RESTAURAÇÃO E READAPTAÇÃO DE CASARÃO NO DISTRITO DE PENDANGA, IBIRAÇÚ, ES
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12659575
Sueli Mufalani Pratti1
Viviane Lima Pimentel2
RESUMO
Este trabalho apresenta a proposta de reconversão de uso no casarão da família Zandomênico, localizado no Distrito de Pendanga, Município de Ibiraçu ES. Atualmente o casarão está abandonado por falta de uso e em processo de degradação. Esse projeto visa retornar o uso a este casarão adequando-o para a utilização de uma pousada voltada para retiros de casais, jovens e encontros de grupos. No entanto, levantou-se as informações necessárias com o intuito de estabelecer uma avaliação técnica do local, buscou-se utilizar materiais da região e optou-se por privilegiar o casarão na paisagem oferecendo toda uma urbanização da área para que fosse dado o suporte necessário a esta utilização. Busca-se beneficiar a população da cidade tanto com o novo uso proposto como também com a preservação desta parte da história, privilegiando e recuperando o valor do casarão com inserção na dinâmica através de um uso que seja adequado.
Palavras-chave: Readaptação. Patrimônio. Restauração. Conservação.
ABSTRACT
This work presents the proposed reconversion of use in the house of the Zandomênico family, located in the District of Pendanga, Municipality of Ibiraçu ES. Currently the house is abandoned for lack of use and in the process of degradation. This project aims to return the use to this house, adapting it to the use of a hostel geared towards retreats for couples, young people and group meetings. However, the necessary information was raised with the purpose of establishing a technical evaluation of the place, we sought to use materials from the region and chose to privilege the house in the landscape offering a whole urbanization of the area so that the necessary support was given to this use. It seeks to benefit the population of the city both with the new proposed use and also with the preservation of this part of the history, privileging and recovering the value of the house with insertion in the dynamics through a use that is appropriate.
Keywords: Readaptation. Patrimony. Restoration. Conservation.
1. INTRODUÇÃO
O estudo em questão aborda uma proposta de intervenção e restauração de um casarão da família Zandomenego situado no Distrito de Pendanga, município de Ibiraçu, ES. A população do Distrito é composta em maioria, de descendentes de imigrantes italianos.
Atualmente o casarão em questão encontra-se deteriorado e em péssimo estado de conservação por abandono de uso e falta de manutenção. As sensações e percepções despertam o desejo de trazer à tona a história de um passado que aos poucos vai se apagando do contexto histórico.
O patrimônio cultural de uma cidade serve, entre outras coisas, para deixar acesa a memória individual e coletiva de uma sociedade. Guarda a imagem viva permitindo que o passado interaja com o presente, fazendo com que a consciência se envolva e se comprometa. Quando constituída pela complexa e múltipla rede memorial, articula o passado ao presente e ao futuro.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN (2012), “o patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo”.
Este trabalho trata de um casarão que remete a arquitetura da imigração italiana no ES. Em 1877 os imigrantes italianos chegaram a Ibiraçu vindos de Gênova, nos navios a vapor “Columbia”, “Izabella” e “Clementina”, coordenados pelo general Aristides Armínio Guaraná. Os imigrantes vieram para o Brasil fugidos da má condição socioeconômica do norte da Itália devido a mecanização do campo e às guerras imperialistas. Viajando em média por 60 dias, muitos destes vieram para o Espírito Santo até chegar à Vitória em busca de melhores condições de vida (IBIRAÇU, Prefeitura Municipal, s/d).
É possível afirmar que a recuperação do imóvel, dando um novo uso, que possa inseri-lo na dinâmica da comunidade local, trará um retorno que colabore para sua preservação.
Considerando que o abandono e a falta de conservação levaram o casarão ao estado atual, a recuperação pode ocasionar a valorização do imóvel despertando o interesse na preservação do bem, possibilitando a geração de renda através do uso comprovada e a auto sustentabilidade levando assim melhorias a população.
O objetivo desse projeto em nível de estudo preliminar é restaurar e readaptar o casarão para o uso de uma pousada, que poderá ser utilizada em retiros de casais, jovens e adultos e encontros de grupos.
Diante disso será elaborado o inventário do casarão e o diagnóstico do estado de conservação a fim de definir as estratégias de intervenção no imóvel. Serão analisadas referências projetuais com usos de pousadas em monumentos históricos a fim de embasar a elaboração de proposta de reconversão de uso como pousada, proporcionando a população um local atrativo, movimentando a economia e a cultura do município.
Nesta pesquisa, verificaram-se os momentos em que casarões similares estavam surgindo em função da lavoura cafeeira e que os imigrantes vieram para o estado do Espírito Santo, em busca de melhor qualidade de vida, deixando suas terras por falta de trabalho e fugindo das guerras que encontrava no seu país.
Os proprietários não têm recursos financeiros para fazer a manutenção, nem mesmo a recuperação do imóvel, a intervenção poderá recuperar a edificação gerando rendimentos para colaborar na manutenção do bem.
Buscando analisar a temática proposta, esse trabalho aborda a pesquisa exploratória e tem como objetivo apresentar de forma clara os instrumentos utilizados para coleta de dados, bem como a solução tomada.
A metodologia para desenvolvimento deste trabalho prevê a realização de levantamento arquitetônico no local, o registro fotográfico e o diagnóstico do estado de conservação do casarão, de maneira a atingir a maior autenticidade possível no processo de conhecimento do problema a ser estudado, foi elaborado um inventário com dados colhidos em entrevistas com moradores do local, pesquisas sobre o casarão. O estudo apresenta uma solução para trazer melhorias para o bem em questão, para isso fez se necessário apontar abordagens com base na utilização de material teórico, estabelecendo uma linha investigativa pela qual será conduzido o trabalho. Sendo assim, realizou-se um levantamento de todas as informações necessárias com o intuito de estabelecer uma avaliação técnica do que propõe o estudo.
A pesquisa do material teórico e o estudo seguirão distribuídos em quatro etapas: a primeira na qual buscou informações sobre a história da chegada da colonização italiana relatando a fundação do Distrito de Pendanga. A segunda em que foi elaborado um inventário do casarão e o diagnóstico do estado de conservação. A terceira quando foram analisadas as referências projetuais com usos de pousadas em monumentos históricos.
A quarta etapa trata do desenvolvimento do projeto de intervenção do casarão tendo em vista a análise de referências projetuais relativos a imóveis antigos e reabilitados com a instalação de pousadas. No projeto da pousada serão observados todos os critérios de acessibilidade nos acessos e circulação conforme as regras gerais baseadas nas normas da ABNT NBR 9050/2015, no decreto nº 5.296/2004, na normativa do Iphan nº 01/2003 e no Ministério do Turismo trazendo aos usuários acessibilidade garantida.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A imigração italiana no Espírito Santo
O imigrante italiano foi atraído pelo governo para o Brasil com promessas de propriedade de um pedaço de terra devido à abolição da escravatura. Foram enganados, desviados com contratos de parcerias para fazendas, distribuídos em locais sem nenhuma estrutura, isolados e carentes de estradas, sendo chamados de colônia mesmo que concebidas unicamente para atividades agrícolas, onde lhes eram impostos prazo para construírem suas casas, a legislação exigia ainda mais da área urbana (POSENATO, 1997).
Para (POSENATO, 1997) os núcleos primitivos formavam-se ao redor dos barracões para onde o governo conduzia e alojava os imigrantes e lhes davam condições precárias de vida, e ali permaneciam por vários meses.
Na instalação das colônias, as cidades traçadas pelos engenheiros a serviço do governo brasileiro, conforme a prática do século XIX, mostram a influência das normas que o rei espanhol Carlos II determinou para as colônias da América as Leyes Generales de Las Indias. Elas preconizavam um plano prévio antes mesmo da fundação de um povoado (PAREDES, 1973, p.133 apud POSENATO, 1997).
Enquanto que no núcleo planejado as cidades eram traçadas por técnicos do governo, nos núcleos espontâneos formaram-se, ao redor de uma capela, terra doada por alguém, onde passava a ser constituído o patrimônio da Igreja. A malha urbana não seguia um plano natural e às vias iam sendo constituídas conforme a necessidade de sua projeção (POSENATO, 1997).
Dos núcleos localizados nos territórios coloniais do Espírito Santo, muitos, que tiveram um crescimento inicial vigoroso, pelo reordenamento das rotas comerciais sofreram um baque, ostentando ainda hoje o mesmo aspecto e as mesmas edificações (agora decadentes) do período de apogeu. Isso vale tanto para os planejados como para os espontâneos. Demétrio Ribeiro e Pendanga são exemplos (RUSCHI, 1939, p.72 apud POSENATO, 1997).
O movimento imigratório italiano no Espírito Santo tem características próprias e se processou, basicamente, em dois tempos: o primeiro inclui a fase imperial (1874-1882) que vai da fundação até a emancipação de núcleos nas colônias, em regiões próximas aos centros de comercialização; o segundo, a fase imperial e republicana (1885-1895) e é uma retomada do surto imigratório em regiões mais afastadas e interioranas e que termina com a proibição causada pelo insucesso do núcleo Muniz Freire no rio Doce (BUSATTO, 1987, p.11 apud POSENATO, 1997).
Ainda segundo (BUSATTO, 2016) houve desigualdade no modo de ocupação da terra dentro da Província do Espírito Santo, na parte norte e na parte sul. Na região de Santa Leopoldina, a primeira das duas grandes colônias, predominou o sistema de concessão de prazos, enquanto que na outra colônia, a de Rio Novo, prevaleceu o sistema de parceria nas fazendas. Com uma proposta de aquisição dos terrenos pelos imigrantes, terrenos que nem sempre eram terras devolutas, mas partes de fazendas decadentes.
Em Rio Novo vigorava o sistema de prazos. Enquanto nesta colônia a divisão das terras seguia um quadriculado, na colônia de Santa Leopoldina o prazo colonial se organizava a margem direita e esquerda dos pequenos a grandes rios, de modo que todos desfrutassem do mesmo benefício a água. No entanto, por exemplo, no Rio Grande do Sul as medições se faziam de um e de outro lado de uma linha reta de muitos quilômetros não importando os acidentes orográficos.
Na primeira fase os imigrantes italianos chegavam em conjunto, sendo levados para um núcleo como aconteceu com os de Timbuí (Santa Teresa) e de Santa Cruz (Ibiraçu). Enfrentaram situações de impacto como a mudança climática, a selva brasileira, as doenças tropicais.
Na segunda fase, os imigrantes chegavam em grandes levas. Eram distribuídos pelos novos núcleos em grupos menores e levados para lugares bem mais distantes dos centros comerciais. Deparou-se com a dificuldade na comunicação e com a exploração exagerada no comércio de gêneros de primeira necessidade. Vindos em maior número e distribuídos pelos portos de Itapemirim, Piúma, Benevente (atual Anchieta), Guarapari, Vitória, Santa Cruz, São Mateus, obrigatoriamente tinham que passar pelos núcleos já fundados que, na sua maioria, não se encontravam em bom estado de prosperidade (BUSATTO, 2016).
A segunda fase da história da arquitetura italiana no Espírito Santo é marcada por uma proliferação de núcleos coloniais que consolidaram a ocupação das áreas vazias. Alguns deles se tornaram cidades, outros mudaram de nome e outros ainda, ou porque perderam representatividade na economia, não corresponderam ao futuro próspero que lhes era destinado (BUSATTO, 1987, p.28 apud POSENATO, 1997).
2.2 O Distrito de Pendanga
O Distrito de Pendanga fica localizado próximo à BR 101, denominada Governador Mário Covas (Figura 01), sendo um dos Distritos que fazem parte do Município de Ibiraçu ES. Segundo relatos de moradores do local, o Distrito de Pendanga foi considerado mais importante que o Município de Ibiraçu ES, pelo fato de que todo o centro de desenvolvimento econômico era gerado naquela localidade de Pendanga (CURTO 2018). Em Ibiraçu tratava-se, mais das questões burocráticas, sendo considerado como centro político da região (POSSATO, 2018).
Figura 01: Localização Aérea de Pendanga
O lugarejo começou na região de Ibiraçu, no início na segunda metade do século XIX, em 1877, quando os imigrantes italianos chegaram vindos de Gênova, coordenados pelo General Aristides Armínio Guaraná, sergipano de origem holandesa, diretor da Colônia Santa Leopoldina e fundador do Núcleo Colonial Conde D´Eu. Foram três grandes embarcações que trouxeram várias famílias italianas, os navios a vapor “Columbia”, “Izabella” e “Clementina” (PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAÇÚ, s/d).
Os imigrantes que em determinado momento precisaram fugir das más condições socioeconômicas do norte da Itália, gerada pelo processo de mecanização do campo e guerras imperialistas que degeneravam o continente, chegaram ao Brasil em busca de novas oportunidades, trabalhos e vivências. A longa viagem durou em torno de 60 dias e, assim que chegaram a Vitória, foram encaminhados para Santa Cruz e de lá subiram o rio Piraqueaçu até o núcleo colonial onde eram abrigados em barracões e recebiam suas atribuições quanto colono, como a construção de estradas e produção nas lavouras. A estimativa é que cerca de 20% dos imigrantes morreram durante ou logo após a migração devido a doenças como a febre amarela e tuberculose (PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAÇÚ, s/d).
Com a chegada dos imigrantes italianos a produção de café começou a se destacar no solo da região. Uma estratégia do governo brasileiro era o monocultivo de café pela mão de obra estrangeira sabendo que a escravatura caminhava para a extinção e a república precisava aumentar seus fundos com impostos de comercialização estrangeira (PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAÇÚ, s/d).
Isso fez aumentar a densidade populacional da região, aparecendo os primeiros núcleos urbanos responsáveis pelo escoamento da produção rural. Já em 1891 o lugar se transformava, era próspero e declarava assim sua emancipação política, recebendo o nome de Vila Guaraná em homenagem ao general que condicionou o povoamento dos imigrantes. Recebeu o nome de Pau Gigante um ano depois devido a uma árvore exuberante de aproximadamente 60 metros que havia na região. Em 1932 já era conhecida como cidade e, em 1942, comarca. O nome Ibiraçu foi dado por decreto em 1943 fazendo uma alusão aportuguesada da tradução do tupi: ybyrá (árvore) + assu (grande) (PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAÇÚ, s/d).
O desenvolvimento urbano do município começou graças à chegada da Estrada de Ferro Vitória a Minas e, se consolidou após 1960, com chegada da BR101. Além de ser considerada uma porta de saída para mercadoria virou também uma porta de chegada para pessoas de outras partes do Brasil. Em 1988, Ibiraçu acabou perdendo parte do seu território com a emancipação do distrito de João Neiva (PREFEITURA MUNICIPAL DE IBIRAÇÚ, s/d).
Na década de 1870, chegaram ao Brasil os primeiros colonos italianos. No Espírito Santo, um grupo desembarcou em Santa Cruz, foi conduzido até a fazenda do Barro e dali para o acampamento em Guaraná, hoje conhecida como Ibiraçu. Tinham que enfrentar as matas brasileiras que lhes foram designadas para o cultivo, as mudanças climáticas e as dificuldades de comunicação, sendo explorados nos serviços que prestavam.
Não imaginavam as dificuldades que encontrariam com a vinda para o Brasil, tendo que enfrentar vários tipos de animais na floresta virgem e muitos sofreram com as doenças como a malária. Centenas de italianos morreram por falta de recursos médicos devido às doenças tropicais que lhes foram transmitidas (Figura 02).
Figura 02: Distrito de Pendanga
2.2.1 O progresso
Em 1904, chegou a Estrada de ferro que representou um grande progresso para a região, particularmente para a localidade do Distrito de Pendanga, que passou a ser um ponto de apoio da ferrovia e de embarque de produtos agrícolas da região. Desde aquela época o café foi a principal riqueza da região (Figura 03 e 04).
Figura 03: Estação Pendanga
Figura 04: Estação Pendanga
Entre vales e as montanhas onde se fixaram os imigrantes italianos, encontramos essa arquitetura que nos fala de um passado recente que marca como testemunho da história, toda a sua luta para adaptar-se á nova terra e ao mesmo tempo preservar a sua identidade cultural (MUNIZ, 2009, p.64).
Buscando lembrar tanto no tempo quanto no espaço a história do caminho percorrido pelos imigrantes italianos, assim conhecemos o processo de adaptação da arquitetura do imigrante ao seu modo de vida aos condicionamentos físicos e culturais e ao seu novo meio. O que tornava menos amarga a adaptação ao novo meio era a língua de origem latina e a religião católica. A igreja teve uma grande integração e influência, os padres na maioria eram de origem italiana e as missas celebradas em Latim (POSENATO, 1997).
A participação na rotina cristã da igreja trouxe a sobrevivência religiosa e cultural àquele povo (Figura 05).
Figura 05: Igreja Pendanga
Atualmente descendentes daqueles imigrantes pioneiros ainda moram em Pendanga e seus arredores e procuram manter viva a saga de seus antepassados através da Festa Italiana onde todos os anos se reúnem para relembrar sua história (Figura 06).
Figura 06: Festa Italiana de Pendanga
2.3 O casarão Zandomenego
O sobrenome da família Zandomenego sofreu diversas variações no Brasil, encontrando-se referências a sobrenome como Zandomenico, Zandomênico, Zandomeneghi. O patriarca Giacomo Zandomenego saiu da Itália, da região de Vêneto na província de Belluno da comuna de Longarone, e embarcou no porto de Gênova no navio Izabella na data de 25 de agosto de 1877, acompanhado de sua esposa Elisabetta Arlant e os filhos Pietro, Guerino, Lúcia e Maria Anna. A família chegou a Vitória na data de 23 de setembro de 1877 no porto de Vitória com destino ao Porto de Santa Cruz na colônia de Santa Cruz. Ele um agricultor com esperança de oferecer uma condição de vida melhor para sua família, confiando nas promessas de que sua vinda para o Brasil alcançaria seu objetivo de conquistar um pedaço de terra, enfrentou toda sorte de dificuldades que lhes foram propostas, entre elas a perca de suas filhas Lúcia (09 anos) e Maria Anna (02 anos) que faleceram com a falta de cuidados médicos devido a complicações com doenças que na época atingiram várias pessoas.
Giacomo Zandomenego conquistou com muito esforço o seu pedaço de terra onde, além do gado, cultivava o plantio de café, diversos tipos de árvores frutíferas para abastecimento de sua família, e nele construiu um imponente casarão (Figura 07).
Figura 07: Casarão Zandomênico
Na construção as paredes foram feitas de tijolos de adobe e pedra marruada com 54 centímetros de espessura. As portas e janelas constituídas com madeira de lei retirada da própria região, as divisórias do interior do imóvel feita de tabique retirada da mata que faz parte do cenário do lugar (Figura 08).
Figura 08: Casarão Zandomênico
O casarão, com características do período neoclássico tem um grande valor artístico e cultural para as famílias do local, encontrando-se atualmente em estado deplorável de abandono e em péssimo estado de conservação. Não tem proteção pelos órgãos competentes e a família não tem recursos para manutenção, por este motivo atualmente ele encontra-se disponível para venda. É lamentável observar que um casarão que serviu a muitas pessoas de palco para guardar como recordação em fotografias por sua beleza, cercado por jardins com flores e frutos hoje provoca o desejo de ser preservado, cenário que retrata a perda de um bem da história de um povo, de um lugar.
2.4 Diagnóstico do estado de conservação
O imóvel objeto desse estudo está situado a 1 km da rodovia, no Distrito de Pendanga e a 2 km da BR-101 em Ibiraçu banhado pelo Rio Itapira.
Com base nos relatos fornecidos por vizinhos e pelos antigos moradores do imóvel, é possível perceber que o imóvel não sofreu muitas intervenções. Inicialmente como um programa residencial, surgindo com o decorrer do tempo um laboratório de fotografia em um dos ambientes no pavimento térreo. Observa-se que a planta teve flexibilidade de adaptação aos objetivos do proprietário na sua individualidade, mas ainda perdura compondo o cenário histórico do município de Ibiraçu e do povoado de Pendanga (Figura 09 e 10).
Figura 09 e 10: Planta Baixa Casarão original e atual
Atualmente o imóvel encontra-se sem condições de uso, as portas e janelas danificadas pela ação do tempo infestação de insetos xilófagos (cupins, marimbondo, formigas) (Figura 11 e 12), animais mamíferos voadores (morcegos) distribuídos por toda edificação (Figura 13). Recentemente, foi atacado por vândalos, e teve vários elementos foram roubados como as peças do assoalho de madeira, além da depredação (Figura 14). Nota-se a presença de entulho nos ambientes como garrafas, papéis, pedaços de madeiras e demais objetos (Figura 15). A vegetação já toma conta de parte das paredes externas do imóvel, (figura 16) o que nos remete a pensar na preservação, restauração e readaptação para que a história não morra e sim permaneça para gerações futuras.
O imóvel hoje traz com muita clareza as caraterísticas primitivas da sua construção, já que sofreu poucas alterações ao longo do tempo. Porém, encontra-se em péssimo estado de conservação. No pavimento térreo a madeira do piso foi praticamente toda removida por vândalos, (Figura 17) janelas e portas estão apodrecidas com a presença constante de umidade, (Figura 18) as paredes encontram-se com várias rachaduras, parte da escada foi removida e a parte permanecente está com o madeiramento bastante desgastado.
No pavimento superior, as divisórias de madeira encontram-se danificadas devido à agressão por insetos xilófagos (cupins) (Figura 19). O piso de madeira apresenta estado deplorável com sujidades e o assoalho do sótão apresenta lacunas causadas pelo apodrecimento da madeira e por falta de manutenção. Em alguns pontos o telhado está com o madeiramento bastante desgastado e com perdas de matéria nas telhas. Já não existe mais piso original na cozinha, que está tomada por entulhos (Figura 20).
De maneira geral a pintura está deteriorada, e a umidade também se faz presente em grande parte da estrutura da casa, a edificação possui todas as paredes externas de alvenaria estrutural e todas as paredes internas com divisórias de madeira. O casarão que antes era considerado um monumento impactante na paisagem do lugar, hoje some no meio da vegetação que o abraça a cada dia.
O terreno no qual o imóvel está inserido possui aclividade e deste modo, a casa foi construída onde se destaca na paisagem. O local era frequentado para tirar fotografias de casamento, batizados e demais eventos, onde reinava um paisagismo que encantava os frequentadores, rodeada de árvores frutíferas e mata nativa.
Quanto à tipologia funcional, o pavimento térreo é composto por uma sala, copa, dois quartos, cozinha e no pavimento superior quatro quartos e uma sala de estudo. Está abandonado, se deteriorando com o passar dos anos. Permaneceram muitos de seus traços originais, porém, o imóvel está perdendo a sua história por falta de uso (Figura 21).
Figura 21: Casarão fachada posterior
2.5 Teorias do restauro: Riegl e Brandi
Monumento é uma obra criada pela mão do homem com o intuito preciso de conservar para sempre viva na consciência das gerações futuras a lembrança de uma ação ou destino (CUNHA, 2006).
Para Riegl os valores dos monumentos são organizados em dois grandes grupos: O valor rememorativo e o valor de contemporaneidade. O valor rememorativo permanece na memória, um momento que nunca se torna passado, assim como o valor de rememoração intencional que é o que mais se aproxima dos valores de contemporaneidade, na medida em que se remete à busca de um eterno presente.
De acordo com o pensamento de Riegl. “Enquanto o valor de antiguidade se funda exclusivamente no perecer, o valor histórico quer na verdade, deter o perecer de hoje em diante, mas sem que o perecer que teve lugar até aos dias de hoje visse deste modo a sua existência justificada [...]” (RIEGL, 2013, p.42).
O valor de contemporaneidade tenderá de imediato a nos fazer tê-lo como igual a uma criação moderna recente, faz referência a época presente surge da satisfação das necessidades do monumento (CUNHA, 2006).
O valor histórico do monumento, em seu sentido original, relaciona-se com a manutenção da memória coletiva de um povo, sociedade ou de um grupo está diretamente relacionado com a própria história (CUNHA, 2006).
Segundo (RIEGL, p. VIII) O valor de antiguidade intervém igualmente ao nível estilístico. Se a originalidade estilística (valor histórico) se consagra com a unidade estilística, o valor de antiguidade recusa a reposição do monumento no estado original, uma vez que tal seria eliminar as marcas da idade.
O valor de antiguidade para Riegl apresenta-se imediatamente, ao primeiro contato, com uma obra na qual fica claro seu aspecto não-moderno, seu valor surge do contraste, da diferença, que são percebidas pelas marcas do tempo (CUNHA, 2006).
“Conforme afirma Riegl, o valor de novidade atende àquela atitude milenar que atribui ao novo uma incontestável superioridade sobre o velho, esta atitude está tão solidamente na sociedade que não poderá ser arrancada no espaço de algumas décadas” permanece até os dias de hoje (CUNHA, 2006).
De acordo com Brandi, uma obra de arte é uma obra de arte com base no sistema de referência, qualquer alteração de parte na estrutura da instância histórica é admitida, desde que se conserve o aspecto do bem. “Uma vez que, se a obra de arte é em primeiro lugar uma resultante do fazer humano e, como tal, não deve depender para o seu reconhecimento das alternativas de um gosto ou de uma moda, impõe-se, no entanto, uma prioridade da consideração histórica com respeito àquela estética [...]” (BRANDI, 2008, p.64).
Brandi declara como princípios para intervenção restauradora ainda dois aspectos fundamentais:
1º. “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isto se venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir” (p. 47).
2º. “que qualquer intervenção de restauro não torne impossível, mas antes, facilite as eventuais intervenções futuras” (p. 48).
Brandi apresenta do ponto de vista histórico que devemos refletir se é viável conservar ou remover uma alteração que uma obra de arte possa ter recebido, o que leva antes de qualquer coisa a entender que a remoção na realidade causa a destruição de um documento e não documenta a si própria (BRANDI, 2008, p.71).
No pensamento de Brandi do ponto de vista da estética, a solução a ser pensada para o problema da conservação depende antes de qualquer coisa, de como refazer uma nova unidade artística. “A cópia é um falso histórico e um falso estético e por isso pode ter uma justificação puramente didática e rememorativa, mas não se pode substituir sem danos histórico e estético ao original” (BRANDI, 2008, p.88).
2.6 Cartas Patrimoniais
As Cartas Patrimoniais são documentos que abrange conceitos e medidas com instruções para ações administrativas, com diretrizes de estabelecer alguns parâmetros para a sua conservação e que contribuem para a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, promove a preservação de bens, planos de conservação, manutenção e restauro de um patrimônio, seja histórico, artístico e/ou cultural (IPHAN, 2015).
A Carta de Burra trata fortemente da questão da reconstrução do movimento, dizendo que só será possível a reconstrução compreendendo obras mínimas de reparação.
Seguindo linhas de orientação e conservação a Carta de Burra está baseada nos conhecimentos dos membros do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), recomendando a adaptação de um bem, dando uma nova destinação de uso sem destruir o seu significado cultural (IPHAN- Carta de Burra, 1980, p.1).
A Carta constitui que no campo do Patrimônio Histórico onde o valor estético, histórico, científico ou social do bem para as gerações passadas, presentes ou futuro:
“será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de um estado anterior conhecido; ela se distingue pela introdução na substância existente de materiais diferentes sejam novos ou antigos. A reconstrução não deve ser confundida, nem com a recriação, nem com a reconstituição hipotética, ambas excluídas do domínio regulamentado pelas presentes orientações” (BURRA, 1980, p.1).
No item 5, artigos 17,18 e 19 de acordo com a Carta de Burra, a reconstrução se limita apenas por motivo de sobrevivência para manter a integridade comprometida do bem por desgastes ou a completar as partes faltantes, não deve significar a maior parte da substância da edificação. Orienta ainda, que as partes reproduzidas de substâncias cujas características são marcadas por materiais e documentos, devem ser observadas de forma clara quando examinadas de perto (IPHAN- Carta de Burra, 1980, p.4).
A carta aborda cautela nas alterações, que seja feito apenas o necessário para cuidar do bem e torna-lo utilizável, que sua alteração tão pequena possível para que o significado cultural fique retido.
A Carta de Veneza, datada de 1964 aborda a essencial importância dos princípios que devem presidir a conservação e restauração dos monumentos sejam elaborados em comum e que cada nação convenha aplicá-lo no contexto de sua própria cultura e de suas tradições (IPHAN- Carta de Veneza, 1964, p.1).
De acordo ainda com a Carta, a conservação e a restauração visam a salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. Exige uma manutenção constante, apoiando quando sua destinação é útil para a sociedade, destaca que não podem ocorrer mudanças de disposição ou decoração da construção. A restauração é considerada como uma ação de caráter excepcional, tendo por objetivo a conservação e revelação dos valores estéticos e históricos do monumento, se baseia essencialmente no respeito ao material original e aos documentos, assim como à época de criação (IPHAN – Carta de Veneza, 1964, p.2).
A Carta de Veneza, no item 4, artigo 12, retrata o passado das obras monumentais de cada povo mantendo-se vivo no presente preservando os valores diante das gerações futuras, reconhecendo o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade.
Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história (VENEZA, 1964, p.3).
Baseado na carta de Veneza observa-se que os acréscimos na restauração dos monumentos só serão tolerados na medida em que respeite o equilíbrio da composição com o meio ambiente, não deve ser alterada de modo a mudar as características do bem. O valor estético e histórico do monumento deve ser evidenciado, assegurando as condições de conservação do monumento preservando suas formas (IPHAN – Carta de Veneza, 1964, p.3).
A Carta de Cracóvia destaca a conservação do património arquitetônico, urbano ou paisagístico, bem como os elementos que o compõem. A conservação pode ser realizada mediante diferentes tipos de intervenções, especificamente o controle do meio ambiental, a manutenção, a reparação, o restauro, a renovação e a reabilitação.
A Carta define o restauro como “uma intervenção dirigida sobre um bem patrimonial, cujo objetivo é a conservação da sua autenticidade e a sua apropriação pela comunidade”. Considerando como elementos individuais desse patrimônio, e complementando dizendo que as construções significativas de um edifício devem ser evitadas, baseadas no julgamento de seu verdadeiro estilo. Podem ser incorporados elementos espaciais e funcionais quando se julgar necessário para o uso adequado do bem, deixando claro que estes devem exprimir a linguagem de sua arquitetura atual (CRACÓVIA, 2000, item 4).
2.7 Referências Projetuais
Os estudos de caso em questão serão analisados em relação às soluções para reconversão de uso, à acessibilidade e ao paisagismo em estruturas antigas. Tendo em vista que muitos destes imóveis não tinham solução de acessibilidade, se faz importante saber como esta questão foi solucionada nestes projetos, visando garantir o acesso de todos e inserindo o paisagismo para valorizar estas áreas.
2.7.1 Pousada Cascais
A Pousada de Cascais está situada em Portugal, entre as muralhas da cidadela do século XVI, no centro da cidade costeira. A cidadela e a fortaleza interior de Nossa Senhora da Luz foram usadas entre os séculos XV e XVII para defender a costa portuguesa e a foz do rio Tejo de piratas franceses, ingleses e árabes.
Inaugurada em abril de 2012, é um dos mais recentes empreendimentos hoteleiros e de lazer do Grupo Pestana. A Pousada de Cascais é caracterizada pela variedade e flexibilidade dos espaços, tanto interiores como ao ar livre. O Grupo deu continuidade ao seu projeto de reabilitação de património nacional, dotando a Vila de Cascais e o país de um novo espaço singular que integra uma unidade hoteleira de luxo. Os edifícios foram restaurados de forma a preservar toda a herança histórica (Figura 22).
Figura 22: Pousada Cascais
Em relação à reconversão de uso, a pousada demandou a construção de um novo espaço com características contemporâneas, manteve a simetria da construção antiga, porém, utilizou materiais que deixavam evidente a época da construção (Figura 23).
Figura 23: Novo anexo da Pousada Cascais
Em relação à acessibilidade, apresenta espaços amplos para circulação. Observa-se também a presença de rampas, uma das soluções que será privilegiada em nosso projeto (Figura 24 e 25).
Figura 24: Acessibilidade Pousada Cascais
Figura 25: Área de lazer Pousada Cascais
Com relação ao paisagismo, a solução proposta foi acrescentar ao espaço mobiliário como espreguiçadeiras e bancos para incentivar a permanência das pessoas junto à piscina, privilegiando as árvores e arbustos existentes (Figura 26).
Figura 26: Paisagismo Pousada Cascais
2.7.2 Pousada Casarão
A Pousada Casarão, fica no interior da Bahia situado a aproximadamente 65km ao Sul de Salvador um patrimônio histórico, a Pousada Casarão com o estilo colonial do século XVII Adaptada para pousada desde 1989, passou por algumas reformas como a restauração do telhado que foi todo trocado, conciliando passado e modernidade com ambientes aconchegantes e acolhedores, onde alguns cômodos possuem o piso original da época da construção com divisões e dimensões sem alteração mantendo suas características originais. Datado de 1600, tem parte integrante da estrutura do Forte, junto com o Pórtico.
Em termo de solução proposta o bloco principal foi alterado com a ampliação para a instalação de um restaurante, preservando as características originais da fachada, mantendo a simetria da construção antiga (Figura 27).
Figura 27: Pousada Casarão
Em termo de acessibilidade esta pousada não atende os requisitos necessários, percebe-se que a Pousada não é acessível na entrada do bloco principal, o acesso se faz na parte posterior a edificação, neste caso, não será referência efetiva para o projeto em questão.
Em relação ao paisagismo ela se destaca com uma área bastante arborizada, com árvores frutíferas e mata nativa, também tem um riacho que corta o terreno ligando o acesso à edificação através de uma ponte, além de elementos que compõem a paisagem, como redes de descanso e bancos para incentivar a permanência das pessoas (Figura 28). Portanto neste sentido ela será referência efetiva para o projeto em questão.
Figura 28: Paisagismo Pousada Casarão
2.7.3 Fazenda Santa Rita
A Fazenda Santa Rita é um projeto de reconversão de uso de uma Fazenda de 1860 sendo transformada em pousada, permanecendo praticamente com os mesmos cômodos como a cozinha a sala de jantar que permaneceram no mesmo lugar com as mesmas divisões e dimensões, mantendo as características originais da fazenda. Uma arquitetura imponente dos barões do café no século XIX. Em 1914 os proprietários da fazenda constroem a varanda que foi a única modificação da arquitetura do casarão. O casarão sobrevive preservando a arquitetura colonial bem presente (Figura 29).
Figura 29: Fazenda Santa Rita
Em termo de solução proposta ela usou a reabilitação como pousada e a restauração, o bloco principal foi alterado com a ampliação para a instalação de uma varanda, as características originais de sua estrutura foram mantidas (Figura 30).
Figura 30: Fazenda Santa Rita
Em relação à acessibilidade esta fazenda não atende as questões de acessibilidade exigidas pela norma, o acesso ao segundo pavimento é feito através de escada. Portanto neste sentido ela não será referência efetiva para o projeto em questão (Figura 31).
Figura 31: Fazenda Santa Rita
No entanto, ela mantém um paisagismo que destaca na paisagem, com mata nativa, relevos, árvores de grande porte, além de árvores frutíferas e das flores o gramado contorna todo o caminho (Figura 32).
Figura 32: Fazenda Santa Rita
3. PROPOSTA PROJETUAL
3.1 Condicionantes locais
O terreno fica localizado na região norte do estado do Espírito Santo, Distrito de Pendanga, Município de Ibiraçu, dentro do terreno passa um curso d’água vindo do rio Itapira. (Figuras 39).
Figura 39: Localização do casarão
Segundo a proprietária o terreno mede 3,5 ha de terra, foi usado para o desenvolvimento do projeto apenas uma parte do terreno, ele conta ainda com uma topografia de inclinação razoável, o seu acesso principal se faz pela estrada de Piabas (Figuras 40).
O projeto propõe uma aproximação com a natureza oferecendo aos visitantes a possibilidade de contemplação da vegetação existente no local.
Figura 40: Planta de Setorização - Térreo
O projeto foi desenvolvido pensando na melhor disposição dos blocos a partir da análise da carta solar, e assim ficou distribuído dentro do terreno (Figura 41).
Figura 41: Topografia do terreno
3.2 Insolação e ventilação
Baseado na Carta Solar de Vitória no Azimute 87, observa-se que o sol da manhã é predominante vindo da direção Leste (Figura 33) predominando também do lado sul no Azimute 177 (Figura 34 e 35), o sol da tarde predomina do lado Oeste no Azimute 267 (Figura 36) e do lado Norte Azimute 357 (Figura 37 e 38).
Figura 33: Carta Solar Azimute 87
Figura 34: Carta Solar Azimute 177
Figura 35: Sol da manhã
Figura 36: Carta Solar Azimute 267
Figura 37: Carta Solar Azimute 357
Figura 38: Sol da tarde
Através dos pontos colaterais da rosa dos ventos observa-se que a velocidade predominante de incidência por direção é do lado Nordeste e Leste (Figura 37) e a maior frequência de ventos é no sentido Nordeste (Figura 38).
Figura 39: Velocidade predominante dos ventos
Figura 40: Frequência de ocorrência dos ventos
3.3 Programa de necessidades da pousada
Foi elaborado o programa de necessidades, atendendo a proposta do projeto.
Térreo do Casarão
Recepção
Lounge
Banheiros
2º Pavimento do Casarão
Sala de espera
Caixa
Gerência
Sala de reunião
Depósito
Acomodação Chalé a ser construído
Quarto
Banheiros
Varanda
Acomodação pavimento térreo a ser construído
04 quartos com suíte (acessível)
12 quartos com suíte
Acomodação pavimento superior a ser construído
08 quartos de casal com suíte
Varanda
Área externa
Cozinha Gourmet
Salão
Depósito
Banheiro masculino banheiro feminino
Banheiro PNE
Salão de eventos
Churrasqueira
Piscina adulto
Piscina infantil
Estacionamento
Praça
Playground
Jardins
As acomodações da pousada foram elaboradas conforme o perfil do público alvo a serem atingidos, os quartos dispõem de mobiliário padrão: cama, criado mudo, armário, móvel para tv, poltrona, equipamentos eletrônicos necessários para lazer e conforto dos usuários.
3.4 Acessibilidade e acessos
Portanto interessa neste trabalho adotar algumas soluções que descaracterizem menos possível o imóvel, de forma a atender as necessidades propostas para o projeto, levando em consideração a ABNT NBR 9050/2015 onde estão estabelecidos os critérios de acessibilidade nos acessos e circulação, para todas as pessoas. Nas edificações e equipamentos urbanos, todas as entradas, bem como as rotas de interligação às funções do edifício, devem ser acessíveis. Corredores e corrimãos também serão projetados de forma que atendam as disposições da legislação em vigor.
A solução proposta para o Casarão foi colocar uma rampa de acesso para pessoas com mobilidade reduzida ao lado da escada existente que foi redirecionada de forma a permitir a inclinação necessária para a rampa e corrimãos, respeitando as regras da norma da NBR 9050/2015 em questão de altura e largura permitindo assim o acesso ao ambiente do Casarão (Figura 41).
Figura 41: Escada e rampa de acesso
Do mesmo modo, foi projetado a escada e rampas com corrimãos em direção a piscina e aos espaços externos ligando todos os ambientes, por causa da razoável aclividade representada no terreno. Para dar condições de acesso a pousada aos chalés e ao estacionamento foram construídas pontes, uma para o trajeto com veículo e outras duas para o acesso de pedestres ligando as edificações facilitando assim, o acesso dos visitantes e das pessoas com mobilidade reduzida. O projeto considerou a proposta de intervenção corredores amplos, grandes espaços de circulação, levando em consideração a integração de rotas acessíveis (Figura 42).
A escolha do piso para compor as rotas de acesso ao espaço foi o piso intertravado, considerando que além de ser sustentável oferece também o benefício do revestimento possuir propriedades antiderrapantes ideais para cadeirante.
Figura 42: Escada e rampa de acesso
As vagas para veículos (Figura 43) foram projetadas obedecendo ao disposto exigido pela norma de acessibilidade, que define a existência de dois tipos de vagas reservadas: para veículos que conduzam pessoas idosas e para veículos que conduzam ou sejam conduzidos por pessoas com deficiência.
Figura 43: Estacionamento
A instrução normativa do Iphan nº 01/2003, estabelece que o limite para a adoção de soluções em acessibilidade decorrerá da avaliação sobre a possibilidade de comprometimento do valor testemunhal e da integridade estrutural resultante. O decreto nº 5.296/2004. Art. 14. Na promoção da acessibilidade, serão observadas as regras gerais previstas neste Decreto, complementadas pelas normas técnicas de acessibilidade da ABNT e pelas disposições contidas na legislação dos Estados, Municípios e do Distrito Federal.
O Ministério do Turismo informa as condições para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida utilizando o manual de recepção e acessibilidade de pessoas com deficiência a empreendimentos e equipamentos turísticos publicado pela Embratur, em 2001, e de acordo com a legislação brasileira de Normas Técnicas ABNT.
3.5 Memorial descritivo e justificativo
O casarão encontra-se em estado de conservação recuperável, foi analisado que o grau de intervenção será de restauração e readaptação. A restauração prevê a restituição de matéria perdida como as esquadrias que foram danificadas por insetos xilófagos (cupins), parte do reboco que se perdeu pela umidade, elementos estruturais como parte do piso que foi removido, parte do forro do segundo pavimento e de acesso ao sótão que encontram-se com perda da matéria e a parte elétrica que foi danificada pela ação de vândalos).
A readaptação do ambiente para um novo uso, faz se necessária a remoção de algumas paredes internas de madeira do 1º pavimento e do 2º pavimento para ampliar o espaço (Figura 44 e 45).
Figura 44: Planta de Modificação
Figura 45: Nova proposta de uso
Analisando as características e história da cidade, juntamente com o lugar em que o casarão está situado, chega-se à conclusão que para reconversão de uso, o melhor uso seria de uma Pousada (Figura 46, 47 e 48).
Figura 46: Fachada Casarão restaurado
Figura 47: Pousada Zandomênego
Figura 48: Varanda da Pousada
A ideia é um espaço amplo e acolhedor, possibilita trazer para a cidade mais movimentação e valorização local. A nova proposta visa também um espaço para o lazer como piscinas (Figura 49), salão de eventos (Figura 50), churrasqueira (Figura 51), cozinha gourmet (Figura 52), espaço para jogos (Figura 53), chalés com quartos amplos e com acessibilidade (Figura 54), espaço de descanso (Figura 55), estacionamento, playground e jardins (Figura 56).
Figura 49: Piscina Adulto e Infantil
Figura 50: Salão de Eventos
Figura 51: Churrasqueira
Figura 52: Cozinha Gourmet
Figura 53: Espaço para Jogos
Figura 54: Chalés
Figura 55: Espaço de Descanso
Figura 56: Playground
Para a intervenção será necessário trazer de volta alguns elementos ausentes como piso e esquadrias para que o ambiente volte a ser seguro e habitável. De acordo com o artigo 12º da Carta de Veneza “Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar harmoniosamente ao conjunto, distinguindo se, todavia, as partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de História” (IPHAN – Carta de Veneza, 1964, p.3).
Após a realização do estudo da edificação e tendo como parâmetros o que deve ser preservado, restaurado, demolido ou acrescentado, ficou definido a conservação do bem praticamente original, que possui características da arquitetura Italiana, com apenas algumas modificações para possibilitar a sua reutilização e readaptação. O projeto propõe a preservação máxima de sua estrutura, prevendo no térreo a recepção, Lounge e banheiros, juntamente com uma circulação central que dá acesso aos demais anexos, respeitando assim as normas de acessibilidade (Figura 57 e 588).
Figura 57: Recepção/ Lounge (vista 01)
Figura 58: Recepção/ Lounge (vista 02)
Já no segundo piso, foi proposto a área administrativa da pousada com recepção/espera, gerência, depósito, sala de reunião e caixa. (Figura 59 e 60).
Figura 59: Recepção/ Espera (vista 01)
Figura 60: Recepção/ Espera (vista 02)
De acordo com a Carta de Cracóvia, caso seja necessário, para o adequado uso do edifício, a incorporação de partes espaciais e funcionais mais extensas, deve refletir-se nelas a linguagem da arquitetura atual (CRACÓVIA, 2000, item 4), (Figura 61).
Figura 61: Recepção/ Espera (vista 03)
No anexo os materiais escolhidos buscam proporcionar uma diferenciação nítida da edificação referenciada em destaque, a pedra caxambu e os filetes de madeira para que os novos elementos introduzidos, sejam de forma a permitir a plena distinção do bem conservado e do novo anexo implantado.
3.6 Materiais de acabamento
A Pousada Zandomenego contará com materiais que conferem ao local sua personalidade, privilegiando características da natureza.
Os materiais utilizados fazem referência aos elementos comuns da arquitetura Italiana. A madeira é muito utilizada para as construções, uma vez que formam estruturas mais resistentes e ainda ajudam na climatização do ambiente podendo ser utilizadas em praticamente todo o cenário, contribuindo assim para espaços que atendam a questão de conforto ambiental deixando o ambiente agradável.
Nas paredes internas e externas serão aplicadas pintura impermeabilizante para prevenção de mofo e umidade. Para as portas a escolha foi madeira jatobá e as janelas optou-se por venezianas de abrir em madeira e vidro garantindo assim a iluminação natural, e a passagem de ventilação. O telhado será construído com telhas coloniais, seguindo o mesmo conceito do imóvel já existente, nos quartos a escolha foi colocar o piso vinílico amadeirado, os pisos externos como a área da piscina a proposta foi colocar o porcelanato amadeirado antiderrapante, na área de churrasco a escolha foi usar o ladrilho hidráulico na parede e no piso porcelanato amadeirado antiderrapante.
Nas bancadas optou-se por colocar o granito preto São Gabriel tanto da área de churrasco quanto nas bancadas dos banheiros, na cozinha Gourmet as portas serão de correr e partes fixa em vidro temperado incolor, no piso porcelanato amadeirado, nos banheiros o piso escolhido foi o porcelanato acetinado 90x90cm e nas paredes o porcelanato retificado.
Baseado nas cartas solar foi necessário a instalação de brises no salão de eventos e na área da churrasqueira para proporcionar ao usuário maior conforto térmico. Na fachada optou-se pelo revestimento em pedra caxambu e filetes amadeirados, o revestimento filetado em madeira trouxe a natureza para perto com a harmonia e leveza.
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que todo patrimônio, embora representante de um passado, deve ter posição atribuída no presente para que seja percebido pela população. A valorização e preservação de um bem estão diretamente relacionadas à sensação de pertencimento e respeito ao que consequentemente formará um estreito vínculo afetivo entre usuários e edificação, tornando-a um bem digno de preservação.
Observa-se, o fato de que a falta de uso do local também ocasiona a perda de tais características, muitas vezes de modo irreversível. As solicitações por adequação para novos usos, evidencia-se o fator do respeito à prioridade e a importância da memória na construção da identidade de um povo, valor atribuído ao bem e transmitido ao longo das gerações.
O imóvel de grande importância para a região e para o estado, e encontra-se ameaçado de desaparecimento pelo péssimo estado de conservação. Portanto essa proposta possibilitará a reinserção deste imóvel na história econômica e turística de Pendanga valorizando a cultura da imigração italiana que ele representa.
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Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à FAESA Centro Universitário, sob orientação do(a) Ma. (mestra) Viviane Lima Pimentel
1 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo [email protected]
2 Professora orientadora: [email protected]