IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES DO PRO-ONCOGENE RET NO CARCINOMA MEDULAR DE TIREOIDE
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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10360501
Julia Cristina Onça Prado¹
Wânia de Oliveira Vianna²
Larissa Teodoro Rabi³
RESUMO
O carcinoma papilar emerge como a manifestação mais prevalente do câncer de tireoide, caracterizado
por um desenvolvimento predominantemente indolente na maioria dos casos, mas suscetível à
disseminação e invasão de órgãos adjacentes. Em contrapartida, o Carcinoma de Tireoide Medular
(CTM) figura como uma entidade notável de raridade, apresentando-se sob duas categorias distintas:
hereditária e esporádica. O objetivo principal desse trabalho foi avaliar a influência das alterações do
proto-oncogene RET no contexto de CMT. Trata-se de uma revisão da literatura na qual foram coletados
artigos científicos do Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde, publicados nos últimos 10 anos. As
principais alterações manifestam-se como mutações de ativação dominante nesse gene, cuja função
primordial é codificar uma tirosina quinase receptora. Esta, por sua vez, desempenha um papel crucial
na instigação e avanço do câncer medular da tireoide. As mutações no gene RET evidenciam receptores
de membrana de tirosina quinase, estabelecendo ligações multifacetadas com neutrófilos e permitindo a
adaptação a proteínas de sinalização ao se vincular à tirosina intracelular RET.
Palavras-chave: Câncer, Mutação e Tireoide.
1. INTRODUÇÃO
O câncer de tireoide consiste em uma neoplasia maligna da glândula tireoide. [1] Sua
incidência é cerca de 3 vezes maior em mulheres do que em homens, estima-se que esteja
relacionado a fatores hormonais. [1,2] Seu crescimento, normalmente, é lento e assintomático
e, por esse motivo, é considerado um câncer indolente por diversos pesquisadores. [3,4]
Em estágios mais avançados, observa-se edema na região cervical, dores musculares,
alterações nas cordas vocais e até mesmo dificuldade ou desaparecimento da fala. [5] Além
disso, o aparecimento dos nódulos tireoidianos, dependendo de seu tamanho, pode ocasionar
dificuldades de deglutição e problemas respiratórios. [5,6]
Os carcinomas localizados na glândula da tireoide são classificados em três principais
tipos: Carcinoma Papilífero da Tireoide (CPT), Carcinomas Folicular da Tireoide (CFT) e
Carcinoma Medular de Tireoide (CMT). O CPT possui crescimento lento e desenvolve-se nas
células papilíferas da tireoide. O CFT ocorre nas células foliculares da tireoide e, normalmente,
possui dificuldade de disseminação para os gânglios linfáticos.
Por fim, o CMT pode desenvolver-se de forma hereditária ou esporádica. [6] Sabe-se
que o CMT hereditário possui íntima correlação com mutações no gene RET e, também, podem
estar relacionados a neoplasias endócrinas múltiplas do tipo 2 com alterações em MEN2A e
MEN2B, ligados a transmissão autossômica dominante do gene. [7,8] Os pacientes portadores
de alterações no gene RET que pertente a mesma família podem apresentar a heterogeneidade
clínica. [8-10]
O proto-oncogene RET além de ter uma participação importante nas formas hereditárias
do CMT, também tem sido implicado na patogênese dos tumores esporádicos. [10] O gene RET
codifica um receptor da membrana da tirosina quinase que possui como função a sinalização
intracelular. [10]
Surgindo a partir de rearranjos cromossômicos, os quais induzem à ativação constitutiva
da RET quinase, os CMT frequentemente resultam de fusões genéticas, destacando-se as fusões
KIF5B e CCDC6 como as mais comuns. [10,11] Esses rearranjos desencadeiam a produção de
proteínas com funções específicas, propiciando a ativação independente dos ligantes do RET,
cuja ligação não apenas fomenta o crescimento, mas também impulsiona a proliferação e,
notavelmente, a sobrevivência das células cancerígenas. [11]
O CMT oriundo de mutações no proto-oncogene RET provém das células
parafoliculares, responsáveis pela produção de calcitonina e desempenhando atividades
bioquímicas significativas no contexto do CMT. [12] As mutações patogênicas da linha
germinativa do oncogene RET são prontamente identificadas na síndrome MEN2, onde tais
mutações se manifestam exclusivamente no tumor. Essa observação estende-se a uma ampla
variedade de casos esporádicos de CMT, delineando uma heterogeneidade notável nas
ocorrências dessas mutações. [12-14]
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi identificar as principais correlações entre
mutações no proto-oncogene RET e o aparecimento de CMT.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura na qual foram coletados artigos
científicos publicados nos últimos 10 anos. Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis
no Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com data de publicação entre 2014 e 2023,
disponíveis em inglês, português ou espanhol.
A seleção dos artigos consistiu na análise do título e resumo, seguida pela leitura
completa do artigo. O Fluxograma 1 demonstra a estratégia utilizada.
Figura 1. Fluxograma do Processo de Seleção dos Artigos da Revisão Integrativa
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram selecionados 15 artigos para compor a revisão da literatura (Tabela 1). O protooncogene RET, responsável pela codificação de receptores de tirosina quinase, desempenha um
papel crucial em diversas manifestações de carcinomas em seres humanos, abrangendo
principalmente o CMT hereditário [14]. Ao analisar as pesquisas apresentadas, torna-se
evidente o impacto das alterações provocadas pelo proto-oncogene RET nos CMTs,
principalmente devido a ativação dominante e codificação de tirosina quinase receptora. [13-
14] Além disso, sabe-se que diversas alterações no gene RET podem desempenhar um papel
facilitador nos tratamentos direcionados aos pacientes diagnosticados com CMT, auxiliando na
melhora do prognóstico do paciente. [14-15]
Tabela 1. Aspectos dos estudos revisados
O proto-oncogene RET apresenta um domínio extracelular rico em cisteína,
desempenhando funções cruciais na conformação e dimerização das proteínas. Além
disso, possui domínios intracelulares, incluindo um citoplasmático tirosina-quinase,
atuando como receptores. [14,15]
Estudos indicam que as formas hereditárias de CMT são resultado de mutações
autossômicas dominantes do proto-oncogene RET, com penetrância incompleta,
revelando influências genéticas nas mutações do gene no carcinoma medular de
tireoide. [1-5] Além disso, Subbiah et al. [4,6], destacam a eficácia do tratamento com
a substância LOXO-292 nos pacientes diagnosticados com CMT.
Contudo, a abordagem com inibidores de tirosina quinase (MKI) em casos de
carcinoma medular da tireoide (CMT) em pacientes de 18 anos, conforme Minuto et
al. [2], demonstra maior eficácia e segurança. Análises morfológicas, incluindo
coloração com hematoxilina-eosina e marcação por imunofluorescência, mostram que
os CTM hereditários resultam de mutações autossômicas dominantes. [14]
Estudos conduzidos por Takahashi et al.[1,3] revelam os fatores genéticos
interligados ao proto-oncogene RET em casos de doenças já detectadas no
organismo humano, enquanto Orois et al.[9] indicam que o carcinoma familiar não
medular da tireoide não é necessariamente uma doença de causa genética, mas está
diretamente associado a síndromes hereditárias.
Os estudos in vivo de autores como Marotta et al.[12], Subbiah et al.[4], Hincza
et al.[10], evidenciam que as alterações no proto-oncogene RET proporcionam um
campo vasto de oportunidades para pesquisas, dada a peculiaridade do RET em
reagir de maneira singular com cada organismo e seu câncer, apresentando potencial
promissor ou não.
A análise de visibilidade celular e contagens de células, bem como os ensaios
de isolamento de proteínas e RNA realizados nos estudos de Valenciaga et al.[5],
concluem que o câncer medular de tireoide é, atualmente, considerado incurável. Por
sua vez, estudos de Luzón-Toro et al.[11] destacam a detecção de ações
desreguladas nos IncRNAs em pacientes com CMT, revelando novos biomarcadores
e evidenciando o impacto direto do proto-oncogene RET nas mutações celulares
associadas ao CMT.
As mutações no proto-oncogene RET constituem evidências de que, em
determinados casos clínicos e contextos genéticos específicos, podem influenciar
positivamente na aceleração e eficácia de tratamentos específicos, ou, por outro lado,
resultar em respostas negativas, retardando o desenvolvimento do CMT.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Os cânceres dependentes do proto-oncogene RET, que apresentam resultados
positivos para fusões cromossômicas, revelam, nos testes realizados em pacientes
diagnosticados com CMT, uma gama variada de possibilidades para tratamentos
promissores. A inibição do avanço do câncer e a potencialização da eficácia de
determinados fármacos surgem como estratégias promissoras, proporcionando uma
eficácia notável. A aprovação de inibidores seletivos do RET, embasada em estudos
clínicos, pesquisas in vivo e acompanhamento de pacientes, ressalta que nem todos
os tratamentos oferecem benefícios máximos. Em muitos casos, as mutações do RET
podem impulsionar o crescimento celular, comprometendo as chances de cura do
CMT. As mutações originadas pelo gene RET manifestam-se como receptores de
membrana da tirosina quinase, cuja função reside em estabelecer conexões com
diversos neutrófilos. Além disso, permitem a adaptação à proteína de sinalização,
vinculando-se à tirosina intracelular RET. Os rearranjos resultantes dessas mutações
podem gerar proteínas com funções específicas, desencadeando uma ativação
independente que promove o crescimento celular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. Subbiah, V., Velcheti, V., Tuch, B. B., Ebata, K., Busaidy, N. L., Cabanillas, M. E., Wirth, L. J., Stock, S., Smith, S., Lauriault, V., Corsi-Travali, S., Henry, D., Burkard, M., Hamor, R., Bouhana, K., Winski, S., Wallace, R. D., Hartley, D., Rhodes, S., … Drilon, A. (2018). Selective RET kinase inhibition for patients with RET-altered cancers. Annals of Oncology : Official Journal of the European Society for Medical Oncology, 29(8), 1869–1876. Disponível em: https://doi.org/10.1093/annonc/mdy137
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9. Orois, A., Mora, M., Halperin, I., & Oriola, J. (2021). Familial non medullary thyroid carcinoma: Beyond the syndromic forms. Endocrinología, Diabetes y Nutrición (English Ed.), 68(4), 260–269. Disponível em: https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.endien.2020.08.013
10. Hińcza, K., Kowalik, A., & Kowalska, A. (2019). Current Knowledge of Germline Genetic Risk Factors for the Development of Non-Medullary Thyroid Cancer. Genes, 10(7), 482. Disponível em: https://doi.org/10.3390/genes10070482
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12. Marotta, V., Chiofalo, M. G., di Gennaro, F., Daponte, A., Sandomenico, F., Vallone, P., Costigliola, L., Botti, G., Ionna, F., & Pezzullo, L. (2021). Kinase-inhibitors for iodine-refractory differentiated thyroid cancer: still far from a structured therapeutic algorithm. Critical Reviews in Oncology/Hematology, 162, 103353. Disponível em: https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.2021.103353
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¹ Discente do Curso Superior de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Paulista (UNIP),
Campinas, São Paulo-SP, Brasil. e-mail: [email protected]
² Docente do Curso Superior de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Paulista (UNIP),
Campinas, São Paulo-SP, Brasil. Doutora em Fármacos e Medicamentos (USP).
³ Docente do Curso Superior de Farmácia do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Paulista (UNIP),
Campinas, São Paulo-SP, Brasil. Mestre em Ciências (UNICAMP).