A CONSTRUÇÃO DA BANDEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO SÍMBOLO REPRESENTATIVO DA IDENTIDADE DA ESCOLA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13705639


Salma Ferreira Sampaio1


RESUMO
Este artigo é resultado das experiências vivenciadas a partir do desenvolvimento do projeto de aprendizagem intitulado “Minha bandeira, minha escola: A prática infantil na construção da bandeira como símbolo representativo de identidade da escola” em uma turma de maternal (Creche) de uma escola da rede pública municipal de Boa Vista, Roraima. Para compor os resultados obtidos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e de campo, com abordagem qualitativa, do tipo descritiva, utilizando-se, para isso do levantamento teórico sobre o tema realizado no Google Acadêmico, onde se selecionou estudos nacionais realizados nos últimos dez anos. A revisão literária permitiu perceber que o trabalho com projetos de aprendizagem, como o desenvolvido e ressaltado neste relato, apresenta-se, entre outros aspectos, como uma forma de integração entre a intencionalidade da ação educativa, o empenho pessoal e profissional e sua inclusão dentro de um contexto social, que no caso, é a escola. Isso permite concluir que, a preposição do projeto de aprendizagem descrito mostra o quanto é significativo e importante a utilização dessa pedagogia tendo como ponto de partida o protagonismo infantil. E, trabalhar a construção da bandeira na Educação Infantil, como símbolo representativo da identidade da escola, se mostra essencial no fortalecimento de valores como o respeito, o comprometimento e a união, que são fundamentais para o desenvolvimento pessoal e social destes sujeitos em formação, assim como para a formação de sua identidade e compreensão do papel desta instituição de ensino em suas vidas.
Palavras-chave: Projetos de Aprendizagem. Educação Infantil. Bandeira. Identidade da Escola.

ABSTRACT
This article is the result of experiences gained from the development of the learning project entitled “My flag, my school: Children's practice in building the flag as a representative symbol of the school's identity” in a nursery class (daycare) at a public school in Boa Vista, Roraima. To compose the results obtained, a bibliographic and field research was carried out, with a qualitative, descriptive approach, using, for this purpose, the theoretical survey on the subject carried out in Google Scholar, where national studies carried out in the last ten years were selected. The literary review allowed us to understand that the work with learning projects, such as the one developed and highlighted in this report, presents itself, among other aspects, as a form of integration between the intentionality of the educational action, the personal and professional commitment and its inclusion within a social context, which in this case, is the school. This allows us to conclude that the proposition of the learning project described shows how significant and important it is to use this pedagogy, taking children's protagonism as a starting point. And, working on the construction of the flag in Early Childhood Education, as a symbol representing the school's identity, proves essential in strengthening values ​​such as respect, commitment and unity, which are fundamental for the personal and social development of these subjects in formation, as well as for the formation of their identity and understanding of the role of this educational institution in their lives.
Keywords: Learning Projects. Early Childhood Education. Flag. School Identity.

Introdução

Este artigo é fruto do projeto de aprendizagem intitulado “Minha bandeira, minha escola: a prática infantil na construção da bandeira como símbolo representativo de identidade da escola”, que teve início a partir de uma roda de conversa informal com os alunos do maternal D (creche) da Educação Infantil, da Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves, quando uma criança ao ver a bandeira do Brasil em uma imagem, perguntou se era a bandeira da escola. Nesse momento, foi explicado para as crianças de onde era a bandeira e após a explicação elas continuaram interessadas em saber mais sobre o assunto abordado.

As experiências que se seguiram ao longo do 2º e 3º bimestre, seguindo a rotina da creche, tiveram como fio condutor os saberes sobre as formas geométricas, uma vez que a proposta era conduzi-los na construção da bandeira da escola, percebendo a identidade, os elementos característicos, as cores, etc.

Ao longo de todo o processo desenvolvido, contou-se com a participação das cuidadoras e das famílias que se empenharam em ajudar a construir a bandeira da escola, uma vez que era meta da turma desfilar levando-a para que toda a comunidade escolar pudesse conhecê-la e apreciá-la.

Por serem crianças pequenas, a preocupação em ensiná-las no passo a passo de sua produção foi um grande desafio, pois o seu entendimento ainda não está totalmente formado, assim como suas habilidades manuais e competências ainda se encontram em desenvolvimento. O trabalho direcionado foi a peça chave para que tudo saísse como planejado.

Considerando isso, este relato de experiência tem o intuito principal de apresentar os resultados obtidos a partir do trabalho do projeto de aprendizagem com as crianças do maternal D ao longo do 2º e 3º bimestre de 2023, fomentando que é possível construir o principal símbolo da escola que lhe dá vida e identidade no cotidiano infantil.

Ressalta-se que o referido projeto de aprendizagem foi construído baseando-se na Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI) que prevê, entre outros aspectos, o seu desenvolvimento “a partir do interesse das crianças, estimulando as ações cooperativas” (BOA VISTA, 2018, p. 56), considerando-se para isso, objetivos e direitos de aprendizagem e campos de experiências.

Além disso, a própria Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017a) evidencia que é por meio do desenvolvimento de projetos que a criança, desde a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem a oportunidade de adquirirem uma postura investigativa frente ao mundo que a rodeia, a partir de suas experiências cotidianas e da contribuição do professor.

Tomando isso como ponto de partida, o presente artigo, no formato de relato de experiência, baseou-se no desenvolvimento de uma pesquisa de campo e bibliográfica, com abordagem qualitativa, do tipo descritiva, no qual teve-se como parâmetro um projeto de aprendizagem.

Para compor o referencial teórico, realizou-se o levantamento teórico utilizando-se do Google Acadêmico, a partir da pesquisa de estudos realizados sobre o tema nos últimos dez anos no cenário nacional (Brasil), por acreditar que seria mais viável, uma vez que trabalhar com projetos de aprendizagem é algo recente no cenário local (Boa Vista/RR), não sendo possível encontrar trabalhos produzidos. Dessa forma, a proposta foi trazer para a discussão as experiências nacionais contrapondo-se ou comparando-se a realidade local, para assim observar as contribuições produzidas sobre o assunto, além de oportunizar a análise dos resultados obtidos.

Quanto aos procedimentos metodológicos empregados, a pesquisa de campo, do tipo descritiva, com abordagem qualitativa, foi o fio condutor que permitiu, não apenas a coleta de dados, como também a sua análise e discussão, onde ancorada em Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2001), ela permitiu investigar, refletir e conhecer uma dada realidade em estudo, constituído de um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, essenciais ao entendimento do fenômeno estudado, como se verá em cada uma das partes que compõem esse estudo.

Projetos na Educação Infantil: o interesse das crianças como ponto de partida para a aprendizagem

Nos últimos anos, por diferentes motivos e ideais, as questões envolvendo os símbolos nacionais retornaram ao horizonte histórico da sociedade brasileira. O foco principal tem sido o resgate e a defesa dos valores e símbolos nacionais. Assim, na tentativa de mostrar como o interesse das crianças pode ser usado como ponto de partida para a aprendizagem, a presente revisão de literatura traz para a discussão a construção da bandeira na Educação Infantil como símbolo representativo da identidade da escola.

Para isso, apoia-se no desenvolvimento de projetos de aprendizagem como fomentador de experiências vivenciadas na Educação Infantil, onde se pressupõe que é nesta etapa a fase mais propícia para a exploração de direitos e objetivos, assim como dos campos de experiências previstos Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e reafirmado pela Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI).

Diante disso, inicia-se destacando que, de acordo com Silva et al. (2023), trabalhar com projetos de aprendizagem para resgatar vínculos com a escola, assim como promover a construção da identidade da escola, é uma das muitas estratégias que vem sendo realizadas desde a Educação Infantil, devido ao importante papel assumido pelos símbolos escolares (brasão, hino e bandeira, por exemplo).

Para Mariano e Ribeiro (2020), é da cultura escolar, cotidianamente, organizar as turmas para realizar o momento cívico. Os professores geralmente são os responsáveis por esse momento na escola. No entanto, é muito comum utilizar esse momento muito mais como organização da rotina inicial, para que aos poucos as crianças entendam como elas são acolhidas, do que com o seu verdadeiro sentido.

Em parte, na Educação Infantil, esse momento ocorre dessa forma porque as escolas ainda não possuem brasão, bandeira ou hino. Além disso, no início do ano letivo, principalmente as crianças novas, elas ainda não compreendem o funcionamento da rotina escolar e necessitam passar pelo processo de adaptação, integração e acolhimento. Mas, tão logo, os campos de experiências começam a ser explorados que eixos temáticos como a identidade da criança na primeira infância passa a ser trabalhados, e, é nesse momento, que os pequenos acabam descobrindo que todo mundo tem uma história, inclusive, o local onde estudam.

Considerando isso, apoia-se em Lourenço (2019, p. 492) ao destacar a importância que se tem em “trabalhar com a Pedagogia de Projetos na Educação Infantil, uma vez que ela contribui significativamente na aprendizagem das crianças”. Isso é possível porque essa é uma estratégia que permite desde a construção de novos conhecimentos, a sistematização do saber curricular, a formação da personalidade.

Tal fato é confirmado por Soglio (2019) quando pontua que ao vivenciar projetos na sala de aula, a criança tem a oportunidade de experimentar diferentes papéis, experiências, ter contato com saberes de diferentes culturas, experimentação de situações com troca constante, vivência de jogos e brincadeiras, etc.

Como se pode observar, a pedagogia de projetos de aprendizagem é a estratégia ideal para promover a aprendizagem das crianças. Sabendo disso, nada melhor do que propor a implementação deles tendo como ponto de partida o interesse das crianças, aquilo que lhes chama mais a atenção, pois ao fazer isso, está se promovendo, não apenas o protagonismo infantil, como se dando abertura para a troca de ideias, para a apreciação, para o contato com novos saberes.

E, foi considerando o interesse das crianças que o projeto de aprendizagem “Minha bandeira, minha escola: a prática infantil na construção da bandeira como símbolo representativo de identidade da escola” foi pensado e implementado, pois seu início se deu a partir de uma roda de conversa informal com os alunos do maternal D (creche) da Educação Infantil, da Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves, quando ao verem a bandeira do Brasil em uma imagem, surgiu as indagações sobre ela ser ou não a bandeira da escola.

Logo, na tentativa tanto de interpretar os sentidos históricos da bandeira nacional, e, ao mesmo tempo explicar o seu significado de uma forma compreensiva que acabou-se aproveitando o interesse das crianças para se trabalhar, entre outros aspectos:

Os símbolos escolares, como o brasão, a bandeira e o hino, enquanto elementos que fazem parte da identidade de uma instituição educacional. Esses símbolos são utilizados para representar a escola e seus valores, e têm objetivo de desenvolver uma sensação de pertencimento e união entre os estudantes, professores e demais membros da comunidade escolar (SILVA et al., 2023, p. 237).

Há que se destacar que cada um destes símbolos possui particularidades próprias que lhe caracterizam. Por exemplo, o brasão apresenta elementos gráficos

que representam a história e os valores da escola; a bandeira é uma

representação visual da unidade educativa; o hino é uma canção que visa expressar a essência da instituição de ensino.

E, cada um, na sua particularidade e representatividade, trazem significados que enriquecem ainda mais o trabalho educativo que é desenvolvido na escola, pois eles são pensados para melhor fazer compreender qual é o papel, a missão, os objetivos, a finalidade e razão de ser e de fazer educação (TOMAZ et al., 2018).

Afinal, a própria escola é uma arena de saberes e culturas, e como tal, é no seu “interior que se fornece aos indivíduos que a frequentam maneiras de pensar e de agir que eles desenvolverão tanto dentro quanto fora do espaço escolar” (MARIANO; RIBEIRO, 2020, p. 799), permitindo que ela seja representada em sua multiplicidade e como parte da comunidade da qual faz parte.

Atuar, nessa perspectiva, na Educação Infantil, tendo como premissa os projetos de aprendizagem baseado no interesse das crianças enquanto protagonistas do processo de ensino e aprendizagem, é uma das estratégias que tem se tornado muito eficaz nesta etapa da Educação Básica justamente por possibilitar tanto as crianças uma aprendizagem mais significativa, quanto aos próprios professores buscarem formação profissional e refletirem sobre a sua prática docente e sobre o desenvolvimento da primeira infância.

Isso é possível porque a pedagogia de projetos defende que o aluno como responsável por sua própria formação e, como tal, protagonista do processo de ensino e aprendizagem. Ao lado do professor, também participa do ato educativo, na medida em que é capaz de dialogar e decidir o que tem interesse em aprender, mas sem perder de vista o que propõe o currículo escolar.

Metodologia

O projeto de aprendizagem foi desenvolvido ao longo do 2º e 3º bimestre do ano letivo de 2023, iniciando-se em 14/04 e encerrando-se em 29/09. Os planos que guiaram a sua realização com as crianças foram planejados e executados semanalmente, o que durou 22 semanas. Neles continham a rotina diária da creche, as experiências pertinentes ao currículo escolar e as do projeto, tudo mediado por um diálogo entre os objetivos e direitos de aprendizagem e os campos de experiências propostos pela Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil (PCMEI) que entende a criança como um ser em constante construção e transformação (BOA VISTA, 2018).

Destaca-se que as estratégias metodológicas, assim como o surgimento do projeto, tiveram como ponto de partida a realização de uma experiência onde as crianças desenharam a bandeira do Brasil do jeitinho que sabiam e na sequência cada um apresentou o seu desenho para a turminha. Porém, a maior parte delas relataram que tinham desenhado a bandeira da escola.

Assim, percebendo o interesse das crianças em aprender mais sobre a bandeira, bem como, diante do questionamento feito por elas sobre a escola ter ou não uma bandeira própria, teve-se a ideia de desenvolver o projeto de aprendizagem com essa temática, pois era algo do interesse da turma.

Diante disso, as crianças foram convidadas para uma conversa sobre a realização de um projeto direcionado para a construção da bandeira da escola. Na sequência, conheceram a bandeira do Brasil existente na escola, onde tiveram explicações sobre as cores (Verde, amarelo, azul e branco), as formas, a faixa branca com o nome (Ordem e progresso), as estrelas e o tamanho em que foi exposta.

Ao retornar para a sala de aula, conversou-se sobre a bandeira na rodinha e cada criança teve a oportunidade de se expressar dizendo o que mais gostou de ver. Em meio a esse diálogo, começou-se a pensar em um nome para o projeto de aprendizagem a partir de sugestões da própria professora: A bandeira sob o olhar de uma criança; minha bandeira, minha escola, dentre outros. Ao final, o nome mais votado por elas para nomear o projeto foi: Minha bandeira, minha escola.

Ao longo das semanas seguintes, a cada roda de conversa realizada, trazia um diálogo sobre o projeto, a bandeira, seus elementos, suas cores, para que, mesmo sem ainda estar pronta, as crianças pudessem ir visualizando mentalmente e por meio de suas falas, como ela seria ou poderia ser. Afinal, ela precisava retratar a escola e elas seriam as autoras e protagonistas desse processo, pois como destaca Borsa (2015), que a escola deve propiciar uma aprendizagem significativa capaz de mobilizar os diferentes aspectos afetivos, sociais, cognitivo, psicomotor, éticos e políticos, que contribuam para o seu desenvolvimento integral, além de contribuir para a aquisição da autonomia, visando o conhecimento das diversas manifestações da cultura corporal existentes atualmente.

Para concretizar as ideias sobre a bandeira que queriam, as crianças foram convidadas ao longo das semanas, a observarem os espaços da escola e o que fazia parte deles, por exemplo: a secretaria, a Sala de Recursos Multifuncional (SRM), o parquinho, a onça mascote Waldinha, a casinha sensorial. A proposta era trazer inspiração para a construção da bandeira.

E, foi dessas observações, das falas das crianças, que foi se pensando e moldando a bandeira da escola, tudo mediado pelo diálogo e protagonismo infantil, com o direcionamento da professora de sala e a ajuda das cuidadoras e com o apoio das famílias porque elas também contribuíram significativamente para que o projeto de aprendizagem desse certo.

Todas as experiências propostas eram de modo coletivo, em rodas, para facilitar o manuseio dos objetos concretos como TNT, formas de plástico dos números e letras, desenho do sol, livro de historinha, formas geométricas de emborrachado, gravura da onça pintada, imagens de crianças, figuras de pérolas retiradas de revistas, o nome impresso da escola, lápis de cor e imagens de crianças envolvendo etnias e inclusão social.

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a própria observação participante, os registros nos diários de bordo, registros fotográficos, vídeos e portfólio individual de cada criança. Os procedimentos avaliativos empregados foram a avaliação contínua e processual, onde foi-se diagnosticando o que dava ou não certo, (re)planejando-se experiências com a finalidade de se conseguir construir com as crianças a bandeira da escola.

Dessa forma, as crianças deram início à construção da bandeira da escola. Esse momento, foi de muita interação entre as crianças que colocavam e mudavam as imagens de lugar sobre o TNT. Ao final, o primeiro esboço da bandeira estava pronto e esse momento, foi registrado por meio de vídeos e fotos.

Outras atividades lúdicas desenvolvidas foram a pintura com tintas naturais (Açafrão, beterraba, cenoura, urucum) que eram manuseados em rodelas ou dissolvidos em água, para colorir os desenhos, rasgaduras de papel, confecções de bolinhas de papel para realizar colagem nos elementos da bandeira, desenhos direcionados para o tema do projeto e desenhos livres para que as crianças pudessem despertar a criatividade, contação de histórias no cantinho de leitura da sala e na árvore do pátio da escola. Destaca-se que, enquanto as histórias eram contadas as crianças falavam que na bandeira deles também tinha um livro, também o manuseavam e fizeram a leitura visual.

No decorrer do projeto, as crianças utilizaram copos, palitos e tinta guache sob auxilio, para formar o sol. Em seguida foram convidados para fazerem um passeio, pelo jardim da escola, onde viram as plantas e esculturas de animais, bem como a onça pintada e outros animais e ao retornarem para a sala de aula foram organizados para fazer a dobradura da onça pintada, a mascote da escola, Waldinha, onde pintaram com açafrão usando a ponta dos dedinhos, para que sentissem a cremosidade da tinta e sua textura.

As crianças fizeram outras construções como: a produção da selvinha amazônica, que foi construída com pedaços de papelão, recortes de livros e revistas, gravuras de alguns animais e cartelas de ovos, que foram tingidas com tinta guache, os balanços com caixas de papelão, bonequinhas de papel e barbante, que representava o parquinho que é um dos cantinhos lúdicos da escola.

Também participaram de brincadeiras com lego para trabalhar as cores e com o jogo de arremesso de bola em latas decoradas com animais, onde as crianças podiam arremessar a bola nas latas empilhadas e em seguida dizer o nome dos animais que tinham caído; com o castelo da Rapunzel que representou o cantinho da leitura com vários livros de historinhas que estavam expostos, onde tiveram a oportunidade de entrar no mundo da imaginação.

Por fim, há que enfatizar que para a construção deste trabalho, os procedimentos metodológicos basearam-se no desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica por entender que ela é necessária a qualquer estudo em virtude de:

Abranger a leitura, análise e interpretação com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos, periódicos, entre outros, cujo objetivo é conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o tema em questão com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos (MARCONI; LAKATOS, 2014, p. 33).

A aplicabilidade da pesquisa bibliográfica aconteceu na medida em que se buscou atender aos objetivos do estudo, uma vez que precisou ir ao encontro da solução para o problema levantado, possibilitando construir um marco teórico essencial para a compreensão de tema explorado nesse trabalho, onde por ser um estudo bibliográfico foi feito um levantamento teórico, por meio da técnica de fichamento e resumo de livros e artigos científicos, em torno da temática proposta, mais precisamente nos anos de 2014 a 2024.

A pesquisa de campo aplicou-se em virtude de se buscar, entre outros aspectos, “conhecer aspectos importantes e peculiares do comportamento humano em sociedade, buscando trazer elementos sempre atuais com o intuito de enriquecer o trabalho realizado” (CHIZZOTTI, 2013, p. 51), permitindo assim, o estudo dos diferentes aspectos de uma dada realidade que dizem respeito, entre outros fatores, aos dados empíricos colhidos em campo que carecem de análise científica para confirmar ou responder um problema de pesquisa.

A abordagem foi qualitativa porque “sua preocupação está centrada num nível de realidade que pode ser ou não quantificado” (GIL, 2010, p. 70), no qual o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento, cabendo a ele interpretar os fenômenos estudados, atribuindo-lhes um significado científico.

E, quanto aos objetivos, esse estudo se classificou como sendo do tipo descritiva, por “objetivar gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais” (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p. 35), dirigida, portanto, à solução do problema e a alcançar os objetivos específicos previstos num período de curto ou médio prazo, como é o caso deste estudo que volta a sua análise para o potencial dos projetos de aprendizagem na Educação Infantil implementados a partir do interesse e do protagonismo infantil, como melhor será analisado a seguir.

Análise e discussão dos resultados

Em um contexto de reflexão sobre a prática docente com Projetos de Aprendizagem, como o que se desenvolveu com a turma de maternal (creche) da Educação Infantil, da Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves, proporciona observar a importância que se tem de trazer para a discussão a realidade vivenciada por professores dessa etapa da Educação Básica, tal como pontua Moreira e Castro (2016), quando afirmam que esse é um encontro das narrativas único, pois transpõe a sala de aula, e torna possível que outros educadores se encorajem e também usem essas possibilidades como referenciais e pontos de partida para um ensino efetivamente de qualidade.

Assim, nessa experiência de construir a bandeira da escola, por meio do projeto de aprendizagem “Minha bandeira, minha escola: A prática infantil na construção da bandeira como símbolo representativo de identidade da escola”, as crianças não aprenderam apenas sobre as formas geométricas. Elas também trabalharam a relação interpessoal, que é a relação com o outro, uma vez que foi uma atividade coletiva e que todos se expressavam por meio da fala ou mesmo de gestos, já que algumas ainda estão em fase de desenvolvimento da linguagem oral.

Assim, as crianças realizaram experiências direcionadas para o tema envolvendo reciclagem de papel, tampinhas pet e embalagens. Também aprenderam sobre números e quantidades, cores, elementos da natureza e da escola. Aprenderam a ouvir, a esperar, a ter paciência, a respeitar, confirmando a importância de se abordar uma Pedagogia de projetos pautada nas Infâncias nesta etapa da Educação Básica, afinal, é por meio de experiências como estas que “a participação ativa das crianças, a escuta às suas ideias, oportunizando-as o exercício pleno de suas culturas” (SOGLIO, 2019, p. 07), faz toda a diferença no dia a dia da sala de aula.

Apesar do longo tempo de desenvolvimento do projeto, que foi dois bimestres ininterruptos, pensava-se que as crianças iriam perder o interesse. No entanto, não foi o que aconteceu. A cada experiência proposta elas continuaram entusiasmadas, nas produções e nas rodinhas de conversas.

Quando o esboço da bandeira que os alunos construíram era exposta as crianças observavam e respondiam as perguntas que eram feitas: Qual é o nome do nosso projeto? Qual é a cor da nossa bandeira? O que mais faz parte da nossa bandeira? Elas sempre estavam atentas e queriam ver como ela iria ficar no final.

Observando a promoção desse protagonismo infantil na sala de aula, concorda-se com Tomaz et al. (2018) ao evidenciar que trabalhar com projetos de aprendizagem na Educação Infantil é importante porque ajuda a tornar a aprendizagem eficaz, na medida em que permite a construção de conhecimento, propiciando as crianças uma maneira diferente de estudar os conteúdos.

Assim, como parte das aprendizagens construídas, destaca-se que as crianças também aprenderam sobre o significado da cor e das imagens que elas escolheram para fazer parte da bandeira. Por exemplo:

  • a cor azul que veio para simbolizar o compromisso, ou seja, o dever que a escola tem com cada criança, que é o de preparar para a vida pessoas valorosas, respeitadas por serem dignas e de bem;

  • o sol representa o conhecimento que a escola transmite para os alunos;

  • as formas geométricas, os números, as letras e o livro de história simbolizam os cantinhos pedagógicos e lúdicos existentes dentro e fora da sala de aula;

  • as crianças representam os alunos da escola e dentre eles estavam presentes as etnias e a inclusão das crianças que fazem parte do Atendimento Educacional Especializado (AEE);

  • as seis pérolas que as crianças seguram nas mãos correspondem aos anos que a escola ganhou o prêmio gestão;

  • a onça pintada que é encontrada nas nossas florestas, em esculturas das praças de Boa vista e que também é a mascote da escola;

  • o lápis verde traduz educação e esperança;

  • e o nome da escola Waldinete de Carvalho Chaves que já pertence escola desde 2016, e que foi colocado na época em homenagem a uma professora do município de Boa vista que muito contribuiu com a educação de nossas crianças.

Como se pode observar, o projeto foi trabalhado envolvendo não apenas a sala de aula. Mas, também, os diferentes espaços da escola. As atividades tiveram uma sequência, onde as crianças assistiam vídeos, realizavam experiências diversas envolvendo rasgadura de papel, colagem, manuseio com massinha de modelar, dentre outras que auxiliam no controle da mão, força e destreza dos dedos. As crianças também modelaram formas geométricas e representavam animais usando a criatividade.

Assim, compreendendo que deve ser proporcionado a criança a vivência de diferentes práticas voltadas para o desenvolvimento de habilidade corporais básicas, lúdicas e artísticas, necessárias ao seu desenvolvimento integral nesta faixa etária de idade (PORCHE, 1982), foram realizadas outras produções propiciando mais momentos lúdicos e prazerosos, dentre eles estão a construção de jogos educativos, que também foram feitos com material reciclado, como por exemplo: o jogo para trabalhar noções de quantidades, coordenação motora fina e ampla que era composto por um cachorrinho de pelúcia, um dado, quinze ossinhos confeccionados com papelão e dois pratos de papel. A brincadeira com esse jogo consistia em jogar o dado, pegar os ossinhos de acordo com a quantidade e colocar no prato. Dessa forma, as crianças desenvolviam o lado cognitivo enquanto brincavam.

As crianças também confeccionaram o cartaz dos animais feito com as formas geométricas básicas (Circulo, quadrado, triangulo e retângulo) e depois brincaram com as imagens que formaram; dado de encaixe das formas geométricas, onde os alunos pegavam as formas e encaixavam na forma correspondente a da caixa; as letras de formas lúdicas, ou seja, letras em forma de castelos, de casinhas, de prédios; letras para trabalhar texturas com esponjas coloridas e macias; cobertas com lápis, onde os alunos podiam deslizar os dedos e sentir a textura lisa; a letra coberta com tampinhas de garrafa pet, onde podiam sentir a textura mais áspera; as letras para trabalhar o coordenação viso motora fina, que envolve o movimento dos olhos e das mãos ao mesmo tempo e que contribui no desenvolvimento do movimento de pinça, pois as crianças precisaram passar o barbante, pelas argolas que as contornavam. Essas experiências foram essenciais para o seu desenvolvimento.

O foco até era a construção da bandeira. Mas, para se chegar até a sua produção final, inúmeras experiências ocorreram antes disso. Outras áreas de conhecimento foram envolvidas, assim como todos os campos de experiências foram ativados ao longo desse processo para que de fato as crianças pudessem ter acesso aos direitos de aprendizagem e adquirir habilidades conforme os objetivos de aprendizagem propostos ao longo de cada planejamento.

Todas as experiências que as crianças realizaram dentro e fora do ambiente escolar estavam direcionadas para o projeto da bandeira da escola. As habilidades desenvolvidas, pelas crianças no decorrer do projeto foram diversas. Avançaram no aspecto cognitivo, onde aprenderam as cores primarias (vermelho, amarelo e azul), as cores secundárias e começaram a diferenciar números de formas e letras embora, ainda não os identificassem. Também tiveram melhora significativa no desenvolvimento da linguagem oral, pois as crianças que apresentavam dificuldade na fala começaram a expressar melhor seus desejos e necessidades.

Conclusão

Com o intuito de apresentar o resultado do desenvolvimento do projeto de aprendizagem intitulado Minha bandeira, minha escola: A prática infantil na construção da bandeira como símbolo representativo de identidade da escola”, o presente relato de experiência trouxe para a discussão os principais resultados obtidos junto as crianças do maternal D (creche – Educação Infantil).

Ficou evidente também a importância que se tem de adotar a pedagogia de projetos como uma das estratégias para o desenvolvimento do ato educativo por entender que sua premissa está justamente em situar os esforços docentes em repensar a escola e sua função educadora em um mundo de complexidades, afinal, existem outras formas de promover o processo de ensino e aprendizagem que não seja somente a cópia, o livro didático ou as tradicionais atividades escolares.

Assim, pensar no desenvolvimento de projetos de aprendizagem tendo como premissa o interesse das crianças torna evidente o quanto é fundamental, hoje mais do que nunca, tornar esses sujeitos em formação, protagonistas de sua própria aprendizagem, principalmente porque é no dia a dia da escola e da sala de aula, que acontece o ato educativo e que ajuda na construção do relacionamento com o coletivo da escola, com os conhecimentos a serem ensinados, com os alunos e o envolvimento ativo dos educadores com a realidade na qual atuam.

Isso serve de referência para se concluir que pensar em um projeto de aprendizagem que trabalhe os símbolos que representam a identidade da escola se mostra fundamental por diversos motivos como os já evidenciados ao longo do trabalho. Reforça-se apenas que esse é um trabalho que não pode acontecer isolado do currículo escolar, mas que deve e pode ter ligação com as diferentes áreas do conhecimento, assim como podem envolver os diferentes atores da instituição de ensino.

Mesmo porque, os símbolos escolares são elementos que devem ser valorizados e respeitados. Não foram pensados aleatoriamente. Todos possuem uma relevante importância na construção da identidade e do senso de pertencimento dos estudantes à sua escola. E, trabalhá-los, considerando o interesse das crianças, é o que torna o ato educativo mais gratificante ainda.

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1 Pedagoga (Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil – FACETEN, 2011). Especialista em Educação Especial e Inclusiva (Faculdade de Educação São Luiz, 2020). E-mail: [email protected]