O JORNAL NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10689843


Juliana Gomes Teixeira
Jussara de Fátima Alves Campos Oliveira


RESUMO
O que se vem discutindo em torno do ensino de Língua Portuguesa é a dificuldade que a maioria dos alunos tem com a interpretação e a produção textual. Por isso, torna-se necessário desenvolver alternativas que estimulem o hábito de leitura e escrita de textos. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma sequência didática (SD) para ser trabalhada com alunos do Ensino Fundamental II, a partir do gênero notícia, baseada na proposta discutida pelo grupo de Genebra (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004). Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico que contou com obras de alguns autores como Bakthtin (2003), Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), Faria (2009), Marcuschi (2002) dentre outros. Diante do estudo realizado, pode-se concluir que a proposta de uma SD, a partir do uso do jornal em sala de aula, visa propiciar aos alunos o contato com o gênero do meio social, que poderá contribuir com a produção textual.
Palavras-chave: Gênero textual, jornal, sequência didática.

ABSTRACT
What has been discussed around teaching Portuguese is the difficulty that most students have with interpretation and textual production. Therefore, it is necessary to develop alternatives that encourage the habit of reading and writing texts. This work aims to present a didactic sequence (DS) to be worked on with Elementary School II students, based on the news genre, based on the proposal discussed by the Geneva group (DOLZ, NOVERRAZ and SCHNEUWLY, 2004). For this, a bibliographic study was carried out that included works by some authors such as Bakthtin (2003), Dolz, Noverraz and Schneuwly (2004), Faria (2009), Marcuschi (2002) among others. In view of the study carried out, it can be concluded that the proposal for a SD, based on the use of newspapers in the classroom, aims to provide students with contact with the genre of the social environment, which can contribute to textual production.
Keywords: Textual genre, newspaper, didactic sequence.

INTRODUÇÃO

O uso da comunicação na Educação, aqui representado pelo jornal, surge como alternativa capaz de oferecer aos estudantes as oportnidades para compreensão e o domínio do mundo que os cercam. O jornal é um dos veículos de comunicação mais antigo. É bem aceito e com grande credibilidade entre leitores no mundo inteiro. É uma publicação diária que registra os fatos mais diversos, acompanha a trajetória cultural da humanidade (CAPELLATO, 1988). Os meios de comunicação fazem parte da vida, diminuem distâncias e entram nos lares e na escola a todo o momento.

Para Citelli (1999) não é mais possível falar de educação sem pensar em meios de comunicação. A Leis de Diretrizes e Base (LBD) coaduna com este pensamento e postula uma aproximação da escola com os meios de comunicação. No artigo 3º, inciso III, da LDB 9694/96, afirma-se que cabe ao educador a tarefa de, no âmbito da instituição escolar, ensinar a aprender, mas respeitar, como princípio, a liberdade de aprender. Só se aprende a aprender, papel fundamental da escola, na sociedade do conhecimento, com espírito de liberdade de perceber, conhecer e aprender a ver o mundo com os olhos de um ser livre. Ensinar só tem sentido, no meio escolar, quando a liberdade é guia para a ação de aprender (BRASIL, 1996).

O jornal, assim como o rádio, a televisão e a Internet são um traço da cultura e devem ir à escola para que se aproveite seu potencial. A contribuição dos meios de comunicação para a educação brasileira, que não consegue chegar a algumas camadas sociais, pode ser de grande valor. Com o direcionamento adequado, o aluno poderá relacionar o conteúdo com os acontecimentos atuais e com sua realidade.

Entre os meios de comunicação existentes, o jornal é um dos mais importantes e poderosos, pois possui um amplo alcance de público. Nele são contidas notícias sobre os acontecimentos locais, regionais e nacionais, podendo ser de ordem política, econômica, esportiva, cultural, entretenimento, classificados de compra e venda e vagas para empregos, dentre outros assuntos.

Este veículo de comunicação é uma rica ferramenta pedagógica que possibilita diversas formas de trabalho, promovendo, principalmente, a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, pois apresenta vários cadernos e cada disciplina pode apresentar inúmeras formas de aplicar o conteúdo. Assim, este veículo em sala de aula, tanto o aluno quanto o professor se beneficiam desta interação com a realidade social cotidiana e propicia o acompanhamento de determinados assuntos de grandes repercussões e discussões.

Para Anhussi (2009), o uso do jornal em sala de aula, como meio de comunicação, torna-se relevante no âmbito pedagógico na medida em que o professor o utiliza em suas práticas como forma de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, possibilitando a construção do conhecimento dos alunos e contribuindo para a formação de leitores críticos, criativos e autônomos.

Pastorello (2005) afirma que o jornal impresso, como referência de trabalho pedagógico, ainda é pouco explorado pelos professores que lidam diariamente com alunos em fase de aprimoramento de aquisição da leitura e da escrita. Para Libâneo (2003), os jornais da internet ainda não dominam um uso efetivo na educação por falta de recurso como computadores. Ele propõe que é preciso destacar as implicações que a revolução informacional está gerando, em decorrência do avanço das telecomunicações e da criação de novas tecnologias de informação.

Assim, o objetivo deste trabalho é desenvolver uma sequência didática (SD) que possa ser trabalhada com alunos do Ensino Fundamental II, tendo como proposta principal propor uma SD, a partir do gênero notícia, observando a proposta discutida pelo grupo de Genebra (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004).

Este trabalho se organiza em três tópicos que se relacionam. Discorremos sobre a importância do jornal na sala de aula, apresentamos o que são gêneros textuais e sua importância em sala de aula, indicamos uma proposta de sequência didática (SD), usando o jornal em sala de aula, com ênfase no gênero textual “notícia” e, por fim, tecemos algumas considerações sobre a temática analisada.

1. O JORNAL NA SALA DE AULA

No dicionário Houaiss (2001), jornal é definido como uma publicação diária, com notícias sobre o cenário político nacional e internacional, entrevistas, informações sobre todos os ramos do conhecimento, comentários. No dicionário de Comunicação (RABAÇA; BARBOSA, 2001, p.403) a definição é mais completa:

veículo impresso, noticioso e periódico, de tiragem regular, constituído de folhas soltas (geralmente não grampeadas, nem coladas) dobradas em um ou mais cadernos. É produzido, geralmente, num formato padrão ou standard (32 cm de largura por 32 cm de altura). A palavra jornal (do italiano giornale) designava originalmente apenas as gazetas diárias (gazeta era denominação mais usada), mas entende-se hoje a qualquer periodicidade, sendo mais comuns, além de jornais diários, os hebdomadários, os quinzenários e os mensários (raramente a periodicidade é mais espaçada). Quanto ao texto, o jornal pode conter matérias sobre assuntos gerais ou especializados. A grande maioria dos jornais diários (matutinos e vespertinos) editados no caráter geral, distribuída por várias seções (política, economia, esportes, cultura, utilidade pública, entretenimento, entre outras) em âmbito nacional ou internacional.

A definição na wikipédia sobre jornal on-line é a seguinte:

Jornal online é a versão online de um jornal, ou como uma publicação independente ou como a versão online de um jornal impresso.

Segundo Capellato (1988, p.13), “o jornal registra, comenta e participa da história. Através dele se trava uma constante batalha pela conquista dos corações e mentes”. Desde seu nascimento até hoje, o jornal quer conquistar e precisa de leitores. Como Bauer (2005) afirmou, o jornal é uma verdadeira mina de conhecimento. Fonte de sua própria história e das situações mais diversas: meio de expressão de ideias e depósito de cultura. O jornal como já foi dito neste trabalho, é um dos meios de comunicação mais antigos e bem aceitos. Sua importância para o conhecimento do passado e do presente é incontestável (CAPELLATO, 1988). Neste contexto, os jornais oferecem vasto material para o estudo da vida cotidiana.

Uma iniciativa comum em vários países tem sido o trabalho com o jornal em sala de aula. Na Espanha, em fins do século XIX, discutia-se a introdução do jornal na escola em lugar da obrigatoriedade da leitura de Cervantes. No começo do século XX, foram encontrados na Noruega, artigos de jornais descrevendo revolucionários métodos de ensino com o uso do jornal. Em 1932, nos Estados Unidos, o “New York Times” iniciou seu programa de jornal na educação, sendo reconhecido como marco na história destas iniciativas, através da distribuição de suas edições nas escolas (CAPRINO, 2003).

No Brasil, o uso do jornal em sala de aula chegou, somente em 1982, com o projeto Quem Lê Jornal Sabe Mais”. De acordo com o jornal “O Globo”, é o mais antigo programa de Jornal e Educação brasileiro (CAPRINO, 2003). Inicialmente, atendia apenas a turmas de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental e desde 2004 passou a atender também ao Ensino Médio, de escolas situadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Na atualidade, o tempo e a distância são reduzidos. Assim, a escola não pode ficar para trás. O modo de produção também mudou bastante. Conforme Anhussi (2009), o que há de novo no atual processo de transformação é o papel que desempenham a informação e o conhecimento tanto na própria produção como no consumo. Dessa forma, é necessário que a informação faça parte dos conteúdos escolares não apenas para cumprir as demandas do mercado de trabalho, mas para atender às necessidades da sociedade emergente que necessita de cidadãos críticos e informados.

Muito se tem estudado no campo da Linguística em torno do uso de jornais em sala de aula, para ressaltar a importância dos textos não escolares, já que em razão da globalização, os veículos de comunicação têm elevada participação na formação do cidadão, independentemente de sua qualidade. O jornal, como instrumento pedagógico, pode formar cidadãos críticos e bem informados. Com o passar dos tempos, a informação ganhou mais espaço na sociedade. Segundo Anhussi (2009), uma produção enxuta da atualidade, ao contrário, exige trabalhadores mais bem qualificados, ou seja, profissionais capazes de refletir, comparar e analisar as mais variadas fontes de informações adquiridas pelos meios de comunicação para transformá-las. A autora acredita que os jornais impressos ou digitais em sala de aula, desde as séries iniciais, podem contribuir para uma formação voltada para a competente atuação do educando, possibilitando-lhe capacidade crítica e argumentos necessários para viver no espaço em que se insere.

Faria (2009) afirma que um dos principais papéis do professor é o de estabelecer laços entre a escola e a sociedade e, portanto, levar jornais e revistas para a sala de aula é trazer o mundo para dentro da escola, uma vez que jornais e revistas são mediadores entre a escola e o mundo.

A autora considera o jornal uma fonte primária de informação, visto que espelha muitos valores e torna-se, assim, um instrumento importante para o leitor se situar e se inserir na vida social e profissional. Além disso, o jornal apresenta um conjunto dos mais variados conteúdos, preenche plenamente seu papel de objeto de comunicação. No entanto, os pontos de vista costumam ser diferentes e mesmo conflitantes, o que é fundamental para levar o aluno a conhecer diferentes posturas ideológicas frente a um fato, tomar posições fundamentadas, aprender a respeitar os diferentes pontos de vista necessários ao pluralismo numa sociedade democrática.

Segundo Faria (2009), a utilização do jornal na sala de aula é imprescindível, já que ele pode ser utilizado para vários propósitos: como fonte primária de informação, como formador do cidadão na formação geral do estudante, como padrão de língua, como uma forma de assegurar ao aluno o contato direto com o texto escrito autêntico, como um registro da história e, finalmente, como uma ponte entre os conteúdos teóricos dos programas escolares e a realidade.

Normalmente, dá-se preferência a um discurso mais formal. No entanto, vale ressaltar que a linguagem utilizada na notícia varia de acordo com o meio de divulgação. No caso de um jornal impresso, por exemplo, há uma adaptação da linguagem de acordo com o público-alvo do veículo.

Uma notícia deve levar em consideração alguns fatores, como a proximidade do fato, o interesse pessoal, o impacto, as consequências, a oportunidade, o suspense, a originalidade, a repercussão, dentre outros. É preciso reconhecer três aspectos: a informação, a interpretação e a opinião. O objetivo é relatar acontecimentos recentes que despertem o interesse do público.

Além disso, o jornal é um excelente material pedagógico para os professores de diversas áreas, visto que está sempre atualizado, desafiando-os a encontrar o melhor caminho didático para usar esse material na sala de aula.

2. GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA

Pensar no ensino, a partir de gêneros, é algo recente na educação brasileira, surgiu com o advento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), assim o tema deixou de pertencer apenas os meios acadêmicos e adentrou para as salas de aula. Com o interesse coletivo acerca das discussões e propostas, nasceram várias publicações para atender a demanda. Além de adentrar as salas de aula, o termo gênero ganhou novo significado, outra interpretação. Deixou de referir-se, apenas, ao clássico, ao lírico, ao dramático, para remeter-se aos diferentes gêneros modernos e atuais.

Pioneiro no emprego da palavra gênero, Mikhail Bakthtin (2003) afirma que todos os textos produzidos pelo ser humano, orais ou escritos, apresentam características relativamente estáveis (isso ocorre mesmo de forma inconsciente), o que dão formas aos gêneros textuais e discursivos diversos. Essas características podem, basicamente, ser divididas em três ângulos básicos: o tema, o modo composicional e o estilo, de acordo com o filósofo da linguagem.

A produção de textos a partir da concepção de gêneros é ratificada por Cereja e Magalhães (2011, p.5):

Os relatos de experiência de profissionais de ensino que se propuseram a ensinar produção textual a partir do enfoque de gêneros têm demonstrado que essa abordagem não só amplia, diversifica e enriquece a capacidade dos alunos de produzir textos orais e escritos, mas também aprimora sua capacidade de recepção, isto é, de leitura/audição, compreensão e interpretação de textos.

Assim, o ensino de produção de texto feito por esse ponto de vista não abandona os tipos textuais trabalhados, durante muito tempo, em aulas de redação (narração, descrição, dissertação), mas sim agrega-os em uma representação mais abrangente, a da variação dos gêneros.

Conforme as diretrizes dos PCNs de Língua Portuguesa, é função da escola favorecer o acesso do aluno às diferentes formas textuais que circulam na sociedade, ensinando-o a produzi-las e compreendê-las. O professor deve fazer uso desse norteador, para que seja possível construir em suas aulas situações em que a sala possa desnudar o universo e as possibilidades que esse trabalho proporciona, a partir das atividades desenvolvidas com os gêneros textuais.

Segundo Oliveira e Fernandes (2021), quando falamos e escrevemos, em qualquer situação que seja, sempre produzimos algum gênero textual. Entretanto, essa percepção nem sempre é levada em conta pelos manuais de ensino de língua. Apesar de termos certa competência tipológica intuitiva para a produção de diversos gêneros textuais, essa habilidade precisa ser analisada e ensinada em sala de aula.

Atualmente, é impreterível que os alunos tenham acesso e contato com os incontáveis gêneros que circulam, diariamente, em nossa sociedade. A proposta é que nos debrucemos sobre os gêneros e o seu ensino. O gênero notícia precisa fazer parte das aulas de Língua Portuguesa. Uma notícia, geralmente, é composta de duas partes: o lead e o corpo, sendo o lead a primeira parte, normalmente o primeiro parágrafo, em que é feito um resumo, no qual são fornecidas respostas a questões fundamentais do jornalismo: o quê (fatos), quem (personagens/pessoas), quando (tempo), onde (lugar), como e por quê já, já o corpo é a parte que apresenta o detalhamento do lead, dando ao leitor novas informações, em ordem cronológica ou de importância.

Conforme Dolz et al. (2004, p. 234), “o objetivo didático preciso é, em primeiro lugar, ensinar aos alunos a planejarem sua exposição de maneira, a um só tempo, coerente e explícita”. Afinal, como mediar o desenvolvimento de alunos comunicativos, críticos e reflexivos, sem propiciar a construção e contato com gêneros variados, dentre os quais o gênero notícia se insere?

Ressalta-se que em linguística, tipos textuais referem-se à estrutura que compõem os textos, entretanto, raramente um texto é construído com um só tipo, ou seja, podemos encontrar vários tipos em um só texto. Já os gêneros textuais são praticamente infinitos, visto que são textos orais e escritos, produzidos por falantes de uma língua em um determinado momento histórico. Os gêneros textuais, portanto, são diretamente ligados às práticas sociais.

Cada gênero textual é composto por sequências textuais chamadas de tipologia. Trata-se da natureza linguística de um texto. Em geral, essas sequências podem ser classificadas como: narrativa, descritiva, injuntiva, argumentativa, expositiva ou explicativa e poética. É importante não confundir tipo textual com gênero textual. Os tipos aparecem em número limitado. Enquanto que os gêneros textuais referem-se às diferentes formas de expressão textual. Nos estudos da literatura, temos, por exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc.

Para a Linguística, os gêneros textuais englobam esses e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também identificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o e-mail, e tantos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa sociedade. Alguns exemplos de gêneros textuais são carta, bilhete, aula, conferência, e-mail, artigos, entrevistas, discurso etc.

Dessa forma, um tipo textual pode aparecer em qualquer gênero textual, da mesma forma que um único gênero pode conter mais de um tipo textual. Por exemplo, uma carta pode ter passagens narrativas, descritivas, injuntivas e assim por diante.

Gêneros textuais ou discursivos são textos que circulam em determinada esfera da atividade humana (escola, trabalho, internet, jornalismo, literatura etc.) e possuem estrutura, temática e estilo relativamente fixos. Os textos que pertencem a um dado gênero também têm a mesma finalidade. Entendem-se gêneros textuais como fenômenos históricos e culturais, diretamente relacionados com nossa vida cotidiana, em sociedade. São entidades sócio-discursivas que constituem, refratam e possibilitam a interação social no meio cultural em que vivemos (MARCUSCHI, 2002).

Dolz e Schneuwly (2004) entendem e definem o gênero textual como ferramenta, isto é, como instrumento que permite exercer uma ação linguística sobre a realidade. Para eles, o uso de uma ferramenta procede em duas práticas diferentes: ampliar as capacidades individuais do usuário e ampliar o conhecimento a respeito do objeto sobre o qual a ferramenta é utilizada. Portanto, no âmbito da linguagem, o ensino dos diferentes gêneros textuais que circulam no nosso meio social, além de ampliar a competência linguística e discursiva dos alunos, indica-lhes variadas formas de interação social. Fazemos uso dos gêneros textuais aos quais temos acesso, mas é possível variar, converter esses gêneros ou cunhar outros, segundo as necessidades de intercâmbio verbal que surgem.

Para Dolz e Schneuwly (2004), há um limite de qualquer tentativa de sistematizar o ensino de gêneros na escola, mas é possível agrupá-los, baseando-se em critérios, tais como: domínio social de comunicação, capacidades de linguagem envolvidas e textuais existentes.

Esse conceito é complementado pela visão de Cereja e Magalhães (2011, p.6):

Esse agrupamento - que, como qualquer outra tipologia textual, pode ser discutido e aprimorado - constitui um ponto de partida para que professores pensem numa progressão curricular ao longo dos nove anos em que o aluno passa pelo nsino fundamental e, se possível, também nos três anos do ensino médio.

O processo de ensino-aprendizagem da produção de textos de cunho social, sob a visão e a partir dos pontos apresentados, conduz à reflexão e à (re)definição do papel do docente. Dessa forma, o proposto para as aulas podem ser transformados em um momento que promove, de maneira significativa e contextualizada, o trabalho de produção textual embasado em gêneros.

3. SEQUÊNCIA DIDÁTICA (SD)

O objetivo principal da sequência didática (SD), a ser apresentada, é realizar intervenções, a partir da utilização do gênero textual “notícia”, com a finalidade de desenvolver habilidades de leitura, interpretação e produção textual.

Este trabalho terá, como base teórica, os conceitos de planejamento pautados nos pressupostos de SD de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Tomando como base a estrutura da SD, na apresentação, o professor descreve de maneira detalhada a atividade que os estudantes desenvolverão, seja na modalidade oral ou escrita. Assim, a conversa sobre o gênero textual a ser produzido, apresentará a situação de comunicação e o contexto de produção em que estarão envolvidos, preparando-os para a primeira produção do gênero textual a ser trabalhado. Esse é um momento importante em que o professor deve adotar uma metodologia adequada à turma, assegurando-se de que suas escolhas linguísticas poderão definir o resultado do trabalho. Como destacam Dolz e Schneuwly (2004, p. 97):

O trabalho escolar realizado, evidentemente, se desdobra a partir dos gêneros que os estudantes não dominam ainda, ou o fazem de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente acessíveis, espontaneamente, pela maioria dos alunos; e sobre gêneros públicos e não privados [...]. Desse modo, as sequências didáticas servem, portanto, para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem novas ou dificilmente domináveis.

Segundo os autores, uma atividade escolar satisfatória será considerada aquela que se baseia nos estudos dos gêneros textuais. Como afirma Bakhtin (2003, p.301), “[...] para falar, utilizamos sempre os gêneros do discurso, em outras palavras, todos os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo”.

3.1 Organização da sequência didática

A SD proposta diz respeito a situações concretas de elaboração e construção de conhecimentos sob o gênero notícia, bem como a prática, a leitura e a reflexão, atividades pensadas e elaboradas com o intuito de levar o alunado à autonomia e à apreciação do gênero escolhido.

O gênero notícia é proposto para ser abordado ao longo do primeiro e do segundo bimestre do 7º ano; assim a proposta pode ser desenvolvida, juntamente, com os cadernos do aluno, e ao longo do primeiro semestre do ano letivo. As atividades procuram ajudar os alunos a conhecer o tema, o modo composicional e o estilo do gênero selecionado.

  • Por fim, a SD foi organizada pensando-se na seguinte estrutura:

  • Apresentação da proposta;

  • Avaliação e levantamento dos conhecimentos prévios;

  • Apresentação do gênero escolhido;

  • Proposta de produção (dirigida) inicial do gênero;

  • Atividades de análise, reflexão, percepção, leitura, inferência, reflexão, observação, etc.

  • Produção textual;

  • Revisão, reescrita e apresentação das produções.

A seguir, apresentamos uma proposta de sequência didática com duração média de 08 aulas, dependendo do ritmo da turma, utilizando-se o jornal, impresso ou on-line, em sala de aula.

OBJETIVOS: Apresentar o gênero textual notícia, seus aspectos estruturais, a linguagem utilizada e a relevância deste gênero para a sociedade de leitores, bem como tratar questões de intencionalidade quando se produz uma notícia, a importância das imagens e da escolha do título para o texto.

SITUAÇÃO INICIAL (01 aula): Levantar questionamentos na sala sobre temas que poderiam se tornar notícias na escola em que estudam e como os abordariam (com muita ou pouca ênfase, dando destaque a que aspecto etc.). Neste momento, é feita a avaliação e o levantamento prévio do conhecimento anterior dos alunos sobre o assunto da aula. Em seguida, são anotados os temas sugeridos no quadro; além de se perguntar que tipo de jornal noticiaria aquele fato.

PRODUÇÃO INICIAL (01 aula): Pedir que os estudantes, em duplas, escolham um tema que está anotado no quadro e produzam, de maneira bem objetiva, uma notícia, dando destaque ao que eles quiserem. Recolher os textos e realizar as correções, observando questões da escolha da linguagem, título do texto, objetividade das informações e demais questões de linguística.

MÓDULO 1 (2 aulas): Levar o caderno de notícias de um jornal de referência (ou indicar um jornal on-line, caso a escola tenha laboratório de informática) para a sala e pedir que escolha uma notícia e destaque o que é comum: título, estrutura do texto, informações etc.; e anotem no caderno. Falar com a turma sobre os aspectos estruturais comuns a toda notícia e que não pode faltar quando se trata desse gênero textual: Onde? Como? Quando? Por quê? Quem? Destacar a importância de um bom título da lead que apresenta o assunto ao leitor e a da linha fina; enfatizar a linguagem utilizada pelo jornalista e o que ele pretende destacar em seu texto, intencionalidade.

MÓDULO 2 (3 aulas): Apresentar a partir da utilização do projetor multimídia três imagens retiradas de notícias da internet e pedir que cada dupla escolha uma imagem e produza uma notícia, pautadas nas características já trabalhadas sobre o gênero notícia; proposta de produção de notícia para apresentação na sala na aula seguinte.

MÓDULO 3 (3 aulas): Com o auxílio do projetor multimídia cada dupla apresentará sua notícia para a sala; depois de finalizadas as apresentações, o(a) professor (a) mostrará as três notícias originais que acompanhavam as imagens retiradas da internet; discutir sobre o poder das imagens e a quantidade de suposições que podemos ter em uma única imagem, dependendo de quem a observa, a importância do título do texto e da linha fina.

PRODUTO FINAL: Entregar as notícias produzidas no início da SD e pedir que cada dupla observe os aspectos que estão falhos e refaçam seus textos agora seguindo o roteiro estrutural de uma notícia.

A produção final é um momento crucial, pois permite a reescrita das notícias, de modo que, podemos pontuar no próprio texto do aluno as inadequações presentes, para que este reflita e faça as alterações necessárias. Assim, podemos observar as evoluções na escrita adquiridas pelos alunos.

A sequência didática auxilia o professor a organizar uma sequência de atividades de forma a tornar sua aula mais dinâmica e eficaz, bem como a levar seus alunos a uma propriedade efetiva sobre um gênero textual específico.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo com as desigualdades sociais, econômicas e as dificuldades que o ensino brasileiro sofre no momento, o jornal na sala de aula, pode ser um instrumento para aumentar o contato do aluno com o que acontece ao seu redor.

Na sala de aula é possível, desde cedo, formar leitores habituais, deixando de lado que jornal é “coisa de gente grande”. O relacionamento com o jornal pode começar nos primeiros anos do ensino básico e se estender para o resto da vida, estimulando o aluno a escrever, argumentar e participar. Assim, os cidadãos serão mais informados, preparados para criticar, participar e fazer a história do seu entorno, país e mundo.

Por estarmos rodeados por textos, é necessário deixar para trás aquele tipo ultrapassado de ensino que consiste em estudo de gramática pura e leitura de textos aleatórios. É preciso visar as necessidades e realidades dos alunos e trazê-las para a sala de aula, a fim de efetivar a aprendizagem.

A sequência didática é um importante instrumento nesse novo estilo de ensino e, ao contrário do mito de complexa e cansativa, mostra que pode ser uma prática eficaz auxiliando estudantes e professores, pois pode contribuir efetivamente para o sucesso na melhoria do aprendizado.

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Artigo apresentado como requisito de conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Formação de Professores e Práticas Educativas do Instituto Federal Goiano - Campus Avançado Ipameri, em 2022.

1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Educativas (IF Goiano- Campus Avançado Ipameri) [email protected]

2 Doutora em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Educativas (IF Goiano- Campus Avançado Ipameri) [email protected]