POTENCIALIZANDO A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO COM O DESIGN INSTRUCIONAL
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.15560950
Paloma de Aguiar Minarini1
RESUMO
Este artigo analisou como os princípios do design instrucional, aliados às tecnologias digitais, contribuem para os processos de alfabetização e letramento de crianças do primeiro ano do ensino fundamental I, em escolas públicas. O estudo teve como objetivo analisar como as abordagens e princípios do design instrucional, integrados às tecnologias digitais, facilitam os processos de alfabetização e letramento de crianças do primeiro ano do ensino fundamental I. A pesquisa adotou uma metodologia de natureza bibliográfica, com abordagem qualitativa, fundamentada na revisão da literatura sobre design instrucional, práticas de alfabetização, letramento e uso pedagógico das tecnologias. Foram analisados e discutidos livros e artigos científicos com os principais conceitos dessas áreas, com ênfase na atuação docente como mediadora e planejadora de experiências de aprendizagem. A análise evidenciou que a ausência de especialistas em design instrucional pode limitar o uso eficiente dos recursos tecnológicos digitais. Contudo, verificou-se que uma formação docente contínua e orientada por princípios didático-pedagógicos poderá suprir esta lacuna. Concluiu-se que a articulação intencional e crítica entre o planejamento pedagógico e as tecnologias digitais potencializam as práticas de alfabetização significativas, promovendo aprendizagens contextualizadas e adequadas às demandas do processo de escolarização inicial.
Palavras-chave: Design Instrucional. Tecnologias Digitais. Planejamento Pedagógico. Alfabetização.
ABSTRACT
This article analyzed how the principles of instructional design, combined with digital technologies, contribute to the literacy and literacy processes of children in the first year of elementary school I, in public schools. The study aimed to analyze how the approaches and principles of instructional design, integrated with digital technologies, facilitate the literacy and literacy processes of children in the first year of elementary school I. The research adopted a bibliographic methodology, with a qualitative approach, based on the review of the literature on instructional design, literacy practices, literacy and pedagogical use of technologies. Books and scientific articles with the main concepts of these areas were analyzed and discussed, with an emphasis on the role of teachers as mediators and planners of learning experiences. The analysis showed that the lack of experts in instructional design can limit the efficient use of digital technological resources. However, it was found that continuous teacher training guided by didactic-pedagogical principles can fill this gap. It was concluded that the intentional and critical articulation between pedagogical planning and digital technologies enhances significant literacy practices, promoting contextualized learning that is appropriate to the demands of the initial schooling process.
Keywords: Instructional Design. Digital Technologies. Pedagogical Planning. Literacy.
1 INTRODUÇÃO
A educação básica no Brasil enfrenta desafios históricos que comprometem a qualidade da aprendizagem, sobretudo nas escolas públicas municipais de educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental I. A limitação de recursos, a precariedade da infraestrutura e a carência de formação docente especializada agravam esse cenário, dificultando avanços significativos no processo educativo.
Apesar da presença crescente deas tecnologias digitais nas escolas, sua utilização ainda não tem promovido mudanças efetivas e significativas nas práticas pedagógicas. Em muitos contextos, os recursos estão disponíveis, mas faltam formação específica e planejamento pedagógico que favoreçam sua integração ao ensino-aprendizagem de formas relevante, expressiva e contextualizada. Na etapa da alfabetização e letramento, é essencial promover ações pedagógicas intencionais e contextualizadas desde os primeiros anos do ensino fundamental I.
Alfabetizar com foco no letramento significa oferecer experiências concretas nas quais a linguagem escrita seja vivenciada em situações reais de uso social, desde o início do processo escolar. Isso implica vincular a leitura e a escrita a práticas cotidianas que façam sentido para as crianças. Tal abordagem amplia o alcance da alfabetização, extrapolando o domínio técnico do sistema alfabético, favorecendo o desenvolvimento da compreensão leitora, da expressão escrita e da participação ativa dos estudantes em seu meio sociocultural.
Nesse contexto, o design instrucional apresenta-se como uma proposta estruturada e inovadora, capaz de articular objetivos educacionais, metodologias e tecnologias para promover uma aprendizagem mais eficaz (Filatro, 2019). No entanto, sua escassa aplicação nas escolas públicas da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental I revela uma lacuna formativa preocupante.
Azevedo et al. (2024) destacam que a implementação do design instrucional pode potencializar o processo de ensino e aprendizagem, desde que conduzida por profissionais com competências específicas, nem sempre presentes no cotidiano das escolas públicas municipais. A ausência desse conhecimento compromete tanto a personalização da aprendizagem quanto a eficiência das práticas pedagógicas.
Diante desta situação, o presente estudo tem como objetivo analisar de que forma os princípios e práticas do design instrucional, integrados às tecnologias digitais emergentes, contribuem para facilitar os processos de alfabetização e letramento de crianças do primeiro ano dos anos iniciais do ensino fundamental, na escola municipal de educação infantil e ensino fundamental Irmãos Mangifeste, localizada na cidade de Castelo, no estado do Espírito Santo.
A estrutura do artigo está organizada em três seções. A primeira corresponde a esta introdução. A segunda, do referencial teórico, estar subdividida em quatro tópicos: o primeiro explora os conceitos e princípios do design instrucional; o segundo discute alfabetização e o letramento no primeiro ano do ensino fundamental I; o terceiro analisa a aplicação das tecnologias digitais emergentes na educação; e o quarto apresenta a análise crítica e a discussão dos resultados. A terceira seção é a conclusiva, em que são apresentadas as considerações finais, os principais achados da pesquisa, suas contribuições para o campo educacional, as limitações do estudo e proposições para futuras investigações.
2 INTEGRAÇÃO DO DESIGN INSTRUCIONAL AS TECNOLOGIAS DIGITAIS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS
2.1 Conceitos e Princípios do Design Instrucional
O design instrucional configura-se como uma abordagem sistemática voltada ao planejamento e à organização do processo de ensino-aprendizagem. Partindo da premissa de que ensinar implica projetar experiências educativas alinhadas a objetivos claros, conteúdos relevantes, métodos apropriados e avaliação coerente (Filatro, 2019).
Segundo Queiroz e Silva (2024, p. 481), o profissional de design instrucional “é capacitado para planejar, desenvolver e implementar estratégias educacionais que sejam pedagogicamente sólidas e tecnologicamente eficazes, garantindo que o processo de ensino-aprendizagem seja otimizado”, com base em teorias da educação, tecnologias e análise das necessidades formativas, promovendo ações didáticas centradas no aluno.
Essa prática fundamenta-se em princípios como a clareza de objetivos, a coerência entre conteúdos e metodologias, a diversificação de estratégias didáticas, a organização lógica e sequencial das atividades, e a avaliação contínua do processo educativo. Esses princípios orientam a criação de experiências de aprendizagem significativas, respeitando a diversidade dos alunos e considerando seus ritmos, estilos e níveis de desenvolvimento.
Para Azevedo et al. (2024), o design instrucional oferece uma estrutura pedagógica clara, favorecendo o desenvolvimento de propostas de ensino mais eficazes e alinhadas à realidade escolar. Do ponto de vista teórico, dialoga com distintas abordagens da aprendizagem, sobretudo aquelas de base construtivista, sociocultural e cognitivista, que compreendem o sujeito como ativo na construção do conhecimento.
Filatro (2019) enfatiza que o design instrucional, quando contextualizado, articula conteúdos, metodologias e tecnologias digitais com base nas reais necessidades dos alunos. Trata-se de um processo intencional de mediação pedagógica que exige planejamento cuidadoso e avaliação contínua.
Conforme Moran (2015), as metodologias ativas desempenham papel fundamental no design instrucional contemporâneo. O autor defende que o aluno deve ser protagonista de sua própria aprendizagem, enquanto o professor assume a função de mediador e designer de experiências educacionais. Ainda segundo o autor, o uso crítico e planejado das tecnologias digitais favorece a construção do conhecimento, estimulando a autonomia, a criatividade e o engajamento do estudante.
Queiroz e Silva (2024) ressaltam que o designer instrucional deve dominar saberes pedagógicos, tecnológicos e comunicacionais, atuando como elo entre os objetivos educacionais e as estratégias que promovem a aprendizagem significativa. Martins et al. (2019) complementam essa visão ao afirmar que o professor pode e deve assumir o papel de designer de experiências, especialmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental I. Essa postura potencializa o ensino da linguagem escrita em contextos significativos.
Modelos teóricos como o ADDIE (Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação) são amplamente empregados devido à sua estrutura cíclica e flexível, permitindo o planejamento e a revisão constante das práticas pedagógicas. Queiroz e Silva (2024) enfatizam que esse modelo favorece a criação de soluções educacionais adaptadas às demandas contemporâneas, possibilitando ao educador ajustar recursos e métodos aos objetivos de aprendizagem.
Essa perspectiva amplia o papel docente, que deixa de ser apenas transmissor de conteúdos para tornar-se mediador e planejador de experiências de aprendizagem relevantes. No contexto da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, o design instrucional favorece a articulação entre ludicidade, interatividade e intencionalidade pedagógica.
Caiado et al. (2024) destacam que a aplicação do design instrucional no cotidiano escolar contribui para a personalização do ensino e para o fortalecimento da autonomia e do protagonismo infantil. Ao considerar as especificidades do desenvolvimento das crianças, o planejamento instrucional possibilita a criação de propostas que integram atividades sensoriais, jogos, histórias e recursos digitais de maneira organizada e coerente.
A atuação docente pautada pelo design instrucional revela-se essencial para a promoção de experiências significativas de alfabetização e letramento, sobretudo quando articulada aos recursos e às potencialidades das tecnologias digitais emergentes. O planejamento intencional, aliado à mediação pedagógica qualificada, amplia as oportunidades de aprendizagem e assegura o desenvolvimento integral das crianças.
2.2 Alfabetização e Letramento no Primeiro Ano do Ensino Fundamental I
A alfabetização no Brasil tem sido tema recorrente de debates que ultrapassam o domínio do sistema alfabético, ao incluir a inserção significativa da criança no universo da linguagem escrita. Esse processo requer práticas pedagógicas contextualizadas e socialmente relevantes, capazes de dialogar com o cotidiano do aluno e com as transformações culturais e tecnológicas da sociedade contemporânea.
O avanço das tecnologias digitais tem impactado diretamente as práticas educativas, ampliando as possibilidades de mediação do conhecimento. No cenário atual, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, essas tecnologias emergentes assumem papel estratégico ao favorecer experiências mais dinâmicas, interativas e contextualizadas de alfabetização e letramento.
Mendes (2021) aponta que a leitura e a escrita, quando trabalhadas com intencionalidade desde as séries iniciais, contribuem para a formação de sujeitos críticos e autônomos. Nesse sentido, práticas pedagógicas que promovem o uso significativo da linguagem escrita, articuladas aos interesses e vivências das crianças, são essenciais para que o processo de alfabetização cumpra seu papel social. A escola, ao assumir essa perspectiva, transforma-se em espaço de interação e produção de sentidos.
Ferreiro e Teberosky (1999, como citado em Costa, 2023) defendem que a criança formula hipóteses sobre a escrita desde muito cedo. Assim, o processo de alfabetização deve considerar essa construção ativa do conhecimento, favorecendo a aprendizagem significativa. Costa (2023) complementa que teóricos como Piaget, Vygotsky e Wallon entendem o desenvolvimento infantil como um processo interativo e dinâmico, no qual a relação com o meio social desempenha papel essencial.
Nesse contexto, o professor deve atuar como mediador da aprendizagem, respeitando os estágios de desenvolvimento da criança. O uso estratégico das tecnologias amplia as possibilidades de intervenção docente e contribui para o pleno desenvolvimento da linguagem, respeitando o papel ativo da criança na construção do conhecimento. A diversidade de recursos, inclusive os digitais, amplia as possibilidades de mediação, promovendo experiências colaborativas e interativas que enriquecem o processo formativo.
Martins et al., (2019) argumentam que o professor pode ser visto como um designer de experiências de aprendizagem, especialmente na educação infantil, ao planejar práticas pedagógicas que dialoguem com o contexto socioambiental dos alunos. Essa abordagem reforça a importância do planejamento intencional das atividades de alfabetização e letramento, utilizando-se de recursos didáticos que envolvam as crianças e estimulem a expressão da linguagem escrita em diferentes contextos.
A utilização das tecnologias digitais pode enriquecer o processo de alfabetização, desde que conduzida com intencionalidade pedagógica. Recursos como jogos educativos, vídeos interativos e plataformas digitais oferecem novas possibilidades de engajamento dos estudantes, tornando a aprendizagem da leitura e da escrita mais significativa e atrativa.
Mendes (2021) também enfatiza a relevância do papel docente na mediação dos recursos tecnológicos, destacando que o uso pedagógico dessas ferramentas não deve ser desvinculado dos objetivos formativos. A intencionalidade educativa é o que diferencia o uso funcional da tecnologia de sua apropriação crítica, permitindo a construção de aprendizagens contextualizadas e socialmente relevantes.
A integração entre design instrucional e tecnologias digitais na alfabetização permite o planejamento de experiências formativas centradas no aluno, considerando seus interesses, seu contexto sociocultural e seu nível de desenvolvimento. No primeiro ano do ensino fundamental, é imprescindível adotar práticas pedagógicas alinhadas aos princípios do letramento, garantindo a articulação entre conteúdo, método e intencionalidade.
Longe de ser apenas uma técnica, o design instrucional configura-se como uma prática pedagógica intencional, reflexiva e transformadora. Sua aplicação no ensino fundamental fortalece a organização, a personalização e a eficácia das experiências de alfabetização e letramento. Sua flexibilidade permite a adaptação das estratégias didáticas aos ritmos, estilos de aprendizagem e necessidades dos alunos.
2.3 Tecnologias Digitais Emergentes na Educação
A integração das tecnologias digitais ao ambiente escolar tem desafiado professores e gestores a repensarem suas práticas pedagógicas. Essa inserção requer planejamento sistemático, formação docente continuada e coerência com os objetivos educacionais, a fim de assegurar sua aplicação efetiva no processo de ensino-aprendizagem. O uso significativo desses recursos depende de sua articulação com propostas pedagógicas que favoreçam aprendizagens ativas e contextualizadas.
Segundo Azevedo, Oliveira e Souza (2024), o design instrucional configura-se como uma prática estratégica na mediação entre tecnologia e pedagogia, permitindo o desenvolvimento de experiências de aprendizagem mais adequadas às realidades escolares. Esses autores apontam vantagens relevantes, como a organização do conteúdo e a personalização da aprendizagem, mas também alertam para desafios relacionados à limitação de tempo e à falta de capacitação dos docentes para exercer esse papel com autonomia.
Nesse contexto, Filatro (2019) destaca a importância de um design instrucional contextualizado, que considere as particularidades socioculturais dos estudantes e as especificidades das tecnologias empregadas. Essa abordagem propicia a construção de trajetórias formativas mais coerentes, ancoradas em objetivos pedagógicos bem definidos e sustentadas por metodologias ativas que priorizam o protagonismo discente.
Valente (2014) enfatizou que, quando utilizadas criticamente, as tecnologias digitais funcionam como instrumentos cognitivos, promovendo a autonomia e a participação dos estudantes. De modo convergente, Sousa et al. (2024) apontaram que a articulação entre design instrucional e tecnologias emergentes potencializou ambientes de aprendizagem personalizados e adaptáveis à diversidade escolar, ampliando o engajamento e a eficácia pedagógica.
Martins, Oliveira e Cotelli (2019) argumentaram que o professor, ao assumir o papel de designer de experiências de aprendizagem, fortalece a mediação pedagógica e contribui para o desenvolvimento de competências ligadas à linguagem escrita, especialmente em contextos de educação infantil. Essa atuação requer intencionalidade, domínio das ferramentas digitais e planejamento alinhado aos objetivos de aprendizagem. Como reforçam Queiroz e Silva (2024), o impacto do design instrucional na prática educativa reside justamente em sua capacidade de sistematizar e tornar visível o processo de ensino-aprendizagem.
Moran (2015) observou que a associação entre tecnologias digitais e metodologias ativas fortalece o protagonismo estudantil, ao passo que o docente atua como orientador, auxiliando na construção de percursos formativos significativos. Kenski (2012) alertou para os riscos de um uso descontextualizado desses recursos, o que pode levar a práticas superficiais e desarticuladas do processo formativo. A compreensão da cultura digital dos alunos torna-se, portanto, ponto de partida para a construção de saberes mais consistentes.
O design instrucional apresenta-se como uma estratégia essencial para a integração crítica das tecnologias ao planejamento pedagógico. Ao articular recursos digitais e estratégias de ensino, amplia-se o acesso ao conhecimento, potencializando aprendizagens significativas e contextualizadas. Ressalta-se que as tecnologias emergentes não substituem o professor, mas ampliam suas possibilidades de atuação. Quando utilizadas com intencionalidade pedagógica, promovem engajamento, interatividade e flexibilidade — elementos centrais na alfabetização e no letramento.
Queiroz e Silva (2024) acrescentaram que o impacto do design instrucional na educação contemporânea ultrapassou a dimensão técnica, influenciando diretamente a cultura profissional docente. Os autores ressaltaram que, ao assumirem a função de planejadores instrucionais, os professores desenvolveram competências analíticas e criativas que lhes permitiram elaborar estratégias de ensino mais responsivas às transformações sociotecnológicas.
Além de favorecer o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras, o design instrucional amplia as possibilidades de atuação docente ao sistematizar o planejamento de experiências formativas mais coerentes com os desafios da contemporaneidade. Essa perspectiva valoriza a escuta ativa, a mediação contínua e a avaliação formativa como pilares do processo educacional. Essa mudança de paradigma exigiu o reconhecimento do design instrucional como elemento estruturante da prática pedagógica e não apenas como recurso acessório ou complementar.
Portanto, compreende-se o design instrucional como uma abordagem estratégica e sistemática voltada à estruturação do processo educativo, alicerçada em fundamentos pedagógicos e psicológicos. Sua essência está na organização intencional de conteúdos, métodos e recursos, considerando os perfis dos aprendizes e os contextos socioculturais em que estão inseridos.
3 METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa possui natureza bibliográfica, com abordagem qualitativa, exploratória e aplicada, fundamentada na revisão de literatura especializada sobre design instrucional, tecnologias digitais, alfabetização e letramento, articulando esses eixos aos objetivos do estudo. Foram excluídas obras que não apresentavam relação com os estudo. A análise dos dados foi interpretativa, com ênfase nos aspectos mais relevantes relacionados à problemática da pesquisa (Gil, 2019).
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
A simples presença de tecnologias digitais nas escolas não assegura inovação pedagógica. A ausência de profissionais especializados em design instrucional compromete a utilização eficiente desses recursos, resultando em práticas pouco articuladas e com baixa eficácia, especialmente no processo de alfabetização.
Sousa et al. (2024) afirmam que a integração entre tecnologias emergentes e design instrucional exige planejamento pedagógico estruturado, o que depende diretamente de uma formação técnica adequada. A carência dessa formação compromete a qualidade das experiências de aprendizagem oferecidas.
Azevedo et al. (2024) destacam que o designer instrucional contribui para a personalização do ensino. Sua ausência nas escolas públicas reduz o potencial das tecnologias, que acabam sendo utilizadas apenas como ferramentas operacionais, desvinculadas de propósitos educativos bem definidos.
Filatro (2019) reforça que o design instrucional, quando contextualizado, tem o poder de transformar o ambiente escolar. A aplicação consciente e planejada dessa abordagem organiza os elementos da aprendizagem e favorece a mediação eficaz entre conteúdos, tecnologias e o desenvolvimento das competências linguísticas.
No contexto da alfabetização, o professor, ao assumir o papel de designer de experiências, aproxima o ensino da realidade do aluno. Martins et al. (2019) argumentam que essa postura favorece a construção do conhecimento a partir de contextos significativos, promovendo maior engajamento e compreensão.
Valente (2014) defende que a formação docente contemple o domínio de competências voltadas à criação de ambientes interativos e colaborativos, nos quais o aluno desempenhe um papel ativo. Essa perspectiva é especialmente relevante nos anos iniciais do ensino fundamental, em que a linguagem se constitui como eixo estruturante da aprendizagem.
Moran (2015) enfatiza que a mediação docente, apoiada por metodologias ativas e recursos digitais, potencializa o desenvolvimento da leitura e da escrita. Ao assumir o papel de facilitador, o professor diversifica os caminhos formativos e respeita os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem.
Azevedo et al., (2024) evidenciaram que, embora o design instrucional ofereça diversas vantagens, como clareza na estruturação das atividades e personalização dos percursos formativos, sua aplicação ainda depende do fortalecimento do perfil profissional do designer instrucional, cuja presença é limitada no contexto escolar. Tal ausência reforça a necessidade de uma formação continuada voltada à capacitação dos docentes para assumirem, em parte, esse papel.
A integração das tecnologias ao design instrucional contribui para práticas pedagógicas mais dinâmicas e personalizadas. Como sugestão prática, as trilhas de aprendizagem adaptadas no ritmo de cada aluno, é possível respeitar os diferentes níveis de alfabetização. Sugere-se o uso de sequências didáticas digitais alinhadas ao cotidiano escolar, com foco no estudante e no uso de recursos tecnológicos acessíveis. O laboratório de informática pode ser explorado como espaço de alfabetização e letramento, fortalecimento da cultura escrita.
Ao longo do estudo, constatou-se que o design instrucional, quando aplicado com intencionalidade e sensibilidade pedagógica, transforma a relação da criança com a linguagem. Essa abordagem ressignifica o uso das tecnologias e amplia as possibilidades de alfabetizar letrando, mesmo em contextos educacionais desafiadores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo analisou como as práticas de design instrucional, integradas às tecnologias digitais, podem contribuir nos processos de alfabetização e letramento de crianças do primeiro ano do ensino fundamental I em uma escola pública. A partir da revisão bibliográfica, foi possível compreender os fundamentos do design instrucional, as especificidades do processo de alfabetização na perspectiva do letramento e o potencial pedagógico das tecnologias digitais na mediação da aprendizagem.
Os resultados apontam que o uso planejado desses recursos, associado à mediação docente e à intencionalidade pedagógica, torna o ensino mais significativo e centrado no aluno. O estudo ressalta o papel do professor como designer de experiências e a importância da formação continuada, mesmo diante de limitações estruturais. Como principal limitação, destaca-se a ausência de investigação empírica, sugerindo a necessidade de futuras pesquisas aplicadas em contextos escolares para avaliar a eficácia da formação docente no uso do design instrucional.
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1 Professora do Ensino Fundamental I na Escola Pública Municipal EMEIEF Irmãos Mangifeste na Cidade de Castelo, ES. Graduada em Pedagogia. Especialista em Alfabetização e Letramento. Mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: [email protected].