RELAÇÃO FAMÍLIA ESCOLA

PDF: Clique aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17274023


Sidney Roberto Batista Ramos1


RESUMO
O presente artigo discute a atuação do Centro Familiar de Formação por Alternância – CEFFA Itapirema localizado no município de Ji-Paraná – RO. Por meio de seus instrumentos pedagógicos busca-se saber até que ponto o CEFFA influencia na vida e nas práticas agrícolas das famílias envolvidas com ele, e qual a sintonia dessa proposta pedagógica com os princípios filosóficos Socráticos voltados à formação humana. Constatou-se que é inegável a contribuição da Pedagogia da Alternância na interação entre escola, família e comunidade. Voltada para o desenvolvimento do meio rural, a Pedagogia da Alternância permite a vivência de um projeto de construção e comprometimento com o saber. Os dados apontam que nas práticas e atividades de cada instrumento pedagógicos de alternância proporcionam uma aprendizagem para a vida, levando em conta os saberes e vivências dos/as alternantes, familiares e monitores/as. Faz-se necessário, e esse é o desafio que se propõe enfrentar quando da construção deste artigo, uma educação cidadã abraçada, construída, articulada pelos mais diversos segmentos e organizações na busca de oferecer, oportunizar ao grande número de pessoas, especialmente da via campesina o acesso à educação de qualidade buscada por muitas mãos, sonhos e lutas.
Palavras-chave: Pedagogia da Alternância - Filosofia socrática – CEFFAS – Família - Instrumentos pedagógicos.

ABSTRACT
This article discusses the work of the Family Center for Alternating Training (CEFFA Itapirema), located in the municipality of Ji-Paraná, Rondônia. Through its pedagogical tools, we seek to determine the extent to which CEFFA influences the lives and agricultural practices of the families involved, and the alignment of this pedagogical proposal with Socratic philosophical principles focused on human development. The contribution of Alternating Pedagogy to the interaction between school, family, and community was undeniable. Focused on the development of rural areas, Alternating Pedagogy allows for the experience of a project of construction and commitment to knowledge. The data indicate that the practices and activities of each alternating pedagogical tool provide lifelong learning, taking into account the knowledge and experiences of the alternating teachers, their families, and monitors. . It is necessary, and this is the challenge that we propose to face when constructing this article, a citizen education embraced, constructed, articulated by the most diverse segments and organizations in the search to offer, provide opportunities to a large number of people, especially those from Via Campesina, access to the quality education sought by many hands, dreams and struggles.
Keywords: Pedagogy of Alternation - Socratic Philosophy - CEFFAS - Family - Pedagogical Instruments.

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente artigo é apresentar um relato da contribuição da Pedagogia da Alternância na interação entre escola, família e comunidade, na concepção dos familiares, dos/as monitores/as e dos/as alternantes envolvidos com o Centro Familiar de Formação por Alternância - CEFFA Itapirema localizada no município de Ji-Paraná – RO., e qual a influência da filosofia socrática neste processo educacional.

A proposta de educação por Alternância não surge como uma oposição ao sistema educacional vigente, é antes de tudo uma forma dos/as alternantes estudarem e aprimorarem conhecimentos sem deixar o meio em que vivem, almejando uma melhoria na qualidade de vida de sua família e da comunidade.

O CEFFA Itapirema em funcionamento no município de Ji-Paraná – RO desde o ano de 1989 tem em sua forma de educar a Pedagogia da alternância. É uma escola organizada por uma associação de pequenos agricultores rurais familiares que atende especificamente os/as filhos/as desses/as agricultores/as.

A educação por alternância se dá na forma em que o/a alternante permanece em regime de internato na escola por um período de 15 (quinze) dias, e em seguida vai para suas casas e lá permanecem com seus familiares também por um período de 15 (quinze) dias. Esse processo é contínuo durante todo o ano. Ao final do curso que tem duração de 4 (quatro) anos, os mesmos, em sendo aprovados concluem/formam-se no ensino médio integrado ao curso de Técnico em Agropecuária - TA.

Partindo dessa constatação busca-se responder qual a importância (influência) que a família exerce nesse processo educacional? Lançou-se como hipóteses que a família é direta e unicamente responsável pela formação do caráter do seu/sua filho/a; Que a mesma é quem decide se seu/sua filho/a deve ou não estudar os conteúdos propostos pela escola; Que esta decisão é feita em conjunto com a escola, inclusive a respeito do regimento interno do CEFFA; e ainda, que as instâncias de deliberações, encaminhamentos envolvendo tudo o que diz respeito ao processo educativo, seja pedagógico e/ou administrativo são as reuniões da diretoria da associação, as reuniões pedagógicas com a equipe de monitores/as e a assembleia geral de pais;

O objetivo geral é compreender os instrumentos pedagógicos da pedagogia da alternância experienciados no CEFFA Itapirema como instâncias importantes de relação família-escola. Os objetivos específicos são de analisar os instrumentos pedagógicos vivenciados no CEFFA Itapirema; verificar se os referidos instrumentos são aceitos e/ou compreendidos pelos alternantes do CEFFA Itapirema.

Para elaboração deste artigo foi de muita importância a conversa e entrevista com os/as monitores/as, alternantes e seus familiares que fazem parte do CEFFA Itapirema, bem como, fez-se pesquisas em fontes bibliográficas.

1. DESENVOLVIMENTO

A Pedagogia da Alternância é uma proposta de educação voltada para o desenvolvimento do meio rural, permitindo a vivência de um projeto de construção e comprometimento com o saber. Ela busca respostas à condição do campo, procurando resolver problemas a partir de uma tomada de consciência, sendo um instrumento de transformação e que tem como foco principal a realidade deste meio. Desta forma, propõe:

[...] a alternância da presença dos/as alternantes entre a escola e a comunidade como concepção de diálogo educativo. Utiliza-se de instrumentos pedagógicos próprios, busca um processo de formação docente diferenciado apropriado e, visa o fortalecimento da relação escola/comunidade na gestão, organização e coordenação da proposta educacional (Palitot, 2007, p. 17).

A partir da Pedagogia da Alternância é possível desenvolver uma proposta baseada na perspectiva da reflexão ativa, transformando a escola do discurso em escola da ação. É por meio da interação dos diversos sujeitos envolvido neste processo que a aprendizagem se concretiza dentro de uma perspectiva global, abrangendo todas as atividades e dimensões humanas, valorizando as pessoas a partir de sua situação de vida. De acordo com Gimonet (1999, p. 44), a Pedagogia que se baseia na Alternância significa: Alternância de tempo e de local de formação, ou seja, de períodos em situação socioprofissional e em situação escolar; mas a Alternância significa, sobretudo, uma outra maneira de aprender, de se formar, associando teoria e prática, ação e reflexão, o empreender e o aprender dentro de um mesmo processo. A Alternância significa uma maneira de aprender pela vida, partindo da própria vida cotidiana, dos momentos experienciais, colocando assim a experiência antes do conceito. O processo histórico do qual surgiu a Pedagogia da Alternância, contextualiza-se num modelo de educação onde o ponto de referência partia do meio urbano.

[...] a educação escolar ainda carrega o legado de colônia e império em que se implantaram modelos europeus para os filhos dos grandes proprietários. Considerando a história da educação, contata-se que a escola se destinava a educação da elite, numa visão de mundo das classes dominantes. Tal ideologia inspirou o sistema escolar, deixando fortes marcas no mundo rural (Speyer, 1983, p. 107).

Nesta realidade, surgiram as primeiras experiências educacionais da Pedagogia da Alternância, em 1935 na França, onde um adolescente se recusava a frequentar a escola na qual tinha sido matriculado. Esta situação levou seu pai, juntamente com outros agricultores e o padre do pequeno vilarejo, a refletir sobre a educação que estava sendo oferecida para os jovens no meio rural a procurarem alternativas para reverter este problema. Esta iniciativa foi referência para que eles encontrassem uma solução:

[...] criar uma escola que não prende adolescentes entre paredes, mas que lhe permita aprender através dos ensinamentos da escola, mas também através dos da vida cotidiana, graças a uma alternância de estadias entre a propriedade familiar e o centro escolar (Gimonet, 2005, p. 76).

A primeira Maison Familiale, reuniu quatro jovens de três famílias dispostas a vivenciarem a experiência, que, depois de decorridos alguns meses, já se mostravam nitidamente produtivas. Os alternantes que frequentavam as Maisons Familiales Rurales - MFR’s eram filhos de agricultores, por isso o planejamento era baseado no estudo da realidade agrícola e organizado juntamente com as famílias.

As experiências da Pedagogia da Alternância passaram a ser experimentadas em outras regiões da Europa – sendo a Itália o primeiro país a implementar esse modelo, em 1961 – e, no Brasil, os Centros Familiares de Formação por Alternância - CEFFAs, como são hoje designados, envolvem as Escolas Família Agrícola - EFA, as Casas Familiares Rurais - CFR e outros centros que trabalham em regime de alternância. A implantação ocorreu na década de 1960, com a vinda de agentes pastorais e padres italianos para o Estado do Espírito Santo, onde foram construídos vários centros educativos.

Os centros tinham como objetivo combater, dentre outros, o êxodo rural e o empobrecimento econômico e cultural do homem do campo. A partir de 1980 houve uma maior expansão, principalmente pela criação da União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil - UNEFAB. Desse modo, as experiências em alternância no Brasil foram disseminadas em todo país, QUEIROZ, (2006), existindo na atualidade aproximadamente 250 CEFFAs. A região que concentra o maior número de CEFFAs é a Norte, com 86 instituições. Apesar deste quantitativo são poucos os estudos sobre essas instituições, especialmente envolvendo as temáticas da Pedagogia da Alternância.

Os CEFFAs atuam de acordo com a Pedagogia da Alternância - PA que tem por base o desenrolar das atividades propostas pela escola e pela família, conjugando educação e trabalho. Sua sustentação se dá por intermédio dos seguintes pilares: formação integral, desenvolvimento do meio, alternância e associação. Para PESSOTI (2002), a alternância é uma pedagogia que considera que a formação do meio rural se dá a partir das experiências vividas pelos jovens. É a alternância de tempos de estudo intercalados com períodos de trabalho.

Em Rondônia a expansão das discussões sobre Escola Família ocorreu na década de1980, principalmente no interior do Estado, onde só havia o Ensino Fundamental da 1ª à 4ª séries na zona rural e não era mais possível o jovem campesino continuar estudando sem sair da sua propriedade. Assim, em 1990 começou a funcionar a primeira EFA no Estado e no ano seguinte a Escola Família Agrícola Itapirema, na zona rural do município de Ji-Paraná.

A EFA Itapirema atuou durante 10 anos com as últimas séries do Ensino Fundamental (5ª à 8ª Séries) e posteriormente (2002) passou a oferecer, exclusivamente, o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Técnico em Agropecuária. A Escola é gerida pela Associação de Famílias que busca, por meio de projetos, parcerias e convênios a sua manutenção. Em 1992 foi criada a Associação das Escolas Família Agrícola de Rondônia - AEFARO, que passou a ser a mantenedora e assessora pedagógica dos CEFFAs no estado. Ela é responsável pelo andamento dos centros e busca assegurar que os princípios e missão da instituição sejam aplicados.

É por meio da proposta da Pedagogia da Alternância que acontece a ligação e interação dos espaços escolares e comunitários, levando em conta, tanto a formação integral, quanto a contribuição desta educação para o desenvolvimento do meio onde o/a alternante está inserido, uma vez que a diversidade de situações que acontecem são suportes de aprendizagem.

1.1 Contribuição, Avaliação e Interação da Proposta Educacional da Pedagogia da Alternância Fundamentada na Filosofia Socrática

A filosofia Socrática está estruturada na busca da verdade, da construção do saber no contexto histórico, social e político de quando foi proposto/defendido tal filosofia. Assim afirmava Sócrates:

[...] é esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscedência, de conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo. Para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela exige, por vezes, determinada renúncias e purificações (Mondim, 1982, Vol. 1, p.49)

Evidenciava-se com isso o anseio de uma proposta que resignificasse os conceitos, atitudes de abstrair a verdade, enfim, manifestava a vontade de uma nova construção filosófica capaz de responder às necessidades da época. Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo, denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.

A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense. A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.

Defendia Sócrates:

[...] descoberta da verdade, não é produto do estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência MONDIM, (1982, Vol. 1, p.51)

Entendemos que essa atitude não é equiparável ao pluripartidarismo na luta pelo poder, mas uma comunicação Inter doutrinária, generosa e enriquecedora, construtora da philosophia perennis, a qual, segundo Leibniz, não é privilégio de uma escola ou corrente, mas contribuição, através dos séculos, de cada uma para a verdade, bem comum de todas. Esse enriquecimento é possível em decorrência de que o nosso conhecimento da verdade é parcial e susceptível de aprimoramento no decorrer da história.

Numa releitura de um sistema educacional contextualizado com a realidade europeia a Pedagogia da Alternância faz uma proposta inovadora, amadurecida e coerente que venha de encontro às necessidades de uma porção de gente e que por isso mesmo sobreviveu a história e deixou legado contundente, prova de que é uma ação necessária no quesito à educação, formação.

Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos. Mas quando nos perguntamos: para que acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios prometidos.

Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente, estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.

Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo. Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não se perder. Claro que o ser humano não vai encontrar toda verdade em si mesmo.

Aplicando a maiêutica nas conversas com o propósito de descobrir a verdade, encontrar o saber, percebe-se que o conhecimento está latente no ser humano, só é necessário criar condições para que ele passe da “potência ao ato”, aflore, numa espécie de recordação, reminiscência. Educar no sentido verdadeiro e superior. (Educação vem do latim educere, literalmente trazer para fora, sobressair, emergir do estado potencial para o estado de realidade manifestada). Nos diálogos platônicos, que reproduzem cenas da atuação de Sócrates:

[...] quando não sabemos nada, ou aquilo que sabemos, o sabemos sem tê-lo procurado como a opinião, é um saber que não vale nada, mas quando queremos saber, aproximar-nos do conhecimento elevado, reflexivo, temos mais chances de compreender (Mondim, 1982, Vol. 1, p.65).

Opinião, crença, doxa em grego, é o que pensamos que sabemos, mas não fundado no conhecimento racional, portanto, não é nada. A dialética platônica consiste exatamente na discussão de todos os aspectos, todos os prós e contras de um determinado tema até que possamos depurá-lo e chegar perto de seu verdadeiro significado, autêntico, real e que Platão chama de epistéme, ciência.

[...] O conhecimento possui um valor prático ou moral, isto é, um valor funcional, e consequentemente é de natureza universal e não individualista; o processo objetivo para obter-se conhecimento é o de conservação; o subobjetivo é de reflexão e da organização da própria experiência; a educação tem por objetivo imediato o desenvolvimento da capacidade de pensar, não apenas ministrar conhecimentos (Mondim, 1982, Vol. 1, p.62).

Nesses aspectos sua influência tem sido tão ampla e é ainda tão poderosa quanto foi a influência das suas práticas nas escolas gregas daquele período. Isso significa que para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimento: nenhuma coisa está acabada, encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de um novo processo. Porém as coisas não existem isoladas, destacadas uma das outras e independentes, mas como um todo unido, coerente.

[...] para a dialética não há nada de definitivo, de absoluto, de sagrado; apresenta a caducidade de todas as coisas e em todas as coisas e, para ela, nada existe além do processo ininterrupto do devir e do transitório. Assim, "quem diz dialética, não diz só movimento, mas, também, auto dinamismo (Engels apud Politzer,1979, p. 205).

A Pedagogia da Alternância tem consciência de que o método empreendido no processo é uma forma de pensamento, uma maneira de encarar a realidade, de abordar as ciências do que se vive, de estimar aquele que aprende de forma diferente enquanto alternante e, ao mesmo tempo, de considerar o meio profissional, técnico, humano, como suporte dos programas de formação.

[...] conhecer o método que seja também o instrumento do educando e não somente do educador e que identifique o conteúdo da aprendizagem com o processo mesmo da aprendizagem (Freire, 987, p. 36).

Evidencia-se com esse ensinamento/aprendizagem o que compreender é conseguir dominar em pensamento as situações até resolver os problemas que elas colocam. No fundo, a alternância não traz para a escola um aluno que vem se submeter, mas um jovem que vem contar e interrogar. Somente aí vem a aula. O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.

Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. Na ousadia de relacionarmos a filosofia socrática e a Pedagogia da Alternância, percebe-se que a contribuição para a formação da consciência e visão de mundo de ambas estão em sintonia, uma vez que a filosofia de Sócrates no contexto que se encontrava enfrentou desafios que precisaram ser superados, isso é também evidente quanto a Pedagogia da Alternância, ela foi capaz de superar desafios, no contexto que se encontrava, deixando novas perspectivas às pessoas e ao sistema educacional.

A raiz, origem filosófica, da Pedagogia da Alternância sustenta o ideal do apreender pelo fazer, a experiência antes do conceito e isso nos remete pensar a interação entre reflexão e experiência. Nos CEFAs, isso se dá no cotidiano da vida do/a alternante num processo que envolve a família e a escola, especialmente por meio da vivência dos instrumentos pedagógicos.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃOES

As entrevistas realizadas com os/as monitores/as, os/as alternantes e as famílias envolvidas no CEFFA Itapirema possibilitaram identificar, na concepção deles: Pedagogia da Alternância justifica-se porque alterna-se o período escolar. Os jovens ficam duas semanas no CEFFA e duas em casa. De acordo com os sujeitos participantes da pesquisa, isto possibilita a aplicação, na propriedade, do que é apreendido no CEFFA, além de possibilitar uma maior interação com a família.

Foram identificadas, também, nesta categoria, respostas referentes à aplicação, na propriedade, do que é apreendido e das suas experiências para obter resultados; uma metodologia de ensino que permite a interação entre a família e o/a jovem, possibilitando uma mudança de concepções e hábitos de uma maneira conjunta; a Pedagogia da Alternância tem na sua metodologia um sentido da condução da vida do ser humano e uma proposta que respeita os aspectos de origem dos/as alternantes para a formação de um conjunto.

Quadro 01 - Distribuição percentual da avaliação das famílias e dos/as monitores/as quanto a aplicação na propriedade do que é apreendido no CEFFA Itapirema

Fonte: Pesquisa por amostragem feita com os familiares e monitores/as do CEFFA Itapirema 2016.

As falas a seguir representam o exposto:

[...] a Pedagogia da Alternância, eu acho assim, dentro de uma pedagogia eu acho que ela funciona bem, porque duas semanas eles estudam tempo integral e depois o que eles aprendem lá na escola eles voltam pra casa pra no caso ajudar os pais. (Sujeito 2 - ‘família’); [...] os aspectos de origem deles são respeitados e orientados para serem conduzidos de uma forma positiva na vida profissional deles. Essa é a Pedagogia da Alternância, é assimilar o eu, não como diferente, mas como cada um único (Sujeito 3 - ‘monitores/as’). [...] a Pedagogia da Alternância, de todas as pedagogias que eu conheço, ela tem na sua metodologia um sentido da condução da vida, da condução do ser humano de uma forma, eu vou dizer original. A diferença toda está em que tudo que o jovem que chega no CEFFA pra trabalhar Pedagogia da Alternância traz se ele traz a timidez, a timidez vale, se ele traz a euforia, a euforia vale (Sujeito 3 - ‘monitores/as’)

É possível perceber, nesta perspectiva, uma proposta de transposição dos conhecimentos, reafirmando a importância dos saberes e das vivências dos jovens, numa perspectiva de aprender para transformar a realidade Freire (1996).

De acordo com Gimonet (2007, p. 38)

[...] cada meio de vida representa um suporte de atividades e de experiências de várias naturezas, uma reserva de saberes diversos e múltiplos. Cada meio de vida destes é portador de uma cultura local que se faz presente nos fatos e nos gestos, na linguagem e nos comportamentos.

Por meio das entrevistas realizadas, numa segunda categoria, foi constatado que todos os sujeitos participantes acreditam que os conteúdos e a forma como eles são trabalhados contempla os objetivos e a proposta da Pedagogia da Alternância. Os sujeitos apresentaram motivos como: as atividades são realizadas de acordo com a necessidade dos/as alternantes; os conteúdos selecionados de acordo com o que os jovens precisam para aplicar em sua propriedade, estudando, em cada alternância, o que vai ser colocado em prática nas semanas que eles permanecem em casa; a partir das vivências dos/as alternantes as situações-problema são superadas em conjunto e, por meio desta proposta por Alternância a educação acontece na interação entre os jovens e os monitores, resultando num aprendizado com alegria e satisfação. Os exemplos citados pelos sujeitos reafirmam estas ações: Por exemplo:

[...] dentro do que se trabalha dentro do CEFFA, a química deixa as pessoas confusas. Então vamos fazer sabão que daí se descobre que química é aquela (Sujeito 3 - ‘monitores/as’).[...] a forma com que os conteúdos são passados e na escolha dos conteúdos, a gente não passa qualquer conteúdo ou não vai ter uma matriz específica e a gente vai seguir essa matriz com todas as turmas. É dentro do que o jovem pretende desenvolver na propriedade é que é passado o conteúdo. (Sujeito 4 - ‘monitores/as’).

Na sequência da pesquisa, por meio das entrevistas realizadas com as famílias envolvidas, foi possível identificar algumas ações que possibilitam perceber a aplicação no contexto familiar do que é apreendido na escola e vice-versa. As principais práticas e ações apontadas pelos sujeitos foram: formação de famílias que acontece três vezes por ano, assembleia de pais, ordinariamente duas vezes por ano e visitas de estudo para conhecer a realidade dos alternantes e acompanhar o trabalho que está sendo feito; a confecção de sabão de álcool, compotas de doces, geleias, a estruturação da horta e implementação de novas atividades como gado de leite, suinocultura, avicultura, fruticultura e outras; reuniões desenvolvidas com os pais dos/as alternantes; entrevista realizada com o grupo familiar e conversas com os jovens no início de cada alternância.

Quadro 02 - distribuição percentual da avaliação dos/as alternantes do CEFFA quanto às ações que possibilitam perceber a aplicação no contexto familiar do que é apreendido na escola e vice-versa.

Fonte: Pesquisa por amostragem feita com os familiares e monitores/as do CEFFA Itapirema 2016.

A seguir, as falas dos sujeitos comprovam estas ações:

[...] a gente busca sempre está interagindo com a escola e saber como está o nosso convívio na escola, se há diálogo e se a família está se agradando com o método de ensino. (Sujeito 1 – ‘alternante’);[...] nós contamos, fazemos nossas declarações, depoimentos, falamos se deu certo se não deu, então é bom porque a gente faz uma troca e contamos o que acontece na escola, nos estágios, e o que a gente vê na propriedade, na comunidade, na associação. Interage. (Sujeito 1 – ‘alternantes’).

Os/as monitores, os/as alternantes e as famílias destacaram, também, as principais ações que possibilitam a interação entre a escola, família e comunidade, são elas: o mutirão para a construção da nova cozinha e lavanderia, palestras, cursos, encontrão de alternantes, gincana, celebração com os amigos do CEFFA e viagens de estudo que envolvem toda a comunidade.

Desta forma, a formação por Alternância possibilita, para o alternante, transições de um lugar de vida a outro, de um tipo de experiência a outro, de diferentes campos de conhecimentos, do individual ao coletivo, num intercâmbio de atividades formais e informais que fazem parte do processo de formação Gimonet (2007). Assim, os/as alternantes têm a possibilidade de interagirem e conhecerem outras realidades para perceber as mudanças que podem ser feitas nas suas propriedades. As práticas destas atividades possibilitam entender que “as relações não se dão apenas com os outros, mas se dão no mundo, com o mundo e pelo mundo” Freire (2007, p. 30).

Em relação à participação da comunidade neste processo, numa perspectiva de desenvolvimento local, todos os sujeitos participantes responderam que, além de ser uma apoiadora, a comunidade disponibiliza os espaços e materiais para os jovens realizarem as atividades. Levando em conta os espaços que a comunidade disponibiliza, os sujeitos citaram a Igreja onde eles participam, as associações e sindicatos onde a família é associada.

Os/as monitores/as avaliam que o que acontece é recíproco, o CEFFA ajuda a comunidade, assim como a comunidade ajuda o CEFFA em vários aspectos. Um colabora com o outro para o desenvolvimento local. Os depoimentos dos participantes comprovam estas afirmações:

Quadro 03 - distribuição percentual da avaliação (envolvimento/aprovação) dos/as monitores/as, dos/as alternantes e das famílias quanto às ações que possibilitam a interação entre a escola, família e comunidade.

Fonte: Pesquisa por amostragem feita com os familiares e monitores/as do CEFFA Itapirema 2016.

[...] a comunidade participa, ela apoia, é uma apoiadora, porque se não tivesse a comunidade acho que ninguém se engrandeceria tanto (Sujeito 2 - ‘família’);[...] eles sempre precisam e nós precisamos deles. Há uma troca quando eles estão lá a gente ajuda e quando a gente os precisa também estão dispostos a nos ajudar, colaborar. A comunidade ajuda porque sabe que vai ter retorno. (Sujeito 2 - ‘família’).

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O CEFFA Itapirema atento ao processo dialético possibilita à mesma o confronto de ideias para que se possa realizar uma investigação crítica e avançar na construção do conhecimento. A Dialética Marxista apresenta uma síntese dos sentidos, da razão e da intuição; elementos que fazem parte do processo de construção do conhecimento, este não é um reflexo simples da realidade, mas um processo dialético complexo, pois o materialismo dialético é a dialética da realidade dentro do concreto real, é a ideia de que tudo se modifica permanentemente, mas essa modificação não é devida a critérios metafísicos, e sim a critérios reais. O ser se forma na realidade, para formar a própria realidade. “O ser não é espiritual, ele é real, material” (Marx, 1998, p.25).

Com isso o método dialético permite uma interpretação crítica da realidade, ou seja, existe uma contradição nos aspectos dos fenômenos, no entanto, esse embate entre fenômenos proporciona o desenvolvimento da realidade. Neste processo, a avaliação referente a nossa intervenção trouxe os seguintes resultados:

Os objetivos propostos foram atingidos de forma satisfatória com a colaboração direta e indireta da equipe de monitores/as, das observações feitas pelos alternantes do CEFFA Itapirema, bem como, seus familiares. Eles foram alcançados de forma a proporcionar as alternantes provocações, questionamentos e conhecimentos acerca da modalidade de estudo que eles protagonizam.

Um fator relevante no município de Ji-Paraná é a constatação da necessidade de ampliar o às alternantes provocações em estudar e buscam no CEFFA a forma concreta e direta para esse fim, basta ver a demanda, a procura por parte de tantas pessoas que vêm até o CEFFA Itapirema para “estudar”, mas que não encontram mais vagas, pois na escola não tem mais lugar para acolher essas pessoas.

É justamente isso que mais chamou a atenção deste estagiário, e ele procurou conhecer outros lugares no estado de Rondônia que oferece também essa modalidade de estudos, e todos (por iniciativa das famílias) estão atendendo com sua capacidade máxima.

Isso revela alguns quebra-cabeças de nossa realidade, quais sejam: Há ainda muitas pessoas fora de sua faixa etária que gostariam de estudar, no entanto, não estudam por sentirem-se inferiorizadas pelo fato de moraram na zona rural; há falta de lugares, e quando existem há uma grande concorrência entre as famílias. Foi criada uma associação dos CEFFAs de Rondônia com o objetivo de dar suporte pedagógico e financeiro para elas, porém, percebe-se muita fragilidade gerencial no que se refere ter mecanismos para fomentar articulação e fazer cumprir o estatuto por parte dos filiados;

A administração política de governo do estado de Rondônia até o momento não entendeu que essa modalidade de educação é de grande valia para a realidade da agricultura do estado, por isso mesmo, o governo não valoriza, não financia e faz perseguição, terrorismo burocrático para não deixar funcionar os CEFFAs no nosso estado que já conta com cinco unidades.

Essa proposta deveria partir do poder público em parceria com o terceiro setor e que fomentasse políticas públicas para esse setor, isso não acontece no município de Ji-Paraná onde foi realizado o presente estágio. Infelizmente ainda não se vê nenhuma iniciativa concreta com relação às demandas da Conferência Nacional de Educação e do Plano Decenal de Educação construídos por muitas mãos que determina entre outros a aplicação em escala crescente do Produto Interno Bruto - PIB, cinquenta por cento dos impostos arrecadados do Pré Sal, mas que essas e tantas outras propostas ainda não são conhecidas e muito menos colocadas em práticas até o presente momento especialmente no estado de Rondônia.

Teve-se a alegria de estagiar num espaço aonde o estagiário já desenvolve atividades de educação na qualidade de profissional na instituição de ensino médio integrado técnico em agropecuária, CEFFA Itapirema no município de Ji-Paraná, esse de forma muito comprometida com todas as questões que envolvem a realidade dos/as alternantes se envolve com as problemáticas sociais, familiares, políticas, enfim, conforme o propósito da Pedagogia da Alternância busca-se envolver na formação integral dos/as jovens e seus familiares.

Desta forma considera-se que foi satisfatório o entendimento teórico e prático de maneira que se entende ser fundamental a busca constante de informações e conhecimento no espaço Institucional. As avaliações no processo de execução foram feitas por meio de atividade avaliativa através de um questionário aplicado em todas as ações realizadas com o intuito de buscar um resultado claro e satisfatório para mensurar o objetivo proposto.

Estudar não é somente aprender ler e escrever e sim fazer com que o alternante tenha uma integração conscientemente na sociedade e seja um cidadão crítico. Com o que se aprende sujem novas oportunidades, novos sonhos e outra leitura de mundo. CEFFA não pode ser um reflexo pobre, noturno para jovens, ele é pensado e repensado a partir das necessidades e a partir dos desejos dos jovens e adultos que participam de um espaço físico agradável, adequados para jovens e todos os instrumentos pedagógicos são pensados para o sujeito do processo. É desafiador essa forma que permite olhar, pensar o processo educativo.

Diante desse resultado é proposto à Instituição continuar perseguindo o sonho no sentido de buscar sempre mais implementar ações que visem a formação cidadã, crítica, que busque a pessoa como sujeito de direitos na construção de uma educação de qualidade, própria do CEFFA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Pedagogia da Alternância tem em sua metodologia uma proposta de educação que possibilita uma formação baseada na vida, nas vivências e experiências dos jovens alternantes, a fim de estimular os/as mesmos/as na busca de suas potencialidades. Além disso, ela contribui para o desenvolvimento do meio rural, numa perspectiva de melhorar a qualidade de vida das famílias frente à diversidade de situações que acontecem nesta realidade.

Dessa forma, a escola é apresentada como um agente integrador da vida social e familiar do jovem, contribuindo para um processo de ensino-aprendizagem dinâmico, ativo e reflexivo. E é justamente nesse aspecto que evidencia a sintonia dessa proposta educacional com a filosofia socrática, ela busca e provoca a mudança de concepção do saber a ao mesmo tempo proporciona a transformação da prática do fazer puramente teórico, como queriam os filósofos socráticos para o experienciar de ações concretas na dinâmica do conhecer, fazer.

O objetivo geral proposto é conhecer qual a contribuição dos instrumentos pedagógicos da Pedagogia da Alternância na interação entre escola, família e comunidade na concepção dos/as monitores/as, alternantes e famílias envolvidas com o CEFFA Itapirema de Ji-Paraná. Por meio do estudo realizado, da pesquisa bibliográfica, das entrevistas com monitores/as, alternantes e famílias do CEFFA foi possível identificar ações realizadas no dia a dia que efetivam a interação/contribuição dos Instrumentos Pedagógicos da Pedagogia da Alternância entre escola, família e comunidade.

Os objetivos específicos propostos são analisar os instrumentos pedagógicos vivenciados no CEFFA Itapirema. Este objetivo foi alcançado, pois percebe-se que o CEFFA Itapirema operacionaliza, por meio dos instrumentos pedagógicos, uma proposta educacional em que os/as alternantes incorporam os conhecimentos de acordo com sua realidade e vivências. Pelos processos técnicos simplificados, adquire multifunções, estabelece metas para si, sua família e sua comunidade. Enfim, todos fazem parte da sua teia, especializando-se no todo;

Verificar se os Instrumentos Pedagógicos da Pedagogia da Alternância são aceitos e/ou compreendidos pelos alternantes do CEFFA Itapirema. Este objetivo também foi alcançado, especialmente nas respostas às entrevistas quando da satisfação que eles/eles /as manifestam em estudar no CEFFA.

Por meio da formação em alternância é possível fazer com que o jovem alternante se sinta um administrador daquilo que faz, um idealizador de ações comunitárias voltadas às suas realidades e daqueles com quem convive. Ele precisa sentir-se valorizado, realizado, feliz e gostar do que faz, experimentando a vida, buscando suas próprias soluções frente aos problemas que se apresentam. É desafiador ao monitor/a do CEFFA promover uma atuação mediadora; conhecer as esperanças, lutas, trajetórias e especificidades culturais que caracterizam os alternantes, a fim de estabelecer diálogos pedagógicos mais interculturais, mais reflexivos e menos excludentes.

Na linguagem da Pedagogia da Alternância, a educação tem um papel primordial de transformação; O papel do/a educador/a (monitor/a) consiste em incentivar os/as alternantes a pensar, descobrir ou criar possibilidades de realizar os trabalhos da sociedade. Uma educação que ajuda na transformação da pessoa e da sociedade e não simplesmente a serviço do sistema capitalista, como quer o mercado.

Evidência em especial a sintonia da filosofia socrática, considerando o contexto histórico e cultural do seu tempo, em especial a maiêutica e a dialética apresentada por Sócrates que contribuiu imensamente com a proposta de uma nova educação, mais humanizada e libertadora. É dessa fonte que a Pedagogia da Alternância procura ser fiel na busca da promoção da educação integral voltada à conquista da cidadania. E é justamente com essa dinâmica que a Pedagogia em questão contribui para a interação família, escola e comunidade.

Para responder o questionamento lançado neste artigo quanto à importância (influência) que a família exerce no processo educacional no CEFFA, lançou-se as seguintes hipóteses: A família é direta e unicamente responsável pela formação do caráter do seu/sua filho/a. Essa hipótese não se confirmou visto que os instrumentos pedagógicos vivenciados no CEFFA Itapirema proporcionam uma partilha, corresponsabilidade entre CEFFA e Família na formação do caráter do/a Alternante;

A família é quem decide se seu/sua filho/a deve ou não estudar os conteúdos propostos pela escola. Essa hipótese não se confirmou, parte dos conteúdos estudados ao longo do Curso Técnico em Agropecuária obedece a matriz curricular proposto pelo Ministério da Educação que juntamente com esses conteúdos são formulados outros ouvindo sugestões, problematizações das famílias e comunidade;

As decisões são tomadas em conjunto com a escola, inclusive a respeito do regimento interno do CEFFA. Essa hipótese é verdadeira. Todas as atividades pedagógicas, administrativas, de formação e qualitativas são democraticamente tomadas em colegiado. Que as instâncias de deliberações, encaminhamentos envolvendo tudo o que diz respeito ao processo educativo, seja pedagógico e/ou administrativo são as reuniões da diretoria da associação, as reuniões pedagógicas com a equipe de monitores/as e a assembleia geral de pais. Essa hipótese é verdadeira e levada à risca por todos/as que fazem parte o CEFFA, família, comunidade e monitores/as (docentes);

O desafio lançado na continuidade deste artigo é de entender que toda educação é política. Vê-se a necessidade de que a organização e sistematização dela seja mais democrática, e que os conteúdos estudados sempre levem em consideração os conhecimentos dos Jovens e suas famílias que estão em sala de aula, ajudá-los ter uma visão crítica, não impor sobre eles uma visão já elaborada, mas obviamente contestar coisas que consideram injustas na sociedade. É um equilíbrio que o/a educador/a deve fazer, mas que é realmente muito difícil de ser feito, é um grande desafio tornar a Educação uma política pública.

No que concerne à estrutura da proposta do CEFFA, em geral, e às atividades desenvolvidas em sintonia com os/as alternantes, seus familiares e os/as monitores/as no Centro Familiar de Formação por Alternância Itapirema, em particular, não ‘houve nenhuma necessidade de apontarmos mudança quanto a contribuição da Pedagogia da Alternância a fim de oportunizar maior e melhor interação entre família, comunidade e escola, pois a dedicação e os esforços dispensados durante a execução da proposta cumpriu-se efetivamente com todas as atividades previstas do presente estágio, uma vez que este tem contribuído de maneira significativa para a formação acadêmica e seus resultados concretos orientarão futuras ações e estratégias.

Compreende-se que temos no Brasil uma fábrica de analfabetos que são cada vez mais jovens e que a gente não consegue dar conta, o CEFFA é uma mola que ajuda que provoca as pessoas a agirem, a maior instituição social que nós temos hoje no Brasil está adormecida que é o povo organizado.

O CEFFA é um provocador, ele ajuda na formação dos sujeitos de direitos. Na esperança de Paulo Freire a alegria de trabalhar com homens e mulheres que estão buscando-os e elas mesmos. Essa é a coisa mais importante, nós não estamos para ensinar a letra, nós estamos para ajudar as pessoas a despertarem pra vida e se a vida levar ao conflito vamos para o conflito, vamos para a luta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Ricardo de Andrade. Interação família escola: contribuições para a formação do aluno. Linhares: Faculdade de Ciências Aplicadas “Sagrado Coração”, 2008. Disponível em <http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/interacao-familia-e-escola:-contribuicoes-para-a-formacao-do-aluno-5175/artigo/>. Acesso em 10 novembro 2010.

BARREIRO, Júlio. Educação Popular e Conscientização. Porto Alegre: Sulina, 2000.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação popular na escola cidadã. Petrópolis; Vozes, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

______. Educação como prática da liberdade. 30. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

______. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

______. A Alternância na formação, um caminhar no coração da complexidade. In: Congresso Internacional, 8. 2005, Foz do Iguaçu. Anais Família, Alternância e Desenvolvimento. Promoção pessoal de coletiva: Chave para o Desenvolvimento Rural Sustentável. Foz do Iguaçu: Associação Internacional dos Movimentos Familiares de Formação Rural, 2005.

______. Praticar e compreender a Pedagogia da Alternância dos CEFFAs. Petrópolis, RJ: Vozes, Paris: AIMFR, 2007.

FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2004

GIMONET, Jean-Claude. Nascimento e desenvolvimento de um movimento educativo: as Casas Familiares Rurais de Educação e de Orientação. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA, 1., 1999, Salvador. Anais. Salvador: União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil, 1999, p. 39-48

_________. Nascimento e desenvolvimento de um movimento educativo: as Casas Familiares Rurais de Educação e Orientação. In: Seminário Internacional da Pedagogia da Alternância: Alternância e Desenvolvimento, 1., 1999.

PALITOT, Maria de Fátima de Souza. Pedagogia da Alternância: estudo exploratório na Escola Rural de Massaroca. 2007.

SPEYER, Anne Marie. Educação e Campesinato: uma educação para o homem do meio rural. São Paulo, SP: Edições Loyola, 1983.

STÁLIN, Josef. O Materialismo dialético e o materialismo histórico. Edições Manoel Lisboa, 2010.

UNEFAB. Revista da Formação por Alternância. Brasília: União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil. n. 5. jul. 2008.

ZAMBERLAN, S. Pedagogia da Alternância. Coleção Francisco Giusti, Gráfica Mansur Ltda, 1995.


1 Bacharel em Filosofia pelo Seminário Maior João XXIII – Porto Velho RO (1993). Licenciatura em Filosofia pela Faculdade Católica de Rondônia – Porto Velho RO (2012). Bacharel em Teologia pelo Seminário Maior João XXIII – Porto Velho RO (1997). Especialização em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter – RS (2004).Bacharel em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR – Ji-Paraná RO (2010). Especialização em Serviço Social - Planejamento e Gestão de Projeto Sociais pela Faculdade Panamericana – Ji Paraná – RO (2012). Especialização em Liturgia pela Pontifícia Faculdade de teologia Nossa Senhora da Assunção – SP (2014). Especialização em Formação de Liderança para o Controle Social e Políticas Públicas pelo Instituto Agostín Castejon – IAC (2015). Especialização em Supervisão, Orientação e Gestão com Ênfase em Psicologia Educacional pela Faculdade Santo André (2017). Cursou 5 semestres de direito pela UniversidadeLuterana do Brasil ULBRA – Ji Paraná – RO (2005/2007). E-mail: [email protected]