REFLEXÃO CRÍTICA DO FILME A SUBSTÂNCIA PELA ÓTICA DA SILVIA LANE

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.17013960


Ana Livia Dias Pedroso1
Camila Porto Mallea2
Giovana Pim de Oliveira3
Julia Fernandes Feliciano4
Paula Fernandes Chadi Elias5
Daniela Emilena Santiago6


RESUMO
Filmes são excelentes dispositivos de reflexão e crítica, e, dentre eles podemos citar o filme A Substância. Na película a história narrada impele a reflexão e crítica em torno de questões que são apresentadas em relação a estética, ao papel da mulher na sociedade, ao etarismo e outros elementos afins. A análise aqui proposta recorre a esse filme como fonte para problematizar essas questões adotando para isso a referência do pensamento de Silva Lane. É possível concluir que a obra representa contributos importantes que, a luz da Psicologia Social de Lane nos levam a refletir sobre a importância do meio social na delimitação de padrões e normas de comportamentos adotados pelos seres humanos, resultando, ou podendo resultar em sofrimento psíquico de grande envergadura para aqueles que, buscam atender a tais referências.
Palavras-chave: Psicologia Social. A Substância. Estética. Etarismo.

ABSTRACT
Films are excellent tools for reflection and criticism, and among them we can mention The Substance. The film's story prompts reflection and criticism around issues raised regarding aesthetics, the role of women in society, ageism, and other related elements. The analysis proposed here uses this film as a source to problematize these issues, adopting the thought of Silva Lane as a reference. It can be concluded that the work represents important contributions that, in light of Lane's Social Psychology, lead us to reflect on the importance of the social environment in defining behavioral patterns and norms adopted by human beings, resulting, or potentially resulting, in significant psychological suffering for those who seek to conform to such standards.
Keywords: Social Psychology. The Substance. Aesthetics. Ageism.

1 INTRODUÇÃO

Máscara, Pitty
Diga quem você é, me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
Tira a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser
Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer, consciente, inconsequente
Sem se preocupar em ser adulto ou criança
O importante é ser você7

A múscia Máscara, da Pitty reporta as máscaras que podem ser usadas pelas pessoas na convivência social, visando atender a padrões sociais constituídos. Nesse texto, há uma reflexão sobre a questão pauta, partindo de uma necessidade de análise crítica sob o viés da Psicologia Social. Assim, o presente trabalho tem a finalidade de expressar a reflexão crítica sobre a ótica da psicologia social através da autora Silva T. Maurer Lane.  Lane é artesã da teoria, era mestre em estimular alunos à prática da reflexão crítica. Professora e presidente da Abrapso, por ela criada nos anos 80 no Brasil e um grande nome na Psicologia brasileira por propor aos profissionais uma nova psicologia social desde que mais crítica e reflexiva. Marcada por sua inquietação com a qual percorre a Psicologia, sem medo, sem acomodação, sem receio do novo e sem receio de voltar ao velho (Bock, 2001) 

Com o amadurecimento profissional, veio, também, o reconhecimento no Brasil e no exterior. Em 1999, Sílvia Lane recebeu Menção Honrosa, no XXVI Congresso Interamericano de Psicologia, pelo melhor artigo publicado na Revista Interamericana de Psicologia, no período de 97-98. Dois anos depois, na XXVII edição do congresso, ela recebeu da Sociedade Interamericana de Psicologia, o prêmio concedido aos pesquisadores que contribuem decisivamente ao desenvolvimento da Psicologia Latino-Americana. 

Partindo de tais indicativos, no presente texto adotamos como referência de reflexão a perspectiva de Lane sobre os fenômenos que estão presentes na vida da sociedade contemporânea. Para elaborá-lo recorremos então ao pensamento da autora. Para tanto, visando sua aplicação em determinados fenômenos sociais adotamos a análise de plataformas fílmicas, segundo a proposta apresentada pela disciplina de Psicologia Social e na qual os autores do presente texto estão vinculados. A disciplina em questão tem como objeto o pensamento crítico em Psicologia Social e é oferta na graduação de Psicologia da Unip de Assis-SP. A frequência do autores do presente texto à disciplina demonstrou a necessidade de elaboração de um trabalho em que a proposta foi pela escolha de um filme e sua análise sob o viés teórico da Psicologia Social.

Para a elaboração do presente texto, seguindo o disposto acima, foi escolhido o filme “A Substância”, dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi More. O filme permite a realização de uma comparação dos esquemas sociais da época atual uma vez que o longa faz críticas ao mundo contemporâneo com ênfase especial ao etarismo e a necessidade constante por estar com aparência mais jovem faz com que o indivíduo tenha a obrigação de estar produzindo algo e seguindo padrões de beleza.  O filme foi um sucesso de público e bilheteria, e, no ano de 2024 atingiu a marca de 70.000 milhões de dólares [8] chegando até a ser indicado ao Óscar em várias categorias no mesmo ano.

Por meio dele foi possível compreender que a questão da estética, retratada na obra, evoca o entendimento da importância de estruturação de comportamentos e saberes pelo ser humano. Segundo Lane (1981) todo comportamento é aprendido e está relacionado com a socialização do indivíduo no grupo em que pertence. Demi More, faz o papel de uma atriz renomada nos programas de ginástica televisionada, porém, com sua idade e por sua imagem estar “fora” dos padrões ou melhor dizendo, não se adequando ao grupo que está convivendo, se sente frustrada com a quebra de contrato e busca maneiras absurdas e clandestinas para poder se adequar novamente.   

Por meio do presente artigo há uma provocação em relação a questão da estética, do etarismo e outros elementos associados ao filme apresentado. Porém, a forma de estrutura do artigo permite ainda o entendimento dos conceitos atrelados ao pensamento da Silvia Lane. Sua composição seguiu pela estrutura de realizar uma breve apresentação do filme visando sua contextualização seguida pela análise estruturada em torno dos eixos: etarismo e influência na sociedade.

2 DESENVOLVIMENTO

Entende-se que  psicologia é a ciência que estuda o comportamento principalmente humano e segundo Lane (1981), sem considerar as particularidades das diferentes linhas teóricas. As divergências teóricas se refletem no que consideram comportamento, onde é toda e qualquer ação, seja reflexa, sejam os comportamentos considerados conscientes que envolvem experiências, conhecimento, pensamento, ação intencional e não observável inconsciente. 

Já a Psicologia Social estuda o comportamento social, estes comportamentos se formam de acordo com as características peculiares de cada um, mesmo podendo ser geneticamente idênticos, ela se preocupa com os comportamentos que individualizam o ser humano, mas ao mesmo tempo procura lei geral a partir das características de sua espécie, portanto diz-se que o indivíduo apreendeu o comportamento adequado para aquela situação segundo seu modelo. Contudo a psicologia social estuda o comportamento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente (Lane,1981).  

O ser humano é um todo – fisiologia e psicologia são manifestações de uma mesma totalidade. [...] Em síntese, ele é produto de um longo processo histórico, no qual as mediações das emoções, da linguagem, do pensamento e dos grupos sociais constituem a subjetividade: consciência, atividade, afetividade e identidade.(op. cit., p.119)

Mesmo que a psicologia geral afirme que se aprende com o reforçamento, a social completa que a história do grupo ao qual o indivíduo pertence dirá o que é reforçador e o que é punitivo. Assim o doce, o dinheiro, as emoções  como tristeza, alegria, medo, sorriso, expressões de desagrado, podem ou não contribuir para um processo de aprendizagem, dependendo do significado deles para uma determinada sociedade, sendo assim percebe-se que é muito difícil encontrar comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais, e é este o foco da psicologia social, que estuda as relações essencial entre o indivíduo e a sociedade. Porém vale ressaltar que a história não é estática, ela está sempre acontecendo, levando a sociedade à transformações e o homem inserido nela tornar-se agente da história e transformando a sociedade em que vive. (Lane,1981). 

Nos tornamos seres sociais a partir dos outros, segundo Silvia Lane (1981) pois para a sobrevivência é necessário no mínimo mais de uma pessoa, assim os torna um grupo, e toda a vida do ser humano será caracterizada por participações em grupos. Assim desde o início da vida o indivíduo, inserido no contexto histórico, segue o padrão ou modelo que cada sociedade considera correto e portanto será aceito no grupo. Lane ainda completa com o pensamento de que viver em grupo permite o confronto entre as pessoas e cada um vai construindo seu eu, neste processo de interação através de constatações entre diferenças e semelhanças entre cada indivíduo e o outro. É neste processo que se desenvolve a individualidade, a identidade social e a consciência de si mesmo.

3 OBJETO DE CRÍTICA 

O filme escolhido para a elaboração desse trabalho foi A Substância, tal como apresenta supra. “A Substância” é um filme dirigido por Coralie Fargeat, o longa-metragem apresenta  uma abordagem de terror corporal, explorando temas como a obsessão pela juventude e os padrões de beleza impostos pela sociedade. Estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, o filme recebeu cinco indicações ao Globo de Ouro e garantiu a vitória de Moore na categoria de Melhor Atriz em Comédia ou Musical. 

Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio, outrora famosa por seu programa de aeróbica na televisão. Após ser demitida, ela se vê em uma espiral de desespero. Em busca de revitalizar sua carreira e recuperar a juventude perdida, Elisabeth recorre a uma substância experimental oferecida por um laboratório clandestino. Essa droga promete transformá-la em uma versão aprimorada de si mesma, criando temporariamente uma réplica mais jovem e vibrante. No entanto, as consequências dessa decisão são mais profundas e perturbadoras do que ela poderia imaginar. 

Elisabeth adquire, na verdade, uma réplica sua bem mais jovem e que dá a vida a personagem é Margaret Qualley e que dá vida a Sue. Sue passa a trabalhar no lugar de Elisabeth no mesmo programa e emissora e ambas precisam alternar entre o estado alerta e o repouso. Isso corresponde a entender que durante sete dias Elisabeth pode circular enquanto Sue dorme e depois há a troca. Para tanto, Sue começa a permanecer por longos períodos, superiores a sete dias. Isso passa a comprometer o seu corpo e ela passa perder dentes, a ter crises de alucinação e outros elementos afins.

O filme apresenta uma série de situações vividas por Elisabeth e por Sue até chegando ao final que leva ambas para uma apresentação de dança. Nela, Elisabeth comparece após um confronto com Sue em sua residência e já é apresentada com uma imagem desfigurada, toda comprometida pelo excesso de uso da droga usada para trocar os papéis. As cenas finais apresentam Elisabeth, seu corpo físico, desintegrando, e, escorrendo na calça da fama justamente sob uma estrela que levava o seu nome. Interessante que nas cenas finais o corpo desfigurado de Elisabeth se vale de uma máscara para evitar que as pessoas pudessem ver seu rosto.

4 CRÍTICA 

“A Substância” é uma obra que desafia as convenções do gênero terror, incorpora elementos da crítica social e psicológica. O filme cria uma atmosfera inquietante, Demi Moore na interpretação poderosa como Elisabeth Sparkle, captura a vulnerabilidade e a determinação de uma mulher disposta a tudo para recuperar sua juventude e status. Margaret Qualley, no papel da versão jovem de Elisabeth, oferece uma atuação igualmente impressionante, trazendo nuances que enriquecem a complexidade da personagem. 

Para melhor exploração didática, as críticas serão apresentadas em formas de subtópicos, sendo eles: Pressão estética; Etarismo e Influência da sociedade, que embora relacionados exploram terrenos ainda pouco explorados na psique humana. 

4.1 Pressão Estética 

O roteiro aborda temas contemporâneos relevantes, como a obsessão pela aparência, a pressão para manter a juventude e a exploração do corpo feminino pela mídia. Essas questões são exploradas de maneira visceral, muitas vezes através de cenas perturbadoras. No entanto, essas escolhas narrativas servem para enfatizar a mensagem do filme e provocar reflexão. 

Além disso, o filme provoca uma reflexão sobre os extremos aos quais a sociedade pode levar indivíduos na busca pela perfeição física e sucesso. A obra provoca discussões sobre a ética na ciência, a objetificação do corpo feminino e as pressões midiáticas sobre a imagem pessoal. Esses temas ressoam especialmente em uma era dominada pelas redes sociais, onde a aparência muitas vezes se sobrepõe à essência. Possibilita o espectador a confrontar questões profundas sobre identidade e sociedade, o filme se destaca como uma das obras mais impactantes de 2024.   

No filme, Elizabeth, tem uma conexão óbvia com Branca de Neve. Em várias cenas, o espelho do banheiro funciona como um portal entre a protagonista e uma outra versão de si mesma, semelhante ao espelho mágico de “Branca de Neve e os Sete Anões”. A busca incessante por beleza, refletida em sua comparação constante com Sue, interpretada por Margaret Qualley, lembra a insegurança da Rainha Má ao descobrir que sua beleza não é incomparável. 

Sue, por outro lado, traz referências à Cinderela, vestindo um vestido azul que lembra o icônico traje da princesa no baile. Porém, o ponto crítico está na sensação contínua de que o tempo está se esgotando, simbolizado pela troca de corpos a cada sete dias e seus efeitos adversos. Essas referências desmistificam a artificialidade das narrativas de contos de fadas e apresentam um panorama onde a beleza e juventude são transitórias. 

Destaca-se por explorar a desconstrução das expectativas colocadas sobre as mulheres em contos de fadas. Elisabeth é apresentada como a “matriz,” uma personagem que vive a pressão e o descontentamento com seu próprio corpo à medida que envelhece. A narrativa ilustra que a rainha má, um dia, também foi uma princesa, perdida em seu reflexo ao se convencer de que o tempo lhe roubou a juventude. 

A conclusão do filme reforça essa crítica através de uma linha impactante de Dennis Quaid, que diz a Sue que “meninas bonitas devem sempre sorrir.” Este comentário relembra as expectativas de feminilidade e padrões de beleza, persistentes nas histórias de princesa. “A Substância” desmistifica os contos de fadas, confirmando a ausência de príncipes encantados e finais felizes. 

A estética do filme contribui para a formação de um universo que é, ao mesmo tempo, familiar e inquietante, misturando glamour e medo em medidas iguais. 

4.2 Etarismo 

Então pode-se explicar o comportamento das duas personagens Elisabeth e Sue, com a psicologia social sobre a ótica da Silvia Lane, 1981. 

A busca incessante Elisabeth por beleza, refletida em sua comparação constante com Sue, reforça a teoria da psicologia social de Lane, que caracteriza o papel social que deva ser assumido, perdendo sua individualidade, sendo assim Elisabeth faz tudo para manter-se no padrão das mulheres e costumes inseridos na sociedade atual, qualquer ação o reação que saia fora do protocolo, gera confusão. 

Lane afirma que a liberdade  de manifestarmos a nossa personalidade, também tem a sua determinação histórica e naquelas atividades sociais, que não são importantes para manutenção da sociedade ou às vezes até ao contrário a contraversão é necessária para reforçar o que é considerado correto, normal para aquele grupo. 

No filme fica claro que para ser aceita pelo grupo que Elizabeth está inserida, precisa representar padrão “Disney” de ser, jovem, disposta, sorrindo a todo tempo, para assim alimentar o desejo masculino. Diante dessa realidade para se manter em seu posto o qual dedicou-se toda a vida para manter-se, descobre que  sentimentos intensos como gerontofobia, cacofobia, monofobia, são mais significativos do que a consciência de si, e a partir disso a personagem busca resoluções irracionais e imediatas, porque não é possível suportar o sofrimento de estar fora dos padrões esperados, então assume qualquer risco.

4.3 Influência da Sociedade 

Silvia Lane (1981) faz uma reflexão sobre a identidade social, que é definida por um conjunto de papéis que desempenhamos, e este atendem a manutenção das relações sociais representadas, em que os outros esperam que sejam cumpridas. Este é o cenário da vida da personagem Elizabeth e da Sue, pois são pessoas distintas mas uma gera consequência para outra, pois estão em um só corpo. Diante disso pode-se aplicar a crítica segundo Silva Lane nas representações das duas personagens principais. 

Neste cenário que é possível questionar, quanto aos papeis e identidade social, pois exercem uma mediação ideológica e criam uma ilusão de que estes modelos são necessários em decorrência da produção de vida material e o que vai determinar nossa identidade social. É nesta problemática que Lane (1981) levanta a questão da consciência em si.  

A conquista da consciência em si, propõe que se assumirmos que somos essencialmente a nossa identidade socl, e que ela é consequência de opções que fazemos, devido a nossa genética, temperamento, personalidade, sem examinarmos as condições sociais, que através da nossa história foram determinadas e constituindo as característica que nos definem, só podemos estar reproduzindo o esperado pelos grupos e assim sendo considerado os “bem ajustados”. 

Porém se analisar estes papéis que aprendeu-se a desempenhar, constata-se que foram definidos pela sociedade para garantir a manutenção das relações sociais necessárias para produção de vida materiais, sem grandes alterações, onde poucos dominam e muitos são dominados. 

A autora então faz uma provocação que só quando formos capazes de partir de questionamentos como estes, buscar razões históricas da sociedade e do grupo em que estamos vivendo, que explicaram o por que agimos de tal forma é que estaremos desenvolvendo consciência de nós mesmos e a consciência de si poderá alterar a identidade social. 

De acordo com Lane, há uma lógica familiar social que estrutura acordos necessários para a manutenção e reprodução das relações sociais que são atribuídas também a características peculiares ao homem e à mulher, atributos nos quais vão desde traços físicos até nos moldes de interesses restritos na óptica do gênero.  

Em várias cenas do longa, a diretora Coralie Fargeat expõe de forma clara os atributos que a sociedade espera, destacando as curvas femininas da jovem Elisabeth Sparkle. A personagem é retratada não como um ser humano completo, mas sim reduzida pela mídia a meros pedaços de carne desejáveis ao público. Essa ideia de que conquistas estão reservadas apenas para a juventude, sendo o único momento normalizado a agir sem limites, leva a personagem no extremo ápice de repugnância interna ao tentar se arrumar para um encontro. A crueldade dessa sequência reside na forma como a mulher, influenciada pelo meio social em que vive, aprende a enxergar o passar dos anos não como uma celebração da vida, mas como uma fonte de inquietação por não conseguir manter sua beleza inalterada.  

De acordo com Lane (1981), há uma lógica familiar social que estrutura acordos necessários para a manutenção e reprodução das relações sociais que são atribuídas também a características peculiares ao homem e à mulher, atributos nos quais vão desde traços físicos até nos moldes de interesses restritos na óptica do gênero. (LANE, 1981) 

Em várias cenas do longa, a diretora Coralie Fargeat expõe de forma clara os atributos que a sociedade espera, destacando as curvas femininas da versão jovem da Elisabeth Sparkle. A personagem é retratada não como um ser humano completo, mas sim reduzida pela mídia a meros pedaços de carne desejáveis ao público.  

Essa ideia de que conquistas estão reservadas apenas para a juventude, sendo o único momento normalizado a agir sem limites, leva a personagem no extremo ápice de repugnância interna ao tentar se arrumar para um encontro.  

A crueldade dessa sequência reside na forma como a mulher, influenciada pelo meio social em que vive, aprende a enxergar o passar dos anos não como uma celebração da vida, mas como uma fonte de inquietação por não conseguir manter sua beleza inalterada.

5 CONCLUSÃO 

Conclui-se que a pressão estética, a pressão da sociedade e o etarismo nos tempos atuais, de acordo com os pensamentos de Silvia Lane, fazem com que o ser humano tenha uma grande necessidade de cobrança na sua subjetividade para que esteja em constante produtividade. As questões criticadas no longa, relacionadas aos pensamentos abordados por Lane (1981), se fazem atuais, ao trazer em questão, a constância de querer ser estar inserido e “parecido” com os grupos mais jovens e que ainda estão gerando de alguma forma fluxo utilidade para a sociedade. 

Nesse sentido, é possível inferir ainda que a protagonista, Elisabeth, representa os ideais de corpo, idade e produtividade que estão presentes na sociedade capitalista. Nesse formato, a mulher é objetificada e idealizada de acordo com um padrão de beleza e que incorpora a noção de jovialidade, magreza como referências daquilo que é idealizado para uma mulher e mais, na narrativa vemos que ainda que Elisabeth apresentasse condições biológicas para as atividades de dança, acabou sendo dispensada. Por analogia, é possível inferir que a protagonista se apropriou dessa forma de se compreender, frente a sociedade em que está inserida.

A narrativa caminha para a direção de forma a demonstrar os possíveis prejuízos decorrentes da vida dedicada a buscar alcançar essas referências, e, nesse sentido, a questão estética é representada como um elemento de suma importância. De tal maneira, a busca desenfreada por atingir padrões sociais postos conduz a protagonista a morte, e, a coloca com a degradação do corpo físico, algo que ela sempre temeu. Ao invés de prolongar o processo de envelhecimento a protagonista acabou acelerando-o vindo a morrer por uma necessidade que lhe foi introjetada socialmente e que, não era algo seu, mas algo estruturado.   

Abordagens como essa, propostas e realizadas com base em expressões culturais como filmes são extremamente válidas e importantes uma vez que permitem a junção teoria e prática, por meio da incorporação de elementos presentes no cotidiano à análise realizada. Por outro lado, há que se considerar ainda a atualidade do pensamento de Silvia Lane no sentido e na orientação de analisar fenômenos contemporâneos, dada a sua especificidade e particularidade. Nesse sentido, outros estudos, de tal natureza, devem ser realizados incorporando, inclusive outras fontes de pesquisa como músicas, séries e outros dispositivos afins.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LANE, S. T. M. O que é Psicologia Social? 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.

LUNA, R. A Substância: O novo ícone do cinema de terror ganha um marking-of; Assista. Rev. Isto é, publicada em jan.2025. acessado em 06/03/2025, disponível no link: https://istoe.com.br/istoegeral/2025/01/10/a-substancia-o-novo-icone-do-cinema-de-terror-ganha-um-making-of-assista/ 


1 Discente do Curso Superior de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]

2 Discente do Curso Superior de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]

3 Discente do Curso Superior de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]

4 Discente do Curso Superior de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]

5 Discente do Curso Superior de Psicologia da Unip, campus Assis-SP. E-mail: [email protected]

6 Consultora e Assessora em SUAS. Docente do Curso Superior de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas da UNIP, Campus Assis. Mestre em Psicologia pela Unesp de Assis, Mestre em História pela Unesp de Assis e Doutora em História pela Unesp de Assis e-mail: [email protected]

7 Disponível https://www.letras.mus.br/pitty/80314/. Acesso: 29 ag. 2025.

8 Disponível em https://cinepop.com.br/a-substancia-terror-com-demi-moore-ja-arrecadou-quase-us-70-milhoes-mundialmente-615745/. Acesso: 29 ag de 2025.