A CAPTAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS E O IMPACTO DO ENDIVIDAMENTO NO VALOR DAS EMPRESAS

PDF: Clique aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17373149


Thaminne Myllena Maria de Carvalho Moura1


RESUMO
Este estudo tem por principal foco analisar a captação de recursos em empresas, com ênfase nos efeitos do endividamento sobre a gestão e a geração de valor. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo, elaborada a partir de livros e artigos científicos. O objetivo central foi examinar as mais relevantes fontes de financiamento existentes, compreender os riscos e vantagens associados ao endividamento, discutir parâmetros para definição de limites de dívida e avaliar como essas escolhas impactam o valor corporativo. A análise permitiu compreender que a decisão sobre a fonte de recursos deve levar em conta não apenas custos e prazos, mas também a autonomia da gestão e as condições do setor. Foi possível verificar que o endividamento pode representar uma estratégia positiva ao proporcionar alavancagem financeira, disciplina na gestão e vantagens fiscais, no entanto, sua utilização excessiva tende a elevar riscos de falência, elevar o custo de capital e impor restrições contratuais. Conclui-se que não existe um limite único de endividamento aplicável a todas as empresas. O equilíbrio entre passivo e capital próprio deve ser constantemente ajustado às particularidades de cada organização e à conjuntura econômica. Nesse sentido, a pesquisa destacou que a boa gestão do endividamento é capaz de fortalecer a competitividade e gerar valor, enquanto escolhas desequilibradas podem comprometer a sustentabilidade do negócio.
Palavras-chave: Captação de Recursos; Endividamento; Estrutura de Capital; Finanças corporativas.

ABSTRACT
The study sought to analyze the financing options available, with emphasis on the effects of debt on management and value creation. This is a qualitative bibliographic research, based on books and scientific articles. The main objective was to examine the main sources of financing, understand the risks and benefits associated with indebtedness, discuss parameters for defining debt limits, and assess how these choices impact corporate value. The analysis showed that financing decisions should consider not only costs and maturities but also managerial autonomy and sector conditions. Debt proved to be a relevant strategy by providing financial leverage, managerial discipline, and tax advantages. However, excessive use tends to increase insolvency risks, raise the cost of capital, and impose contractual restrictions. It was concluded that there is no single debt limit applicable to all companies. The balance between debt and equity must be constantly adjusted to the specific characteristics of each organization and the economic environment. In this sense, the research highlighted that proper debt management can strengthen competitiveness and generate value, while unbalanced choices may compromise business sustainability.
Keywords: Capital structure; Corporate finance; Debt; Financing.

1. INTRODUÇÃO

As atividades econômicas, cada vez mais marcadas pela globalização, têm evoluído em ritmo acelerado e com crescente complexidade. O volume de informações geradas pelos ambientes competitivos aumenta de forma exponencial, ao mesmo tempo em que novas tecnologias transformam a maneira como os negócios são conduzidos. Nesse cenário dinâmico e desafiador, as empresas devem estar preparadas para tomar decisões ágeis e bem fundamentadas, afinal, a rapidez na resposta ao mercado pode representar a diferença entre alcançar bons resultados ou enfrentar prejuízos. Diante disso, torna-se essencial contar com informações confiáveis, claras, completas, acessíveis e disponibilizadas no momento certo, de forma a embasar tomadas de decisão estratégicas com maior segurança e eficácia.

Quando se trata de grandes empresas que buscam expandir suas atividades em um cenário cada vez mais competitivo, elas enfrentam a necessidade constante de buscar recursos para financiar projetos, operações e estratégias de crescimento. Obter esses recursos, seja através do sistema bancário ou do mercado de capitais, é essencial para sustentar os investimentos e manter a competitividade no mercado. Segundo Assaf Neto (2020), entender as possibilidades de financiamento existentes e seus impactos na estrutura de capital é primordial para que os gestores tomem decisões alinhadas à sustentabilidade econômica e ao valor da organização.

Nesse contexto, o endividamento costuma ser uma alternativa frequente. Embora possa trazer benefícios, como o crescimento dos retornos através da alavancagem e a disciplina na gestão, também apresenta riscos, especialmente relacionados à solvência e ao aumento do custo do capital.

Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, baseada em livros e artigos científicos. O objetivo principal é analisar as principais opções de captação de recursos disponíveis às grandes empresas, identificar os riscos e benefícios do endividamento, discutir parâmetros para definição de limites de dívida e examinar os impactos desse processo em uma corporação.

O artigo está estruturado em quatro seções, além desta introdução. A primeira trata das fontes de financiamento utilizadas pelas empresas. A segunda discute os riscos e benefícios do endividamento. A terceira examina critérios para determinação de limites de dívida. A quarta analisa como o endividamento interfere no valor das companhias e outras informações pertinentes ao tema. Ao final, apresentam-se as considerações finais.

2. FONTES DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS NO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

A captação de recursos é um aspecto essencial para o desenvolvimento e sustentabilidade de negócios em geral, no que se refere a empresas de grande porte existem diversas opções para financiar suas atividades, que podem ser divididas em fontes internas e externas. As fontes internas basicamente envolvem o uso de lucros retidos e recursos gerados pelas próprias operações da empresa. Já as fontes externas incluem empréstimos bancários, financiamentos de longo prazo, emissão de debêntures, abertura de capital e captação de recursos no mercado internacional.

Se tratando de mercado financeiro, os recursos são obtidos principalmente junto a bancos e instituições de crédito, por meio de linhas como capital de giro, leasing ou financiamentos específicos para projetos. No mercado de capitais, por outro lado, as empresas utilizam instrumentos mais sofisticados, como emissão de ações, bônus e títulos de dívida, que permitem as empresas captar recursos de forma direta com investidores, essa opção dá mais controle sobre as decisões importantes e do dia a dia, sem precisar pegar empréstimos ou pagar juros. De acordo com Gitman e Zutter (2012), a escolha entre essas fontes deve levar em conta fatores como o custo do capital, os prazos de pagamento, as garantias exigidas e o impacto na autonomia da gestão da empresa.

As empresas também podem procurar recursos em fundos de investimento e de capital de risco. Os fundos de investimento juntam dinheiro de vários investidores para aplicar em projetos específicos, enquanto o capital de risco vem de investidores que buscam oportunidades em empresas com grande potencial de crescimento. Ambos podem oferecer valores elevados de dinheiro e conhecimentos importantes na gestão, mas geralmente exigem uma participação maior nos lucros e no controle da empresa (Lima, 2024).

Além dessas opções, muitas empresas podem aproveitar linhas de financiamento incentivadas, como as oferecidas por bancos de desenvolvimento e órgãos governamentais. No Brasil, por exemplo, o BNDES apoia projetos de infraestrutura, inovação e sustentabilidade, oferecendo juros mais baixos do que os praticados pelo mercado comum. Esses recursos são uma estratégia importante, pois aumentam a capacidade de investimento da empresa com custos menores, embora estejam sujeitos a regras específicas de elegibilidade e acompanhamento.

Diante dos apontamentos realizados neste tópico pode-se resumir que a escolha da melhor fonte de captação vai depender das necessidades e características inerentes a cada empresa, e seus interesses de direcionamento de gestão e de crescimento.

3. PRINCIPAIS RISCOS E BENEFÍCIOS DO ENDIVIDAMENTO

Assumir dívidas faz parte do dia a dia de organizações que tem por objetivo o crescimento e se manter competitivas em mercados cada vez mais desafiadores. Entre as vantagens do endividamento, a alavancagem financeira se destaca, pois permite aumentar os retornos dos acionistas sem precisar de novos investimentos de capital próprio. Outro ponto importante a ser avaliado é sobre a vantagem fiscal, tendo em vista que os juros pagos podem diminuir a base de cálculo do imposto de renda, o que ajuda a melhorar o fluxo de caixa. Além disso, a obrigação de cumprir pagamentos de forma periódica ou até mesmo compulsória pode inclusive incentivar uma maior disciplina por parte dos gestores, que acabam usando os recursos de forma mais eficiente e planejada, porém esse nível de organização só será efetivado nos casos em que a dívida estiver alinhada com a capacidade de geração de caixa daquela unidade empresarial.

De qualquer maneira, é sempre importante ficar atento e ter um sério controle e acompanhamento quanto aos riscos. Entre os riscos mais graves está a insolvência, que ocorre quando a companhia não tem condições de honrar seus compromissos financeiros e sua operação passa a ser comprometida. Outro ponto relevante é o encarecimento do crédito: à medida que a dívida cresce, os financiadores tendem a exigir juros maiores para compensar o risco, podendo inclusive restringir o acesso a novos financiamentos em situações críticas. Esse risco é deve ser especialmente observado para empresas que têm muitos vencimentos de dívidas em um período curto.

Para conduzir bem o gerenciamento desse risco de refinanciamento, é fundamental acompanhar como os vencimentos estão distribuídos e manter opções de crédito disponíveis para emergências. (Ross, Westerfield & Jaffe, 2017).

A eficiência no uso do endividamento depende de uma avaliação criteriosa dos riscos e oportunidades envolvidos. Para tanto, é preciso considerar a previsibilidade dos fluxos de caixa, as condições do cenário econômico e as diretrizes internas de gestão. Assim, a estrutura de capital deve ser organizada de forma a explorar as vantagens da dívida, como os incentivos fiscais e a possibilidade de alavancagem, sem comprometer a solidez financeira ou a flexibilidade necessária para o negócio.

4. LIMITES, IMPACTOS E DEMAIS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TEMA ENDIVIDAMENTO DE EMPRESAS

4.1. Limite de Endividamento

Não existe um número fixo que defina qual seria o limite ideal de endividamento para todas as empresas. Cada organização apresenta características próprias, ligadas ao setor em que atua ao ciclo de vida do negócio e até mesmo à conjuntura econômica do país. O que os gestores precisam buscar é um ponto de equilíbrio, em que a dívida seja suficiente para financiar o crescimento, mas não a ponto de prejudicar a realização de pagamentos.

Em aspectos gerais, quanto mais estáveis forem os fluxos de caixa de uma organização, maior costuma ser a tolerância a utilização de dívidas. É comum constatar que empresas de setores mais regulados, como energia e saneamento, geralmente operam com índices de endividamento mais altos, enquanto companhias de mercados mais voláteis, como tecnologia, preferem manter níveis menores de dívida. Essa diferença mostra que a limitação de endividamento não é uma fórmula fixa, mas algo que deve ser aprimorado continuamente de acordo com a realidade de cada negócio.

Definir o limite adequado, portanto, não é apenas um cálculo numérico, é uma opção estratégica que precisa considerar simultaneamente indicadores financeiros, riscos do setor e a confiança transmitida pela gestão ao mercado, além de outros aspectos inerentes aquela determinada organização.

4.2. Impacto do Endividamento no Valor da Empresa

A utilização de dívidas não afeta apenas a liquidez de uma organização em curto prazo, mas também a sua avaliação no mercado. Do ponto de vista teórico, a utilização de dívidas pode contribuir para a valorização da empresa, já que os juros pagos reduzem a base tributária e aumentam o retorno líquido dos investidores. Essa perspectiva, defendida por Modigliani e Miller (1963), evidencia como a estrutura de capital influencia a geração de valor. Contudo, o crescimento excessivo do endividamento também traz efeitos adversos que precisam ser avaliados.

Quando a dívida cresce demais, os custos com possíveis falências e a análise de risco pelos credores se tornam mais relevantes do que possíveis vantagens fiscais. Isso faz com que o custo médio ponderado de capital (WACC) aumente, dificultando a geração de valor. Nessa situação, o valor do empreendimento costuma diminuir porque investidores e financiadores passam a exigir retornos maiores para compensar o risco extra (Brealey, Myers & Allen, 2019).

Assim, o impacto do endividamento sobre o valor corporativo deve ser analisado caso a caso, considerando tanto indicadores financeiros quanto fatores qualitativos, como reputação no mercado, governança e transparência. Em vez de adotar uma regra fixa, cabe aos gestores avaliar continuamente como a dívida está influenciando a confiança dos investidores e o posicionamento estratégico da empresa no longo prazo.

4.3. Sugestões de Atuação Profissional

Ao citar mais especificamente o papel de um gestor de finanças corporativas em uma empresa de grande porte, algumas diretrizes se mostram relevantes para o planejamento da captação de recursos. Tomando como referência companhias brasileiras listadas na Bolsa de Valores, como a Petrobras, é possível compreender que o equilíbrio entre fontes internas e externas é fundamental. Nesses casos, o gestor deve dar prioridade a utilização de recursos internos, como a reinserção de lucros retidos, sempre que possível, a fim de reduzir a dependência de dívidas externas. Em seguida, recomenda-se avaliar linhas de financiamento incentivadas e operações no mercado de capitais, de forma a diversificar as fontes de recursos e minimizar a exposição a riscos concentrados, claro que tais decisões vão depender de vários aspectos e inclusive sobre a forma de direcionamento desta gestão.

Depois, é recomendável avaliar opções de financiamento incentivado e operações no mercado de capitais. Diversificar as fontes de recursos ajuda a reduzir os riscos concentrados e oferece mais segurança na hora de captar recursos. Outra sugestão importante é estabelecer uma política de endividamento bem definida, com limites de alavancagem que façam sentido para o perfil da empresa e do setor em que ela atua. Essa política deve ser revisada regularmente, levando em conta as condições econômicas do momento e a evolução dos indicadores financeiros.

Importante reafirmar que não existe um limite único de endividamento que sirva para todas as empresas. Cada companhia deve ajustar suas estratégias às suas particularidades e necessidades específicas. A decisão entre dívida e capital próprio não deve ser vista apenas como uma escolha contábil, mas como um movimento estratégico que impacta diretamente a competitividade, a reputação perante investidores e a sustentabilidade do negócio.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste estudo, foi possível observar que a captação de recursos é uma peça-chave para empresas de grande porte que desejam expandir seus negócios e se manter competitivas em mercados cada vez mais marcados pela intensificação da concorrência e pela escassez de recursos. Ao analisar as principais fontes disponibilizadas no mercado financeiro e de capitais, fica claro que cada uma delas possui características próprias, custos específicos e impactos diferentes na autonomia e na estratégia da empresa.

A análise sobre os riscos e vantagens do endividamento mostrou que a dívida pode ser uma aliada importante, ajudando na alavancagem financeira, promovendo disciplina na gestão e trazendo vantagens fiscais. No entanto, quando usada de forma excessiva, ela pode aumentar a possibilidade de insolvência, elevar o custo do capital e impor restrições que limitam a flexibilidade da gestão. Ficou claro também que não existe um limite único de endividamento que se aplique a todas as empresas. Na verdade, esse limite varia dependendo do setor, da previsibilidade das receitas e da capacidade de gerar caixa. Por isso, é importante ajustar esse parâmetro constantemente às condições econômicas e às estratégias de longo prazo de cada companhia.

Em virtude dos apontamentos já realizados, pode-se concluir que o endividamento pode tanto aumentar quanto diminuir o valor de um empreendimento. Quando é feito de forma moderada, ajuda a criar valor, mas, se exagerado, pode comprometer a sustentabilidade do negócio e a confiança dos investidores. Dessa forma, a pesquisa pode concluir que o foco do negócio deve estar no equilíbrio entre risco e retorno. Quando bem gerido, a dívida pode fortalecer a organização, mas, se mal administrada, pode representar uma ameaça à continuidade do negócio. Como recomendação profissional, vale a pena ressaltar a importância de novas pesquisas que aprofundem a análise em setores específicos, de modo a fornecer parâmetros ainda mais aplicáveis à realidade empresarial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Assaf Neto, A. (2020). Mercado financeiro (14. ed.). Atlas.

Brealey, R. A., Myers, S. C., & Allen, F. (2019). Princípios das Finanças Corporativas (13th ed.). McGraw-Hill Education.

Gitman, L. J., & Zutter, C. J. (2012). Principles of managerial finance (13th ed.). Pearson Education.

Modigliani, F., & Miller, M. H. (1963). Corporate income taxes and the cost of capital: A correction. The American Economic Review, 53(3), 433–443. http://www.jstor.org/stable/1809167

Lima, V. P. Principais Fontes de Captação de Recursos Financeiros para Sua Empresa. Apresto, 2024.

Ross, S. A., Westerfield, R. W., & Jaffe, J. (2017). Finanças corporativas (11th ed.). McGraw-Hill Education.


1 Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade Luso Brasileira (FALUB), Especialização em Contabilidade e Controladoria Governamental pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestranda em Administração de Empresas pela Must University. E-mail: [email protected]