O COMPORTAMENTO DOS ASSASSINOS EM SÉRIE: IMPACTO NA SOCIEDADE
PDF: Clique Aqui
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14518014
Amanda Nogueira Virgulino1
Ítalo Cristiano Silva E Souza2
RESUMO
Os assassinos em série são indivíduos que cometem múltiplos homicídios ao longo do tempo, exibindo comportamentos específicos que os diferenciam de outros criminosos. Esses comportamentos incluem manipulação, egocentrismo e uma falta de empatia. Muitos assassinos em série apresentam traços de psicopatia, como comportamento antissocial e uma necessidade compulsiva de matar, alimentada por fantasias violentas. Este trabalho objetivou mostrar como os comportamentos dos assassinos em série são influenciados por ambientes familiares, e mostra como são impactados pela sociedade. Tratou-se de uma pesquisa descritiva, de cunho qualitativo no qual verificou-se através de análise bibliográfica e documental realizada em base de dados especializados encontrados na web, documentos, livros e textos referentes ao comportamento desses indivíduos. A presença de transtornos mentais, como esquizofrenia e transtorno de personalidade borderline, é frequentemente observada entre os assassinos em série. A esquizofrenia pode causar alucinações e delírios, enquanto o transtorno de personalidade borderline é caracterizado por emoções instáveis e comportamento impulsivo. Esses transtornos podem influenciar significativamente o comportamento desses indivíduos, levando-os a cometer atos violentos e cruéis. Para concluir a compreensão do impacto e dos comportamentos dos assassinos em série, é essencial integrar os diversos fatores que contribuem para suas ações. Isso inclui a análise de traços de personalidade, transtornos mentais, influências sociais e experiências de vida. A combinação desses elementos oferece uma visão mais completa das motivações e comportamentos desses indivíduos. A interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais aumenta a complexidade desses casos, tornando-os um campo de estudo desafiador e essencial para a prevenção e intervenção eficazes.
Palavras-chave: Comportamento. Impacto. Transtornos. Social
ABSTRACT
Serial killers are individuals who commit multiple homicides over time, exhibiting specific behaviors that set them apart from other criminals. These behaviors include manipulation, self-centeredness, and a lack of empathy. Many serial killers exhibit psychopathic traits, such as antisocial behavior and a compulsive need to kill, fueled by violent fantasies. This work aimed to show how the behaviors of serial killers are influenced by family environments, and shows how they are impacted by society. It was a descriptive research, of a qualitative nature, in which it was verified through bibliographic and documentary analysis carried out in a specialized database found on the web, documents, books and texts referring to the behavior of these individuals. In addition, the presence of mental disorders, such as schizophrenia and borderline personality disorder, is often observed among these individuals. Schizophrenia can cause hallucinations and delusions, whereas borderline personality disorder is characterized by unstable emotions and impulsive behavior. These disorders can significantly influence the behavior of serial killers, leading them to commit violent and cruel acts. To conclude the understanding of the impact and behaviors of serial killers, it is essential to integrate the various factors that contribute to their actions. This includes the analysis of personality traits, mental disorders, social influences, and life experiences. The combination of these elements offers a more complete picture of the motivations and behaviors of these individuals. The interaction of biological, psychological, and social factors increases the complexity of these cases, making them a challenging field of study and essential for effective prevention and intervention.
Keywords: Behaviour. Impact. Disorders. Social.
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tratará do comportamento dos assassinos em série, apresentará a importância de compreender esse fenômeno na sociedade atual abordando a relevância do tema destacando a necessidade de investigar os aspectos psicológicos, biológicos e sociais relacionadas aos assassinos em série, e terá como objetivo geral compreender quais fatores estressores, relacionados a aspectos socioculturais, contribuem para o desenvolvimento da psicopatia, e teve como objetivos específicos: Compreender a Conceituação e Classificação dos Assassinos em Série; Analisar quais os fatores psicológicos que podem influenciar esse comportamento; Fatores Sociais, Culturais e Contribuição para a Área da Psicologia.
O comportamento desses indivíduos geralmente está ligado a malformações mentais, psicopatia, heranças genéticas ou episódios de violência e abusos sexuais durante a infância ou adolescência. A origem desses comportamentos tem sido estudada por anos e é fundamentada em vários aspectos. Pessoas que cometem crimes com tamanha brutalidade são reconhecidas como serial killers - assassinos em série. Muitos fatores precisam ser estudados, mas os principais se baseiam em aspectos biológicos, sociais e psicológicos (Guimarães, 2019).
Segundo Casoy (2002 p. 28) “O comportamento fantástico do serial killer serve a muitos objetivos: aplaca sua necessidade de controle, dissocia a vítima tornando os acontecimentos mais reais, dá suporte à sua ‘personalidade para fins sociais’ e é combustível para futuras fantasias” a necessidade de controle sobre a vítima dá a sensação de poder a esse indivíduo que necessita satisfazer seus desejos.
Dessa forma,
Na infância, nenhum aspecto isolado define a criança como um serial killer em potencial, mas a chamada “terrível tríade” parece estar presente no histórico de todos os serial killers: enurese 3 em idade avançada, abuso sádico de animais ou de outras crianças, destruição de propriedade e piromania. Outras características comuns na infância desses indivíduos são: devaneios diurnos, masturbação compulsiva, isolamento social, mentiras crônicas, rebeldia, pesadelos constantes, roubos, baixa autoestima, acessos de raiva exagerados, problemas relativos ao sono, fobias, fugas, propensão a acidentes, dores de cabeça constantes, possessividade destrutiva, problemas alimentares, convulsões e automutilações, todas elas relatadas pelos próprios serial killers em entrevistas com especialistas. (Casoy, 2002, p. 26, 27).
Ao descrevermos as principais semelhanças e diferenças entre a psicopatia e a sociopatia vamos esclarecer que ambos os termos se referem a Transtornos de personalidade antissocial (TPA), o comportamento violento e antissocial está ligado a fatores psicológicos, físicos e sociais, dos quais podem influenciar a vida desses indivíduos, também discute-se que outros tipos de transtornos podem estar presente em um serial killer além do TPA o transtornos de esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno borderline são alguns dos transtornos presentes.(Gomes; Almeida, 2010).
De acordo com Guimarães (2019 apud Tendarz, 2013, p. 156) [...] quando os assassinos em série são convidados a expressar as razões dos seus crimes, suas argumentações não despertam no interlocutor confiança alguma e são consideradas, na maioria das vezes, desculpas para evitar o cárcere ou a pena de morte[...] os motivos que eles alegam, como traumas de infância, distúrbios psicológicos ou sentimento de vingança, costumam ser interpretados como tentativas de reduzir a responsabilidade ou obter uma sentença mais branda.
Conforme Casoy (2002 p. 78) a atuação do Psicólogo em casos envolvendo assassinos em série é fundamental pois a partir de testes, exames, pareces e também do acompanhamento psicológico desses criminosos pode-se avaliar as possíveis motivações e as possíveis causas que levariam esses indivíduos a cometerem crimes tão hediondos, a psicologia forense têm o seu papel e importância quando se trata dos diagnósticos de comportamentos dos assassinos em série, pois adentra nas questões da identificação e investigação muitas vezes preventiva desses crimes.
A sociedade atual é uma assídua consumidora de conteúdos violentos, muitos poucos conteúdos conseguem prender tanto a atenção dos telespectadores como os crimes bárbaros e chocantes, esses crimes tendem a chamar a atenção da mídia, e uma vez que a mídia percebe o interesse social aproveitam-se astutamente desse grande interesse, empenham-se ainda mais em aumentar os volumes de notícias, séries e filmes (Carvalho, 2021 p.21).
O interesse pelo tema surgiu da curiosidade em entender o comportamento dos assassinos em série. A complexidade e a profundidade desses casos despertam um fascínio natural, pois envolvem uma combinação de fatores genéticos, psicológicos e ambientais. Compreender esses elementos pode ajudar a sociedade a identificar sinais de alerta e prevenir futuros crimes, além de oferecer uma visão mais ampla sobre a natureza humana e suas extremidades.
Dessa forma foi elaborado como problema de pesquisa: quais fatores estressores, relacionados a aspectos socioculturais, contribuem para o desenvolvimento da psicopatia?
2 O COMPORTAMENTO DOS ASSASSINOS EM SÉRIE
O conceito e definição do termo assassino em série tem sido um fenômeno estudado por diversas áreas, incluindo a psiquiatria, psicologia, neurociência, entre outras. O termo “serial killer” ganhou notoriedade a partir de 1970, sendo utilizado para descrever indivíduos que realizam múltiplos homicídios ao longo de determinado período, com motivações e padrões de comportamento próprios, o termo assassino em série (serial killer) criado pelo ex-agente do FBI (Federal Bureau of Investigation) Robert Ressler, autor de vários livros sobre o tema. Ressler trabalhou no FBI por 20 anos, tornando-se uma autoridade no assunto e um dos primeiros a desenvolver perfis psicológicos desses criminosos, após entrevistar mais de uma centena deles, é igualmente relevante mencionar a fundação ‘National Center for the Analysis of Violent Crimes' (NCAVC), dos anos 80 cuja uma das atribuições é delinear perfis comportamentais de criminosos que cometem crimes violentos e recorrentes, como os homicídios em série (Casoy, 2002 p.16-17).
A definição de serial killer pode variar, o ponto crucial não é apenas o número de mortes, mas também a motivação ou a ausência dela ao cometer os crimes, segundo uma das definições mais recentes proposta pelo Professor Egger, um serial killer é alguém que comete dois ou mais assassinatos em momentos diferentes, sem uma relação prévia com as vítimas e sem uma conexão aparente entre os crimes (Ballone, 2017).
Dessa forma
Um assassinato em série ocorre quando um ou mais indivíduos (em muitos casos homens) cometem um segundo e/ou posterior assassinato; não existe em geral relação anterior entre a vítima e o agressor (se aquela existe coloca sempre a vítima em uma posição de inferioridade frente ao assassino); os assassinatos posteriores, ocorrem em diferentes momentos e não têm relação aparente com o assassinato inicial e costumam ser cometidos em uma localização geográfica distinta. Ademais, o motivo do crime não é o lucro, mas, sim, o desejo do assassino de exercer controle ou dominação sobre suas vítimas (Egger, 1990 p.79).
Falar de assassino em série serial killer é um tema peculiar tanto na criminologia como na psicologia, e é um desafio para a psiquiatria, uma vez que não se enquadram em nenhuma linha específica de pensamento. Do ponto de vista criminológico, quando um assassino comete seus crimes repetidamente em, pelo menos, três ocasiões, com um intervalo entre eles, são classificadas como assassino em série, diferente do assassino em massa, que tira a vida de várias pessoas de uma só vez sem se importar com suas identidades, os assassinos em série escolhem suas vítimas com cuidado, geralmente selecionando pessoas com características e perfis semelhantes (Ballone, 2017).
Aliás, o aspecto mais relevante para identificar um assassino em série é o padrão consistente em seu modus operandi, frequentemente, os assassinos em série cometem seus crimes seguindo um padrão específico, seja por meio de uma seleção particular de vítimas ou de um grupo social com características definidas, como, por exemplo, prostitutas, homossexuais, policiais, entre outros. As análises de perfil de personalidade geralmente estabelecem, como estereótipo dos assassinos em série (embora com muitas exceções), jovens do sexo masculino, de raça branca, que preferencialmente atacam mulheres, e cujo primeiro crime ocorreu antes dos 30 anos. Alguns desses indivíduos passaram por uma infância traumática, marcada por abusos físicos ou psicológicos o que pode levar a uma tendência de se isolarem da sociedade ou buscarem vingança contra ela (Ballone, 2017).
Cada assassino em série pode criar um modus operandi único, fundamentado em suas vivências, personalidade e metas. Por isso, é essencial ressaltar a singularidade de cada assassino em série, para assim identificar e prevenir novos crimes (Douglas; Olshaker, 2017 p. 89).
De acordo com Casoy, os assassinos em série são divididos em quatro categorias:
Visionário: é um indivíduo completamente insano, psicótico, ouve vozes dentro de sua cabeça e as obedece. Pode também sofrer alucinações ou ter visões. Missionário: socialmente não demonstra ser um psicótico, mas internamente tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno. Este tipo escolhe um certo grupo para matar, como prostitutas, homossexuais etc. Emotivos: matam por pura diversão. Dos quatro tipos estabelecidos, é o que realmente tem prazer de matar e utiliza requintes sádicos e cruéis. Libertino: são os assassinos sexuais. Matam por “tesão”. Seu prazer será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura e a ação de torturar, mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos fazem parte deste grupo (Casoy, 2002, p. 19).
Uma característica comum entre os assassinos em série é que mais de 80% deles vivenciaram uma infância marcada por abusos e negligência. Eles costumam apresentar um histórico de violência contra animais antes de começarem a tirar vidas humanas, além de manifestarem comportamentos agressivos na infância e violência no convívio com outras crianças. Esses indivíduos frequentemente enfrentam dificuldades em estabelecer relacionamentos estáveis e, muitas vezes, exibem comportamento sexual promiscuo (Casoy, 2014).
Ao longo dos anos os manuais de Psiquiatria da American Psychiatric Association, também denominado DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) ocupou-se de forma persistente em diagnósticos de transtornos de personalidade, foi somente no DSM III que o termo Psicopata foi substituído pelo termo personalidade antissocial, então temos a partir daí a personalidade psicopática e sociopatia vistas como transtornos de personalidade como sinônimos, embora apresentem as suas particularidades, o comportamento do sociopata tende a ser impulsivo e desordenado, enquanto o psicopata age de forma ordenada e fria (Tendlarz, 2013, p. 161).
Os DSMs indicam que os transtornos de personalidade antissocial possuem características fundamentais em seu desenvolvimento social, que se iniciam na infância, continuam pela adolescência e persistem ao longo da vida adulta. Essas características incluem: agressão a pessoas e animais, incluindo atos de extrema violência e crueldade, danos a propriedades, enganos e roubos, violação seria das regras, como fugir de casa, para um diagnóstico mais preciso e detalhado do transtorno de personalidade antissocial, o sujeito tem que ter no mínimo 18 anos, pois até os 15 anos alguns desenvolvimentos de formação de conduta ainda estão em transformação (Tendlarz, 2017).
Quando se discute sobre assassinos em série, uma questão crucial sempre surge: o criminoso compreende a diferença entre o bem e o mal? Em muitos casos, os assassinos criam um alter ego, onde fingem possuir uma dupla personalidade. Essa personalidade alternativa assume o controle do corpo do assassino, levando-o a cometer os crimes e justificando suas ações, a psicologia foca na mente do assassino em série, tentando desvendar os padrões de pensamento e as motivações por trás dos crimes. Além disso, alguns estudos indicam que esses indivíduos podem ter uma necessidade compulsiva de matar, alimentada por fantasias violentas (Tendlarz, 2017).
Isso consiste quando o sujeito finge possuir uma dupla personalidade, que usualmente toma o controle da situação no momento em que comete o crime. A conduta será finalmente explicada pelo fato de que o assassino tenta, por todos os meios, evitar sentir culpa, e desse modo evitar a responsabilidade dos seus atos. Voltamos a nos deparar com o problema de simulação, esses indivíduos tem alter ego, fingem, ou, independentemente do fingimento são loucos? Voltamos então a nos deparar com o problema da simulação. Esses indivíduos têm um alter ego, fingem, ou, independentemente de fingimento, são loucos? Deve-se notar que essa dissimulação se situa em um contexto do uso da palavra que não está a serviço da verdade, nem da sinceridade e que, tampouco, possui a intenção de resolver um conflito psíquico, contexto prévio propriamente analítico (Tendlarz, 2017, p. 150)
Segundo Ribeiro (2014) a presença de transtornos mentais, como esquizofrenia e transtorno de personalidade borderline, é comumente observada entre assassinos em série. Esses distúrbios podem impactar profundamente o comportamento desses indivíduos, levando-os a realizar atos violentos e cruéis, a esquizofrenia é uma doença mental severa que compromete a capacidade de uma pessoa de raciocinar de forma clara, controlar emoções, tomar decisões e interagir socialmente.
Indivíduos com esquizofrenia podem vivenciar alucinações, delírios e pensamentos desordenados, o que pode, em casos extremos, levar a comportamentos violentos, já o transtorno de personalidade borderline (TPB) é marcado por um padrão de emoções instáveis, relacionamentos conturbados e comportamento impulsivo. Indivíduos com TPB podem alternar entre euforia extrema e sentimentos intensos de raiva, depressão ou ansiedade. Esse transtorno pode surgir da interação entre fatores genéticos e eventos adversos na infância, como abuso sexual e outros traumas, esses distúrbios mentais, quando presentes em assassinos em série, podem dificultar ainda mais a compreensão de suas motivações e comportamentos. A interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais aumenta a complexidade desses casos, tornando-os um campo de estudo desafiador e essencial para a criminologia e a psicologia forense (Ribeiro, 2024).
O ambiente familiar é crucial para a formação psicossocial do ser humano. A família é o núcleo da formação de qualquer indivíduo, pois serve como referência e modelo de comportamento para a criança. Ninguém nasce sabendo o que é socialmente adequado; isso é aprendido através da convivência. Uma criança sem afeto, amor, acolhimento e encorajamento em casa dificilmente terá um bom desempenho em outras áreas da vida (Silva, 2008).
É muito comum e até compreensível que os pais de jovens com características psicopáticas se perguntem quase sempre em um tom de desespero: "O que nós fizemos de errado para que nosso filho seja assim?" Os pais se sentem culpados por acharem que falharam na educação dos seus filhos e que não souberam impor limites. Isso é um grande equívoco! Não resta dúvida de que a educação, a estrutura familiar e o ambiente social influenciam na formação da personalidade de um indivíduo e na maneira como ele se relaciona com o mundo. No entanto, esses fatores por si só não são capazes de transformar ninguém em um psicopata (Silva, 2008, p. 160).
Um dos aspectos mais afetados pela desestabilização familiar é a intimidade. Assassinos em série desejam ter intimidade com outras pessoas, mas sua percepção do que é uma relação íntima é completamente distorcida. Serial killers não conseguem obter essa proximidade de maneira convencional, pois são antissociais. Segundo Casoy, explica que proteger o lado emocional infantil deve ser tão prioritário para os pais quanto uma boa nutrição. As relações familiares são fundamentais para todas as outras relações. A falta de laços familiares, portanto, revela-se como um fator significativo no desenvolvimento da psicopatia (Casoy, 2002).
Ainda de acordo com Casoy (2002), o ritual “pré-assassinato” com a vítima é o ápice de intimidade que o psicopata consegue alcançar. Sob seu controle, ele revela sua verdadeira personalidade para a vítima, que ninguém mais conhece. “A intimidade sexual forçada acaba sendo, para o criminoso, o máximo de proximidade que consegue em termos espirituais e emocionais” (Casoy, 2002, p.32).
No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) ajudou a criar especialidades, como Psicologia Jurídica e Psicologia Forense. Essas duas áreas se destacam na Psicologia devido às diferentes atividades realizadas pelos profissionais, e são fundamentais para acompanhamentos e diagnósticos de transtornos de presentes nos comportamentos dos assassinos em série. A atuação da psicologia forense no contexto criminal envolve avaliar a motivação criminal, ou seja, investigar o que leva uma pessoa a cometer um crime (Conselho Federal de Psicologia, 2024).
Alguns estudiosos argumentam que os comportamentos antissociais observados na infância podem ser precursores de comportamentos delinquentes que se manifestarão posteriormente, possivelmente evoluindo para um transtorno de personalidade. Devido a essas questões ainda não totalmente esclarecidas, combinado a intensidade e frequência de delitos e crimes envolvendo jovens atualmente, há um crescente interesse teórico e prático no estudo da psicopatia em crianças e adolescentes (Davoglio et al, 2012, p. 455).
Em uma sociedade moderna e tecnológica, observa-se uma mudança no comportamento de crianças e adolescentes em geral. Eles tendem a ser mais introvertidos, quietos e com poucos amigos. Passam horas no computador, enquanto seus pais, ocupados com o trabalho, estão frequentemente ausentes. Assim, essas crianças e adolescentes ficam expostos a muitas influências que não são percebidas pelos adultos. Um grande número deles está envolvido em criminalidade e comportamentos agressivos exagerados. Por isso, muitos estudos e pesquisas contemporâneos têm identificado a presença de fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos psicopatológicos e comportamentais nessa fase (Davoglio et al, 2012).
O crescimento dos casos de TPAS (Transtornos de personalidade antissocial) evidencia a fragilidade da sociedade em termos de respeito, cordialidade e empatia pelo próximo. As agressões, cada vez mais frequentes e comuns, que se repetem diariamente nos noticiários, já não causam o mesmo impacto na sociedade como antes (Bordin; Offord, 2000).
Há ainda o fato que muitos desses indivíduos, buscam e muitas vezes alcançam notoriedade por meio de seus crimes, o que pode ser também uma motivação, um benefício adicional significativo. O assassinato torna-se sua única reivindicação à fama - a única maneira de colocar seus nomes nos jornais e provar ao mundo (e a si mesmos) que são pessoas "importantes" (Schechter, 2013, p.64).
A cobertura excessiva da mídia sobre assassinos em série pode, infelizmente, ter um efeito de glamourização desses indivíduos. Isso pode levar a uma espécie de "contágio" onde outros indivíduos, que já têm tendências violentas, possam se sentir inspirados e/ou encorajados a cometerem crimes semelhantes. A notoriedade e a atenção que eles recebem podem ser vistas como uma forma de alcançar fama e reconhecimento, algo que pode ser atraente para pessoas que se sentem marginalizadas ou insignificantes. Além disso, a exposição detalhada dos métodos e motivações dos assassinos pode fornecer um "manual" não intencional para aqueles que estão considerando cometer crimes semelhantes. É um fenômeno complexo e preocupante que destaca a responsabilidade da mídia em como reporta esses casos, diversos estudiosos apontam que a violência promovida pelas mídias pode contribuir para o surgimento de indivíduos psicopatas. Para alguns, a cultura da violência presente na televisão, no cinema, no jornalismo e nos videogames atua como um catalisador para pessoas com distúrbios mentais (Guimarães, 2017).
A psicopatia abrange diversas características notáveis, o DSM-V (2014, p. 809) descreve como "marcada por ausência de ansiedade ou medo e por um estilo interpessoal audacioso que pode mascarar comportamentos mal adaptativos", Além das características psicopáticas, os especificadores dos traços e do funcionamento da personalidade podem ser utilizados para identificar outras características que podem estar presentes no transtorno de personalidade antissocial, e muitas vezes são traços encontrados em assassinos em série.
Frequentemente encontramos pessoas de caráter exemplar que duvidam da existência de psicopatas e até mesmo de assassinos em série. No entanto, para responder a essa dúvida, basta observar a grande quantidade de casos mostrados na mídia diariamente: pais que matam seus filhos, filhos que matam seus pais, entre outros. O impacto desse tipo de notícia na sociedade é significativo. As famílias das vítimas tendem a desenvolver traumas, medo, ansiedade e depressão. A cobertura midiática aumenta o senso de justiça pessoal, levando a questionamentos sobre a índole e o caráter desses indivíduos (Silva, 2008, p.30)
3 METODOLOGIA
Tratou-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, utilizando-se da técnica da revisão de literatura na modalidade narrativa a partir dos seguintes elementos: Quais fatores estressores, relacionados a aspectos socioculturais, contribuem para o desenvolvimento da psicopatia? A busca de estudos foi realizada a partir de um buscador, “Google Acadêmico” e de uma base de dados, “Scielo” (Scientific Eletronic Library Online), tendo como palavras-chave: “Comportamento”, “Impacto”, “Transtornos”, “Social”. Foi adotada a expressão “AND” no cruzamento das palavras. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados de maneira integral em português disponibilizados online. Os critérios de exclusão foram: qualquer elemento que não atendesse aos critérios de inclusão.
Para Gil (2023), a pesquisa descritiva tem como objetivo descrever as características de determinadas populações ou fenômenos, ou, então, estabelecimento de relações entre variáveis, sendo incluídas nesse grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. Já a pesquisa exploratória para Severino (2018), busca-se fazer um levantamento de informações sobre determinado objeto, determinando uma área de trabalho, mapeando as condições desse objeto.
4 CONCLUSÕES FINAIS
Apesar dos problemas apresentados e discutidos nesse artigo sobre esse tema, ainda não há uma resposta concreta que permita conclusões definitivas sobre diversos aspetos do comportamento desses indivíduos. É, sem dúvida, uma questão de extrema importância discutir sobre esse impacto que os assassinos em série causam na sociedade.
A avaliação psicológica de cada criminoso e o acompanhamento profissional é indispensável para os portadores de personalidade psicopática. O termo "psicopático" passou a ser registrado como distúrbio do comportamento, e não mais como uma anomalia mental. A Organização Mundial da Saúde e a Associação Psiquiátrica Americana adotaram oficialmente os assassinos em série como indivíduos portadores de personalidade antissocial.
Dessa forma, pode-se afirmar que os assassinos em série são seres possuidores de um distúrbio de personalidade, a personalidade antissocial. Assim, a infância do indivíduo é muito importante na formação de sua personalidade, e o ambiente familiar e social demonstram ter grande influência sobre seu comportamento.
Na maioria dos casos, os criminosos em série são psicopatas, e esse termo não serve apenas para designar doença mental, já que um psicopata pode não ser exatamente um doente mental. Os principais traços desse tipo de criminoso são o sadismo, ou seja, sentem prazer em ver o sofrimento alheio, não assumem o crime e geralmente só confessam por deslizes movidos pelo prazer de reviver o momento do crime. São levados ao crime por diversos motivos, desde problemas sexuais até questões na infância, socioeconômicas, entre outras.
Os antissociais, apesar de possuírem ausência do núcleo moral da personalidade e apresentarem desajuste de comportamento e de integração social, podem cometer delitos sem que esse ato esteja relacionado à psicopatia, ou seja, sua capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou de determinação pode estar reduzida.
Em resumo, alguns assassinos em série podem estar completamente sãos ao cometerem seus atos, enquanto outros podem ter sua capacidade de entendimento reduzida. No entanto, de nada valeria o tratamento psiquiátrico desses indivíduos, que são imunes a tratamentos, pois são levados por um instinto, e não por uma doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLONE, Geraldo José. Personalidade e crime. [S.l] disponível em http://www.psiqweb.net, 2017. Acesso em 22 de out. de 2024.
BORDIN, Isabel.; OFFORD, David. (2000). Transtorno da Conduta e Comportamento Antissocial. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo. v. 22, p. 12-5. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600004. Acesso em 27 de nov. de 2024.
CASOY, Ilana. Serial Killer: louco ou cruel? 2. ed. p.28 São Paulo: WVC, 2002.
CARVALHO, Ana Lara Candido. A relevância dos fatores familiares, sociais e psicológicos para a formação dos assassinos em série. Revista Internacional da Associação Brasileira de Criminologia. Quixadá, v. 1, ano 5, p. 21, 2021. Disponível em: https://scholar.google.pt/scholar?oi=bibs&cluster=7624759065620337661&btnI=1&hl=pt-BR. Acesso em 10 de out. de 2024.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, Revista Diálogos: Psicologia Ciência e profissão. Brasília, ano 9, nº8, p.6, 2012. Disponível em: Dialogos8_23outubro.pdf. Acesso em 26 de Nov. de 2024.
DAVOGLIO, Tarcia.; GAUER, Gabriel José; JAEDER, João Vitor Haerbele; TATOLLI, Marina Davoglio (2012). Personalidade e Psicopatia: Implicações diagnósticas na Infância e adolescência. Estudos de
Psicologia. Rio Grande do Sul. v. 17, p. 453 a 460. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-294X2012000300014 Acesso em 27 de nov. de 2024.
DOUGLAS, John; OLSHAKER, Douglas. Mindhunter: O primeiro caçador de serial killer Americano. Rio de Janeiro, p.89. Editora Intrínseca, 2017.
DSM V Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre,2014 Editora Artes Médicas Sul LTDA.
EGGER, Steven; DONEY, Richard H. Assassinato em série: um fenômeno indescritível. p.79, Bloomsbury Academic,[S.l] 1990. Disponível em: Serial Murder: An Elusive Phenomenon | Office of Justice Programs. Acesso em 21 de out. de 2024.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 7. ed. [2. reimp.]. Barueri: Atlas, 2023.
GOMES, C. C.; ALMEIDA, R. M. M. Psicopatia em homens e mulheres. Arquivos Brasileiros de Psicologia, [S.l] v. 62, n. 1, p. 13-21, 2010. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672010000100003 acesso em: 07 de out. de 2024.
GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo. O perfil psicológico dos assassinos em série e a investigação criminal. Revista da Escola Superior de Polícia Civil-DPC-PR e-INSS, São Paulo, v. 2, p. 6, 2019. Disponível em: http://www.revistas.pr.gov.br/index.php/espc/edicao-2-artigo-5. Acesso em: 09 de set. de 2024.
RIBEIRO, Erick. Análise Psicológica de Dahmer: Entenda os Motivos do Serial Killer. Sociedade Brasileira de Hipnose. Minas Gerais, 2024. Disponível em:
https://www.hipnose.com.br/blog/author/erick/?utm_source=blog&utm_content=analise-psicologica-de-dahmer. Acesso em 24 de nov. de 2024.
RUSSI, Leonardo Mariozi; PEREIRA, Littiany Sartori. Revista Cientifica eletrônica de Ciencias aplicadadas Fait. n 2, São Paulo, 2016. Disponível em: Microsoft Word - O SERIAL KILLER E O PSICOPATA. Acesso em 21 de Out. de 2024.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2018.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
SCHECHTER, Harold. Serial Killers: Anatomia do Mal. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.
TENDLARZ, Silvia Elena; GARCIA, Carlos Dante. A quem o assassino mata?. p.127, São Paulo: Atheneu, 2013.
1 Acadêmica do 3º período do Curso de Bacharelado em Psicologia do Centro Integrado de Ensino Superior de Floriano – UNIFAESF, Floriano-PI; e-mail: [email protected]
2 Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí e professor do Centro Integrado de Ensino Superior de Floriano – UNIFAESF, Floriano-PI; e-mail: [email protected]