada vez mais elevadas nessas empresas. Atualmente, após anos de exclusão aberta das 14 posições de poder e autoridade, já encontramos, no país, mulheres ocupando posições de destaque, ainda que a exclusão persista, mesmo que, na maioria das vezes, de forma velada (COUTINHO, 2011, p.62)
Percebe-se que tivemos um avanço significativo no começo do século XX, as mulheres começam a ter de fator participação no mercado, ocupando diferentes áreas. É o início de uma nova era para as mulheres, com mais autonomia e liberdade e busca constante pelas mesmas oportunidades que os homens possuem na sociedade e nas organizações.
2.2 Participação da População feminina dentro das organizações e em cargos de liderança
O desenvolvimento econômico, e a luta do movimento das mulheres e feministas nacional e internacional provocaram mudanças significativas na sociedade e no papel que a mulher pode exercer. Graças a esses movimentos e quebras de lacunas entre os gêneros, as mulheres foram massivamente para o mercado de trabalho, mas, ainda há desigualdades a serem vencidas e essa realidade ainda precisará ser eliminada para que a mulher possa viver numa sociedade igualitária.
É essencial destacar que a participação feminina nas organizações não se trata apenas de cumprir cotas estatísticas, mas sim de reconhecer o valor intrínseco que a diversidade traz para a inovação, criatividade e aprimoramento das práticas de gestão. No entanto, a participação da população feminina em cargos de diretoria e em organizações no século XXI é um desafio e uma oportunidade. A inclusão de vozes femininas traz benefícios tanto para as mulheres quando para as organizações promovendo uma sociedade mais justa e equitativa.
Em 2022, uma pesquisa feita pela Grant Thornton mostra o progresso em direção a igualdade de gênero na liderança, o pós-pandemia permitiu que cargos de liderança aumentassem à medida que as economias se recuperam, com previsão de continuar o aumento ao passar dos anos pois o mundo todo está adotando medidas definitivas para adequar práticas para trabalhos mais flexíveis em torno das necessidades dos futuros colaboradores. E quando fazem isso, as organizações acabam abrindo mais portas para diversos talentos femininos em cargos seniores.
Figura 2 – A pesquisa mostra também que as mulheres ocupam atualmente 32% dos principais cargos de alta administração no mundo todo.
Antes 31% em 2021, ‘’Esses resultados refletem um despertar das lideranças sobre a importância da diversidade e de seus esforços para construir uma cultura mais inclusiva’’ Kim Schmidt (2022, p.2).
No Brasil, de acordo com uma recente pesquisa feita pela Grant Thornton de 2022, mostra que as mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança resultando em uma queda de 1% nos cargos estratégicos em comparação ao ano anterior.
Figura 3 – O gráfico abaixo mostra a evolução da equidade de gênero nas empresas brasileiras.
Embora tenha sido identificado o avanço das mulheres na liderança das empresas essa mudança está relativamente lenda. ’’Não podemos nos dar ao luxo de perder o ritmo da participação econômica e das oportunidades para as mulheres’’ (Zahidi,2023). Frase bem forte e muito real, as mulheres não podem parar, apesar de toda conquista a luta por mais igualdade continua nesse mercado.
De acordo com o novo relatório do fórum econômico mundial Global Gender Gap, o Brasil subiu no ranking dos países com melhor paridade entre os gêneros, saindo da 94° posição em 2022 para a de 57°. O relatório calcula também o tempo que levará para a disparidade de gênero desaparecer do planeta, e levando em consideração o ritmo atual o ano que foi estimado é em 2.154. Ainda há muitos anos de evolução para que finalmente a população feminina alcance 100% da igualdade de oportunidade que o gênero oposto possui na sociedade.
Portanto, avançar mesmo que seja em passos lentos com o objetivo de eliminar a lacuna entre o gênero feminino em comparação ao gênero masculino é importante. E muitas empresas ao abrirem as portas para mulheres ocuparem cargos de liderança garantem esse avanço e estimulam inclusive o interesse dos melhores talentos femininos do mercado de trabalho a desejar fazer parte da organização, pois atualmente a diversidade das empresas geram um clima organizacional mais interessante e repleto de cultura ao tratar as mulheres de maneira equalitária.
2.3 O Empreendedorismo Feminino
Segundo SEBRAE, um dos órgãos mais conhecidos e trabalhados em termo de empreendedorismo no Brasil e que dá apoio a esse mercado. O empreendedor, individuo fundamental dentro desse processo, e aquele capaz de criar valor no mercado. Criar algo que gere vantagem competitiva.
Empreendedorismo feminino é esse movimento envolvendo negócios, mas comandados e pensados por mulheres. Após décadas em que o protagonismo no mundo Bussines foi estrelado por homens, composto por um mercado elitizado apenas pela figura masculina, as mulheres estão cada vez mais, conquistando o seu espaço. Mas como na história, é marcado como sempre por desafios.
Mesmo aproximadamente a grande maioria da população sendo formada por mulheres, os homens prevaleceram por um bom tempo, ocupando maior parte dos cargos de liderança no mercado. Mesmo que muitas ainda quisessem se arriscar no mundo do empreendedorismo, ainda tinhas diversos obstáculos pela frente, como a necessidade de autorização por meio de assinatura dos esposos em documentos comerciais e bancários. Falta de apoio a financiamentos para auxiliarem seus projetos, comparado aos homens. Tudo isso devido ao preconceito e o estereótipo de gênero.
Empreender não é fácil para nenhuma pessoa, é preciso coragem. Mas com as mulheres, as dificuldades são ainda maiores. O simples fato apenas do gênero que elas possuem, já é um dos principais motivos de resistência do mercado acreditar em algo que é gerado e administrado por mulheres. Na sociedade, os homens enfrentam menos resistências, e muitos empreendem por terem mais oportunidades.
A maioria das mulheres tiveram o seu início no mundo do empreendedorismo por necessidade, ao longo do século XX, elas começaram essa jornada para complementar a renda ou alcançar a liberdade e independência financeira, ou pelo motivo que precisavam promover o sustento da família. Na maioria das vezes de forma informal. Essa balança que as mulheres precisam encarar em conciliar a vida profissional e a vida pessoal, é um viés que muitas enfrentam até os dias atuais. Responsabilidades profissionais junto com as demandadas que a vida familiar requer.
A partir do ano 2000, que a participação das mulheres no mercado de trabalho aumenta junto com os níveis de escolaridade, o empreendedorismo feminino passa ter uma alta. Iniciativas de apoio, como programas de capacitação e apoio a empreendedora passam a surgir. A rede de contatos é fundamental para o sucesso do negócio, e as mulheres sentiam falta de uma rede de apoio e mentoria, para guiá-las e apoiá-las em todo o processo.
A SEBRAE, um dos maiores órgão apoiadores criou uma dessas iniciativas, e possui um programa chamado SEBRAE DELAS, que tem como intuito incentivar, valorizar e acelerar a jornada de mulheres que empreendem ou tem essa vontade de empreender. Foi, e é um importante aliado e apoiador desse movimento.
A SEBRAE para o dia Internacional da mulher, este ano de 2023, lançou um boletim de mercado sobre o empreendedorismo feminino, e fez um levantamento em gráfico que detalhou
Figura 4 – Gráfico sobre o empreendedorismo no Brasil (proporção de negócios por necessidade é maior no grupo das mulheres).