A DISGRAFIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17095724
Antonia Silvestre Evangelista de Freitas1
Berenice Silva Ribeiro2
Jocilene Rosa da Silva3
Luzete Cipriano dos Santos4
Mara Lima Richil5
RESUMO
A disgrafia é um distúrbio que afeta a grafia do indivíduo, tornando a grafia praticamente indecifrável. Sabendo disso, é objetivo geral deste estudo verificar o que é a disgrafia e como afeta a aprendizagem da criança, abordando, para isso, o papel da escola frente à adoção de medidas que contribuam para a aprendizagem do sujeito que apresenta tal dificuldade. Para alcançar tal proposta, desenvolveu-se uma pesquisa de cunho bibliográfico, com abordagem qualitativa, do tipo exploratório. A revisão de literatura propiciou compreender que a disgrafia é também chamada de letra feia, constituída de um conjunto de características, mas que não está associada a nenhum tipo de comprometimento intelectual. Ao contrário disso, afeta significativamente a aprendizagem. O levantamento teórico realizado permitiu concluir que a escola, por meio do professor, exerce um papel de grande importância nesse contexto, que é o de orientar os alunos a realizarem adequadamente a escrita para evitar a permanência de traçados incorretos e, consequentemente, a aquisição da disgrafia. Assim, como conclusão, constatou-se que, em virtude das características apresentadas pelo aluno com disgrafia, essa dificuldade de aprendizagem pode relacionar-se a problemas motoras e espaciais, podendo ser apontado como causas prováveis os distúrbios de motricidade ampla, de coordenação visomotora, de organização temporoespacial, assim como a problemas de lateralidade e direcionalidade e o erro pedagógico. No entanto, várias são as estratégias que podem estar sendo utilizadas pelo professor para a correção da escrita. A adoção daquela que melhor se encaixar na situação vivenciada em sala de aula, depende do contexto apresentado pela criança, podendo contar ainda com o apoio de outros profissionais nesse processo. Além disso, a ajuda destinada deve acontecer mediante uma estimulação linguística global e um atendimento individualizado complementar a escola.
Palavras-chave: Disgrafia. Dificuldades de Aprendizagem. Escola.
ABSTRACT
Dysgraphia is a disorder that affects an individual's handwriting, making it practically indecipherable. Knowing this, the general objective of this study is to verify what dysgraphia is and how it affects a child's learning, addressing, for this, the role of the school in adopting measures that contribute to the learning of the subject who presents such difficulty. To achieve this proposal, bibliographic research was developed, with a qualitative, exploratory approach. The literature review made it possible to understand that dysgraphia is also called ugly handwriting, consisting of a set of characteristics, but is not associated with any type of intellectual impairment. On the contrary, it significantly affects learning. The theoretical survey carried out allowed us to conclude that the school, through the teacher, plays a very important role in this context, which is to guide students to write properly to avoid the persistence of incorrect strokes and, consequently, the acquisition of dysgraphia. Thus, in conclusion, it was found that, due to the characteristics presented by the student with dysgraphia, this learning difficulty may be related to motor and spatial problems, and probable causes may include gross motor disorders, visual-motor coordination disorders, temporospatial organization disorders, as well as laterality and directionality problems and pedagogical errors. However, there are several strategies that can be used by the teacher to correct writing. The adoption of the one that best fits the situation experienced in the classroom depends on the context presented by the child, and may also rely on the support of other professionals in this process. Além disso, a ajuda destinada deve acontecer mediante uma estimulação linguística global e um atendimento individualizado complementar a escola.
Keywords: Dysgraphia. Learning Difficulties. School.
Introdução
As dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos em idade escolar tem sido uma constante preocupação, seja por parte da família, seja pelos educadores. Tal problemática agrava-se mais ainda quando se percebe a falta de apoio e incentivo da escola e, principalmente, da família em relação a aprendizagem destas crianças.
Na busca por que estratégias capazes de sanar tais dificuldades, a presente pesquisa, de cunho bibliográfico, com abordagem qualitativa, do tipo exploratório, tem como objetivo principal verificar o que é a disgrafia e como afeta a aprendizagem da criança, abordando, para isso, o papel da escola frente à adoção de medidas que contribuam para a aprendizagem do sujeito que apresenta tal dificuldade.
Tendo em vista alcançar o objetivo proposto, foi levantada a seguinte questão problema: “De que forma a disgrafia afeta a aprendizagem da criança em idade escolar?”. A busca por responder tal problemática justifica-se pela tentativa de demonstrar que a disgrafia é uma dificuldade de aprendizagem que se faz presente no ambiente escolar, pois “ocorre em geral em decorrência da dificuldade de recordar a grafia correta para representar um determinado som ouvido ou elaborado mentalmente” (FÁVERO; CALSA, 2003, p. 115). Mas, que, apesar dos desafios causados ao processo de escolarização, é uma dificuldade de aprendizagem passível de ser trabalhada na escola.
Como parte das estratégias adotadas para solucionar essa problemática, o professor precisa entender, primeiramente, que não existe metodologia ou forma de aprendizado pronto para dificuldades especificas. É necessário explorar o aluno em sua totalidade verificando as lacunas abertas, procurando envolvê-lo de forma que se sinta seguro para que ocorra o aprendizado (COLL et al. 1996).
Diante disso, a proposta deste estudo é mostrar, baseada nos teóricos que fundamentam esta pesquisa, tais como Coll et al. (1996), Fávero e Calsa (2003), Bartholomeu, Sisto e Rueda (2006), que apesar de todas as dificuldades apresentadas pelo aluno disgráfico, ele também é capaz de aprender e desenvolver-se integralmente. É necessário apenas, que a escola, por meio do professor, dê a atenção necessária que ele necessita para que seja capaz de ler, falar e escrever, sem, contudo, apresentar dificuldades em copiar letras e palavras.
O problema da Disgrafia
A apresentação de baixo rendimento escolar pelos alunos apresenta-se, comumente, com uma das principais formas de manifestação de dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar. Sabendo disso, os fatores que levam aos baixos índices não podem deixar de serem considerados, pois servem de indicativo de que o aluno apresenta ou pode vir a apresentar algum tipo de dificuldade.
Logo, antes de definir o que é disgrafia, há que se considerar que certos erros são relativamente comuns de serem cometidos pelas crianças quando iniciam a aprendizagem das habilidades de leitura e escrita. Eles só passarão a assumir o caráter de dificuldade de aprendizagem se houver persistência significativa ao longo da experiência escolar (BARTHOLOMEU; SISTO; RUEDA, 2006).
Mesmo porque, toda criança, em idade escolar, passa por cinco etapas evolutivas no longo caminho para a aquisição e domínio do sistema alfabético. Processo este que vai desde a representação inicial, constituída por simples rabiscos, até a fase final, na qual já se descobriu que cada letra de uma palavra representada corresponde a um som da fala (fonema). Contudo, até alcançar esse patamar, há uma longa distância a ser percorrida (FERREIRO; TEBEROSKI, 1999).
Conhecer, portanto, cada uma destas etapas evolutivas, é de suma importância para que o professor compreenda como ocorre o desenvolvimento da escrita de uma criança, e, assim, identifique que dificuldades ela pode estar enfrentando no decorrer desse processo, pois:
Os anos iniciais de escolarização parecem ser cruciais, no que diz respeito a aprender a ler. As experiências de aquisições positivas de leitura, nos primeiros dois anos e meio de escolarização formal, são favoráveis para uma visão positiva do aprendiz sobre si mesmo. Em relação à escrita, a criança cria hipóteses e as testa. Durante esse processo de construção passa por níveis distintos que variam do pré-silábico ao alfabético. Ao atingir esse último nível, a criança já consegue dominar o sistema notacional (LIMA; PESSOA, 2007, p. 469).
Como observado, o maior problema da criança, ligado as dificuldades de aprendizagem na escrita, acontece na fase pós-alfabética, que é quando ela percebe a inexistência de uma relação direta entre os sons e as letras. Contribui para isso a descoberta da norma ortográfica.
Entender como ocorre o processo de aquisição da escrita pela criança e as possíveis dificuldades de aprendizagem surgidas é muito importante. Toma-se, como pressuposto de análise, para ter tal entendimento, cada um dos níveis que delimitam a psicogênese da escrita, definidos por Ferreiro e Teberoski (1999), como nível pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
O nível pré-silábico, 1º estágio, por exemplo, é onde a criança elabora a hipótese de que a escrita dos nomes é proporcional ao tamanho dos objetos ao qual está se referindo. E, da maneira que visualiza, consegue fazer seus rabiscos de acordo com o formato que lhe foi colocado. Ou seja, quando ela tem contato com a letra cursiva, consegue fazer curvas simbolizando sua escrita (FERREIRO; TEBEROSKI, 1999).
O mesmo acontece quando a criança tem contato com letras maiúsculas. Para representá-las, faz linhas retas, que de acordo com o seu significado, constituem-se em sinais gráficos para representação do nome de um objeto. Nesta fase a leitura acontece ainda de forma horizontal, pois ainda não consegue separar as sílabas em sua leitura, mas já compreende que para cada palavra tem uma quantidade de letras previamente definidas.
No nível silábico, 2° estágio, é quando ocorre à transição da hipótese silábica para a alfabética. A criança começa a perceber que a escrita tem suas partes sonoras. E, entende que a fala é segmentada em sílabas e que elas são representadas por uma letra. No entanto, ainda escreve uma letra para cada sílaba, mesmo usando o som correto ou as letras adequadas (LIMA; PESSOA, 2007).
No 3° estágio, denominado silábico-alfabético, a transição das hipóteses silábicas acontece a partir da representação da escrita iniciando a compreensão das diferenças, mas sem suas representações. Nessa fase, a criança percebe que as sílabas podem ter mais de uma letra, e começa a conectar os sons da fala com os grafemas escritos, mesmo não percebendo os fonemas corretos. Como resultado, suas escritas misturam representações silábicas e alfabéticas (FERREIRO; TEBEROSKI, 1999).
Por fim, no 4º estágio, o nível alfabético, a criança consegue ter compreensão da linguagem escrita, pois ela visualiza uma palavra e a compõe em sílabas. Ou seja, percebe que cada letra (grafema) representa um som (fonema) e consegue usá-las sistematicamente para escrever as palavras. Ao mesmo tempo, é capaz de ligar a fala e a escrita de forma mais consciente (FÁVERO; CALSA, 2003).
Ressalta-se que, o conhecimento de cada um desses estágios, além de fundamental ao professor, possibilita perceber que a aquisição da escrita acontece mediante a vivência de cada uma dessas fases de forma associada. No entanto, precisa, também, saber que “para algumas crianças a aprendizagem da escrita pode não ocorrer de forma satisfatória gerando alterações de aprendizagem” (LIMA; PESSOA, 2007, p. 470).
Essas alterações, também chamadas de dificuldades de aprendizagem, podem se apresentar de diferentes formas, como é o caso da disgrafia, que se configura como sendo “um problema de execução mais do que de planificação” (FÁVERO; CALSA, 2003, p. 115).
Estudos realizados sobre a disgrafia, como os de Ferreiro, Teberoski (1999), Fávero e Calsa (2003), Lima e Pessoa (2007), atribuem, inclusive, a causa destas dificuldades a fatores sociais, emocionais e, possivelmente, a atrasos no desenvolvimento psicomotor.
Sabendo disso, José e Coelho (2006) definem a disgrafia como sendo uma alteração da escrita ligada a problemas motores que interferem nos movimentos finos, que é observada por meio do uso irregular de letras, traços fortes que marca o papel, letra irregular, dificuldade em compreender lateralidade, orientação espacial ou esquema corporal no espaço do papel.
Também chamada de “letra feia”, Gonçalves (2007, p. 06), define a disgrafia como sendo:
Uma deficiência na qualidade do traçado gráfico, sem causa intelectual ou neurológica que sustente este sintoma, evidenciando uma escrita, muitas vezes ilegível, lenta e retocada - “letra feia”, o que compromete seu desempenho diante do ambiente escolar; dificuldade em escrever corretamente a linguagem falada, apresentando erros de formas e proporções das letras, aglutinações ou segmentações inadequadas; dificuldade de orientação espacial associada, em muitos casos, com uma hipertonia ou hipotonia do traçado.
Isso acontece em virtude da incapacidade de recordar a grafia da letra. E, na tentativa de recordar essa grafia, a criança escreve lentamente e passa a unir inadequadamente as letras, tornando-as ilegível. É comum encontrar, além da disgrafia, a presença de disortografia, pois ao escrever, amontoam as letras na tentativa de esconder os erros ortográficos. Mas, nem todo disgráfico possui disortografia.
Por outro lado, uma criança que possui disgrafia, também apresenta, entre outras características, lentidão na escrita, letra ilegível e desorganizada; traços irregulares muito fortes ou muito leves; desorganização geral, pois não possui orientação espacial; no texto, não observa margem e amontoa letras na borda da folha; as letras são retocadas, com hastes mal feitas e atrofiadas.
Evidencia-se, ainda, a omissão de letras, palavras, números, etc., assim como as formas possuem tamanho muito pequeno ou muito grande, a escrita é alongada ou cumprida e o espaçamento é irregular, sendo assim:
Identifica-se este aluno como aquele que sempre apresenta cadernos incompletos, com muita dificuldade em realizar cópias do quadro devido a suas limitações quando a orientação espacial e, principalmente, pelo fato do traçado gráfico ainda não estar automático não fazendo parte da gama de informações da memória de longo prazo – procedual, ocupando muito de sua capacidade de memória de trabalho e atenção (JOSÉ; COELHO, 2006, p. 26).
Por isso a importância de se conhecer como se processa a escrita para a criança, haja vista que a prática pedagógica é, sem dúvida alguma, fator preponderante na aquisição dessa e de tantas outras habilidades. Além disso, conhecer como essas dificuldades de aprendizagem podem se manifestar, bem como quais são os mecanismos que podem ser adotados para a intervenção ajuda a trabalhar, desde cedo, tais prejuízos.
A proposta de se conhecer como a escrita se processa, assim como as dificuldades que afetam o seu desenvolvimento, permite ao professor encontrar estratégias que permitam ao aluno um avanço qualitativo no desenvolvimento cognitivo, social, cultural, e, até mesmo, em seu relacionamento intra e interpessoal, tal como se apresentará melhor a seguir.
Os tipos de Disgrafia e sua influência no processo de ensino e aprendizagem
A disgrafia tem sido considerada uma dificuldade de aprendizagem específica. E, como tal, manifesta-se na escrita e envolve a presença de déficits que pode implicar a memória, a linguagem e o pensamento. No entanto, não resulta de privações sensoriais, Transtorno do Desenvolvimento Intelectual (TDI), problemas motores, de ordem emocional ou social, “embora exista a possibilidade de estes ocorrerem em concomitância com elas, podem, ainda, alterar o modo como o indivíduo interage com o meio envolvente” (COELHO, 2011, p. 02).
Logo, por ser uma perturbação funcional que afeta diretamente a qualidade da escrita, mais precisamente, no traçado e grafia, tem como característica principal, “uma escrita desviante em relação à norma/padrão, isto é, uma caligrafia deficiente, com letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas” (COELHO, 2011, p. 07).
Muitos são os fatores que podem levar ao surgimento dessa dificuldade de aprendizagem. Por conta disso, dois são os tipos de disgrafia, segundo Freitas (2004):
disgrafia motora ou discaligrafia: é quando a criança consegue falar e ler, mas possui dificuldade na coordenação motora fina no ato da escrita. Ela visualiza a grafia, mas não consegue fazer os movimentos necessários para que a escrita se efetive;
disgrafia perceptiva: é quando a criança não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e a grafia que representa os sons correspondentes as palavras ou frases escritas.
Para Freitas (2004), o surgimento desses dois tipos de disgrafias está relacionado a três causas prováveis:
maturativas: estão relacionadas com perturbações de lateralidade e de eficiência psicomotora no âmbito da motricidade e equilíbrio;
carateriais: estão associadas a fatores de personalidade, que tendem a determinar o aspecto do grafismo no que se refere a estável/instável, lento/rápido, além dos fatores psicoafetivos, pois a criança reflete na escrita o seu estado e tensão emocional muito facilmente;
pedagógicas: comumente relacionada a uma instrução ou ensino rígido e inflexível, no qual evidencia-se a mudança inadequada de letra (da imprensa para a manuscrita) ou a ênfase excessiva na qualidade ou rapidez da escrita.
Há ainda, segundo Cinel (2003), as causas promotoras do surgimento da disgrafia no âmbito dos distúrbios associados a essa dificuldade de aprendizagem, que neste caso são:
distúrbios da motricidade ampla e fina: expressa pela “falta de coordenação entre o que a criança se propõe a fazer (intenção) e a respectiva ação” (p. 19);
distúrbios na coordenação visomotora: a criança não consegue “traçar linhas com trajetórias predeterminadas, pois, apesar de todo o esforço, a mão não obedece ao trajeto previamente estabelecido” (p. 20);
deficiência na organização temporoespacial: presença de “dificuldades ao escrever, invertendo letras, combinações silábicas, sob o ponto de vista de localização, o que denota uma insuficiência da análise perceptiva dos diferentes elementos do grafismo” (p. 20), pois não consegue escrever obedecendo ao sentido correto de execução das letras, não orienta-se no plano da folha, apresenta má utilização do papel e escreve fora da linha. Da mesma forma, encontra dificuldade na leitura e na compreensão de sentido de um texto.
Ainda segundo Cinel (2003), problemas de lateralidade e direcionalidade também são evidenciados. É comum encontrar crianças disgráficas com:
lateralidade mal estabelecida em virtude da “não-definição da dominância, em especial, da mão direita ou esquerda” (p. 21);
sinistrismo ou canhotismo, no qual a eficiência da mão esquerda nas crianças canhotas é inferior a eficiência da mão direita das crianças destras;
lateralidade cruzada no qual evidencia-se a “dominância da mão direita em conexão com o olho esquerdo ou da mão esquerda com o olho direito” (p. 21);
sinistro ou canhotismo contrariado ocorre quando a dominância da mão esquerda é contraposta ao uso forçado e imposto da mão direita que tende a comprometer a eficiência motora da criança, seja na orientação em relação ao próprio corpo, seja na estruturação espacial.
Vale enfatizar, que o conhecimento e estudo das prováveis causas que levam ao surgimento da disgrafia é importante por que ajuda a entender até que ponto cada uma delas interfere na aprendizagem escolar da criança disgráfica. Há, ainda, os “erros pedagógicos, relacionados com falhas no processo de ensino, estratégias inadequadamente escolhidas pelos docentes ou mesmo desconhecimento deste problema” (COELHO, 2011, p. 08).
Além disso, não se pode esquecer que a aprendizagem da escrita, assim como da leitura, é de grande importância para o desenvolvimento integral do indivíduo e sua posterior inserção no mundo letrado, pois é por meio dessas habilidades que se pode enriquecer o vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação, entre outros aspectos de igual relevância.
E, por conta disso, esse é “um processo que requer diversas análises que possam melhorar a aquisição dessas habilidades, havendo intervenção por parte do docente quando necessário” (SILVA, 2009, p. 47). Logo, a escola, por meio do professor, deverá agir, a princípio, como observador para só então se tornar um mediador entre o aluno e a aprendizagem dessas habilidades, por meio de métodos relevantes que dinamizem o processo de aprendizagem e estimule de forma que venha sentir prazer em ir à escola.
Diante disso, conforme será apresentado a seguir, é muito importante saber qual é o papel da escola, expresso pela atuação do professor, junto ao aluno com disgrafia em idade escolar, pois isso ajuda a direcionar o trabalho que precisa e deve ser realizado.
O papel da escola junto ao aluno com Disgrafia
Muitas pesquisas ao longo dos anos, têm sido dedicadas ao entendimento das causas do fracasso escolar de crianças em idade escolar. Mais variadas ainda são as vertentes indicadoras de tal fracasso. Entre elas, destacam-se as dificuldades de aprendizagem que muitas vezes passam despercebidas na e pela escola.
A aprendizagem, apesar de ser universal e ocorrer durante toda a vida, depende de diversos fatores, entre eles, a interação entre a criança e o mundo à sua volta, entre ela e a família, entre ela e o professor, entre ela e seus colegas, e com o próprio conhecimento sistematizado apreendido na escola, pois, “o processo de ensino-aprendizagem inclui sempre aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre o indivíduo e o meio” (BOA VISTA, 2008, p. 20).
E, por causa disso, a aprendizagem é considerada um fator imprescindível ao desenvolvimento do indivíduo, que por sua vez, está diretamente relacionado com as experiências coletivas vivenciadas com seus pares e da interação com o meio, pois é na troca com o outro, com o mundo à sua volta e consigo mesmo que vai internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais que contribuirão para a sua formação (BOA VISTA, 2022).
Dessa forma, a criança ao adentrar na escola começa a interagir tanto com o conhecimento produzido socialmente, quanto com os seus saberes prévios. Isso ajuda a vencer os desafios propostos ao longo de sua aprendizagem, despertando a curiosidade e, permitindo numa visão pedagógica, aos alunos, confrontar suas hipóteses, e aos professores, auxílio pedagógico, caminhando assim, gradativamente, para a construção de conceitos científicos, como forma de se alcançar sucesso no processo de ensino e aprendizagem.
Em se tratando da criança com disgrafia, Coelho (2011, p. 09), afirma a importância que se tem de dedicar atenção a esse aluno, pois:
Para ajudar um aluno com disgrafia – assim como com qualquer outro distúrbio –, o educador deve, primeiramente, estabelecer uma boa relação com a criança e fazê-la perceber que a sua presença é importante para a apoiar quando mais precisa. É fundamental saber/sentir quando e qual a ajuda que deve providenciar a cada momento, não deixando de elogiar a criança pelo seu esforço, mesmo que os resultados nem sempre estejam de acordo com o expectável; no entanto, deve também ter a capacidade de perceber quando o aluno revela desmotivação e desinteresse e, se necessário, alterar a intervenção, adequando procedimentos visando estimular a criança, pois, na maior parte das ocasiões, a má prestação é, sobretudo, nossa, consequência da utilização de estratégias/métodos insuficientemente atrativos e interessantes.
Com esta postura, o professor fará as intervenções que se fizerem necessárias para poder propiciar o gosto pela aprendizagem na criança. Mas, é importante lembrar que o tempo de aprendizagem é diferente em cada aluno. E, por isso, requer diversificação de metodologia, técnicas e procedimentos que possibilitem aprender e vencer os desafios impostos por essa dificuldade de aprendizagem que é a disgrafia.
Dessa forma, o professor, como mediador desse processo, precisar levar em conta o conhecimento prévio do aluno e transformá-los em avanços significativos, pois aprender a escrever, e, por conseguinte, aprender a ler, é apropriar-se de um conhecimento cultural amplo, tornando-se usuário de tais habilidades no meio em que se vive (BOA VISTA, 2022).
Outro fator importante que deve ser considerado, segundo Coelho (2011, p. 09) diz respeito:
Ao reforço positivo da caligrafia da criança. Lembre-se que ela se esforça bastante por escrever corretamente e, mesmo que não observe grandes progressos, vá elogiando os (escassos) resultados. Afirmações como “Esse «p» ficou mesmo perfeito!”; “Tiveste o cuidado de não ultrapassar a margem, muito bem!”; ou “Hoje a tua letra está mesmo bonita! Andas a esforçar-te muito!”, poderão surtir efeitos extraordinários! O processo de aprendizagem da escrita é lento e longo e a criança é a primeira a achar a sua letra horrível. Deve evitar-se, por isso mesmo, forçá-la a modificar abruptamente a sua caligrafia.
Dessa forma, o ensino dessa habilidade em sala de aula propõe, de maneira riquíssima, que o professor seja o mediador do conhecimento criando mecanismos e condições para que o aluno possa avançar em sua aprendizagem. Isso se faz necessário porque tanto o ensino quanto a aprendizagem estão continuamente em processo de modificação, transformação e mudança. O próprio ser humano é um ser inacabado e está sempre em busca de novas experiências, aperfeiçoamento, enriquecimento e troca.
Para Travaglia, Costa e Almeida (2008), faz-se necessário também, a reeducação do grafismo no qual deve-se realizar um trabalho voltado para o desenvolvimento psicomotor e do grafismo da criança. Assim, objetivando-se o desenvolvimento psicomotor, cabe ao professor treinar aspetos relacionados a postura, controle corporal, dissociação de movimentos, representação mental do gesto necessário para o traço, percepção espaço-temporal, lateralidade e coordenação visomotora.
Em se tratando do grafismo, especificamente, Silva (2009) explica que, o professor deve preocupar-se em desenvolver um trabalho voltado para o aperfeiçoamento das habilidades relacionadas com a escrita, distinguindo atividades pictográficas, como, por exemplo, pintura, desenho, modelagem, e escriptográficas nas quais se utiliza o lápis e o papel com vistas a melhorar os movimentos e posição gráfica.
Além disso, deve corrigir erros específicos do grafismo, como aqueles relacionados à forma, tamanho, inclinação das letras, o aspecto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das margens e das linhas. Por isso é imprescindível que o professor apresente diferentes atividades que visem o aperfeiçoamento da escrita pelo aluno com dislexia, uma vez que a vida cotidiana está repleta de oportunidades e situações de aprendizagem que envolvem essa habilidade (TRAVAGLIA; COSTA; ALMEIDA, 2008).
Logo, desenvolver um trabalho dessa natureza expressa-se, de certa forma, como um grande desafio que se coloca às escolas que é o de encontrar, para cada aluno detectado com dificuldades de aprendizagem, seja qual for, as medidas adequadas às suas necessidades específicas, com vistas a mobilizar os saberes de diferentes disciplinas, envolvendo, para isso, vários profissionais, organizando os recursos necessários a realização das ações propostas, tendo por único objetivo, garantir a aprendizagem de todos os alunos.
Conclusão
Com o objetivo de verificar o que é disgrafia, este estudo bibliográfico se propôs a identificar quais são os tipos de disgrafia, analisando para isso, como essa dificuldade afeta a aprendizagem da criança, sem se esquecer de vista, o papel da escola frente à adoção de medidas que contribuam para a sua aprendizagem.
Dessa forma, ao longo desta revisão de literatura teve-se a oportunidade de perceber que a disgrafia é uma perturbação resultante de um distúrbio na integração visomotora por conta da incapacidade de transmitir a informação de um sistema para outro.
A disgrafia, neste caso, é uma dificuldade de aprendizagem que afeta diretamente o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Dessa forma, para se desenvolver um trabalho educacional voltado para a superação dos problemas causados por tal dificuldade, é fundamental observar cuidadosamente o que o aluno é capaz de fazer, para só então elaborar a estratégia mais adequada para se intervir nessa situação.
Neste contexto, a disgrafia, assim como as demais dificuldades de aprendizagem, associadas à escrita ou a leitura, constitui-se um dos grandes desafios enfrentados pela escola, pois mostra-se um assunto complexo no qual são necessárias medidas pedagógicas adequadas para atender a criança disgráfica, garantindo-lhe as mesmas oportunidades de aprendizagem que as demais.
Todavia, é importante reforçar que o intuito desse estudo foi o de aprofundar teoricamente a discussão e análise sobre a temática abordada com vista a fornecer subsídios que ajudem a entender o que é essa dificuldade de aprendizagem que afeta diretamente a escrita da criança ainda em fase de aquisição dessa habilidade.
Além disso, ensinar a língua é, portanto, promover situações que permitam a reflexão sobre a linguagem nos seus diferentes contextos de uso. Dentro desta visão, esse percurso deve se desenvolver a partir da mediação do professor por meio de atividades concretas que propiciem a utilização real da linguagem.
As contribuições aqui expressas, por meio do ponto de vista dos diferentes teóricos ressaltados nessa pesquisa, proporcionam um adequado entendimento sobre o tema proposto, principalmente ao reafirmar-se que a aprendizagem da habilidade de escrita se constrói por meio de um longo processo, de grande relevância para o desenvolvimento de potencialidades. Há, entretanto, a necessidade de se propor atividades diversas e diferenciadas para que essa aprendizagem seja de fato efetiva.
Assim, diante de toda a revisão de literatura abordada, reafirma-se que cada um dos objetivos traçados foram alcançados, na medida em que se verificou que várias são as estratégias que podem estar sendo utilizadas pelo professor para a correção da escrita, cabendo, portanto, a adoção daquela que melhor se encaixar na situação vivenciada em sala de aula, podendo contar ainda com o apoio de outros profissionais nesse processo.
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1 Graduada em Pedagogia (Universidade Estadual de Roraima – UERR, 2007) e em Informática na Educação (Universidade Federal de Roraima – UFRR, 2018), Especialista em Mídias na Educação (UFRR, 2012) e em Informática na Educação (Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER, 2010). E-mail: [email protected]
2 Graduada em Pedagogia (Faculdade de Ciências e Teologia do Norte do Brasil – FACETEN, 2009) e em Letras/Espanhol (Universidade Estadual de Roraima – UERR, 2018), Especialista em Gestão Escolar (FACETEN, 2012) e em Educação Especial (IBRA, 2023). E-mail: [email protected]
3 Pedagoga (UFRR, 2005), graduada em Educação Especial (Centro Universitário ETEP, 2025), Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão – IBPEX/FACINTER, 2007), Especialista em Educação Especial (IBPEX/FACINTER, 2007), Especialista em Educação Especial – Déficit Cognitivo e Educação de Surdos (Universidade Federal de Santa Maria, 2008), Especialista em Atendimento Educacional Especializado na perspectiva da Educação Inclusiva (Faculdade de Filosofia e Ciências do Campus Marília, 2012). E-mail: [email protected]
4 Graduada em Pedagogia (Centro Universitário Internacional – UNINTER, 2017) e em Letras – Língua Espanhola e Literatura Hispânica (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima – IFRR, 2015), Especialista em Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira (UNINTER, 2017). E-mail: [email protected]
5 Graduada em Pedagogia (Faculdade Roraimense de Ensino Superior – FARES, 2010) e em Geografia (UERR, 2014), Especialista em Metodologia da Geografia (UNINTER, 2023). E-mail: [email protected]