EDUCAÇÃO FÍSICA E A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

PDF: Clique Aqui


REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.14408092


Gabrielle Amoroso Coelho1
Khananda Silvano Mesquita2
Luana Rossoni de Melo3
Andreia Munalli Pereira Borssatto4


RESUMO
A psicomotricidade faz conexão dos aspectos emocionais, cognitivos e motores, que em conjunto, influem diretamente na construção e desenvolvimento da personalidade do ser humano. Esta pesquisa aborda como problema a forma em que a psicomotricidade contribui para o desenvolvimento infantil através da Educação Física. Objetivo geral da pesquisa foi analisar a importância desta metodologia para o desenvolvimento infantil através da Educação Física. Os objetivos específicos foram: associar o conceito de psicomotricidade como metodologia aliada ao desenvolvimento infantil, descrever os benefícios da psicomotricidade no processo de desenvolvimento infantil e evidenciar a importância da atuação do profissional de Educação Física a partir da abordagem da psicomotricidade. Na elaboração deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema proposto. A base de dados para a pesquisa foi composta por artigos científicos sobre a temática, que foram acessadas através do Google acadêmico e Scielo. Constatou-se que a psicomotricidade utilizada como abordagem metodológica na Educação Física escolar contribui significativamente para o desenvolvimento infantil, utilizando-se de brincadeiras e atividades lúdicas que estimulam as habilidades funcionais da criança. Mas é de grande importância a atualização de estudos que embase o trabalho do bacharel em Educação Física, utilizando a psicomotricidade como metodologia para a estimulação psicomotora, visto que muitos estudos estão voltados apenas para área da licenciatura.
Palavras-chave: Psicomotricidade. Desenvolvimento infantil. Profissional de Educação Física.

ABSTRACT
The psychomotricity interconnects emotionals aspects, cognitive and motors, which influence the construction and development of human personality. This search is about the contribution of psychomotricity to childish development through Physical Education. The specifics objectives were: to relate concept of psychomotricity as combined methodology with childish development, to describe the benefits in the process of childish development and to show the importance of professional performance of Physical Education based in the approach of psychomotricity. For the construction this search was realized a bibliographic research about the proposed subject. The datas were obtained through cientifics articles accessed in the Google Scholar and Scielo. It was found that the psychomotricity used as a methodological approach in school Physical Education contributes significantly to child development, using games and play activities that stimulate the child's functional abilities. It is important to update studies that provide subsidies for the practice of bachelor professional of Physical Education.
Keywords: Physicomotricity. Childish Development. Professional of Physical Education.

Introdução

Através do movimento, as crianças expressam dificuldades, necessidades e desejos. Sem se darem conta do que acontece, fazem o que mais gostam: brincar. Para elas o brincar é coisa séria e é brincando que as crianças estruturam o seu aparelho psíquico, aprendem brincando. Por meio do movimento, na perspectiva da ação lúdica a criança consegue revelar o que se passa no seu interior, pois a expressão corporal é o primeiro meio de expressão do ser humano.

Um bom desenvolvimento psicomotor proporciona a criança desenvolvimento das capacidades motoras básicas, melhoras no desempenho escolar, e no desenvolvimento social, já que a psicomotricidade faz conexão com os aspectos motores, cognitivos e afetivos.

Embasado em alguns estudos relacionados ao tema, nota-se que o modo como as crianças se expressam na escola, como seu comportamento nas aulas e o seu desempenho nas atividades, diz muito sobre elas.

Normalmente, crianças que sentem dificuldades em realizar ações como escrever, desenhar, recortar um pedaço de papel e até mesmo de sentar na carteira de forma correta, normalmente também são alunos com mais déficits de atenção, tem movimentos mais descoordenados, e muitas vezes são crianças mais introvertidas.

Nesse sentido a problemática levantada é: Como a psicomotricidade contribui para o desenvolvimento infantil através da Educação Física?

O objetivo geral deste trabalho é analisar a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil através da Educação Física. Os objetivos específicos são, associar o conceito de psicomotricidade como metodologia aliada ao desenvolvimento infantil, descrever os benefícios da psicomotricidade no processo de desenvolvimento e evidenciar a importância do profissional de educação física a partir da abordagem da psicomotricidade.

Na elaboração deste trabalho foi realizado uma pesquisa bibliográfica sobre o tema proposto. A base de dados para a pesquisa foi artigos científicos sobre a temática, que foram acessados através do Google Acadêmico e Scielo. A coleta de dados surgiu através de leitura exploratória de todo material, anotações e fichamentos. Para seleção das fontes foi considerado como critério a inclusão de bibliografias que abordassem a psicomotricidade e o desenvolvimento infantil, consequentemente aquelas pesquisas que não atenderam a temática foram excluídas. Já a interpretação de dados foi realizada afim de elaborar os textos com coerência em seus assuntos e analisar a finalidade das informações e inclui-las na pesquisa.

COMPREENDENDO A PSICOMOTRICIDADE

O termo psicomotricidade é de origem grega onde, psico representa alma, o espirito, o intelecto (NICOLA, 2004), e motricidade tem relação com as capacidades físicas que auxiliam o movimento de forma voluntária (BUENO, 2014).

Historicamente, a palavra psicomotricidade surgiu de um discurso médico neurologista Ernesto Dupré, no início do século XIX (BUENO, 2014). O emprego do termo é associado ao tripé do desenvolvimento humano – movimento, inteligência e afetividade. (NICOLA, 2004).

Bueno (2014) apresenta alguns estudiosos e idealizadores da psicomotricidade:

  • Georges Heuyer (1884 – 1977) foi médico e psiquiatra infantil na França, nomeado para a primeira cadeira de psiquiatria infantil da Europa;

  • Edouard Guilmain (1901 – 1983) foi neurologista, e desenvolvia exames psicomotores para fins de diagnóstico e prognóstico

  • Kurt Lewin (1890 – 1947) Foi um psicólogo alemão;

  • Jean William Fritz Piaget (1896 – 1980) foi um biólogo, psicólogo e filósofo suíço pioneiro no campo da inteligência infantil;

  • Arnold Lucius Gesell (1880 - 1961) Foi psicólogo e pediatra, conhecido por suas contribuições para o campo do desenvolvimento infantil;

  • Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962) foi um psicólogo, filósofo, médico e político francês;

  • Julian de Ajuriaguerra (1911 - 1993) foi um psiquiatra e professor francês de origem espanhola.

  • Jean Le Boulch (1924 – 2001) formado em Educação Física, Medicina e Psicologia, teve grande influência na área psicomotricidade.

Entre o final da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1970, a psicomotricidade “passa a tomar um novo rumo onde as práticas aproximam-se da visão global do indivíduo e se organizam, com a utilização do exame psicomotor e da reeducação psicomotora” (BUENO, 1998, p. 23).

A psicomotricidade se oficializou como especialidade em 1963, quando o Hospital Henry de Roussele passou a emitir certificados de reeducação psicomotora aos profissionais, dando início ao surgimento de instituições especializadas e sindicatos nessa área (BUENO, 2014).

A Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), apresenta a psicomotricidade no contexto escolar como uma ciência que estuda o homem a partir do seu corpo em movimento e as relações com ambiente. A psicomotricidade é, portanto, um termo empregado para uma concepção de movimento organizando e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

Para De Lièvre y Staes (1992, p. 39); a psicomotricidade é uma ciência:

Que está diretamente ligada ao desenvolvimento humano. Psicomotricidade como a posição global do sujeito, que pode ser entendido como a função de ser humano que sintetiza psiquismo e motricidade com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar de maneira flexível e harmoniosa ao meio que o cerca.

Segundo Le Boulch (1992), a Psicomotricidade se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo contribuindo para a formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo ensino-aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-emocional e sociocultural, buscando estar sempre condizente com a realidade dos educandos.

De acordo com Negrine (1995, p.15):

A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e jogos adequados a cada faixa etária leva a criança ao desenvolvimento global de ser. Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude relacionada ao corpo, respeitando as diferenças individuais (o ser é único, diferenciado e especial) e levando a autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e criação em todo seu potencial.

Segundo Gallahue (2005), há três áreas do comportamento humano relacionadas ao desenvolvimento do Ser como um todo, estão classificadas como área psicomotora inclui processos de alteração, estabilização e de regressão na estrutura física e na função neuromuscular; área cognitiva envolve a relação de funcionalidade entre a mente e o corpo e a área afetiva que envolve sentimentos e emoções dos indivíduos pelo movimento.

As áreas funcionais referem-se àquelas cuja ação, qualidade e mensuração são possíveis de ser percebidas e que conjuntamente formam a integralização motora do ser humano num espaço e num tempo (coordenação dinâmica global, coordenação motora fina, postura, tônus, equilíbrio, respiração, esquema corporal, lateralidade, relaxamento, organização espacial, organização temporal, ritmo, estruturação espaço-temporal, percepções).

Os estudiosos Dal Paz e De Moraes, (2019); D’almeida, (2017); Gallahue, Ozmun, Goosway (2013), apresentam os seguintes conceitos funcionais:

Coordenação dinâmica global – controle dos movimentos amplos do corpo. Possui a possibilidade de contrair grupos musculares, diferentes de uma forma independente.

Coordenação motora fina – capacidade de controlar os pequenos músculos para exercícios refinados. Subdivide-se em coordenação viso-manual ou óculomotora é a capacidade de coordenar os movimentos em relação ao alvo visual, e coordenação músculo-facial movimentos refinados da face propriamente ditos e é fundamental na aquisição da fala, da mastigação e da deglutição.

Equilíbrio – é a base de toda coordenação dinâmica global. É a noção de distribuição do peso em relação a um espaço e há um tempo e em relação ao eixo de gravidade.

Esquema corporal – é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade do indivíduo, sendo seu núcleo central, pois reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e sua maturidade.

Estruturação espaço-temporal – é a capacidade de avaliar tempo-espaço, permite ao indivíduo não só se movimentar e se reconhecer no espaço, mas também relacionar e dar sequência aos seus gestos, localizar as partes de seu corpo e situá-las no espaço, coordenar sua atividade e organizar sua vida cotidiana.

Lateralidade – é a capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do corpo, (direito e esquerdo) é o elemento fundamental de relação e orientação com o mundo exterior.

Organização Espacial – é a tomada de consciência da situação das coisas entre si. É a possibilidade, para a pessoa organizar-se perante o mundo que a cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las. É ter noção de direção (acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado), e de distância (longe, perto, curto, comprido) em integração.

Organização temporal – é a capacidade de situar-se em função: da sucessão dos acontecimentos (antes durante e após); da duração dos intervalos (hora, minuto, aceleração, freada, andar, corrida); renovação cíclica de certos períodos (dias da semana, meses, estações); do caráter irreversível do tempo (noção de envelhecimento, plantas e pessoas).

Percepções – é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos. É o meio de que dispõe o indivíduo a organizar a estimulação que o ambiente lhe dirige.

Postura – relacionada diretamente ao tônus, constituindo uma unidade tônica postural cujo controle facilita a possibilidade de canalizar a energia tônica necessária para realizar os gestos, prolongar uma ação ou levar o corpo a uma posição determinada.

Relaxamento – é uma forma de atividade psicomotora na qual se objetiva a redução das tensões psíquicas, levando à descontração muscular.

Respiração – o controle do corpo e da respiração é a etapa culminante da construção do esquema corporal. Compreende duas fases: ativa- a inspiração é importante porque se trata de admissão de ar para a oxigenação do sangue e para a geração da energia na realização dos movimentos, e inativa- a expiração é através dela que o corpo elimina dióxido de carbono, sendo de suma importância seu processo.

Ritmo – é a força criadora que está presente em todas as atividades humanas e se manifesta em todos os fenômenos da natureza. Existem diferentes espécies de ritmo: a externa sucessão de eventos naturais e os internos seus ciclos vitais.

Tônus – refere-se à firmeza à palpação e está presente tanto nos músculos em repouso como em movimento.

Todas essas funcionalidades devem ser desenvolvidas na infância, e são de suma importância para o desenvolvimento integral da criança, evitando atrasos no processo de aprendizagem e desenvolvimento.

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento infantil é a primeira etapa do desenvolvimento humano o qual compreende os primeiros anos de vida do indivíduo. Nesse período, as interferências do meio em que a criança vive e a sua herança genética influenciam diretamente no processo de estruturação cerebral (SHONKOFF et al., 2012).

Souza (2014) relata sobre a importância do desenvolvimento infantil para o desenvolvimento humano:

O desenvolvimento infantil é parte fundamental do desenvolvimento humano, um processo ativo e único de cada criança, expresso por continuidade e mudanças nas habilidades motoras, cognitivas, psicossociais e de linguagem, com aquisições progressivamente mais complexas nas funções da vida diária e no exercício de seu papel social. (2014, p. 96)

Segundo este autor, os anos iniciais da infância são determinantes nos processos de desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, uma vez que suas características biológicas e as experiências do ambiente em que convive podem interferir positiva ou negativamente em seu desenvolvimento.

Campos et al. (2017) apontam que as crianças podem apresentar alterações durante seu desenvolvimento, uma vez que um ambiente desfavorável a estímulos pode ocasionar defasagem nas habilidades cognitivas e motoras prejudicando que sua percepção do corpo, espaço e tempo ocorram de forma integral. Tal pensamento também é corroborado por Mello et al., (2014), que relatam a necessidade de um ambiente com condições favoráveis para o perfeito desenvolvimento infantil.

O sistema nervoso atua e controla todas as atividades do organismo, ele precisa de condições favoráveis para seu desenvolvimento, para isso faz-se necessário a estimulação, para que as células (neurônios) garantam seu pleno desenvolvimento. O SN, não é desenvolvido todo de uma vez, apesar da estimulação é preciso respeitar a maturação de cada criança.

A visão tradicional de desenvolvimento motor enfatiza a maturação do sistema nervoso central como maior determinante do desenvolvimento motor. “No primeiro ano de vida o repertório motor da criança manifesta uma ordem ou regularidade que sugere grande influência maturacional no desenvolvimento motor” (Clark, 1994). Assim entende-se que a maturação do sistema nervoso é importante, mas não é o único fator predominante.

De modo geral, os maturacionistas entendem que o desenvolvimento ocorre naturalmente em função do processo de maturação biológica, principalmente do sistema nervoso central. Assim sendo, Guillarme (1983) ressalta a importância das experiências motoras no processo de maturação e acredita que uma experiência pobre pode retardar essa maturação.

DESENVOLVIMENTO AFETIVO, COGNITIVO E MOTOR.

De acordo com Wallon, apud Galvão (2010), os três campos funcionais – afetivo, cognitivo e motor, funcionam de forma integrada; a pessoa é o todo que integra esses campos, sendo, ela própria, um campo funcional.

Nobre (2009) destaca que cada indivíduo tem sua individualidade sendo ela modificada pelo ambiente vivido, pela cultura que foi passada, pelos costumes e pela intervenção de um adulto.

É evidente que o ambiente em que a criança vive tem grande influência sobre seu comportamento, e modo como vê o mundo. É normal do ser humano se submeter a situações que exigem uma postura diante de um assunto/problema, porém cada um enfrenta as divergências a partir dos princípios oriundos do meio em que está inserido.

Nesta perspectiva, “O desenvolvimento afetivo é o que norteia a autoestima. Depois de desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para conseguir o autocontrole da criança e seu bem-estar são conquistas significativas.” (Marega, 2008, p. 23).

Segundo Piaget (1969), o desenvolvimento cognitivo baseia-se no conhecimento lógico-matemático, que se refere à construção de estruturas de pensamento, as quais se dividem em infralógicas, que são as noções de espaço, tempo e causalidade, e lógicas que são as noções de conservação, classificação e seriação. A comunicação é um processo evolutivo do ser humano e é entendida como parte da cognição.

Para Simonetti (2012) cognição refere-se a um conjunto de habilidades cerebrais necessárias para a obtenção de conhecimento sobre o mundo. Estas habilidades devem ser desenvolvidas através de desafios envolvendo pensamento, raciocínio, abstração, linguagem, memória, atenção, criatividade, capacidade de resolução de problemas, entre outras funções.

O desenvolvimento motor é definido como sendo as modificações no organismo humano a partir de estímulos, capazes de evoluir para ações motoras cada vez mais completas e complexas (Rosa Neto, 2015). É um processo contínuo, que para sua evolução estrutural necessita de estímulos e vivências corporais (Ujiie e Ujiie, 2019).

Compreender o desenvolvimento motor é entender que em todo processo ocorrem transformações contínuas que acontecem por meio da interação dos indivíduos entre si e com o meio em que vivem.

O desenvolvimento motor está relacionado às áreas cognitiva e afetiva do comportamento humano, sendo influenciado por muitos fatores. Dentre eles destacam os aspectos ambientais, biológicos, familiar, entre outros. Esse desenvolvimento é a contínua alteração da motricidade, ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. (GALLAHUE, 2005, p. 03).

As crianças necessitam de estímulos, que quando combinados com atividades, facilitam o processo de desenvolvimento. Desse modo, desenvolverão habilidades cognitivo-afetivo-motoras capazes de lhes assegurar um excelente acervo de movimentos em cada fase de desenvolvimento (Gallahue, Ozmun e Goodway, 2013; Haywood e Getchell, 2016).

PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Segundo Barreto (2000, p.15), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcionalidade, da lateralidade e do ritmo”. É extremamente importante oferecer diversos estímulos desde bebê, onde as sensações do seu próprio corpo são suas formas de aprendizagem, sendo esse o estágio sensório-motor, fortalecendo vínculos de afetividade.

Para Bueno (2014, p.54),

A educação psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança e do sujeito, processando-se por etapas progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida através de percepções vivenciadas, com uma intervenção direta em nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um todo.

Segundo Gallahue e Ozmun, (2005, p. 15), “as experiências de uma criança podem afetar o índice de aparecimento de certos padrões de comportamento”. Quando ocorre limitação dos movimentos na fase adequada, são necessárias outras intervenções para preencher as dificuldades encontradas.

A literatura pontua que crianças bem estimuladas aproveitarão suas capacidades de aprendizagem e de adaptação ao seu meio, de uma forma simples, intensa e rápida (Perin, 2010). Isso possibilita a criança a se desenvolver com mais facilidade seja ela no âmbito social e/ou educacional.

RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM A EDUCAÇÃO FÍSICA E COM A BRINCADEIRA

O ser humano interage com o mundo através das linguagens corporal e verbal. Nos primeiros anos de vida, mesmo apresentando dificuldades pelo processo de maturação, a criança consegue se comunicar com as pessoas ao seu redor por meio dos gestos motores, até atingir um nível maturacional e assim aprender a se comunicar por meio da fala. Desta maneira, o movimento humano possibilita para a criança em contato com o mundo, um melhor equilíbrio de suas emoções internas e externas diante do ambiente em que ele estiver inserido (Santos, 2012).

A Educação Física associada a psicomotricidade possibilita uma melhor aprendizagem, sendo estimulada através de atividades lúdicas, brincadeiras recreativas e jogos pré-competitivos. Como no meio escolar trabalha-se com a multidisciplinaridade, trabalhar nas aulas de Educação Física a abordagem psicomotricista é desenvolver o lado motor e intelectual das crianças (Monteiro, 2007).

No ambiente escolar, principalmente nos anos inicias, a criança adquire novos conhecimentos e experiências. É neste período que os alunos começam a desenvolver suas habilidades motoras de forma mais ampla, e a Educação Física desenvolverá além das capacidades motoras, capacidades cognitivas, formas de socialização e interação, hábitos de higiene e de saúde, como forma de preparar o aluno para toda a sua vida (Santos, 2012).

A Educação Física tem um papel muito importante, visto que possibilita uma formação integral do ser humano, em todos os seus aspectos, principalmente nas habilidades motoras. As crianças podem e devem ser estimuladas com brincadeiras, pois através delas e com os estímulos do professor a criança aprende a se expressar, a expressar sua criatividade, a encarar desafios, a cooperar coletivamente a socializar e ampliar seu acervo motor. O brincar é fundamental no processo de crescimento e amadurecimento da criança, onde ela aprende a expressar suas opiniões, interagir com seus colegas, e aprender com diversão.

A Educação Física não está restrita apenas ao ato mecânico. Contém além da dinâmica corporal, atividades relacionadas ao cotidiano da criança, à ludicidade, ao lazer e, à integração e socialização de grupos. Por trás das brincadeiras e das atividades lúdicas estão as oportunidades para os educandos desenvolverem sua cultura corporal, sua espontaneidade, seu crescimento pessoal e social, o aperfeiçoamento dos movimentos naturais, a possibilidade de vivenciar desafios e desequilíbrios. Durante as aulas, através da psicomotricidade, os alunos conhecem o próprio corpo e este torna-se um recurso para que possam se expressar, vivenciar e adquirir novas experiências, novas formas de movimento neste espaço que há possibilidade de sentir a liberdade, de se movimentarem sentir prazer ao realizar uma atividade. social (Kyrillos; Sanches, 2004, p.17).

Segundo Coelho e Ferreira (2001), o brincar possibilita a criança interpretar papéis e situações imaginárias, construindo um mundo da forma como gostaria que existisse, assumindo responsabilidades, estabelecendo relações de cooperação e respeito, aperfeiçoamento as etapas de desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo tendo a percepção de vencer desafios e obstáculos por vivenciarem cada papel e situações semelhantes no mundo imaginário .

[...] a criança vai adquirir pouco a pouco confiança nela, e melhor conhecimento de suas possibilidades limites, com frequência impostos pela presença da outra criança com quem ela deverá aprender a cooperar durante o jogo. Resumindo, a atividade lúdica incide na autonomia e na socialização, condição de uma boa relação com o mundo (Le Boulch, 1982, p. 140).

Como a criança é um ser em desenvolvimento, suas brincadeiras irão com o tempo se estruturando conforme percebe até onde é capaz de fazer determinada tarefa, ou seja, aos seis meses e aos três anos existe uma diferença de maturação como a comunicação e o relacionamento no ambiente em que está inserido, no qual permitem um conhecimento amplo do mundo.

Corsino (2009, p.79), destaca:

À medida que as crianças crescem, ampliam suas formas de brincar, interessando-se e compreendendo cada vez mais os jogos com regras, que lhes abrem outras janelas para a experiência lúdica, as interações sociais e a construção de novos conhecimentos.

Segundo Piaget (1998), ele acredita que o jogo, o lúdico, é essencial na vida da criança e que esta inicia seu exercício por prazer, repete determinada situação por apreciar seus efeitos. Diz ainda que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança e é indispensável a prática educativa.

A brincadeira ensina a criança a tomar decisões, como a escolha de não brincar, de criar um modo de fazer com que a brincadeira seja melhor, incentivando o tempo todo a sua criatividade, através do símbolo de uma brincadeira, no mundo real poderá pensar em formas de superar dificuldades impostas pela vida. Brincando com outras crianças, encontra seus pares e interage socialmente, descobrindo, desta forma que não é o único sujeito da ação, e que, para alcançar seus objetivos, precisa considerar o fato de que outros também tem objetivos próprios. (Teixeira, 2014, p.49). Por meio da brincadeira a criança se adapta ao meio social em que vive.

CONTRIBUIÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

O estudo do desenvolvimento infantil, de acordo com Ujiie e Ujiie (2019), é de fundamental importância, desde que realizado por profissionais da área da saúde, especialmente, os profissionais de Educação Física, que na escola ou em outros locais de trabalho estão em contato direto com as crianças e conseguem detectar mais facilmente possíveis atrasos nesse processo.

A Educação Física tem como foco principal o movimento, e seu trabalho deve proporcionar a manutenção das capacidades físicas e o desenvolvimento das habilidades fundamentais do indivíduo. O profissional de Educação Física tem um comprometimento de atuar como mediador do processo ensino-aprendizagem, no qual assegurará uma aprendizagem significativa para e o desenvolvimento integral de seus alunos (Camargo e Maciel, 2016).

O profissional de Educação Física deve apresentar atividades que instiguem a curiosidade e principalmente, proporcionem desafios diversos, fazendo a criança superar seus limites e buscar seus objetivos. Além de estar atento ás responsabilidades de um planejamento sólido e eficaz para o bom andamento das suas aulas, este profissional deve apresentar postura de pesquisador, sempre buscando estratégias para alcançar o melhor desempenho, tanto seu como o de seus alunos (Piccolo, 1995).

Demonstrar carinho, compreensão, dar atenção aos alunos é muito importante, não apenas no sentido de aprendizagem, mas a afetividade criada entre as partes. Assim a criança passará a sentir-se segurança e confiante aumentando as chances de conviver melhor no ambiente escolar e facilitar seu processo de desenvolvimento.

Saltini (2002, p. 87) ressalta sobre o papel do professor:

A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. O papel do professor é específico e diferenciado do das crianças. Ele prepara e organiza o microuniverso onde as crianças buscam e se interessam. A postura desse profissional se manifesta na percepção e na sensibilidade aos interesses das crianças que em cada idade diferem em seu pensamento e modo de sentir o mundo.

Diante disso, os alunos perceberam o quanto é agradável ir para a escola e frequentar as aulas de Educação Física (Oliveira, 2013). Assim tornando um ambiente mais harmonioso as crianças se sentem à vontade, sabendo que errar faz parte do processo e que estão ali para aprender cada vez mais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da elaboração deste artigo, pôde-se ter a compreensão da psicomotricidade enquanto abordagem metodológica, como sendo de grande importância na prevenção de problemas futuros que possam causar atrasos no processo de desenvolvimento infantil, pois quanto mais estímulos a criança recebe, melhor será o seu desenvolvimento.

É evidente a importância da estimulação psicomotora nos primeiros anos de vida da criança, auxiliando no processo de desenvolvimento infantil, o que proporciona às crianças uma variedade de atividades que envolvem o movimento como ferramenta nesse processo.

Constatou-se que a psicomotricidade utilizada como abordagem metodológica na Educação Física escolar contribui significativamente para o desenvolvimento infantil, utilizando-se de brincadeiras e atividades lúdicas que estimulam as habilidades funcionais da criança.

No entanto, no andamento desta pesquisa, não foram encontrar estudos que apontem o trabalho do Profissional de Educação Física Bacharel utilizando a psicomotricidade como metodologia de trabalho no campo da estimulação motora, pois a maioria dos estudos encontrados em relação ao tema, estão voltados à Educação Física Licenciatura.

Haja vista, pode-se afirmar que os objetivos propostos para a pesquisa, foram alcançados de forma positiva. Ressalta-se que apesar de encontrar grande quantidade de estudos sobre a psicomotricidade no contexto escolar, que o profissional de Educação Física atuante na área do bacharelado pode e deve trabalhar com essa abordagem metodológica a fim de auxiliar no desenvolvimento de crianças, ajudando-as a construir seu caráter e afetividade através do movimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, F. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Wak, 2007.

BARRETO, S. J. Psicomotricidade, educação e reeducação. 2.ed. Blumenau: Livraria Acadêmica, 2000.

BRANDÃO, S. Desenvolvimento psicomotor da mão. Rio de Janeiro, Enelivros, 1984.

BUENO, J. M. Psicomotricidade teoria e prática: da escola à aquática. São Paulo: Cortez, 2014. E-pub

___________. Psicomotricidade: teoria & prática: estimulação, educação e reeducação psicomotora com atividades aquáticas. São Paulo: Lovise, 1998.

CAMARGO, K.E. Maciel, M.R. A Importância da Psicomotricidade na Educação Infantil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. São Paulo. v.09 p.254-275 2016.

COELHO, M; FERREIRA, I. Formação pessoal – lúdico espaço para pensar e aprender. In SANTOS, Santa Marli (org). A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 120-139.

CORSINO. P. Educação Infantil: cotidiano e políticas. Campinas, Autores Associados, 2009.

DE LIÈVRE Y STAES, DE LIÈVRE, B.; STAES, L. La Psicomotricité o service de l’enfant. Belgium : Belin, 1992.

FERNANDES, J.M.G. de A.;GUTIERRES FILHO, P. J. B. Psicomotricidade: abordagens emergentes. São Paulo: Manoele, 2012.

FONSECA, V. Manual de Observações psicomotoras: Significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes médicas, 1988.

_________. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

_________. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.

GALAHHUE, D; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2ed. São Paulo: PHORTE,2003

____________________________. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Trad. de Denise R. de Sales. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2005.

GUILLARME, J. J. Educação e reeducação psicomotoras. Trad de Arlene Caetano, Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.

JOBIM, A.; ASSIS, A. E. S. Psicomotricidade: Históricos e conceitos. Disponível em http://guiaba.ulbra.br/seminario/eventos/2008/artigos/edfis/358.pdf.

KYRILLOS, M. H, M.; SANCHES, T. L. Fantasia e criatividade no espaço lúdico – Educação Física e Psicomotricidade. In: ALVES, Fátima (org). Como Aplicar a Psicomotricidade – Uma atividade Multidisciplinar Com Amor e União. Rio de Janeiro: Wak, 2004.

KREBS, R. J; MARRAMARCO, C. A.; NOBRE, G. C.; RAMALHO, M. H. S.; SANTOS, J. O. L.; VALENTINI, N. C. Crianças desnutridas pregressas, com sobrepeso e obesas apresentam desempenho motor pobre. Revista Educação Física/UEM, v.23, n.2, p.175-182, 2.trim. 2012

LAPIERRE, A.; AUCOUTURIER, B. Simbologia do movimento: psicomotricidade e educação. 3 ed. Curitiba: Filosofarte, 2004.

LE BOUCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos. Tradução de Ana Guardiola Brozola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

__________. O desenvolvimento psicomotor. Porto Alegre: Artmed, 1992.

__________. Educação psicomotora: psicocinéticana idade escolar. Trad. de Jeni Wolf. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 6ª edição, São Paulo: Atlas, 2007.

MAREGA, A. M. P., SFORNI, M. S. F. O desenvolvimento afetivo na infância.

MONTEIRO, V. A. A psicomotricidade nas aulas de Educação Física Escolar: uma ferramenta de auxílio na aprendizagem. Revista Digital, Buenos Aires, ano 12, n. 114, 2007.

MOLINARI, P. M. A.; SENS, M. S. A Educação Física e sua Relação com a Psicomotricidade. Revista PEC. Curitiba. v. 3 n. 1 p.85-93 2002.

NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantilPsicomotricidade: alternativas pedagógicas. Porto Alegre: Ed. Prodil, 1995.

NISTA-PICCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo em movimento na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2012.

OLIVEIRA, S. F. A. A Importância da Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem Infantil. Revista do Núcleo de Pesquisa e Extensão. Ariquemes. v.2 n.1 p.125-146 2013.

PIAGET, J. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

PICCOLO, N. L. V. Educação Física Escolar: Ser... Ou Não Ter?. 3ª.Ed. Campinas: Unicamp, 1995.

SALTINI, C. J. P. Afeto. – O fio condutor. In. Afetividade inteligência: A Emoção na Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, (p.87)

SANTOS, A. G. S. Educação Física e Psicomotricidade nos anos iniciais do ensino fundamental da Escola 317 de Samambaia. 2012. 63 f. Monografia (Especialização em Educação Física) - Curso de Licenciatura em Educação Física do Programa Pró-Licenciatura da Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

SIMONETTI, L. O que é Desenvolvimento Cognitivo? https://cienciadocerebro.wordpress.com/2012/09/05/o-que-e-desenvolvimento-cognitivo/. 2012.

Teixeira, S. R.de O. Jogos, brinquedos, brincadeiras e brinquedoteca.7ª ed.RJ:Wak Editora. 2014.

TISI, L. Educação física e alfabetização. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2007.


1 Graduada em Educação Física pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC. E-mail: [email protected]

2 Graduanda em Educação Física pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC. E-mail: [email protected]

3 Graduanda em Educação Física pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC. E-mail: [email protected]

4 Mestra em Ambiente e Saúde pela UNIPLAC e professora do Curso de Educação da UNIPLAC – Lages/SC. E-mail: [email protected]