A CONTRIBUIÇÃO ECONÔMICA DOS ESCRAVIZADOS, A PARTIR DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVI EM PERNAMBUCO, TENDO COMO BASE A CANA-DE-AÇÚCAR E SEUS SUBPRODUTOS
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10511011
Eduardo Gomes da Silva Filho1
RESUMO
O presente trabalho revela o importante contato Brasil/África e, por conseguinte, à efetiva contribuição cultural que se deu a partir dessas relações. Marcadas pela escravidão, mas que, inegavelmente, se deram, também, por meio de trocas culturais e um rico processo de mestiçagem, talvez único na História. Os estudos sobre África: historiografia e relações escravistas há pelo menos três décadas atrás era possível notar uma quase ausência de estudos no Brasil sobre o continente Africano. Justifica-se á análise social e econômica da civilização do açúcar como Gilberto Freyre em sua memorável obra Casa Grande & Senzala (1933), que já dava um conteúdo sublime e irrepreensível à temática nordestina do açúcar. Objetiva-se resgatar o valor histórico e econômico sobre o tema abordado. Pode ser relatado que ao chegar ao Brasil, os africanos foram inseridos como seres sem passado e tiveram a sua condição humana negada. Considerando o aspecto emocional no desempenho cognitivo, o que dizer das condições dadas aos africanos para produzir conhecimento no contexto da sociedade escravocrata brasileira? Essa é a pergunta da pesquisa.
Palavras-chave: África; Açúcar; História.
ABSTRACT
The present work it discloses the important Brazil/Africa contact and, therefore, to the effective cultural contribution that if gave from these relations. Marked for the slavery, but that, undeniably, if they had given, also, by means of cultural exchanges and a rich process of mestization, perhaps only in History. The studies on Africa: escravists historiography and relations have at least three decades behind were possible to almost notice an absence of studies in Brazil on the African continent. It is justified social and economic analysis of the civilization of the sugar as Gilbert Freyre in its memorable workmanship House Grande & Senzala (1933), that already it gave a sublime and irreproachable content to the thematic northeastern of the sugar. Objective to rescue the historical and economic value on the boarded subject. It can be told that when arriving at Brazil, the Africans had been inserted as beings without passed and had had its condition denied human being. Considering the emotional aspect in the cognitive performance, what to say of the conditions given to the Africans to produce knowledge in the context of the society Brazilian escravocrata? This is the question of the research.
Keywords: Africa; Sugar; History.
INTRODUÇÃO
O Negro na Economia Brasileira: entre as Senzalas e os Engenhos e a luta pela abolição
A formação do Brasil veio com as descobertas de terras distantes para extração de minerais, principalmente, o ouro. Na falta inicial deste minério, os portugueses acabaram se deparando, incialmente, com o Pau Brasil, devastando a costa brasileira para fins de exportação.
As Grandes Navegações e a descoberta do Novo Mundo, geraram um grande reboliço na Europa e na África, onde viviam os grandes mercadores e aventureiros, bem como os escravizados, trazidos compulsoriamente via Atlântico, para serem explorados em terras tupiniquins.
A participação dos escravizados na economia brasileira, em particular, na antiga capitania hereditária de Pernambuco, nos faz voltar no tempo e na história, e rememorar esta participação no sistema econômico vigente da época, não de uma maneira igualitária como mercadores, mas como escravos a serviço dos seus senhores, para atender às demandas do sistema de plantation.2
A partir de então, os escravizados passaram a ser levados nos tumbeiros3 para o Novo Mundo. Isso também se estendeu, pra outras colônias europeias na América. ao chegaram no Brasil, foram forçados a devastarem as matas, cuidar da roça, do gado e trabalhar no cultivo da cana-de-açúcar, fato que impulsionou a economia da época.
Nesse sentido, eles foram grandes colaboradores para a economia brasileira, sobretudo, nordestina, elevando o nível do Pacto Colonial, com a dinamização da economia da Capitania de Pernambuco. Porém, eles eram forçados a viverem em condições deploráveis como aponta Cardoso (1986).
Elas não tinham direito a nada, apenas a uma quantidade diária de alimento e um cantinho simples para dormir, nas degradantes senzalas. A vida resumia-se praticamente ao trabalho, a fim de retornar de maneira eficaz os custos imputados na compra por parte do seu senhor.
Outrossim, a relação entre o feitor e o negro era extremamente desumana com desferimento de chicotadas e açoites como castigo, no caso de o feitor considerar baixa produtividade nas atividades a serem desenvolvidas. Contudo, o que de fato existia era uma grande exploração e sobrecarga de trabalho.
Diante de tanto sofrimento, os donos de engenho ignoraram que Portugal havia declarado extinta a escravidão nas ilhas da Madeira e nos Açores, exemplo seguido pelos ingleses em 1807, com a proibição do tráfico atlântico.
No Brasil, a abolição só foi implantada posteriormente, mesmo já existindo uma proibição internacional inglesa contra o tráfico negreiro. Nesse sentido, é válido ressaltar, a importância do movimento abolicionista, pois a abolição dos escravizados no Brasil, não aconteceu por pura bondade da Princesa Isabel, mas pelas diversas lutas dos abolicionistas e da resistência e coragem dos escravizados.
Além disso, com o advento da Revolução Industrial na Inglaterra, o momento internacional exigia uma mudança na estrutura produtiva predominante no Brasil, devido às inovações que foram ocorrendo e a necessidade do mercado internacional se abrir para essas novas tecnologias.
A forma de escravidão já não era lucrativa e a substituição pelo assalariamento seria mais viável às condições patronais de rentabilidade. Todavia, após a consolidação da abolição, o que se viu na prática, foi um total abandono aos alforriados e libertos, deixando-os a própria sorte, muitos deles, analfabetos e sem profissão, tiveram que recorrer aos antigos senhores, para poderem sobreviver, demonstrando que a sociedade da época, ainda não estava preparada para absorver adequadamente essa nova demanda.
Pernambuco e o Açúcar
Em 1515, já existia povoamento em Pernambuco. Onze anos depois, Portugal recebia o açúcar aqui produzido. Nesta época, o nosso litoral era visitado por expedições espanholas e os portugueses já estavam aclimatados, assimilando até os costumes indígenas.
Os pernambucanos foram pioneiros nas ideias nativistas durante a expulsão dos holandeses, nas ideias libertárias do movimento Republicano de 1817, na Confederação do Equador e de tantas revoluções como a história registra. O avanço seguiu também nas letras, artes e pesquisas científicas. Pernambuco é uma palavra indígena que significa buraco do mar,4 mas os portugueses resolveram chamar de Pernambuco.
Este lugar foi doado pelo rei D. João III, em 1534, a Duarte Coelho, durante a formação das Capitanias Hereditárias. Duarte Coelho ficou inicialmente em Itamaracá, indo depois para Igarassu, fundando a Vila dos Santos Cosme e Damião, onde ainda existe a igreja mais antiga do Brasil.
Foi para junto dos índios Caetés e fundou Olinda, em 1536 e desenvolveu o programa colonizador, que se sobressaiu em relação às demais Capitanias. Olinda foi capital de Pernambuco por três séculos, Recife servia de porto.
A primeira referência à cultura da cana-de-açúcar em nosso território data de 1519, entretanto, a indústria da cana-de-açúcar propriamente dita, só começou a ser explorada no país em 1535, justamente em Pernambuco.
Foi à época de um “verdadeiro surto açucareiro”, quando o simples estabelecimento de um novo engenho dava lugar à formação de novos núcleos de povoamento. Desse modo, o avanço da cana-de-açúcar proporcionou o desbravamento de novas terras, impulsionando a expansão da colonização brasileira. O cultivo da cana-de-açúcar começou no nosso país no século XVI e antes do fim desse século, o Brasil já se tornara o maior produtor e fornecedor de açúcar do mundo.
No final do século XVI, Pernambuco era o maior produtor de açúcar do Brasil e contava com 66 engenhos. Nos primeiros vinte e cinco anos do século seguinte, a cana-de- açúcar se constituiu na principal atividade econômica da Colônia. Com o passar do tempo, os processos primitivos de produção de açúcar evoluíram, culminando com o aparecimento das primeiras usinas do século XIX.
A produção de açúcar foi, seguramente, o primeiro empreendimento econômico a funcionar, de modo organizado, nas terras brasileiras. Outras atividades surgiram, mas a atividade açucareira se manteve na liderança, por mais de um século. Por essa razão, tudo que se relaciona com o empreendimento açucareiro possui inestimável valor histórico para o Brasil e, especialmente, para o Nordeste.
É importante ressaltar, que esse tipo de atividade proporcionou a existência de uma elite social, que prevaleceu no Nordeste, como força hegemônica. Tal elite, causou marcas profundas no modus vivendi, e na cultura da sociedade local, marcas que ainda permanecem nos dias de hoje.
O preço do açúcar foi estimulado pela Primeira Grande Guerra Mundial, quando entrou em crise a indústria europeia de açúcar de beterraba. Concluído o conflito, abriu-se um grande mercado para o açúcar brasileiro, e os preços se elevaram, estimulando os antigos proprietários de engenhos a ampliar a capacidade de produção, agora de suas usinas.
A baixa competitividade dos engenhos, incapazes de modernizarem-se, fez com que muitos deles fossem trocados por usinas, com maior capacidade de produção. Outros que tentaram persistir na atividade, acabaram tendo um destino semelhante.
Os Impactos Sociais da Cultura da cana-de-açúcar na visão de Gilberto Freyre
Nesta parte, o trabalho faz uma referência ao Livro de Gilberto Freyre dada sua contribuição ao tema comentado.
Figura I - Moinho de cana-de-açúcar, por J. Moritz Rugendas
Sempre quando a questão racial no Brasil é discutida, o nome de Gilberto Freyre é lembrado. É bem verdade que a discussão em torno de suas idéias foi obscurecida nos anos 1960 no Brasil, em virtude de dois aspectos: a sua proximidade inicial com figuras históricas atuantes no golpe de 1964 e a mitificação criada por Freyre a respeito do poder democratizador da miscigenação racial no Brasil. Já nos anos 1980, os textos de Freyre começaram a ser reavaliados e sua obra ganhou um status novo dentro do pensamento social brasileiro (TUNA, 2003).
Continua o autor afirmando que uma das contribuições mais interessantes de Freyre em relação à experiência dos escravizados africanos no Brasil é a respeito da ação do meio sobre o africano. Freyre afirma em Casa-Grande & Senzala que é impossível separar a condição do africano de sua condição de cativo no Brasil.
Sendo assim, deve-se ter em mente que o africano no Brasil deve ser estudado tendo-se em vista a degradação de sua cultura sob a condição escrava. Desta maneira, Freyre propõe que os negros no Brasil não sejam considerados inferiores, mas sim, estudados, como indivíduos inferiorizados (TUNA, 2003).5
Entretanto, cumpre salientar que, assim como o sociólogo caracteriza como leniente a escravidão no Brasil, há também passagens em que Freyre denuncia o sadismo dos senhores e dos padres jesuítas com os escravos, a crueldade das senhoras em relação às escravas mais bonitas, a sifilização de indígenas e negros em virtude do contato sexual com os portugueses, entre outras passagens que explicitam a violência das relações raciais no Brasil.
A região Nordeste, concebida por Gilberto Freyre, não foi delineada apenas pelos elementos físicos, mas principalmente como um espaço social. Freyre ressaltou essa ideia no prefácio de "Casa Grande & Senzala", enfatizando que o ambiente social previsto pelo sistema patriarcal da lavoura açucareira era influenciado por elementos geológicos, botânicos, físicos e geográficos, porém não rigidamente definidos por eles (FREYRE, 2001).
O ponto de vista de Freyre ressaltou a supremacia do sistema patriarcal, com suas estruturas derivadas e processos ininterruptos, sobre todos os elementos físicos, sejam eles tropicais ou quase tropicais. Ele opera na região açucareira a expressão mais marcante da colonização portuguesa no Brasil, simbolizada pela Casa Grande, em conjunto com a Senzala. Freyre generalizou essa concepção ao afirmar que esse cenário originou um complexo sistema econômico, social e político.
Assim, a Casa Grande, embora associada especificamente ao engenho de cana-de-açúcar e ao patriarcalismo nordestino, não deve ser considerada exclusiva da economia açucareira. Isso se dá porque o sistema patriarcal se estende a toda monocultura escravista e latifundiária, tornando-se uma expressão mais profunda do caráter social brasileiro.
Na Sociedade Canavieira, as fazendas de plantação de cana-de-açúcar e seus respectivos engenhos eram administrados pelo senhor de engenho, figura que por muitos séculos representou o patriarcalismo severo dos escravocratas. Aliados e submetidos a esses senhores, representantes da aristocracia canavieira, eram os plantadores independentes, que vendiam a cana-de-açúcar brutal por um preço baixo.
Para controlar as relações de trabalho e abastecimento das fazendas, uma dúzia de homens livres agregados e/ou capatazes vendiam sua mão-de-obra para aplicação das medidas necessárias para a produção açucareira, submetendo os escravos as mais cruéis ações (FILHO & STORTO, 2008).
Eles tinham poder quase absoluto sobre as regras de comportamento e de trabalho, exerciam a autoridade local, que se estendia, a rigor, para muito além dos limites do engenho. Os senhores formaram a primeira elite política e econômica da história do país. As províncias e vilas dependiam da economia canavieira, pois abasteciam com produtos importados, a aristocracia representada pelos senhores de engenho. As instituições que representavam o poder monárquico central, por sua vez, eram dependentes dos impostos advindos do plantio, beneficiamento e venda do açúcar, além disso, outro alicerce arrecadador de impostos era o comércio de escravos.
A História da Cana-de-Açúcar no Brasil
A cana-de-açúcar, inicialmente mencionada em escrituras mitológicas hindus e nas Sagradas Escrituras, foi introduzida nas Américas no final do século XV. No Brasil, chegou em 1502, trazida por Martim Afonso de Souza. Isso marcou o início da indústria açucareira, parte crucial da colonização portuguesa.
Portugal enfrentava crises econômicas e a colonização do Brasil se tornou essencial para sua sobrevivência. Assim, o cultivo da cana foi promovido, garantindo lucros significativos para a metrópole. A produção açucareira se consolidou no Nordeste, principalmente em Pernambuco e Bahia, em grandes propriedades que empregavam mão de obra escrava.
Os engenhos, núcleos de produção de açúcar, eram dominados pela monocultura e pela escravidão. A Casa Grande abrigava os proprietários, enquanto a senzala, distante, era o local de moradia dos escravos. A produção do açúcar envolvia processos complexos, desde a extração do caldo da cana até a sua transformação em blocos de rapadura, enviados para Europa para refinamento e comercialização.
A economia açucareira foi vital na fase colonial, marcada por ciclos econômicos, e representou um pacto colonial de dependência com Portugal. Essa indústria foi fundamental para a integração da colônia à metrópole e para a estruturação da sociedade brasileira.
A Sociedade Colonial Durante o Ciclo da Cana-de-Açúcar
Durante o ciclo da cana de açúcar, a sociedade colonial foi fortemente definida pela casa-grande e pela senzala, com os brancos proprietários dos engenhos ocupando o papel de elite socioeconômica. Segundo (NOVAIS, 1990), essa aristocracia canavieira exercia controle não apenas em suas terras, mas também nas vilas e Câmaras Municipais.
O senhor de engenho detinha autoridade absoluta, mantendo uma estrutura patriarcal onde as mulheres assumiam papéis subordinados. Esse contexto, conforme (ALMADA, 1984), estabelecia uma clara hierarquia social, com os escravos africanos desempenhando a maioria dos trabalhos braçais na lavoura e na produção de açúcar.
Apesar de gerar imensas riquezas, o ciclo do açúcar direcionou a maior parte dessa riqueza para as metrópoles, de acordo com (FURTADO, 1984), caracterizando as condições do pacto colonial. Paralelamente à produção açucareira, houve atividades complementares, como a criação de gado e cultivos secundários.
As invasões holandesas e outros eventos, conforme (NOVAIS, 1990), impactaram a produção de açúcar, mas outros centros, como Bahia, Campos e São Paulo, prosperaram. No entanto, problemas como o surgimento do açúcar de beterraba e a falta de interesse de Portugal aceleraram o declínio da economia açucareira, marcando a transição para o café no século XIX.
Esse movimento, segundo (ALMADA, 1984), resultou na desarticulação da economia açucareira, que mesmo continuando presente, deixou de ser a principal base da economia brasileira. Uma mudança significativa na produção de cana-de-açúcar, mencionada por (HOLANDA, 1995), ocorreu na agroindústria sucroalcooleira a partir dos anos 90, especialmente em São Paulo, em resposta a restrições ambientais.
A Lucrativa diversidade da cana-de-açúcar: subprodutos na Economia Colonial de Pernambuco no Século XVI
No contexto da economia colonial pernambucana no século XVI, a cana-de-açúcar não era apenas a principal fonte de açúcar, mas também um verdadeiro tesouro de subprodutos que impulsionavam a economia regional. Enquanto o açúcar era o protagonista exportado para os mercados europeus, seus subprodutos desempenhavam papéis cruciais na dinâmica econômica local.
Além do açúcar refinado que gerava riqueza para os senhores de engenho, os subprodutos da cana, como a rapadura e a aguardente, tornaram-se commodities valiosas. A rapadura, uma forma não refinadas de açúcar, era utilizada tanto internamente quanto no comércio regional, proporcionando uma fonte alternativa de doçura e energia para a população local, inclusive para os escravos.
A aguardente, destilada a partir do caldo da cana, tornou-se uma bebida de grande demanda, não só entre os colonos, mas também como um produto de troca. Sua versatilidade e durabilidade a tornavam valiosa para o comércio local e como item de exportação.
Além desses produtos diretos, o bagaço da cana-de-açúcar era usado como combustível nas caldeiras dos engenhos, garantindo energia para o processo de produção do açúcar e, por vezes, sendo aproveitado como alimento para o gado. A queima controlada do bagaço também produzia cinzas ricas em potássio, um fertilizante essencial para as plantações.
Essa variedade de subprodutos da cana-de-açúcar na economia colonial pernambucana foi essencial para a sustentabilidade e diversificação econômica da região. Enquanto o açúcar era o carro-chefe das exportações, esses subprodutos desempenharam papéis vitais no consumo interno, no comércio regional e na manutenção da infraestrutura agrícola, contribuindo significativamente para a economia e a dinâmica social da época.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As complexidades entrelaçadas da cultura açucareira no Brasil, impulsionada pela cana-de-açúcar, ganharam destaque neste trabalho ao abordar não apenas a importância econômica desse produto, mas também as repercussões sociais e históricas que marcaram essa era colonial. A ascensão do açúcar como um dos principais pilares econômicos do país não apenas atraiu interesses estrangeiros, mas também ditou muitos dos conflitos e movimentos desse período.
Pernambuco, epicentro da produção açucareira, tornou-se palco de disputas entre potências europeias em busca do controle desse comércio lucrativo. As invasões holandesas exemplificaram a relevância estratégica da cultura da cana, levando à transferência de conhecimento para as Antilhas, modificando a dinâmica do mercado europeu e afetando drasticamente o valor do açúcar brasileiro.
Essa narrativa econômica, contudo, não pode ser dissociada do papel fundamental desempenhado pelos africanos escravizados nesse contexto. O negro, elemento central na economia baseada na plantation, foi peça-chave na expansão e sustentação desse ciclo, tornando-se um pilar da força de trabalho no campo e nas senzalas. Sua contribuição, muitas vezes invisibilizada, é indissociável da prosperidade da cultura açucareira.
A relação entre economia, cultura da cana-de-açúcar e seus subprodutos é intrínseca à construção das bases econômicas do país. Ao explorar essa dinâmica, ressalta-se não apenas a relevância econômica dos subprodutos da cana, mas também a influência social e histórica dessa cultura na formação do Brasil colonial. O legado desse período transcende o valor monetário, permeando aspectos sociais, culturais e econômicos que moldaram as bases de nossa sociedade contemporânea.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMADA, Vilma P.E. De Escravismo e Transição: O Espírito Santo. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.
CARDOSO, Ciro Flamarion. O mundo colonial (séc. XVI a XVIII): As bases da economia colonial - Ed, Atlas, São Paulo .1986.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. Ed. Livraria José Olympio, Rio de Janeiro, 2001.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.
HOLANDA, Sérgio. B. Raízes do Brasil. 26. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: Mota, C.G. (org.). Brasil em Perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 19ª edição. 1990.
TUNA, H. Gustavo - revisor das notas bibliográficas da nova edição de Casa-Grande & Senzala, (São Paulo, Global, 2003).
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
RUGENDAS, J. Moritz. Moinhos de cana-de-açúcar. Disponível em: https://terrabrasileira.net/.../of%C3%ADcios/engenho2.jpg. Acesso em: 08 jan. 2024. Acesso em 14/06/13 às 11:55 h.
FILHO, Sidney Aguilar; STORTO, Lúcia Helena. O mundo colonial, 2008. Disponível em: http://www. libertaria.pro.br/brasil/capitulo03_index.htm. Acesso em: 08 jan. 2024.
Esse trabalho é uma adaptação da minha Monografia de Especialização em História da África, defendida na Fundação de Ensino Superior de Olinda em 2010, sob a orientação da Prof. Me. Maria da Glória Dias Medeiros.
1 Professor da Universidade Federal de Roraima, Campus Murupu. Doutorando em História pelo PPGH Universo, Niterói-RJ. Bolsista Capes. Contato: [email protected].
2 Contudo, é válido ressaltar, que houve também uma grande contribuição no sentido cultural e houve, acima de tudo, resistência.
3 Termo utilizado para se referir aos Navios Negreiros.
4 Em Tupi o termo utilizado era Paranãpuka.
5 Essa visão limitada desconsidera toda a história de luta e superação dos povos africanos e pesquisas mais atuais, rechaçam essa teoria.