EPICURO E A EDUCAÇÃO: FILOSOFIA, ÉTICA E LIBERTAÇÃO DOS MEDOS

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REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13975805


Felipe Barnabe Batista1


RESUMO
O artigo explora o pensamento de Epicuro, filósofo grego que defende a busca da felicidade como objetivo central da vida humana. A felicidade, segundo Epicuro, é alcançada por meio da eliminação da dor e pela busca de prazeres moderados. A física epicurista, derivada do atomismo de Demócrito, explica a natureza a partir de uma perspectiva materialista, focando nos átomos e no vazio. Epicuro rejeita a interferência dos deuses na vida humana, afirmando que eles existem em um estado de perfeição, desconectados dos problemas mundanos. O filósofo também oferece uma visão libertadora da morte, argumentando que ela não deve ser temida, pois é apenas a ausência de sensações. A ética epicurista se baseia na compreensão das leis da natureza, permitindo ao homem alcançar a paz interior, a amizade e o prazer moderado, rejeitando o determinismo divino. O artigo aborda a influência desses conceitos na visão epicurista sobre o destino humano, destacando a importância do clinamen, ou desvio atômico, como símbolo da liberdade de escolha e da ruptura com o determinismo
Palavras-chave: Educação, Epicuro, Filosofia

ABSTRACT
This article explores the thought of Epicurus, a Greek philosopher who advocates the pursuit of happiness as the central goal of human life. According to Epicurus, happiness is achieved through the elimination of pain and the pursuit of moderate pleasures. Epicurean physics, derived from Democritus' atomism, explains nature from a materialistic perspective, focusing on atoms and the void. Epicurus rejects the interference of gods in human life, asserting that they exist in a state of perfection, disconnected from worldly problems. The philosopher also presents a liberating view of death, arguing that it should not be feared, as it is merely the absence of sensations. Epicurean ethics are grounded in the understanding of the laws of nature, enabling humans to attain inner peace, friendship, and moderate pleasure, while rejecting divine determinism. The article examines the influence of these concepts on Epicurus' view of human destiny, highlighting the importance of the clinamen, or atomic swerve, as a symbol of freedom of choice and the break with determinism.
Keywords: Epicurus. Polis. Philosophy.

1 INTRODUÇÃO

A educação, ao longo da história, sempre buscou respostas para questões fundamentais da existência humana, e a filosofia tem desempenhado um papel central nesse processo. Entre os diversos filósofos que moldaram o pensamento ocidental, Epicuro destaca-se por propor uma visão única da vida, centrada na busca pela felicidade, na eliminação dos medos e na libertação das amarras que impedem o ser humano de viver plenamente. Sua filosofia ética, em conjunto com sua física materialista, oferece uma abordagem inovadora para entender não apenas o mundo ao nosso redor, mas também nosso papel e responsabilidades como indivíduos na sociedade.

No contexto educacional, o pensamento epicurista pode ser uma ferramenta poderosa para repensar a forma como os seres humanos compreendem a si mesmos e suas relações com o conhecimento e o mundo. A pedagogia tradicional muitas vezes se foca na transmissão de conteúdos prontos, desconsiderando o desenvolvimento crítico e a busca individual pela felicidade e pela liberdade. Epicuro, ao enfatizar o conhecimento dos princípios naturais e a prática ética como caminho para a felicidade, convida os educadores e educandos a adotar uma postura mais reflexiva e transformadora diante da realidade.

Além disso, a visão epicurista sobre o medo e a morte apresenta uma contribuição significativa para a educação contemporânea, especialmente no que diz respeito à formação de indivíduos livres de dogmas e superstições que limitam o potencial humano. Ao propor que a morte não deve ser temida, pois é apenas o fim das sensações, Epicuro fornece uma perspectiva libertadora que pode ser incorporada nas discussões educacionais sobre o sentido da vida, o bem-estar psicológico e o papel do conhecimento na superação das angústias existenciais.

Este artigo, portanto, pretende explorar a filosofia de Epicuro como uma base para reflexões educacionais, destacando como seus conceitos de prazer, liberdade, amizade e o conhecimento da natureza podem contribuir para uma educação mais humanizadora e emancipadora.

Contexto Histórico

O pensamento de Epicuro advoga que a principal meta do homem é a busca da felicidade. Afasta-se a dor para atingir o prazer moderado. De fato, o pensador de Samos não abarca na sua filosofia conceitos da retórica, da aritmética e da geometria. Considerava que esse tipo de especulação intelectual não poderia conduzir à plena felicidade. A física professada pelo mestre busca identificar os fundamentos da natureza que são realmente importantes para o homem.

O filósofo volta-se às condições enunciadas na canônica (como as sensações e as antecipações) para elaborar o papel da física na vida do homem grego. Vale lembrar que a palavra grega physis/Φυσις significa “a natureza das coisas” (não confundir physis com o mundo/cosmo/κόσµος). Assim, o discurso da física enuncia o que as coisas realmente são. Tanto Demócrito, como Epicuro acreditavam que a matéria forma-se por átomos, separados pelo vazio e agrupados acidentalmente em compostos. A physis epicuriana retira toda essencialidade aos compostos e, consequentemente, à noção de cosmo. O critério de verdade das opiniões físicas liga se naturalmente à sensação e a seus requisitos canônicos (DURVERNOY,1993, p. 20).

O epicurista tem uma visão desprendida do divino, não acreditando que o homem é forçado a ter uma vida determinada pelos deuses que, por sua vez, o aprisionava ao destino. O precursor do Jardim não cede a predestinações traçadas no Olimpo, embora acredite na existência dos deuses.

Para Epicuro, os deuses existem como seres perfeitos que não se misturam às imperfeições e às vicissitudes da vida mundana. Trata-se de uma visão materialista da realidade que foge, definitivamente, da dogmática religiosa da experimentada naquela época.

Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e toda mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque lhe aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando está sendo esperado. Então o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida. (EPICURO, 2002, p.27-29).

É perceptível na Antologia dos textos de Epicuro a preocupação em teorizar a libertação do homem desses dois medos distintos que deturpavam a felicidade: o temor aos deuses e a morte.

Joyau (1988, p. XII) lembra que a divindade vivia em perfeita serenidade nos espaços que separam os mundos. Esta magnitude suprema constitui o ideal a que aspiram aos sábios, devendo ser objeto de culto desinteressado. Fica claro que, para Epicuro, não haveria sentido adorar um deus de forma servil, temerosa e interesseira, uma vez que, a divindade ignora o mundo imperfeito dos homens e, de modo algum, atuaria sobre ele. Com relação ao temor da morte, não havia motivo para temê-la. Morrer não seria mais que a “dissolução do aglomerado de átomos” que formam um corpo e a alma. A morte não pode existir junto à vida do homem “e este não existe mais quando ela sobrevém”.

Seguindo esses ensinamentos, o indivíduo livra-se do temor e encontra a paz. Um ponto deve ser destacado: deuses não integram os mundos e as coisas materiais finitas. Em última análise, deuses fazem parte da matéria e existem numa dimensão totalmente perfeita, encontrando neles mesmos o conhecimento e paz absoluta. Assim, não podem se misturar às imperfeições (a humanidade e seus problemas existenciais).

Nos poucos tratados deixados, evidencia-se a existências dos deuses na órbita da escola epicurista. Porém, na física atomista do mestre do Jardim, os objetos e as coisas são sensíveis e podem causar a prolepse. Podem as divindades provocar sensações ou lembranças?

Durvernoy (1993, p. 56) esclarece:

Não sendo os deuses objetos quaisquer, a prolepse que lhes corresponde não é uma prolepse qualquer. [...] Os átomos que constituem os seres divinos são tão sutis, vêm de tão longe e têm tantos obstáculos a atravessar antes de chegar até nós, que atingem nosso espírito sem que nossos sentidos percebam (nenhum de nós tem consciência de perceber a existência divina). Porém, é preciso admitir que, já que eles são objetos, são perceptíveis e percebidos. Tudo pareceria caminhar-se assim, se não encontrássemos uma causa de espanto: no conjunto do corpus tal como o conhecemos, existe apenas uma frase que diz algo sobre esse conhecimento físico (sensualista) dos deuses. Mais ainda, essa mesma frase pertence não a algum texto autenticamente epicurista, mas a um escólio que Diógenes Laércio acrescentou à primeira Máxima soberana: “em outro lugar, ele diz que os deuses são conhecidos pelo pensamento, (e então eles existem segundo o número), ou segundo a similitude (pelo contínuo fluxo de simulacros que se lhes assemelham). Eles têm uma forma humana”. [...] Pode-se presumir que o problema do conhecimento físico dos deuses “como objetos” não ocupe no sistema um lugar crucial.

No epicurismo, a divindade não é plausível de adoração ou agregação de imagens ou objetos materializados ao culto, isso porque, não há forma de objetivar seres perfeitos. Será que os deuses percebem a existência humana? Porém, eles não deixam de existir, sendo seres compostos, entretanto, em um nível imensurável de perfeição.

Epicuro entende que os deuses de fato existem, evidenciando o conhecimento que o homem tem deles. Já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essas não existe, isso porque, “as pessoas não costumam preservar a noção que tem dos deuses”. Para o filósofo, “ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria”. Com efeito, “os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas”, porém, “em opiniões falsas”. Não se deve acreditar que deuses causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. No entanto, “irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente a eles” (EPICURO, 2002, p.27-29).

O epicurismo busca explicar todas as coisas existentes no espaço, no mundo e na natureza, a partir de bases de entendimentos materialistas, advindos do atomismo de Demócrito. “Para fundamentar uma ontologia materialista, Epicuro tomou dos atomistas o conceito de átomo e a ideia de que não existe geração do nada nem aniquilamento”, porém, “o todo (a 24 totalidade do ser) se mantém idêntico. O cosmo, portanto, que é infinito, é composto de “corpos” e de vazio, e os corpos são ou simples (justamente os átomos) ou compostos (toda a realidade)” (REALE, 2007, p. 263).

Para o filósofo, o universo (olon) é um todo (pan) e tende a basear-se como a realidade existente. Tudo é composto de átomos e se os átomos são infinitos e imutáveis, existe então uma ideia de eternidade e imutabilidade sobre o que se entende de universo. Assim, o universo forma-se por dois princípios: vazio (kenon) e corpos (sómai). Durvernoy (1993, p. 23) entende que o vazio é o espaço situado no ‘entre’. “É real e constitui, com os átomos, a totalidade. Existe vazio entre os átomos, entre compostos, entre mundos [...] ele é ilimitado e os compostos, os mundos são indefinidamente dispersos”.

O vazio cumpre e executa a função de capacitar a movimentação dos corpos, como também o preenchimento no espaço. “É necessário crer que os mundos e toda combinação finita nascem do infinito. Todos se dissolvem de novo, alguns mais lentamente e outros mais rapidamente, sofrendo um umas ações e outros outras”, defende Epicuro. E mais: “semelhante mundo pode nascer num mundo ou num intermundo (assim chamamos a um intervalo entre os mundos), num espaço que contenha muito vazio – mas não no grande espaço puro e vazio, como dizem alguns”. Assim, não há finitude nessa criação de mundos e espaços, vazios ou não: “pouco a pouco, acumulações, conexões e transposições a outro lugar, se assim sucede, e afluência de núcleos aptos até lograr o seu acabamento e a detenção do seu crescimento (ANT III, 11,12,13).

Não raro, “nada nasce do não-ser”. Desta forma, tudo poderia absolutamente gerar-se de qualquer coisa sem necessidade de “nenhum sêmen gerador”. Afinal, nenhuma coisa se dissolve do nada, porque, de outro modo, neste momento, “tudo pereceria”, portanto, “nada mais existiria”. Coisa nenhuma nasce e perece assim o todo: “a realidade em sua totalidade, sempre foi como é agora e sempre será assim”. Desse modo, “além do todo, não existe nada em que ele possa ser mudado, nem existe nada do qual possa provir” (REALE, 2007, p. 264).

No entanto, o que seria o todo para Epicuro? Explica Durvernoy (1993, p. 23) que “o todo é composto dos átomos e do vazio”. Assim, sendo o número dos átomos infinito (infinidade quantitativa do tipo aritmético) e o vazio também (infinidade espacial ou geométrica), “o todo é, evidentemente, infinito”. Portanto, “o real (material-espacial)” também, “é infinito”.

Os corpos são compostos que além de serem possíveis de se ver, conforme os simulacros da canônica epicurista, (existem também os corpos simples e indivisíveis), estes denominados de átomos.

Afirmava-se, então, que tudo era composto por “vazio” e “corpos compostos”. Denomina-se de vazio uma natureza intangível que permite o movimento. Já os corpos compostos nasceriam da agregação dos átomos. Assim “tudo que existe é formado por átomos e, portanto, é corpo”. Nesta linha, a alma e os deuses são formados por “átomos especiais” (REALE, 2007, p. 267).

Na ótica de Epicuro, o universo apresenta-se como corpo e espaço. Com efeito, “a sensação testemunha em todos os casos que os corpos existem e, conformando-nos com ela, devemos argumentar com o raciocínio sobre aquilo que não é evidente aos sentidos”. Todavia, “se não existisse o espaço, que é chamado vazio, lugar e natureza impalpável, os corpos não teriam onde estar nem onde mover-se”. No entanto, “alguns corpos são compostos, e outros elementos dos compostos; e estes últimos são indivisíveis e imutáveis, visto que é forçoso que alguma coisa subsista na dissolução dos compostos; se assim não fosse, tudo deveria dissolver-se em nada”. Por fim, os átomos “são sólidos por natureza, porque não têm nem onde nem como dissolver-se”, de maneira que “é preciso que os princípios sejam substâncias corpóreas e indivisíveis”. (ANT III, 2,3).

Nesta linha do pensamento, até mesmo a alma é matéria; um agregado de átomos. Forma-se, em parte, de átomos ígneos, aeriformes e ventosos (a dimensão irracional e alógica da alma) e, em parte, por átomos diversos dos outros, sem nome específico (a dimensão racional). Desse modo, como os demais agregados, a alma não é “eterna, mas mortal”. Na física epicurista, externa-se a premissa materialista do sistema (REALE, 2007, p. 266).

Já se acreditava que os átomos (átomoi/ἄτοµος) eram os formadores dos corpos, também chamados de corpos simples, tendo a característica de serem indivisíveis. Os corpos compostos se delimitam em tudo que o universo podia presenciar. Essa delimitação mostrava que eram frutos dos outros corpos anteriores que os desenvolvem até o seu limite, impedindo que se perdessem no vazio. Os corpos simples (originários) são os átomos. Como matéria imutável, não poderiam se dissolver em sim próprios, mediante o atributo do nada que já os compete.

Os átomos têm uma inconcebível variedade de formas, pois que não poderiam nascer tantas variedades se as suas formas fossem limitadas. E, para cada forma, são absolutamente infinitos os semelhantes, ao passo que as varieda- 26 des não são absolutamente infinitas, mas simplesmente inconcebíveis. E deve supor-se que os átomos não possuem nenhuma das qualidades dos fenômenos, exceto forma, peso, grandeza e todas as outras que são necessariamente intrínsecas à forma. Porque toda a qualidade muda, mas os átomos não mudam, visto que é necessário que na dissolução dos compostos permaneça alguma coisa de sólido e de indissolúvel que faça realizar as mudanças, não no nada ou do nada, mas sim por transposição. E o todo é infinito, pois o finito tem um limite extremo e o limite extremo se considera com referência a outro, visto que não tendo extremo não tem limite e não tendo limite é infinito e não limitado. Além disso, o universo também é infinito pela multidão dos corpos e pela extensão do vazio. Se o vazio fosse infinito e os corpos limitados, estes não permaneceriam em nenhum lugar, mas seriam levados a dispersar-se no vazio infinito, visto que não teriam nenhum apoio nem seriam contidos por choques. E, se o vazio fosse limitado, os corpos infinitos não teriam lugar onde estar (ANT III, 5,6,7).

Epicuro entende o átomo como infinitos em número, indivisíveis fisicamente (insecáveis) e imensamente pequenos (sua variação de tamanho estaria situada aquém do limiar de percepção). Seriam móveis por si mesmos, pois o vazio não ofereceria qualquer resistência à locomoção.

Joyau (1988, p. XI) diferencia o filósofo dos seus antecessores da escola atomista, como Demócrito e Leucipo, compreendendo que “os primeiros atomistas consideravam o peso uma resultante do tamanho dos átomos: os maiores, mais sujeitos aos impactos dos outros, locomovem-se com mais dificuldade, ” que por esse motivo, tais, tendem a ocupar “o centro dos agrupamentos de átomos, comportando-se como mais pesados”.

O peso apresenta-se como um atributo “inerente aos átomos”; sendo absoluto e não relativo. Devido ao seu peso, os átomos, num momento inicial, são imaginados por Epicuro como se estivessem caindo, embora situados dentro do vazio. Dessa forma, teriam que desenvolver, ao cair, cursos necessariamente paralelos. Os átomos jamais se chocariam, dando origem “aos engates e aos torvelinhos indispensáveis à constituição das coisas e dos mundos se algum fator não viesse interferir naquele paralelismo das trajetórias” (JOYAU, 1988, p. XI).

Essa movimentação afasta o atomismo de Epicuro do ortodoxo mecanismo da física dos primeiros atomistas. O filósofo lança mão da noção de desvio/clinamen: “sem nenhuma razão mecânica, os átomos, em qualquer momento de suas trajetórias verticais, podem se desviar e se chocar”. A concepção surge como “a introdução do arbítrio e do imponderável num jogo de forças estritamente mecânico”. Dá-se, então, a ruptura da necessidade, no plano da física, para acolher a contingência (JOYAU, 1988, p. XI).

CONCLUSÕES

De que maneira essa concepção minimizaria os temores humanos já que o ethos da filosofia epicuriana tende à felicidade? E mais: como o homem grego deveria agir para alcançar a eudaimonia? O clinamen/desvio (arbítrio?) é uma evidência de que o indivíduo pode modificar sua trajetória ou seu destino. O indivíduo adquire inatamente em sua existência a opção de mudar os direcionamentos da vida e escolher o melhor, o mais prazeroso. Refuga-se o determinismo dos deuses e a finitude da carne. As leis do universo podem explicar a natureza dos homens. Assim, ao compreendê-las, o sábio poderá se abster das perturbações.

A partir dessa observação, segue-se a ética, quando Epicuro caracteriza toda a conjuntura filosófica para exemplificar como é simples alcançar a moderação, o prazer, a amizade

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1 Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. E-mail: [email protected]