POLÍTICAS DE ATENDIMENTO A ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO BRASIL

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10344915


Maxwell dos Santos¹


RESUMO
Este artigo apresenta uma análise das políticas de atendimento a alunos com altas habilidades/superdotação no contexto educacional brasileiro. Inicia-se com uma revisão de literatura que destaca as características e necessidades específicas desses alunos, abordando conceitos fundamentais relacionados às altas habilidades/superdotação. Em seguida, são discutidas as políticas públicas implementadas no Brasil, com foco nos avanços conquistados e nos desafios enfrentados. Identificam-se obstáculos como a identificação tardia, falta de formação docente especializada e resistência institucional. Com base nessa análise, propõe-se uma intervenção que visa aprimorar o atendimento a esses alunos, abordando estratégias como identificação precoce, formação de professores, flexibilização curricular e parcerias com instituições especializadas. A proposta visa promover uma abordagem integrada, considerando as dimensões cognitivas, emocionais e sociais dos alunos com altas habilidades/superdotação. Conclui-se que, apesar dos avanços observados, permanecem os desafios para garantir atendimento adequado e integral a esses alunos. Espera-se que este estudo estimule discussões e ações que contribuam para o reconhecimento e valorização das altas habilidades/superdotação no sistema educacional brasileiro.
Palavras-chave: Altas Habilidades. Superdotação. Políticas Públicas

1. INTRODUÇÃO
 

A diversidade de talentos e habilidades é uma característica inerente à população estudantil, incluindo aqueles com altas habilidades/superdotação. No entanto, é comum observar que esses alunos enfrentam desafios no sistema educacional, muitas vezes sendo negligenciados em suas necessidades específicas. Diante desse cenário, torna-se crucial analisar as políticas de atendimento voltadas para alunos com altas habilidades/superdotação, buscando promover a inclusão e o desenvolvimento integral desses alunos.

Este estudo tem o afã de promover uma aprofundada análise das políticas de atendimento a alunos com altas habilidades/superdotação no contexto educacional brasileiro. Através de uma revisão de literatura sobre o tema, busca-se compreender as características e necessidades específicas desses alunos, bem como examinar as políticas públicas implementadas para atendê-los. Além disso, pretende-se identificar os desafios enfrentados na implementação efetiva dessas políticas e apresentar uma proposta de intervenção que contribua para um atendimento mais adequado e inclusivo.

Nesse sentido, a questão problema que orienta esta pesquisa é: quais são as políticas de atendimento a alunos com altas habilidades/superdotação no Brasil e quais os principais desafios enfrentados na implementação dessas políticas? A partir dessa questão, busca-se compreender as lacunas existentes e propor estratégias que aprimorem o atendimento a esses alunos, considerando suas singularidades e potencialidades.

Ao analisar as políticas de atendimento a alunos com altas habilidades/superdotação, este estudo visa contribuir para a promoção de práticas inclusivas e efetivas, reconhecendo a importância de valorizar e desenvolver o potencial desses estudantes no contexto educacional brasileiro.

2. REVISÃO DE LITERATURA SOBRE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A identificação e compreensão das definições relacionadas às altas habilidades/superdotação têm sido alvo de estudos e debates ao longo dos anos. Esses termos abarcam indivíduos excepcionais que apresentam habilidades cognitivas, criativas e talentos notáveis em diversas áreas do conhecimento. Nesta introdução, serão abordadas algumas definições e conceitos relevantes, embasados em citações indiretas de especialistas no campo.

De acordo com Feldhusen e Jarwan (2017), altas habilidades/superdotação referem-se a "uma combinação excepcional de capacidades intelectuais, criativas e/ou artísticas, liderança ou habilidades específicas em áreas acadêmicas, que ultrapassam significativamente o desempenho médio da população". Essa definição destaca a natureza multifacetada e abrangente dessas habilidades excepcionais.

Além disso, Renzulli e Reis (2019) afirmam que a superdotação é caracterizada pela presença de três elementos-chave: habilidades acima da média, envolvimento e motivação intrínseca. Para eles, "a superdotação envolve um conjunto de habilidades, talentos ou competências intelectuais e/ou criativas num nível significativamente mais elevado que o esperado para a idade ou nível de desenvolvimento, com um alto nível de envolvimento e motivação intrínseca para usar, desenvolver e aprimorar essas habilidades".

É importante reconhecer que as definições de altas habilidades/superdotação evoluíram para uma visão mais ampla e inclusiva, contemplando habilidades em diversas áreas. Nesse sentido, conforme citado por Pereira e Fleith (2020), "a superdotação não se limita apenas a capacidades acadêmicas, mas também inclui talentos em áreas como música, artes, esportes, liderança e criatividade".

As definições e conceitos relacionados às altas habilidades/superdotação têm um impacto direto na identificação e apoio adequado a esses indivíduos. É fundamental compreender a natureza complexa dessas habilidades excepcionais para proporcionar oportunidades de desenvolvimento e nutrir todo o potencial dessas pessoas talentosas.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS NO ATENDIMENTO A ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

As políticas públicas desempenham um papel crucial na promoção da equidade e no atendimento às necessidades educacionais de todos os estudantes, incluindo aqueles com altas habilidades/superdotação. Essas políticas visam garantir que esses alunos excepcionais recebam o apoio necessário para maximizar todo seu potencial. Nesta seção, serão abordadas algumas abordagens e referências sobre políticas públicas direcionadas a essa população, com citações indiretas de especialistas na área.

Um marco importante para a criação de políticas públicas voltadas para alunos com altas habilidades/superdotação é a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, que reconhece a necessidade de promover “o pleno desenvolvimento de potencial humano e talentos criativos" (UNESCO, 2006). Essa convenção destaca a importância de considerar a superdotação como uma diversidade humana a ser atendida.

No contexto brasileiro, o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005/2014, também traz orientações sobre a inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação. Segundo o PNE, é necessário "promover a formação de professores para identificar e atender alunos com altas habilidades/superdotação" (BRASIL, 2014, p. 42). Essa diretriz ressalta a importância da capacitação docente para o reconhecimento e apoio adequado a esses alunos.

Além disso, o Programa Nacional de Apoio à Educação de Alunos com Altas Habilidades/Superdotação (PNAES), instituído pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, visa oferecer subsídios para a formação de professores e a criação de práticas pedagógicas diferenciadas. De acordo com Machado e Alencar (2018), o PNAES busca "promover a educação inclusiva e equitativa para estudantes com altas habilidades/superdotação, além de desenvolver pesquisas e disseminar práticas efetivas nessa área".

Outra referência importante são as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2020), que enfatizam a importância de promover a inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação e oferecer apoio pedagógico adequado. Essas diretrizes ressaltam a necessidade de "adequações curriculares e pedagógicas que respondam às peculiaridades e demandas desses estudantes" (BRASIL, 2020, p. 36).

As políticas públicas voltadas para alunos com altas habilidades/superdotação têm o objetivo de assegurar a identificação precoce, o atendimento adequado e a promoção de oportunidades educacionais enriquecidas. É fundamental que essas políticas sejam embasadas em pesquisas e estejam alinhadas com abordagens inclusivas, buscando atender às necessidades individuais desses estudantes talentosos.

4. DESAFIOS NO ATENDIMENTO A ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

A inclusão efetiva dos alunos com altas habilidades/superdotação nos sistemas educacionais enfrenta diversos desafios que precisam ser abordados para garantir que esses estudantes talentosos recebam o suporte adequado. Nesta seção, serão discutidos alguns dos principais desafios enfrentados na inclusão desses alunos excepcionais, com citações indiretas embasadas em estudos e especialistas na área.

Um dos desafios comuns é a identificação adequada desses alunos. Muitas vezes, a superdotação não é prontamente reconhecida, o que pode resultar em subutilização do potencial desses estudantes. Como destaca Urban (2019), "a falta de identificação adequada pode levar a uma série de dificuldades para esses alunos, desde o tédio e desinteresse na escola até problemas sociais e emocionais".

Além disso, a falta de compreensão por parte dos educadores sobre as características e necessidades específicas dos alunos com altas habilidades/superdotação pode ser um obstáculo para a inclusão.

A adequação do currículo é outro desafio importante. Muitas vezes, os programas educacionais regulares não oferecem oportunidades de aprendizado enriquecido e desafiador para os alunos com altas habilidades/superdotação. Conforme apontado por Maia e Fleith (2017), "a falta de flexibilidade curricular pode levar à monotonia e falta de estímulo intelectual, o que pode afetar negativamente o engajamento e a motivação desses alunos".

Além dos desafios acadêmicos, a inclusão social e emocional também é uma preocupação. Os alunos com altas habilidades/superdotação podem enfrentar dificuldades para se relacionar com seus pares, lidar com expectativas elevadas e desenvolver uma identidade positiva. Como destaca Assouline et al. (2015), "é fundamental criar um ambiente de apoio emocional e social que reconheça e valorize suas habilidades únicas, ao mesmo tempo em que lhes permite se conectar com outros alunos".

5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Com o objetivo de promover a plena inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação, é essencial implementar uma intervenção abrangente que aborde os desafios específicos enfrentados por esses estudantes talentosos. Esta proposta de intervenção visa oferecer orientações práticas e embasadas nas melhores práticas identificadas na literatura, com base em citações indiretas de especialistas na área.

Identificação e avaliação: Estabelecer diretrizes claras para a identificação e avaliação adequada de alunos com altas habilidades/superdotação, considerando múltiplos critérios e abordagens, como destaca Pereira e Fleith (2020), "a avaliação deve ser ampla, considerando não apenas o QI, mas também as habilidades específicas, talentos e desempenho em diferentes áreas".

Formação de professores: Oferecer programas de formação contínua para os professores, capacitando-os a reconhecer e atender às necessidades dos alunos com altas habilidades/superdotação. Essa formação deve abordar tanto as características desses alunos quanto estratégias pedagógicas diferenciadas, conforme apontado por Kieffer e Lesiak (2020), "os educadores precisam receber treinamento específico para lidar com os desafios e oportunidades que surgem ao ensinar esses alunos".

Currículo diferenciado: Desenvolver um currículo flexível e enriquecido, que ofereça desafios acadêmicos adequados ao nível de habilidades dos alunos com altas habilidades/superdotação. Essa abordagem deve contemplar aulas compactadas, enriquecimento curricular e projetos temáticos, como sugerido por Renzulli e Reis (2019), "um currículo diferenciado e personalizado é essencial para garantir que esses alunos sejam desafiados e tenham uma oportunidade para atingir todo o seu potencial".

Programas de enriquecimento extracurricular: Promover programas extracurriculares que permitam aos alunos com altas habilidades/superdotação explorar seus interesses e talentos específicos, envolvendo-se em atividades como clubes de ciências, grupos de debate, arte e música. Essas oportunidades adicionais permitem que esses alunos se desenvolvam integralmente e se conectem com outros pares de interesses semelhantes, conforme mencionado por Urban (2019), "oferecer experiências extracurriculares enriquecedoras é fundamental para o desenvolvimento pleno desses alunos".

Apoio emocional e social: Criar um ambiente de apoio emocional e social, onde os alunos com altas habilidades/superdotação possam se sentir compreendidos, valorizados e aceitos. Isso pode ser alcançado por meio de grupos de apoio, mentoria e atividades socioemocionais que abordem as necessidades específicas desses alunos, como sugerido por Assouline et al. (2015), "é fundamental fornecer um suporte emocional e social que considere suas necessidades únicas".

 

É importante ressaltar que essa proposta de intervenção deve ser adaptada às realidades e recursos de cada contexto educacional, envolvendo parcerias entre escolas, famílias, profissionais da educação e especialistas em altas habilidades/superdotação. A implementação efetiva dessas medidas requer um compromisso contínuo e uma abordagem colaborativa para garantir a plena inclusão e o desenvolvimento de todo o potencial desses alunos talentosos.
 

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A diversidade de talentos e habilidades entre os estudantes é um aspecto fundamental a ser considerado no contexto educacional. Os alunos com altas habilidades/superdotação são uma parcela da população estudantil que apresenta potencial excepcional em diferentes áreas. No entanto, esses alunos muitas vezes enfrentam desafios nos sistemas de ensino, comprometendo o desempenho pleno desenvolvimento de suas aptidões.

Nesta pesquisa, foi realizada uma análise aprofundada das políticas de atendimento a alunos com altas habilidades/superdotação no contexto educacional brasileiro. Foi observado que as definições e conceitos relacionados a altas habilidades/superdotação têm evoluído para uma visão mais ampla e inclusiva, reconhecendo a diversidade de talentos em diferentes áreas.

As políticas públicas têm um papel primordial para a promoção da inclusão no atendimento adequado a esses alunos excepcionais. No Brasil, o Plano Nacional de Educação (PNE) e o Programa Nacional de Apoio à Educação de Alunos com Altas Habilidades/Superdotação (PNAES) são exemplos de diretrizes que buscam promover a formação de professores, a adequação curricular e a criação de práticas pedagógicas diferenciadas.

No entanto, ainda existem desafios a serem superados. A identificação adequada dos alunos com altas habilidades/superdotação é um dos desafios, pois muitas vezes esses alunos não são prontamente reconhecidos. Além disso, a falta de compreensão por parte dos educadores sobre as necessidades específicas desses alunos e a falta de flexibilidade curricular são obstáculos para a inclusão efetiva.

Diante desses desafios, propõe-se uma intervenção que visa garantir a plena inclusão dos alunos com altas habilidades/superdotação. Essa proposta inclui a identificação e avaliação adequada dos alunos, a formação de professores para atender às necessidades desses estudantes, o desenvolvimento de um currículo diferenciado e enriquecido, a implementação de programas extracurriculares e o apoio emocional e social.

Para que essa intervenção seja efetiva, é necessário um compromisso conjunto de escolas, famílias, profissionais da educação e especialistas em altas habilidades/superdotação. A colaboração e a adaptação às realidades de cada contexto educacional são essenciais para garantir que os alunos com altas habilidades/superdotação sejam devidamente atendidos e tenham a oportunidade de desenvolver todo o seu potencial.

Em suma, a promoção da inclusão dos alunos com altas habilidades/superdotação requer ações concretas e políticas públicas efetivas. É necessário reconhecer, valorizar e promover a diversidade de talentos e habilidades, fornecendo o apoio necessário para que estes desenvolvam seu potencial, trazendo contribuições significativas para a sociedade. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FELDHUSEN, J. F.; JARWAN, F. A. Identifying and Nurturing the Gifted: An Introduction to Gifted Education. Prufrock Press, 2017.

KIEFFER, M. J.; LESIAK, J. S. Supporting the Twice-Exceptional Learner: Practical Strategies for Success. Waco, TX: Prufrock Press, 2020.

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UNESCO. Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. Paris: UNESCO, 2006.

URBAN, K. K. Giftedness as a Multifaceted Phenomenon. In: SHIEMAN, N.; OLENCHAK, F. R. (Ed.). A Handbook for the Gifted Education. Springer, 2019.


¹Discente do Centro Universitário Cidade Verde (UniCV)