- Preocupar-se com a distribuição das forças preferencialmente à sua intensidade;
Prestes et. al. (1997) e Silva et. al. (1997) relataram que a reabsorção só ocorre devido a interação da biologia individual com as forças mecânicas, e recomendam ainda, iniciar o tratamento com forças leves para avaliar o limiar reabsortivo de cada paciente.
Segundo Owman-Moll et. al. em 1995, tanto a força leve e contínua quanto a força dissipante (interrompida), possuem efeito similar sobre as raízes, embora a força dissipante pareça ser um pouco mais segura. Segundo Brezniak, Wasserstein e Capelozza Filho em 2000, após a remoção do aparelho ortodôntico, não existe a progressão do nível de reabsorção, a menos que permaneçam interferências oclusais grosseiras. Portanto, de um modo geral, segundo eles, a perda radicular resultante do tratamento ortodôntico não diminui a longevidade ou a capacidade funcional dos dentes envolvidos.
Segundo Parker & Harris (1998), forças intrusivas são consideradas prejudiciais às superfícies radiculares porque a forma das raízes concentra pressão no ápice cônico. Os mesmos autores descreveram que quando combinados o movimento intrusivo e o torque radicular lingual, foram os principais fatores indutores de reabsorção radicular apical externa.
Os tipos de movimentos, como os de intrusão e torque, são mais preocupantes para Prates et. al. (1997), Beliváquia e Santana (1999) e Souza et. al. (1999). Já para Nouer et.al. (1997), este fator não tem valor frente a reabsorção. Tsubono (2006) ressaltou ainda a importância dos movimentos de vai e vem, e de tracionamento de canino retido na potencialização do processo.
Segundo Mcnab et. al. (2000) e Sameshima e Sinclair (2001), tratamentos ortodônticos com extrações apresentam significativa associação com a reabsorção radicular, enquanto que Hendrix et. al. (1994), Parker e Harris (1998) não relataram associação deste tipo de tratamento com a reabsorção radicular. Portanto, há uma controvérsia da ocorrência desta patologia, em virtude deste tipo de tratamento.
Para Prates et. al. (1997), Teixeira e Zollner (2003) e Tsubono (2006), não importa o aparelho e sim a potencialidade com que ele é utilizado. Forças intermitentes ajudam na reorganização do cemento. Para Nouer et. al. (1997) e Teixeira e Zollner (2003), o tempo de tratamento agrava a reabsorção.
A anatomia radicular também foi um fator a ser considerado por Prates et. al. (1997), Beliváquia e Santana (1999), Souza et. al. (1999) e Younis et. al. (2008), afirmando que a raiz de forma agulhada é um fator agravante. Para Tsubono (2006), raízes dilaceradas, pontiagudas ou em forma de pipeta são mais propensas. Já para Marinho e Noel (2007), além da anatomia radicular, deve-se dar atenção também para a morfologia da crista alveolar. Outros fatores citados como importantes foram a densidade óssea, por Prates et. al. (1997) e mal hábito como onicofagia e deglutição atípica, segundo Paiva et. al. (1998).
Segundo Silva et. al. (1997), Valdrighi et. al. (1998) e Goldner et. al. (2002), dentes com tratamento endodôntico não influenciam a reabsorção, desde que a endodontia esteja bem realizada, e sugere um tempo entre os dois tratamentos. Já Beliváquia e Santana (1999) afirmaram que os dentes vitais reabsorvem mais que os tratados endodonticamente, e Prates et. al. (1997) observaram uma tendência maior para os dentes com tratamento de canal.
Quanto aos dentes com rizogênese incompleta, parece consenso na literatura que os mesmos apresentam um menor custo biológico do que os dentes com rizogênese completa (Hendrix et. al., 1994; Mavagrani et. al., 2002; Rosenberg 1972; Steinvik, Mjor 1970). Porém, quando forças forem aplicadas sobre dentes com rizogênese incompleta em estágios precoces de formação radicular, pode ocorrer um encurtamento do que seria o comprimento original do dente (Consolaro et. al., 2001). Já para Silva Filho et. al. (2004), o tratamento ortodôntico em dentes com rizogênese incompleta não prejudicou o término do desenvolvimento radicular e nem reabsorveu os ápices radiculares.
Bassigny, em 1984, foi o único autor a recomendar o controle radiográfico em particular nas mulheres em idade pré-puberal. Pereira e Monteiro, 1981, Kaley e Phillips, 1991, concluíram que as mulheres apresentaram maiores índices de reabsorção radicular ao final do tratamento. Segundo Beck e Harris (1994); Hendrix et. al. (1994); Parker e Harris (1998) e Sameshima e Sinclair (2001), não há presença de dimorfismo sexual em relação a ocorrência da reabsorção radicular. Silva Filho et. al. (1993) e Souza et. al. (1999) também não detectaram diferenças entre os sexos.
Em relação à idade, Braum et al. em 1993, relataram que a dentição adulta exibe uma diminuição no suporte alveolar e que os riscos ao tratamento são maiores, necessitando de uma intervenção mais cuidadosa e lenta. Silva et. al. (1997) também pedem atenção especial no início do tratamento de pacientes adultos, pois a resposta biológica é mais lenta. Já para Beliváquia e Santana (1999), Nouer et. al. (1997) e Souza et. al. (1999), a idade não se mostrou um fator relevante.
Sobre a reabsorção causada por fatores hormonais, Tavares e Sampaio (1997) afirmaram que o desequilíbrio hormonal não é o agente causal do processo de reabsorção, mas pode influenciá-lo. Mas Silva Filho em 1993, afirma que mulheres adultas na fase de menopausa, osteoporose e alterações hormonais, estariam mais propensas à reabsorção radicular. Há controvérsias acerca deste assunto. Consolaro em 2002, afirma que alterações endócrinas ou hormonais não induzem ou influenciam o índice de reabsorções.
Silva et. al. (1997) verificaram que a hipocalcemia pode aumentar a reabsorção, e Beliváquia e Santana (1999) afirmaram que administrar algumas substâncias sistêmicas pode diminuir ou evitar a reabsorção radicular. Tavares et. al. (2002) salientaram a importância de o profissional estar atento, e orientar o paciente a comunicar qualquer tipo de medicação que está sendo ou vai ser utilizada, para evitar surpresas desagradáveis, pois estas substâncias, associada ao tratamento ortodôntico, podem potencializar a reabsorção radicular.
Dentre os hábitos nocivos que podem causar reabsorções radiculares, roer unha (onicofagia) e o pressionamento atípico da língua, associados a mordida aberta, são capazes de predispor à reabsorção radicular (Bresniak e Wasserstein, 1993; Tavares e Sampaio, 1997).
Paiva et. al. (1998), Prestes et. al. (1997) e Nouer et. al. (1997) foram incisivos em relatar que a predisposição é um fator a considerar nesta patologia.
Para Silva Filho et. al. (1993), Silva et.al. (1997), Nouer et.al. (1997), Teixeira E Zolner (2003), os incisivos são os dentes mais acometidos, e dentre eles, os superiores são os que têm maior chance de reabsorver. Para Martins et.al. (2005), estes sofrem mais reabsorção quando o tratamento é feito com extrações. Gadben et.al. (2006) não encontraram diferença significativa entre a quantidade de reabsorção dos centrais e os laterais. Para Kennedy et al. 1983; Philips, 1995; Sharpe et al. 1987; Silva Filho et al. 1993, os dentes mais vulneráveis por ordem decrescente de prevalência são os incisivos laterais superiores, seguidos pelos incisivos centrais superiores, incisivos inferiores, raiz distal dos primeiros molares inferiores, segundos pré-molares inferiores, segundos pré-molares superiores, molares superiores e inferiores. Segundo Sharpe et al., 1987; Silva Filho et al., 1993, a maior predisposição à reabsorção dos incisivos superiores está relacionada à extensão de movimentação destes dentes, em decorrência da má-oclusão, função e estética.
Caso haja indício de reabsorção, Silva et. al. (1997) recomendam parar o tratamento imediatamente para uma nova reavaliação. Neste caso, Levander et.al. (1996) e Capelozza Filho et. al. (2002) orientam para um período de repouso de 2 a 3 meses para que haja uma reorganização dos tecidos periodontais.
Para Martins et. al. (1994), Teixeira e Zollner (2003) e Younis et. al. (2008), a reabsorção cessa após a remoção do aparelho fixo, podendo haver apenas uma remodelação apical, e recomenda o ajuste oclusal após 6 meses da remoção. Para Beviláquia, Santana (1999), períodos de repouso evitam ou diminuem a reabsorção.
Segundo Levander et al., em 1994, quando, ao exame radiográfico, evidencia-se uma reabsorção mínima ou ausência de reabsorção, pode-se afirmar que o paciente apresenta risco pequeno de reabsorção severa ao final do tratamento. Ao detectar-se uma reabsorção moderada, tem-se um risco regular de reabsorção severa e risco pequeno de reabsorção extrema ao final do tratamento. Nesses casos recomenda-se um período de repouso de 60 a 90 dias e deve-se comunicar a suscetibilidade ao paciente. Diante de reabsorções severas existe um alto risco de reabsorções extremas no final do tratamento (Silva Filho 1993; Levander et al., 1994; Capelloza Filho 1998). Nos casos de reabsorções extremas, recomenda-se um descanso obrigatório de 90 dias e adota-se obrigatoriamente, a interrupção ou simplificação do tratamento (Capelozza Filho, Silva Filho, 1998; Levander et. al., 1994).
Machado et. al. salientaram a importância do esclarecimento ao paciente de possíveis danos causados pela Ortodontia.
É unânime a posição dos autores a respeito da necessidade do controle radiográfico (Hall, 1978; Hollender et. al., 1980; Ronnerman e Larsson, 1981; Cansação, 1981; Bassigny, 1984; Copeland e Green, 1986; Brezniak e Wasserstein, 1993; Silva Filho et. al, 1993). Mas existe controvérsias sobre a frequência e a região a ser radiografada. Para Hollender et. al, em1980, o controle radiográfico deve ser concentrado nos dentes submetidos aos movimentos ortodônticos mais extensos. Já Langford e Sims (1981) afirmam que os molares também podem ser afetados por reabsorções radiculares extensas, apesar destas serem dificilmente detectadas nas radiografias. Por outro lado, Copeland e Green, 1986; Brezniak e Wasserstein, 1993; Bassigny, 1984, afirmam que os dentes anteriores são os que devem receber controle radiográfico periódico, por serem os mais frequentemente afetados. Para eles, quando os incisivos não mostram sinais de reabsorção radicular, a possibilidade de ocorrer em outros dentes é menor.
Consolaro, em 2002, disse que apenas 10% das reabsorções dentárias em Ortodontia são severas, sendo assim, indica-se que sejam realizadas rotineiramente radiografias periapicais dos incisivos superiores e inferiores em pacientes adolescentes, e uma série de radiografias em pacientes adultos como conduta preventiva habitual, previamente ao início do tratamento. Uma vez que esse tenha sido iniciado, recomenda-se que sejam feitas radiografias periapicais dos incisivos superiores e inferiores a cada 6 meses, para controle do custo biológico da mecanoterapia (Brezniak, Wassertein, 1993; Silva Filho, 1993; Levander et Al., 1994; Capelloza Filho, 1998; Brezniak, Wassertein, 2002).
Já Zachrisson, 1976; Hollender et. al., 1980; Bassigny, 1984, acreditavam que a alta frequência de radiografias deve ser empregada apenas em pacientes que relatam traumas ou portadores de reabsorções prévias ao tratamento ortodôntico.
Consolaro (2007) lembrou que a radiografia panorâmica não é indicada para avaliação de reabsorção radicular, pois quando se torna possível a sua visualização, ela já está em um estágio mais avançado.
Consolaro e Freitas, em 2007, sugeriram o uso de tomografia computadorizada volumétrica, pois com ela a reabsorção pode ser detectada mais precocemente, já que com a radiografia periapical, ela só aparece quando atinge a dentina.
Segue abaixo algumas imagens de reabsorções radiculares:
Reabsorção inflamatória por pressão provocada por tratamento ortodôntico.
Fonte: LOPES, SIQUEIRA JR. (2004).
Esquema que representa os diferentes graus de reabsorção radicular externa segundo Levander e Malmgren. Fonte: LEVANDER E MALMGREN (1988).
Reabsorção inflamatória por pressão com superposição de um processo infeccioso (necrose pulpar).
Fonte: LOPES, SIQUEIRA JR. (2004).
Reabsorção inflamatória apical. Sequência radiográfica. A. Inicial, após o preparo e colocação da pasta de hidróxido de cálcio. B. Após obturação (tampão apical), controle de 6 meses e um ano. C. Controle após seis anos.
Fonte: LOPES, SIQUEIRA JR. (2004).
CONCLUSÃO
A reabsorção radicular, caracterizada pela perda da estrutura radicular e encurtamento da raiz, é um fator que nenhum Ortodontista deseja e caso não seja diagnosticada logo no início do tratamento, pode causar danos irreparáveis, podendo levar à perda do elemento dentário.
O profissional deve, então, saber sobre os riscos e avaliar a técnica escolhida para cada caso, buscando o sucesso do tratamento ortodôntico, para que o dente possa ser mantido em plena função mastigatória e estética.
Em todos os casos, deve ser feita uma excelente anamnese, minuciosa, tentando colher o maior número de informações possível, para que se possa identificar os pacientes de risco. Devemos colher informações sobre a saúde geral do paciente, sua história anterior, acidentes, hábitos viciosos, bem como outras patologias que possam estar associadas. Isso permite ao profissional, reduzir ao mínimo a ocorrência de reabsorções.
O uso de radiografias periapicais de qualidade, durante o tratamento ortodôntico, é muito importante para que as reabsorções sejam diagnosticadas no início do processo. Assim, as chances de sucesso no tratamento são muito maiores. Além disso, o paciente sempre deve ser esclarecido sobre a possibilidade de ocorrência da reabsorção e seus riscos. E caso a reabsorção seja diagnosticada após 6 meses de tratamento, o mesmo deverá ser comunicado e o tratamento suspenso por um período de 60 a 90 dias, ou interrompido em casos de reabsorção severa ou extrema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIANCHI, W.C.; TIBERIO, S.; BAKOR, S.F.; MARTINS, S.F.; GUERREIRO, A.M.; MARTINS, N.S.- Reabsorção radicular em pacientes tratados ortodonticamente. Revista Espelho Clínico, dezembro, 2006.
CAPELOZZA FILHO, L.; SILVA FILHO, O.- Reabsorção radicular na Clínica Ortodôntica: atitudes para uma conduta preventiva. Rev. Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, vol.3 n. 01 jan/fev, 1998.